123 O aluno com transtorno do espectro autista: inclusão escolar e desafios Aline Tais da SILVA1 Letícia Helena de Souza SILVA2 Aparecida Helena Ferreira HACHIMINE3 Resumo: Tem havido um crescente aumento da inclusão de alunos público-alvo da educação especial nas escolas. Esse tema é importante para profissionais da área da educação que visam aprofundar conhecimentos no campo da educação especial. O objetivo do presente estudo é compreender como estimular uma criança autista na Educação Infantil e a sua aprendizagem a partir das estimulações. A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a pesquisa bibliográfica. Autismo se caracteriza por desvios qualitativos na comunicação e interação social. Visto que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, é importante que a criança com TEA também passe por ela, assim, o investimento na formação de professores é um caminho fundamental para que a vida social e familiar dessa criança seja melhorada. Devido à carência da formação inicial e continuada de profissionais, pouco se sabe sobre o desenvolvimento das crianças com TEA. Assim, esse tema tem sido relevante para estudo e para pedagogos que gostariam de conhecer a respeito do assunto. Palavras-chave: Educação. Autista. Inclusão. Formação. Docente. 1 Aline Tais da Silva. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 2 Letícia Helena de Souza Silva. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>. 3 Aparecida Helena Ferreira Hachimine. Mestra em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda – CUML, Especialista em Informática na Educação pela Universidade Federal de Lavras – UFLA, especialista em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão pelo Claretiano – Centro Universitário e graduada em Análise de Sistemas pela Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP. Atua como docente do Claretiano – Centro Universitário nos cursos de Graduação e Pósgraduação, na Educação Presencial e a Distância. E-mail: <[email protected]>. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 124 The student with autistic spectrum disorder: school inclusion and challenges Aline Tais da SILVA Letícia Helena de Souza SILVA Aparecida Helena Ferreira HACHIMINE Abstract: With the arrival of students target audience of special education, was increased the inclusion in schools the theme was important for education professionals who seek to deepen their knowledge in special education, and with the autistic students. The objective of this study was to understand how to stimulate an autistic child in Early Childhood Education, and learning from stimulations. The methodology used for elaboration of this article was bibliographic research. The autism is characterized by qualitative deviations in communication, and social interaction. Since Early Childhood Education is the first stage of Basic Education is important that the child with ASD also pass through it, so the investment in teacher training is a fundamental way for social and family life be improved. Due to lack of initial and continuing training, little is known about its development, the topic was relevant to study and educators who would like to know about the subject. Keywords: Education. Autism. Inclusion. Training. Teacher. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 125 1. INTRODUÇÃO Tendo em vista os alunos público-alvo da educação especial e o crescente aumento de sua inclusão nas escolas regulares, este estudo é de importância para os profissionais da área da educação que visam aprofundar seus conhecimentos na área da educação especial e, mais especificamente, com os alunos que têm autismo. Devido à carência da formação inicial e a dificuldade para a formação continuada, pouco ainda se sabe sobre o desenvolvimento da criança autista na Educação Infantil, por esse motivo, o tema é relevante para estudo e também para pedagogos que gostariam de conhecer mais a respeito do assunto em questão. Sabe-se que a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança, e o que nos instiga é entender como se dá o desenvolvimento da criança autista na educação infantil. Muitos dos professores não sabem como estimulá-los e, de acordo com a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2011), há estudos sobre a identificação precoce dos sinais para a identificação do TEA (Transtorno do Espectro Autista), por isso, quanto antes o diagnóstico e o tratamento forem iniciados, melhores serão os resultados (SÃO PAULO, 2013). A possibilidade para se realizar uma pesquisa sobre o tema proposto é favorável, visto que há um grande número de materiais disponíveis. Este tema nos desperta para um novo olhar diante das crianças que passam por um longo caminho até serem diagnosticadas, tendo em vista que, muitas vezes, os professores apresentam dificuldades em identificá-las e, quando conseguem, não sabem como trabalhar e quais os estímulos corretos. O objetivo geral desta pesquisa é compreender como estimular uma criança com autismo na Educação Infantil e como se dá o processo de aprendizagem dela a partir das estimulações feitas pelo professor. Deseja-se entender em que nível uma criança com autismo é capaz de aprender; discutir se ela, quando incluída na Educação Infantil, se desenvolve melhor e destacar quais contribuiEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 126 ções do pedagogo são importantes para o seu processo de inclusão e desenvolvimento. A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a pesquisa bibliográfica, por meio de livros impressos e digitais, documentos oficiais do Ministério da Educação e artigos científicos disponíveis em sites confiáveis. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas (GIL, 2002, p. 44). Nesse sentido, esta pesquisa bibliográfica se encontra fundamentada teoricamente a partir das contribuições de autores renomados na área da Educação Especial que abordam o tema, tais como: Mello (2007), Belsário Filho (2010) e São Paulo (2005, 2013). O trabalho está dividido em três tópicos: Transtorno do Espectro Autista: definição e caracterização; A Inclusão do Aluno com TEA na Educação Infantil; e Os Desafios do Professor na Inclusão do Aluno com TEA. 2. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO Segundo Mello (2007, p. 11): Autismo é uma síndrome definida por alterações presentes desde idades muito precoces, tipicamente antes dos três anos de idade, e que se caracteriza por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 127 A criança autista apresenta várias características estereotipadas, como o contato visual, gestos, falta de interação com as pessoas, estresse, entre outros. O grau do Transtorno do Espectro Autista (TEA) varia muito de criança para criança, uns são mais leves e outros são mais agravados (MELLO, 2007). De acordo com o Autismo & Realidade – Manual para as Escolas (2015), a criança com TEA apresenta um déficit no desenvolvimento social, comportamental e da linguagem e, por isso, possui a dificuldade de interação. Porém, os alunos com o Transtorno do Espectro Autista têm algumas habilidades, como o excesso de detalhamento, seja visual ou sensorial, facilidade em entender algum conceito, habilidades artísticas, capacidades de resolução de problemas, entre outros. Para Mello (2007), independentemente do nível cognitivo, a criança com o Transtorno do Espectro Autista tem dificuldades com conceitos linguísticos simbólicos ou abstratos, cada palavra significa apenas uma coisa, para eles é mais fácil entender fatos ou conceitos isolados do que quando agrupados ou ligados a outros significados. Muitos autistas podem apresentar níveis altos de ansiedade. Geralmente, quando acontece, a ansiedade é causada pelo ambiente, por querer tocar, desenvolver algo ou repetir um padrão comportamental estabelecido (AUTISMO & REALIDADE, 2013). De acordo com o Autismo & Realidade – Manual para as Escolas: É fundamental reconhecer que os desafios sociais no autismo são bidirecionais. Eles podem se manifestar como déficits (como a falta de iniciação social) ou como excessos (como conversa unilateral de um aluno altamente verbal com Síndrome de Asperger). Em ambos os casos, a necessidade de apoio e ensino é real. Como em qualquer comportamento social adequado exige a compreensão social. Alguns indivíduos do espectro parecem altamente sociais, iniciando a interação social, mas sem reciprocidade por ser unilateral e autoritária, já que eles são, estão conscientes de sua incapacidade de se conformar e de ser aceito pelos outros. Os indivíduos com autismo de alta funcionalidade e com síndrome de Asperger sofrem freqüentemente a Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 128 dor da rejeição e da solidão (AUTISMO & REALIDADE, 2013, p. 47). As características do TEA variam muito de criança para criança; é de suma importância que logo que algumas delas forem apresentadas, a criança seja levada a profissionais da área da educação e da saúde para que o diagnóstico seja fechado com êxito e as intervenções sejam realizadas, a fim de melhorar a sua vida social, escolar e pessoal. A Associação Americana de Psiquiatria (APA) apresenta alguns critérios para o diagnóstico da criança com TEA, em que relaciona algumas características como déficit na interação social e comunicação e comportamentos e interesses restritos e repetitivos (APA, 2014). Há alguns critérios para o diagnóstico do transtorno do espectro autista, que, segundo o DSM 5 (APA, 2014), são: 1. Déficits persistentes na comunicação social e nas interações, clinicamente significativos manifestados por: déficits persistentes na comunicação não-verbal e verbal utilizada para a interação social; falta de reciprocidade social; incapacidade de desenvolver e manter relacionamentos com seus pares apropriados ao nível de desenvolvimento. 2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos dois dos seguintes: estereotipias ou comportamentos verbais estereotipados ou comportamento sensorial incomum, aderência excessiva à rotinas e padrões de comportamento ritualizados, interesses restritos. 3. Os sintomas devem estar presentes na primeira infância (mas podem não se manifestar plenamente, até que as demandas sociais ultrapassem as capacidades limitadas). 4. Os sintomas causam limitação e prejuízo no funcionamento diário (APA, 2014, p. 91). Para maior certeza do diagnóstico é importante que a equipe toda seja consultada, desde médicos a profissionais da educação, garantindo, assim, olhares diferentes de diversas áreas e eficácia Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 129 no seu desenvolvimento, pois o TEA não é um transtorno degenerativo, de modo que a aprendizagem e a compreensão continuam se desenvolvendo no decorrer da vida (APA, 2014, p. 97). Cabe aqui salientar que os profissionais, bem como os educadores, poderiam multiplicar o conhecimento sobre o transtorno do espectro autista, uma vez que a família e até mesmo a sociedade não saiba como lidar com o autista. As causas do Transtorno do Espectro Autista ainda são desconhecidas, acredita-se que essa deficiência está ligada a alguma parte do cérebro relacionada com fatos ocorridos na gestação ou no momento do parto (MELLO, 2007). Segundo Mello (2007), o diagnóstico é feito através de uma avaliação clínica; não existem exames específicos que possam comprovar o transtorno. As crianças autistas podem apresentar indícios do transtorno antes de um ano e meio, porém, o diagnóstico pode ser concluído apenas entre os dois anos e dois anos e meio. Quando o diagnóstico é realizado precocemente, as mediações podem obter maior garantia de sucesso e facilitar sua interação social. Pereira et al. (2015) apontam que, para fechar um diagnóstico, buscam-se critérios clínicos por meio de profissionais, dentre eles, os médicos, psiquiatras e neuropsiquiatras, que se apoiam nos relatos dos pais ou responsáveis sobre o desenvolvimento da criança e se baseiam em outras avaliações, como a de psicólogos e psicopedagogos. Assim, para excluir outras hipóteses de diagnóstico, são feitos exames laboratoriais e por imagem, contudo, o diagnóstico é eminentemente clínico (SCHWARTZMAN, 2011). Quando o diagnóstico médico é fechado, a criança com TEA necessita de auxílio multidisciplinar, para que se possa contribuir com o seu desenvolvimento biopsicossocial. 5. A INCLUSÃO DO ALUNO COM TEA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Visto que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, é importante que a criança com TEA também passe por ela para que sua vida social e familiar seja melhorada. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 130 De acordo com Pereira et al. (2015), para que a inclusão escolar se efetive, primeiramente, é preciso que a criança tenha acesso a escola regular, que é assegurada pela lei. No ano de 2012, houve a promulgação da lei 12.764, o primeiro documento oficial a falar sobre a criança com TEA. Nessa mesma lei é apresentada a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Entre os direitos das pessoas com TEA está o acesso à educação, que é direito da criança com TEA e está assegurado pela lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Art. 3º. São direitos da pessoa com transtorno do espectro autista: I – a vida digna, a integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II – a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III – o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo; b) o atendimento multiprofissional; c) a nutrição adequada e a terapia nutricional; d) os medicamentos; e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; IV – o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante; b) à moradia, inclusive à residência protegida; c) ao mercado de trabalho; d) à previdência social e à assistência social. (BRASIL, 2012, p. 2). Assim, a Cartilha Direito das Pessoas com Autismo (2011) e a lei n° 12.764, de 27 de dezembro de 2012, deixam claro que os alunos com TEA têm os mesmos diretos que são assegurados a todos os outros alunos. Em se tratando dos direitos, o art. 54 do ECA diz que é obrigação do Estado garantir atendimento educacional especializado às Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 131 pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, garantindo seu pleno desenvolvimento e preparo para o exercício da cidadania. O documento Cartilha dos Direitos da Pessoa com Autismo (2011) esclarece que o atendimento educacional especializado é um conjunto de recursos pedagógicos e de acessibilidade organizados institucionalmente para que o serviço prestado possa ser complementar ou suplementar ao ensino regular. Para Brasil (2013, p. 3 apud PEREIRA et al., 2015, p. 198), a resolução n.° 4/2009 indica: Em se tratando do Plano do AEE, a Resolução n.º 4/2009 indica que este deve ser elaborado e executado pelo professor do AEE em articulação com os professores do ensino regular, da família e de diversos outros profissionais, como terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, entre outros. “Este plano deve ter o objetivo de eliminar barreiras de aprendizagem”. Portanto, o atendimento educacional especializado não pode ser confundido com um simples reforço, pois o seu real objetivo é formar um núcleo de apoio que auxilie no desenvolvimento da criança com TEA. Quando falamos do AEE, Barbosa et al. (2015 apud LAZZERI, 2010, p. 33) afirma que as atividades realizadas no AEE para estudantes com TEA “[...] devem ser diversificadas, criativas e instigadoras de outras possibilidades de aprendizado diferentes das utilizadas em sala regular”. Seu objetivo é potencializar toda a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes que possa favorecer a inclusão escolar da criança com transtorno do espectro autista. Segundo a Cartilha dos Direitos da Pessoa com Autismo (2011), a inclusão escolar é: É uma política que busca perceber e atender às necessidades educativas especiais de todos os alunos, em salas de aulas comuns, em um sistema regular de ensino, de forma a promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. Na proposta de educação inclusiva todos os alunos devem ter a possibilidade de integrar-se ao ensino regular, mesmo aqueles com deficiências ou transtornos de comportamento, de preferência sem defasagem idade-série. A escola, segundo essa proposta, deverá adaptar-se Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 132 para atender às necessidades destes alunos inseridos em classes regulares. Portanto, requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na formação dos professores e nas relações família-escola (SÃO PAULO, 2011, p. 11). Durante a fase do processo de inclusão, é importante que a escola considere as especificidades de cada aluno seja ele público-alvo da educação especial ou não, garantindo o acesso, a interação, tolerância e respeito às diferenças. O Manual para as Escolas Autismo & Realidade (2010) aponta que cabe ao professor conhecer o aluno e, se possível, questionar a família sobre a rotina, gostos e preferências, o que assusta ou mais irrita o aluno com TEA e se ele possui alguma habilidade (por exemplo: desenhar, pintar, nadar). Essa interação entre escola e família na pré-inclusão do aluno com TEA se faz necessária e é de extrema importância, já que o aluno da Educação Infantil necessita de maiores cuidados. Esse questionamento permite pensar em atividades voltadas para esse aluno, fazendo com que ele se sinta mais à vontade em um ambiente novo e desconhecido por ele. Para Cunha (2008, p. 85), é indispensável que o professor invista “[...] tempo no conhecimento desse aluno através do cotidiano escolar para que se possa estabelecer as estratégias pedagógicas e reconhecer as possibilidades de aprendizado”. Sendo assim, a escola precisa compreender as especificidades de cada aluno, em especial a do espectro, para que cada tipo de intervenção seja adequado. Baseado no documento Cartilha – Autismo & Realidade (2010), é importante para o aluno com TEA que a família e os profissionais que trabalham com a criança possam apresentar a ele uma previa do mundo escolar, pois esse novo mundo é muito difícil para esses alunos, principalmente para os que estão indo pela primeira vez. Há vários sentimentos, entre eles a ansiedade e o estresse, que geralmente acontecem com a mudança de sala, professor, escola, por esse motivo, quando há uma preparação entre a escola e a família antes, a probabilidade de adaptação dar certo é muito maior. Brasil (2004) evidencia que a inclusão da criança com TEA na creche deve ser planejada cuidadosamente devido a suas difiEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 133 culdades, porém, as suas limitações são as mesmas colocadas pela própria instituição, por isso, é importante que se use todos os recursos disponíveis. Quando falamos em inclusão da criança com TEA na Educação Infantil, não podemos nos esquecer da questão lúdica. O documento oficial Brasil (2004, p. 16) deixa claro que “[...] Devemos ter em mente, sempre que estamos falando de crianças, que a dimensão lúdica tem de ser seu espaço [...]”. Assim, cabe ao professor conduzir todas as interações e questões lúdicas para que de fato a criança se desenvolva. Brasil (2004, p. 16) refere-se à dimensão lúdica: A experiência do brincar deve ser oferecida a criança inicialmente de forma estruturada e dirigida para que, por meio dessa experiência, ela possa, aos poucos, estabelecer relações de causa e conseqüência que resultem no desejo de repetir experiências cujos resultados lhe tenham sido agradáveis e que não teria tido por iniciativa própria. Assim, o professor deve compreender que as experiências lúdicas são de extrema importância nessa faixa etária, em especial para o aluno com TEA, pois a criança adquire conhecimento de mundo e desenvolve diversas habilidades. 6. OS DESAFIOS DO PROFESSOR NA INCLUSÃO DO ALUNO COM TEA Para o professor que tem um aluno com TEA os desafios são bem maiores do que aquele professor que não tem aluno de inclusão, pois precisará dar um tratamento individualizado, fazer um currículo adaptado, investir em recurso para a comunicação e ter um envolvimento com a família. É necessário que o professor, ao elaborar um plano de ensino, considere as especificidades de cada aluno, sobre o espectro e suas habilidades. Segundo Mello (2007, p. 11), “O primeiro ponto importante é tornar o aprendizado agradável para a criança. O segundo ponto é ensinar a criança a identificar os diferentes estímulos”, assim, o professor pode usar o PECS (sistema de comunicação através da Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 134 troca de figuras), que visa estimular a criança com TEA na comunicação, facilitando a sua interação com o meio. Não só essa técnica, assim como outras também são importantes para o seu desenvolvimento. Entre os vários métodos está o TEACCH, que avalia a criança levando em conta os pontos fortes e suas maiores dificuldades; ABA, visa ensinar à criança habilidades que não possui; e o PECS, que estimula a comunicação através das trocas de figuras. De acordo com Pernambuco (2015, p. 24): O tratamento do TEA deve ser intensivo, estruturado e abrangente, incluindo a família e vários profissionais. Dessa forma, diz-se que o tratamento é multiprofissional, pois as pessoas com TEA precisam de estimulação e treinamento em mais de uma área do desenvolvimento, como linguagem, habilidades sociais, aprendizado, motricidade e coordenação, aprendizado, dentre outras. O professor deve recorrer aos vários profissionais que atuam com a criança com TEA, para que juntos possam chegar aos objetivos esperados, garantir seu desenvolvimento e atender ao aluno TEA que possui grande complexidade em seu transtorno. Sendo assim, o professor deve procurar criar um ambiente estruturado que envolva e motive seus alunos. A estruturação das atividades permite que os alunos compreendam a sequência do trabalho realizado e sinta-se parte da aula (PERNAMBUCO, 2015). Há vários desafios para o professor que for receber um aluno com TEA, desde a preparação da sala até os materiais pedagógicos que serão utilizados. No entanto, quando se fala em uma preparação dos alunos que vão receber esse colega, não é aconselhável expor a criança, porque isso poderá acarretar um processo de exclusão por parte dos outros alunos (BRASIL, 2004). O professor precisa ter em mente as adaptações dentro da sala e no currículo; estratégias para estimulação, organização entre outros. Segundo o documento oficial Brasil (2004), o professor deve estar atento a alguns detalhes, como: colocar o aluno sempre na primeira fileira; falar seu nome várias vezes; devido à dificuldade de memorização e organização de suas responsabilidades, disponibilizar a ele um roteiro de organização – nesse caso, em forma Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 135 de foto é indispensável; garantir a segurança do aluno, pois se o professor não tiver o controle da situação e não falar várias vezes o nome do aluno, podem haver problemas de comportamento que comprometerão o seu aprendizado; se o espectro apresentar alguma estereotipia, o professor deve tirar o foco do aluno, ou seja, fazer com que volte a prestar atenção no que estava fazendo. O professor é muito importante para o processo de aprendizagem do aluno, pois ele define objetivos específicos que são pré-requisitos no momento de identificar se houve alguma evolução (AUTISMO & REALIDADE, 2013). Utilizar-se de algumas estratégias ajuda muito e diminui consideravelmente as dificuldades em sala de aula. Entre as estratégias utilizadas para ajudar a criança, está o uso de dicas, como, por exemplo: pegar na mão, ajudando-o no movimento; tocar o braço, indicando a direção; apontar para ele o que deve fazer, entre outras. Assim, conforme o aluno mostra independência, ou seja, é capaz de fazer atividades sem ajuda, significa que aprendeu as habilidades ensinadas. É importante ainda observar que ao se pensar nas atividades propostas, alguns pontos devem ser colocados, tais como: - a independência é um aprendizado, já que esse aluno tem muita dificuldade em fazer escolhas. Mesmo as atividades independentes, durante muito tempo, devem ser dirigidas, isto é, o aluno deve aprender a fazer atividades sozinho, mas elas devem ser colocadas em uma rotina de trabalho. Se deixarmos a criança escolher, provavelmente ficará andando pela sala sem ocupar-se com uma atividade produtiva; - as atividades devem ser selecionadas para atender a dois objetivos: independência – neste caso, a atividade selecionada deve ser possível de ser executada facilmente pela criança, sem ajuda, com apoio apenas da organização dos materiais; aprendizado – neste caso, aluno e professor se sentam frente a frente para que o professor possa ensiná-lo; - as atividades propostas devem ser muito curtas no início, pois a resistência ao tempo de trabalho faz parte do aprendizado; - cuidado para que a atividade proposta não contenha mais de uma proposta nova por vez; Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 136 - as atividades devem ser organizadas de forma a comunicar visualmente; - no início, a criança nunca deve desfazer um trabalho que acabou de fazer; - lembrar sempre que, se for ensinar uma nova rotina a uma criança, deve escolher uma atividade muito fácil para que você e ela possam concentrar-se na rotina; - a atividade deve ser feita sempre no mesmo sentido da escrita, ou seja, da esquerda para a direita e/ou de cima para baixo. Deve-se ter um cuidado especial na situação de aprendizado para não alterar essa ordem. Isso é apenas uma convenção para simplificar as atividades para o aluno (BRASIL, 2004, p. 31-32). Os professores devem planejar e selecionar bem todas as atividades propostas, pois o aluno não possui autonomia suficiente para aprender por meio da exploração e também para que as necessidades básicas da criança com TEA sejam atendidas. Portanto, todas as atividades propostas devem priorizar o aprendizado e o desenvolvimento da independência, ou seja, sua autonomia. Matos e Mendes (2013) apontam que os professores são desafiados a construir saberes capazes de responder às demandas do cotidiano escolar relacionadas à convivência e aprendizagem na diversidade, assim, a inclusão escolar passa a ser defendida como “[...] uma proposta de aplicação prática no campo da educação de um movimento mundial denominado inclusão social” (MENDES, 2006, p. 395 apud MATOS; MENDES, 2013, p. 39). Para que uma sociedade seja inclusiva, é preciso que o estado seja democrático e que a educação especial seja parte integrante e fundamental dele. Dessa forma, a inclusão e suas práticas são defendidas por muitos países, o que nos leva a perceber a necessidade de se repensar no currículo, nos modos de avaliação, na formação continuada dos professores, nas estruturas físicas das escolas e na adesão de uma política educacional mais igualitária. Mantoan (2005) afirma que, para se viver com uma proposta inclusiva, a escola e seu corpo docente devem se identificar com os princípios de educação especial e sua formação deve ser permanentemente atualizada para poder conhecer cada vez mais seus Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 137 alunos e suas especificidades. Essa formação é, inicialmente, para o próprio professor, pois é por meio dela que ele vai melhorar sua prática. Ela pontua ainda que os professores necessitam dominar e conhecer as peculiaridades de seus alunos, vendo “o quê”, “como” e “para quê” se deve ensinar. Ainda, segundo Caminhos pedagógicos da educação especial (2005, p. 93 apud MANTOAN, 2005, p. 93): Ao nosso ver e inspirados nos projetos que visam uma educação de qualidade para todos, o tratamento das questões relativas ao ensino de pessoas com deficiência na formação geral dos educadores eliminaria, em grande parte, os obstáculos que se interpõem entre a escola regular e esses alunos. Em resumo, a formação única para todos os educadores propiciaria a tão esperada fusão entre a educação especial e a regular, nos sistemas escolares. O investimento na formação de professores se faz caminho para que a educação especial do aluno espectro seja realizada e garantida, subsidiando seu acesso e permanência na escola regular. De acordo com Matos e Mendes (2013), os estudos apresentam a necessidade de estender as propostas formativas ligadas à formação continuada dos educadores e também de repensar os programas oficiais. A busca por formação acontece devido aos movimentos de inclusão e é uma forma de resposta do governo a essa procura, já que cabe ao estado a oferta de ensino de qualidade para todos de forma que a formação possa abranger também os demais profissionais, e não só professores. A Resolução do Conselho Nacional de Educação e da Câmara de Educação Básica n.º 2, de 11 de setembro de 2001, que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação o Básica (DNEE-EB-2001), define em seu art. 18 que: Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas para o funcionamento de suas escolas, a fim de que estas tenham as suficientes condições para elaborar seu projeto pedagógico e possam contar com professores capacitados e especializados, conforme previsto no Artigo 59 da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 138 na modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena. § 3º Os professores especializados em educação especial deverão comprovar: I - formação em cursos de licenciatura em educação especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo concomitante e associado à licenciatura para educação infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental; II - complementação de estudos ou pós-graduação em áreas específicas da educação especial, posterior à licenciatura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio; § 4º Aos professores que já estão exercendo o magistério devem ser oferecidas oportunidades de formação continuada, inclusive em nível de especialização, pelas instâncias educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios n.p. (BRASIL, 2001). Diante de todos os desafios e necessidades com que os professores se deparam, eles devem buscar sua formação continuada e contar com os subsídios das leis LDBEN; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos anos Iniciais do Ensino Fundamental e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, que definem a formação específica do professor e estabelecem que os sistemas de ensino devem assegurar todas as condições para que de fato aconteça a inclusão escolar. Portanto, ao professor sempre devem permanecer as concepções de que com a aplicação de estratégias adequadas a reflexão de sua prática pedagógica é a busca contínua pelo aprendizado acerca do transtorno em questão, assim, é possível que a inclusão e o aprendizado do aluno com TEA aconteça com qualidade e sucesso. Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 139 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo considera que a inclusão escolar do aluno com transtorno do espectro autista (TEA) na Educação Infantil possibilita com que a criança tenha uma melhora significativa na sua vida social e familiar. Durante o processo de inclusão é importante que a escola considere as suas especificidades, garantindo-lhe o acesso, a interação, a tolerância e o respeito. Para o aluno com TEA é importante que a família e os profissionais possam lhe apresentar uma previa do mundo escolar, devido a sua dificuldade em lidar com esse novo mundo, principalmente para os que estão indo pela primeira vez, pois há vários sentimentos, entre eles, a ansiedade, estresse etc. Inicialmente, as novas experiências devem ser apresentadas à criança de forma dirigida, para que aos poucos o desejo de repetir as experiências possa ser agradável e os resultados a serem alcançados possam ser favoráveis. Os desafios do professor são bem maiores, pois precisará dar um tratamento individualizado, fazer um currículo adaptado, investir em recurso para a comunicação e ter um envolvimento com a família, entre outros. Ao se pensar na educação desse aluno é importante pensar primeiro que o aprendizado deve ser agradável a ele. Em segundo, que a criança possa identificar seus diferentes estímulos. Essa estimulação pode acontecer através do PECS (sistema de comunicação através da troca de figuras), que procura estimular a criança com TEA na comunicação e facilitar sua interação com o meio. Pode-se, também, fazer uso do método TEACCH, que avalia a criança observando seus pontos fortes e suas maiores dificuldades, e do ABA, que tem por objetivo ensinar à criança habilidades que ainda não possui. Para o processo de aprendizagem do aluno é muito importante que o professor defina objetivos específicos para que consiga identificar se houve alguma evolução. O uso de estratégias pode ajudar a diminuir as dificuldades em sala de aula. Entre as estratégias utilizadas para ajudar a criança está o uso de dicas, como, por exemplo, pegar na mão, ajudando-o no movimento; tocar o braço, Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016 140 indicando a direção; e apontar para ele o que deve fazer. Assim, conforme o aluno mostra independência, ou seja, é capaz de fazer atividades sem ajuda, significa que aprendeu as habilidades ensinadas. Pensando-se na educação da criança com TEA, o professor deve planejar e selecionar as atividades propostas para que sua autonomia e necessidades básicas sejam desenvolvidas e atendidas. O investimento na formação de professores constitui um caminho fundamental para que a educação especial do aluno com TEA seja realizada e garantida, subsidiando seu acesso e permanência na escola regular. REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM 5. 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