XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 2PDUNHWLQJLQWHUQRJDUDQWLQGRYDQWDJHQVFRPSHWLWLYDVVXVWHQWiYHLV SDUDDVRUJDQL]Do}HV &DUROLQD*R\DWi'LDV8)0*FJG#FHSHDGIDFHXIPJEU /XFLOLR/LQKDUHV3HUGLJmRGH0RUDLV8)0*OOSP#FHSHDGIDFHXIPJEU :HUQHU'XDUWH'DOOD8)0*ZGG#FHSHDGIDFHXIPJEU 5HVXPR2REMHWLYRGHVWHDUWLJRpDQDOLVDUDLPSRUWkQFLDGRPDUNHWLQJLQWHUQRSDUDFULDomR GH YDQWDJHQV FRPSHWLWLYDV VXVWHQWiYHLV SDUD DV HPSUHVDV GHVFUHYHQGR GHWDOKDGDPHQWH RV FRQFHLWRV GH YDQWDJHP FRPSHWLWLYD SODQHMDPHQWR HVWUDWpJLFR H PDUNHWLQJ LQWHUQR (VWH HVWXGR WHP FDUiWHU GHVFULWLYR H WHyULFR H IRL GHVHQYROYLGR D SDUWLU GH XP DSURIXQGDPHQWR ELEOLRJUiILFR VREUH R WHPD GHVFUHYHQGR SULQFLSDOPHQWH FRPR R PDUNHWLQJ LQWHUQR p XPD DERUGDJHP LPSRUWDQWH SDUD DV RUJDQL]Do}HV DWLQJLUHP SRVLo}HV GH PHUFDGR PDLV GHVDILDGRUDV 3DODYUDV&KDYH %DUUHLUDV GH ,PSOHPHQWDomR 0DUNHWLQJ ,QWHUQR 3ODQHMDPHQWR (VWUDWpJLFR ,QWURGXomR As organizações atuais estão inseridas em ambientes de competição intensa, nos quais se deparam com concorrentes cada vez mais capacitados, clientes extremamente exigentes e bem informados, acionistas atentos às performances dos negócios, sem entrar em detalhes ainda sobre pontos como ambiente regulador, políticas de comércio e outros. Neste contexto, a busca por vantagens competitivas sustentáveis é uma constante para as empresas. A vantagem competitiva surge fundamentalmente do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores. De acordo com Kotler (1998), o valor para o cliente é a diferença entre os valores que ganha comprando e usando um produto e os custos para obtêlo. Desta forma, as empresas devem direcionar suas ações para estes dois pilares: elevação do desempenho e redução do custo. O plano é uma forma estruturada de apresentação da estratégia de uma empresa. A única maneira de se alcançar uma vantagem competitiva em uma organização é através da implementação da estratégia desejada e, nesse sentido, o planejamento estratégico é de grande relevância, tendo em vista que possibilita uma estruturação tanto das idéias desejadas quanto da forma de colocá-las em prática. No entanto, muitas organizações não conseguem alcançar os resultados esperados do seu planejamento estratégico. Geralmente, as empresas não apresentam um planejamento estratégico de sucesso devido a dois fatores: seu desenvolvimento e sua execução. Neste sentido, os autores referenciados neste artigo apresentam uma série de barreiras de implementação de um planejamento estratégico e associam a diminuição do efeito prejudicial destas barreiras à adoção da abordagem de marketing interno. A partir de uma extensa pesquisa bibliográfica sobre temas como vantagem competitiva, planejamento estratégico e marketing interno, este artigo se propõe a analisar a importância do marketing interno para criação de vantagens competitivas sustentáveis para as empresas, descrevendo, detalhadamente, os conceitos de cada um dos temas citados acima. O SDSHUestá dividido em quatro grandes partes. A primeira delas é esta introdução, seguida da segunda parte que é o marco teórico, onde são descritos com detalhes os conceitos de vantagem competitiva, planejamento estratégico, além de apresentadas as principais barreiras que as empresas enfrentam atualmente para implementar estratégias. Ainda no marco teórico 1 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 é conceituado o marketing interno e analisado seu papel na formação de vantagens competitivas sustentáveis para as organizações. Na terceira parte são apresentadas as considerações finais deste artigo considerando toda a pesquisa bibliográfica desenvolvida. A última parte – parte quatro – contém as referências bibliográficas utilizadas nesta pesquisa. 0DUFR7HyULFR 2.1. Gerando vantagem competitiva com o planejamento estratégico 2.1.1. Estratégia e vantagem competitiva A estratégia competitiva é a busca de uma posição competitiva favorável. A estratégia competitiva visa a estabelecer uma posição lucrativa e sustentável contra as forças que determinam a concorrência na indústria. A estratégia de uma empresa, segundo Porter (1989, p. 6), se baseia em dois pontos determinantes: (1) a atratividade da indústria e os fatores que determinam essa atratividade no longo prazo; e (2) a posição competitiva relativa desta indústria. A atratividade da indústria está relacionada com a capacidade da indústria de maximizar o retorno sobre seus investimentos no longo prazo. Para isso a indústria deve estar atenta às cinco forças competitivas (ameaça de novos entrantes potenciais, ameaça de produtos ou serviços substitutos, poder de negociação dos compradores, poder de negociação dos fornecedores e rivalidade entre as empresas existentes) e a seus determinantes para que estabeleça uma estratégia que proporcione vantagem competitiva. O segundo ponto, o qual aborda a posição competitiva da indústria, pressupõe que para a empresa alcançar uma vantagem competitiva sustentável é preciso que ela posicione sua estratégia na busca de um dos dois tipos básicos de vantagem competitiva: liderança em custos ou diferenciação. A caracterização destas vantagens se dá a partir da habilidade que a empresa possui de gerenciar melhor as cinco forças competitivas que seus concorrentes. ³$ HVWUDWpJLD FRPSHWLWLYD HQWmR QmR Vy UHVSRQGH DR PHLR DPELHQWH PDV WDPEpP WHQWD PRGHODU HVWH PHLR DPELHQWH HP IDYRU GH XPD HPSUHVD´ (Porter, 1989, p. 2). A vantagem competitiva está no âmago de qualquer estratégia e, para obtê-la, é preciso que a empresa faça escolhas (WUDGHRIIV). A vantagem competitiva surge fundamentalmente do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores e que ultrapassa o custo de fabricação e oportunidade de capital da empresa. Tem-se então que o valor é o preço que as pessoas estão dispostas a pagar, e o valor superior provém da oferta de mercadorias ou serviços com benefícios semelhantes, a um preço mais baixo do que a concorrência, ou a oferta de produtos ou serviços com benefícios singulares de tal forma que os compradores estejam dispostos a pagar um valor mais elevado para obtê-lo. Para que uma empresa apresente liderança em custos, é pressuposto que ela possua certa paridade ou proximidade com base na diferenciação relativa de seus produtos ou serviços, comparados com os de seus concorrentes. O mesmo acontece quando se pleiteia uma vantagem em diferenciação, a qual pressupõe certa paridade nos custos do produto ou serviço. Dessa forma conclui-se que para se obter uma vantagem competitiva, é necessário que a organização apresente os fatores qualificadores parelhos ao da concorrência e se diferencie nos fatores ganhadores de pedidos (Slack, 1993, p. 15). Tem-se que uma empresa ganha vantagem competitiva quando executa atividades relevantes ao seu negócio de uma forma mais barata, ou melhor, que seus concorrentes. Estas atividades estrategicamente importantes para dada organização introduzem o conceito de cadeia de valor. A extensão da integração nas atividades desempenhadas por esta cadeia é fator determinante para o sucesso, tendo em vista que a cadeia de valor é um sistema de atividades interdependentes. De acordo com Porter (1989, p. 36) a cadeia de valor de uma 2 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 Atividades de Apoio empresa é constituída por DWLYLGDGHV SULPiULDV, diretamente relacionadas à competência essencial da empresa, e DWLYLGDGHV GH DSRLR, atividades que suportam e possibilitam o desenvolvimento das atividades primárias de forma que estas possam gerar vantagem competitiva para os clientes. Estrutura Organizacional Atividades Primárias FIGURA 1 - Estrutura organizacional e a cadeia de valores genérica de uma organização. Fonte: Porter (1989). De forma geral, as atividades primárias podem ser divididas em ORJtVWLFDLQWHUQD, que abarca procedimentos como recebimento, armazenagem e distribuição interna de insumos e produtos semi-acabados, o manuseio de material, o controle de estoques, a programação de frotas e veículos e a devolução para fornecedores; em RSHUDo}HV, onde se encontram as atividades relacionadas à transformação dos insumos em produtos finais, tais como trabalho com máquinas, embalagens, montagens, manutenção de equipamentos, testes e operações de produção; em ORJtVWLFD H[WHUQD, que envolve as atividades de coleta, armazenamento e distribuição física do produto final para os compradores; em PDUNHWLQJHYHQGDV, onde estão relacionadas às atividades associadas indução e oferta de produtos aos clientes diretos e/ou finais, através do mix de marketing (preço, promoção, propaganda e praça), cotação e seleção dos modais de transporte mais adequados; e em VHUYLoRV, que engloba as atividades que intentam ampliar ou manter o valor do produto, tais como instalação, treinamento de uso, manutenção, fornecimento de peças e ajuste do produto. Já as atividades de apoio estão subdivididas em DTXLVLomR, onde se concentram as atividades de compras de insumos, serviços e produtos intermediários; em GHVHQYROYLPHQWRGH WHFQRORJLD, que abarca além do P&D (pesquisa e desenvolvimento de produtos), a TI (tecnologia da informação), projeto de equipamento de processo e procedimento de atendimento; em JHUrQFLD GH UHFXUVRV KXPDQRV, onde se encontram todas as atividades operacionais de recursos humanos (folha de pagamento, recrutamento, seleção, contratação, demissão) e de desenvolvimento da gestão de competências (treinamento, política de cargos e salários, remuneração variável, participação nos resultados); e em LQIUDHVWUXWXUDGDHPSUHVD, 3 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 onde estão inseridas as atividades que dão apoio à cadeia inteira, tais como contabilidade, finanças, planejamento, jurídico, gerência de qualidade e gerência geral. A vantagem competitiva freqüentemente provém da habilidade de coordenação e administração dos elos entre as atividades, da mesma forma que provém das próprias atividades individuais. Tendo em vista que, de acordo com a Figura 1, previamente apresentada, as atividades relativas ao marketing representam cerca de 30% das atividades que agregam valor à organização, deve-se ter uma atenção especial quanto às suas atribuições e configurações dentro da organização. Dessa maneira, o planejamento das atividades de marketing, bem como uma visão estratégica do seu papel para uma empresa é de crucial importância para se conquistar e manter vantagens competitivas. 2.1.2. O planejamento estratégico de marketing Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 17) uma das cinco formas da manifestação da estratégia de uma empresa é através de um plano. Este tipo de estratégia consiste em algum tipo de curso de ação conscientemente engendrado, uma diretriz (ou um conjunto de diretrizes) para lidar com uma determinada situação. Para Glueck (1980, p. 9) “A estratégia é um plano unificado, abrangente e integrado... com a finalidade de assegurar que os objetivos básicos do empreendimento sejam alcançados”. Esta forma de apresentação da estratégia através de um documento descritivo denominado plano estratégico tem sido bastante criticada por alguns autores como Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), no que tange ao seu caráter prescritivo e determinístico, bem como quanto à sua aplicabilidade para as diferentes organizações, mas também é defendida por autores como Baker (2005) e Kotler (1998), principalmente, quanto à sua importância para o direcionamento da empresa em relação a seu ambiente e para a possibilidade de implementação do que se tem na mente de seus dirigentes. O planejamento estratégico de uma organização apresenta três níveis que devem ser respeitados quando de sua elaboração. Com uma visão mais ampla e menos detalhada estão as diretrizes corporativas, que determinam os objetivos estratégicos que nortearão o planejamento estratégico das unidades de negócio (segundo nível). Este planejamento da unidade de negócio está subdividido nas diversas estruturas funcionais que compõe a organização – produção, marketing, planejamento e desenvolvimento, administração e compras. Nesta etapa o planejamento apresenta-se mais detalhado e as diretrizes que foram estabelecidas no plano da unidade de negócio, neste momento se tornam estratégias para as unidades funcionais, para que sejam estabelecidos planos que serão implementados pela organização. Entre estes, encontra-se o plano estratégico de marketing. Um plano estratégico de marketing se preocupa principalmente em estabelecer, construir, defender e manter vantagem competitiva. É o resultado final de todo um processo de entendimento do ambiente interno à organização e de seu ambiente externo, de acordo com os objetivos corporativos futuros e a posição desejada pela organização frente a seus VWDNHKROGHUV. Entretanto, a única maneira de se caracterizar uma vantagem competitiva em uma organização é através da implementação da estratégia desejada e, nesse sentido, o planejamento estratégico é de grande relevância, tendo em vista que possibilita uma estruturação tanto das idéias desejadas quanto da forma de colocá-las em prática. Desse modo, o planejamento estratégico de marketing abarca etapas importantes de forma a permitir que a empresa se prepare contra infortuitos que advenham de alterações do mercado, onde estão inseridos os concorrentes, fornecedores, consumidores e órgãos reguladores, bem como alcance as perspectivas ora almejadas pela organização. De acordo com McDonald in Baker (2005) tem-se que “sua função principal é determinar onde a empresa está, para onde ela quer ir e como chegar lá”. 4 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 Este planejamento é de suma importância para uma organização e segue uma seqüência lógica, adaptada à especificidade de cada organização, mas que apresenta, de forma geral – de acordo com McDonald in Baker (2005, p. 65), como mostra a Figura 2 –, os seguintes passos: 1. Missão; 2. Objetivos Corporativos; 3. Auditoria de marketing; 4. Análise SWOT; 5. Premissas; 6. Objetivos estratégicos de marketing; 7. Estimativa de resultados esperados; 8. Identificação de planos e mix de marketing; 9. Orçamento; 10. Programa detalhado de implementação para o primeiro ano. Estas dez etapas estão divididas em quatro fases: a primeira fase é denominada “ determinação das metas” , e engloba a missão e os objetivos corporativos. Estes dois itens são pré-requisitos para a elaboração do plano estratégico, onde os objetivos corporativos são determinados em uma instância superior à da unidade de negócio e a missão é previamente definida pela organização apresentando qual é sua razão de existência, ou seja, “ exprime o propósito institucional da organização segundo uma perspectiva ampla e duradoura” (TORRES, 2002, p.30). FIGURA 2 - As dez etapas do planejamento estratégico de marketing. Fonte: McDonald DSXG Baker (2005). A segunda fase, chamada de “ revisão da situação” , se caracteriza pelo conhecimento da organização e do ambiente – forças e fraquezas, oportunidades e ameaças –, a partir das 5 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 auditorias de marketing. Essas auditorias podem ser internas e/ou externas e tem como objetivo principal fornecer dados confiáveis para a análise da situação atual da organização. Esta análise, para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 46), é o ponto mais importante de todo o planejamento, pois ela direcionará as estratégias que realmente serão operacionalizadas na etapa seguinte, através de premissas. Estas premissas são os insumos para a terceira fase, a “ formulação da estratégia” . Neste momento deixa-se de ter uma abordagem meramente teórica e passa-se a determinar como as estratégias estabelecidas serão implementadas na prática. Para isso, McDonald in Baker (2005, p. 67) aponta que o caminho mais indicado é a definição do mix de marketing, onde se encontram os 4Ps. Alem disto, é necessário que se estabeleçam resultados esperados para medir a evolução da estratégia ora estruturada, bem como devem ser elaborados planos alternativos caso estes resultados não sejam os esperados. É importante frisar que os dados que são coletados para o acompanhamento da implantação do planejamento estratégico de marketing são levantados pela auditoria de marketing. Todo esse processo culmina da apresentação do plano estratégico, que contempla, além de todos os documentos que formalizam as definições ora tomadas pelos gestores, a previsão e o orçamento para implementação durante os três a cinco anos vindouros. Este planejamento tem uma periodicidade de elaboração anual, mas apresenta uma perspectiva de atuação de três a cinco anos. Apesar de ser elaborado apenas uma vez no ano, geralmente no final do ano (meses de outubro a dezembro) de forma a possibilitar o início de cada ano com estratégias atualizadas, este planejamento deve ser revisado periodicamente (trimestralmente) para que se possa acompanhar o desenvolvimento do planejado e tomar medidas corretivas caso seja necessário. Dessa forma, tem-se que o planejamento é um grande aliado para a conquista de vantagens competitivas, no entanto sua simples elaboração não garante o sucesso de sua implementação. Esta dicotomia entre o que é previsto e o que realmente se observa no cotidiano das organizações é um dos maiores percalços que serve de obstáculo para a obtenção de uma posição vantajosa frente a seus concorrentes. 2.2. Problemas na implementação do planejamento estratégico O planejamento estratégico é um possível caminho de sucesso para a aquisição de uma vantagem competitiva sustentável. No entanto, as empresas devem ter uma preocupação muito grande com o desenvolvimento deste planejamento e com sua execução. Algumas empresas se deparam com problemas no desenvolvimento do seu planejamento estratégico, pois este não se mostra aderente às reais necessidades da empresa e ao ambiente no qual a mesma está inserida. Mas, por que isto acontece? De acordo com Beaudan (2001), este fato pode ocorrer quando a organização não envolve os funcionários certos na elaboração do planejamento, assim como quando ela confia seu planejamento a pessoas que têm um bom conhecimento sobre estratégia, porém são externos à organização. Apesar de existirem problemas no desenvolvimento do planejamento estratégico, este apresenta falhas, na maioria das empresas, devido à sua pobre implementação. O paradoxo da implementação da estratégia se caracteriza, principalmente, por pensadores que ignoram certas verdades que têm capacidade de parar completamente um processo de execução estratégica (BEAUDAN, 2001). Uma dessas verdades é a cultura organizacional. “ ... quando estratégia e cultura se encontram em desigualdade, a cultura sempre vence (BEAUDAN, 2001, p.66).” O autor coloca que a chave para o sucesso da implementação de um planejamento estratégico é compreender que as pessoas fazem o que elas pensam. Desta forma, é extremamente 6 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 importante alinhar a estratégia às hipóteses e crenças pessoais do quadro de funcionários da empresa. Este alinhamento está diretamente ligado a um processo claro de comunicação, que traduz a estratégia em um diálogo de sentido para executivos e empregados de níveis hierárquicos mais baixos. No artigo “ Pre-Empting Implementation Barriers: Foundations, Processes and Actions – The Need for Internal Relationships” , Dibb & Simkin (2000) apresentam uma lista de barreiras à implementação de estratégias, que segue abaixo. TABELA 1 - Barreiras para implementação de planos estratégicos %DUUHLUDVSDUD,PSOHPHQWDomRGH3ODQRV(VWUDWpJLFRV 1. Comunicação Inadequada 2. Dificuldades de harmonização entre lugares e países 3. Forças do ambiente de mercado 4. Informação Inadequada 5. Falta de habilidades gerenciais dos gerentes seniores 6. Falha para enxergar situações completas 7. Pouco conhecimento dos consumidores 8. Individualidades dos gerentes 9. Forças monopolistas de mercado 10. Abordagem WRSGRZQ de planejamento 11. Tempo para conduzir as atividades do planejamento 12. Pouco envolvimento das funções/equipes 13. Arrogância em relação ao sucesso atual do negócio 14. Baixo entusiasmo de profissionais de áreas além do marketing 15. 7XUQRYHU do quadro de funcionários 16. Resistência às mudanças Fonte: Dibb & Simkin (2000) Corroborando exposições de Beaudan (2001), Dibb & Simkin (2000) apresentam no topo da lista de barreiras a comunicação inadequada. Os autores também mediram a gravidade destas barreiras em ambientes manufatureiros e de serviços. Para a manufatura, as barreiras mais perigosas são as dificuldades de harmonização entre lugares e países, falha para enxergar situações completas, pouco envolvimento das funções/equipes e WXUQRYHU do quadro de funcionários. Já em um contexto de prestação de serviços, as barreiras mais graves são a abordagem WRSGRZQ de planejamento e a resistência às mudanças. Estudos futuros podem explorar mais a fundo o porque destas barreiras serem tão diferentes entre estes setores da economia. No caso, este não é o foco deste artigo. Beer & Eisenstat (2000) desenvolveram um trabalho que lista os “ matadores silenciosos da estratégia” . Estes problemas foram divididos pelos autores em duas principais vertentes: implementação e aprendizado. O estudo destes autores demonstra ter alinhamento em relação aos trabalhos já apresentados neste artigo. Conforme Beer & Eisenstat (2000), os principais “ matadores silenciosos de uma estratégia” são o estilo WRSGRZQ de gerenciamento dos executivos, a falta de clareza da estratégia e conflitos de prioridades, equipes ineficazes de gerentes seniores, pobreza da comunicação vertical, pouca coordenação entre negócios e funções e habilidades inadequadas de liderança. 7 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 Estes problemas, que fazem parte do ambiente de implementação de estratégias da grande parte das empresas, caracterizam-se como falhas de competências de alguns níveis hierárquicos e também como baixo alinhamento e comunicação entre os diversos negócios, funções e áreas de uma organização. Considerando principalmente a perspectiva de alinhamento e comunicação, o marketing interno é uma abordagem que só tem a somar, pois tem a capacidade de diminuir o efeito de algumas dessas lacunas estratégicas. O marketing interno vende a imagem da empresa internamente, aumentando o comprometimento, motivação e integração dos empregados de diferentes níveis hierárquicos. Desta forma, o ambiente para a implementação do planejamento estratégico torna-se menos complexo e mais flexível. 2.3. Marketing interno: solução para lacunas estratégicas? 2.3.1. O que é o marketing interno Os investimentos e a preocupação com a função marketing, no intuito de atrair, conhecer e satisfazer os clientes têm assumido importante relevo na perspectiva das organizações. Entretanto, é preemente o questionamento se as empresas sabem quais realmente são todos os seus clientes, não satisfazendo a resposta de que se tratam somente daquelas pessoas que compram seus produtos ou serviços. É necessário ater-se, também, aos que participam do processo de produção e venda dos seus produtos ou serviços, uma vez que são estes grandes responsáveis pelo sucesso organizacional e, portanto, clientes, na medida em que o sucesso dos planos estratégicos estabelecidos pela empresa e, consequentemente, sua sobrevivência no mercado competitivo, tem como fator de alta relevância que seus empregados, clientes, “ comprem” as idéias da organização. Mas será que as organizações sabem o verdadeiro valor de trabalhar com estes clientes? Neste ponto é que se insere a abordagem do marketing interno. São relativamente raros os casos de marketing interno na bibliográfica clássica. Em geral, nos livros de marketing, os teóricos normalmente dedicam poucas linhas ao tema, limitando-se a mencionar a importância em se conquistar uma boa imagem interna, propiciando, assim, garantia de sustentabilidade das estratégias adotadas. Talvez até mesmo porque o assunto seja pouco abordado, parece haver pouca preocupação em se definir o marketing interno, suas vantagens e importância para as organizações. Encontra-se, assim, uma espécie de vazio no trato da função marketing dentro da empresa e, até mesmo, um paradoxo, pois esta se volta diretamente a projetar uma boa imagem organizacional para os campos externos do relacionamento com o mercado competitivo sem, contudo, preocupar-se com o relacionamento da organização com o seu próprio interior, fortalecendo, assim, primeiro a imagem interna da empresa para, então, buscar seu espaço no mercado de forma sólida (KOTLER, 1999). Não obstante a pouca expressividade do tema na literatura científica, é importante buscar a compreensão do real significado deste termo e como se dá seu papel nas organizações, haja vista a importância que este pode assumir em suas estratégias, garantindo a implementação do planejamento, na medida em que se trata de ferramenta que pode ser capaz de suprimir relevantes lacunas estratégicas, reduzindo o distanciamento entre o planejamento estratégico que se pretende implementar e a verdadeira realidade organizacional, garantindo a sustentabilidade das vantagens competitivas, como se verá adiante. Desta forma, o marketing interno pode ser visto, em suma, como um conjunto de ações que pretendem “ vender” a imagem da empresa internamente, visando, dentre outras funções, comprometer, motivar e integrar os funcionários. Para tanto, serve de facilitador para o fortalecimento da relação entre a organização e seus trabalhadores. Possui, também, a 8 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 missão de propiciar a harmonia do ambiente e melhoria do clima organizacional, possibilitando a melhoria na imagem interna como diferencial competitivo. A idéia básica é a de que para a obtenção de resultados positivos é necessário uma boa imagem da empresa junto aos seus empregados, considerando a efetiva participação destes como imprescindível para o sucesso. Assim, tem-se que o desenvolvimento organizacional através da implementação de uma estratégia passa por uma perspectiva de mercado interno, garantindo o desenvolvimento coerente da implementação das estratégias de marketing (BAKER, 2005). O planejamento de marketing voltado tão somente para o público externo, por melhor que seja, corre o risco de tornar-se inconsistente e não sobreviver no longo prazo, pois não garante uma estratégia coerente com a realidade organizacional, à qual não se destinou atenção, sendo possível o surgimento de barreiras dentro da própria empresa, reduzindo sua competitividade. O marketing interno surge, portanto, auxiliando a empresa em seus propósitos, como forma não somente de reduzir possíveis barreiras ou outros problemas que estejam se apresentando no tocante às suas estratégias, mas também no sentido de propiciar ou sustentar suas vantagens competitivas, respeitando e construindo uma nova realidade dentro da empresa, criando um ambiente propício ao desenvolvimento. Para tanto, assume uma estrutura (BAKER, 2005) que pode ser expressa nos mesmos termos dos programas convencionais de marketing externo, havendo a mesma preocupação com aspectos tais como mercado, produto e preço, dentre outros. O que muda na verdade, é a direção dos trabalhos, sendo que, enquanto o marketing externo é direcionado aos “ influenciadores externos” , o interno se dirige à grupos fundamentais da empresa, além de outras empresas parceiras e aliadas. A diretriz do marketing interno pode, assim, ser resumidamente definida como a busca de conquista de mercado (público interno), tendo como produto a mudança nas atitudes e comportamentos das pessoas para, assim, garantir a oportunidade de sucesso ao projeto (planejamento) que se pretende implementar. 2.3.2. Qual o papel do marketing interno na sustentabilidade de uma vantagem competitiva? Uma empresa pode ser muito boa em seus planos e, mesmo assim, fracassar se não possuir um ambiente favorável à sua implementação (LAS CASAS, 2001). Tão importante quanto o desenvolvimento e planejamento das estratégias é possuir capacidade de executar eficazmente os seu planos. Todas as estratégias necessitam estar integradas através de um plano de estratégico macro que, levando em consideração a importância do marketing interno, seja capaz de garantir as necessárias de mudanças organizacionais para propiciar a implementação do plano. Neste sentido, o marketing interno surge como importante ferramenta para sustentabilidade das vantagens competitivas da empresa no mercado, fazendo com que se supere o “ divórcio entre as estratégias e planos produzidos e as realidades da organização” (BAKER, 2005). Percebe-se, portanto, a capacidade do marketing interno em ligar a formulação da estratégia com a sua implementação, trabalhando o contexto organizacional e gerando o propício ambiente de mudança dentro da organização, necessário para que se tenha estratégias exeqüíveis. Reconhecendo o público interno como recurso de elevada importância para a mudança e evolução organizacional (Penteado, 1999), torna-se inócuo o trabalho junto ao público 9 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 externo enquanto não houver um ambiente favorável à implementação das estratégias dentro da própria organização. O marketing interno possibilita, também, a compreensão da “ estrutura operacional” da organização, favorecendo a análise das mudanças necessárias para que se obtenha sucesso nas estratégias de marketing externo através da elaboração de um programa interno voltado para estes objetivos. Caminha no mesmo sentido do marketing externo quanto aos objetivos e estratégias competitivas. Entretanto, permite o aprofundamento nos verdadeiros obstáculos, podendo ser utilizado para que se aprofunde nas questões pertinentes aos processos e cultura organizacional, chegando a importantes entraves à implementação do planejamento estratégico e conseqüente obtenção e manutenção das vantagens competitivas. Oferece, ainda, um modo eficiente de avaliar os custos da implementação e da mudança organizacional a tempo de que se possa definir pela continuidade ou não da estratégia para o mercado externo em debate (BAKER, 2005). O marketing interno pode, assim, sustentar vantagens competitivas. Sua utilização assume importante relevância no trato não somente da função de marketing, mas também na exata percepção da realidade, da perspectiva e das necessidades organizacionais. Os retornos que pode oferecer vão muito além do que a utilização restrita do marketing externo pode oferecer. Ressalta-se, entretanto, que sua utilização não se dá de forma concorrente ao marketing externo, mas sim suplementar, tornando a função marketing muito mais completa e útil à organização. Tratar de marketing interno não significa abandonar ou suplantar o marketing externo. O que se pretende é fazer com que os responsáveis pelo marketing não se restrinjam a recomendarem aos dirigentes o que fazer, assumindo, também, a responsabilidade de orientar a estes em como fazer. Desta forma, o marketing interno é capaz de sustentar uma vantagem competitiva ao garantir que as estratégias sejam alcançáveis e passíveis de implementação, pois estas estratégias, por melhores que sejam, não sendo implementáveis não podem sequer serem consideradas como estratégias. &RQVLGHUDo}HV)LQDLV A procura por vantagens competitivas é um processo infindável que as organizações desenvolvem ao longo de toda a sua existência. Este artigo teve o intuito de apontar que para alcançá-las, faz-se necessária a transposição das idéias de seus dirigentes para o ambiente organizacional, através das estratégias. Essas estratégias, para que sejam implementadas da forma que são preconizadas e para que surtam os efeitos ora esperados, necessitam de uma organização, bem como orientação e direcionamento. O planejamento estratégico é um processo que transpõe toda essa perspectiva em um documento denominado plano estratégico. Dentre os planos estratégicos de uma organização situa-se o plano de marketing, que é de extrema importância para uma empresa, tendo em vista sua relevância dentro das atividades que agregam valor a uma organização. Como apresentado, para que o planejamento estratégico possa proporcionar uma posição vantajosa para a empresa em relação aos seus concorrentes é necessário que este planejamento se transforme em prática diária, ou seja, esteja inserido na rotina de seus funcionários. Em grande número de organizações há uma dicotomia entre a estratégia descrita pela organização e o que de fato é realizado em seu dia-a-dia. Por que não são todos os planos estratégicos, por mais bem elaborados que sejam, que resultam em sucesso para o empreendimento? O artigo mostrou que não basta tentar competir externamente com todos os recursos de marketing existentes se o planejamento ora elaborado não coaduna com o ambiente interno da organização, de forma a proporcionar um ambiente 10 XIII SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006 propício para sua implementação. Neste ponto, percebe-se a real relevância do marketing interno como forma de alinhamento das perspectivas internas ao que é planejado, possibilitando a implementação das estratégias de forma a gerar vantagem competitiva para a organização. Mas até que ponto não se deve tratar o marketing interno como um projeto que tem início com a conclusão da elaboração do planejamento estratégico e apresenta um término quando o planejamento encontra-se alinhado com o público interno à organização? A palavra sustentabilidade responde a este questionamento, pois insere o conceito de perpetuidade de uma empresa, o qual transcende o momento atual da organização. Não basta conquistar uma vantagem competitiva. É preciso mantê-la ao longo do tempo de forma que esta vantagem se converta em benefícios para a organização e possibilite a sua perpetuidade. Dessa forma não se pode tratar o marketing interno como um projeto que apresenta início e fim, mas sim como um programa que possibilita a garantia de vantagem competitiva sustentável de uma organização. 5HIHUrQFLDV%LEOLRJUiILFDV BAKER, Michael J. $GPLQLVWUDomRGH0DUNHWLQJ Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BEAUDAN, Eric. 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