Considerações econômicas sobre a ação

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Considerações econômicas sobre a ação estatal
A economia de John Maynard Keynes (1883-1946), chamada de keynesianismo, é hoje
a principal doutrina econômica ensinada pelas escolas brasileiras, públicas e privadas, e
praticada pelo nosso governo. Nela, seus adeptos acreditam que o aumento da
capacidade produtiva da economia e do próprio crescimento econômico podem ser
influenciados, positivamente e de maneira sustentada, pelas variações na demanda,
advindas principalmente dos gastos governamentais. Essa doutrina chega à presunção
imaginária de acreditar que quanto maior for essa demanda, maior tenderá a ser a
majoração da atividade econômica ou do Produto Interno Bruto (PIB).
Precisamos lembrar que antes do advento keynesiano, Jean-Baptiste Say (1767-1832),
jornalista e economista francês, ensinava no seu “Tratado de Política Econômica”
justamente o oposto do keynesianismo, ou seja, que a oferta era a atriz principal do
cenário econômico, simplificada na sua célebre frase: “a oferta cria a sua própria
demanda”. Isso não significa para Say que a demanda seja algo sem importância, é claro
que não. Para ele a demanda continua sendo uma importante coadjuvante na cadeia
produtiva, só que com um papel de curta duração, já que, no final: “os produtos são
pagos com produtos”, expressão usada no seu tratado.
Mas foram os economistas alinhados à escola econômica austríaca, principalmente
Friedrich von Hayek e Ludwig von Mises, que decompuseram a oferta em vários
estágios de produção, estágios que se movem debaixo para cima: da produção dos bens
de consumo — estágio de primeira ordem! — aos estágios de ordem mais elevadas. A
título de ilustração, se imaginarmos a produção de sapatos de couro bovino, o estágio de
primeira ordem fica nas lojas comerciais que vendem o produto; o de segunda ordem,
nas fábricas de sapatos; o de terceira, nos curtumes que refinam, pintam e embelezam o
couro; o de quarta, nos frigoríficos que matam os animais e retiram o couro; o de quinta
ordem, bem afastado do consumo, estão as fazendas agropecuárias que formam as
pastagens, criam e selecionam o rebanho para abate.
Cada estágio de produção utiliza máquinas, equipamentos, prédios, matérias primas,
insumos, mão de obra e, principalmente, moeda, nossa referência central. E como todos
os estágios estão interligados uns aos outros pelo sistema de preço, de maneira
praxeologicamente precisa e consistente, qualquer fator que se interponha num estágio
produtivo, cujo exemplo mais comum são os tributos, afeta inexoravelmente todos os
demais, assim como seus resultados econômico-financeiros.
Ante o exposto, dá para se inferir a nocividade da economia keynesiana em imaginar
que a demanda, via gastos do governo, possa influenciar positivamente a atividade
econômica ou o Produto Interno Bruto (PIB), sejam os recursos obtidos através dos
impostos ou das emissões de moeda. Trata-se de uma façanha impossível, diante do fato
de que tais gastos são aplicados de forma atemporal, distante e quantitativamente em
total desarmonia com o processo produtivo. Essa impossibilidade é comentada por
Ludwig von Mises, um dos maiores estudiosos mundiais da ação estatal, quando explica
que: "Os intervencionistas têm toda a razão em afirmar que a expansão monetária ou do
crédito leva ao crescimento dos negócios. Eles estão enganados, apenas, ao ignorar que
tal crescimento é artificial, não dura e acaba, inextricavelmente, em depressão geral”.
*Alfredo Marcolin Peringer é professor de economia e finanças.
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