Entrevista Mari Alkatiri à SIC notícias Jornalista :Foi primeiro-ministro de Timor-Leste, hoje preside o maior partido da oposição senta-se no parlamento no lugar deputado, anda pelo estrangeiro a reunir a apoios, já esteve em Angola segue depois para os Estados Unidos, agora em Portugal, Mari Alkatiri Secretário-Geral da FRETILIN, é convidado da edição da noite. Jornalista: Qual é o objectivo desta sua viagem pelo estrangeiro? Mari Alkatiri: Bem penso que todo o mundo tem os olhos postos em Timor-Leste e há necessidade que como maior partido do País, não é o maior partido da oposição, somos realmente o maior partido do país, consigamos fazer chegar, aquilo que entendemos ser a versão mais correcta, a explicação da situação actual em Timor-Leste. Jornalista: Quando diz que o Mundo inteiro tem os olhos em Timor-Leste já não é pelas melhores razões pois não? Mari Alkatiri: Há uma grande preocupação do Mundo em relação a Timor-Leste, logo após a restauração da independência fomos quase sempre elogiados pelas instituições internacionais e não só pelos países amigos pela forma como estávamos a conduzir o processo de reconstrução do país e fundamentalmente a criação de um processo de um Estado Democrático de Direito Jornalista: Não está concretizado? Mari Alkatiri: Naturalmente que sofreu um recuo tremendo com a crise de 2006 que se verificou no nosso país, que ainda está em curso, e com um novo governo que não tem nenhum sentido de estado, não tem noção de estado e tudo tem feito no sentido impor a vontade pessoal de uma só pessoa….. Jornalista: Xanana Gusmão! Mari Alkatiri: Naturalmente que é essa…. Jornalista: Que o Senhor considera que não tem capacidade para governar o país. Mari Alkatiri: Eu considero sim, para além de não ter legitimidade para governar o País porque perdeu as eleições, já demonstrou durante oito meses de governação, quase nove meses, que governação para Xanana é gastar dinheiro e pouco mais…… Jornalista: O Senhor esteve em Angola, li declarações suas a dizer que tem o apoio do MPLA, estes apoios que reúne o que pretende fazer com eles? Antecipar as eleições em Timor de que forma? Mari Alkatiri: O que vai determinar as eleições em Timor é a situação interna no país, todos se acompanharem……. Jornalista: Há uma demissão de Xanana Gusmão ou há um Golpe de Estado? Mari Alkatiri: Não haverá Golpe de Estado nós já demonstramos que não vamos repetir aquilo que os outros fizeram em 2006 contra o Governo da FRETILIN, nós pensamos que há um trabalho político mais profundo com a população compreender perfeitamente a situação e ver a diferença entre a governação da FRETILIN e a governação de Xanana e dos seus aliados. Naturalmente que a própria dita Aliança da Maioria Parlamentar, já sofreu baixas, há um Partido que já abandonou a Aliança, há outro que é a oposição interna da própria aliança, portanto há baixas sistemáticas nesta mesma Aliança. Neste momento podemos dizer que faltam só algumas medidas a serem tomadas para demonstrar claramente a Xanana que a governação dele tem os dias contados. Jornalista: Que medidas são essas? Mari Alkatiri: São medidas que têm a ver com auditoria às contas do governo para tirar absolutamente dúvidas, há alegações de corrupção de toda a ordem, de esbanjamento do erário público, há alegações de má governação, de actos legislativos que são ilegais e inconstitucionais, tudo isso acho que é o suficiente para mostrar a Xanana Gusmão que ele não tem capacidade para governar como não tem legitimidade Jornalista: Quem são os seus apoios em Portugal? Mari Alkatiri: Eu não quero de forma alguma que Portugal apoio ABC deve apoiar o projecto nacional da criação de um estado de direito democrático e isso significa o reforço do primado da lei da vida do país , reforço da justiça uma administração pública transparente uma boa governação para o País. Jornalista: Se o senhor não quisesse que Portugal tomasse posição, não estaria em Portugal a tentar contactos com algumas individualidades concerteza que é a sua opinião que lhes vem transmitir. Mari Alkatiri: Naturalmente que trago a minha opinião, eu acho que o fundamental é continuar a manter em Portugal um consenso em torno de um estado viável em TimorLeste e eu trago factos para comprovar que com Xanana não teremos um Estado viável. Jornalista: O senhor geriu o petróleo com a criação de um fundo que já ultrapassou em muito as expectativas que já atingiu o valor que era esperado ter em 2019. Que é que acontece em Timor para que este projecto não se consiga traduzir numa melhor qualidade de vida para a população? Mari Alkatiri: Se Xanana continuar no governo com a sua aliança naturalmente que isso não acontecerá. Xanana está a governar o país com um orçamento equivalente a 4 anos do orçamento de estado do meu tempo. Mesmo assim há pura e simplesmente o esbanjamento, subsidia consumos, cria mais dificuldades a uma certa competitividade da produção interna com o produto importado, o produto importado torna-se tão barato tão barato pelos subsídios que ele impõe, que naturalmente desincentiva a produção interna o que significa que desincentiva a própria economia, o desenvolvimento da economia nacional, a continuar-se com esse tipo, essa maneira de governar, naturalmente que o fundo do petróleo algum dia esgota e nada se faz de criar uma alternativa ao próprio fundo. Jornalista: O que é que justifica em todos estes anos com as riquezas naturais que Timor-Leste tem não tenha havido da parte do investimento estrangeiro vontade de entrar no território e o fazer desenvolver também, há entraves por parte da governação ou não? Mari Alkatiri: De forma alguma. A própria situação objectivamente desde 2002 até 2006, não era propícia a uma atracção do investimento externo porque havia ausência de Instituições com capacidade para gerir esse mesmo investimento, ausência de infraestruturas. Portanto a partir do momento em que nós começamos a receber as receitas do petróleo, portanto do fundo petróleo e gás estaríamos em condições de avançar para o investimento público com agressividade, com ousadia para poder criar essas condições infraestruturais e ao mesmo tempo capacitar as nossas instituições internas, instituições do Estado e também públicas e privadas para poder realmente entrar para o mercado e gerir este investimento Jornalista: Mas há uma economia capaz de absorver e aproveitar esses fundos ou tinha de ser tudo feito com esse investimento? Mari Alkatiri: Não. O investimento público deve ser feito para criar as condições para que pudesse atrair mais esse investimento privado internacional. Jornalista: Qual é o papel de Ramos Horta no País neste momento? Mari Alkatiri: Neste momento Ramos Horta representa um papel de equilíbrio no País porque no fundo, apesar de ter sido eleito contra o candidato da FRETILIN tem o apoio da FRETILIN para poder garantir um pouco um equilíbrio político, um equilíbrio social, em Timor-Leste. Jornalista: Com quem é que o senhor tem relações de estado, o senhor dá-se bem com Ramos Horta? Mari Alkatiri: Relações de Estado com Ramos Horta são boas, naturalmente que há diferenças, sempre houve diferenças entre nós, mas neste momento ele está a ocupar uma posição cimeira no Estado de Timor-Leste e tem o nosso apoio no sentido de poder realmente a ajudar a criar condições para se ultrapassar a crise. Jornalista: Dr. Mari Alkatiri agradeço por ter aceite o convite para estar nesta edição da noite. Muito obrigado