ALTAS HABILIDADES /SUPERDOTAÇÃO: ENRIQUECIMENTO

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ALTAS HABILIDADES /SUPERDOTAÇÃO: ENRIQUECIMENTO ESCOLAR
COMO PROPOSTA DE ATENDIMENTO
OLIVEIRA, Rosymari de Souza1- NAAH/S
FERNANDES, Ivoni de Souza2 - NAAH/S
ADÃO, Jorge Manuel3 - MIELT UEG
Grupo de Trabalho - Diversidade e Inclusão
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente relato surge do desafio de pensar a aprendizagem de alunos com Altas
Habilidades/Superdotação com o objetivo de abarcar os nexos constitutivos das concepções
apreendidas por eles no mundo. Tem como objetivo refletir e relatar a experiência do trabalho
desenvolvido com um grupo de cinco alunos com altas habilidades/superdotação durante a
fase de potencialização dos talentos apresentados. A experiência ocorreu na sala de
potencialização do Núcleo de Atividades em Altas Habilidades/Superdotação de Goiás.
Contextualizando o relato fazemos um percurso histórico sobre quem são os alunos
superdotados, e as propostas de atendimento educacional. Em seguida apreende - se a
metodologia de enriquecimento escolar adotada pelo MEC, ressaltando a importância da
mediação feita pelo professor entre a área de interesse do aluno, o seu estilo de aprendizagem
e a elaboração do projeto de pesquisa. Como os interesses apresentados versavam sobre o
meio ambiente foram proporcionadas oportunidades para o desenvolvimento do potencial
mediante alternativas educacionais adequadas. O princípio básico do professor orientador é
que a aprendizagem pode se tornar motivadora quando o conteúdo (conhecimento) e o
processo de ensino e aprendizagem (habilidades de pensamento, métodos de investigação) são
aprendidos num contexto de problemas reais. Portanto, este trabalho apreende em oferecer
oportunidades para os alunos delimitarem o tema de interesse, problematizando, discutindo a
relevância do mesmo, desenvolvendo estratégias para sua investigação e resolução. Eleger
como tema de estudo as Altas Habilidades/Superdotação é uma forma de participar do debate
1
Especialista em Métodos e Técnicas de Ensino; Metodologia do Ensino Superior e Altas
Habilidades/Superdotação, Graduada em Pedagogia. Professora formadora do NAAH/S e da Prefeitura M. de
Goiânia – Goiás - Email: [email protected]
2
Doutora em Psicologia, Mestre em Ciências da Religião, Especialista em Psicologia Educacional e Graduada
em Pedagogia. Coordenadora Pedagógica do NAAH/S - Goiás. Email: [email protected]
3
Pós-Doutorando da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Programa Avançado de Cultura
Contemporânea, pesquisando sobre Tecnologias Contemporâneas e Desenvolvimento Cognitivo. Professor
efetivo da Universidade Estadual de Goiás (UnU de Luziânia); e professor e orientador do Mestrado em
Educação, Tecnologias e Linguagem - MIELT UEG (UnU de Anápolis). E-mail:[email protected]
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contemporâneo, assim como de contribuir para que este debate efetivamente inclua as Altas
Habilidades/Superdotação na atualidade do contexto escolar. Finaliza-se propondo uma
reflexão a cerca da metodologia de enriquecimento do psicólogo norte-americano Joseph
Renzulli (1986) como proposta para atendimento de alunos na sala de aula regular.
Palavras-chave: Talentos, enriquecimento, aprendizagem.
Introdução
A definição brasileira apresentada pela Política Nacional de Educação Especial de
1994 reconhece como portadores de altas habilidades/ superdotados (AH/SD) os educandos
que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes
aspectos, isolados ou combinados: a) capacidade intelectual geral (que envolve rapidez de
pensamento, compreensão e memória elevados, capacidade de pensamento abstrato,
curiosidade intelectual, poder excepcional de observação); b) aptidão acadêmica específica
(atenção, concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória, motivação por disciplinas
acadêmicas do seu interesse, capacidade de produção acadêmica, alta pontuação em testes
acadêmicos e desempenho excepcional na escola); c) pensamento criativo ou produtivo
(originalidade de pensamento, imaginação, capacidade de resolver problemas de forma
diferente e inovadora); d) capacidade de liderança (sensibilidade interpessoal, atitude
cooperativa, capacidade de resolver situações sociais complexas, poder de persuasão e de
influência no grupo); e) talento especial para artes (alto desempenho em artes plásticas,
musicais, dramáticas, literárias ou cênicas) e f) capacidade psicomotora (desempenho superior
em velocidade, agilidade de movimentos, força, resistência, controle e coordenação motora).
Em geral, as crianças superdotadas não apresentam estas características
simultaneamente, nem mesmo com graus de habilidades semelhantes. Um dos
aspectos mais marcantes da superdotação relaciona-se ao seu traço de
heterogeneidade. Assim, algumas pessoas podem se destacar em uma área, ou
podem combinar várias – como, por exemplo, o humorista Jô Soares, que além de
exibir um pensamento criador, original e bem-humorado, também se revela na área
musical, tocando múltiplos instrumentos; no campo da linguagem, falando vários
idiomas e escrevendo livros e crônicas; e ainda no setor da liderança, por seu
carisma e capacidade de coordenar grupos. A essa confluência de habilidades
chamamos de multipotencialidades, que representa mais uma exceção do que uma
regra entre os indivíduos superdotados. O que se observa com maior freqüência são
crianças que se desenvolvem mais em uma área específica - como poesia, ciências,
arte, música, dança, ou mesmo nos esportes, do que em outras. (VIRGOLIM, 2001,
p. 33).
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Mas, o que realmente significa as altas habilidades/superdotação? O conceito tem
sofrido modificações de acordo com a época e o contexto sociocultural. Por muito tempo,
cientistas definiram crianças superdotadas baseando-se na relação entre habilidade superior e
Quociente Intelectual (QI). Pesquisadores como Lewek e Machado (2006) mostram que não
se pode identificar a superdotação de crianças usando unicamente a base do QI.
Portanto, esta é a concepção defendida por Renzulli (1994) e a mais utilizada nos
estudos recentes sobre o tema. Joseph Renzulli, reconhecido pesquisador do Centro Nacional
de Pesquisa sobre superdotação e Talento da Universidade de Connecticut, nos Estados
Unidos, desenvolveu um conceito multidimensional de superdotação, a Teoria dos Três Anéis
influenciada pelo construto de inteligência da Teoria das Inteligências Múltiplas, de Gardner
(1983). Sua teoria passa a ser adotada pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação – MEC. Nessa abordagem, o conceito de superdotação é reconhecido através da
intersecção de três grupamentos de traços – habilidade acima da média, comprometimento
com a tarefa e criatividade.
Para Renzulli (1996), “nem sempre a criança apresenta estes conjuntos de traços
desenvolvidos de maneira igual, portanto faz-se necessário as oportunidades do contexto onde
ela está inserida, o que não acontece na sala de aula regular”. Ele ainda discute a importância
de se entender a superdotação como uma condição ou comportamento que pode ser
desenvolvido em algumas pessoas (as que apresentem habilidade superior à média da
população), em certas ocasiões e sob certas circunstâncias. Para ele é possível demonstrar
comportamentos de superdotação na infância, mas não na idade adulta.
Segundo Renzulli e Reis (1985, 1997 a), “existem dois tipos de comportamento de
superdotação que são igualmente importantes, existindo uma interação entre eles: um
acadêmico ou escolar e outro criativo-produtivo”. A superdotação acadêmica seria
representada por altos níveis de desempenho escolar, boa memória, grande atividade
intelectual processamento de informações complexas e pensamento analítico, crítico e lógico.
É o tipo mais facilmente identificado por testes de QI ou outros testes que mensurem
habilidades cognitivas, que são as mais valorizadas na escola tradicional. Os alunos que a
apresentam geralmente são aqueles que costumam ter notas elevadas na escola.
Por outro lado, a superdotação criativo-produtiva estaria mais ligada à curiosidade,
resolução de problemas e características do pensamento criativo, como originalidade, fluência
e flexibilidade. O produtivo-criativo coloca suas habilidades a serviço da criatividade,
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canalizando sua energia nos problemas e áreas de estudo que têm relevância pessoal para ele.
Destaca-se geralmente por ser mais questionador, imaginativo, inventivo e dispersivo quando
a tarefa não lhe interessa, não aprecia a rotina e apresenta um modo mais original de abordar e
resolver os problemas, o que, muitas vezes ocasiona um baixo desempenho e motivação. Os
testes tradicionais de QI não conseguem avaliar este tipo de superdotação porque a
característica principal destes alunos é o elevado nível de criatividade, que não pode ser
mensurado, especialmente através de testes tradicionais de desempenho.
Desta forma, por apresentarem um desenvolvimento cognitivo superior aos seus pares
necessário se faz uma metodologia de atendimento que desafie sua capacidade intelectiva.
Segundo Renzulli (1996) várias medidas de atendimento poderão ser oferecidas aos alunos
identificados com altas habilidades/superdotação dentro do ensino regular. Dentre as mais
indicadas estão à compactação de currículo, a aceleração e o enriquecimento escolar. A
Compactação do Currículo é uma estratégia educacional elaborada para ajustar o currículo
regular às necessidades dos alunos, eliminando exercícios repetitivos e introduções
desnecessárias para que eles dediquem mais tempo às atividades de seu interesse.
Outra medida garantida pela LDBEN 9394/96 refere-se à aceleração a qual, na maioria
das vezes implica saltar etapas na seriação escolar, mas para alguns pesquisadores pode
significar também provisão individualizada, de qualquer natureza, que permita ao aluno
caminhar mais depressa com o aprendizado na área ou áreas de seu interesse. O Modelo de
Enriquecimento Escolar - proposto por Joseph Renzulli tem como objetivo tornar a escola um
lugar onde os talentos fossem identificados e desenvolvidos, valorizando a prática docente e
as propostas pedagógicas em andamento, integrando e expandindo os serviços educacionais.
Entre as estratégias deste enriquecimento, destaca-se O Portfólio do Talento Total e o Modelo
Triádico de Enriquecimento. O Portfólio do Talento Total é um processo sistemático por meio
do qual se coleta inventários de interesse, estilo de aprendizagem e expressão dos educandos
com AH/SD, ajudando tanto os alunos quanto o professor a tomar decisões a respeito de seu
trabalho. Tem como foco ajudá-los a tornarem competentes e autodirecionados, bem como
incrementar o desempenho acadêmico.
Conhecendo o Núcleo de Atividades em Altas Habilidades/Superdotação de Goiás
O trabalho desenvolvido com o grupo de alunos com altas habilidades aconteceu no
Núcleo de Atividades em Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S - GO) em Goiânia, na
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sala de potencialização dos talentos. Ele surgiu como um projeto-piloto em consonância com
as políticas públicas de inclusão, no ano de 2005. Nasceu como ação respaldada pelo Plano
Nacional de Educação (PNE) – Lei nº10.172/01-, no capítulo da Educação Especial, que
propôs como meta nº 26 “implantar, gradativamente, a partir do primeiro ano deste plano,
programas de atendimento aos alunos com altas habilidades nas áreas artística, intelectual ou
psicomotora”.
Por conseguinte, o Governo Federal através do MEC/SEESP em parceria com a
UNESCO, o FNDE e as Secretarias Estaduais de Educação de todo país, implantou os
NAAH/S, que tem como missão promover e assegurar o atendimento e o desenvolvimento
dos alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) das escolas públicas de educação
básica, possibilitando sua inserção efetiva no ensino regular. O NAAH/S - GO oferece
também serviços educacionais de aconselhamento e apoio psicológico ao aluno e sua família
e dissemina conhecimentos sobre o tema nos sistemas educacionais, nas comunidades
escolares e nas famílias.
O Enriquecimento Escolar como proposta de atendimento
Os alunos que participaram deste estudo eram atendidos duas vezes por semana no
contra turno da sala de aula regular, no período compreendido entre maio a dezembro de
2008. A faixa etária em que se encontravam variava de 13 a 15 anos.
Após um período de observação para a confirmação dos indícios de AH/SD, esses
alunos foram encaminhados para potencializar seus talentos. A metodologia adotada
fundamentada no Modelo de Enriquecimento Escolar (The Schoolwide Enrichment Model –
SEM), resultante do trabalho pioneiro de Joseph Renzulli (RENZULLI & REIS, 2000) em
meados da década de 70 e validado por mais de vinte anos de pesquisas empíricas. Foram
oferecidas atividades para confirmar as áreas de interesse apresentadas pelos alunos.
Questionários sobre preferências, estilos de aprendizagem, estilo de expressão e atividades
exploratórias do tipo I em diferentes áreas do conhecimento também foram realizadas.
De acordo com Fleith (2008), as características principais do Modelo de
Enriquecimento Escolar elaborado por Renzulli são: a dinamicidade das atividades, o
favorecimento da autonomia, o incentivo a tomada de decisões dos alunos, envolvimento da
comunidade quando faz com que os alunos utilizem sua rede de relacionamentos na realização
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das atividades e que as atividades de enriquecimento do tipo III devem resultar em um
produto com aplicação social, dentre outros.
As atividades exploratórias do Tipo I são experiências e atividades introdutórias
destinadas a colocar o aluno em contato com uma grande variedade de áreas de conhecimento
e que geralmente, não são contempladas pelo currículo escolar. Para esse grupo de alunos que
demonstraram interesse pela área ambiental as atividades partiram do reconhecimento da
cidade de Goiânia. Visitas aos parques; as margens do rio Meia Ponte; ao centro da cidade e
terminais de ônibus urbanos.
Para contribuir com esse relato de experiência descreve-se uma atividade do tipo I
realizada com este grupo. A sala deles foi ambientalizada com um imenso mapa da cidade de
Goiânia que cobriu todo o piso. Ao chegarem, os alunos receberam alfinetes coloridos e papel
recortado do tipo color set. Foram orientados a tirarem os sapatos e andarem sobre o mapa.
Aos poucos foram se situando. Uns começaram a identificar os interesses que a cidade
apresentava: o centro da cidade e a arquitetura. Outros se interessaram pela quantidade de
áreas arborizadas, córregos e rios, entre outros.
O grupo localizou e sinalizaram com os alfinetes suas casas, bairros, escola, museus,
cinemas, shoppings. Sentaram em círculo sobre o mapa e receberam um quadro onde
deveriam anotar suas preferências extraescolares e como gostariam de trabalhar com elas.
Esta atividade tinha como objetivo levantar os interesses partindo do próprio contexto do
aluno a fim de que surgissem questões de pesquisa para serem desenvolvidas na atividade do
tipo III.
Ao final desta atividade foi realizada a dinâmica da tempestade de ideias
(brainstorming) onde através da problematização os interesses de pesquisa dos alunos foram
evidenciados. Um deles apontou interesse em pesquisar sobre a qualidade do ar de Goiânia.
Uma aluna se interessou pela arquitetura dos prédios do centro da cidade, outra ainda pelo
cuidado dado ao lixo e uma se interessou pelo comércio informal no centro da cidade.
Com a definição dos interesses de pesquisa partimos para as atividades do Tipo II.
Segundo Renzulli (2004) as atividades baseadas no Tipo II são aquelas relacionadas ao
desenvolvimento de técnicas e métodos, habilidades mais específicas para conduzir as
pesquisas de interesse do aluno. Nas atividades do Tipo II os alunos podem aprender a fazer
pesquisa, a utilizar fontes de referência de nível avançado, bem como adquirir conhecimentos
sobre metodologias investigativas e desenvolvimento do raciocínio científico, tais como:
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anotações, resumo, entrevista, observação, interpretação, análise-síntese, associação de ideias,
classificação, generalização, abstração.
As divulgações dos resultados obtidos nestas atividades proporcionam um momento
importante que pode ser feito por meio de exposição oral, escrita, ilustrativa com desenhos,
fotos, imagens artísticas variadas, gráficos, maquetes, teatro, livros, montagens em materiais
diversos como argila, massa de modelar, sucata ou outros materiais industrializados.
De acordo com a teoria,
[...] estudante que se interessou por fósseis, após uma atividade do Tipo I, pode se
engajar em leituras mais avançadas e aprofundadas sobre paleontologia: compilar,
planejar e executar atividades como um cientista dessa área e aprender mais sobre os
métodos de pesquisa característicos desse campo de conhecimento (VIRGOLIM,
2006. p. 116).
Para esta atividade os alunos fizeram um levantamento das atividades necessárias para
a realização da pesquisa. Nesta fase foram preenchidos alguns formulários sobre “O que
preciso” para a pesquisa (fontes) como: profissionais, entrevistas, visitas, bibliografias,
formulários de agendamento, questionários, entre outros.
De posse a este levantamento mediamos à organização e o cronograma das atividades
a serem desenvolvidas. Os alunos determinaram os profissionais a serem entrevistadas, as
palestras e visitas necessárias. Elaboraram convites e ofícios, realizaram telefonemas,
pesquisaram sites, revistas científicas e livros. Participaram de seminários e palestras sobre o
assunto.
Por último partimos para as atividades do Tipo III, as quais visam investir na pesquisa
de problemas reais para a produção de um novo conhecimento, serviço ou desempenho. A
aprendizagem e o desenvolvimento de cada atividade do tipo III são personalizadas e
geralmente, aplicadas individualmente ou em pequenos grupos (RENZULLI, 2004, p.36).
Segundo Alencar e Fleith (2001), estas atividades conduzem a um estudo mais
aprofundado em alguma área específica, pautado nos interesses (Tipo I) ou nas tarefas
desenvolvidas (Tipo II). Existe, portanto a possibilidade de passar do Tipo I para o Tipo III
diretamente.
De acordo com Alencar e Fleith (2001), “as atividades do Tipo I despertam o interesse
dos alunos em desenvolver habilidades para execução da tarefa (Tipo II) ou conduzir um
estudo aprofundado em alguma área específica (Tipo III)“ (p. 134).
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Portanto, o Enriquecimento do Tipo III envolve atividades investigativas e artísticas
aplicadas a propósitos que levem à elaboração de produtos reais, como por exemplo, a criação
de um jogo, a produção de um livro, uma escultura, uma maquete, uma propaganda, um
jornal. As atividades de enriquecimento possibilitam aos alunos a vivência de:
Experiências de aprendizagem desafiadoras, auto-seletivas e baseadas em problemas
reais, além de favorecer o conhecimento avançado em uma área específica,
estimular o desenvolvimento de habilidades superiores de pensamento e encorajar a
aplicação destas em situações criativas e produtivas. [...] Os estudantes se tornam
produtores de conhecimento ao invés de meros consumidores da informação
existente (ALENCAR e FLEITH, 2001, p. 135).
O próximo passo rumo à pesquisa e, após as leituras dos materiais levantados, foram
às visitas exploratórias. O aluno com interesse pelo meio-ambiente visitou a AMMA –
Agência Municipal do Meio Ambiente, a Agência Ambiental de Goiás. Seu interesse foi pela
qualidade do ar de Goiânia.
Elaborou e realizou entrevistas com a Química Industrial
responsável pelo monitoramento da qualidade do ar de Goiânia, participou de algumas aulas
na Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Visitou os pontos de monitoramento do ar,
examinou filtros, fotografou tudo isso acompanhado pelas professoras mediadoras.
Durante estas atividades, participou do III Concurso de Redação Filosófica da PUCGO, parceira no apoio dos educandos, onde ganhou menção honrosa. Todas as atividades
desenvolvidas partiram do interesse dos alunos, que buscaram aprofundamento de temas ou
conteúdos e utilizando a mediação de instrumentos e equipamentos que favoreceram a sua
apreensão.
Sobre este trabalho o aluno decidiu fazer como produto final um folder com texto
explicativo sobre os problemas causados pela qualidade do ar em Goiânia e quais medidas
adequadas para sua melhoria. Os alunos tiveram um tempo hábil para conclusão de seus
projetos e marcaram uma audiência (mostra pedagógica) para apresentação dos mesmos.
Participaram de concursos para a escolha do nome da Mostra, dos melhores desenhos
para elaborar o convite, pois a preocupação da equipe do NAAH/S - GO é oportunizar a
elaboração e o planejamento dos eventos em parceria com os alunos, proporcionando
excelentes oportunidades de treinamento em técnicas de exposição para apresentação de
trabalhos.
Outro trabalho realizado foi de uma aluna que pesquisou sobre a arte decor do centro
de Goiânia, culminando num manual de aulas de geometria tendo como objetivo o estudo de
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formas geométricas. Também aconteceu uma pesquisa sobre o impacto das pilhas no meio
ambiente com uma proposta de reciclagem das mesmas.
Considerações finais
Muito se tem falado a respeito de experiências significativas para a aprendizagem de
jovens educandos com variados potenciais, mas, poucas mudanças podem ser percebidas no
cenário educacional. Compreender a educação como um processo permeado de articulações e
interações contribui para a superação dos pressupostos que limitam a aprendizagem dos
alunos a um modelo padronizado e fixo. Alunos curiosos, motivados favorecem o próprio
processo de aprendizagem.
Alunos motivados avançam mais, aprendem e ensinam estimulando os colegas
de sala. Com tantas discussões que se tem em torno das singularidades dos alunos, pensar
sobre metodologias de trabalho que partam do interesse do aluno atingindo seus diferentes
níveis de letramento parece sensato. Oferecer condições para que o aluno desenvolva sua
potencialidade de autonomia por meio de projetos de aprendizagem em sua área de interesse
torna-se prioridade.
Desta forma, aponta-se a metodologia de Enriquecimento Escolar, utilizada neste
relato, como prática possível a ser aplicada na sala de aula do ensino regular.
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