COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Bruno Simões 1 1. U M POUCO DE HISTÓRIA O primeiro contacto com números complexo a nível escolar é provavelmente feito através da resolução de uma equação de segundo grau do tipo: ax2 + bx + c = 0, cujas soluções são dadas pela fórmula resolvente: x= −b ± √ b2 − 4ac . 2a √ Por vezes, b2 − 4ac < 0, como é o caso de x2 + x + 1 = 0, com soluções x = −1±2 −3 . Hoje em √ dia dizemos que esta equação tem como soluções x = −1±2 3i . Não foi no entanto a vontade de dar √ significado a −3 que motivou a noção de número complexo. Até ao século XV, dizia-se que uma equação como a considerada não tinha soluções, o que fazia sentido de um ponto de vista geométrico; de facto, interprectando o problema como o de achar o ponto de intersecção das curvas y = x2 com y = −x − 1, percebe-se graficamente que estas não se intersectam! O que motivou o nascimento dos complexos foi a resolução de equações cúbicas. Olhemos para uma equação muito particular:2 x3 = 3px + 2q. Em 1545, foi publicada por Cardano uma “fórmula resolvente” para este problema, a saber q q p p 3 3 x = q + q 2 − p3 + q − q 2 − p3 . Em casos particulares como em x3 = 15x + 4, a fórmula fica q q p p 3 3 x = 2 + −112 + 2 − −112 . A fórmula de Cardano parecia inútil neste caso. No entanto, o problema é que as curvas y = x3 e y = 15x + 4 se intersectam (para x = 4, y = 64)! O que fazer então? A resposta foi dada por Bombelli (1572): √ assuma-se que existe um “número”, chamemos-lhe i, que verifique i2 = −1 (“i = −1”). Tem-se então √ √ x = 3 2 + 11i + 3 2 − 11i. Para determinar as raízes cúbicas de 2 ± 11i, procurem-se dois números da forma a + bi e c + di, com a, b, c, d ∈ R, tais que (a + bi)3 = 2 + 11i, (c + di)3 = 2 − 11i. Para fazer contas com estes números, Bombelli definiu como estes se deveriam somar e multiplicar. (1) (a + ib) + (c + di) = a + c + i(b + d); (2) (a + ib)(c + id) = ac + ibc + aid + i2 bd = ac + ibc + aid − bd = ac − bd + i(bc + ad). Assim, com alguma paciência percebe-se que (2 + i)3 = (2 + i)(2 + i)(2 + i) = 2 + 11i, e que (2 − i)3 = 2 − 11i. Voltando à fórmula resolvente, tem-se então x = (2 + i) + (2 − i) = 4, 1Estas notas correspondem maioritariamente às notas em [7] 2Na verdade pode mostrar-se que qualquer equação cúbica se reduz a uma deste tipo. 1 Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE a solução que procurávamos! A definição precisa de número complexo (que apresentamos de seguida) só viria 250 anos mais tarde. Como nota final, observe-se que para resolver um problema no universo dos números reais, foi conveniente passarmos pelo universo dos números complexos. Um dos grandes trunfos da análise complexa é mesmo esse: permite resolver muitos problemas que à partida não parecem requerer números complexos. Para saber mais sobre a história de alguns dos conceitos que surgem nestas folhas, aconselha-se a consulta de [2]. 2. N ÚMEROS C OMPLEXOS 2.1. Definição de número complexo. O conjunto C dos números complexos pode ser definido como sendo o espaço R2 munido da soma habitual (x1 , y1 ) + (x2 , y2 ) = (x1 + x2 , y1 + y1 ), ∀(x1 , y1 ), (x2 , y2 ) ∈ R2 e do produto (x1 , y1 ) · (x2 , y2 ) = (x1 x2 − y1 y2 , x1 y2 + x2 y1 ), ∀(x1 , y1 ), (x2 , y2 ) ∈ R2 . De forma a tornar mais cómoda a representação destes números e as suas operações, designa-se por i o vector (0, 1) e identificam-se os pares (x, 0) com os números reais x ∈ R. Nessa altura, temos a identificação (x, y) = x + yi = x + iy. Como i2 = (0, 1) · (0, 1) = (−1, 0), temos i2 = −1, de acordo com esta identificação. Observe-se que estas operações são nada mais nada menos que a soma e a multiplicação introduzidas em (1) e (2). Assim, C = {z = x + iy : x, y ∈ R} e (x1 + iy1 ) + (x2 + iy2 ) = (x1 + x2 ) + i(y1 + y2 ) (x1 + iy1 ) · (x2 + iy2 ) = x1 x2 + ix1 y2 + ix2 y1 + i2 y1 y2 = x1 x2 − y1 y2 + i(x2 y1 + x1 y2 ). Exemplo 2.1. Dados z1 = 1 + i, z2 = i, temos z1 + z2 = 1 + 2i, z1 z2 = (1 + i)i = i − 1 = −1 + i. Observação 2.2. Em C, tal como em R, valem as propriedades comutativa e distributiva. Dado um número complexo z = x + iy, diz-se que x é a parte real de z (Re z) e y a parte imaginária de z (Im z). 2.2. Representação polar. Dado que qualquer ponto do plano R2 \ {0} pode ser representado em coordenadas polares (x, y) = (rcosθ, r sin θ), também todo o número complexo não nulo se pode escrever na forma z = x + iy = r cos θ + ir sin θ = r(cosθ + i sin θ) ≡ rcisθ, p onde r = x2 + y 2 > 0 é o módulo de z, representado por |z| (que representa a distância de z = (x, y) à origem3) e θ ≡ arg z é o argumento de z (representa o ângulo entre o vector com origem (0, 0) e extremo (x, y) e o eixo Ox. 3Pelo Teorema de Pitágoras. Página 2 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Figura 2.3. Coordenadas polares. √ Exemplo 2.4. Temos i = cis (π/2), 2 = 2cis 0, 2 2 +i √ 2 2 = cis (π/4). Uma forma extremamente simples de calcular θ quando x > 0 é calculando θ = arctan(y/x) (porquê?). É importante notar que o ângulo θ só fica univocamente determinado quando se fixa um intervalo J de comprimento 2π (frequentemente: J = [0, 2π[ ou J = [−π, π[) e se exige que θ varie em J unicamente. Por exemplo, i = cis (π/2) = cis (5π/2). Daí por vezes falar-se em ramos do argumento, um ramo para cada intervalo J fixado. Num dado contexto, pode ser importante (ou não) precisar o ramo que se está a considerar. Assim, em particular, tem-se que (3) rcis θ = r0 cis θ0 , r, r0 > 0, θ, θ0 ∈ R ⇐⇒ r = r0 e θ = θ0 (mod 2π), ou seja, θ = θ0 + 2kπ para certo k ∈ Z. Propriedades do módulo. Se w, z ∈ C, então a): |z| ≥ 0 e |z| = 0 se e só se z = 0; b): |z + w| ≤ |z| + |w|. (desigualdade triangular) c): |rcis θ| = r para todo o r ≥ 0, θ ∈ R. Dado um complexo z = x + iy, define-se o seu conjugado z̄ := x − iy. Assim, por exemplo, 1 + i = 1 − i. É imediato que: 1 1 z̄¯ = z, |z̄| = |z|, z z̄ = |z|2 , zw = z̄ w̄, z + w = z̄ + w̄, = z z̄ para todo o z, w ∈ C (z ∈ C \ {0} na última propriedade). A representação polar permite uma interpretação geométrica bastante simples do produto de dois números complexos. De facto, se z1 = r1 cis θ1 e z2 = r2 cis θ2 então z1 · z2 = r1 r2 (cos θ1 + i sin θ1 )(cos θ2 + i sin θ2 ) = r1 r2 ((cos θ1 cos θ2 − sin θ1 sin θ2 ) + i(cos θ1 sin θ2 + sin θ1 cos θ2 )) = r1 r2 (cos(θ1 + θ2 ) + i(sin(θ1 + θ2 ))) = r1 r2 cis (θ1 + θ2 ). Resumindo, tem-se Proposição 2.5. Dados dois números complexos z1 = r1 cis θ1 , z2 = r2 cis θ2 , o produto z1 · z2 é o número complexo de módulo r1 r2 e argumento θ1 + θ2 , isto é, z1 · z2 = r1 r2 cis (θ1 + θ2 ). (4) Em particular, como i = cis (π/2), a multiplicação por i corresponde a uma rotação de 90o no sentido antihorário. Como outro corolário do resultado anterior, observe-se que |z1 z2 | = |z1 | |z2 |, arg (z1 z2 ) = arg z1 + arg z2 (mod 2π) Defina-se, dado θ ∈ R, a exponencial de um imaginário puro por (5) eiθ := cis θ = cos θ + i sin θ (fórmula de Euler). Com esta notação, a representação polar é dada por z = reiθ , Página 3 de 31. ∀z1 , z2 ∈ C. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE e a multiplicação entre dois complexos torna-se mais intuitiva. Dados z1 = r1 eiθ1 , z2 = r2 eiθ2 , tem-se que z1 z2 = r1 r2 ei(θ1 +θ2 ) (ou seja, podemos usar a regra válida entre números reais: ea eb = ea+b ). Note-se que, de acordo com (3), 0 reiθ = r0 eiθ ⇐⇒ r = r0 e θ = θ0 + 2kπ, para certo k ∈ Z. Além disso, |reiθ | = r ∀r ≥ 0, θ ∈ R, e em particular |eiθ | = 1. ∗ Possíveis justificações para a definição (5). Vamos apresentar de seguida duas possíveis explicações para a fórmula de Euler. A primeira usa um argumento de séries de potências, e é baseada na motivação original de Euler. É conhecido o desenvolvimento em série de Taylor da função exponencial real: ex = ∞ X x2 x3 x4 xn =1+x+ + + + ... n! 2! 3! 4! n=0 Supondo que o mesmo seria verdade para x = iy, obteríamos formalmente (iy)3 (iy)4 (iy)2 + + + ... 2! 3! 4! 2 3 4 y iy y = 1 + iy − − + + ... 2! 3! 4! 2 4 y y y3 y5 1− + − ... + i y − + − ... 2 4! 3! 5! eiy = 1 + iy + = cos y + i sin y. A segunda justificação é a seguinte: a função real f (x) = ekx é a única função que verifica as condições f 0 (x) = kf (x), f (0) = 1. Assim, formalmente, faz sentido definir eix como a solução de f 0 (x) = if (x), f (0) = 1. Acontece que a função g(x) = cos x + i sin x verifica precisamente estas duas condições: g 0 (x) = − sin x + i cos x = i(cos x + i sin x) = ig(x), g(0) = cos 0 + i sin 0 = 1. 2.3. Radiciação. Iterando (4), obtemos também a chamada Fórmula de De Moivre: Lema 2.6 (Fórmula de De Moivre). Dado n ∈ N e z = reiθ ∈ C, tem-se z n = rn einθ = rn cis (nθ). Teorema 2.7 (Radiciação). Para todo o w = reiθ ∈ C, w 6= 0, existem exactamente n soluções da equação z n = w. Designadamente, √ θ 2kπ zk = n r ei( n + n ) , k = 0, 1, . . . , n − 1, ou seja √ n θ rei n , √ n θ 2π rei( n + n ) , . . . , √ n 2π θ rei( n +(n−1) n ) . Demonstração. Tem-se de facto zkn = w, pela fórmula de De Moivre. De facto, dado k ∈ Z, √ n θ 2kπ zkn = n rei( n + n ) = rei(θ+2kπ) = r(cos(θ + 2kπ) + i sin(θ + 2kπ)) = r(cos θ + i sin θ) = rcisθ = reiθ . Vejamos que não existem outras raízes para além destas: seja z 0 = ρeiα ∈ C um complexo que verifique z 0n = w. Então ρn einα = reiθ , de onde se depreende que ρn = r e nα = θ + 2kπ para certo k ∈ Z. Então √ θ θ 2kπ i( n + 2kπ n ) , k ∈ Z} = {ei( n + n ) , k = 0, 1, . . . , n − 1}, o resultado ρ = n r e α = nθ + 2kπ n . Como {e segue. Exemplo 2.8. Raízes quadradas de −1. Como −1 = eiπ , então −1 admite duas raízes quadradas, eiπ/2 = cos π/2 + i sin π/2 = i, π e ei( 2 + Página 4 de 31. 2π 2 ) = ei 3π 2 = −i. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Exemplo 2.9. Raízes cúbicas de -1: iπ/3 e √ 1 3 = +i , 2 2 e iπ = −1, i5π/3 e √ 1 3 = −i . 2 2 Figura 2.10. Raízes cúbicas de −1. Observação 2.11. As raízes de índice n de um número complexo w ∈ C\{0} correspondem aos n vértices p de um polígono regular com n lados, inscrito numa circunferência de raio n |w| (porquê?). 3. F UNÇÕES E LEMENTARES Antes de começar, vamos recordar algumas noções de topologia. Dado a ∈ C e r > 0, define-se a bola aberta de centro a ∈ C e raio r > 0 como sendo Br (a) = {z ∈ C : |z − a| < r}. Um conjunto A ⊂ C diz-se aberto se para todo o ponto a ∈ A existir um raio r tal que Br (a) ⊆ A. 4 Uma função complexa é uma aplicação f : A ⊂ C → C que a cada número complexo z ∈ A associa um e um só número complexo w = f (z). Esta pode escrever-se na forma f (z) = f (x + iy) = u(x, y) + iv(x, y), com u(x, y), v(x, y) ∈ R. Exemplo 3.1. Para f (z) = z 2 , A = C, tem-se f (x + iy) = (x + iy)2 = x2 − y 2 + i2xy, portanto u(x, y) = x2 − y 2 , v(x, y) = 2xy. Observe-se que, não sendo possível esboçar o gráfico (a duas ou três dimensões) de uma função complexa, pode-se interpretar f como uma transformação do plano. Vamos de seguida estudar algumas funções elementares. 3.1. Função exponencial. Já definimos em (5) a exponencial de um imaginário puro. Em geral, a exponencial de um complexo define-se do seguinte modo. Definição 3.2. Dado z = x + iy ∈ C, ez = ex+iy := ex eiy = ex (cos y + i sin y); ou seja, a exponencial de um complexo z = x + iy corresponde ao ponto do plano complexo com raio ex e argumento y. Observe-se que neste caso u(x, y) = ex cos y e v(x, y) = ex sin y. Como ei0 = 1, esta noção de exponencial estende a já conhecida de exponencial real. 4O conjunto C \ {0} é aberto, por exemplo. Página 5 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Exemplo 3.3. e1+iπ = e(cos π + i sin π) = e cos π + ie sin π = −e. Proposição 3.4. Seja z = x + iy ∈ C. Então, a) |ez | = ex . Em particular, |eiy | = 1 para todo o y ∈ R, e ez 6= 0; b) ez = 1 se e só se z = 2kπi, k ∈ Z; c) ez+w = ez ew ; d) e1z = e−z . p √ Demonstração. a) |eiy | = cos2 y + sin2 y = 1 = 1. b) Para z = x + iy, ez = 1 = ei0 se e só se ex = 1 e y = 2kπ, se e só se x = 0 e y = 2kπ. c) Para z = x+iy, w = u+iv, ez+w = ex+u+i(y+v) = ex+u ei(y+v) = ex eu eiy eiv = ex+iy eu+iv = ez ew . ex cos y−iex sin y 1 = e−x (cos(−y) + i sin(−y)) = e−z . d) z1 = ex cos y+ie x sin y = e2x A geometria da aplicação exponencial (1) A exponencial transforma uma recta horizontal (y =constante) numa semi-recta com origem em 0 e ângulo y, ou seja, dada uma recta da forma R = {x + iy0 : x ∈ R}, a sua imagem por ez é a semi-recta S = {ex eiy0 : x ∈ R}. Além disso, à medida que x “viaja” de oeste para este em R, ez afasta-se da origem. (2) A exponencial transforma uma recta vertical (x =constante) numa circunferência de raio ex , ou seja, dada uma recta da forma R = {x0 + iy : y ∈ R}, a sua imagem por ez é a sua circunferência C = {ex0 eiy : y ∈ R} de raio ex0 , e à medida que y “viaja” de sul para norte em R, ez percorre B no sentido antihorário.5 (3) Fixado um real y0 , designe-se por Ry0 a “faixa horizontal” Ry0 = {z = x + iy : x ∈ R e y0 ≤ y < y0 + 2π}. A função exponencial transforma cada conjunto Ry0 no conjunto C \ {0}. 3.2. Funções trigonométricas. Da fórmula de Euler, tem-se para todo o x ∈ R eix = cos x + i sin x, e e−ix = cos(−x) + i sin(−x) = cos x − i sin x. Assim, cos x = eix + e−ix , 2 eix − e−ix 2i sin x = e é portanto natural estender desta forma estas funções para variáveis complexas. Definição 3.5. Dado z ∈ C, define-se cos z = eiz + e−iz , 2 sin z = eiz − e−iz . 2i Proposição 3.6. Tem-se que a): b): c): d): cos(−z) = cos z, sin(−z) = − sin z, ∀z ∈ C. sin2 z + cos2 z = 1, ∀z ∈ C. cos(z + w) = cos z cos w − sin z sin w, ∀z, w ∈ C. sin(z + w) = sin z cos w + cos z sin w, ∀z, w ∈ C. 5O seguinte facto será importante mais adiante: a aplicação θ ∈ [0, 2π] → reiθ corresponde a uma parametrização de uma circunferência de raio r, percorrida uma única vez no sentido antihorário, começando e terminando no ponto 1 + 0i. Página 6 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa 3.3. Função logaritmo. O logaritmo (real) pode ser definido como sendo a inversa da função exponencial (real), isto é, dado x > 0, log x = y é o único valor y ∈ R que verifica ey = x. Poderíamos então simplesmente pensar em definir o logaritmo complexo como sendo a inversa da exponencial complexa; no entanto, esta última função não é globalmente invertível, uma vez que (por exemplo) e0 = e2πi = 1 (sem dizer mais nada, log 1 ficaria mal definido). Recordemos no entanto que, fixado um real y0 , a exponencial complexa transforma a faixa horizontal: Ry0 = {z = x + iy : x ∈ R e y0 ≤ y < y0 + 2π} no conjunto C \ {0}. Além disso, fá-lo de forma bijectiva, isto é: para todo o z ∈ C \ {0} existe um único w ∈ Ry0 tal que ew = z. Vejamos algebricamente este facto (que é geometricamente evidente). Dado z = reiθ com r > 0, trata-se de encontrar w = x + iy ∈ C tal que ew = z, isto é ex eiy = reiθ . Pelas propriedades da representação polar de um complexo, ficaremos com ex = r eiy = eiθ , e equações cujas soluções são dadas por x = log r (logaritmo real), e y = θ + 2kπ, k ∈ Z. A exigência de z pertencer a Ry0 determina univocamente o inteiro k. Isto permite definir a função logaritmo ou, com mais precisão, um ramo da função logaritmo (um ramo para cada y0 fixado) como log z := log |z| + i arg z, ∀z ∈ C \ {0}; onde “arg” se refere ao argumento de z do intervalo [y0 , y0 + 2π[; em representação polar, portanto, log(reiθ ) := log r + iθ, ∀r > 0, θ ∈ [y0 , y0 + 2π[. Esta aplicação é, para cada y0 ∈ R, uma bijecção log : C \ {0} → Ry0 . Usualmente designa-se por ramo principal do logaritmo quando escolhemos arg z ∈ [−π, π[, e ramo mínimo do logaritmo quando arg z ∈ [0, 2π[. Exemplo 3.7. Para z = i, log i = log |i| + i arg(i) = i arg(i), logo (consoante o ramo escolhido para o logaritmo), tem-se π para certo k ∈ Z. log i = i( + 2kπ), 2 Por exemplo, escolhendo o ramo principal do logaritmo, π log i = i . 2 Proposição 3.8. Tem-se que a) elog z = z, ∀z ∈ C \ {0}. b) log(ez ) = z, ∀z = x + iy ∈ C : y0 ≤ y < y0 + 2π. c) log(zw) = log z + log w (mod 2πi), ∀z, w ∈ C \ {0}. Demonstração. a) Dado z = reiθ , podemos sempre escolher θ ∈ [y0 , y0 + 2π[, tendo-se nessa altura ez = elog r+iθ = elog r eiθ = reiθ = z. b) log(ez ) = log(ex+iy ) = log ex + i(y + 2kπ) para certo k ∈ Z, e portanto log(ez ) = x + iy se e só se y ∈ [y0 , y0 + 2π[. c) Dados z = reiθ , w = r̃eiθ̃ com θ, θ̃ ∈ [y0 , y0 + 2π[, tem-se (para certo k ∈ Z): log(zw) = log rr̃ + i(θ + θ̃ + 2kπ) = log r + log r̃0 + i(θ + θ̃ + 2kπ), log z = log r + iθ, log w = log r̃ + iθ̃. Página 7 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Exemplo 3.9. Exemplifiquemos a fórmula em c) com y0 = 0 (argumento em [0, 2π[), z = −1 − i, w = 1 − i. Neste caso, √ 5π 1 5π = log 2 + i , 4 2 4 √ 7π 1 7π log w = log 2 + i = log 2 + i , 4 2 4 log z = log 2+i e portanto log z + log w = log 2 + i3π. Por outro lado, zw = −2 e log(zw) = log 2 + iπ. Assim sendo, neste caso concreto, log(zw) = log z + log w − 2πi. 3.4. Radiciação. Fixado um ramo do logaritmo, define-se a raíz de ordem n, √ n z := e log z n ∀z ∈ C \ {0}. , Decorre das propriedades da exponencial e do logaritmo que, para todo o z ∈ C \ {0}, √ log z n log z log z ( n z)n = e n · · · e n = e n = z. √ Para diferentes ramos do logaritmo, obtêm-se possivelmente diferentes valores de n z. Mais precisamente, continuando a designar por “log” o ramo inicialmente fixado, qualquer outro ramo do logaritmo calculado em z terá um valor log z + 2kπi para certo k ∈ Z, pelo que (log z + 2kπi)/n = (log z)/n + 2kπi/n e a log z log z 2kπi 2kπ 2kπ nova raíz de ordem n tomará o valor e n e n = e n cis 2kπ n ·. Dado que {cis n : k ∈ Z} = {cis n : k = 0, 1, . . . , n − 1}, obtêm-se deste modo as n raízes complexas de z. Em representação polar, se z = reiθ , tem-se (log z)/n = (log r)/n + iθ/n, donde √ n z=e log r n iθ en = √ n r cis θ , n desde que o argumento θ varie no intervalo [y0 , y0 + 2π[ do ramo fixado para o logaritmo. √ Tal como se disse, para diferentes ramos do logaritmo, os valores possíveis de n z constituem o conjunto √ θ 2kπ { n r ei( n + n ) , k = 0, 1, . . . , n − 1}. Isto está de acordo com o que se viu atrás a propósito da fórmula de De Moivre. Exemplifiquemos com n = 2. Fixado o ramo do logaritmo correspondente a 0 ≤ θ < 2π, a aplicação √ z → z transforma C \ {0} no semiplano superior {(x, y) : y > 0} ∪ {(x, 0) : x > 0}. Fixado o ramo do √ logaritmo correspondente a −π ≤ θ < π, a aplicação z → z transforma C \ {0} no semiplano “direito” √ √ {(x, y) : x > 0} ∪ {(0, y) : y < 0}. No primeiro caso, −1 = i, no segundo −1 = −i. Observe-se que √ sempre que usamos a igualdade −1 = i, está subentendido que escolhemos um ramo do logaritmo que contém o ângulo θ = π + 4kπ, k ∈ Z. 3.5. Potenciação. A radiciação é um caso particular da potenciação de números complexos. Fixado um ramo do logaritmo e dados números complexos a, b com a não nulo, define-se, à semelhança do caso real, ab := eb log a , ∀a, b ∈ C, a 6= 0. Tal como atrás, para diferentes ramos do logaritmo, obtêm-se possivelmente diferentes valores de ab ; alterar um ramo do logaritmo tem o efeito de multiplicar o valor acima por um factor e2kπib para certo k ∈ Z (se b for um irracional ou um imaginário puro, obtém-se toda uma sucessão de valores distintos para ab ). Algumas propriedades que decorrem imediatamente da definição são (verifique): a): ab ac = ab+c , para um qualquer ramo fixado do logaritmo. b): (ab)c = ac bc , desde que, para o ramo fixado do logaritmo, log(ab) = log a + log b (sem termo adicional 2kπi). Página 8 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa 4. F UNÇÕES H OLOMORFAS 4.1. Limites e Continuidade. Seja f : D ⊆ C → C uma função complexa, f (z) = f (x + iy) = u(x, y) + iv(x, y) com u, v : D ⊆ R2 → R. Dizemos que o limite de f em z0 ∈ D06 é dado por w0 , e escrevemos lim f (z) = w0 , z→z0 se para cada δ > 0 existe > 0 tal que |z − z0 | < =⇒ |f (z) − w0 | < δ. Na prática, muitas vezes aquilo que se usa é o seguinte critério: se z0 = x0 + iy0 e w0 = u0 + iv0 , então ⇐⇒ lim f (z) = w0 z→z0 lim (x,y)→(x0 ,y0 ) u(x, y) = u0 , lim (x,y)→(x0 ,y0 ) v(x, y) = v0 . À semelhança do caso real, a função f diz-se contínua em z0 ∈ D se lim f (z) = f (z0 ). z→z0 Isto equivale a dizer que u e v são contínuas no ponto (x0 , y0 ) ∈ R2 relativamente à métrica euclidiana usual de R2 . Mantêm-se assim as propriedades usuais da continuidade, bem conhecidas para o caso real. Dizemos que f é contínua em D se for contínua em todos os pontos de D. Exemplo 4.1. A função f (z) = z̄ = x − iy é contínua em C, uma vez que u(x, y) = x e v(x, y) = −y são contínuas em todos os pontos. Exemplo 4.2. Fixemos o ramo do logaritmo associado a θ ∈ [0, 2π[, e vejamos que esta função não é contínua no eixo E = {z = x + iy ∈ C : x > 0, y = 0}. Seja z0 = x0 + i0 ∈ E; então log(x0 + i0) = log x0 (este último representa o logaritmo real). Por outro lado, tome-se z = x0 eiθ com θ ∈ [0, 2π[. Quando θ → 2π, tem-se z → x0 ei2π = x0 , mas log z = log x0 + iθ → log x0 + i2π. Em geral, fixado um ramo do logaritmo associado a θ ∈ [y0 , y0 + 2π[, a função é descontínua no segmento de recta {z = reiy0 : r > 0}. 4.2. Diferenciabilidade. Seja f : A ⊆ C → C. Diz-se que f é diferenciável em z0 = x0 + iy0 ∈ A se existe o limite f (z) − f (z0 ) f (z0 + h) − f (z0 ) f 0 (z0 ) = lim . = lim z→z0 h→0 z − z0 h (z0 ) (z − z0 ), isto implica a continuidade de f em z0 . Dado que f (z) − f (z0 ) = f (z)−f z−z0 Quando f é diferenciável em todos os pontos de A, f diz-se holomorfa em A. Exemplo 4.3. Seja n ∈ N. Vejamos que a função f (z) = z n é holomorfa em C, com derivada f 0 (z) = nz n−1 : (z + h)n − z n z n + nz n−1 h + . . . + nzhn−1 + hn − z n f 0 (z) = lim = lim h→0 h→0 h h n−1 = lim nz + termos com potências de h h→0 n−1 = nz . Exemplo 4.4. Vejamos que f (z) = z̄ não é diferenciável em nenhum ponto z. Com h = reiθ , tem-se f (z + h) − f (z) z + h − z̄ z̄ + h̄ − z̄ h̄ re−iθ = = = = = e−i2θ , h h h h reiθ portanto o limite quando z → 0 (ou seja, quando r → 0) depende do ângulo θ. Observe-se no entanto que u(x, y) = x, v(x, y) = −y são diferenciáveis. Isto mostra que, para a diferenciabilidade, não existe uma relação tão directa entre f e u, v como existe no estudo da continuidade. 6Diremos que z está em D 0 se para qualquer δ > 0 a bola B (z ) intersecta D em pontos diferentes de z 0 0 δ 0 Página 9 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Proposição 4.5. Dadas funções f, g holomorfas em A, tem-se (sempre que faça sentido) a): (λf )0 = λf 0 , ∀λ ∈ C. b): (f + g)0 = f 0 + g 0 ; c): (f g)0 = f 0 g + f g 0 ; 0 0 g0 ; d): fg = f g−f g2 e): (f (g(z)))0 = f 0 (g(z))g 0 (z). Teorema 4.6 (Equações de Cauchy-Riemann). Seja f = u + iv : A ⊆ C → C e z0 = x0 + iy0 ∈ A. As seguintes afirmações são equivalentes: a) f é diferenciável em z0 . b) u e v são diferenciáveis em (x0 , y0 ), e (6) ∂u ∂v (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ), ∂x ∂y ∂v ∂u (x0 , y0 ) = − (x0 , y0 ). ∂x ∂y Além disso, no ponto em questão, (7) f 0 (z0 ) = ∂u ∂v ∂v ∂u (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) − i (x0 , y0 ). ∂x ∂x ∂y ∂y Demonstração. Suponha-se que existe f 0 (z0 ). Observe-se que f (z) − f (z0 ) u(x, y) − u(x0 , y0 ) + i(v(x, y) − v(x0 , y0 ))) . = z − z0 x − x0 + i(y − y0 ) Particularizando a expressão nos pontos da forma z = x + iy0 e passando ao limite quando x → x0 , conclui-se que u(x, y0 ) − u(x0 , y0 ) v(x, y0 ) − v(x0 , y0 ) +i x − x0 x − x0 ∂u ∂v = (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 ). ∂x ∂x f 0 (z0 ) = lim x→x0 Procedendo-se do mesmo modo nos pontos da forma z = x0 + iy com y → y0 , obtém-se v(x0 , y) − v(x0 , y0 ) u(x0 , y) − u(x0 , y0 ) +i i(y − y0 ) i(y − y0 ) v(x0 , y) − v(x0 , y0 ) u(x0 , y) − u(x0 , y0 ) = lim −i y→y0 y − y0 y − y0 ∂u ∂v (x0 , y0 ) − i (x0 , y0 ). = ∂y ∂y f 0 (z0 ) = lim y→y0 Isto prova (6). Para ver que u e v são diferenciáveis, observe-se que ∂u ∂v f (z) − f (z0 ) = (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 )) (z − z0 ) + o(|z − z0 |) ∂x ∂x ∂v ∂u (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 )) (x − x0 + i(y − y0 )) + o(|z − z0 |) = ∂x ∂x ∂u ∂v = (x0 , y0 )(x − x0 ) − (x0 , y0 )(y − y0 ) ∂x ∂x ∂u ∂v (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) + o(|z − z0 |) +i ∂x ∂x ∂u ∂u = (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 )+ ∂x ∂y ∂v ∂v +i (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) + o(|z − z0 |), ∂x ∂y onde o(|z − z0 |) designa uma quantidade tal que o(|z − z0 |)/|z − z0 | → 0 quando z → z0 . Tomando a parte real e imaginária desta igualdade, resulta que u e v são diferenciáveis em (x0 , y0 ). Página 10 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Suponha-se agora que a condição em b) é satisfeita. Visto que, por hipótese, u e v são diferenciáveis em (x0 , y0 ), tem-se ∂u (x0 , y0 )(x − x0 ) + ∂x ∂u = (x0 , y0 )(x − x0 ) − ∂x u(x, y) − u(x0 , y0 ) = ∂u (x0 , y0 )(y − y0 ) + o(|z − z0 |) ∂y ∂v (x0 , y0 )(y − y0 ) + o(|z − z0 |), ∂x Conclusão análoga vale para v(x, y) − v(x0 , y0 ). Então ∂v ∂u (x0 , y0 )(x − x0 ) − (x0 , y0 )(y − y0 ) ∂x ∂x ∂u ∂v +i (x0 , y0 )(x − x0 ) + (x0 , y0 )(y − y0 ) + o(|z − z0 |) ∂x ∂x ∂u ∂v = (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 ) ((x − x0 ) + i(y − y0 )) + o(|z − z0 |). ∂x ∂x ∂u ∂v = (x0 , y0 ) + i (x0 , y0 ) (z − z0 ) + o(|z − z0 |). ∂x ∂x f (z) − f (z0 ) = Dividindo os dois membros da igualdade por z − z0 , conclui-se que existe lim z→z0 precisamente ∂u ∂x (x0 , y0 ) ∂v + i ∂x (x0 , y0 )). f (z) − f (z0 ) (vale z − z0 Observação 4.7. Recorde-se que u é diferenciável em (x0 , y0 ) se u(x, y) = u(x0 , y0 ) + ∇u(x0 , y0 ) · (x − x0 , y − y0 ) + o(k(x − x0 , y − x0 )k) quando (x, y) → (x0 , y0 ). Em situações concretas, ao aplicar-se a conclusão b) ⇒ a) do teorema, a verificação de que u (e v) é diferenciável faz-se recorrendo ao teorema ∂u seguinte: se em A a função u tiver derivadas parciais ∂u ∂x e ∂y contínuas, então u é diferenciável em A. 1 ∂ ∂ ∂ 1 ∂ ∂ ∂ = +i e = −i então as Observação 4.8. Se definirmos os operadores ∂ z̄ 2 ∂x ∂y ∂z 2 ∂x ∂y ∂f equações (6) ficam com o aspecto mais sugestivo = 0. De facto, ∂ z̄ ∂f 1 ∂ ∂ ∂u ∂v ∂u ∂v =0⇔ +i (u + iv) = 0 ⇔ − +i + =0 ∂ z̄ 2 ∂x ∂y ∂x ∂y ∂y ∂x ∂u ∂v ∂u ∂v − =0 e + =0 ⇔ ∂x ∂y ∂y ∂x Da mesma forma, se se verificar ∂f ∂ z̄ = 0, tem-se que ∂f 1 ∂ ∂ 1 ∂u ∂v i ∂u ∂v = −i (u + iv) = + + − + ∂z 2 ∂x ∂y 2 ∂x ∂y 2 ∂y ∂x 1 ∂u ∂u i ∂v ∂v ∂u ∂v = + + + = +i 2 ∂x ∂x 2 ∂x ∂x ∂x ∂x = f0 Corolário 4.9. Seja f = u + iv : Br (z0 ) ⊂ C → C. Então f 0 = 00 em Br (z0 ) sse f é constante em Br (z0 ). Demonstração. Suponhamos que f é diferenciável em Br (z0 ), e que f 0 = 0 nesse conjunto. Então como ∂v ∂u ∂v ∂u ∂u ∂v ∂v f 0 = ∂u ∂x + i ∂x = ∂y − i ∂y , então ∇u = ( ∂x , ∂y ) = (0, 0), ∇v = ( ∂x , ∂y ) = (0, 0), logo u e v são constantes, donde f também o é. Reciprocamente, se f for constante, então u e v também o são, as derivadas parciais são iguais a zero (logo ∂v contínuas), valem as equações de Cauchy-Riemann, e f 0 = ∂u ∂x + i ∂x = 0. Exemplo 4.10. Seja f (z) = ez = ex cos y + iex sin y. Neste caso, u(x, y) = ex cos y, v(x, y) = ex sin y, e ∂u ∂v ∂u ∂v (x, y) = ex cos y = ; (x, y) = −ex sin y = − (x, y). ∂x ∂y ∂y ∂x Página 11 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Juntando esta informação ao facto de todas as derivadas parciais de u e v serem contínuas, tem-se então que ∂v ∂u f 0 (z) = (x, y) + i (x, y) = ex cos y + iex sin y = ez . ∂x ∂x Além disso, sai imediatamente das propriedades já vistas para a diferenciação que, dado k ∈ C, (ekz )0 = ekz (kz)0 = ekz k. Assim, deduzimos também que 0 iz ieiz − ie−iz eiz − e−iz e + e−iz 0 = =− = − sin z (cos z) = 2 2 2i e, analogamente, (sin z)0 = cos z. Exemplo 4.11. Considere-se a função complexa logaritmo com a escolha do ramo principal [−π, π[. Observe-se que, neste caso, no conjunto A = {z ∈ C : x > 0}, p y log z = log |z| + i arg z = log x2 + y 2 + i arctan( ) =: u(x, y) + iv(x, y) x Assim, ∂u x ∂v = 2 = ; 2 ∂x x +y ∂y ∂u y ∂v = 2 =− 2 ∂y x +y ∂x e portanto log z é diferenciável em A, com (log z)0 = x2 x y 1 1 −i 2 = = . 2 2 +y x +y x + iy z Na verdade, o domínio de integração do logaritmo é maior, como consequência do seguinte teorema: Teorema 4.12. Seja f : A ⊂ C → C holomorfa, z0 ∈ A, e suponha-se que f 0 (z0 ) 6= 0. Então existem abertos V ⊆ A e W ⊆ C tais que z0 ∈ V , f (z0 ) ∈ W , f |V : V → W é uma bijecção com inversa holomorfa, e (8) (f −1 )0 (f (z)) = 1 f 0 (z) Ideia da fórmula (8): Tem-se, por definição de inversa, f −1 (f (z)) = z, e portanto aplicando a regra da derivação composta, (f −1 )0 (f (z))f 0 (z) = 1, donde (f −1 )0 (f (z)) = 1 . f 0 (z) Aplicação: Fixado um ramo do logaritmo com θ ∈ [y0 , y0 + 2π[, observe-se que esta função é a inversa da exponencial ez : A0 := {z = x + iy : y ∈]y0 , y0 + 2π[} → B0 = {z = reiθ : r > 0, θ 6= y0 }. Como (ez )0 = ez 6= 0, então o teorema anterior implica que a sua inversa, log z, seja holomorfa em B0 , com derivada 1 1 (log z)0 = log z = . e z [Questão: e na semi-recta {z = reiy0 : r > 0}, a função log z é diferenciável?] Página 12 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa 5. I NTEGRAÇÃO DE FUNÇÕES COMPLEXAS 5.1. Integral complexo com variável real. Definição 5.1. Seja g : [a, b] ⊂ R → C contínua. Define-se Z Z b Z b Re g(t) dt + i g(t) dt := Im g(t) dt. a a a b Rb Rb Rb Rb Por definição, portanto, Re a g(t) dt = a Re g(t) dt e Im a g(t) dt = a Im g(t) dt. Verifica-se facilmente que o integral é linear em g, ou seja Z b Z b Z b Z b Z b λf (t) dt = λ f (t) dt, (f (t) + g(t)) dt = f (t) dt + g(t) dt a a a b Z Lema 5.2. Tem-se | Z g(t) dt| ≤ a a a b |g(t)| dt. a Rb Rb a a g(t) dt = reiθ e pretende-se ver que r ≤ Z b Z b e−iθ g(t) dt, g(t) dt = r = e−iθ Demonstração. Em representação polar, a a donde |g(t)| dt. Ora, 7 b Z −iθ r = Re r = Re (e a Z b −iθ |e g(t)) dt ≤ Z a b |g(t)| dt. g(t)| dt = a 5.2. Integral de caminho. Vamos primeiro definir a noção de caminho e de curva. Definição 5.3. Uma função contínua γ : [a, b] → C diz-se um caminho, e a sua imagem γ([a, b]) diz-se uma curva. Será útil definir a noção de inversa de um caminho: dado γ : [a, b] → C um caminho, define-se o seu inverso, −γ, por (−γ)(t) = γ(a + b − t), ∀t ∈ [a, b]. Vamos então definir a noção de integral de linha (ou de caminho) de uma função complexa de variável complexa. Definição 5.4. Seja f : A ⊂ C → C contínua e γ : [a, b] → C um caminho de classe C 1 com imagem contida em A. Define-se Z Z Z b f= f (z) dz := f (γ(t))γ 0 (t) dt. γ γ a Exemplo 5.5. Calcule-se γ Re(z) dz com γ : [0, 1] → C dado por γ(t) = t(1 + i). Tem-se γ 0 (t) = 1 + i, donde Z Z 1 Z 1 1+i Re(z) dz = Re(t(1 + i))(1 + i) dt = t + ti dt = . 2 γ 0 0 R Analisemos de forma mais explícita a definição de integral: se f = u + iv e γ(t) = x(t) + iy(t) então Z Z b f = (u(γ(t)) + iv(γ(t))) (x0 (t) + iy 0 (t)) dt γ a Z = b (u(γ(t))x0 (t) − v(γ(t))y 0 (t)) dt + i Z a b (v(γ(t))x0 (t) + u(γ(t))y 0 (t)) dt. a Em notação abreviada mas sugestiva, f (z) dz = (u + iv)(dx + idy) = (udx − vdy) + i(vdx + udy). 7Observe-se que Re(z), Im (z) ≤ |z| para todo o z ∈ C [porquê?] Página 13 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Esta notação põe em evidência o facto de a definição anterior se referir simplesmente aos integrais de caminho usuais dos dois campos vectoriais G, H : R2 → R2 , Z Z Z f= G + i H, G = (u, −v), H = (v, u). γ γ γ Em particular, como é sabido, o integral é independente da parametrização do caminho. Além disso, a definição de integral de caminho estende-se naturalmente a aplicações contínuas γ : [a, b] → C que sejam seccionalmente de classe C 1 , decompondo o integral em subintervalos de [a, b] nos quais, por hipótese, γ é de classe C 1 . Observação 5.6. Esta noção de integral generaliza a noção de integral de uma função real de variável real. De facto, se f : A ⊆ C → R é uma função contínua, e se existir um intervalo [a, b] tal que [a, b] ∼ {x + i0 : x ∈ [a, b]} ⊆ A, então γ(t) = t, t ∈ [a, b] é um caminho que percorre a curva unindo a + i0 a b + i0. Como γ 0 (t) = 1, vem Z b Z Z b f (t) dt. f (t)1 dt = f= a γ a Propriedades do Integral de linha: Dadas f, g : A ⊆ C → C contínuas, e γ, γ1 , γ2 caminhos em A, tem-se R R R a): γ (c1 f + c2 g) = c1 γ f + c2 γ g R R b): −γ f = − γ f R R R c): γ1 +γ2 f = γ1 f + γ2 f , onde γ1 + γ2 representa (em linguagem pouco rigorosa) o caminho que resulta de percorrer primeiro γ1 e depois γ2 . Z Teorema 5.7 (Limitação do integral.). Tem-se | f | ≤ `(γ) max |f |, onde `(γ) é o comprimento de γ([a,b]) γ Z b arco de γ, `(γ) := |γ 0 (t)| dt. a Demonstração. Usando o lema 5.2, Z Z b Z 0 | f| ≤ |f (γ(t))| |γ (t)| dt ≤ max |f | γ γ([a,b]) a b |γ 0 (t)| dt. a Teorema 5.8. (Cálculo do integral por meio de uma primitiva) Suponha-se que f : A ⊆ C → C é a derivada de uma função holomorfa F , isto é f = F 0 em A, e que o caminho γ une um ponto z1 a um ponto z2 em A. Então Z f = F (z2 ) − F (z1 ). γ Em particular se f = F 0 e se o caminho for fechado (isto é, z2 = z1 ) então o integral de caminho é nulo. Demonstração. Pela hipótese, Z Z b Z f= f (γ(t))γ 0 (t) dt = γ a a b F 0 (γ(t))γ 0 (t) dt = Z a b d F (γ(t)) dt = F (γ(b)) − F (γ(a)). dt Exemplo 5.9. Designe Sr a circunferência de raio r > 0 centrada na origem, percorrida uma única vez no 1−n sentido anti-horário. Para n ∈ Z, n 6= 1, tem-se z1n = ( z1−n )0 numa vizinhança de Sr (na verdade, em C \ {0}), e o teorema anterior implica Z 1 dz = 0, ∀n ∈ Z, n 6= 1 n z Sr Página 14 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Exemplo 5.10. Analisemos o caso n = 1. Usando a parametrização θ → reiθ de Sr (0 ≤ θ < 2π), por R 2π iθ R definição tem-se Sr z1 dz = 0 rie dθ, donde reiθ Z 1 dz = 2πi. z Sr [Porque é que esta conclusão não contradiz o facto de que 1 z = (log z)0 ?] Suponha-se agora que Sr é percorrida k vezes no sentido anti-horário, ou seja, que o caminho é parametrizado por θ → reiθ , 0 ≤ θ < 2kπ; tal como acima, o integral de caminho vem dado por 2kπi. Se Sr é percorrida k vezes no sentido horário, o integral dá −2kπi [porquê?]. Em conclusão, o número inteiro Z 1 1 dz (γ caminho fechado em Sr ) 2πi γ z dá o número de vezes que o caminho “gira em torno da origem”; este número será positivo sse o número de voltas no sentido anti-horário for superior ao número de voltas dadas no sentido horário. Idêntica conclusão R 1 1 dz. vale para 2πi |z−z0 |=r z−z0 Por fim, observe-se que Z 1 dz = 0, ∀z0 6= 0, 0 < r < |z0 |. Sr z − z0 1 = F 0 (z) com F (z) = log(z − z0 ), e, visto que r < |z0 |, é possível encontrar Com efeito, neste caso z−z 0 um ramo do logaritmo de tal modo que F seja analítica numa vizinhança de Sr . Definição 5.11. De um modo geral, se γ : [a, b] → C é uma qualquer curva fechada (de classe C 1 ) não passando por z0 , define-se o índice (ou: número de giro) de γ relativamente a z0 como: Z 1 1 I(γ, z0 ) := dz. 2πi γ z − z0 Esta quantidade é sempre um número inteiro (que traduz, intuitivamente, o “número de vezes que γ gira em torno de z0 ”). Rt Para justificar que o índice é sempre um inteiro, tome-se θ(t) := a γ 0 (s)/(γ(s) − z0 ) ds. Tem-se θ0 (t) = γ 0 (t)/(γ(t) − z0 ), donde e−θ(t) (γ(t) − z0 ) é constante no intervalo [a, b] (a derivada é identicamente nula). Então e−θ(b) (γ(b) − z0 ) = e−θ(a) (γ(a) − z0 ); como γ(a) = γ(b) e θ(a) = 0, conclui-se e−θ(b) = 1, donde θ(b) = 2kπi para algum k ∈ Z, como se pretendia. 5.3. Teorema de Cauchy. Introduzimos os dois conceitos seguintes. Definição 5.12. Dois caminhos fechados γ0 , γ1 : [a, b] → A ⊂ C (A aberto) dizem-se homotópicos em A se existir uma homotopia H unindo γ0 a γ1 sem sair de A; isto é, se existir uma aplicação contínua H = H(s, t) : [0, 1] × [a, b] → A satisfazendo: (i) H(0, ·) = γ0 ; (ii) H(1, ·) = γ1 ; (iii) H(s, ·) é um caminho fechado, ∀s ∈ [0, 1]. Um aberto A ⊂ C conexo diz-se simplesmente conexo 8 se qualquer caminho fechado γ0 : [a, b] → A é homotópico em A a um caminho constante γ1 (t) ≡ z1 . Teorema 5.13 (Invariância por homotopia). Seja f holomorfa num aberto A ⊂ C e γ0 , γ1 : [a, b] → A caminhos fechados. Se os caminhos são homotópicos em A então Z Z f= f. γ0 γ1 Demonstração. [Apenas uma ideia do argumento.] Comece-se por recordar o Teorema de Green para campos vectoriais: 8“Sem buracos”, de forma não rigorosa. Página 15 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Se γ é um caminho fechado simples, C é o seu interior, γ está orientada positivamente 9 e (P (x, y), Q(x, y)) é um campo vectorial, então Z ZZ ∂Q ∂P P (x, y)dx + Q(x, y) dy = (x, y) − (x, y) dx dy. ∂x ∂y γ C e a parte de R2 entre γ0 e γ1 , e que estas curvas simples não se intersectam. Suponhamos para Seja C e γ0 não está orientada positivamente, mas γ1 está orientada positivamente. fixar ideias que, em relação a C, Percorra-se γ0 no sentido oposto ao dado e γ1 no sentido dado, passando de um para o outro por um terceiro caminho γ2 (não fechado) que une o ponto final de γ0 ao ponto inicial de γ1 . O caminho γ = −γ0 + γ2 + γ1 + (−γ2 ) que resulta desta composição de caminhos é fechado, e f é holomorfa na “parte interna” C deste caminho. Pelo teorema de Green aplicado aos campos vectoriais G = (u, −v) e H = (v, u), R R R f = γ u dx − v dy + i γ v dx + u dy γ RR RR ∂v ∂v − ∂u dx dy + i C ∂u dx dy = 0, = C − ∂x ∂y ∂x − ∂y pelas equações de Cauchy-Riemann. Então Z Z f+ −γ0 donde R γ0 f= R γ1 Z f+ γ2 Z f+ f = 0, −γ2 γ1 f. Observação 5.14. 1. Este teorema “explica´´ a razão pela qual o integral Sr z1 dz é independente de r (como se constatou acima). Com efeito, se 0 < r < r0 , a função 1/z é holomorfa no aberto A = {z : R R r/2 < |z| < 2r0 } e as circunferências Sr e Sr0 são homotópicas em A, donde Sr z1 dz = S 0 z1 dz. Uma r possível homotopia entre Sr e Sr0 é H(s, θ) = ((1 − t)r + tr0 )eiθ . 2. Este teorema também explica a definição e interpretação intuitiva de índice de uma curva em geral. [porquê?] R Corolário 5.15 (Teorema de Cauchy). Seja f uma função holomorfa num simplesmente conexo A e γ um caminho fechado com imagem em A. Então Z f = 0. γ Demonstração. É suficiente observar que se γ(t) ≡ z1 então γ 0 (t) = 0 e R γ f = 0. Corolário 5.16 (Invariância do caminho). Seja f uma função holomorfa num simplesmente conexo A e γ1 , γ2 dois caminhos em A, em que ambos partem de um mesmo ponto inicial z0 , e terminam num mesmo ponto z1 . Então Z Z f. f= γ1 γ2 Demonstração. Consideremos o caminho γ = γ1 + (−γ2 ), isto é, primeiro percorremos γ1 e de seguida γ2 no sentido inverso. Obtemos desta forma um caminho fechado γ, e portanto Z Z Z Z Z 0= f= f+ f= f− f. γ γ1 −γ2 γ1 γ2 Corolário 5.17 (Existência de primitivas). Seja f uma função holomorfa num simplesmente conexo A. Então existe uma função holomorfa F (única, a menos de constante aditiva) tal que F 0 = f . Rz Demonstração. Fixe-se z0 ∈ A e defina-se explicitamente F por F (z) := z0 f , onde neste integral se pode usar um qualquer caminho γ0 unindo z0 a z (pelo corolário anterior). O facto de se ter F 0 (z) = f (z) resulta da observação de que, para w perto de z, podemos usar um segmento de recta para ir de z a w 9Isto é, deixa C do lado esquerdo. Página 16 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Rz Rw Rz (γ(t) = tw + (1 − t)z, t ∈ [0, 1]), e de que, novamente pelo teorema de Cauchy, z0 f + z f + w0 f = 0; consequentemente, Z w Z w F (w) − F (z) 1 1 f (ξ) dξ − f (z) = (f (ξ) − f (z)) dξ. − f (z) = w−z w−z z w−z z O segmento de recta tem comprimento de arco |w − z|. Então, dado δ > 0, pela continuidade de f no ponto z e pela desigualdade da limitação do integral, tem-se, para |w − z| < ε suficientemente pequeno, | Ou seja, limw→z F (w)−F (z) w−z F (w) − F (z) 1 − f (z)| ≤ δ |w − z| = δ. w−z |w − z| = f (z). Teorema 5.18 (Fórmula integral de Cauchy). Seja f uma função holomorfa num simplesmente conexo A, γ um caminho fechado com imagem em A, e z0 um ponto de A que não está no caminho γ. Então Z Z f (z) 1 dz = f (z0 ) dz. z − z z − z0 0 γ γ Demonstração. Seja g : A → C definida por g(z) = (f (z) − f (z0 ))/(z − z0 ) se z 6= z0 e g(z0 ) = f 0 (z0 ). A função g é holomorfa excepto possivelmente no ponto z0 , no qual, no entanto, é contínua. Aplicando o teorema de Cauchy (numa versão, portanto, mais geral do que a enunciada atrás) à função g, Z Z Z Z Z f (z) f (z0 ) f (z) 1 0= g(z) dz = dz − dz = dz − f (z0 ) dz, z − z z − z z − z z − z0 0 0 0 γ γ γ γ γ como se pretendia. Exemplo 5.19. Na circunferência unitária centrada na origem (percorrida uma única vez, no sentido antiR R horário), γ ez /z dz = e0 γ 1/z dz = 2πi. Observação 5.20. A fórmula anterior surge frequentemente escrita na forma (equivalente) seguinte, na qual se destaca o número de giro I(γ, z0 ): nas condições do teorema anterior, Z f (z) 1 dz = I(γ, z0 ) f (z0 ). 2πi γ z − z0 Se, em particular, γ é uma circunferência de raio R > 0 centrada em z0 percorrida uma única vez no sentido anti-horário, então Z 1 f (z) (9) f (z0 ) = dz. 2πi γ z − z0 A fórmula integral de Cauchy tem inúmeras consequências. Mencione-se aqui o seguinte resultado notável, no qual se deriva a identidade de Cauchy “sob o sinal de integração”. Teorema 5.21. [Fórmula integral de Cauchy para as derivadas.] Seja f uma função holomorfa num aberto A. Então f admite derivadas de todas as ordens em A. Além disso, se γ é uma circunferência de raio R centrada num ponto z0 (percorrida uma única vez, no sentido anti-horário), cujo círculo está contido em A, então Z f (z) k! dz, ∀k ∈ N. f (k) (z0 ) = 2πi γ (z − z0 )k+1 5.4. Teorema fundamental da álgebra. Vejamos algumas consequências fortíssimas (e, de certo modo, surpreendentes) da Fórmula integral de Cauchy para as derivadas. Teorema 5.22 (Liouville). Seja f holomorfa em C, e suponhamos que existe M > 0 tal que |f (z)| ≤ M para todo o z ∈ C. Então f é constante! Página 17 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Demonstração. Dado z0 ∈ C, seja γ uma circunferência centrada em z0 e raio R, percorrida uma única vez no sentido antihorário. Então Z k! f (z) 0 |f (z0 )| = dz 2 2πi γ (z − z0 ) Z k! |f (z)| dz ≤ 2π γ |z − z0 |2 k! M k!M l(γ) = . 2π R2 R Isto é válido para qualquer raio R, portanto fazendo R → ∞, temos |f 0 (z0 )| = 0 (∀z0 ∈ C). ≤ Teorema 5.23 (Teorema fundamental da álgebra). Sejam a0 , a1 , . . . , an−1 ∈ C. Então o polinómio p(z) = a0 + a1 z + . . . + an−1 z n−1 + z n , n ∈ N, admite exactamente n raízes complexas em C. Demonstração. Suponhamos que p não se anula em C. Então a função f (z) = 1/p(z) é holomorfa em C. Vejamos que lim|z|→+∞ |p(z)| = +∞. De facto, |p(z)| ≥ |z|n − |an−1 ||z|n−1 − . . . − |a1 ||z| − |a0 | a0 |a1 | |an−1 | − . . . − n−1 − n → +∞. = |z|n 1 − |z| |z| |z| Logo f (z) é limitada, donde é constante, e portanto p também é constante, o que é uma contradição. Em conclusão, o polinómio p admite pelo menos um zero em C, digamos p(z0 ) = 0. Aplicando esta conclusão ao novo polinómio (de grau n − 1) p(z)/(z − z0 ) e baixando sucessivamente o grau de p, obtém-se a conclusão do teorema. 6. F UNÇÕES ANALÍTICAS . Com o objectivo de apresentarmos o conceito de série de potências, apresentamos alguns conceitos preliminares. Como se pode verificar, o formalismo é idêntico ao usado em R. Definição 6.1. Uma sucessão (zn )n converge para z ∈ C se |zn − z| → 0 quando n → ∞. Nessa altura, escrevemos lim zn = z. n Um critério útil para verificar a convergência de uma série de números complexos é o seguinte: Se zn = xn + iyn ∈ C e z = x + iy ∈ C, então zn → z xn → x e yn → y. sse Exemplo 6.2. zn = 1 + in 1 n = +i → 0 + i = i. n+1 n+1 n+1 Definição 6.3. Uma série de números complexos ∞ X zn diz-se convergente para S, e escreve-se n=0 S= ∞ X zn , n=0 se a sucessão das somas parciais ( Pm n=0 zn )m converge para S. Se não convergir, a série diz-se divergente. ∞ X Além disso, a série diz-se absolutamente convergente se a série de números positivos |zn | convergir. n=0 Definição 6.4. Seja z0 ∈ C. Designa-se por série de potências de (z − z0 ) uma série da forma ∞ X an (z − z0 )n = a0 + a1 (z − z0 ) + . . . + an (z − z0 )n + . . . , n=0 onde z ∈ C é uma variável complexa, e an ∈ C são constantes (chamados os coeficientes da série). Página 18 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa P∞ Observe-se que uma série de potências é um caso muito particular de uma série de funções n=0 fn (z). Para cada z ∈ C fixado, obtemos uma série numérica, que pode ser convergente ou divergente. P∞ Exemplo 6.5. Considere-se a série de potências (com z0 = 0) n=0 z n . Tal como no caso real, tem-se m X zn = n=0 1 − z m+1 . 1−z Então se |z| < 1, a série converge e ∞ X zn = n=0 1 , 1−z e se |z| ≥ 1 a série diverge. [porquê?] Em geral, dada uma série de potências, há um critério muito simples para determinar a zona de C onde esta converge e diverge. P∞ 10 1 (ou r = Teorema 6.6. Dada uma série de potências n=0 an (z − z0 )n , existe r := lim sup √ n |an | lim |an /an+1 |, desde que o limite exista) tal que (i) a série de potências converge absolutamente para |z − z0 | < r, isto é z ∈ Br (z0 ). (ii) a série diverge para |z − z0 | > r Exemplo 6.7. Na série ∞ X z n tem-se an = 1 ∀n, logo r = 1, o que coincide com o resultado já n=0 demonstrado anteriormente. P∞ n!(z − 1)n , o raio de convergência é an n! 1 = lim r = lim = lim = 0. an+1 (n + 1)! n+1 Exemplo 6.8. No caso da série n=0 Então a série converge apenas para z = 1 (com soma igual a 1), e diverge nos outros pontos. Interessa-nos de seguida estudar a diferenciabilidade de uma série de potências, bem como a relação destes conceitos com o que foi visto nos outros capítulos. Primeiro, uma definição. Definição 6.9. f (z) diz-se uma função analítica em z0 se existe r > 0 tal que numa bola Br (z0 ), f (z) é P∞ representada por uma série de potências, f (z) = n=0 an (z − z0 )n . Diz-se analítica num aberto A se for analítica em z0 , para todo o z0 ∈ A. P∞ n Teorema 6.10 (Derivação de uma série de potências). Suponhamos que f (z) = n=0 cn (z − z0 ) converge para z tal que |z − z0 | < r. Então f é diferenciável para |z − z0 | < r e, nesse conjunto, 0 f (z) = ∞ X ncn (z − z0 )n−1 . n=1 Observação 6.11. Raciocinando por indução, é simples ver que se f for analítica em z0 então admite derivada de qualquer ordem, e f (k) (z) = ∞ X n=k Corolário 6.12. Se f (z) = positivo, então n! cn (z − z0 )n−k , (n − k)! P∞ n=0 cn (z cn = ∀k ∈ N, |z − z0 | < r. − z0 )n é tal que o seu raio de convergência r é (estritamente) f (n) (z0 ) n! para todo o n. (n) P∞ Ou seja, por outras palavras, se f (z) é analítica, então f (z) = n=0 f n!(z0 ) (z − z0 )n . P∞ n! Demonstração. Observe-se que, como f (k) (z) = n=k (n−k)! cn (z−z0 )n−k , então f (k) (z0 ) = k!ck . 10Este número é designado por raio de convergência. Página 19 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Vimos então que toda a função analítica é holomorfa. O facto espantoso é que estas noções, em C, são equivalentes! Teorema 6.13 (Teorema de Taylor). Seja f uma função holomorfa em A. Seja z0 ∈ A e Br (z0 ) a maior bola contida em A (0 < r ≤ ∞). Então ! Z ∞ ∞ X f (n) (z0 ) 1 X f (z) n f (z) = (z − z0 ) = (z − z0 )n , ∀z ∈ Br (z0 ), n+1 n! 2πi (z − z ) 0 |z−z |=ρ 0 n=0 n=0 onde 0 < ρ < r e a circunferência |z − z0 | = ρ é percorrida uma única vez no sentido anti-horário. Em particular f é holomorfa em A se e só se é analítica em A. Observação 6.14. Em R, uma função pode ser de classe C ∞ e não ser analítica: um exemplo famoso é o da função ( e−1/x , x > 0 f (x) = 0, x≤0 Como f (n) (0) = 0 para todo o n ∈ N0 , não poderemos ter f (x) = ∞ X f (n) (0) n x n! n=0 numa vizinhança de 0. [porquê?] Exemplo 6.15. 1. Já se viu que ∞ X 1 = zn 1 − z n=0 para |z| < 1. 1 Isto é coerente com o facto de 1−z ser holomorfa em C \ {1}, e de B1 (0) ser a maior bola centrada na origem onde a função é holomorfa. 2. A função ez é holomorfa em C, logo será representada por uma série de potências em todo o C. Como f (n) (z0 ) = ez0 para todo o n, então dado z0 ∈ C, tem-se ez = ∞ X ez0 (z − z0 )n . n! n=0 3. A partir das fórmulas sin z = eiz − e−iz , 2i cos z = eiz + e−iz , 2 pode deduzir-se que sin z = ∞ X (−1)n 2n+1 z , (2n + 1)! n=0 cos z = ∞ X (−1)n 2n z . (2n)! n=0 7. O TEOREMA DOS RESÍDUOS Definição 7.1. Seja f holomorfa em {z ∈ C : 0 < |z − a| ≤ }. Definimos resíduo de f em a como sendo o número complexo Z 1 Res (f, a) = f (z) dz, 2iπ γ onde γ é uma circunferência em torno de a percorrida uma vez no sentido directo e com raio menor que . Note-se que se f holomorfa em Ω, então Res (f, a) = 0 para qualquer a. O teorema de Cauchy garante que, dada f holomorfa em Ω à excepção dos pontos z1 , ..., zk e dada γ uma curva simples fechada positivamente orientada contendo no seu interior z1 , ..., zk , então Z k X X 1 f (z) dz = Res (f, zi ) = Res (f, z). (10) 2iπ γ i=1 z∈Ω O que acabámos de enunciar é conhecido por Teorema dos Resíduos. Página 20 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Figura 7.2. Teorema dos resíduos. Esboço da demonstração. Suponhamos que temos f holomorfa em Ω \ {z1 , z2 }. Então, se considerarmos R uma pequena circunferência c que não contenha nenhum dos pontos zi , c f dz = 0 (Figura 7.3). Mas, agora, podemos deformar c conforme sugerido nas Figuras 7.4 a 7.6. Passando ao limite (Figura 7.7), vemos que os segmentos de recta l1 e l2 coincidem, mas são percorridos em sentidos opostos, pelo que o integral de f nestes segmentos se anula. Da mesma forma para os segmentos l3 e l4 . Em particular, Z Z Z Z Z Z Z Z Z 0 = f dz = f dz + f dz + f dz ⇒ f dz = − f dz − f dz = f dz + f dz c γ γ̃1 γ̃2 γ γ̃1 γ̃2 Figura 7.3. Figura 7.4. Figura 7.5. Figura 7.6. Figura 7.7. Figura 7.8. γ1 γ2 Exemplo 7.9. Suponhamos que queremos determinar Z z dz, (z − 1)(z − 2)2 γ onde γ é a circunferência de centro na origem e raio 3. Então, se considerarmos γ uma pequena circunferência centrada em 1 e γ2 uma pequena circunferência centrada em 2, R R R 1 1 1 f (z) dz 2iπ γ f (z) dz = Res(f, 1) + Res(f, 2) = 2iπ γ1 f (z) dz + 2iπ γ2 0 z z R R 2 (z−2) 1 1 1 z z−1 = 2iπ dz + dz = + |z=2 = 1 + (−1) = 0, 2 2 2iπ γ2 (z−2) (1−2) z−1 γ1 z−1 onde utilizámos o Teorema 5.21 para o cálculo de cada uma parcelas acima. 7.1. Aplicação: Integrais impróprios em R. Comecemos por verificar como podemos utilizar o teorema dos resíduos para calcular integrais impróprios em R. Começamos por analisar o seguinte exemplo clássico. Página 21 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Exemplo 7.10. Suponhamos que queremos calcular o integral impróprio real Z +∞ Z R 1 1 dx = lim dx 2 R→∞ −R 1 + x2 −∞ 1 + x Em vez de isso, comecemos por calcular o integral Z 1 dz, 1 + z2 γ onde γ é a curva da Figura 7.11. Figura 7.11. Integral impróprio. Como estamos interessados no limite quando R → ∞, podemos desde já assumir que R > 1. Como no 1 interior da região definida por γ a nossa função f (z) = 1+z 2 é holomorfa à excepção do ponto i, sai que Z 1 1 dz = 2πiRes(f, i) = 2πi = π. 2 1 + z 2i γ Por outro lado, γ pode ser decomposta em γ1 e γ2 , sendo que o integral sobre γ1 é precisamente o integral real entre −R e R cujo limite procuramos. Mas, sobre, γ2 , 1 1 ≤ |f (z)| ≤ 2 2iθ 2 1+R e R −1 e, como tal, Z γ2 f (z) dz ≤ max |f (z)|.comprimento de (γ2 ) ≤ z∈γ πR →0 −1 r2 Logo, Z lim R→∞ f (z) dz = π γ1 e conseguimos desta forma determinar o nosso integral inicial. Mais geralmente, podemos escrever que Proposição 7.12. Seja f (x) = anula em R. Então, P (x) Q(x) uma função racional tal que deg Q ≥ deg P + 2 e Q(x) nunca se Z +∞ 1 f (x) dx 2iπ −∞ é igual à soma dos resíduos de f (z) no semiplano superior {z = x + iy ∈ C : y > 0}. 7.2. Aplicação: a transformada inversa de Laplace. Recorde que, para uma função real “suficientemente bem comportada”, Z +∞ F (s) = L(f )(s) = e−st f (t) dt 0 O nosso objectivo é ver como podemos recuperar a função original f (t) conhecendo a sua transformada de Laplace F (s). Comecemos por notar que podemos considerar s uma variável complexa, continuando o integral acima a ter sentido, mas dando-nos agora uma função F (s) com s em C. Suponhamos então que Página 22 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa esta função de variável complexa F é holomorfa à direita de uma recta vertical x = a. Então, pela equação (9), sabemos que podemos escrever F (s) = 1 2πi Z γ F (z) dz, z−s onde γ é a curva da Figura 7.13. Figura 7.13. Curva γ. Como F é analítica em γ2 , sabemos que é limitada em γ2 , por uma constante que depende de b, M (b). Além disso, como F é a transformada de Laplace de f , M (b) → 0 quando b → ∞ (verifique). Logo, Z 1 2πi γ2 F (z) 1 F (z) .comprimento de (γ2 ) ≤ 1 M.|s − b|2π dz ≤ max z−s 2π z∈γ2 z − s 2π min |z − s| z∈γ2 Mas |z − s| = |z − a − (s − a| ≥ |z − a| − |s − a| ≥ b − |z − a|, pelo que 1 M.|s − b|2π M |s − b| ≤ → 0, 2π min |z − s| b − |z − a| quando b → +∞. z∈γ2 Logo, Z a−i∞ F (s) = a+i∞ F (z) dz = z−s Z a+i∞ a−i∞ F (z) dz. s−z Em particular, L−1 (F (s))(t) = = R 1 −1 a+i∞ F (z) dz 2πi L a−i∞ s−z R a+i∞ 1 zt 2πi a−i∞ F (z)e dz. 1 2πi = R a+i∞ a−i∞ 1 F (z)L−1 s−z dz R a+i∞ 1 Mas, agora, para calcularmos 2πi F (z)ezt dz, vamos mais uma vez recorrer ao teorema dos a−i∞ resíduos, de acordo com a Figura 7.14. Se assumirmos que |F (z)| ≤ RMk para algum k > 0, então R F (z)etz dz → 0 quando R → ∞ e, em particular, sai que γ2 L−1 (F (s))(t) = (11) = 1 2πi X Z a+i∞ F (z)etz dz = a−i∞ 1 2πi Z Res (F (z)etz ). z∈C Página 23 de 31. γ1 F (z)etz dz = 1 lim 2πi Z γ F (z)etz dz Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Figura 7.14. Curva γ. Página 24 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Complementos de Análise FCUL, Mestrado em Matemática Aplicada à Economia e Gestão, 2014/2015 Exercícios Análise Complexa 1. Escreva na forma polar os seguintes números complexos: √ (a) 2 + i2 3; (b) 2+i4 3−i ; 5 (c) i + i20 ; (d) (1 + i)4 ; 2 (e) cos 12 + i sin 12 . 2. Determine o conjugado de 5(2+i3)3 2+i . 3. Seja p(z) = a0 +a1 z+. . .+an−1 z n−1 +an z n um polinómio com coeficientes reais, isto é, a0 , . . . , an ∈ R. Mostre que se z ∈ C é uma raíz do polinómio (p(z) = 0), então o seu conjugado z̄ também o é. 4. Verdadeiro ou falso? (a) “Re(zw) = Re z Re w, ∀z, w ∈ C”. (b) “zw = 0 ⇒ z = 0 ou w = 0”. 5. Descreva o conjunto Im (z + 5) = 0. 6. A aplicação z → z 3 transforma o segundo quadrante em que conjunto? √ 7. Considerando o ramo principal do logaritmo, a aplicação z → z transforma o conjunto {z ∈ Z : Re(z) > 0} em que conjunto? 8. A aplicação z → 1/z transforma o complementar do círculo unitário em que conjunto? E uma recta arg z = α (α fixo)? 9. Mostre que se |z| = 1 ou |w| = 1 então |z − w| = |1 − z̄w|. 10. Resolva: (a) z 4 + i = 0; (b) z 3 = i; (c) z 2 = 1 − i; (d) z 2 = 3 − 4i. 11. Calcule os zeros das funções sin z e cos z. 12. Verdadeiro ou falso?: “| sin z| ≤ 1, ∀z ∈ C”. 13. Calcular todos os valores de log(1 + i). 14. Calcule, usando quando necessário o ramo principal do logaritmo: (a) log(2i); (b) 4i ; (c) (1 + i)i ; (d) cos i. √ √ 15. Designando por z → z o ramo particular da raíz quadrada dado por reiθ = r1/2 eiθ/2 , 0 ≤ θ < 2π, √ para quais z ∈ C se tem z 2 = z ? 16. Verdadeiro ou falso?: (a) |ab | = |a||b| , ∀a, b ∈ C \ {0}; (b) |ab | = |a|b , ∀a ∈ C \ {0}, b ∈ R; √ √ √ (c) −3 · −2 = 6. Página 25 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE 17. A aplicação f (z) = |z|2 é holomorfa em C ? Tem derivada em algum ponto? 18. Determine as regiões onde as seguintes funções são diferenciáveis. f (z) = f (x + iy) = ey (cos x + i sin x), g(z) = g(x + iy) = x2 y + ixy 2 . 19. Diga se existe a ∈ R tal que a função f (x + iy) = ax2 + 2xy + i(x2 − y 2 − 2xy) é holomorfa em C. 20. Determine regiões de holomorfia, bem como a derivada, das funções (use quando necessário o argumento mínimo do logaritmo): 2 a) 2z ; z b) z 2z c) sin √ z; d) p z 3 − 1. 21. Determine todas as constantes a, b ∈ R tais que a função f (x + iy) = ax2 + 2xy + by 2 + i(y 2 − x2 ). é holomorfa em C. 22. Mostre que, se f = u + iv é holomorfa e u, v ∈ C 2 , então ∂2u ∂2u + 2 = 0, ∂x2 ∂y ∂2v ∂2v + = 0. ∂x2 ∂y 2 (nota: tais funções dizem-se harmónicas) R R 23. Verdadeiro ou falso?: “Re γ f dz = γ Ref dz”. 24. Calcular os seguintes integrais de caminho: R (a) γ y dz, onde γ é a união dos segmentos de recta unindo 0 a i e depois i a i + 2. R (b) γ y dz, onde γ é o segmento de recta unindo 0 a i + 2. R (c) γ sin(2z) dz, onde γ é o segmento de recta unindo i + 1 a −i. R 2 (d) γ zez dz, onde γ é a circunferência unitária centrada em 0. R 2 (e) γ z dz, onde γ é o arco que une z0 = −1 + i a z1 = 1 + i ao longo da curva de equação y = x2 . 25. Z Mostre que (γ designa a circunferência unitária): sin z (a) dz ≤ 2πe 2 Zγ z dz (b) ≤ 2π. 2 + z2 γ 26. Calcule os seguintes integrais (por defeito, o sentido é o anti-horário e as circunferências unitárias estão centradas na origem): R (a) γ (z 3 + 3) dz; γ é a semi-circunferência unitária superior; R (b) γ (z 3 + 3) dz; γ é a circunferência unitária; R (c) γ e1/z dz; γ é a circunferência de raio 3 centrada em 5i + 2; R (d) γ 1/z 2 dz; γ é a circunferência unitária; R (e) γ (z − z1 ) dz; γ é um segmento de recta unindo 1 a i; R √ (f) γ z dz; γ é a semi-circunferência unitária superior; R √ (g) γ z 2 − 1 dz; γ é a circunferência de raio 1/2 centrada em 0; R z (h) γ ez dz; γ(t) = 2 + eit , 0 ≤ t ≤ 2π; R 2 1 (i) γ ( z−2 + z−4 ) dz; γ é a circunferência de raio 3 centrada em 0; R 1 (j) γ z2 −1 dz; γ é a circunferência de raio 1 centrada em 1; R z2 dz; γ é a circunferência de raio 2 centrada em 0; (k) γ z−1 R 1 (l) γ z2 (z2 +16) dz; γ é a circunferência de raio 2 centrada em 0; Página 26 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa R z (m) γ ze4 dz; γ é a circunferência unitária; R 2 (n) γ zz2 −1 +1 dz; γ é a circunferência de raio 2 centrada em 0. 27. Designando por γ1 a circunferência de raio 1 e por γ2 a circunferência de raio 2 (centradas na origem e percorridas no sentido anti-horário), justifique que Z Z dz dz = . 3 2 3 2 γ1 z (z + 10) γ2 z (z + 10) 28. Dados complexos a 6= b, para que elipses γ (percorridas uma única vez, no sentido anti-horário) se R dz tem γ (z−a)(z−b) =0? 29. Determine o raio de convergência das seguintes séries de potências. n P∞ n P∞ P∞ (a) n=1 zn3 (b) n=0 (z−i) (c) n=1 nn!n z n 2n P∞ n 1 = 30. Recordando que 1−z n=0 z para |z| < 1, indique o desenvolvimento em série (e onde esta converge) das funções 1 1 e (1 − z)2 (1 − z)3 31. Calcule o desenvolvimento em série das funções sin z e cos z em torno do ponto 0, indicando o respectivo domínio de convergência. 32. Indique o desenvolvimento em série de potências (em torno de 0) das seguintes funções: 1 (a) 1+z ; 1 (b) 1−z 2; 2 (c) z4z+4 ; 1 (d) (2−z) 3; 3 2z (e) z e . P∞ 33. Considere a série de potências n=0 an (z − z0 )n , z0 ∈ C, com raio de convergência r > 0. Mostre que as séries P∞ √ P∞ an n (b) n=0 nan (z − z0 )n (a) n=0 (n+2) 2 (z − z0 ) apresentam o mesmo raio de convergência. 34. Desenvolva em série de Taylor, em torno do ponto z0 = 1, as funções (a) ez , (b) z1 . 35. Seja γ a circunferência unitária centrada na origem. R R (a) (Re)Demonstre que γ z n dz = 0 para qualquer z 6= −1 e que, no caso em que n = −1, γ z n dz = 2πi P+∞ (b) Mostre que, se f (z) = n=−∞ an z n , então Res (f, 0) = a−1 . 36. Utilizando o teorema dos resíduos, calcule R 2 (a) γ zz2 −1 +1 dz, onde γ é a circunferência de raio 2 centrada em 0 (compare com a alínea (n) do Problema 33) R sin z (b) γ z2 −3z+2 dz, onde γ é a circunferência de raio 4 centrada na origem. 37. Utilizando a Proposição 7.12, calcule R +∞ (a) −∞ xx+2 dx; 4 R +∞ +1 1 (b) −∞ (x2 +4)2 dx; 38. Utilizando (11), determine L−1 F (s) (t), onde 1 (a) F (s) = s−a ; 1 (b) F (s) = s2 +1 ; (c) F (s) = ss+2 2 +4 . s+2 (d) F (s) = s2 −1 . Página 27 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE 39. Resolva, utilizando transformadas de Laplace, o problema de valores iniciais y 0 − 2y = sin t, y(0) = 1. Página 28 de 31. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa Soluções dos exercícios sobre Análise Complexa π 1. (a) 4ei 3 (b) √ 2ei arctan 7 (c) √ π 2ei 4 (d) 4eiπ (e) ei . 2. z̄ = −83 − 64i 4. (a) Falso (b) Verdadeiro 5. É a recta {z = x + iy ∈ C : y = 0}. 6. Transforma o segundo quadrante nos quadrantes I, II e IV. 7. No conjunto z = reiθ : θ ∈] − π4 , π4 [ . 8. Transforma o complementar do círculo unitário no círculo unitário sem a origem. Além disso, transforma uma semi-recta arg z = α numa semi-recta com arg z = −θ. √ √ 7π 3π 7π 11π 15π π 10. (a) ei 8 , ei 8 , ei 8 , ei 8 i; (b) (feito nos apontamentos teóricos) (c) 4 2e− 8 i , 4 2e 8 i , (d) 2 − i, −2 + i 11. Os zeros do sin z são {kπ : k ∈ Z}; os zeros do cos z são { π2 + kπ : k ∈ Z}. 12. Falso. 1 2 13. log(1 + i) = log 2 + i π 14. (a) log 2 + i π2 (b) e− 4 +i π 4 + 2kπ , k ∈ Z. log 2 2 , (c) 1 2e + e 2 15. Para os z ∈ {reiθ : r > 0, θ ∈ [0, π[}. 16. (a) Falso (b) Verdadeiro (c) Falso (para qualquer ramo do logaritmo) 17. Apenas é diferenciável na origem, e f 0 (0) = 0. 18. f não é diferenciável em nenhum ponto. g é diferenciável em 0, e g 0 (0) = 0. 19. Não existe a ∈ R nas condições pretendidas. 2 20. (a) Holomorfa em C \ {0}, com derivada 2 log 2 2z − derivada (2 log z + 2)z iθ conjunto {z = re 2z 2 ez z2 (b) C \ {z ∈ C : x ≥ 0, y = 0}, com (c) C \ {z ∈ C : x ≥ 0, y = 0}, com derivada : r ≥ 1, θ = 0, 2π 4π 3 , 3 }, com derivada √ cos( z) √ 2 z (d) No complementar do 2 √3z . 2 z 3 −1 21. a = b = 0, e nesse caso f 0 (z) = 2y − 2xi. 23. Falso. 24. (a) 2 + 2i ; (b) 21 (i + 2) (c) cos(2+2i)−cos(2i) 2 (d)0 (e) 23 . 26. (a) −6 (b) 0 (c) 0 (d) 0 (e) −1 − π2 (f) A pergunta está (propositadamente) mal formulada, porque depende do ramo escolhido! Nos ramos em que o conjunto de diferenciabilidade da função integranda contém γ, o resultado pode ser 23 (−1 − i) ou − 23 (−1 − i) (mais uma vez, consoante o ramo escolhido). (g) 0 (h) 0 (i) 4πi (j) πi (k) 2πi (l) 0 (m) πi/3 (n) 0. 28. Para as elipses que não incluam no interior os pontos a e b ou que incluam ambos os pontos. 29. (a) 1 (b) 2 (c) e P∞ P∞ 30. n=1 nz n−1 para |z| < 1; e n=2 n(n−1) z n−2 para |z| < 1. 2 n P∞ P∞ z 2k+1 2n 31. sin z = k=0 (−1)k (2k+1)! e cos z = n=0 (−1) (2n)! z . Página 29 de 31. Análise complexa COMPLEMENTOS DE ANÁLISE √ n P∞ P∞ P∞ 4n+2 para |z| < 2 (d) 32. (a) n=0 (−1)n z n para |z| < 1; (b) n=0 z 2n para |z| < 1 (c) n=1 (−1) 4n+1 z P∞ n(n−1) n−2 P∞ n para |z| < 2 e) n=0 2n! z n+3 em C. n=2 2n+2 z P∞ P∞ e (z − 1)n em C. (b) z1 = n=0 (−1)n (z − 1)n para |z − 1| < 1. 34. (a) ez = n=0 n! 37. Utilizando a Proposição 7.12, calculemos R +∞ (a) −∞ xx+2 4 +1 dx; i(π/4+kπ/2) A função f (z) = zz+2 }k=0,...,3 . Sejam z0 , ..., z3 as singularidades de 4 +1 é holomorfa em C \ {e f , das quais apenas z0 e z1 estão no semiplano superior de C. Pela Proposição 7.12, temos que Z +∞ f (x) dx = 2πi(Res(f, z0 ) + Res(f, z1 )). −∞ Agora, f (z) = z+2 z+2 = z4 + 1 (z − z0 )(z − z1 )(z − z2 )(z − z3 ) e, como tal, Res(f, z0 ) Res(f, z1 ) Logo, Z +∞ f (x) dx = 2πi −∞ = 1 2iπ R = 1 2iπ R γ0 z+2 (z−z1 )(z−z2 )(z−z3 ) z−z0 dz = z0 +2 (z0 −z1 )(z0 −z2 )(z0 −z3 ) , z−z1 dz = z1 +2 (z1 −z0 )(z1 −z2 )(z1 −z3 ) , z+2 (z−z0 )(z−z2 )(z−z3 ) γ1 z0 + 2 z1 + 2 + (z0 − z1 )(z0 − z2 )(z0 − z3 ) (z1 − z0 )(z1 − z2 )(z1 − z3 ) 38. (a) L−1 (F (s))(t) = eat ; (b) L−1 (F (s))(t) = sin(t); (c) L−1 (F (s))(t) = cos(2t) + 2 sin(2t). (d) L−1 (F (s))(t) = −1/2e−t + 3/2et . 39. y(t) = −1/5 cos t − 2/5 sin t + 6/5e2t . Página 30 de 31. √ = π 2. COMPLEMENTOS DE ANÁLISE Análise complexa R EFERÊNCIAS [1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] L. Barreira, Análise complexa e equações diferenciais, IST press, 2009. J. Bak e D. J. Newman, Complex Analysis, Springer, 1997, 2a edição. J. P. Boavida, Episódios de Equações diferenciais, IST, 2014. M. A. Carreira e M. S. Nápoles, Variável Complexa, Teoria Elementar e Exercícios Resolvidos, McGraw Hill, 1997. T. Needham, Visual and complex analysis, Oxford University Press, 1997. M. Ramos, Elementos de análise complexa, Texto de apoio às aulas de Cálculo Diferencial e Integral III (2005). H. Tavares, Notas para a disciplina de Complementos de Análise, do mestrado em matemática aplicada à economia e gestão, FCUL, 2012. Página 31 de 31.