Conceitos Básicos de Circuitos Elétricos 1. Introdução Nesta apostila são apresentados os conceitos e definições fundamentais utilizados na análise de circuitos elétricos. O correto entendimento e interpretação destes conceitos são essenciais para o restante do conteúdo. 2. Definição Um circuito elétrico pode ser definido como uma interligação de componentes básicos formando pelo menos um caminho fechado. Os componentes básicos de um circuito são os seguintes. Fontes de tensão dependentes ou independentes Fontes de correntes dependentes ou independentes Resistores Capacitores Indutores As figuras 1 a quatro mostram exemplos dos elementos básicos de circuitos 3. Grandezas Físicas Fundamentais 3.1 Corrente Elétrica A corrente em um componente do circuito é definida como a quantidade de carga elétrica que atravessa dois dos seus terminais por unidade de tempo. A unidade física utilizada é ampére, simbolizado por A i(t) = 𝑑𝑞 (1) 𝑑𝑡 i(t) - ampère (A), q - coulomb (C) , t – segundos (s). (o elétron possui carga de −1,602 × 10−19 𝐶 ) 3.2 Tensão A tensão (diferença de potencial) entre dois pontos de um circuito é definida como a variação do trabalho realizado por unidade de carga para movimentar esta carga entre estes dois pontos. A unidade utilizada é o volt, simbolizada por V. 𝑉(𝑡) = 𝑑𝑤 (2) 𝑑𝑞 V – volt (V), W – trabalho realizado (joule), q – Coulomb (C). 3.3 Potência É a taxa de transferência de energia para um componente. Nos circuitos elétricos ela é definida pelo produto entre tensão e corrente em dois terminais. A unidade utilizada é o watt (ou joule/s), simbolizado por W. 𝑃(𝑡) = 𝑉(𝑡). 𝑖(𝑡) = 3.4 Energia 𝑑𝑤 𝑑𝑞 ∙ 𝑑𝑞 𝑑𝑡 = 𝑑𝑤 𝑑𝑡 (3) Energia é definida como a integral da potência ao longo do tempo. A unidade utilizada é o joule. Outra unidade bastante utilizada é o watt-segundo (Ws) e demais unidades dela derivadas, tais como kW-hora. (1kW-hora equivale a 3,6. 106 Ws). 𝑑𝑊 = 𝑝. 𝑑𝑡 (4) Integrando-se a equação (4) entre os instantes 0 e t, resulta considerando-se W(0) =0: 𝑡 𝑊(𝑡) = 𝑊(𝑡) − 𝑊(0) = ∫0 𝑃(𝜏). 𝑑𝜏 𝑡 𝑊(𝑡) = ∫0 𝑝(𝜏). 𝑑𝜏 (5) 4. Elementos de circuitos 4.1 Fontes Independentes A fonte ideal fornece uma determinada tensão entre seus terminais, independente das características dos demais elementos ligados ao circuito. O sentido da corrente é considerado positivo quando sair pelo terminal positivo e entrar pelo terminal negativo. Com esta convenção, a potência fornecida pela fonte será positiva sempre que a fonte fornece energia ao circuito, do contrário a potencia terá um valor negativo. As fontes independentes podem ser do tipo continua ou alternada. A representação da fonte independente é dada na figura 1 a. Uma bateria sem resistência interna pode ser considerada como exemplo de fonte tensão continua ideal. A tensão fornecida pela concessionária de energia elétrica, por outro lado, é um exemplo de fonte de tensão alternada. 4.2 Fontes Dependentes O modelo de muitos componentes de uso corrente é feito por meio de fontes dependentes (por exemplo, o transistor). Desta forma a análise de circuitos também torna necessária a utilização de fontes dependentes as quais podem ser de dois tipos: fontes de tensão dependente e fontes de corrente dependentes. Ambas podem ser tanto da tensão entre dois pontos do circuito como da corrente em um ramo. A figura 2 ilustra os dois tipos básicos de fontes dependentes 4.3 Resistor Linear O resistor é caracterizado pela sua resistência elétrica, a qual para o caso linear só dependente das características do material empregado (resistividade) e das suas dimensões geométricas. A resistência expressa o grau de oposição à passagem de cargas elétricas que o componente apresenta. A unidade utilizada para medir a resistência é o Ohm, simbolizado por Ω. No resistor linear, a tensão e a corrente nos seus terminais estão relacionadas pela lei de Ohm (figura 3): 𝑅= 𝑉(𝑡) 𝑖(𝑡) ⇔ 𝑉(𝑡) = 𝑅. (𝑡) (6) A resistência é, assim, um fator de proporcionalidade entre tensão e a corrente em um resistor. A maioria dos resistores possui características variáveis com a temperatura sendo que a resistência em geral aumenta com a temperatura. A corrente em um resistor é considerada positiva quando entrar pelo terminal positivo (potencial mais alto) e sair pelo negativo (potencial mais baixo). A potência associada ao resistor é assim positiva, significando que o mesmo consome energia. A potência dissipada por um resistor é dada por: 𝑃(𝑡) = 𝑉. 𝑖 = 𝑖 2 . 𝑅 (7) 4.4 Capacitor Linear O capacitor possui como característica básica a sua capacidade de armazenar cargas elétricas e energia no seu campo elétrico. Em geral, o capacitor é formado por placas metálicas separadas por meio dielétrico. Ao ser submetido a uma tensão elétrica, ocorre um acúmulo de cargas nas placas, criando entre elas um campo elétrico. No campo criado pela presença das cargas elétricas é armazenada energia. A grandeza que caracteriza o capacitor é sua capacitância, definida como a quantidade cargas elétrica armazenadas por unidade de tensão aplicada. A unidade de capacitância é o farad, cujo símbolo é F Como no caso da resistência, esta é uma grandeza que depende somente do material empregado (constante dielétrica do meio que se situa entre as placas) e das suas dimensões geométricas. A tensão e a corrente nos terminais de um capacitor estão relacionadas conforme segue (figura 4): 𝑞(𝑡) = 𝐶. 𝑉(𝑡) 𝑑𝑞(𝑡) 𝑑𝑡 = 𝑖(𝑡) = 𝐶. 𝑑𝑉(𝑡) (8) 𝑑𝑡 Ou ainda: 𝑡 1 𝑉(𝑡) − 𝑉(0) = ∙ ∫0 𝑖(𝜏) ∙ 𝑑𝜏 𝐶 1 𝑡 𝑉(𝑡) = ∙ ∫0 𝑖(𝜏). 𝑑𝜏 + 𝑉(0) (9) 𝐶 A corrente no capacitor será considerada positiva quando entrar pelo terminal de potencial mais alto (positivo) e sair pelo terminal de potencial mais baixo (negativo), conforme mostra a figura 4 acima. Assim, a potência associada com o capacitor será positiva, quando a corrente tiver o sentido positivo admitido e a tensão tiver uma polaridade também de acordo com o indicado em relação à corrente. De acordo com a equação (8), a corrente do capacitor depende diretamente da variação de tensão no mesmo. A partir da expressão de potência dada pela equação (3), pode-se determinar a potência associada com o capacitor: 𝑃(𝑡) = 𝑉 ∙ 𝑖 = 𝑉 ∙ 𝐶 ∙ 𝑑𝑉 (10) 𝑑𝑡 A energia armazenada no campo elétrico do capacitor linear é dada pela relação: 𝑡 𝑡 𝑡 𝑉(𝑡) 𝑑𝑉 𝑊(𝑡) = ∫ 𝑃(𝜏). 𝑑 𝜏 = ∫ 𝑉(𝜏) ∙ 𝑖(𝜏) ∙ 𝑑(𝜏) = ∫ 𝑉(𝜏) ∙ 𝐶 ∙ = 𝐶 ∙ ∫ 𝑉 ∙ 𝑑𝑉 𝑑𝑡 0 𝑊(𝑡) = 0 𝐶∙𝑉(𝑡)2 2 0 0 (11) Pelas últimas expressões pode-se ver que a potência e a quantidade de energia armazenada dependem diretamente do valor da capacitância. 4.5 Indutor Linear É um dispositivo que possui um campo magnético capaz de armazenar energia. O campo magnético do indutor é criado pela corrente elétrica que percorre o indutor. Fisicamente ele pode constituir-se de uma bobina que envolve um material magnético, tal como ferro, que aumenta a capacidade de armazenar energia devido a sua alta permeabilidade. A grandeza que caracteriza o indutor é a indutância. Para o indutor linear, a indutância é uma constante, a qual só depende do tipo de material empregado (permeabilidade magnética) e das dimensões físicas do mesmo. A unidade de indutância é o Henry, cujo símbolo é H. (figura 5) A relação entre a tensão e corrente é dada conforme segue: 𝛹(𝑡) = 𝐿 ∙ 𝑖(𝑡) 𝑑𝛹(𝑡) 𝑑𝑡 = 𝑉(𝑡) = 𝐿 ∙ 𝑑𝑖(𝑡) (12) 𝑑𝑡 Onde: 𝚿-fluxo de indução e é medido por weber (Wb), se a corrente for medida em ampères, L é a indutância do indutor e se mede em henrys(H). Outra forma alternativa para relação (12) é dada por: 1 𝑡 𝑖(𝑡) − 𝑖(0) = ∙ ∫0 𝑉(𝜏) ∙ 𝑑𝜏 𝐿 1 𝑡 𝑖(𝑡) = ∫0 𝑉(𝜏) ∙ 𝑑𝜏 + 𝑖(0) 𝐿 (13) Como no caso do resistor e do capacitor, a corrente será considerada positiva quando entrar pelo terminal positivo e sair pelo terminal negativo. Com esta convenção a potência associada ao indutor será positiva quando a corrente concordar com o sinal positivo adotado e a polaridade da tensão tiver o sentido. A potência associada ao indutor é dada pela relação: 𝑃(𝑡) = 𝑉(𝑡) ∙ 𝑖(𝑡) = 𝑖(𝑡) ∙ 𝐿 ∙ 𝑑𝑖(𝑡) (14) 𝑑𝑡 A energia armazenada no campo magnético do indutor linear é dada pela relação. 𝑡 𝑡 𝑡 𝑊(𝑡) = ∫0 𝑃(𝜏). 𝑑𝜏 = ∫0 𝑉(𝜏) ∙ 𝑖(𝜏) ∙ 𝑑𝜏 = ∫0 𝑖(𝜏) ∙ 𝐿 ∙ 𝑊(𝑡) = 𝐿 ∙ 𝑖(𝑡)2 𝑑𝑖 𝑑𝑡 𝑖(𝑡) ∙ 𝑑𝜏 = 𝐿 ∙ ∫0 𝑖 ∙ 𝑑𝑖 (15) A energia magnética armazenada é, assim, diretamente relacionada ao valor da indutância. A Tabela 1 mostra de forma resumida as relações tensão-corrente para os componentes básicos dos circuitos abordados até aqui. Tabela 1: Relação Tensão-corrente dos Componentes Básicos Elemento Resistor Capacitor Símbolo e Unidade Ω ohm C farad Relação Tensão-Corrente 𝑉(𝑡) = 𝑅 ∙ 𝑖(𝑡) 𝑡 1 𝑉(𝑡) = ∙ ∫ 𝑖(𝜏) ∙ 𝑑𝜏 + 𝑉(0) 𝐶 0 𝑑𝑉 𝑑𝑡 𝑑𝑖 𝑉(𝑡) = 𝐿 ∙ 𝑑𝑡 𝑡 1 𝑖(𝑡) = ∙ ∫ 𝑉(𝜏) ∙ 𝑑𝜏 + 𝑖(0) 𝐿 𝑖(𝑡) = 𝐶 ∙ Indutor L henry 0 5. Exercícios Propostos. Exercícios 1: Dado um resistor com a resistência de 10 Ohms, calcule: a) a corrente para uma tensão continua aplicada de 150 Volts; b) a potência dissipada para a tensão continua aplicada de 150 Volts; c) a potência dissipada para o dobro da tensão aplicada no item a); d) a potência dissipada para a metade da tensão aplicada no item a); e) a corrente para uma tensão alternada de V(t) = 320 . sint(t); f) a potência para a tensão do item e); Exercícios 2 : Dado um capacitor com a capacitância de 100 mF, calcule: a) a carga armazenada para uma tensão alternada definida por V(t) =120 . sin(t) Volts; b) a corrente para tensão alternada definida V(t) = 120 . sin(t) Volts; c) a potência associada ao capacitor para a tensão do item a); Exercício 3: Dado um indutor com a indutância de 100 mH, calcule: a) o fluxo magnético da bobina para um corrente alternada definida por i(t) = 120 . sin(t) ampères; b) a tensão para uma corrente alternada definida por i(t) = 120 . sint(t) ampères; c) a potência do indutor para tensão do item a); 6. Exercícios Adicionais Charles K. Alexander e Matthew N. O. Sadiku (2003). Fundamentos de circuitos elétricos. Bookman (central 20, Edição 2000) – Capitulo 1 Questões de revisão: 1.1 a 1.10. Proplemas: 1.1 a 1.17, 1.19, 1.20, 1.21, 1.22, 1.24, 1.26, 1.29, 1.30, 1.33, 1.34. Bibliografia: 1. 2. 3. Charles K. Alexander e Matthew N. O. Sadiku (2003). Fundamentos de circuitos elétricos. Bookman L.Q. Orsini e Denise Consonni . Curso de Circuitos Elétricos 2ª Edição Volume 1 Schaum McGraw-Hill Milton Gussow Eletricidade Básica 2ª Edição (Makron Books) Conceitos básico de circuitos conforme cronograma de aulas –Fundamentos de Circuitos Elétricos . Prof. Luizir Modesto Pereira