O aluno com transtorno do espectro autista: inclusão escolar e

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O aluno com transtorno do espectro autista:
inclusão escolar e desafios
Aline Tais da SILVA1
Letícia Helena de Souza SILVA2
Aparecida Helena Ferreira HACHIMINE3
Resumo: Tem havido um crescente aumento da inclusão de alunos público-alvo
da educação especial nas escolas. Esse tema é importante para profissionais da
área da educação que visam aprofundar conhecimentos no campo da educação
especial. O objetivo do presente estudo é compreender como estimular uma
criança autista na Educação Infantil e a sua aprendizagem a partir das estimulações. A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a pesquisa
bibliográfica. Autismo se caracteriza por desvios qualitativos na comunicação e
interação social. Visto que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação
Básica, é importante que a criança com TEA também passe por ela, assim, o
investimento na formação de professores é um caminho fundamental para que a
vida social e familiar dessa criança seja melhorada. Devido à carência da formação inicial e continuada de profissionais, pouco se sabe sobre o desenvolvimento
das crianças com TEA. Assim, esse tema tem sido relevante para estudo e para
pedagogos que gostariam de conhecer a respeito do assunto.
Palavras-chave: Educação. Autista. Inclusão. Formação. Docente.
1
Aline Tais da Silva. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail:
<[email protected]>.
2
Letícia Helena de Souza Silva. Graduada em Pedagogia pelo Claretiano – Centro Universitário.
E-mail: <[email protected]>.
3
Aparecida Helena Ferreira Hachimine. Mestra em Educação pelo Centro Universitário Moura
Lacerda – CUML, Especialista em Informática na Educação pela Universidade Federal de Lavras –
UFLA, especialista em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão pelo Claretiano
– Centro Universitário e graduada em Análise de Sistemas pela Universidade de Ribeirão Preto –
UNAERP. Atua como docente do Claretiano – Centro Universitário nos cursos de Graduação e Pósgraduação, na Educação Presencial e a Distância. E-mail: <[email protected]>.
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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The student with autistic spectrum disorder:
school inclusion and challenges
Aline Tais da SILVA
Letícia Helena de Souza SILVA
Aparecida Helena Ferreira HACHIMINE
Abstract: With the arrival of students target audience of special education,
was increased the inclusion in schools the theme was important for education
professionals who seek to deepen their knowledge in special education, and
with the autistic students. The objective of this study was to understand how
to stimulate an autistic child in Early Childhood Education, and learning
from stimulations. The methodology used for elaboration of this article was
bibliographic research. The autism is characterized by qualitative deviations in
communication, and social interaction. Since Early Childhood Education is the
first stage of Basic Education is important that the child with ASD also pass
through it, so the investment in teacher training is a fundamental way for social
and family life be improved. Due to lack of initial and continuing training, little
is known about its development, the topic was relevant to study and educators
who would like to know about the subject.
Keywords: Education. Autism. Inclusion. Training. Teacher.
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1.  INTRODUÇÃO
Tendo em vista os alunos público-alvo da educação especial e
o crescente aumento de sua inclusão nas escolas regulares, este estudo é de importância para os profissionais da área da educação que
visam aprofundar seus conhecimentos na área da educação especial
e, mais especificamente, com os alunos que têm autismo.
Devido à carência da formação inicial e a dificuldade para a
formação continuada, pouco ainda se sabe sobre o desenvolvimento da criança autista na Educação Infantil, por esse motivo, o tema
é relevante para estudo e também para pedagogos que gostariam de
conhecer mais a respeito do assunto em questão.
Sabe-se que a escola tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança, e o que nos instiga é entender como se dá
o desenvolvimento da criança autista na educação infantil. Muitos
dos professores não sabem como estimulá-los e, de acordo com a
Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2011), há estudos sobre a identificação precoce dos sinais para a identificação
do TEA (Transtorno do Espectro Autista), por isso, quanto antes o
diagnóstico e o tratamento forem iniciados, melhores serão os resultados (SÃO PAULO, 2013).
A possibilidade para se realizar uma pesquisa sobre o tema
proposto é favorável, visto que há um grande número de materiais
disponíveis.
Este tema nos desperta para um novo olhar diante das crianças que passam por um longo caminho até serem diagnosticadas,
tendo em vista que, muitas vezes, os professores apresentam dificuldades em identificá-las e, quando conseguem, não sabem como
trabalhar e quais os estímulos corretos.
O objetivo geral desta pesquisa é compreender como estimular uma criança com autismo na Educação Infantil e como se dá
o processo de aprendizagem dela a partir das estimulações feitas
pelo professor. Deseja-se entender em que nível uma criança com
autismo é capaz de aprender; discutir se ela, quando incluída na
Educação Infantil, se desenvolve melhor e destacar quais contribuiEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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ções do pedagogo são importantes para o seu processo de inclusão
e desenvolvimento.
A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo foi a
pesquisa bibliográfica, por meio de livros impressos e digitais, documentos oficiais do Ministério da Educação e artigos científicos
disponíveis em sites confiáveis.
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros
e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos
seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há
pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes
bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode
ser definida como pesquisas bibliográficas. As pesquisas
sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também
costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente mediante fontes bibliográficas (GIL, 2002, p. 44).
Nesse sentido, esta pesquisa bibliográfica se encontra fundamentada teoricamente a partir das contribuições de autores renomados na área da Educação Especial que abordam o tema, tais como:
Mello (2007), Belsário Filho (2010) e São Paulo (2005, 2013).
O trabalho está dividido em três tópicos: Transtorno do Espectro Autista: definição e caracterização; A Inclusão do Aluno com
TEA na Educação Infantil; e Os Desafios do Professor na Inclusão
do Aluno com TEA.
2.  TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO
Segundo Mello (2007, p. 11):
Autismo é uma síndrome definida por alterações presentes
desde idades muito precoces, tipicamente antes dos três
anos de idade, e que se caracteriza por desvios qualitativos
na comunicação, na interação social e no uso da imaginação.
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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A criança autista apresenta várias características estereotipadas, como o contato visual, gestos, falta de interação com as pessoas, estresse, entre outros. O grau do Transtorno do Espectro Autista
(TEA) varia muito de criança para criança, uns são mais leves e
outros são mais agravados (MELLO, 2007).
De acordo com o Autismo & Realidade – Manual para as
Escolas (2015), a criança com TEA apresenta um déficit no desenvolvimento social, comportamental e da linguagem e, por isso,
possui a dificuldade de interação. Porém, os alunos com o Transtorno do Espectro Autista têm algumas habilidades, como o excesso
de detalhamento, seja visual ou sensorial, facilidade em entender
algum conceito, habilidades artísticas, capacidades de resolução de
problemas, entre outros.
Para Mello (2007), independentemente do nível cognitivo,
a criança com o Transtorno do Espectro Autista tem dificuldades
com conceitos linguísticos simbólicos ou abstratos, cada palavra
significa apenas uma coisa, para eles é mais fácil entender fatos ou
conceitos isolados do que quando agrupados ou ligados a outros
significados.
Muitos autistas podem apresentar níveis altos de ansiedade.
Geralmente, quando acontece, a ansiedade é causada pelo ambiente, por querer tocar, desenvolver algo ou repetir um padrão comportamental estabelecido (AUTISMO & REALIDADE, 2013).
De acordo com o Autismo & Realidade – Manual para as
Escolas:
É fundamental reconhecer que os desafios sociais no autismo são bidirecionais. Eles podem se manifestar como déficits (como a falta de iniciação social) ou como excessos
(como conversa unilateral de um aluno altamente verbal
com Síndrome de Asperger). Em ambos os casos, a necessidade de apoio e ensino é real. Como em qualquer comportamento social adequado exige a compreensão social.
Alguns indivíduos do espectro parecem altamente sociais,
iniciando a interação social, mas sem reciprocidade por ser
unilateral e autoritária, já que eles são, estão conscientes
de sua incapacidade de se conformar e de ser aceito pelos
outros. Os indivíduos com autismo de alta funcionalidade e com síndrome de Asperger sofrem freqüentemente a
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dor da rejeição e da solidão (AUTISMO & REALIDADE,
2013, p. 47).
As características do TEA variam muito de criança para
criança; é de suma importância que logo que algumas delas forem
apresentadas, a criança seja levada a profissionais da área da educação e da saúde para que o diagnóstico seja fechado com êxito e as
intervenções sejam realizadas, a fim de melhorar a sua vida social,
escolar e pessoal.
A Associação Americana de Psiquiatria (APA) apresenta alguns critérios para o diagnóstico da criança com TEA, em que relaciona algumas características como déficit na interação social e
comunicação e comportamentos e interesses restritos e repetitivos
(APA, 2014).
Há alguns critérios para o diagnóstico do transtorno do espectro autista, que, segundo o DSM 5 (APA, 2014), são:
1. Déficits persistentes na comunicação social e nas interações, clinicamente significativos manifestados por:
déficits persistentes na comunicação não-verbal e verbal utilizada para a interação social; falta de reciprocidade social; incapacidade de desenvolver e manter
relacionamentos com seus pares apropriados ao nível
de desenvolvimento.
2. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos
dois dos seguintes: estereotipias ou comportamentos
verbais estereotipados ou comportamento sensorial
incomum, aderência excessiva à rotinas e padrões de
comportamento ritualizados, interesses restritos.
3. Os sintomas devem estar presentes na primeira infância (mas podem não se manifestar plenamente, até
que as demandas sociais ultrapassem as capacidades
limitadas).
4. Os sintomas causam limitação e prejuízo no funcionamento diário (APA, 2014, p. 91).
Para maior certeza do diagnóstico é importante que a equipe
toda seja consultada, desde médicos a profissionais da educação,
garantindo, assim, olhares diferentes de diversas áreas e eficácia
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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no seu desenvolvimento, pois o TEA não é um transtorno degenerativo, de modo que a aprendizagem e a compreensão continuam se
desenvolvendo no decorrer da vida (APA, 2014, p. 97). Cabe aqui
salientar que os profissionais, bem como os educadores, poderiam
multiplicar o conhecimento sobre o transtorno do espectro autista,
uma vez que a família e até mesmo a sociedade não saiba como
lidar com o autista.
As causas do Transtorno do Espectro Autista ainda são desconhecidas, acredita-se que essa deficiência está ligada a alguma
parte do cérebro relacionada com fatos ocorridos na gestação ou no
momento do parto (MELLO, 2007).
Segundo Mello (2007), o diagnóstico é feito através de uma
avaliação clínica; não existem exames específicos que possam comprovar o transtorno. As crianças autistas podem apresentar indícios
do transtorno antes de um ano e meio, porém, o diagnóstico pode
ser concluído apenas entre os dois anos e dois anos e meio. Quando
o diagnóstico é realizado precocemente, as mediações podem obter
maior garantia de sucesso e facilitar sua interação social.
Pereira et al. (2015) apontam que, para fechar um diagnóstico, buscam-se critérios clínicos por meio de profissionais, dentre
eles, os médicos, psiquiatras e neuropsiquiatras, que se apoiam nos
relatos dos pais ou responsáveis sobre o desenvolvimento da criança e se baseiam em outras avaliações, como a de psicólogos e psicopedagogos. Assim, para excluir outras hipóteses de diagnóstico,
são feitos exames laboratoriais e por imagem, contudo, o diagnóstico é eminentemente clínico (SCHWARTZMAN, 2011). Quando
o diagnóstico médico é fechado, a criança com TEA necessita de
auxílio multidisciplinar, para que se possa contribuir com o seu desenvolvimento biopsicossocial.
5.  A INCLUSÃO DO ALUNO COM TEA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Visto que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação
Básica, é importante que a criança com TEA também passe por ela
para que sua vida social e familiar seja melhorada.
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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De acordo com Pereira et al. (2015), para que a inclusão escolar se efetive, primeiramente, é preciso que a criança tenha acesso
a escola regular, que é assegurada pela lei. No ano de 2012, houve
a promulgação da lei 12.764, o primeiro documento oficial a falar
sobre a criança com TEA. Nessa mesma lei é apresentada a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
Espectro Autista.
Entre os direitos das pessoas com TEA está o acesso à educação, que é direito da criança com TEA e está assegurado pela lei nº
12.764, de 27 de dezembro de 2012, que criou a Política Nacional
de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista.
Art. 3º. São direitos da pessoa com transtorno do espectro
autista: I – a vida digna, a integridade física e moral, o livre
desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer; II – a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; III – o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à
atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo: a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo;
b) o atendimento multiprofissional;
c) a nutrição adequada e a terapia nutricional;
d) os medicamentos;
e) informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento; IV – o acesso: a) à educação e ao ensino profissionalizante;
b) à moradia, inclusive à residência protegida;
c) ao mercado de trabalho;
d) à previdência social e à assistência social. (BRASIL,
2012, p. 2).
Assim, a Cartilha Direito das Pessoas com Autismo (2011)
e a lei n° 12.764, de 27 de dezembro de 2012, deixam claro que
os alunos com TEA têm os mesmos diretos que são assegurados a
todos os outros alunos.
Em se tratando dos direitos, o art. 54 do ECA diz que é obrigação do Estado garantir atendimento educacional especializado às
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pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, garantindo seu pleno desenvolvimento e preparo para o exercício da cidadania. O documento Cartilha dos Direitos da Pessoa com
Autismo (2011) esclarece que o atendimento educacional especializado é um conjunto de recursos pedagógicos e de acessibilidade
organizados institucionalmente para que o serviço prestado possa
ser complementar ou suplementar ao ensino regular.
Para Brasil (2013, p. 3 apud PEREIRA et al., 2015, p. 198), a
resolução n.° 4/2009 indica:
Em se tratando do Plano do AEE, a Resolução n.º 4/2009
indica que este deve ser elaborado e executado pelo professor do AEE em articulação com os professores do ensino regular, da família e de diversos outros profissionais,
como terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas, entre outros. “Este plano deve ter o objetivo de eliminar barreiras
de aprendizagem”.
Portanto, o atendimento educacional especializado não pode
ser confundido com um simples reforço, pois o seu real objetivo
é formar um núcleo de apoio que auxilie no desenvolvimento da
criança com TEA. Quando falamos do AEE, Barbosa et al. (2015
apud LAZZERI, 2010, p. 33) afirma que as atividades realizadas
no AEE para estudantes com TEA “[...] devem ser diversificadas,
criativas e instigadoras de outras possibilidades de aprendizado diferentes das utilizadas em sala regular”. Seu objetivo é potencializar toda a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes que
possa favorecer a inclusão escolar da criança com transtorno do
espectro autista.
Segundo a Cartilha dos Direitos da Pessoa com Autismo
(2011), a inclusão escolar é:
É uma política que busca perceber e atender às necessidades educativas especiais de todos os alunos, em salas de
aulas comuns, em um sistema regular de ensino, de forma
a promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. Na proposta de educação inclusiva todos os
alunos devem ter a possibilidade de integrar-se ao ensino
regular, mesmo aqueles com deficiências ou transtornos
de comportamento, de preferência sem defasagem idade-série. A escola, segundo essa proposta, deverá adaptar-se
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para atender às necessidades destes alunos inseridos em
classes regulares. Portanto, requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na formação dos professores e nas relações família-escola (SÃO
PAULO, 2011, p. 11).
Durante a fase do processo de inclusão, é importante que a
escola considere as especificidades de cada aluno seja ele público-alvo da educação especial ou não, garantindo o acesso, a interação,
tolerância e respeito às diferenças.
O Manual para as Escolas Autismo & Realidade (2010) aponta que cabe ao professor conhecer o aluno e, se possível, questionar
a família sobre a rotina, gostos e preferências, o que assusta ou
mais irrita o aluno com TEA e se ele possui alguma habilidade (por
exemplo: desenhar, pintar, nadar). Essa interação entre escola e família na pré-inclusão do aluno com TEA se faz necessária e é de
extrema importância, já que o aluno da Educação Infantil necessita
de maiores cuidados. Esse questionamento permite pensar em atividades voltadas para esse aluno, fazendo com que ele se sinta mais
à vontade em um ambiente novo e desconhecido por ele.
Para Cunha (2008, p. 85), é indispensável que o professor invista “[...] tempo no conhecimento desse aluno através do cotidiano
escolar para que se possa estabelecer as estratégias pedagógicas e
reconhecer as possibilidades de aprendizado”. Sendo assim, a escola precisa compreender as especificidades de cada aluno, em especial a do espectro, para que cada tipo de intervenção seja adequado.
Baseado no documento Cartilha – Autismo & Realidade
(2010), é importante para o aluno com TEA que a família e os profissionais que trabalham com a criança possam apresentar a ele uma
previa do mundo escolar, pois esse novo mundo é muito difícil para
esses alunos, principalmente para os que estão indo pela primeira
vez. Há vários sentimentos, entre eles a ansiedade e o estresse, que
geralmente acontecem com a mudança de sala, professor, escola,
por esse motivo, quando há uma preparação entre a escola e a família antes, a probabilidade de adaptação dar certo é muito maior.
Brasil (2004) evidencia que a inclusão da criança com TEA
na creche deve ser planejada cuidadosamente devido a suas difiEducação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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culdades, porém, as suas limitações são as mesmas colocadas pela
própria instituição, por isso, é importante que se use todos os recursos disponíveis.
Quando falamos em inclusão da criança com TEA na Educação Infantil, não podemos nos esquecer da questão lúdica. O documento oficial Brasil (2004, p. 16) deixa claro que “[...] Devemos ter
em mente, sempre que estamos falando de crianças, que a dimensão
lúdica tem de ser seu espaço [...]”. Assim, cabe ao professor conduzir todas as interações e questões lúdicas para que de fato a criança
se desenvolva.
Brasil (2004, p. 16) refere-se à dimensão lúdica:
A experiência do brincar deve ser oferecida a criança inicialmente de forma estruturada e dirigida para que, por
meio dessa experiência, ela possa, aos poucos, estabelecer
relações de causa e conseqüência que resultem no desejo
de repetir experiências cujos resultados lhe tenham sido
agradáveis e que não teria tido por iniciativa própria.
Assim, o professor deve compreender que as experiências lúdicas são de extrema importância nessa faixa etária, em especial
para o aluno com TEA, pois a criança adquire conhecimento de
mundo e desenvolve diversas habilidades.
6.  OS DESAFIOS DO PROFESSOR NA INCLUSÃO DO
ALUNO COM TEA
Para o professor que tem um aluno com TEA os desafios são
bem maiores do que aquele professor que não tem aluno de inclusão, pois precisará dar um tratamento individualizado, fazer um
currículo adaptado, investir em recurso para a comunicação e ter
um envolvimento com a família. É necessário que o professor, ao
elaborar um plano de ensino, considere as especificidades de cada
aluno, sobre o espectro e suas habilidades.
Segundo Mello (2007, p. 11), “O primeiro ponto importante
é tornar o aprendizado agradável para a criança. O segundo ponto
é ensinar a criança a identificar os diferentes estímulos”, assim, o
professor pode usar o PECS (sistema de comunicação através da
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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troca de figuras), que visa estimular a criança com TEA na comunicação, facilitando a sua interação com o meio. Não só essa técnica,
assim como outras também são importantes para o seu desenvolvimento. Entre os vários métodos está o TEACCH, que avalia a
criança levando em conta os pontos fortes e suas maiores dificuldades; ABA, visa ensinar à criança habilidades que não possui; e o
PECS, que estimula a comunicação através das trocas de figuras.
De acordo com Pernambuco (2015, p. 24):
O tratamento do TEA deve ser intensivo, estruturado e
abrangente, incluindo a família e vários profissionais.
Dessa forma, diz-se que o tratamento é multiprofissional,
pois as pessoas com TEA precisam de estimulação e treinamento em mais de uma área do desenvolvimento, como
linguagem, habilidades sociais, aprendizado, motricidade
e coordenação, aprendizado, dentre outras.
O professor deve recorrer aos vários profissionais que atuam
com a criança com TEA, para que juntos possam chegar aos objetivos esperados, garantir seu desenvolvimento e atender ao aluno
TEA que possui grande complexidade em seu transtorno.
Sendo assim, o professor deve procurar criar um ambiente
estruturado que envolva e motive seus alunos. A estruturação das
atividades permite que os alunos compreendam a sequência do trabalho realizado e sinta-se parte da aula (PERNAMBUCO, 2015).
Há vários desafios para o professor que for receber um aluno
com TEA, desde a preparação da sala até os materiais pedagógicos
que serão utilizados. No entanto, quando se fala em uma preparação dos alunos que vão receber esse colega, não é aconselhável expor a criança, porque isso poderá acarretar um processo de exclusão
por parte dos outros alunos (BRASIL, 2004).
O professor precisa ter em mente as adaptações dentro da sala
e no currículo; estratégias para estimulação, organização entre outros. Segundo o documento oficial Brasil (2004), o professor deve
estar atento a alguns detalhes, como: colocar o aluno sempre na
primeira fileira; falar seu nome várias vezes; devido à dificuldade
de memorização e organização de suas responsabilidades, disponibilizar a ele um roteiro de organização – nesse caso, em forma
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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de foto é indispensável; garantir a segurança do aluno, pois se o
professor não tiver o controle da situação e não falar várias vezes
o nome do aluno, podem haver problemas de comportamento que
comprometerão o seu aprendizado; se o espectro apresentar alguma
estereotipia, o professor deve tirar o foco do aluno, ou seja, fazer
com que volte a prestar atenção no que estava fazendo.
O professor é muito importante para o processo de aprendizagem do aluno, pois ele define objetivos específicos que são pré-requisitos no momento de identificar se houve alguma evolução
(AUTISMO & REALIDADE, 2013). Utilizar-se de algumas estratégias ajuda muito e diminui consideravelmente as dificuldades em
sala de aula. Entre as estratégias utilizadas para ajudar a criança,
está o uso de dicas, como, por exemplo: pegar na mão, ajudando-o no movimento; tocar o braço, indicando a direção; apontar para
ele o que deve fazer, entre outras. Assim, conforme o aluno mostra
independência, ou seja, é capaz de fazer atividades sem ajuda, significa que aprendeu as habilidades ensinadas.
É importante ainda observar que ao se pensar nas atividades
propostas, alguns pontos devem ser colocados, tais como:
- a independência é um aprendizado, já que esse aluno
tem muita dificuldade em fazer escolhas. Mesmo as atividades independentes, durante muito tempo, devem ser
dirigidas, isto é, o aluno deve aprender a fazer atividades
sozinho, mas elas devem ser colocadas em uma rotina de
trabalho. Se deixarmos a criança escolher, provavelmente
ficará andando pela sala sem ocupar-se com uma atividade
produtiva;
- as atividades devem ser selecionadas para atender a dois
objetivos: independência – neste caso, a atividade selecionada deve ser possível de ser executada facilmente pela
criança, sem ajuda, com apoio apenas da organização dos
materiais; aprendizado – neste caso, aluno e professor se
sentam frente a frente para que o professor possa ensiná-lo;
- as atividades propostas devem ser muito curtas no início, pois a resistência ao tempo de trabalho faz parte do
aprendizado;
- cuidado para que a atividade proposta não contenha mais
de uma proposta nova por vez;
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- as atividades devem ser organizadas de forma a comunicar visualmente;
- no início, a criança nunca deve desfazer um trabalho que
acabou de fazer;
- lembrar sempre que, se for ensinar uma nova rotina a uma
criança, deve escolher uma atividade muito fácil para que
você e ela possam concentrar-se na rotina;
- a atividade deve ser feita sempre no mesmo sentido da
escrita, ou seja, da esquerda para a direita e/ou de cima
para baixo. Deve-se ter um cuidado especial na situação
de aprendizado para não alterar essa ordem. Isso é apenas
uma convenção para simplificar as atividades para o aluno
(BRASIL, 2004, p. 31-32).
Os professores devem planejar e selecionar bem todas as atividades propostas, pois o aluno não possui autonomia suficiente
para aprender por meio da exploração e também para que as necessidades básicas da criança com TEA sejam atendidas. Portanto,
todas as atividades propostas devem priorizar o aprendizado e o
desenvolvimento da independência, ou seja, sua autonomia.
Matos e Mendes (2013) apontam que os professores são desafiados a construir saberes capazes de responder às demandas do
cotidiano escolar relacionadas à convivência e aprendizagem na
diversidade, assim, a inclusão escolar passa a ser defendida como
“[...] uma proposta de aplicação prática no campo da educação de
um movimento mundial denominado inclusão social” (MENDES,
2006, p. 395 apud MATOS; MENDES, 2013, p. 39). Para que uma
sociedade seja inclusiva, é preciso que o estado seja democrático e
que a educação especial seja parte integrante e fundamental dele.
Dessa forma, a inclusão e suas práticas são defendidas por muitos países, o que nos leva a perceber a necessidade de se repensar
no currículo, nos modos de avaliação, na formação continuada dos
professores, nas estruturas físicas das escolas e na adesão de uma
política educacional mais igualitária.
Mantoan (2005) afirma que, para se viver com uma proposta
inclusiva, a escola e seu corpo docente devem se identificar com
os princípios de educação especial e sua formação deve ser permanentemente atualizada para poder conhecer cada vez mais seus
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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alunos e suas especificidades. Essa formação é, inicialmente, para
o próprio professor, pois é por meio dela que ele vai melhorar sua
prática. Ela pontua ainda que os professores necessitam dominar e
conhecer as peculiaridades de seus alunos, vendo “o quê”, “como”
e “para quê” se deve ensinar.
Ainda, segundo Caminhos pedagógicos da educação especial
(2005, p. 93 apud MANTOAN, 2005, p. 93):
Ao nosso ver e inspirados nos projetos que visam uma educação de qualidade para todos, o tratamento das questões
relativas ao ensino de pessoas com deficiência na formação geral dos educadores eliminaria, em grande parte, os
obstáculos que se interpõem entre a escola regular e esses
alunos. Em resumo, a formação única para todos os educadores propiciaria a tão esperada fusão entre a educação
especial e a regular, nos sistemas escolares.
O investimento na formação de professores se faz caminho
para que a educação especial do aluno espectro seja realizada e
garantida, subsidiando seu acesso e permanência na escola regular.
De acordo com Matos e Mendes (2013), os estudos apresentam a necessidade de estender as propostas formativas ligadas à
formação continuada dos educadores e também de repensar os programas oficiais. A busca por formação acontece devido aos movimentos de inclusão e é uma forma de resposta do governo a essa
procura, já que cabe ao estado a oferta de ensino de qualidade para
todos de forma que a formação possa abranger também os demais
profissionais, e não só professores.
A Resolução do Conselho Nacional de Educação e da Câmara
de Educação Básica n.º 2, de 11 de setembro de 2001, que institui as
Diretrizes Nacionais para a Educação o Básica (DNEE-EB-2001),
define em seu art. 18 que:
Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas
para o funcionamento de suas escolas, a fim de que estas
tenham as suficientes condições para elaborar seu projeto
pedagógico e possam contar com professores capacitados
e especializados, conforme previsto no Artigo 59 da
LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio,
Educação, Batatais, v. 6, n. 3, p. 123-141, jul./dez. 2016
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na modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores da Educação
Básica, em nível superior, curso de licenciatura de
graduação plena.
§ 3º Os professores especializados em educação especial
deverão comprovar:
I - formação em cursos de licenciatura em educação especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo
concomitante e associado à licenciatura para educação infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental;
II - complementação de estudos ou pós-graduação em áreas específicas da educação especial, posterior à licenciatura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação
nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio;
§ 4º Aos professores que já estão exercendo o magistério
devem ser oferecidas oportunidades de formação continuada, inclusive em nível de especialização, pelas instâncias
educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios n.p. (BRASIL, 2001).
Diante de todos os desafios e necessidades com que os professores se deparam, eles devem buscar sua formação continuada
e contar com os subsídios das leis LDBEN; Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos
anos Iniciais do Ensino Fundamental e as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica,
que definem a formação específica do professor e estabelecem que
os sistemas de ensino devem assegurar todas as condições para que
de fato aconteça a inclusão escolar.
Portanto, ao professor sempre devem permanecer as concepções de que com a aplicação de estratégias adequadas a reflexão de
sua prática pedagógica é a busca contínua pelo aprendizado acerca do transtorno em questão, assim, é possível que a inclusão e o
aprendizado do aluno com TEA aconteça com qualidade e sucesso.
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7.  CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo considera que a inclusão escolar do aluno com
transtorno do espectro autista (TEA) na Educação Infantil possibilita com que a criança tenha uma melhora significativa na sua vida
social e familiar. Durante o processo de inclusão é importante que
a escola considere as suas especificidades, garantindo-lhe o acesso,
a interação, a tolerância e o respeito.
Para o aluno com TEA é importante que a família e os profissionais possam lhe apresentar uma previa do mundo escolar, devido
a sua dificuldade em lidar com esse novo mundo, principalmente
para os que estão indo pela primeira vez, pois há vários sentimentos, entre eles, a ansiedade, estresse etc. Inicialmente, as novas experiências devem ser apresentadas à criança de forma dirigida, para
que aos poucos o desejo de repetir as experiências possa ser agradável e os resultados a serem alcançados possam ser favoráveis.
Os desafios do professor são bem maiores, pois precisará dar
um tratamento individualizado, fazer um currículo adaptado, investir em recurso para a comunicação e ter um envolvimento com a
família, entre outros.
Ao se pensar na educação desse aluno é importante pensar
primeiro que o aprendizado deve ser agradável a ele. Em segundo,
que a criança possa identificar seus diferentes estímulos. Essa estimulação pode acontecer através do PECS (sistema de comunicação
através da troca de figuras), que procura estimular a criança com
TEA na comunicação e facilitar sua interação com o meio. Pode-se, também, fazer uso do método TEACCH, que avalia a criança
observando seus pontos fortes e suas maiores dificuldades, e do
ABA, que tem por objetivo ensinar à criança habilidades que ainda
não possui.
Para o processo de aprendizagem do aluno é muito importante que o professor defina objetivos específicos para que consiga
identificar se houve alguma evolução. O uso de estratégias pode
ajudar a diminuir as dificuldades em sala de aula. Entre as estratégias utilizadas para ajudar a criança está o uso de dicas, como, por
exemplo, pegar na mão, ajudando-o no movimento; tocar o braço,
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indicando a direção; e apontar para ele o que deve fazer. Assim,
conforme o aluno mostra independência, ou seja, é capaz de fazer
atividades sem ajuda, significa que aprendeu as habilidades ensinadas.
Pensando-se na educação da criança com TEA, o professor
deve planejar e selecionar as atividades propostas para que sua autonomia e necessidades básicas sejam desenvolvidas e atendidas.
O investimento na formação de professores constitui um caminho fundamental para que a educação especial do aluno com
TEA seja realizada e garantida, subsidiando seu acesso e permanência na escola regular.
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