Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Toledo _________________________________________________________ THAISE FERNANDA DE LIMA MARES A EVASÃO ESCOLAR ENTRE ADOLESCENTES DEPENDENTES QUÍMICOS INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ- CASCAVEL-PR. ________________________________________________________ TOLEDO 2012 THAISE FERNANDA DE LIMA MARES A EVASÃO ESCOLAR ENTRE ADOLESCENTES DEPENDENTES QUÍMICOS INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ-CASCAVEL-PR. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Ms. Carmen Pardo Salata. TOLEDO 2012 THAISE FERNANDA DE LIMA MARES A EVASÃO ESCOLAR ENTRE ADOLESCENTES DEPENDENTES QUÍMICOS INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ- CASCAVEL-PR. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social, Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Orientadora: Ms. Carmen Pardo Salata Universidade Estadual do Oeste do Paraná ___________________________________ Profª Ms. Marcia Sabina Rosa Blum Universidade Estadual do Oeste do Paraná ___________________________________ Profª Dra.Vera Lúcia Martins Universidade Estadual do Oeste do Paraná Toledo, 21 de novembro de 2012. Dedico este trabalho aos sujeitos de minha pesquisa e a todos que colaboraram para sua materialização. AGRADECIMENTOS Aos meus pais, Jurandir e Maria Tereza, por terem me apoiado desde o inicio desta etapa da minha vida e por sempre estarem comigo. Amo muito vocês! Mãe, você fez o possível e o impossível para que um dia o este meu sonho de concluir a faculdade se concretizasse, este sonho tornou-se realidade, serei sempre grata por ter você comigo, obrigado pela compreensão que teve em alguns momentos desta árdua caminhada e por ser essa mãe presente, tão atenciosa e dedicada, te amo! Agradeço a Daia, minha irmã, obrigada por ser minha amiga e me ajudar nos momentos mais difíceis desta longa jornada, te amo muito sua linda. Meus mais sinceros agradecimentos a vocês minha família. Agradeço imensamente à minha orientadora profª Carmen Pardo Salata, obrigada pelas orientações, pela atenção e confiança durante a realização deste trabalho, pela compreensão, disponibilidade. À você minha gratidão e admiração. A todos os professores do curso de Serviço Social que, em maior ou menor grau fizeram parte da história e da concretização da minha graduação. Obrigado mestres! A todos os meus colegas de classe. Todos vocês tem um lugar especial no meu coração. Jamais os esquecerei. A Daniela P. Gund, minha supervisora de Campo no estágio em Serviço Social. Dani, muito obrigada por tudo, por me transmitir de forma admirável seus conhecimentos, você é uma excelente profissional e eu sempre serei muito grata por você ter sido minha supervisora. Também agradeço ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Políticas Sociais e Educacionais (GEPPES). Aos professores: João, Beto, Mônica e Ireni Figueiredo, todos que de alguma forma contribuíram para minha formação profissional. Obrigada! Agradeço. E a Rosangela, muito obrigada pela sua amizade. Aos meus amigos Dani e Alan, que fazem parte da minha vida há muitos anos pessoas que eu tanto amo. Vocês sempre serão meus eternos amigos das tardes de domingo, dos ensaios de dança. À minha amiga dedicada aos estudos e ao meu amigo de infância, ambos estarão sempre em meu coração. Amo muito vocês! Quero agradecer ao pessoal da van, pelos debates, discussões, momentos intelectuais, pelos dias de cento de salgado, mas, principalmente pelas risadas pelos momentos felizes que jamais esquecerei. Muito obrigada! Agradeço também a UNIOESTE por ter me aberto às portas do saber científico. Ao Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) por permitir a realização da pesquisa no âmbito da instituição e aossujeitos da pesquisa por terem se disponibilizado em participar. Sem seus depoimentos não seria possível materializar este TCC. E por fim, agradeço a vocês absolutas (risos), Regi, Duda, Ana, Carol, Carol da Catarina, Jana, Fran, Marina, Gisele e Vanusa (vulgo Denise). Obrigada meninas por estarem comigo, serei sempre grata a todas vocês. Obrigada Fran linda, pelas horas no telefone, pelas festas, divertimentos, companhia e por tudo, te adoro. Ana, minha cantora preferida, obrigada por compartilhar os bons e maus momentos do TCC. Regi, obrigada por ser tão sensata e companheira. Carol, obrigada por estar comigo durante estes quatro anos, por ser uma pessoa queria e justa, adoro você. Jana, obrigado pelas risadas compartilhadas (adoro a sua risada), e pelos momentos intelectuais na van. Duda, obrigada por ser minha mana, você é uma pessoa incrível. Marina, o tempo passa e as coisas mudam, mesmo assim, muito obrigado por ter compartilhado comigo estes quatro anos das nossas vidas. Adoro você! Meninas, obrigada por estarem comigo todo este tempo, é uma honra conviver com vocês. Amo todas! A todos que contribuíram para minha formação profissional, expresso aqui minha eterna gratidão. O que eu vou ser quando crescer? Por que me perguntam tanto, o que eu vou ser quando crescer? O que eles pensam de mim é o que eu queria saber! Gente grande é engraçada! O que eles querem dizer? Pensam que eu não sou nada? Só vou ser quando crescer? Que me venham com essa, pra não perder o latim. Eu sou um monte de coisas e tenho orgulho de mim! Essa pergunta de adulto é a mais chata que há! Por que só quando crescer? Não vou esperar até lá? Eu vou ser quem eu já sou neste momento presente! Vou continuar sendo eu! Vou continuar sendo gente! Pedro Bandeira MARES, Thaise Fernanda de Lima. A Evasão Escolar entre Adolescentes Dependentes Químicos Internados na Ala Psiquiátrica do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. Cascavel-Pr. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus - Toledo, 2012. RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como tema: A evasão escolar entre adolescentes dependentes químicos internados na ala psiquiátrica do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). O objetivo primário é conhecer os motivos gerais que influenciaram no processo de evasão escolar entre os mesmos. Observa-se aqui expressões da questão social, inicialmente o fenômeno da drogadiçãoe a evasão escolar entre estes adolescentes. Para operacionalizar do objetivo geral, foram formulados objetivos secundários que são: verificar qual é o grau de escolaridade e faixa etária dos adolescentes dependentes químicos internados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP). Assim como, compreender como a família, o Estado e as políticas sociais interferem na recuperação de crianças e adolescentes dependentes químicos para seu retorno ao ambiente escolar. Este trabalho está dividido em 3 capítulos e 8subitens sendo eles: 1 A política social da educação , 1.1 O breve contexto histórico da política educacional no Brasil (1960-1990), 1.2 A educação e suas dimensões, 1.3 Políticas sociais e educacionais, 2 Serviço Social, evasão escolar e a dependência química, 2.1 O Serviço Social na educação e evasão escolar, 2.2 A evasão escolar como uma expressão da questão social, 2.3 A dependência de drogas na adolescência e a influência na vida escolar, 2.4 O envolvimento de crianças e adolescentes com o tráfico nas escolas, 2.5 A escola como uma alternativa para a prevenção da dependência química e 3 representação gráfica e análise dos dados coletados da pesquisa de campo- perfil dos adolescentes internados na ala psiquiátrica do HUOP. A pesquisa tem no método de análise histórico-crítico a sua base teórico-metodológica o que permite apreender o movimento contraditório da realidade social. Palavras-chave: Educação; Evasão Escolar; Drogadição. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Gráfico Orçamento Geral da União de 2011 Gráfico 2- Distribuição dos Adolescentes Quanto ao Sexo Gráfico 3 - Distribuição dos Adolescentespor Idade Gráfico 4 - Dados em Relação ao Tempo de Uso de Drogas pelos Adolescentes Gráfico 5 - Distribuição dos Adolescentes Quanto a Composição Familiar Gráfico 6 - Distribuição dos Adolescentes Quanto a Renda Familiar Gráfico 7 - Situação Escolar: Estudando antes do Internamento Gráfico 8 - Situação Escolar: Evasão Escolar por Sexo Gráfico 9 - Situação Escolar: Evasão Escolar por Ano/Série Gráfico 10 - Substâncias Psicoativas Utilizadas por Adolescentes em Situação de Evasão Escolar Gráfico 11 - O Uso De Drogas Foi Anterior a Evasão Escolar LISTA DE SIGLAS BM Banco Mundial CF Constituição Federal CEP Comitê de Ética e Pesquisa CFESS Conselho Federal de Serviço Social CRESS Conselho Regional de Serviço Social ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EJA Educação de Jovens e Adultos EPS Escola Promotora de Saúde HUOP Hospital Universitário do Oeste do Paraná IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação ONG Organização não governamental PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PIB Produto Interno Bruto SPA Substância Psicoativa TCC Trabalho de Conclusão de Curso TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 12 1 A POLÍTICA SOCIAL DA EDUCAÇÃO ..................................................................................... 14 1.1 O BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL (19601990) ................................................................................................................................................. 15 1.2 A EDUCAÇÃO E SUAS DIMENSÕES .................................................................................... 18 1.3 POLÍTICAS SOCIAIS E EDUCACIONAIS.............................................................................. 21 2 SERVIÇO SOCIAL, EVASÃO ESCOLAR E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA ......................... 28 2.1 O SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO E EVASÃO ESCOLAR. .......................................... 28 2.2 A EVASÃO ESCOLAR COMO UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL ..................... 32 2.3 A DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA ADOLESCÊNCIA E A INFLUÊNCIA NA VIDA ESCOLAR......................................................................................................................................... 36 2.4 O ENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM O TRÁFICO NAS ESCOLAS ......................................................................................................................................... 40 2.5 A ESCOLA COMO UMA ALTERNATIVA PARA A PREVENÇÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA ......................................................................................................................................... 43 3 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA PESQUISA DE CAMPO- PERFIL DOS ADOLESCENTES INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HUOP. .................................................................................................................................................. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 60 APÊNDICES ........................................................................................................................................ 64 APÊNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ADOLESCENTES ........................................................................................................................................................... 65 APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO FAMÍLIAS ......... 67 APÊNDICE C - FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA ADOLESCENTES .................................... 69 APÊNDICE D- FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA FAMÍLIAS................................................. 72 ANEXOS .............................................................................................................................................. 74 ANEXO A- APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA - CEP ......................................................... 75 ANEXO B -FICHAS DE CADASTRO PSIQUIATRIA SERVIÇO SOCIAL HUOP .................... 76 12 INTRODUÇÃO O direito à educação pertence a todas as pessoas, independente de cor, sexo, idade, religião, pois todas são portadoras deste direito social, visto que este direito é essencial para o desenvolvimento do ser humano. Contudo, alguns elementos como: a falta de acesso a recursos sociais e econômicos, a escassez de alimentação, o descaso governamental, o ingresso precoce no mercado de trabalho, ou até mesmo a dependência e uso de drogas são fatores que podem dificultar o acesso à escola e induzir ao abandono escolar. Neste sentido, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como tema a evasão escolar entre adolescentes dependentes químicos. O interesse pelo tema surgiu em 2011, durante o desenvolvimento do estágio supervisionado I em Serviço Social, no âmbito do Hospital Universitário do Oeste do ParanáCascavel (HUOP),especificamente no alojamento psiquiátrico, cujos pacientes internados na ala são adolescentes em tratamento de desintoxicação de drogas, que se caracteriza pelo uso indiscriminado de drogas. Entre elas estão a maconha, álcool, cigarro, cocaína, e também o crack. No entanto, o que mais chamou atenção é quando se percebe que grande parte dos pacientes internados no hospital não estavam frequentando a escola, embora todos se encontrem em idade escolar. Deste modo, a pesquisa pretende responder a seguinte problemática: “quais os motivos que influenciam para a evasão escolar de adolescentes dependentes químicos internados no HUOP?”.Para operacionalizar o objetivo geral, foram formulados objetivos secundários que são: verificar qual é o grau de escolaridade e faixa etária dos adolescentes dependentes químicos internados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) e compreender como a família, o Estado e as políticas sociais interferem na recuperação de crianças e adolescentes dependentes químicos para seu retorno ao ambiente escolar. Para efeito de análise de alguns conceitos, este trabalho pretende esclarecer inicialmente a trajetória da Educação no Brasil a partir da década de 1960, com a instituição da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº.4.024/1961). No entanto, a ênfase deste processo histórico se inicia no final da década de 1980 com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente de (ECA), lei nº 8.069 de 1990, assim como, da nova LDB nº 9394/1996 e principalmente na década de 1990. Além disso, abordaremos a política educacional como parte da política social e a questão do direito educacional. 13 Sabe-seda relevância da Educação para o desenvolvimento do ser social, e observam-se aqui expressões da questão social. A primeira é o fenômeno da drogadição entre adolescentes como um fator impeditivo da escolarização, evidenciando, então, uma segunda etapa que é a evasão escolar. Ou seja, a primeira expressão vincula-se e pode criar a segunda. Alguns conceitos serão tratados por serem relevantes como: dependência química ou drogadição, abandono escolar e distorção entre idade-série. Neste contexto, é fundamental apontar o papel que o Serviço Social tem perante estas situações sociais, visto que o abandono escolar e a drogadição são expressões da “questão social” em que o profissional Assistente Social deverá intervir, fundamentando-se em seu Código de Ética, assim como os onze princípios nele estabelecidos. É importante destacar que o ponto de partida para a análise é a situação da garantia dos direitos sociais como forma de consolidar a cidadania dos sujeitos em questão. Finalizando, reitera-se o papel fundamental que a escola, a família, a sociedade, e o Estado desempenham em proporcionar aos adolescentes usuários de drogas o ingresso e a permanência no ambiente escolar. A metodologia utilizada para a realização da pesquisa é de tipo bibliográfica e documental, com abordagem de natureza quantitativa e qualitativa. Neste sentido, a pesquisa de campo foi realizada por meio do levantamento dos dados empíricos coletados, que se constituem de entrevistas semiestruturadas com os adolescentes internados para tratamento da dependência química, na ala psiquiátrica do HUOP e mediante coleta de dados realizados por meio das Fichas de cadastro psiquiatria Serviço Social HUOP. Os sujeitos da pesquisa representam 30% do total, e a escolha é intencional, cujo critério fica estabelecido desta forma: cinco adolescentes entre 12 e 18 anos completos e duas de suas respectivas famílias. O trabalho foi realizado mediante termo de aprovação do Comitê de Ética - CEP (anexo A), por meio de Termo de consentimento livre e esclarecido de (TCLE) dos adolescentes (apêndice A) e TCLE de seus familiares (apêndice B), bem como, por formulários de entrevista semi-estruturada direcionada para os adolescentes (apêndice C) e seus familiares (apêndice D). Por conta do sigilo que se têm em relação às falas dos entrevistados, os mesmos foram identificados da seguinte forma: A1, A2, A3, A4 e A5 para os adolescentes, A6 e A7, para os seus familiares. As entrevistas apresentadas referem-se aos relatos dos sujeitos, são, portanto, suas versões para suas histórias. É importante salientar que as entrevistas foram realizadas por meio de gravador de voz, e após isto foram transcritas tal como a fala dos sujeitos. Deste modo, os relatos dos sete entrevistados da pesquisa estão distribuídas nos 3 (três) capítulos desta pesquisa, como forma de reforçar tanto os relatos dos sujeitos, por meio da fundamentação teórica deste trabalho. 14 1 A POLÍTICA SOCIAL DA EDUCAÇÃO É somente quando o homem se relaciona socialmente que passa a se humanizar e se reconhecer como humanidade. É, portanto, a partir das relações sociais entre seres humanos que o processo educativo se apresenta. Este processo é humanizador, na medida em que o ser humano realiza sua capacidade ontológica1 . De acordo com Tonet (2009), há uma distinção entre animais e seres humanos, pois nós humanos não nascemos predestinados a realizar uma única tarefa para nossa existência, como ocorre com os animais que agem de forma instintiva. No entanto, aos humanos cabe apreender o quê e como fazer, principalmente porque o trabalho implica a teleologia, isto é, uma atividade intencional prévia e a existência de alternativas. Esta ação não é biologicamente pré- determinada, é necessário que seja assumida conscientemente. A partir disso, origina-se, então, a necessidade do processo educativo, visto que este é um processo de aquisição de habilidades, comportamentos, conhecimentos, entre outros, que permitem ao indivíduo agir conscientemente em sua vida social. Este processo educativo ontológico que se apresenta ocorre de maneira informal (sociedade, família, religião), se diferenciando do processo formal que ocorre no âmbito da instituição escola. Segundo Rossi (2008), este pode ser compreendido como “[...] um campo vasto, formal e não formal que realiza a aproximação de diferentes tempos históricos e diferentes culturas, realizando um processo de troca de conhecimento fundamental para o desenvolvimento humano” (p.163). O termo “escola” vem do grego schole, uma schole era um local de aprendizagem ou lazer. “No uso contemporâneo da palavra, uma escola é uma instituição dedicada a propósitos educacionais geralmente para crianças e adolescentes, e via regra associada à fase compulsória da educação” (WINCH; GINGELL, 2007, p.109 grifo do autor). Para Neto (2009), o processo educativo que se dá no ambiente escolar, [...] deve atender a propósitos de valorização interpessoais, de respeito ao semelhante e, identicamente, de desenvolvimento do senso critico, da responsabilidade social, do sentimento participativo, da expressão franca e livre do pensamento, enfim, deve à escola constituir-se em espaço 1 “Somente o trabalho tem como sua essência ontológica, um clarocaráter intermediário: ele é, essencialmente, uma inter-relação entre homem (sociedade) enatureza, tanto inorgânica (utensílio, matéria-prima, objeto do trabalho, etc.) como orgânica, inter-relação que pode até estar situada em pontos determinados da série a que nos referimos, mas antes de mais nada assinala a passagem, no homem que trabalha, do ser meramente biológico ao ser social”(LUKÁCS, 1981,p.2). 15 democrático, propício ao desenvolvimento harmônico do educando em suas diversas necessidades(NETO, 2009 p. 62). 1.1 O BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DA POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL (1960-1990) Em seu contexto histórico, a educação no Brasil vivenciou muitas mudanças, as mesmas têm como base formal as legislações. Neste sentido, o que se pretende refletir brevemente é sobre a política social da educação no Brasil, a partir da década de 1960. Com maior ênfase no final da década de 1980, com a promulgação da Constituição Federal de 1988. A década de 1960, não apresentou grandes inovações no sistema educacional, apesar da promulgação em 1961 da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº. 4.024). A partir de 1964, essa legislação foi alterada por conta da ditadura militar, caracterizada por um Estado repressor que não hesitava em usar da violência contra os cidadãos. A ditadura militar [...] atingiu escola, professores e estudantes, proibindo quaisquer manifestações de caráter político. A consciência cívica e patriótica seria estimulada na população, e a escola seria uma das vias preferidas como espaço para se pregar o ufanismo nacional e o amor à pátria. O panorama de estagnação intelectual instaurado pelo medo e pela ausência de liberdade tornou-se propicio a promulgação de uma lei autoritária, [...] a lei n.5692/71 fixou as novas normas para o ensino de 1º e 2º grau, instituindo, entre outras inovações, a profissionalização obrigatória em todos os cursos do 2º grau. Imposta sem o mínimo debate à sociedade civil [...] (ALMEIDA, 2006, p. 91). Sobre este Regime desencadeou-se um processo de reorientação geral do ensino no país, inicialmente realizado pela lei n.5.540 de 1968, que reformulou todas as modalidades de ensino e o ensino superior, posteriormente reformulado pelalei n.5692/71. Nesse quadro de mudanças estruturais, este processo que se constituiu como resultado de um projeto do governo de integração nacional, foi submetido a uma nova fase de desenvolvimento econômico com a industrialização, conhecida como o “milagre brasileiro”. Esta fase exigia mão de obra qualificada, e, portanto, buscou-se por técnicos de nível médio qualificado para atender a tal crescimento. Assim, o governo optou por dar respostas diferentes às demandas educacionais das classes populares, mas que pudessem convencê-las. “Utilizou- se, então, a via da profissionalização no 2º grau, o que, supostamente, garantiria a inserção no mercado de trabalho” (MOURA, 2010, p. 4, grifo do autor). 16 Neste contexto, o que se percebe é que a escola pública, que interessava exclusivamente ao regime militar, se constituiu neste período como um espaço voltado, principalmente, para o crescimento econômico e da mão de obra para o mercado de trabalho. Em meados da década de 1970 com intensificação ao longo dos anos de 1980, as reformas constituídas pela ditadura militar em relação à situação educacional, em pouco tempo se tornaram alvo da crítica dos educadores que crescentemente se organizavam. A organização dos educadores no período referido pode ser caracterizada por dois vetores distintos: Aquele marcado pela preocupação com significado social e político da educação, do qual decorre a busca de uma escola pública de qualidade, aberta a toda população; e outro marcado pela preocupação com o aspecto econômico – corporativo, portanto de caráter reivindicativo, cuja a expressão mais saliente é dada pelo fenômeno das greves que eclodiram a partir do final dos anos de 1970 ( SAVIANI, 2006, p.45). Nesse contexto, os educadores foram se articulando em movimentos contínuos para impor cada vez mais fortemente as suas exigências. O objetivo era o de modificar por inteiro a estrutura da educação nacional. Desta forma, o primeiro procedimento seria a mudança da legislação em vigor. Esta mudança teve início no fim da década de 1980, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que se deu em decorrência da mobilização popular e dos movimentos sociais. Entre as conquistas que se deram com a Constituição Federal (doravante CF), “[...] podemos mencionar o direito à educação desde o zero ano de idade, a gratuidade do ensino público em todos os níveis, a gestão democrática da educação pública, a autonomia universitária, o acesso ao ensino obrigatório e gratuito como direito público subjetivo” (SAVIANI, 2006, p. 46). Na história constitucional, a educação apresenta-se como um direito social de todos os brasileiros, deste modo, em seu artigo 205, esta é garantida como: Direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2009, p. 58). Como parte desse processo de avanço democrático, dois meses após a promulgação da CF de 1988, deu-se início ao processo de elaboração da nova LDB, processo este que culminou na aprovação da lei n. 9.394 de 1996, que fixou as novas diretrizes e bases da educação nacional. Assim, com a nova LDB foi regulamentado o ensino no país. Em seu primeiro artigo a LDB dispõe que “[...] a educação abrange os processos formativos que se 17 desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (BRASIL, 2010, p.10). Além disso, no artigo segundo do mesmo documento, dispõe sobre a educação sendo, “Dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2010, p.10). Em se tratando da política social de Educação, outro avanço importante foi em relação aos direitos educacionais da infância e da juventude. A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente -ECA- lei 8.069/90, é considerada como um grande avanço social no que tange aos direitos sociais da infância e juventude, além de seus direitos educacionais. O mesmo explicita no seu artigo 53: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-lhes: Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (BRASIL, 2010, p.24). Entre os documentos fundamentais que discorrem sobre o direito à educação, além dos documentos nacionais, estão os internacionais. Entre eles está a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Nela, o direito à Educação está expresso em seu artigo 26°, em que “Toda a pessoa tem direito à educação”. Além disso, a educação deve ser gratuita, pelo menos ao ensino elementar fundamental, sendo este obrigatório. Nesse documento: “A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos humanos e das liberdades fundamentais [...]. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos” (ONU, 1948 s.p). Outro documento fundamental que dispõe sobre o direito à educação é a Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Esta declaração foi resultado da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em 1990 na Tailândia, cujo primeiro objetivo expressa, Cada pessoa - criança, jovem ou adulto - deve estar em condições de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades básicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e atitudes), necessários para que os seres humanos possam sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar 18 com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar decisões fundamentadas e continuar aprendendo (UNESCO, 1990, s.p). É importante destacar também, a responsabilidade do Estado, da família, e também da comunidade, de promover o acesso e permanência à Educação Escolar. A partir da CF de 1988, e, posteriormente, com a regulamentação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, e também do ECA ficou mais claro o papel que o poder público tem diante desta questão, assim, verifica-se a partir do artigo 4º da LDB que, [...] o dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio (BRASIL, 2010, p.12). Como expressa o artigo 5º da mesma lei, parágrafo 1º “Compete aos estados e aos municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União: III – zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola” (BRASIL, 2010, p.13). Assim, a grande transformação em relação à Educação, do regime ditatorial da década de 1960 para o regime democrático em 1988, é que o Estado em conjunto com a família e a sociedade tornou-se o principal garantidor e o responsável pelo direito educacional de seus cidadãos. Este movimento se dá a partir de 1988 com a promulgação da constituição Federal da República Brasileira, pela oferta de uma Educação com qualidade, que garanta a frequência, permanência e manutenção de seus educandos na Escola. Deste modo, essa legislação fundamenta o Estado de direito dos cidadãos brasileiros, pois garante esse direito à todos e o dever do Estado e da família para promovê-la. É, portanto, neste cenário de lutas e de transformações, que está inserida a política educacional no Brasil. Percebe-se assim, o grande avanço que a Constituição Federal representou em relação à Educação. 1.2 A EDUCAÇÃO E SUAS DIMENSÕES O início dos anos 90 consolida a política educacional em duas dimensões, estas são: a dimensão que qualifica o indivíduo como força produtiva para o mercado de trabalho e também uma segunda dimensão, de formação de consciência para o exercício da cidadania. 19 A educação segundo a LDB/96, qualificação para o trabalho e também para o exercício da cidadania. Cidadania esta que envolve um conjunto de direitos e deveres construídos historicamente, conforme aponta o jurista Dalmo Dalari (1984), A noção de cidadania busca expressar a igualdade dos homens em termos de sua vinculação jurídica a um determinado Estado. Não há, portanto, cidadão que não seja cidadão de um Estado. A condição de cidadão está vinculada à legislação do Estado. Portanto, este tem o poder de definir os condicionantes do exercício da cidadania. O cidadão constitui uma criação do Estado que vai modificá-lo a partir de seus interesses (DALARI, 1984, s.p). De fato, a questão da cidadania, é um dos objetivos fundamentais da educação formal, tendo em vista que o ambiente escolar se caracteriza como instrumento básico para o pleno exercício da cidadania e desenvolvimento do educando. Outra questão pertinente para ser refletida é sobre a formação escolar para o trabalho, tendo em vista que não é possível pensar a educação nacional dissociada do modo de produção capitalista. Esse posicionamento está claro nos princípios da Educação, ou seja: XI vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. (LDB/96) Observa-se então que este princípio dá grande relevância à qualificação para o trabalho e para as práticas sociais. A LDB, apesar de assegurar na lei, isto é, artigo 22 “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 2010, p. 23). Na realidade têm priorizado a reprodução econômico social, e esse caráter reprodutivo de educação, não garante uma formação integral para a vida do educando, para que este possa agir de forma crítica e consciente, base para a construção da cidadania plena, autônoma e emancipada. Há, portanto, uma critica a esta formação voltada ao trabalho, às exigências do mercado e do modo de produção capitalista. Visto que a mesma não possui uma formação humana integral que conforme Mauro (2010), esta formação além de proporcionar o acesso às diversas formas de conhecimento científico e tecnológico construídos pela humanidade, propõe também um pensamento crítico diante da mesma, como forma de compreender as concepções e problemáticas desta. Contribui assim, para o aprimoramento e acumulação de conhecimentos diante da ciência e tecnologia, voltados para interesses coletivos. Nesse contexto, “o humano é capaz de se produzir e se modificar na sua relação com o trabalho, com 20 os demais seres humanos e com a natureza, em um movimento dialético sujeito/objeto” (MAURO, 2010 p.17). Para atender o modo de produção capitalista, a formação humana está baseada em formação de indivíduos flexíveis capazes de atender às demandas impostas pelo mercado de trabalho, neste sentido, fica evidente a imensa distância da perspectiva da formação humana integral. Com relação à esta educação voltada para o mercado de trabalho, um fator relevante é que, apenas os mais “preparados” concluem os estudos e chegam ao mercado de trabalho, pois, grande parte dos indivíduos em situação de pobreza abandonam a escola no ensino fundamental. Este movimento acontece pelo não interesse do Estado para com uma educação de qualidade, ou seja, que forme cidadãos críticos e não alienados. Esta concepção da educação voltada somente para o mercado de trabalho é visível entre os estudantes e foi elucidada por todos os adolescentes sujeitos da pesquisa (Sujeito A1, A2, A3, A4, A5). Estes, encontram-se em situação de abandono escolar e, quando questionados sobre o que a escola representa, os mesmos respondem: É um modo de você conseguir ser alguma coisa, sei lá. Você estuda pra ter uma profissão mais tarde, eu acho importante. (A1). [...] ela serve pra ensinar, por exemplo... Sem a escola a pessoa não pega nenhum serviço profissional, tipo um serviço que a gente pegou que já vem do estudo.( A2). Ela é pra mim estudar, pra ajudar a trabalhar a ser alguma coisa na vida (A3). Serve pra gente se formar em um advogado, delgado, médico, enfermeiro [...] Pra estudar, fazer faculdade e depois se formar (A4). O futuro, representa o futuro, sem a escola eu não vou ser nada no futuro, vou ser ou um mendigo pedindo esmola ouvou trabalhar em um serviço que não ganha nada fichado. (A5) A partir da exposição dessas falas, fica explícita esta visão da educação para o mercado de trabalho, os próprios adolescentes não conseguem ver na instituição escolar algo além da formação para o trabalho e tampouco uma formação integral para a cidadania. Os sujeitos da pesquisa fazem depoimentos de acordo com a atual conjuntura social e econômica, 21 pois diante do processo de globalização do sistema capitalista, a educação passa a ser vista de forma mercantilizada, que tem em vista apenas a obtenção do diploma e do trabalhador em busca do lucro. Neste sentido, a educação perde seu caráter de formação de indivíduos com habilidades, conhecimentos e valores que os tornem capazes de exercer sua cidadania. 1.3 POLÍTICAS SOCIAIS E EDUCACIONAIS Além de um direito social, a educação é uma política social, cuja implementação se dá por meio das ações do próprio Estado. De acordo com Netto (2003), entendemos as políticas sociais como respostas do Estado no período do capitalismo monopolista a demandas postas no movimento social por classes (ou estratos de classe) vulnerabilizadas pela “questão social”. As políticas sociais são mecanismos utilizados pelo Estado, para efetuar e garantir os direitos sociais de seus cidadãos, entre elas estão a saúde, a habitação, a educação, a assistência social, a alimentação e a previdência social. Estas políticas são estratégias utilizadas pelo próprio Estado para intervir e mediar o antagonismo entre a classe trabalhadora e a classe burguesa, Assim como, mediar as relações de produção capitalista causadora das expressões da “questão social”. Para Netto, Este Estado burguês, funcional ao capitalismo dos monopólios, através das políticas sociais, responde às pressões dos segmentos da população afetados pelas várias expressões da “questão social”. No domínio da saúde, da habitação, da educação, da renda, do emprego etc., o foco das políticas sociais recaí sempre sobre uma expressão ou expressões da chamada “questão social”. O Estado apresenta respostas quando os afetados por essas expressões são capazes de exercer, sobre ele, uma pressão organizada. Não basta que haja expressões da “questão social” para que haja política social; é preciso que aqueles afetados pelas suas expressões sejam capazes de mobilização e de organização para demandar a resposta que o Estado oferece através da política social. (NETTO, 2001, p. 15; 16). O Estado, portanto, se antecipa frequentemente às pressões da classe trabalhadora, antes que estas pressões formem uma organização mobilizadora na luta por direitos. O Estado estrategicamente tem se antecipado, na busca por respostas que neutralizem e deem solução às demanda existentes na classe trabalhadora, antes que esta possa agir de forma a transformar sua realidade social e o sistema econômico vigente. Assim sendo, o Estado torna-se o principal implementador das políticas sociais, com o objetivo primordial de amenizar os conflitos existentes entre burguesia e proletariado. Historicamente, “a política Social aparece no capitalismo a partir das mobilizações operárias sucedidas ao longo das primeiras revoluções industriais” (VIEIRA, 1992, p.19). A 22 política social surge, portanto, na segunda metade do século XIX e início do século XX como resposta à exploração sofrida pela classe trabalhadora ao longo das primeiras revoluções industriais. De acordo com Behring (2009), as políticas sociais aparecem no contexto do liberalismo, esta lógica funda-se na procura do interesse próprio dos indivíduos, estes que devem ser conduzidos pelo mercado, sendo o Estado quem deve fornecer base legal para o bom funcionamento da economia, caracterizando-se, portanto, como um “Estado Mínimo”. O enfraquecimento do liberalismo se deu por motivos diversos, entre eles a crise de 1929/1932. Esta foi a maior crise econômica mundial do capitalismo até aquele momento. Uma crise que iniciou no sistema financeiro americano, a partir do dia 24 de outubro de 1929, quando a história registrou o primeiro dia de pânico na bolsa de Nova Iorque e se alastrou pelo mundo, reduzindo o comércio mundial a um terço do que era antes (BEHRING; SANTOS, 2009, p.306/307). A crise de 1929, teve início nos Estados Unidos e instaurou certa desconfiança em relação aos pressupostos liberais. Assim, como resposta a estes acontecimentos, utilizou-se em 1936 a teoria geral de Keynes, que, segundo ele, “cabe ao Estado o papel de reestabelecer o equilíbrio econômico, por meio de uma política fiscal, creditícia de gastos, realizando investimentos ou inversões reais que atuem nos períodos de depressão” (BEHRING; SANTOS, 2009, p.307/308). Ao keynesinismo vinculou-se também o fordismo, que predominou após a segunda guerra mundial até o início dos anos de 1970. Segundo Behring e Santos (2009), é neste período também que as políticas sociais têm seu ápice, com o surgimento do chamado WelfareStateou Estado de Bem-Estar Social que representa o advento das políticas sociais. Seu desenvolvimento está fundamentado no processo de industrialização e nos problemas sociais gerados após os anos de1945. É neste momento que o Estado passa a ser conhecido como Estado-Providencial “[...] este Estado garante o mínimo de renda, alimentação, saúde, habitação, educação, assegurando a todo cidadão, não como caridade, mas como direito político” (WILENSKY, p.416, apud VIEIRA 1992, p.20). No entanto, ainda na década de 1970, - devido a inúmeros empecilhos da expansão das atividades estatais - surge a “crise do Estado” ou “crise do Estado-Providencial”. Esta crise tem tido sua manutenção por aqueles que pretendem diminuir ou desparecer definitivamente com as atividades do Estado diante do modo de produção capitalista. Estes caracterizam a crise como consequência do grande aumento na intervenção do Estado, principalmente, no que se refere as políticas sociais. Há a busca por um Estado que intervenha minimamente, portanto este seria: 23 [...] o ‘Estado restrito’ ou o ‘Estado Mínimo’ ou, se se quiser, o ‘Estado diminuto’ ou até mesmo a doutrina da ‘Sociedade sem Estado’ nas teorias capitalistas denunciam pelo avesso o que o Estado capitalista nunca deixou de fazer: a intervenção na economia e na sociedade(VIEIRA, 1992, p. 93). Desta forma, o que se propõe como solução da crise do Estado, é a retomada do padrão liberal, agora denominado neoliberalismo. É neste momento específico da história que o desemprego cresce e não há a geração de postos de trabalho em número suficiente para atender à demanda de trabalhadores. As transformações e estratégias que decorrem do neoliberalismo para as políticas sociais são inúmeras, entre elas destacam-se a universalidade dos direitos sociais, através da “focalização” das políticas sociais que, de acordo com Soares (2003), este é um meio de direcionar os serviços sociais aos “comprovadamente pobres” e, concomitantemente, diminuir os gastos sociais. No neoliberalismo, esta intervenção do Estado fica cada vez mais fragmentada, focalizada com ações paliativas que resolvam a situação de imediato. Outras transformações que se dão por meio do ideário neoliberal é a “flexibilização” do trabalhador e a “terceirização” do trabalho que amplia a contratação dos serviços privados para atuar na rede pública. Ainda de acordo com Soares (2003), restam duas estratégias do ideário neoliberal para as políticas sociais: a descentralização e a privatização geralmente articuladas entre si. Com a descentralização, observam-se limitados avanços relacionados à equidade de acesso a serviços como a educação e saúde, além disso, a descentralização é uma fonte importante para a corrupção e perda de controle fiscal. Por fim, a privatização dos serviços sociais corresponde ao alto grau de mercantilização dos bens sociais, submetido à lógica dos bens materiais e, portanto, do lucro. Assim, observa-se este processo de privatização de diversas maneiras: seja pela concentração direta de serviços privados, seja pela própria mercantilização do aparato público através de “mecanismo de gestão”de natureza privada e da possibilidade de cobrança dos usuários pelos bens sociais ( SOARES, 2003, p.33). A adoção da privatização como forma de efetivação das diferentes modalidades de política social - entre elas a política educacional - é resultado da organização de empresas capitalistas de prestação de serviços sociais para as quais o Estado repassa os recursos públicos. “Reedita-se aqui, no seio da própria política social, o mecanismo básico de 24 funcionamento da economia capitalista: a apropriação privada dos bens produzidos socialmente” (SAVIANI, 2007, p. 228). No que se refere ao papel do Estado frente ao neoliberalismo, este deve principalmente garantir que o mercado tenha um bom funcionamento, agindo como um regulador e facilitador do desenvolvimento do padrão neoliberal promovido pelo mercado. Quanto às políticas sociais, a expressão “Estado Mínimo” é adequada, uma vez que o Estado diminui sua responsabilidade de promover políticas que assegurem o bem estar social dos seus cidadãos. Constata-se, portanto, que em decorrência da determinação estrutural do capitalismo há uma separação entre política econômica e política social e a subordinação desta àquela. E assim, “em consequência, do montante de recursos manipulados pelo poder público, a parcela destinada ao setor social tenderá a ser sempre inferior àquelas destinadas aos demais setores.” (SAVIANI, 2007, p. 227). De acordo com Deitos (2010), no que diz respeito à distribuição da riqueza produzida no Brasil, o orçamento estatal tem aumentado. Contudo, a parcela deste orçamento destinado às políticas sociais é significativamente pequena em relação ao que se destina aos setores econômicos hegemônicos. Assim, as mediações das políticas sociais por parte do Estado capitalista estão diretamente condicionadas aos interesses hegemônicos. Deste modo, embora o discurso político propague o intuito de aumentar o investimento em educação, o que se percebe é a prioridade do apoio ao setor econômico e do pagamento da dívida externa. Conforme o gráfico abaixo, é possível verificar qual foi o Orçamento Geral da União no ano de 2011: 25 GRÁFICO 1: Orçamento Geral Da União De 2011 Fonte: Auditoria da dívida cidadã, 2011. Verifica-se no gráfico do Orçamento Geral da União de 2011, que de 1,571 Trilhão, R$ 708 bilhões destinou-se para o pagamento de juros e a extinção gradual da dívida pública federal. Valor este que representa 45% dos recursos do orçamento. No entanto, por outro lado, o que percebemos é que, de fato, o pouco investimento nas políticas sociais e dentre elas a política educacional para qual são destinados apenas 3% do Produto interno bruto (PIB) à Educação. Para alguns teóricos: [...] uma grande parcela da população nacional tem sido historicamente excluída de participação na ordem capitalista, política e social existente. Isso significa que, mesmo depois de a produção do país ter atingido um alto grau de crescimento e satisfação, típico de uma economia capitalista moderna, a sequela legada pelo “desenvolvimento” subordinado o impede de reter e distribuir a riqueza que produz (XAVIER, 1990, p. 53). “Constata-se, assim, que a ‘política social’ é uma expressão típica da sociedade capitalista, que a produz como um antídoto para compensar o caráter anti-social da economia própria dessa sociedade” (SAVIANI, 2007, p.228). No que se refere a política educacional no 26 conjunto das políticas sociais, de acordo com Saviani, “[...] a defesa do ensino público e gratuito e a reivindicação por mais verbas para a educação constituem um aspecto de luta pela valorização da política social em relação à política econômica” (Idem, Ibdem, p. 230). Embora a política social seja necessária neste padrão de acumulação, não há políticas sociais que resolvam ou garantam com plenitude os direitos sociais de seus cidadãos, visto que o Estado necessita intervir junto aos conflitos sociais e no aumento do consumo, para a intensificação das atividades econômicas do país. Diante do padrão neoliberal, as políticas sociais não tendem a acabar com as desigualdades sociais, mas sim, mediar a relação do trabalhador que é explorado e do capitalista que o explora. Desta forma, o principal objetivo deste novo padrão é administrar os conflitos causados pelas desigualdades sociais. Como menciona Bianchetti (2001), atribui-se às causas das desigualdades sociais a sorte e não as condições estruturais da sociedade. Neste padrão de acumulação, o êxito ou o fracasso são atribuídos ao próprio indivíduo, assim, as desigualdades no neoliberalismo passam a ser naturais, e, portanto, a igualdade não existe, pois vai contra esta natureza, pois, A partir da “naturalização” das desigualdades, o modelo devolve o conflito para o seio de uma sociedade fragmentada, onde os “atores” se individualizam ao mesmo tempo em que os sujeitos coletivos perdem identidade. Muda, portanto, a orientação da política social: nem consumos coletivos nem direitos sociais, senão que assistência focalizada para aqueles com “menor capacidade de pressão” ou os mais “humildes” ou ainda, os mais “pobres”. Dessa forma, o Estado neoliberal ou de “Mau-Estar” inclui, por definição, uma feição assistencialista (legitimação) como contrapartida de um mercado “livre” (acumulação) (SOARES, 2002, p.73). Quanto ao contexto das desigualdades na educação, em nome do multiculturalismo e dos desiguais, será promovida uma educação que os manterá em desvantagem frente às classes favorecidas. Tal característica é própria do capitalismo, caracterizado por um antagonismo entre as classes burguesa e trabalhadora, em que a primeira busca suprir seus interesses individuais e a segunda sofre com as consequências desastrosas impostas pela classe hegemônica. No neoliberalismo, as políticas educacionais são compreendidas como constituintes das políticas sociais. Desta forma, percebe-se cada vez mais que as estratégias deste ideário burguês recaem também sobre o sistema educacional, primeiramente com a flexibilização do trabalhador, em que a formação educacional está cada vez mais voltada para o mercado de trabalho e não para a cidadania e/ou autonomia do indivíduo. Assim, o discurso em torno do 27 desenvolvimento de competências se faz cada vez mais contundente. Outra estratégia neoliberal que rebate diretamente na educação, é a descentralização da responsabilidade de cada esfera do Estado pelos níveis educacionais. De acordo com o artigo 8 da LDB, “a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino” (BRASIL, 2010, p.15). Por fim, a privatização dos serviços sociais, que recaem também sobre a política educacional, entende-se que quando o ensino no país é privatizado, o Estado é desobrigado a manter odireito à educação. Assim, Estado deixa de ser o responsável por promover determinados direitos sociais. Para Soares (2003), este movimento é próprio da ideologia neoliberal que produz um retrocesso histórico, no que diz respeito à origem do bem estarsocial, que sai do terreno do coletivo e passa para o âmbito do privado. De acordo com essa visão, caberia às pessoas e às comunidades encontrarem suas próprias soluções para os problemas sociais. Ou seja, as pessoas, as famílias e as “comunidades” devem responsabilizar-se pelos seus problemas sociais, tanto pelas causas como pelas soluções. Assim, embora a educação seja um direito social garantido em lei, o qual o principal promotor deve ser o Estado em parceria com a família e a sociedade, isto não garante a efetivação deste direito. Aparentemente o que se vê é que garantir o acesso ao direito educacional tornou-se de total responsabilidade da família e do indivíduo, ou seja, é considerado como “problema individual”, o que faz com que o Estado exima suas responsabilidades para com seus cidadãos. Dessa forma, a questão social 2 passa a ser objeto de ações filantrópicas e de benemerência, deixando de ser responsabilidade do Estado. “As ‘redes’ de proteção social devem ser ‘comunitárias’ e ‘locais’. [...] caberia então ao Estado intervir com programas sociais focalizados nos pobres [...]” (SOARES, 2003 p.27 grifo nosso). Neste sentido, o Assistente Social entendido como um profissional que tem como objeto as expressões da “questão social” e em seus princípios do código de ética elementos como “Defesa intransigente dos direitos humanos” e sendo a Educação um direito de todo o ser humano, o próximo capítulo será relevante para compreendermos a função deste profissional para com a garantia do acesso à Educação. 2 “[...] a questão social se apresenta como um eixo central capaz de articular a gênese das expressões inerentes ao modo de produzir e reproduzir-se do capitalismo contemporâneo, o que envolve as mudanças no mundo do trabalho; suas manifestações e expressões concretas na realidade social; as estratégias de seu enfrentamento articuladas pelas classes sociais e o papel dom Estado nesse processo, em que se destaca a política social e os direitos sociais [...]”(BEHRING; SANTOS, 2009, p.275). 28 2 SERVIÇO SOCIAL, EVASÃO ESCOLAR E A DEPENDÊNCIA QUÍMICA Neste capítulo, será desenvolvido o estudo sobre a necessidade da atuação do Serviço Social na área da Educação, tendo em vista que no ambiente escolar estão as mais diversas expressões da questão social, as quais necessitam do enfrentamento da atuação profissional do Assistente Social. Entre as expressões da “questão social” encontradas com frequência estão a evasão escolar e a distorção idade-série. Contudo, na atualidade é visível o fenômeno da dependência química ou drogadição3 entre adolescentes, o que caracteriza-se como um dos fatores impeditivos da escolarização, e, portanto, uma terceira expressão da “questão social” a ser discutida neste segundo capítulo. Assim, é fundamental apontar o papel que o Serviço Social tem no enfrentamento destas situações, visto que são expressões nas quais o profissional Assistente Social deverá intervir. 2.1 O SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO E EVASÃO ESCOLAR. A presença do Assistente Social na área da educação tem uma maior discussão a partir da década de 1990, quando as políticas sociais – da qual a política educacional faz parte tornam-se um campo de trabalho com maior abrangência do Serviço Social. Assim, a atualização da lei de regulamentação da profissão pela lei n° 8.662, de 7 de junho de 1993, e o amadurecimento do projeto ético-político profissional, foram fundamentais para as reflexões sobre a necessidade do desenvolvimento do espaço do Serviço Social na Educação. Foi no 30º Encontro Nacional do Conselho Federal e Conselhos Regionais de Serviço Social (CFESS/CRESS), realizado em 2001, que houve as primeiras discussões acerca do tema “Serviço Social na Educação”. Contudo, a necessidade de inserção do Assistente social no campo educacional se coloca em 2011, a partir do relatório4 produzido pelo GT- Grupo de 3 Nesta pesquisa são utilizados os termos dependência química, drogadição, dependência de drogas como sinônimos por não haver um consenso cientifico a respeito dessa terminologia, optamos pelo uso livre dos termos mais frequentemente utilizados. 4 “Pautou-se em, apresentar orientação para a proposição de projetos de Lei sobre a inserção do Serviço Social na Educação; Contribuir para a intensificação da luta pela Educação como direito social e a consolidação do Serviço Social nesta Política Pública, a partir da participação em Conferências, Conselhos de Educação e Conselhos da Criança e do Adolescente e articulação com os Conselhos profissionais, sindicatos, executivo, legislativo, Ministério Público e outras forças políticas; Apontar as reflexões teóricas e políticas que permearam a constituição e história do Grupo de Trabalho do Conjunto CFESS/CRESS sobre o Serviço Social na Educação” (CFESS/CRESS – setembro de 2011). 29 Trabalho responsável doconjunto CFESS/CRESS a partir de uma pesquisa nacional junto aos assistentes sociais inseridos no campo educacional. Para Coutinho (2012), o profissional Assistente Social em âmbito escolar atua como mediador entre a instituição escola, a comunidade, e a família em suas relações de conflito, como, com o intuito de aprimorar o desenvolvimento educacional da criança e do adolescente em suas relações sociais. Além disso, a necessidade de inserção do Assistente Social na política educacional, parte inicialmente da garantia do direito educacional para a cidadania, assim como a luta pelo acesso à educação pública e de qualidade, este acesso garantido em lei, no qual o principal responsável é o Estado. Como afirma Novais (2001), a prática do Assistente Social situa-se numa perspectiva crítica, e se faz participante da transformação social, portanto, ao profissional do Serviço Social cabe desenvolver, entre suas atividades, a “elaboração e execução de programas de orientação sóciofamiliar, visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno e sua formação para o exercício da cidadania” (NOVAISapudLOPES, p.4, 2006). Assim, é partindo da educação para a cidadania que o aluno se reconhece como sujeito escritor e construtor de sua própria história diante da educação recebida. Segundo Almeida (2000), um Assistente Social, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e precursor do Serviço Social na Educação, a prática do Assistente Social na escola significa: [...] pensar sua inserção na área de educação não como uma especulação sobre a possibilidade de ampliação do mercado de trabalho, mas como uma reflexão de natureza política e profissional sobre a função social da profissão em relação às estratégias de luta pela conquista da cidadania através da defesa dos direitos sociais das políticas sociais.( p.2). Assim, fica reforçado um dos princípios do Código de Ética do Assistente Social, no qual a “[...] ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras” (CFESS, 1993). Além disso, o Assistente Social possui orientações normativas sobre as competências e atribuições privativas em seu Código de Ética - (CFESS Resolução 273/93) para planejar, propor, elaborar e executar projetos sociais. Conforme Almeida (2003), é importante pontuar que, para que o trabalho profissional do Assistente Social ganhe visibilidade na política educacional, há necessidade que este utilize em seu trabalho sua capacidade crítica, criativa e propositiva. Deste modo, poderá propor, elaborar, implantar e 30 executar programas e projetos sociais que visem o enfrentamento das expressões da “questão social”, além de realizar um trabalho de prevenção para determinadas situações. A partir do parecer jurídico 23/00 de 22 de outubro de 2000 do Conselho Federal de Serviço Social, cabe ao Assistente Social, que atuar com o Serviço Social escolar, desenvolver atividades técnicas profissionais, dentre outras as seguintes funções: Pesquisa de natureza sócio–econômica e familiar para a caracterização da população escolar; Elaboração e execução de programas de orientação sócio familiar, visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno e sua formação para o exercício de cidadania; Participação em equipe L, da elaboração de programas que visem prevenir a violência, o uso de drogas e o alcoolismo, bem como que visem prestar esclarecimentos e informações sobre doenças infectocontagiosas e demais questões de saúde pública; Articulação com instituições públicas, privadas, assistenciais e organizações comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de pais e alunos para atendimento de suas necessidades; Realização de visitas sociais com o objetivo de ampliar o conhecimento acerca da realidade sóciofamiliar do aluno, de forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo adequadamente; Elaboração e desenvolvimento de programas específicos nas escolas onde existam classes especiais; Empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da Lei 8662/93, segundo Parecer Jurídico 23/00 de 22 de outubro de 2000, do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS, 2001, p.13). De acordo com o CFESS (2000. p. 9-12), o Serviço Social na educação contribui para a realização de diagnósticos sociais, bem como sugerindo alternativas, para as problemáticas vivenciadas por crianças e adolescentes, tendo como objetivo melhorar suas condições de vida escolar. Além disso, a profissão tem uma grande responsabilidade frente à educação no enfrentamento das expressões da questão social. Assim, A importância do Serviço Social nas escolas visa atenuar os índices de evasão escolar e trabalhar a autoestima de crianças e jovens, pois ser cidadão é direito, é estar inserido na sociedade, lutando em busca de melhores condições de sobrevivência (COUTINHO; RIBEIRO; BARREIROS, 2012,p.99, grifo nosso). O papel do Assistente Social em âmbito escolar está pautado em garantir o acesso aos direitos da criança, do adolescente e das famílias em vulnerabilidade social, e vincular estes sujeitos à escola. Além disso, deve responder as expressões da “questão social” que demandam da escola, entre eles a evasão escolar e a drogadição. 31 Assim, conforme Almeida (2000), um fator que exige a presença cada vez maior dos profissionais de Serviço Social na Educação, se relaciona às manifestações da “questão social5”, que manifestam-se das mais diversas formas e produz efeitos comuns, tais como: desemprego estrutural, aumento da pobreza, violência, drogas, moradia na rua, alimentação insuficiente, fatores estes que implicam no aumento da exclusão e desigualdade social. [...] A escola pública e, mesmo a particular, na esfera do ensino fundamental, se vê atravessada, hoje, por uma série de fenômenos que, mesmo não sendo novos ou estranhos ao universo da educação escolarizada, hoje se manifestam de forma muito mais intensa e complexa: [...] a ampliação das modalidades e a precoce utilização das drogas pelos alunos; a invasão da cultura e da força do narcotráfico; a pulverização das estratégias de sobrevivência das famílias nos programas sociais; a perda de atrativo social da escola como possibilidade de ascensão social e econômica; [...](ALMEIDA, 2000, p.4-5 grifo nosso). São estas expressões que se apresentam no cotidiano escolar e, portanto, exigem uma maior aproximação do Assistente Social com as demais áreas profissionais como estratégias de enfrentamento das problemáticas que se manifestam no cotidiano escolar. Percebe-se que no modo de produção capitalista e com a acumulação neoliberal, as políticas sociais se apresentam fragmentadas, assim, a interlocução entre as mais variadas políticas de Saúde, Educação, assistência social são mínimas, o que tem dificultado a intervenção profissional em sua totalidade. Contudo, é importante mencionar que estes acontecimentos não são fatores que se constituem apenas em âmbito escolar; pelo contrário fazem parte fatores que estão vinculados a outras formas de expressão dos problemas de âmbito social enfrentados pelo educando e sua família. De acordo com os apontamentos do CFESS (2001), em sua obra Serviço Social na Educação, entre as problemáticas encontradas no ambiente escolar estão o baixo rendimento, desinteresse pelo aprendizado e evasão escolar, e estes têm sido citados como as grandes dificuldades de avanço destes alunos. O enfrentamento destes problemas constitui-se no grande desafio do sistema de ensino público brasileiro, pois se é responsabilidade e dever do Estado prover a Educação Pública, garantindo o acesso e permanência do aluno na Escola, consequentemente, faz parte de suas competências garantir o sistema e a infra-estrutura 5 Segundo Netto (2001, p, 42), “[...] a expressão ‘questão social’, surge como denominação do fenômeno do pauperismo da população trabalhadora na Europa Ocidental que vivia os impactos da Revolução Industrial que teve início na Inglaterra por volta do século XVIII. Netto afirma que pela primeira vez na história registrada, a medida que aumentava a capacidade social de produzir riquezas, crescia a pobreza, tornando-se claro para os observadores da época, independente de sua posição ídeo - política, que tratava-se de um novo fenômeno.” 32 necessária para que seja assegurado e efetivado este direito. Inclusive no que tange a evasão escolar, visto que, sendo o direito a educação indispensável para o desenvolvimento da personalidade humana. O não acesso ao direito educacional torna indivíduos impossibilitados de gozar plenamente de seus direitos sociais. 2.2 A EVASÃO ESCOLAR COMO UMA EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL A Evasão Escolar se constitui pelo ato dos alunos deixarem a instituição escolar, é também um problema complexo que pode ser entendido como resultado do fracasso escolar do estudante e da própria instituição escolar. Um fenômeno que se origina por meio dos mais diversos motivos, que perpassam as relações sociais que se estabelecem no modo de produção capitalista, seja pelo desemprego e/ou pelo não acesso aos direitos sociais. Deste modo, a evasão escolar é compreendida como uma das “expressões da questão social” que se constitui objeto de trabalho do Serviço Social. O não acesso a escola caracteriza-se como um empecilho para o desenvolvimento do ser social, já que o priva do direito à aprendizagem, o que acarreta em inúmeras perdas à classe trabalhadora, tanto em relação a formação para o trabalho, como também para a cidadania. Tendo em vista a situação preocupante da educação brasileira, o direito à educação básica – que conforme o artigo 21 da LDB corresponde a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio – não tem sido assegurado de maneira efetiva para milhões de brasileiros. O poder público, efetivamente, não consegue assegurar a permanência dos alunos no sistema educacional, um dado comprobatório é do ano de 2006, em que: [...] dos alunos matriculados, no ensino fundamental, 7,8% abandonaram os estudos, ou seja, mais de 2,6 milhões de crianças e adolescentes que, somados a aqueles que nunca estiveram na escola, fazem parte de um cenário de exclusão, de falta de acesso às políticas sociais garantidas pelo texto constitucional, pela LDB e, mais ainda, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (CARNEIRO, apud LOUZADA; BRINGHENTTI, 2010, 238). Além da situação de abandono escolar, outro dado que chama atenção é a distorção idade série 6 . Dados apresentados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) expressam que dos jovens entre 15 e 17 anos, 82% estavam matriculados na escola, contudo, apenas 48% frequentavam o nível escolar adequado à sua idade. A partir destes dados, 6 Este conceito está relacionado com as reprovações dos alunos anualmente. Com isso, a distorção idade-série leva alunos com mais idade a frequentarem séries iniciais. Como exemplo, alunos com 14 anos frequentando a 3º série do ensino fundamental(BRASIL, Programa Fundescola MEC, 2006). 33 verificam-se duas expressões da questão social: a primeira é a evasão escolar 7 e a segunda é a distorção idade - série. De fato, a evasão escolar ou o abandono escolar é uma questão que preocupa e chama atenção. Segundo Almeida (2000), “As estatísticas demonstram, que em algumas regiões do país 60% dos alunos que iniciam seus estudos não chegam a concluir a 8ª série do ensino fundamental, ou seja, não concluem a segunda etapa da educação básica” (p.11). Contudo, os dados apresentados são quantitativos e demonstram apenas em números esta situação, o que dificulta visualizá-los de forma qualitativa, pois, não apresentam quais as motivações e fatores que levam ao abandono escolar. Observa-se que para o neoliberalismo e de acordo com os organismos multilaterais 8, não são os fatores sociais e econômicos que interferem e determinam o processo de evasão escolar; o abando escolar está articulado a fatores de ordem intelectiva. Estes organismos entendem a educação como uma estratégia para o desenvolvimento econômico e igualitário capaz de diminuir a pobreza absoluta. A falta de acesso à educaçãorepresenta, portanto, o motivo do “atraso econômico e social”, o esgotamento do modelo econômico nacional sustentado em mão de obra pouco qualificada, somado à iniquidade educacional, estaria levando o país ao atraso econômico e social. [...]”(XAVIER; DEITOS, 2006 apud Deitos, 2010 p. 212). Assim, de forma, ideológica, a concepção neoliberal de que a iniquidade (crueldade) educacional é a causa do atraso econômico do país tem sido disseminado de maneira eficiente. Deste modo, a responsabilidade do Estado em acabar com as desigualdades e a pobreza pelo viés econômico, acaba recaindo sobre o sistema educacional. Outro mecanismo utilizado pela ordem burguesa é o de fazer acreditar que tanto o sucesso como o fracasso escolar são fruto de razões de ordem intelectual, ou seja, dissimulam tanto os mecanismos burgueses de discriminação, quanto os mecanismos da ordem econômica. Assim, reforçam que as causas do fracasso escolar são apresentadas pelos organismos multilaterais como desarticuladas das condições sociais e econômicas. Além disso, dissimulam e descaracterizam a responsabilidade que o Estado tem em relação ao processo de abandono escolar,transferindo esta responsabilidade para a escola. 7 Entendida como resultado do fracasso escolar do próprio sistema educacional, e ainda como resultado da questão social. 8 De acordo com Deitos (2010), O sistema de ensino se modificou significativamente nas duas últimas décadas, assim é importante mencionar que tais mudanças, na maioria das vezes, atendem às exigências de organismos multilaterais. A intervenção destes organismos, com medidas de ajuste estrutural para os países em desenvolvimento abrangem a reforma do Estado, crise econômica, inserção dos países na economia mundial e políticas sociais.As políticas sociais são direcionadas aos mais pobres, segundo o pressuposto de que é necessário garantir educação básica para diminuição da pobreza e, portanto, deve ser prioridade das políticas sociais através de programas e ações nacionais. A estimativa do Banco Mundial é acabar com a pobreza absoluta, para tanto, apostam na educação básica como condição prioritária no alivio à pobreza e do desenvolvimento. 34 Inúmeros fatores levam ao abandono escolar, no entanto, não se constituem em situações exclusivas à escola, e sim elementos vinculados a problemas de âmbito social enfrentados pelo educando e sua família. Outros autores como Ceratti (2008) procuram as causas da evasão escolar e do fracasso escolar. Para este autorsãoelementosdeterminantes principalmente os fatores sociais e culturais. Porém, também se incluem os fatores individuais, sociais e atribuem a responsabilidade maior ao próprio sistema educacional, ao funcionamento das escolas e ao estilo de ensino dos professores. O resultado do fracasso escolar é o produto da interação de três tipos de determinantes: [...] psicológicos: referentes a fatores cognitivos e psicoemocionais dos alunos; socioculturais: relativos ao contexto social do aluno e às características de sua família; institucionais: baseadas na escola, tal como, métodos de ensino inapropriados, currículo e as políticas públicas para a educação. Somado a esses três fatores, encontram-se também aqueles ligados à economia e à política (Idem, Ibdem, p.22). As causas do fracasso escolar são determinadas por uma diversidade de fatores, estes estão ligados a aspectos como: a forma com que o estudante interage com o ambiente escolar, a maneira comoestabelece suas relações com o saber e com o aprender, com os professores e com os colegas, suas relações familiares, a estrutura da escola, além da dimensão social, com as políticas públicas de educação e a desigualdade econômica e social da sociedade brasileira. Neste sentido, a evasão escolar pode ser entendida como resultado do fracasso escolar e um reflexo de diversos fatores entre eles, as desigualdades sociais, econômicas, entre estes fatores estãoà omissão do Estado e da família para com o estudante e também a drogadição na adolescência que pode ser um fator impeditivo de escolarização. Verifica-se então que os altos níveis de pobreza e miséria da população brasileira se apresentam de formas variadas e, portanto, o processo educacional também se constitui em um espaço de concretização desses problemas. Como expressam sujeitos A1, A3 e A5 o uso de drogas (ou dependência de drogas) foi considerado o principal motivo que influenciou para a evasão escolar. Estes adolescentes quando questionados sobre o quais os motivos que os fizeram abandonar a escola, os mesmos responderam: Por causa das drogas né! (A1.) Ahhh, eu comecei a usar droga dai eu parei de gostar de ir na escola [...] (A3). 35 A droga! O crack! Eu fui pra maconha, depois eu fui pro crack e não sai mais do crack, depois eu conheci o pó e agora eu não estava mais usando. A droga chamou eu pra rua[...] Foi por causa disso e porque eu não gostava também de estudar.... Pá nada, pá nada, pá nada... Os professores eram ruins pra mim, como eu era ruim pra eles... Eu era muito rebelde na escola[...].(A4). A partir das falas dos adolescentes percebemos que de fato a dependência de drogas foi o principal motivo que os levou à evasão escolar, no entanto, verifica-se também na fala do sujeito 4, que além do uso drogas ter influenciado para a evasão, o fato dele dizer que não gostava de estudar e que existia uma relação conturbada entre aluno e professor nos leva a crer que o abandono escolar também foi resultado do fracasso escolar. O enfrentamento dos referidos problemas constituem-se como um grande desafio do sistema de ensino público brasileiro, este que é de responsabilidade e dever do Estado, portanto, cabe a ele transformar parte da realidade, que produz o fracasso e a evasão escolar, trazendo como consequência a exclusão educacional e concomitantemente a exclusão social. Expulsar do mundo dominante significa literalmente colocar pra fora dos parâmetros e das normas que regem as relações sociais; não apenas marginalizar e sim desconsiderar a existência humana. [...] A exclusão Social se manifesta no contexto social (pela fragilidade que se manifesta no contexto das relações humana); [...] no contexto político pelo desrespeito aos direitos fundamentais dos homens (BONETI, 2003, apud LOUZADA;BRINGHENTTI, 2010 p. 245). Para Louzada, e Bringhentti(2010), quando nos referimos aos educandos excluídos da escola, não falamos apenas dos alunos estando fora do espaço escolar, mas dos educandos excluídos na própria escola, em função da defasagem escolar, causada tanto pelas repetências, como pela evasão escolar. Estes se encontram também excluídos do acesso a outros bens culturalmente e economicamente produzidos pela sociedade. Encontram-se desprovidos do acesso aos seus direitos sociais, políticos, educacionais. Por conseguinte, esses mesmos sujeitos farão parte da imensa gama de analfabetos, de semianalfabetos, de desempregados de trabalhadores informais, enfim de moradores de rua entres estas crianças e adolescentes que tornam-se, na perspectiva da burguesia, o grande “estorvo” da sociedade, os excluídos. 36 2.3A DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA ADOLESCÊNCIA E A INFLUÊNCIA NA VIDA ESCOLAR. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência é a idade entre 12 anos completos e 18 anos incompletos. A adolescência pode ser compreendida como uma fase de várias transformações, sendo elas biológicas, psíquicas e sociais. Por estes motivos, essa fase da vida se caracteriza também como um momento estressante, de instabilidade e de fragilidade emocional. Este é considerado um período crítico da vida de um ser humano, sendo definida como um período marcado por grandes mudanças externas e internas. Surgem, aqui, os grandes questionamentos dos adolescentes [...] Estes ganham uma autonomia acentuada em relação a seus pais e, paralelamente, adquirem uma forte aliança com seus colegas. (DUSENBURY,1992 apud ANDRADE;SCIVOLETTO, 1999, p.138). Sabe-se que “criar moda”, correr risco e o desejo, de descobrir prazeres variados são características da adolescência. Esta idade é, particularmente sensível para todas as dependências e o encontro do adolescente com a droga é um fenômeno muito mais frequente do que se pensa. (NIEL; GOLDSHMIDT, 2009, p. 39). Esta fase caracteriza-se também pela curiosidade e pela busca incessante na procura de prazer, elementos que representam um grande risco para dar início, seja como consumo ocasional, indevido ou abusivo do uso das Substâncias Psicoativas (SPA)9. Além disso, um dos principais fatores para o abuso e uso de SPA, legais e ilegais, por adolescentes é a influência social por parte do grupo de amigos, tendo em vista que quanto maior a interação do adolescente com um determinado grupo, com mais facilidade este será influenciado. Andrade e Scivoletto (1999) apresentam outros fatores de risco que contribuem para o abuso de drogas. De acordo com o autor, nesta faixa etária, além do uso de drogas por amigos, também o uso pelos pais ou familiares pode ser um risco para o adolescente, além disso, um desempenho escolar insatisfatório apresenta risco, ou um relacionamento deficitário com os pais; baixa autoestima; sintomas depressivos; ausência de normas e regras claras; necessidade 9 “‘qualquer substâncias psicoativas’– ou seja, qualquer substância que atua sobre o sistema nervoso central alterando o humor, percepção ou consciência – essa definição ignora o fato de que outras substâncias nãopsicoativas podem, em determinadas condições causar exatamente os mesmos efeitos. Mesmo um diurético utilizado em determinadas condições poderia ser considerado droga, segundo essa definição. Substância que, quando administrada ou consumida por um ser vivo modifica uma ou mais de suas funções, com exceção daquelas substâncias necessárias para a manutenção da saúde normal”. (LEITE, 1999, p. 25-26). Ou seja, são qualquer droga que altere o comportamento e que possa causar dependência, estas podem ser legais (álcool, cigarro, remédios, etc) ou ilegais (maconha, cocaína, crack, etc). 37 de novas experiências e emoções; baixo senso de responsabilidade; antecedente de eventos estressantes; uso precoce de álcool. Estes elementos caracterizam-se como fator de risco para o início do uso de drogas. Contudo, é importante frisar que quanto maior o número de fatores de risco presentes, maior é a intensidade de uso. De fato, os fatores externos (família, amigos entre outros) representam risco e contribuem para o quadro de dependência, no entanto, não se pode descartar e nem subestimar a capacidade do adolescente em decidir sobre si mesmo. Assim, não se deve atribuir a responsabilidade do problema única e exclusivamente aos fatores externos. A análise dos fatores de risco para uso de drogas na adolescência e seus desempenhos insatisfatórios nas áreas de desenvolvimento psicológico habilidades sociais, funcionamento familiar, desempenhos escolar/acadêmico e habilidade de encontrar e se engajar em atividades sociais aponta para a necessidade de se abordar essas deficiências como parte de um tratamento mais abrangente (WALTER, 1993, apudANDRADE;SCIVOLETTO, 1999, p.148). Nesta faixa etária, o mais comum é que o consumo de drogas ocorra em três etapas, iniciando-se com o uso de bebidas alcoólicas e cigarros, drogas lícitas, porém proibidas para menores de 18 anos. Entretanto, o acesso a este tipo de droga é considerado fácil tendo em vista que é comercializado em diversos estabelecimentos com fiscalização insuficiente, além de seu baixo custo. Em seguida, está a maconha e, por último, se dá o consumo de cocaína e crack. O depoimento do sujeito 1 elucida com clareza esta realidade, assim como os sujeitos A2 e A3 ao serem perguntados há quanto tempo são usuários de drogas: 3 anos, só que não a fio. Antes era só maconha e cocaína daí eu parei não quis mais saber, porque eu não era viciada, daí eu parei antes de eu viciar. Daí o crack, a primeira vez que eu experimentei eu viciei. Você usava álcool e cigarro? Eu bebia e fumava assim normal!(A1). Comecei com seis anos! Vai fazer uns seis anos sete anos que eu uso (A2). Fumo cigarro, desde os 10 anos, e droga desde os onze anos! (A3). Ao serem apresentadas as etapas de uso pelo sujeito 1, verifica-se que o crack10 foi a droga com mais impacto na vida da adolescente, ao contrário do álcool e do cigarro, cujo uso 10 “O consumo de crack causa um aumento rápido de cocaína no sangue, produzindo imediatamente os efeitos psíquicos, com pico em 5 minutos. A intensidade da euforia obtida parece contribuir para o potencial de dependência da droga; é também proporcional à fissura pela droga que surge logo que os efeitos começam a 38 é considerado “normal”; e no caso do sujeito 3 o cigarro não é considerado uma droga. Isso se dá por se considerar drogas apenas as substâncias ilegais. Nos casos dos sujeitos A2 e A3,o início do uso de drogas se deu em ambos os casos na infância; verifica-se um consumo de SPA precoce que pode acarretar prejuízos à estes indivíduos, pois “quanto mais cedo se dá o início do uso de drogas, maior a chance de o indivíduo tornar-se um usuário regular e apresentar problemas por este uso, pois quanto mais cedo uma SPA atuar no cérebro imaturo, maior a chance de se causar dependência” (ANDRADE; SCIVOLETTO, 1999, p. 141). [...] A dependência constitui [...] uma patologia com sua própria psicopatologia e caracterizada por compulsão, perda de controle e manutenção do uso apesar da existência de consequências adversar relativas a este uso. Trata-se de uma patologia crônica, progressiva, incurável e potencialmente fatal, se não tratada (Leite, 1999, p.146). São diversos os efeitos e as consequências da drogadição, entre eles o que mais chama a atenção são os aspectos psicopatológicos, (apresentados por meio de disfunções de memória, humor e afetividade) biológicos, (que entre outros causam danos e prejuízos neurológicos e respiratórios) e, por fim, estão as consequências sociais: “[...] é frequente ocorrer declínio de rendimento ou abandono em atividades escolares e profissionais. Manifestações sociopáticas com desenvolvimento de ações transgressoras” (REZENDE, 1997, p.27). Em relação aos danos à saúde do indivíduo, o uso nocivo é caracterizado por danos físicos ou mentais que ocorrem em período de um ano. Existem também outros prejuízos além dos físicos e mentais. Estes outros acarretam na incapacidade de desenvolver tanto as obrigações profissionais como as escolares. Os sujeitos A1, A3 eA4 deram depoimentos a respeito da interferência das drogas na vida escolar: Não conseguia estudar, estava sob o efeito da droga e eu ficava muito agressiva quando eu fumava o crack. Quando eu fumava o crack tipo se alguém viesse falar comigo eu não conseguia falar, às vezes eu nem escutava a pessoa falando comigo. Quando eu estudava sem o efeito de droga eu era estudiosa, quando eu fumava droga, daí eu comecei a faltar na escola por isso que eu reprovei. Porque eu não ia à escola pra fumar atrás do ginásio a noite inteira, [...] (A1 ). Eu ia drogado pro colégio e não conseguia refletir as palavras[...] (A4). Acho que foi, porque eu comecei a gostar da droga e não da escola (A3). dissipar-se, 10 a 20 minutos depois, levando a nova administração. Os efeitos desagradáveis são igualmente” (LEITE, 1999, p.28). 39 Conforme se observou, os sujeitos A1 e A4 afastaram-se da escola para consumir drogas, perdendo assim a motivação pelo conhecimento. Os autores Andrade e Scivoletto(1999), analisa como o uso de SPA afeta, diretamente, a cognição, o humor, a capacidade de julgamento e também as relações interpessoais, a perda na capacidade de processar novas informações na capacidade de concentração e retenção causada pelo uso de droga podem prejudicar o desempenho escolar e o rendimento final de muitos adolescentes que fazem o uso de SPA. Entre os fatores de proteção para evitar e/ou retardar o uso de drogas, um deles pode ser a família 11 . Estudos mostram que quanto mais fortes os laços familiares, menor a influência do grupo de amigos sobre o adolescente. Neste sentido, o papel da família é crucial, tendo em vista que é na instituição familiar que o adolescente estabelece suas relações primárias. A família influencia a forma como o adolescente reage à ampla oferta de droga na sociedade atual. Assim relações familiares saudáveis desde os primeiros anos de vida da criança servem como fator de proteção para toda a vida do adolescente. A família deve promover diferentes tipos de apoios considerados básicos no tratamento aos seus membros, entre eles o apoio afetivo e emocional. Jovens em que as relações afetivas são mais precárias têm maior risco de abusarem de SPA. Para demonstrar esta realidade, utilizamo-nos da fala do sujeito A1 e seu familiarosujeitoA6. Assim, quando questionado sobre a reação da sua família quando abandonou a escola, o sujeito 1 responde: Não falaram nada, sempre me criticando, falava que eu não valia nada, que eu era isso que eu era aquilo. Ai eu pegava e “batia” as coisa e saia de casa e só voltava 1 mês, 2 meses depois (A1). Da mesma forma, quando o familiar é questionado sobre acreditar se o uso de drogas influenciou para o abandono escolar o mesmo respondeu: Acho que foi, no começo foi isso ai, foi isso. Porque ela tinha muita amiga, muito amigo, às vezes ia posar na casa de uma amiga, isso ai que não tá certo né! (A1). 11 “A família é o primeiro grupo social do ser humano. Ela é responsável pela transmissão dos valores, padrões socioculturais de conduta, cuidados biológicos, emocionais e pela socialização do individuo. É o elo inicial de articulação do individuo com a sociedade” (REZENDE, 1997, p.33). Vale ressaltar, que não há um modelo ideal de família. 40 Assim, a partir dos dois relatos, observa-se que ambos relatam a relação familiar conturbada e da influência do grupo de amigos sobre a adolescente. Muitas vezes, os familiares tendem a responsabilizar apenas as “más companhias”, eximindo, assim, o adolescente e a própria família. Além disso, é importante frisar que o encontro do adolescente com a droga não acontece por acaso, existem muitos fatores que levam ao uso. E a família ou mesmo o tempo que pode ser um fator de proteção, pode ser um fator de risco. É importante mencionar também que não se pode eximir a responsabilidade do adolescente em relação aos seus atos, muitas vezes a família tem dificuldades de estabelecer limites aos comportamentos dos adolescentes, o que representa um risco para o uso de drogas, assim como, para o rompimento com as atividades escolares do mesmo e o envolvimento com atividades ilegais. Tal afirmação pode ser constatada a partirda resposta do sujeito A4, ao ser questionado sobre a reação da família quando o mesmo decidiu abandonar a escola este respondeu: Eles falaram- vai pro conselho, vai pro conselho, vai pra policia. Eu faleieu quero que se foda! Eu quero o mundo do crime, crime, crime... E através disso ai eu matei dois, não quero mais matar, num quero nunca mais tirar a vida de ninguém [...] (A4). É comum que nesta fase da vida os adolescentes sejam rebeldes e não respeitem os limites impostos pelos pais, assim, a família apela para autoridades como a polícia e o conselho tutelar. Além disso, verifica-se a falta de interesse do adolescente em continuar estudando e seu envolvimento em atividades criminosas. O envolvimento de jovens usuários de drogas com atividades legais são consideradas características do uso nocivo de SPA, entre as atividades ilegais mais comuns desenvolvidas por adolescentes dependentes de drogas está o tráfico de drogas. Uma atividade que se apresenta inicialmente na realidade mundial, mas, que atualmente ultrapassa os muros da escola, o que se caracteriza como uma ameaça para o ambiente escolar. 2.4 O ENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM O TRÁFICO NAS ESCOLAS Em relação ao sistema econômico vigente, o papel que este sistema desempenha em relação à questão da drogadição, relaciona-se com o tráfico de drogas. O consumo de drogas sempre existiu, desde os primórdios da sociedade estas substâncias eram utilizadas para fins 41 terapêuticos, alimentícios ou também religiosos. No entanto, a problemática que se estabelece é a dimensão que o comércio dessas drogas atingiu nas últimas décadas além de sua importância política e estratégica, tendo em vista que atualmente uma das questões mais polêmicas é o tráfico de drogas. Na década de 1970, o tráfico de drogas expandiu-se e se transformou em indústria. [...] Em decorrência disso, o consumo se altera, passado a corresponder à lógica do mercado e não mais aos desejos de grupos. (FEFFERMANN, 2006, p.24). É importante salientar que o consumo e a procura de drogas asseguram um altíssimo rendimento e acúmulo de capitais, transformando o tráfico de drogas no segundo grande negócio mundial, atrás apenas da indústria de armas. Assim, as atividades do tráfico aparecem como uma das formas mais lucrativas da economia informal. Conforme Feffermann (2006), a indústria de drogas ilegais movimenta mundialmente cerca de 400 bilhões de dólares, o que corresponde a 8 % do comércio internacional. Em 2000, o tráfico de drogas movimentou no mundo um trilhão e meio de dólares. O que se verifica, então, é que as relações entre tráfico e a sociedade capitalista, embora sejam estabelecidas pela confrontação, existe também uma cooperação para que estas atividades lucrativas ocorram. Embora este seja caracterizado como um setor econômico ilegal, busca ao mesmo tempo acumular capital, e,portanto, reinveste parte de seus lucros, para conquistar mercados. Percebe-se essa relação intrínseca entre o capitalismo legal e o dinheiro oriundo de atividades ilegais a partir de Fefferman, para o autor “a história está a nos mostrar cotidianamente que o capitalismo ‘honrado’ e ‘civilizado’ e o mafioso nunca andaram muito longe, e um apreendeu com o outro, e frequentemente se retroalimentam”. ( 2006, p.35). Assim, é possível compreender que embora as atividades de tráfico e o comércio de drogas sejam práticas ilegais, isto é, crime, estas atividades estão correlacionadas ao modo de produção capitalista, visto que o tráfico de drogas é necessário e lucrativo para o sistema econômico mundial. Estas atividades ilegais estão cada vez mais próximas dos adolescentes e podem ser encontradas no ambiente escolar, conforme a fala de alguns dos sujeitos desta pesquisa, ao serem questionados sobre se houve contato com drogas nas escolas, os mesmos responderam: [...] eu só passava droga na escola,[...] funcionava que os usuários chegavam para mim, e pedia o quanto eles queriam e eu dava, só que ninguém desconfiava de nada era tudo “desbaratinado”, depois que eu virei “nóia” acabou com tudo! Eu fumava minhas drogas [...]. Daí não dava pra 42 passar, eu fumava tudo. Eu comprava pra mim fumar ai me acabei, fumei tudo as minha coisa, tudo que eu tinha foi pro lixo (A1). Neste relato, percebemos que é a própria adolescente quem comercializava as drogas dentro da escola, a mesma diz que a escola não tinha conhecimento do ocorrido e que só acabou com esta prática quando não conseguia mais realizar em decorrência dos efeitos do uso de drogas. O sujeito 4 também relatou seu envolvimento com tráfico na escola, quando questionado se já tentou retornar à escola, o mesmo respondeu: Já, lá em Londrina, Mas lá nós vendia droga dentro do colégio, lá era uma boca de fumo dentro do colégio [...] (A4). Evidencia-se que o fornecimento de drogas não se dá apenas por pessoas especializadas, ou seja, por traficantes qualificados, mas sim, por intermédio dos próprios estudantes, como expressao sujeito 4, ao falar sobre o tráfico de drogas o adolescentes, expressa que: A droga chamo eu pra rua, porque na rua eu conheci os cara, os drogado que me deram droga pra mim vender pra eles, ai os traficante alto que tem tudo hoje, tem carro moto, moto carro, e eu estou aqui no HU me tratando por causa deles. (A4). O tráfico de drogas é crime inafiançável: a pena mínima é de três anos e a máxima, de quinze anos. O fato de as penas para adolescentes serem socioeducativas e terem menos “peso” em relação às penas para pessoas maiores de 18 anos, faz com que estes adolescentes sirvam para intermediar a relação do traficante “especializado”, que tem neste ato um modo de ganhar dinheiro. Para Feffermann (2006), e como o próprio sujeito 4 expressa estes traficantes são: “[...] os que ficam ricos, não aparecem nas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública, ou do sistema penitenciário [...]” (FEFFERMANN, 2006, p.141). Neste sentido, verifica-se, que a escola passou a ser um espaço que espelha problemas sociais que são externos a ela. Além do uso de drogas, o tráfico de drogas passa a ser um dos problemas que necessita de intervenção especialmente no âmbito escolar. No entanto, não cabe a escola e nem é responsabilidade da mesma solucionar estas problemáticas. Contudo, atualmente a intervenção na instituição escolar se dá por meio da prevenção ao uso de drogas, como expressa o próximo subitem. 43 2.5 A ESCOLA COMO UMA ALTERNATIVA PARA A PREVENÇÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA Tendo em vista que a escola é uma instituição em que todos os adolescentes devem estar inseridos, obrigatoriamente, até a conclusão do ensino fundamental (atualmente corresponde da 6ª à 9ª série), por encontrarem-se em idade escolar, hoje, há um crescente número de campanhas e projetos de prevenção para erradicar o consumo de drogas entre os estudantes, porém, estas iniciativas não são capazes de erradicar o consumo de SPA no ambiente escolar, tampouco, nesta faixa etária. Muitas vezes, o consumo de drogas ocorre dentro da instituição ou, pior ainda, algumas vezes, dentro da própria sala de aula, como expressam os sujeitos A4 e A5 ao serem perguntados se tiveram contato com drogas dentro da escola, os mesmos relataram: Sim, tive, atrás do colégio, maconha. Eu conheci a maconha atrás do colégio... No contra turno eu ia fazer contra turno e pá aparecia o pia lá com fumo, nós uso fumo, e eu não larguei mais o fumo. Isso ai eu já tinha 11 anos. 6 anos nessa vida não quero mais, pra nada [...].(A4). Já, cocaína, eu cheirava em baixo da carteira, eu pegava, a professora “desbaratinava” e eu cheirava, eu e meu primo, na mesma sala. (A5). O relato dos dois adolescentes expressa nitidamente o quanto comum é o uso de drogas na ambiente escolar e o início do uso de drogas se dar na escola. Outro fato interessante que consta na fala do sujeito 4, é a motivação para o tratamento. Percebe-se que embora a motivação para o tratamento seja um fator importante, este não se encontra em todos os adolescentes. A prevenção, neste sentido, tem um papel de destaque como meio de reduzir este problema. As orientações gerais sobre prevenção ao uso de drogas, que constam na Política Nacional Sobre Drogas, incluem a escola nesta prática, assim, As ações preventivas devem ser planejadas e direcionadas ao desenvolvimento humano, o incentivo à educação para a vida saudável, acesso aos bens culturais, incluindo a prática de esportes, cultura, lazer, a socialização do conhecimento sobre drogas, com embasamento científico, o fomento do protagonismo juvenil, da participação da família, da escola e da sociedade na multiplicação dessas ações (BRASIL, 2005, p.4). Neste sentido, a escola passou a ser o espaço privilegiado para o desenvolvimento de atividades preventivas, visando uma educação para a saúde, assim como expressa Andreolie Moreira (2009), “A partir de 1982, a educação destinada a prevenir o abuso de drogas foi 44 considerado uma necessidade universal e premente pela Organização das Nações Unidas para Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO)” (p.53). Verifica-se que estudo associado ao risco para uso indevido de drogas inclui o absenteísmo escolar (faltas na escola), considerado como o fator mais importante especialmente entre os estudantes mais jovens. Neste sentido, fica claro, que ao serem fortalecidos os vínculos do aluno com a escola, realiza-se também uma intervenção preventiva. Observa-se, que quando esta intervenção preventiva da escola não se materializa, vivenciamos relatos como o da familiar do sujeito 2, que apresentam as dificuldades que teve em relação a interferência da instituição escolar, quando o adolescente abandonou a escola. A familiar relata que A escola nunca veio atrás, quem foi atrás fui eu, a escola nunca veio, nenhuma das vezes, quem foi atrás fui eu! (A7). Sobre os elevados níveis de repetência pelo sujeitoA2 o mesmo expressa as dificuldades quando tentou voltar à escola, ele diz: [...]porque daí eles não deixam, 17 anos é muito ruim pra entrar na 5ª série eu parei na 5ª, eles não deixam estudar. (A2). Como expressa o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 56, cabe aos dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental, “comunicar ao Conselho Tutelar os casos de: II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; e também III - elevados níveis de repetência” (BRASIL, 2010, p.25) . Percebemos, a partir da fala do adolescente e de sua familiar, que os recursos que a escola poderia utilizar para reinseri-lo na instituição por motivos da evasão escolar ou até mesmo a distorção entre idade e série não foram totalmente utilizados como poderiam e deveriam ter sido. No que se refere a prevenção, e a intervenção por parte da escola nos casos de evasão escolar por motivo da dependência química. A ampliação do campo de intervenção no 45 ambiente escolar,inclui comunidade escolar e o desenvolvimento de relações intersetoriais entre a educação e a saúde, o que nos remete à proposta da escola promotora de saúde12. A Lei de diretrizes e bases (LDB) estabelece os parâmetros curriculares nacionais (PCN). Em relação à educação em saúde, propõe se trabalhar as duas dimensões da saúde: individual (bloco “autoconhecimento para o auto cuidado”) e social (bloco “vida coletiva”). Entre os conteúdos a serem desenvolvidos, está incluído o tema “drogas”, que, assim como os demais temas de educação em saúde deve ser trabalhado transversalmente às cadeiras básicas, de forma multidisciplinar, ou seja, faz parte dos chamados temas transversais (ANDREOLI; MOREIRA, 2009, p.56). Parte da abordagem integral da Escola Promotora de Saúde envolve o desenvolvimento de parcerias entre a escola, os familiares dos alunos, os dispositivos de atenção à saúde da comunidade, outras instituições de ensino e organizaçõesgovernamentais e não governamentais (ONGs). Desta forma, as atividades promovidas na escola teriam a participação e o apoio da comunidade local, sendo reforçadas por atividades desenvolvidas na comunidade (ANDREOLI, MOREIRA, 2009, p.59). A mudança no estilo de vida inclui a abstinência completa de qualquer SPA o desenvolvimento de atitude valores e comportamento sociabilizantes, assim como o desenvolvimento de aptidões direcionadas a uma melhora das relações interpessoais e do desempenho escolar/acadêmico e vocacional. (ANDRADE; MOREIRA, 1999, p.148). É importante ressaltar que a prevenção, de fato, é primordial para o desenvolvimento saudável na adolescência. No entanto, embora a prevenção seja importante, outra questão que deve ser pensada é sobre o tratamento da dependência química. O tratamento se dá juntamente com a intervenção da sociedade, da família, mas, principalmente do Estado por meio das políticas antidrogas. Deste modo, é necessário definir qual é o papel que o Estado expressa diante da dependência de drogas. De acordo com Feffermann (2009), a “cultura da droga” foi construída em um espaço abandonado pelo Estado, no qual as políticas públicas visam atender aos interesses do mercado. Andreolli e Moreira (2009) expressam que 12 A Escola Promotora de Saúde (EPS) pode ser definida como uma escola com políticas, procedimentos, atividades e estruturas que resultem na proteção e promoção à saúde e ao bem-estar de todos os membros da comunidade escolar. Para termos uma escola promotora de saúde, devemos considerar dois aspectos educação em saúde; ambiente escolar, comunidade escolar, parceiros e serviço (ANDREOLI; MOREIRA, 2009, p.56). 46 As políticas antidrogas aparecem como estratégias do governo, pois servem[...] para a identificação, perseguição e reclusão de anormais, pessoas dissonantes com relação às ordens social e moral estabelecidas. Consumidores de drogas são rastreados pelo seu “desvio moral” e pelo “perigo sanitário” que representam [...] (p.21). A grande problemática em relação ao Estado é que este assume um caráter repressor,impedindo o esclarecimento dos possíveis fracassos de suas políticas sociais e de segurança. O Estado, então, procura culpados para explicar uma situação em que a responsabilidade é sua. Nesta perspectiva, o Estado se exime do dever de legislar e desenvolver políticas públicas específicas, em consenso com outras que expandam a proteção social, garantindo o exercício de cidadania, de tal modo, a responsabilidade que antes era do Estado, agora é dirigida para o indivíduo, que coloca o poder público em menor grau de compromisso. 47 3REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS DA PESQUISA DE CAMPO- PERFIL DOS ADOLESCENTES INTERNADOS NA ALA PSIQUIÁTRICA DO HUOP. O interesse pelo tema surge em 2011, no estágio supervisionado I em Serviço Social, no âmbito do Hospital Universitário do Oeste do Paraná- Cascavel. Especificamente no alojamento psiquiátrico, cujos pacientes internados na ala, são crianças e adolescentes dependentes químicos. Estes estão internados para tratamento de desintoxicação de drogas no organismo, caracterizado pelo uso indiscriminadode inúmeras drogas, entre elas, o álcool, o cigarro, a maconha, a cocaína, e também o crack. No entanto o que chamou atenção foi constatar que grande parte destes pacientes não frequentava a escola, embora todos estivessem em idade escolar. Assim para este trabalho, foram analisadas as fichas de cadastro psiquiatria Serviço SocialHUOP(anexo B), como forma de responder um dos objetivos desta pesquisa, o qual se refere ao perfil dos adolescentes internados na ala psiquiátrica do HUOP 13 , o grau de escolaridade e a faixa etária dos mesmos. Devido o fato do início do estágio se dar no ano de 2011. Optou-se, portanto, em realizar por meio de estudo documental, um levantamento do perfil dos adolescentes internados entre o período de janeiro de 2010 e dezembro de 2011, a fim de demonstrar em dados qual a situação escolar dos adolescentes dependentes de drogas internados no hospital. O levantamento de dados realizados baseou-se nos seguintes itens:Sexo, idade, situação sóciofamiliar, tempo de uso de drogas, situação escolar, e o uso de SPA entre elas o álcool, cigarro, maconha, cocaína e crack. Durante o período de janeiro de 2010 a dezembro de 2011 ocorreram 246 (duzentos e quarenta e seis) internamentos de crianças e adolescentes na ala psiquiátrica do HUOP. No entanto, apenas um total de 125 fichas foram contabilizadas. Por motivos como: utilização apenas das fichas dos adolescentes, situações como a não realização de algumas fichas e também o fato de que entre os 246 internamentos, muitos já haviam sido internados mais de uma vez durante os dois anos. Optou-se por não contabilizar as fichas de reinternamento dos adolescentes no hospital. Desta forma, foram contabilizados durante os dois anos 125 (cento e vinte e cinco) cadastros, realizados pelo setor do Serviço Social. Abaixo se apresenta o perfil destes adolescentes: 13 O Hospital Universitário do Oeste do Paraná – HUOP é um órgão suplementar da Reitoria da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, criado através da Lei Estadual 13.029/2000. Originalmente denominado Hospital Regional de Cascavel (HRC), sua estrutura física foi inaugurada no ano de 1989.Localiza-se na Avenida Presidente Tancredo Neves nº 3000, no Jardim Santo Onofre do Município de Cascavel. 48 Sexo e idade Dos 125 internamentos ocorridos no período de pesquisa dos formulários (Janeiro de 2010 a dezembro de 2011), 86 usuários são do sexo masculino, o que representa 69% do total, e 39 são do sexo feminino, ou seja, 31% destes adolescentes. Assim, verifica-se que durante os anos de 2010 e 2011 o número de adolescentes do sexo masculino foi o que predominou em relação ao número de adolescentes do sexo feminino conforme pode se verificar no gráfico abaixo: Gráfico 2: Distribuição dos Adolescentes quanto ao Sexo 39; 31% 86; 69% Masculino Feminino Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP, 2010-2011. Essa diferença entre ambos os sexos, ou seja, o fato de o uso de drogas predominar entre adolescentes do sexo masculino parece estar atrelado mais a fatores sociais e culturais do que a fatores biológicos. De acordo com Bessa e Pinsky (2009)14, socialmente, o que se espera dos adolescentes do sexo masculino em relação a seus comportamentos é que estes apresentem desde a infância um comportamento de luta, de força, ao contrário do comportamento que é esperado das meninas: delas, é esperado um padrão social de comportamento um pouco mais dócil, meigo. Várias drogas apresentam efeitos que potencializam comportamentos de força e coragem que os meninos devem apresentar. Segundo os autores, a pressão exercida pela sociedade para que os meninos adotem comportamentos desta procedência, poderia ser um fator de risco que os levaria ao consumo de drogas. Deste modo, como este padrão de comportamento esperado das adolescentes é 14 ( BESSA; PINSKY, 2009 apud GUND 2011 p. 104). 49 oposto ao dos meninos, este seria um dos motivos pelos quais há menos mulheres usuárias e dependentes de substâncias psicoativas. Do levantamento realizado sobre a idade, o resultado foi variável, pois entre os adolescentes entre 12 e 17 anos, verificou-se que dos 125 adolescentes internados, 6 tinham 12 anos (5%), 9 estavam com 13 anos (7%), 15 destes adolescentes estavam com 14 anos no período de internamento. No entanto, houve um aumento significativo de internamentos de adolescentes entre 15 e 17 anos, visto que, adolescentes com 15 anos representaram 24% do total. Assim como, adolescentes com 17 anos que também representaram 24% dos dados coletados. Contudo, há uma prevalência em relação aos adolescentes com 16 anos, os quais representaram 28% do total de internamentos, idade que apresentou maior número de adolescentes, conforme gráfico abaixo: GRÁFICO 3: Distribuição dos Adolescentes por Idade 6; 5% 30; 24% 9; 7% 12 anos 15; 12% 13 anos 14 anos 36; 28% 30; 24% 15 anos 16 anos 17 anos Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP De modo geral, percebe-se um crescimento no número de internamentos a partir dos 15 anos de idade, e finalizando aos 17 anos. Um grande número de internamentos aos 15, 16 e 17 anos de idade, pode estar ligado ao fato de que a Ala Psiquiátrica do HUOP somente atende crianças e adolescentes até 17 anos e 11 meses, e a rede de atendimento aos adultos ser mais escassa em serviços para tratamento. O aumento de internamentos nesta faixa etária pode estar vinculado à dificuldade de acesso ao atendimento de adultos na rede pública de saúde mental. O número de internamentos (trinta) entre adolescentes de 12 à 14 anos também chama a atenção, visto que, esta fase se caracteriza como a fase inicial da adolescência, e que talvez 50 o uso de drogas tenha ocorrido muito antes deste período, ou seja, na infância15. O mesmo ocorre com os adolescentes entre 15 a 17 anos, o fato de terem sido internados somente nesta idade não significa que o início de uso das drogas tenha ocorrido no mesmo período. Assim como elucidam os sujeitos A2, A3,A4 e A5, que embora hoje sejam adolescentes, todos iniciaram o uso de drogas na infância, como sugerem em suas falas sobre há quanto tempo usam SPA: “[...]comecei com seis anos” (A2), “Fumo cigarro desde os 10 anos, e droga desde os onze anos” (A3), “Desde os 6 anos” (A4), “Fazem 4 anos” (A5, hoje o adolescente está com 15 anos). Além da idade de início do uso de drogas, é importante ressaltar o tempo de uso de drogas conforme gráfico abaixo: GRÁFICO 4: Dados em Relação ao Tempo de uso de Drogas Pelos Adolescentes: 4; 3% 2; 1% 16; 13% 21; 17% Menos de 1 ano 1 à 2 anos 40; 32% 42; 34% 3 à 4 anos 5 à 6 anos 7 à 8 anos Mais de 9 anos Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP O gráfico em questão apresenta os dados referentes há quanto tempo os adolescentes fazem uso de drogas, constatou-se, portanto, o número de 4 adolescentes (3%) e 2 adolescentes (1%), que fazem uso de drogas há mais de 7 anos, o que caracteriza que estes adolescentes iniciaram o uso ainda na infância. No entanto, o que chama atenção é o fato de que a grande maioria, ou seja, 34% dos adolescentes consomem drogas entre 1 e 2 anos e 32% entre 3 e 4 anos. Também é necessário enfatizar que 17% fazem uso de drogas há menos de 1 ano, o que pode caracterizar que o uso se deu na adolescência. Organização sóciofamiliar 15 Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera criança pessoas entre zero e 12 anos incompletos. 51 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)define família enquanto um “[...] conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou normas de convivência, residente na mesma unidade domiciliar, ou pessoa que mora só em uma unidade domiciliar[...]” (IBGE, 2010, s.p). Adota-se a concepção de família, para fins desta pesquisa, de pessoas residindo na mesma casa, mas não necessariamente ligadas por laços de parentesco, mas sim de afetividadecomo verificado nas combinações encontradas entre os adolescentes, demonstradas no gráfico abaixo: GRÁFICO 5: Distribuição dos Adolescentes quanto a Composição Familiar 25; 17% 24; 17% Família núclear 26; 18% Família monoparental 69; 48% Família convivente Situação de rua Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP Na pesquisa, a composição familiar mais citada foi a família monoparental constituída por mãe ou pai e filhos, um dado informado por 69 adolescentes (48%) entre as 125 fichas analisadas, ou seja, quase a metade das famílias são monoparentais. A segunda forma de composição familiar mais citada é a de família convivente. O IBGE considera como famílias conviventes as constituídas de no mínimo duas pessoas. É aquela que comporta diferentes gerações que residem no mesmo local, na maior parte das vezes por avós com filhos e netos. Nesta situação, encontram-se 26 adolescentes, totalizando 18%. Essa tendência pode ser explicada pelo aumento da expectativa de vida e pela desregulamentação do mercado de trabalho, no qual, muitas vezes, a aposentadoria é a única renda garantida da família. O último censo do IBGE, realizado em 2010, demonstrou que 65,3% dos idosos eram considerados pessoas de referência no domicílio (IBGE, 2010, s.p). Constatou-se também que a família nuclear simples (formada por pais e filhos) foi a 52 terceira mais citada na forma de organização familiar, sendo mencionada por 24 adolescentes, o que representa 17% do total. No Brasil, ainda há um predomínio das famílias nucleares, porém este modelo vem sofrendo queda, diferente do aumento das famílias monoparentais e famílias conviventes que estão aumentando. Outro dado que se verifica entre os adolescentes é a condição de moradia nas ruas, dos 125 adolescentes, 6 não responderam qual sua composição familiar, motivados pelo fato de estarem em situação de rua e não terem vínculos com familiares. No entanto, outros 19, embora também estivessem em situação de rua, indicaram qual sua composição familiar, totalizando assim 17% da população total. Renda familiar A situação da renda também chama a atenção pelo fato de 20 famílias (19%) entre os 125 entrevistados não possuem renda fixa, como expressa o gráfico abaixo: GRÁFICO 6: Distribuição dos Adolescentes quanto a Renda Familiar 5; 5% 5; 5% 20; 19% Menos que 1 salário mínimo 27; 26% 1 à 2 salários 2 à 3 salários 3 à 4 salários 48; 45% Mais que 5 salários mínimos Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP. Verificou-se que, entre as famílias que citaram não possuir renda fixa, estas estão inseridas no mercado de trabalho informal, e realiza diversas atividades, entre elas a coleta de materiais recicláveis. Embora 27 famílias, ou seja, 26% recebam de 2 à 3 salários mínimos e 10 famílias recebem mais que 3 salários mínimos, a renda mensal que se sobrepõe e foi apresentada em 48 fichas é de 1 à 2 salários mínimos representando 45% das famílias. Esta situação da renda advém da capacidade das famílias em prover seus mínimos sociais e poder potencializar a vulnerabilidade a que estão expostas, dificultando seu cuidado para com seus membros. A 53 falta de recursos financeiros incide na limitação do desenvolvimento de potenciais, no acesso a recursos da comunidade e pode incidir como fator de risco para o uso de drogas. No entanto, a falta de recursos e, consequentemente, a vulnerabilidade da família possam ser fatores que contribuam para o uso de drogas, não se pode afirmar que a questão da dependência de drogas esteja restrita apenas aos estratos menos favorecidos. Tendo em vista o fato de o HUOP ser um hospital da rede pública, as famílias que buscam atendimento no hospital não possuem condições suficientes para pagar os serviços da rede privada, não limitando assim a questão da dependência apenas a um estrato social. Escolaridade Em relação à frequência na escola pelos adolescentes, verificou-se que há um alto índice de evasão escolar visto que das 125 fichas analisadas, 99 adolescentes estão em situação de abandono escolar, o que representa 79%, ou seja, os mesmos não estavam estudando antes do internamento, embora todos estivessem em idade escolar. Apenas 26 adolescentes estavam estudando, totalizando 21%. GRÁFICO 7: Situação Escolar: Estudando antes do Internamento 26; 21% 99; 79% Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP Sim Não 54 Evasão escolar por sexo: Quanto ao sexo dos adolescentes e a situação da evasão escolar, verifica-se que os adolescentes do sexo masculino param os estudos com mais frequência que as adolescentes do sexo feminino. Entre os meninos a evasão escolar foi de 70%, o que corresponde a 69 fichas e entre as meninas a evasão foi de 30 %. O motivo deste resultado pode se caracterizar pelo fato de terem sido internados mais meninos que meninas durante o período da pesquisa. GRÁFICO 8: Situação Escolar: Evasão Escolar por sexo 30; 30% Masculino 69; 70% Feminino Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP Outro dado que deve ser considerado, é a série em que estes adolescentes encontravam-se matriculados antes de abandonar a escola. Analisando, portanto, o ingresso da criança aos 07 anos de idade no Ensino Fundamental (pela legislação anterior), aos 11 anos ela deveria estar na 5ª série, e aos 15, no 1º ano do ensino médio. Contudo, a maior incidência de evasão escolar incide na 6ª série. Quanto à escolaridade, para efeito de estudo considera-se: séries iniciais-1ª a 4ª do ensino fundamental eséries finais 6ª à 8ª. De 1° a 3° ano ensino médio 16 observa-se uma prevalência da evasão escolar na 6ª série, seguida da 5ª e 7ª séries, como pode se observar na tabela abaixo: 16 Até 2005, a matrícula regular no ensino fundamental ocorria aos 07 anos de idade. A partir da Lei no 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, amplia o Ensino Fundamental para nove anos de duração, mantendo a matrícula das crianças aos 06 anos de idade. Contudo, pelo fato de os adolescentes não estarem inseridos nesta nova modalidade de ensino, considerou-se o apenas o ensino fundamental de 1ª à 8ª série. 55 GRÁFICO 9: Evasão Escolar por Série/Ano 2ª série 5; 5% 5; 5% 2; 2% 3; 3% 1; 1% 9; 9% 8; 8% 3ª Série 4ª Série 19; 19% 5ª Série 6ª Série 19; 19% 7ª Série 28; 29% 8ª Séire 1º ano 2º ano EJA Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP A pesquisa documental demonstrou que a idade predominante entre os adolescentes localiza-se entre 15 e 17 anos, idades cronológicas que correspondem ao Ensino Médio. Isto é, 1° ano-15 anos; 2° ano-16 anos e 3º ano- 17 anos. Em relação aos dados coletados, estes apresentam, portanto, uma situação de distorção idade-série, pois apenas 6% dos adolescentes entre 15 e 17 anosse evadiram da escola quando já estava no ensino médio. Observa-se, portanto, entre os outros adolescentes uma defasagem acentuada entre a idade escolar e a idade cronológica, Chama a atenção os dados referentes à 5ª, 6ª e 7ª séries, nos quais predominam a maior parte dos adolescentes, com ênfase para a 6ª série, no qual 28 adolescentes (29%) abandonaram a instituição escolar. Outro dado a ser observado é quanto à frequência de 9% dos adolescentes na Educação de Jovens e adultos (EJA). Esta modalidade de ensino atende pessoas que não concluíram as séries iniciais de 1ª à 4ª série. Em relação aos adolescentes internados que frequentavam esta modalidade de ensino, observa-se que estes representam 9% do total, e o fato de também abandoarem o EJA representaque o abandono escolar ocorreu por mais de vez. Dependência de drogas por adolescentes em situação de evasão escolar 56 Em relação ao uso de SPA entre os adolescentes, a maconha prevalece como sendo a droga mais utilizada, seguida pelo álcool, depois o crack, a cocaína e por fim o cigarro. Embora estas não sejam as únicas substâncias utilizadas pelos adolescentes, estas são as mais conhecidas e usadas por estes. Conforme o gráfico abaixo é possível visualizar com mais clareza sobre a proporção do uso de cada droga. GRÁFICO 10: Substâncias Psicoativas Utilizadas por Adolescentes em Situação de Evasão Escolar 21; 8% 41; 16% 61; 24% Álcool Crack Maconha 77; 30% 58; 22% Cocaína Cigarro Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP Entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011, chamou a atenção o número de internamentos em decorrência do uso da maconha, que representaram 30% do total. Sobre o uso desta substância pelos adolescentes observa-se em estudos que há “[...] um aumento do uso de maconha nessa população [...]. É fato que temos observado esse aumento e, com ele o aparecimento do uso de outras drogas, como a cocaína, o crack [...]” (NIEL;GOLDSHMIDT, 2009, p. 40). Em relação ao uso de álcool por 24% dos adolescentes, verifica-se este consumo como amplo, exatamente por ser de fácil acesso e estar ao alcance destes jovens. O crack também foi predominante entre os sujeitos da pesquisa, uma droga utilizada em 22% dos casos, seguido pela cocaína, citada por 16% dos adolescentes. Cabe lembrar que o crack é a cocaína fumada, é a pasta que sobra na produção da cocaína. E embora as duas drogas apresentem praticamente os mesmos efeitos, o da cocaína é mais duradouro em comparação com o efeito do crack. Além disso, o crack é uma droga mais barata e parece contribuir para a dependência mais frequente e rapidamente que as outras drogas, talvez estes sejam os motivos para o maior 57 uso da droga entre os adolescentes. O pouco consumo de cigarro entre os adolescentes chamou atenção, pois foiapresentado por apenas 8% destes adolescentes. Deste modo, tendo em vista que o cigarro é uma droga acessível e barata, uma SPA legalizada e muitas vezes não ser considerada como droga, faz com que apareça pouco nas fichas de cadastro. O consumo de substâncias psicoativas na adolescência afeta as relações pessoais, familiares, profissionais e no caso dos adolescentes o desempenho escolar como apresenta no gráfico abaixo: GRÁFICO 11-O Uso de Drogas foi anterior à Evasão Escolar: 27; 28% Sim 11; 11% 59; 61% Não Ao mesmo tempo que iniciou o uso de drogas Fonte: Ficha de cadastro psiquiatria serviço social HUOP De fato, o abandono escolar em geral envolve várias causas e fatores, no entanto, deve-se considerar que a drogadição é um fator que vincula-se com a situação de evasão escolar dos adolescentes desta pesquisa. O que se constatou foi que mais da metade dos adolescentes, ou seja, 59% abandonaram o ambiente escolar após iniciar o uso de drogas, e outros 27% abandonaram a escola ao mesmo tempo em que iniciaram este uso. Estes elementos caracterizam a drogadição como o principal motivo para a evasão escolar. Contudo, não se deve acreditar que seja o único elemento que motivou estes adolescentes a se evadirem da escola, visto que, embora sejam a minoria 11% dos adolescentes que estavam em situação de abandono escolar já haviam se evadido da escola antes de iniciar o uso de drogas. Porém não se pode deixar de considerar que de a drogadição é de fato um elemento impeditivo de escolarização, pois na maior parte das vezes tem como consequência a evasão escolar. 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta pesquisa, a hipótese formulada foi validada, isto é, o abandono escolar se dá pelo uso indiscriminado de drogas, que é considerado como uma das expressões da “questão social”. Como esta pesquisa é de natureza quantitativa e qualitativa foi possível realizar estudos em bibliografia específica na área da Política social da educação e dependência química, o que nos possibilitou qualificar as ações da própria pesquisa. O objetivo geral foi alcançado, tendo em vista que pretendíamos conhecer os motivos gerais que influenciam no processo de evasão escolar entre adolescentes dependentes químicos internados na ala psiquiátrica do HUOP. Para isto, foram realizadas sete entrevistas semiestruturadas com os sujeitos, sendo eles adolescentes internados e seus familiares. Também foi realizada uma pesquisa documental com 125 fichas de cadastro dos adolescentes no Serviço Social do HUOP. Com isto, houve possibilidade de responder a um dos objetivos secundários que se refere ao grau de escolaridade e faixa etária dos adolescentes dependentes químicos internados no hospital Um dos objetivos secundários é compreender como a família, o Estado e as políticas sociais interferem na recuperação de crianças e adolescentes dependentes químicos para seu retorno ao ambiente escolar. Concluímos que a família e o Estado são de fato primordiais para realizar esta função, e não só, mas também o acesso e permanência na escola. Estes são em conjunto com a sociedade e a escola as principais instituições que devem promover o direito à educação por meio das políticas sociais. No entanto, quando se faz uma breve análise do que são as políticas sociais percebemos que a educação não tem sido prioridade para o Estado, neste sentido, este torna-se omisso em relação ao acesso, aprendizado, permanência e conclusão dos educandos no sistema educacional. Observou-se, que a família, muitas vezes toma a responsabilidade para si própria, outras se apoiam na escola por considerar que a mesma deve promover a educação. Aqui nos referimos a uma inversão de papéis, em que a educação familiar passa a ser de responsabilidade da escola. Para a sociedade de forma geral, o adolescente é o único “exclusivamente culpado” pela situação em que se coloca. Assim, é visto como responsável por suas ações, sejam elas pelo uso das drogas e/ou abandono escolar. Desta forma, observou-se que a marginalização desses sujeitos é mais forte do que se pensa, tanto pelo fato de se evadir da escola, como também pelo uso indiscriminado de drogas, o que gerou uma situação de exclusão social. 59 É importante reiterar que a escola é um poderoso agente de socialização para o adolescente, podendo ser transformador e aperfeiçoar sua autoestima, colaborando com o seu desenvolvimento.Cabe à mesma, desenvolver também os valores que formam a personalidade do adolescente e, dessa forma, promova condições dos mesmos em posicionarem-se contrários ao uso de drogas, tornando o vínculo escolar um fator positivo para a prevenção. Contudo, existe atualmente uma realidade contraditória,em que a escola também tem sido considerada como um fator de risco para a possibilidade do uso de drogas, pois, este ambiente pode constituir-se em um espaço de assédio de traficantes e de risco para o consumo de drogas, o que ficou patente na fala dos sujeitos da pesquisa. Além disso, a pesquisa nos possibilitou compreender a partir dos casos avaliados, que a evasão escolar é realmente determinada por um conjunto de fatores sociais, econômicos, culturais, entre outros. Assim é necessário um maior investimento na própria educação, bem como nas políticas sociais de forma geral. Reafirmando, a dependência química é resultante de inúmeras expressões da “questão social” de naturezas variadas como culturais e familiares, exigindo intervenções pontuais, em varias áreas como assistência social, saúde e educação, de forma articulada. Assim, a evasão escolar é apenas uma das consequências da dependência de drogas. Ainda,a falta de motivação para os estudos, o absenteísmo, o mau desempenho escolar, são fatores determinantes para esta dependência. Deste modo, a dependência de drogas na adolescência, requer maior atenção por parte do poder público. Como o Serviço Social na Educação está se expandindo, observa-se que o tema da evasão escolar e dependência química, tem sido pouco discutido até então, e, por isso, existe pouca atenção nesta área e também bibliografia reduzida. A intervenção profissional do Assistente Social se funda na conquista pelos direitos sociais desses sujeitos. Finalizando, o problema de pesquisa expresso em quais os motivos que influenciam para a evasão escolar de adolescentes dependentes químicos internados no HUOP foi conhecido, o que validou esta pesquisa no sentido de contribuir com os conhecimentos já acumulados na área. Os resultados desta pesquisa serão compartilhados com os sujeitos entrevistados por meio de CD para atender uma exigência do Código de Ética do Assistente Social. Ou seja, artigo 5°- são deveres do Assistente Social nas suas relações com os usuários: alínea c) devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido de que estes possam ser usados para o fortalecimento de seus interesses. 60 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Jane Soares de. Mulheres na educação: missão, vocação e destino?. In. SAVIANI, Dermeval; ALMEIDA, Jane Soares; SOUZA, Rosa Fátima de; VALDEMARIN, Vera Teresa. (Orgs) O Legado Educacional no século XX no Brasil. Campinas, SP, Autores Associados, 2006. ALMEIDA,N. L. T. O Serviço Social na educação . Revista Inscrita Conselho Federal de Serviço Social. Brasília, n.6, ano 3, jul. 2000, p. 19-24. ALMEIDA, Ney Luiz Teixeira de. Serviço Social e política educacional: um breve balanço dos avanços e desafios desta relação. In: I Encontro de assistentes sociais na Área da Educação. Belo Horizonte, 2003. ANDRADE, Ênio Roberto de; SCIVOLETTO, Sandra. A Cocaína e o adolescente In: LEITE, Marcos da Costa; ANDRADE, Arthur Guerra de. (Orgs) Cocaína e Crack dos Fundamentos ao Tratamento. Porto Alegre, RS ARTIMED, 1999. ANDREOLI, Sergio Baxter, MOREIRA, F. G. A escola promotora de saúde e os programas de prevenção. In: MOREIRA, Fernanda G; NIEL, Marcelo; SILVEIRA, Dartiu Xavier da. (Orgs). Drogas Família e Adolescência. São Paulo-SP: Atheneu, 2009. BEHRING, Elaine Rossetti; SANTOS Silvana Mara de Morais. Questão Social e direitos. In. Serviço Social Direitos Sociais e Competências Profissionais, Brasília-DF, 2009. BIANCHETTI, Roberto G. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais, 3ª edição, São Paulo, Cortez, 2001. BRASIL.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 5ª ed. Câmara dos Deputado, Brasília –DF, 2010. BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil (1988). 31ª ed. Brasília-DF: Câmara dos Deputados. Edições Câmara, 2009. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8069, de julho de 1990. Dispões Sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. Brasília, Senado Federal 2010. BRASIL. Gabinete de Segurança institucional. Conselho Nacional Anti-drogas. Política Nacional Sobre Drogas. Brasília, 2005. <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/legislacão/326979.pdf> Acesso em 05 de out. 2012. 61 CERATTI, Márcia Rodrigues Neves. Evasão escolar, causas e consequências, 2008 Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/242-4.pdf>. Acesso em 21 de maio de 2012. CFESS. Conselho Federal de Serviço Social –. Grupo de Trabalho do Conjunto CFESS/CRESS sobre o Serviço Social na Educação (coord.). Subsídios para o Debate sobre Serviço Social na Educação. Brasília, jun. 2011. CFESS, Conselho Federal de Serviço Social. Serviço Social na Educação. Parecer Jurídico nº 23/00 de 22 de Set. 2001. Brasília DF, 2001.Disponível em:<http://www.cfess.org.br/arquivos/SS_na_Educacao%282001%29.pdf> Acesso em: 15 de outubro de 2012. CFESS.Código de Ética Profissional dos assistentes sociais Resolução n. 273 mar. 1993.Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_1993.pdf> Acesso em: 13 de Out. 2012. CFESS. Regulamentação da profissão de Assistente Social. Lei nº. 8662 jun. 1993. Brasília, CFESS, 1993. PONCHECK, D. do R.; WITIUK, I. L.; SOUZA, G. S. de (Orgs.). Legislação social: cidadania, políticas públicas e exercício profissional. 2ª Ed. rev. e atual Curitiba: CRESS 11ª Região, jul. 2007, p. 007-011. COUTINHO, Ângela A. RIBEIRO, Mirian dos S. BARRETOS, Valdineide B. Serviço Social e famílias: as contribuições da atuação profissional do Serviço Social para Efetivação da participação familiar no acompanhamento educativo In: SILVA, Marcela Mary José da (Org.). Serviço Social na Educação: teoria e prática, campinas, SP: Papel Social, 2012. DALLARI, Dalmo de Abreu. O que são Direitos da Pessoa. São Paulo: Brasiliense,1984 DEITOS, Roberto Antônio, Políticas Públicas e Educação: aspectos teóricos- ideológicos e socioeconômicos. In. Acta Scientiarum. Education, V.32, n.2, p.209-218. Maringá, 2010. DIVIDA, Auditoria cidadã da Divida. GráficoOrçamento Geral da União de 2011, Disponível em: <http://www.divida-auditoriacidada.org.br/config/artigo.2012-0115.2486469250/ documentview>. Acesso: 25set. de 12. FEFFERMANN, Marisa. Vidas Arriscadas o Cotidiano dos Jovens Trabalhadores do Tráfico. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2006. GUND, Daniela Prochnow, O Enfrentamento da Dependência de Crack em Crianças e Adolescentes pelas Equipes Multiprofissionais da Rede de Saúde Mental do Município de Cascavel – Estratégias, Desafios e Possibilidades. Dissertação de mestrado ao programa de pós-graduação em Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina (UEL). LondrinaPR, 2011. 62 IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Disponivel em:<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=774 >Acesso em: 11 Out, 2012. LEITE, Marcos da Costa. Abuso e dependência de cocaína: conceitos In: LEITE, Marcos da Costa; ANDRADE, Arthur Guerra de. (Orgs) Cocaína e Crack dos Fundamentos ao Tratamento. Porto Alegre, RS ARTIMED, 1999. LOPES, Eleni de Melo Silva. Serviço Social e Educação: As perspectivas de avanços do profissional de Serviço Social no sistema escolar público. Serviço Social em Revista. Londrina-PR, Volume 8 - Número 2 Jan/Jun 2006. Disponível em:<http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c-v8n2_eleni.htm>. Acesso em 15 de out. de 2012. LOUZADA, Ineiva T. K. BRINGHENTTI, Eliane T. Adolescentes Egressos da Medida Socioeducativa de privação de liberdade e a educação escolar; desafios e possibilidades. In: Socioeducação Reflexões para a Construção de um Projeto coletivo de formação cidadã. Cascavel-PR: EDUNOESTE, 2011. LUKÁCS, György. Para A Ontologia Do Ser Social O Trabalho In: TONET, Ivo (Org). Primeiro capítulo do segundo tomo dePer uma Ontologia dell’EssereSociale. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/32647925/A-Ontologia-do-Ser-Social-Capitulo-sobre-o-trabalho acesso em: 22 de julho de 2012. Roma, EditoriRiuniti, 1981. MOURA, Dante Henrique. Algumas considerações críticas ao Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos– PROEJA. 2010. Disponível em: <www.cefetrn.br/.../especializacaoproeja/material-de>. Acesso em 15 jun. 2012. NETO, Olympio de Sá Sotto Maior, O estatuto da criança e do adolescente e o Sistema educacional In: Por uma Escola que protege: A educação e o enfrentamento à violência contra criança e adolescentes. 2º Ed, Ponta Grossa, 2009. NETTO, José Paulo. Cinco notas a propósitos da "questão social". Temporális, Associação Brasileira e Pesquisa em Serviço Social, Brasília: ABEPSS, ano 2, n.3, jan/jul. 2001. p. 41 – 49. NIEL, Marcelo; GOLDSHMIDT, Deborah Yafa. Adolescentes e uso de drogas. In: MOREIRA, Fernanda G; NIEL, Marcelo; SILVEIRA, Dartiu Xavier da (Org) Drogas Família e Adolescência. São Paulo-SP: Editora Atheneu,2009. ONU- Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1948. REZENDE, Manuel Morgado. Curto-circuito Familiar e drogas análise de relações familiares e suas implicações na farmacodependência. 2ª edição, Taubaté-SP, Cabral editora universitária, 1997. 63 SAVIANI, Demerval; Da nova LDB ao FUNDEB, editora autores associados 1ª edição, Campinas-SP. 2007. SAVIANI, Dermeval. A escola Pública brasileira no “longo século XX”. In. SAVIANI, Dermeval; ALMEIDA, Jane Soares; SOUZA, Rosa Fátima de; VALDEMARIN, Vera Teresa. (Orgs) O Legado Educacional no século XX no Brasil. Campinas, SP, Autores Associados, 2006. SOARES, Laura Tavares: O Desastre Social. In. SADER, Emir (Org). Os porquês da Desordem Mundial Mestres Explicam a Globalização. 2003. Disponível em: <http://books.google.com.br/books?hl=en&lr=&id=TKk_pZgczKMC&oi=fnd&pg=PA9&dq =o+desastre+social+laura+tavares&ots=_I-MXhE0Q6&sig=9-acamM9UqYgR4K9 PdYDGs 11mOw#v=onepage&q=o%20desastre%20social%20laura%20tavares&f=true> acesso em 20 de Set. de 2012. TONET, Ivo. Marxismo e Educação. 2009. Disponível em: <http://www.ivotonet.xpg.com.br/arquivos/MARXISMO_E_EDUCACAO.pdf> acesso em:22 de jul. de 2012. UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem Jomtien, 1990. 1998.Disponível em:<http://unesdoc. unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf>Acesso em: 25 Set. 2012. VIEIRA, Evaldo. Democracia e Política Social, v.49: Cortez Autores Associados, Coleção polêmicas do nosso tempo; São Paulo-SP, 1992. WINCH, Christopher; GINGELL, Gingel, Dicionário de Filosofia da Educação. São Paulo, contexto 2007. XAVIER, Maria Elizabete Sampaio Prado. Capitalismo e escola no Brasil: a constituição do liberalismo em ideologia educacional e as reformas do ensino (1931-1961). Campinas, SP; Papirus, 1990. 64 APÊNDICES 65 APÊNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ADOLESCENTES 66 67 APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO FAMÍLIAS 68 69 APÊNDICE C - FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA ADOLESCENTES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A) DE TCC:Carmen Pardo Salata ACADÊMICO (A): Thaise Fernanda de Lima Mares OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Conhecer os motivos gerais que influenciaram no processo de evasão escolar entre os adolescentes dependentes químicos internados na ala psiquiátrica do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista semiestruturada SUJEITOS DA PESQUISA: Adolescentes dependentes químicos internados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná. DATA DA ____/____/2012 ENTREVISTA: Nº DA ENTREVISTA: _____________ PERGUNTAS: 1-Qual é a sua Idade?_______ 2-Sexo Feminino ( ) Masculino ( ) 3- Trabalha? Sim ( ) Não ( ) 4-Composição familiar? Composição familiar Parentesco 4-Situação de moradia? Idade Anos de emprego Renda escolaridade 70 Casa ( ) Apartamento ( ) Própria ( ) Cedida ( )Alugada ( ) -Valor aluguel__________ Abrigo: ( ) Situação de rua: ( ) 5-Escolaridade: Analfabeto ______ Ensino fundamental incompleto ( ) Série______ Ensino fundamental completo ( ) Série______ Ensino médio incompleto ( ) Série______ Ensino médio completo ( ) Série______ 6-Há quanto tempo não esta frequentando a escola? Menos de 1 ano ( ) Entre 1 e 2 anos ( ) Entre 2 e 3 anos ( ) Entre 3 e 4 anos ( ) Mais de 4 anos ( ) Nunca frequentou ( ) 7-Qual o motivo que o levou a deixar a escola? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ 8-A escola interviu de alguma forma para que não houvesse o abandono? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ 9-Qual foi a reação da sua família quando você abandonou a escola? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ 10-Você acha que a escola poderá ajudar no tratamento da dependência química? De que forma? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ 11-Há quanto tempo é usuário de drogas? Menos de 1 ano ( ) Entre 1 e 2 anos ( ) Entre 2 e 3 anos ( ) 71 Entre 3 e 4 anos ( ) Mais de 4 anos ( ) Quanto? _______ 12-Que tipo de drogas que faz uso? Álcool Cigarro Maconha Merla Cocaína Crack Oxi () () () () () () () 13-A escola influenciou para a dependência química? Como? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 14-De que forma o uso de drogas influenciou para o seu abandono escolar? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 15-Pretende voltar a estudar? Por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 16-Já tentou retornar a escola? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 17-Teve alguma dificuldade? Qual? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 18-Porque não permaneceu na escola? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ 19-A sua família o incentivou de alguma forma para retornar à escola? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 20-Qual é a sua concepção de escola? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _______________________________________________________________ 72 APÊNDICE D- FORMULÁRIOS DE ENTREVISTA FAMÍLIAS UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CURSO: SERVIÇO SOCIAL – 4º ANO PROFESSOR(A) ORIENTADOR(A) DE TCC:Carmen Pardo Salata ACADÊMICO (A): Thaise Fernanda de Lima Mares OBJETIVO GERAL DA PESQUISA: Conhecer os motivos gerais que influenciaram no processo de evasão escolar entre os adolescentes dependentes químicos internados na ala psiquiátrica do Hospital Universitário do Oeste do Paraná. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: Entrevista semi-estruturada SUJEITOS DA PESQUISA: Familiares de adolescentes dependentes químicos internados no Hospital Universitário do Oeste do Paraná. DATA DA ____/____/2012 ENTREVISTA: Nº DA ENTREVISTA: _____________ PERGUNTAS: 1-Sexo Feminino ( ) Masculino ( ) 2- Trabalha? Sim ( ) Não ( ) 3-Composição familiar? Composição familiar Parentesco Idade Emprego 4-Situação de moradia? Casa ( ) Apartamento ( ) Própria ( ) Cedida ( )Alugada ( ) -Valor aluguel__________ 5-Escolaridade: Analfabeto ______ Ensino fundamental incompleto ( ) Série______ Ensino fundamental completo ( ) Série______ Escolaridade 73 Ensino médio incompleto ( ) Série______ Ensino médio completo ( ) Série______ Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) De que forma a escola interferiu após o abandono pelo seu filho?_______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _______________________________________________________ Seu filho apresentou algum problema na escola anterior ao uso de drogas? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _______________________________________________________ Você acredita que a drogadição influenciou para o processo de abandono escolar? Por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ Para você qual foi o principal motivo que levou seu filho ao abandono escolar? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ Para você quem foram os responsáveis pelo abandono escolar?_____________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________ Como a família reagiu diante desta situação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________ 74 ANEXOS 75 ANEXO A- APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA - CEP 76 ANEXO B -FICHAS DE CADASTRO PSIQUIATRIA SERVIÇO SOCIAL HUOP 77