UMA BREVE ABORDAGEM DA TEORIA DO DESENVOLVIMENTO FAMILIAR: HISTÓRIA, CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS Mariana Morais Pompermayer 1 Ana Paula Nery Rosado2 Jacqueline Fonseca Sampaio 3 Karla Maria Damiano Teixeira4 Maria das Dores Saraiva de Loreto5 RESUMO Apesar de ser de complexa conceituação, a família vem sendo pesquisada ao longo dos tempos por inúmeros estudiosos. Dentre as diversas teorias surgidas com o intuito de estudar a família, destaca-se a Teoria do Desenvolvimento Familiar. Sua preocupação está nas mudanças sofridas pela família nos diferentes estágios e ciclos da vida familiar. O ciclo de vida da família passa por períodos de estabilidade e transição, de equilíbrio e adaptação e também por momentos de desequilíbrio. Sendo assim, esta teoria abarca as mudanças sistemáticas e padronizadas vivenciadas pelas famílias durante estes estágios de vida. Nesse contexto, o presente trabalho propõe-se a refletir e discutir sobre a Teoria do Desenvolvimento Familiar descrevendo sua história, seus conceitos e características, verificando-se, ainda, como esta abordagem vem sendo utilizada em estudos. Para este fim, tem-se uma revisão bibliográfica acerca do assunto, embora não se vislumbre, com isso, um esgotamento da discussão. PALAVRAS-CHAVE: Família. Desenvolvimento da Família. Ciclo de Vida Familiar. 1 INTRODUÇÃO Apesar de ser de complexa conceituação, a família vem sendo pesquisada ao longo dos tempos por inúmeros estudiosos. A Teoria do Desenvolvimento Familiar é uma das poucas teorias desenvolvidas com o objetivo de se estudar a família e, por isso, é o foco desse trabalho. Surgida no pós-guerra, essa teoria vê a família como um grupo, semipermeável, de indivíduos que interagem entre si e desempenham papéis, criam normas e constituem, a todo momento, relações para o convívio em grupo (RODGERS; WHITE,1993). 1 Bacharel em Economia Doméstica, Estudante do Programa de Pós-graduação em Economia Doméstica/UFV – [email protected]. 2 Bacharel em Economia Doméstica, Estudante do Programa de Pós-graduação em Economia Doméstica/UFV – [email protected]. 3 Bacharel em Economia Doméstica, Estudante do Programa de Pós-graduação em Economia Doméstica/UFV – [email protected]. 4 P.h. D. em Ecologia Familiar e Professora Adjunta do Departamento de Economia Doméstica/UFV – [email protected]. 5 Pós-doctor em Família e Meio Ambiente e Professora Associada do Departamento de Economia 1 Doméstica/UFV – [email protected]. O foco principal da teoria está nas mudanças sofridas pela família em seus diferentes estágios e ciclos de vida familiar. Essas mudanças podem ser caracterizadas por períodos de estabilidade e transição, de equilíbrio e adaptação e, também, por momentos de desequilíbrio. Sendo assim, essa teoria abarca as mudanças sistemáticas e padronizadas vivenciadas pelas famílias durante seus estágios de vida. Neste contexto, o presente trabalho propõe-se a refletir e discutir sobre a Teoria do Desenvolvimento Familiar descrevendo sua história, seus conceitos e suas características, além de descrever como essa abordagem vem sendo utilizada em estudos atuais. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para refletir e discutir sobre a Teoria do Desenvolvimento Familiar descrevendo sua história, seus conceitos e características realizou-se uma revisão de literatura acerca da mesma, bem como dos estudos atuais que a utilizam. 3 REFERENCIAL TEÓRICO O termo família corresponde a uma série de tipos e arranjos que se configuram, em função das especificidades de classe, de "status" e de etnias (HOFFMANN, 1992). As pesquisas mostram que existe não apenas um modelo de família em nossa sociedade (OLIVEIRA, 1989; CONSTANTINE, 1993; BRODERICK, 1993). São muitos os arranjos que as famílias tomam em respostas às condições sócio-econômicas para melhorar sua vida, possibilitar sua sobrevivência (RIDENTI, 1994) ou mesmo se adaptar às condições e mudanças na sociedade. Sendo assim, pensar na família é pensar na sua diferenciação social e demográfica refeituando, assim, noções de eterno e natural que muitas vezes estão presentes em sua conceituação (OMETTO, 1994). A família constitui um sistema de sustentação da vida para seus membros, sendo dependente do ambiente natural para seu sustento físico e das organizações sociais que estão ligados ao homem e que dão qualidade e significado à vida (HOOK; PAOLUCCI, 1970). 2 3.1 A Teoria do Desenvolvimento Familiar A Teoria do Desenvolvimento Familiar surgiu no final da década de 1940, coincidindo com o desenvolvimento da área de ciência da família. Foi uma das primeiras teorias focada na família, possuindo uma identidade própria e separada da psicologia e da sociologia. Uma vez que as teorias fundamentadas na psicologia estavam centradas no indivíduo e, assim, não conseguiam explicar o que acontecia nas famílias e as baseadas na sociologia objetivavam o estudo da sociedade e cultura, sendo assim, muito gerais na análise, a Teoria do Desenvolvimento Familiar surgiu como uma crítica a estas duas perspectivas (SMITH et. al., 2009). Ruben Hill e Evelyn Duvall (1948) iniciaram o interesse em desenvolver uma teoria que se preocupasse com as mudanças que ocorrem no âmbito familiar, juntando esforços para compreender o tempo da família e sua história enquanto grupo e dentro da sociedade (RODGERS; WHITE,1993). Com o surgimento da Teoria de Desenvolvimento Humano, com as teorias de Piaget sobre as crianças, foi que a Teoria de Desenvolvimento Familiar ganhou força maior. Segundo Hill e Duvall (1948), as famílias eram grupos sociais que sofriam influência dos processos do desenvolvimento, da mesma forma que os indivíduos (SMITH et. al., 2009). Hoffmann et. al. (2005) pautam o processo de maturação da Teoria do Desenvolvimento Familiar em três distintas etapas de maturação. Num primeiro momento essa teoria surge com a idéia de ciclo de vida familiar, sendo que, num segundo momento, este conceito é substituído pelo de carreira familiar, formulado por Joan Aldous (1978, 1996). A última fase é onde ela sofre críticas e é reformulada. Com relação à primeira fase da teoria, de caráter descritivo, Duvall e Hill em 1948 identificaram as tarefas que poderiam ser realizadas por pais e filhos e que estavam agrupadas em 08 (oito) estágios do desenvolvimento do ciclo de vida familiar (SMITH et. al., 2009). Estes estudiosos colocam como foco importante para a classificação dos estágios pelos quais passam à família: a presença de crianças, a idade destas e a evolução do filho mais velho. Os estágios são: (1) Casais sem filhos; (2) Famílias com recém nascidos - filho mais velho: nascimento – 30 meses; (3) Famílias com crianças com idade pré-escolar - filho mais velho: 2,5 – 6 anos; (4) Famílias com crianças em idade escolar - filho mais velho: 6 – 13 anos; (5) Famílias com filhos adolescentes - filho mais velho: 13 - 20 anos; (6) Famílias com jovens 3 adultos - saída do primeiro filho – saída do último filho; (7) Casais na meia idade - ninho vazio; (8) Envelhecimento – reforma: morte de um ou ambos os conjugues. Outros teóricos expandiram estes conceitos. Por exemplo, em 1950, Erikson identificou oito (08) estágios, mais voltados para o ciclo de vida do indivíduo, descrevendo o seguinte modelo: (1) Infância - confiança versus desconfiança; (2) Início da Infância autonomia versus vergonha e dúvida; (3) Idade de Brincar - iniciativa versus culpa; (4) Idade Escolar - diligencia versus inferioridade; (5) Adolescência - identidade x difusão de identidade; (6) Adulto Jovem - intimidade x isolação; (7) Adulto - generatividade versus autoabsorção; (8) Velhice - integridade versus repugnância (RODGERS; WHITE,1993). Em 1964, Roy Rodgers propões 24 (vinte e quatro) estágios, mas a complexidade do modelo era tanta que se sobrepunha à sua utilidade (SMITH et. al., 2009). Mais tarde, Hill e Rodgers apud Rodgers e White (1993), criam novos critérios para a definição dos estágios do ciclo de vida nas famílias - alterações no número de elementos que a compõem; alterações etárias; alterações no estatuto ocupacional dos elementos encarregados do sustento/suporte familiar – surgindo assim um novo esquema para os estágios do ciclo de vida: (1) Jovem casal sem filhos; (2) Estagio expansivo (nascimento do primeiro filho para constituir, fechar, a família); (3) Estágio estável - período de educação dos filhos até que o primeiro saia de casa; (4) Estágio de contração - período de saída, lançamento, dos filhos no exterior, até que o último saia de casa; (5) Estágio pós-parental – novamente o casal sem filhos). No segundo momento vivenciado pela Teoria do Desenvolvimento Familiar e que se inicia no pós–guerra, passa-se a utilizar, ao invés de ciclo familiar, o conceito de trajetória/carreira familiar, sistematizando a teoria. Este conceito é composto por todos os eventos e estágios vividos pela família e foi desenvolvido por Joan Aldous. Segundo Aldous (1996), o desenvolvimento familiar deve ser considerado em apenas 04 (quatro) estágios, uma vez que as famílias vivenciam vários estágios de parentesco ao mesmo tempo. Deve-se, ainda, utilizar o termo “carreira familiar”, uma vez que a “carreira” é uma constante e, as famílias não retornam ao modo que elas estavam no início de suas vidas, o que caracteriza o “ciclo”. A terceira fase, de maturação da teoria, é quando ela sofre críticas e tenta ser reformulada pelos estudiosos, onde encontra-se ainda hoje (RODGERS; WHITE,1993). Para Rodgers e White (1993) a história da Teoria do Desenvolvimento Familiar foi dividida em duas partes. A primeira vai de 1951 à 1980, que diz respeito à declaração original 4 da teoria e à elaboração de seus conceitos, enquanto a segunda fase, a partir dos anos 1980, diz respeito à reexaminação da teoria e, consequentemente, sua reformulação. Conforme os autores supracitados, a Teoria do Desenvolvimento Familiar recebeu algumas suposições teóricas críticas. A primeira é que uma teoria determinista é conduzida através da visão de que se os valores de todas as variáveis relevantes são conhecidos em qualquer equação que prediz o comportamento familiar, a predição pode ser feita com exatidão completa. A suposição determinista conduz os teóricos recentes para uma visão errônea de que se certas condições e tarefas eram encontradas em um estágio, então a família deveria mudar sucessivamente para o próximo estágio normativo. Isto criou reivindicações duais de que estágios e tarefas de desenvolvimento mental têm eficácia causal e que existe um caminho correto e de sucesso para proceder. Então, isso levou alguns estudiosos a rejeitarem a teoria e vê-la como mais carregada em valor de caráter do que ciência social. A segunda está relacionada à idéia de origem de mudança na carreira familiar, pois os estudiosos entenderam que as mudanças não eram apenas na família, mas também incluíam mudanças individuais, amadurecimento físico, efeitos de interação emergente, dentre outras. Estes teóricos perceberam que a teoria tinha grande dificuldade na distinção dos níveis de análise diferentes – o indivíduo, o relacionamento, o grupo e a instituição do casamento e família. Não ficava claro quais processos e conceitos foram apontados para a família e quais foram apontados para o indivíduo (RODGERS; WHITE,1993). Conforme Rodgers e White (1993), a outra razão para procurar uma revisão da teoria neste tempo foi a chamada mudança paradigmática, ou seja, era uma teoria inadequada para incorporar diferenças étnicas, raciais e de gênero, tão bem quanto sua falha para personificar a totalidade de várias formas familiares. De acordo com Hoffmann et. al. (2005) a teoria, hoje, pode ser considerada vivendo um período de formalização com conceitos e proposições. Os autores colocam que o foco principal da teoria são as mudanças significativas e padronizadas vivenciadas pelas famílias, enquanto se movem através dos estágios da vida familiar. A família passa a ser vista como grupo social composto por indivíduos que interagem entre si, compondo uma unidade semipermeável, ocupando posições, desempenhando papéis sociais, criando normas para o viver em conjunto, construindo uma trajetória de vida e sujeito a regras e expectativas da sociedade em que se insere. Assim, as dimensões mais enfatizadas vão ser o tempo e a mudança onde o tempo é visto como processo social multidimensional e é contemplado conforme o marcado no relógio, no calendário, na idade, nas gerações, nos eventos, nas fases 5 e na carreira familiar, enquanto a mudança na família envolve o conteúdo, a estrutura, as transições como estresses e crises e as tarefas de desenvolvimento. Dentre os conceitos abordados na reconceitualização da Teoria do Desenvolvimento da Família, sobressaem os seguintes (HOFFMANN ET. AL., 2005; RODGERS; WHITE, 1993): família - teoria desenvolvimental tradicionalmente tem sido satisfatoriamente clara sobre os componentes da definição de família: primeiro, a família é um grupo social, segundo, um grupo social familiar é parte da instituição de casamento e de família; desenvolvimento e mudança na família - o desenvolvimento familiar é uma das formas de mudança, mas não a única, sendo um processo ontogenético e sociológico; posição - as famílias fazem parte de uma estrutura de parentesco que aponta quem são os seus integrantes, a posição é definida pelo gênero, relações de sangue, casamento e fator geracional; normas - as normas são regras sociais que regulam o comportamento individual e grupal; regras - as regras são entendidas como algo a ser cumprido nos diferentes estágios da vida familiar e nas diferentes idades para o indivíduo e para a própria família; papel - é entendido como as normas vinculadas a uma posição na estrutura de parentesco; estágio ou etapa da vida familiar - é o intervalo de tempo em que a estrutura e o padrão de interações de papéis na família são claros, visíveis e qualitativamente distintos de outros períodos de tempo; transição - corresponde à mudança de um estágio para o outro; tempo - surge associado às tarefas do desenvolvimento da família, bem como aos marcadores das respectivas fases; evento - são medidas para as transições familiares, é um evento que marca uma transição entre dois estágios contendo qualitativamente normas diferentes e, sem os estágios, o evento não poderia ter significância desenvolvimental; crise - são momentos de transformação que correspondem aos marcadores do ciclo vital, ou seja, ao início dos seus diferentes estágios de transição ou fases; tarefa de desenvolvimento - tem sido redefinida como o “conjunto de normas emergindo de um estágio específico da trajetória familiar ou carreira familiar”; carreira familiar - esse conceito tem substituído o de ciclo de vida familiar, é composta de todos os eventos e estágios vividos pela família. Hoffmann et. al. (2005) expõem, ainda, proposições referentes à teoria do desenvolvimento da família: (1) o desenvolvimento da família é processo de grupo regulado por normas das sociedades referentes ao tempo e às sequências da vida familiar no qual diferentes culturas e classes sociais sugerem normas e processos de desenvolvimento familiar variáveis; (2) no grupo familiar, os membros da família criam normas familiares internas; (3) as normas internas não podem ameaçar, contradizer as externas; por exemplo, o maltratar os 6 filhos, pois a sociedade criou regras maiores e sanções sobre o cuidado com as crianças; (4) as interações do grupo familiar são reguladas pelas normas sociais, construindo os papéis na família; (5) as interações familiares são, de certa forma, previsíveis e uniformes entre as famílias devido a normas institucionais e expectativas relacionadas aos papéis na família; (6) transições de um estágio familiar para outro são previsíveis pelo estágio atual vivenciado pela família e pela duração de tempo vivenciado nesse estágio. 3.2 Aplicação da Teoria do Desenvolvimento Familiar em Estudos Recentes Atualmente a Teoria do Desenvolvimento da Família vem facilitar a interação de pesquisadores com as famílias nas suas diferentes fases, favorecendo a identificação de suas tarefas ou funções e a descrição das potencialidades e fragilidades para o seu desempenho, além de propor medidas de intervenção, prevenção e suporte. Seus conceitos, após a reformulação, têm servido como norteadores para estudos de diferentes profissionais. Em estudos6 encontrados, pôde-se observar a aplicabilidade da teoria desenvolvimentista, principalmente pela área de saúde. Estes estudos mencionam que a teoria, diante da fase do ciclo vital da família, ajuda o profissional a visualizar os mecanismos que são utilizados como tentativas de lidar com as angústias, incertezas e preocupações e com as modificações que são desencadeadas em suas vidas. Vem contribuir, ainda, para tornar os profissionais de saúde responsáveis na ajuda da família a transpor as crises na trajetória do ciclo de vida familiar, conduzindo a família a descobrir novas soluções e reduzir ou aliviar o sofrimento emocional, físico e espiritual. No entanto, conforme relatado nestes estudos, verificou-se vazios na teoria do desenvolvimento familiar quanto à sua aplicabilidade no cotidiano dos profissionais de saúde, no que se refere especificamente ao processo saúdedoença. O conteúdo das crises situacionais, embora seja parte integrante da teoria, é pouco aprofundado, dificultando sua utilização. 6 HOFFMANN, Ana Cristina Oliveira da Silva; KARKOTLI, Ana Paula Balbueno; DIAS, Sílvia Luci de Almeida; PAES, Zulmira Pezzini. A Teoria do Desenvolvimento da Família: buscando a convergência entre a teoria e a prática no cotidiano dos profissionais de saúde. Fam. Saúde Desenv., Curitiba, v.7, n.1, p.75-88, jan./abr. 2005. WONSTTRET; Luiz Eduardo; STEFANELLI, Maguida Costa; CENTA, Maria de Lourdes. Pensando sobre o Processo Comunicacional e o Desenvolvimento Familiar. Fam. Saúde Desenv., Curitiba, v.3, n.2, p.116-124, jul./dez. 2001. 7 A teoria pode, ainda, ser utilizada em estudos sobre o ciclo de vida familiar, carreira familiar, bem como para se entender as dinâmicas do desenvolvimento familiar. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de se reconhecer a importância do desenvolvimento individual, o desenvolvimento da família tem como pilar principal o grupo de indivíduos interagindo e se organizando através desses conjuntos de valores e normas sociais. Conforme pode ser observado ao longo do texto, a família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições, sendo a única forma de organização social que incorpora novos membros pelo nascimento, adoção ou casamento. Uma vez existente vários tipos de famílias, para compreende-las, é preciso estudar as interações e relações desenvolvidas entre os diferentes subsistemas familiares, o contexto histórico, social e econômico, no qual as famílias encontram-se inseridas bem como os diferentes contextos culturais. Existem vários tipos de famílias e para compreender como funciona cada uma delas, é preciso estudar as interações e relações desenvolvidas entre os diferentes subsistemas familiares, o contexto histórico, social e econômico no qual as famílias encontram-se inseridas bem como os diferentes contextos culturais. O foco principal da Teoria do Desenvolvimento Familiar é a análise familiar, as mudanças sistemáticas e padronizadas experimentadas pelas famílias e como elas se movem por diferentes fases ao longo de sua existência. Cabe destacar que este desenvolvimento é definido por valores e crenças sociais, nas quais são produzidas as normas e valores por meio dos quais, as famílias se reproduzem. Assim, as famílias se desenvolvem passando através de estágios distintos para diferentes estruturas e funções familiares. O desenvolvimento familiar enquanto teoria envolve a noção de que a família deve, ao longo do tempo, atravessar uma série de estágios previstos cronologicamente, separados por transições previsíveis. Esta teoria focaliza nas mudanças sistemáticas e padronizadas experimentadas pelas famílias o movimento pelas fases do curso de vida. Durante a construção do presente trabalho, vários foram os questionamentos realizados. Estes se embasavam no modelo de ciclo de vida familiar e as mudanças sofridas pelas famílias. 8 Em relação ao surgimento das famílias, a teoria de desenvolvimento familiar aponta que estas só surgem mediante casamento. Atualmente, novas famílias ou unidades domésticas passam a ser formadas quando os filhos saem de casa em busca de melhor qualificação profissional ou trabalho fora da cidade natal e, passa a morar sozinho ou com outras pessoas, constituindo assim novas famílias com novos formatos. Outro tipo de arranjo familiar é a família monoparental que pode ser formada a partir do divórcio, pela morte de um dos conjugues ou por um pai ou mãe e seu filho, ou seja, ela não surge necessariamente a partir do casamento. Outra crítica à teoria consiste no fato desta não contemplar os novos modelos de família existentes. Seu enfoque ainda está centrado num formato padrão composto por pai, mãe e filhos, desta forma exclui a modalidade de casais homoafetivos, famílias recompostas e monoparentais que não se enquadram no modelo proposto. É importante ressaltar, ainda, a condição da mulher na sociedade contemporânea que há um tempo atrás girava-se em torno apenas da maternidade e dedicação ao lar. Entretanto, no decorrer dos anos, este cenário mudou, constatando-se uma transformação nos ciclos de vida familiar em função de vários fatores, sobretudo os aspectos sociais e econômicos. Como exemplo, pode-se citar o caso do ciclo de vida das mulheres em relação à maternidade, que outrora era composto pela dedicação exclusiva aos filhos e ao lar; e, atualmente, observa-se que o período de tempo dedicado a maternidade e cuidados com a casa é menor, posto que agora muitas delas estão inseridas no mercado de trabalho. REFERÊNCIAS ALDOUS, J. Family careers: Rethinking the developmental perspective. Thousand Oaks: Sage, 1996. BRODERICK, C. B. Understanding Family Process. Thousand Oaks: Sage, 1993. CONSTANTINE, L. L. The structure of family paradigms: An analytical model of family paradigms. Journal of Marital and Family Therapy, v.19, n.1, p.39 - 58, 1993. DAMIANO TEIXEIRA, K. M. A Administração de Recursos na família: Quem? Como? Por quê? Para quê? Notas de aula nº1: ECD 316 - Administração de Recursos na Família. Viçosa, MG: /s.e./, 2004.18p. 9 HOFFMANN, A. C. O. da S.; KARKOTLI, A. P. B.; DIAS, S. L. de A.; PAES, Z. P. A Teoria do Desenvolvimento da Família: buscando a convergência entre a teoria e a prática no cotidiano dos profissionais de saúde. Fam. Saúde Desenv., Curitiba, v.7, n.1, p.75-88, jan./abr. 2005. HOOK e PAOLUCCI; 1970. Economia Familiar “Uma olhada sobre a família nos anos 90". Anais do 1º Simpósio de Economia Familiar. 1994. OLIVEIRA, Z. L. C. de. Trabalho de mulher não é mais em casa. A mudança no padrão de atividade feminina. In: Sociedade Brasileira Contemporânea. Família e valores; 1989. OMETTO, A. M. Economia Familiar “Uma olhada sobre a família nos anos 90". In: Anais do 1º Simpósio de Economia Familiar. 1994. RIDENTI, S. Economia Familiar “Uma olhada sobre a família nos anos 90"; In: Anais do 1º Simpósio de Economia Familiar. 1994. RODGERS, Roy H.; WHITE, James M. Family Development Theory. In: Sourcebook of Family Theories and Methods: A Contextual Approach. p. 225 – 254. New York: Plenum. 1993. SMITH, S. R.; HAMON, R. R./ INGOLDSBY, B. B.; MILER, J. E. Exploring family theories. New York: Oxford University Press, 2009. WONSTTRET; L. E.; STEFANELLI, M. C.; CENTA, M. L. Pensando sobre o Processo Comunicacional e o Desenvolvimento Familiar. Fam. Saúde Desenv., Curitiba, v.3, n.2, p.116-124, jul./dez. 2001. 10