O ENFOQUE SISTÊMICO NA ADMINISTRAÇÃO Na sociedade moderna aparecem problemas de natureza intrinsecamente complexa, causados pela interação de diferentes fatores, que nas décadas anteriores eram inexistentes, tais como: grandes concentrações urbanas, esgotamento de recursos naturais, transportes, ecologia, educação, evolução tecnológica avançada, catástrofes naturais ou causadas pelo homem, dentre outros. Tais aspectos constituem a complexidade da situação contemporânea para os administradores das organizações públicas e privadas, influenciando em suas decisões. Vale dizer que a ferramenta para enfrentar a complexidade consiste no enfoque sistêmico, também chamado de pensamento sistêmico. Esse novo pensamento possibilita: Entender a multiplicidade e interdependência das causas e variáveis dos problemas complexos; Organizar soluções para problemas complexos. Como aponta MAXIMIANO (2000), o pensamento sistêmico complementa e integra teorias especializadas através de sua nova ótica, interpretação e soluções para enfrentar os problemas complexos. Vale lembrar que o enfoque da administração científica se preocupava mais com a eficiência fabril do que com o desempenho da organização. Todavia, a administração que focar em enfrentar aspectos de eficiência sem considerar as implicações da poluição, do comportamento humano, dentre outras, irá estabelecer mais problemas ao invés de resolvê-los. O enfoque sistêmico tem como base a idéia de sistema, que consiste: em um todo complexo ou organizado; é um conjunto de partes ou elementos que formam um todo unitário ou complexo (CLERAND, David I., KING R. Systems analysis and Project management, New York: McGraw Hill, 1975). Um sistema é um todo que funciona como todo, devido à interdependência de suas partes, como afirma MAXIMIANO (2000). O enfoque sistêmico é um sistema de idéias, que pode ser entendido como filosofia ou forma de produzir, interpretar e utilizar conhecimentos, podendo ser aplicado em todas as áreas da atividade e do raciocínio humanos além de ser um método de resolver problemas e organizar conjuntos complexos de componentes. Roborando o assunto, de acordo com o autor supramencionado, qualquer sistema pode ser representado como um conjunto de elementos interdependentes, que se organizam em três partes: entradas (elementos ou recursos físicos e abstratos que o sistema é constituído) processo (interligam os componentes e transformam os elementos de entrada em resultados) e saída (resultados do sistema; objetivos que o sistema pretende atingir ou efetivamente atinge). A fábrica é a representação concreta que mais facilmente ilustra um sistema. Através do enfoque sistêmico, o administrador adquire uma visão integrada das organizações e do processo administrativo além de ser uma ferramenta para organizar sistemas que produzam resultados. Convém ressaltar que o enfoque sistêmico não surgiu após os outros, sendo que a idéia de sistema vem dos gregos antigos, porém o enfoque sistêmico moderno teve suas origens na mesma época em que os pioneiros lançavam as fundações da administração científica, do processo administrativo e da qualidade total, como aponta MAXIMIANO (2000). Retomando as origens do pensamento sistêmico, em 1918, Mary Parker imaginava um modelo holístico de gerência, apontando a necessidade da “situação total” ser considerada pelos administradores. Adquirir uma visão holística (do grego holos, todo) de gerência incluía não apenas os indivíduos e os grupos, mas também os efeitos dos fatores externos, ambientais, tais como a política, economia e biologia. Convém citar outros pensadores que se destacaram por terem retomado a mesma proposição e desenvolvido novas linhas de pensamento que convergiram para o moderno enfoque sistêmico, sendo que as três linhas de pensamento mais importante foram: Gestalt – Teoria da Forma: Desenvolvida a partir de 1912 na Alemanha; Idéia principal: a natureza e o comportamento de um elemento são determinados pelo conjunto a que pertence; Principal figura: Max Wertheimer. Segundo MAXIMIANO (2000), esta teoria já é suficiente para induzir o enfoque sistêmico, pois sua idéia principal conduz a um raciocínio integrativo, que considera qualquer objeto, evento ou sistema do ponto de vista do conjunto a que pertence. Cibernética: Desenvolvida da década de 1940 nos Estados Unidos; Idéia principal: autocontrole dos sistemas; um sistema pode controlar seu comportamento, com base em informações sobre esse mesmo comportamento e sobre o objetivo que pretende atingir; Principal figura: Norbert Wiener. A principal aplicação dessa idéia consiste no conceito de que todo sistema deve ser autocontrolado através de algum fluxo de informações que lhe permita manter constantemente o funcionamento desejado. Teoria Geral dos Sistemas: Desenvolvida na década de 1920 na Alemanhã; Idéia principal: as totalidades são formadas de partes interdependentes; Principal figura: Ludwing Von Bertalanffy. O objetivo dessa teoria consiste em classificar os sistemas segundo a maneira como seus componentes se organizam e identificar as “leis” ou padrões característicos de comportamento de cada categoria de sistemas (JOHNSON, KAST, ROSENZWEIG. The theory and management of systems. 1973). As organizações que utilizam o enfoque sistêmico aprendem a “enxergar sistemas” e sua complexidade e para isso é necessário passar por um processo de educação para possuir capacidade de perceber os elementos da realidade como parte de sistemas. Para adquirir o pensamento sistêmico, é preciso aprender a delimitar fronteiras de sistemas para entendê-los e manejá-los, fazer “recortes na realidade”, como aponto MAXIMIANO (2000). Há duas idéias principais do enfoque sistêmico na administração: as organizações como sistemas e eficácia global. Organizações como sistemas: uma organização é um sistema composto de elementos ou componentes interdependentes, que podem ter cada um seus próprios objetivos – esta idéia foi explorada por diversos autores. Vale citar Emery e Trist, que segundo eles, sob a perspectiva do pensamento sistêmico, a organização é constituída por um conjunto de pelo menos dois sistemas que se interligam, o sistema técnico (objetivos, divisão do trabalho, máquinas, etc.) e o sistema social (relações sociais, sentimentos, emoções, cultura, clima, atitudes, motivação, etc.). Vale lembrar que a administração científica tradicional enfatiza apenas a eficiência do sistema técnico, deixando as pessoas em segundo plano. Por outro lado, a escola das relações humanas focaliza no sistema social, deixando em segundo plano, a tarefa. A administração sistêmica, por sua vez, oferece uma visão integrada, abordando as organizações como sistemas sociotécnicos. De acordo com Emery e Trist, os requisitos sociais e técnicos da tarefa são interdependentes, e devem apresentar resultados econômicos. Alcançar condições ideais, nessas três dimensões, de maneira a otimizar o sistema, é o objetivo do enfoque sistêmico (EMERY, F. E., TRIST, E. L. Socio-technical systems, 1946). É possível imaginar outros sistemas além do social e do técnico, isso só depende do observador. Por exemplo, além do técnico e social, pode-se incluir o sistema estrutural, constituído por grupos formais, estrutura e normas e procedimentos. Eficácia global: consiste num outro aspecto relevante do pensamento sistêmico, que corresponde ao desempenho do sistema na realização dos objetivos. A eficácia global dos sistemas enfatiza mais a eficiência à realização dos objetivos dos sistemas a eficiência das partes isoladas. Mariana Lorenzo Referência Bibliográfica: MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral Da Administração – Da Escola Científica à Competitividade na Economia Globalizada. Editora Atlas S.A.. São Paulo. 2000.