UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS PRÓ-REITORIA DE GESTÃO DE PESSOAS Curso de Especialização em “Gestão Pública” Pós-Graduação Lato Sensu ESTRESSE PROFISSIONAL: ESTUDO DE CASO SOBRE OS PRINCIPAIS SINTOMAS APRESENTADOS PELOS SERVIDORES DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA Roseli Aparecida Gonçalves SÃO CARLOS 2011 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS PRÓ-REITORIA DE GESTÃO DE PESSOAS Curso de Especialização em “Gestão Pública” Pós-Graduação Lato Sensu ESTRESSE PROFISSIONAL: ESTUDO DE CASO SOBRE OS PRINCIPAIS SINTOMAS APRESENTADOS PELOS SERVIDORES DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA Roseli Aparecida Gonçalves Monografia Apresentada ao Curso de PósGraduação Lato sensu em Gestão Pública da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) como Parte dos Requisitos para Obtenção do Título de Especialista em Gestão Pública. Orientadora: Ângela Maria Carneiro de Carvalho SÃO CARLOS 2011 Gonçalves, Roseli Aparecida. Estresse Profissional: Estudo de Caso sobre os Principais Sintomas Apresentados pelos Servidores de uma Universidade Pública / Roseli Aparecida Gonçalves - São Carlos: UFSCar, 2011. 97 p. Monografia - Pós-Graduação Latu Sensu em Gestão Pública Universidade Federal de São Carlos, 2011. 1. Estresse Profissional. 2. Servidor Público. 3. Doenças Psicossomáticas. I. Título. ____________________________________________ Orientadora Profa. Dra. Ângela Maria Carneiro de Carvalho Na certeza de um reencontro, é de onde eu retiro as forças para sonhar, realizar quaisquer projetos e seguir adiante... A Fermiana C. Gonçalves (minha mãe) e a Carina Luiza Manolio (minha”eterna” orientadora), “in memorian”, Dedico. AGRADECIMENTOS A autora agradece a valiosa colaboração que nos permitiu a realização deste trabalho: A DEUS, pois somente devido a tudo o que ele me concede cheguei até aqui: agradeço pelo início e término desta obra. Aos meus Pais, Fermiana e Alfredo Gonçalves Junior, base da minha formação e da minha família. A Carina Luiza Manolio, pela disposição em me orientar, ainda que por tão pouco tempo, mas o suficiente para ter a minha admiração... À minha orientadora de fato Ângela Maria Carneiro de Carvalho, pelo profissionalismo; pela paciência; pelas críticas; por me ensinar como me conduzir em uma pesquisa científica e por conseguir me dar o equilíbrio necessário para o desenvolvimento desta monografia. Ao Prof. Dr. Lucas Cordeiro Freitas, pela disponibilidade e pela confiança em mim depositada ao aceitar avaliar este trabalho, pelas sugestões dadas (e acatadas), que nos possibilitou “enriquecer” ainda mais este estudo. A Profa. Dra. Odete Rocha, por me auxiliar na tradução do resumo para o Inglês. A Dayse de L. Gonçalves, pelas sugestões e por perder muitas das suas “madrugadas” na leitura deste trabalho para a correção do meu Português, às vezes um tanto quanto... – ahn, “rebuscado”. A Maria Elizabeth G. Moreira, pela amizade e pela companhia quando da realização do curso de Gestão Pública (EAD) e pela ajuda no layout das figuras. Ao João A. da S. Affonso, pelo encorajamento em determinados momentos de “crise”, o que de alguma maneira muito me ajudou, para não pensar em desistir do curso. À Bibliotecária Teresa Luzia Bessi Lopes, pela ajuda e pelas “dicas” preciosas para referenciar este trabalho. A Siomara Mello de Almeida Prado e ao Ronildo Santos Prado, meus grandes companheiros de Curso e de Grupo, amizades que levarei comigo. Aos Professores e Colegas do Curso de Gestão Pública – EAD/UFSCar, pela salutar convivência. À Universidade Federal de São Carlos e à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (ProGPe), pela oportunidade. Ao PPGERN, que ao me “acolher” na condição de Servidor Público, permitiume a inscrição e a conclusão deste Curso. Ao Departamento de Engenharia de Produção – DEP da UFSCar, pelo suporte. E a você, de quem me lembrei, embora não tenha citado, mas que tenho a certeza de que torceu por mim, o meu muito obrigado. Um homem se humilha, Se castram seu sonho, Seu sonho é sua vida, E vida é trabalho... E sem o seu trabalho, O homem não tem honra, E sem a sua honra, Se morre, se mata... (Gonzaguinha) RESUMO A finalidade desta pesquisa é realizar um “Estudo de Caso” sobre os principais sintomas do estresse profissional apresentados pelos servidores de uma universidade pública. Nesse sentido, procurou-se obter informações que pudessem demonstrar essa ocorrência, bem como fazer uma investigação sobre o que é, suas causas e os principais sintomas do estresse, que em alguns casos, quando não devidamente tratados, podem evoluir para patologias mais graves, a chamada doença psicossomática, por exemplo. Conhecida como “doença do século”, a doença psicossomática, ainda é pouco conhecida e compreendida, apesar de se falar muito sobre ela. Nesta pesquisa empírica, utilizaram-se dados investigados junto a 84 (oitenta e quatro) servidores públicos, lotados em um Centro de Ciências Biológicas. A base da amostra é de homens e mulheres com faixa etária entre 20(vinte) e 70(setenta) anos, no sentido de avaliar a ocorrência ou não de estresse, sintomatologias e doenças psicossomáticas. Palavras-chaves: estresse profissional, servidor público, doenças psicossomáticas. ABSTRACT The purpose of this research is to conduct a case study on the main symptoms of Professional stress presented by a public university servers. Accordingly, we tried to obtain information that could demonstrate this occurrence as well as doing a research to characterize what it is, to determine the cause and the main symptoms of stress, which in some cases, when not properly treated can develop into more serious diseases, the so-called psychosomatic diseases, for example. Known as “disease of the century”, psychosomatic disease is poorly known and understood, despite much discussion on it. In empirical research we used data obtained from eighty-four servants, belong to the Center of Life Sciences. The base of the sample are men and women aged between twenty and seventy years, aiming in to assess presence or absence of stress of psychosomatic illnesses and symptomatology. Keywords: professional stress, public servers, psychosomatic illnesses. LISTA DE SIGLAS CLT Consolidação das Leis do Trabalho EUA Estados Unidos da América FUNCEP Fundação Centro de Formação do Servidor Público JK Juscelino Kubitschek LER Lesões por Esforços Repetitivos MARE Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado NAFTA Tratado Norte Americano de Livre Comércio OEA Organização dos Estados Americanos OMS Organização Mundial da Saúde PDRAE Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado PQV Programa de Qualidade de Vida RJU Regime Jurídico Único SEDAP Secretaria de Administração Pública da Presidência da República UDN União Democrática Nacional LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Curva do Estresse ..............................................................................................40 Figura 02 - Interação Biopsicossocial ..................................................................................50 Figura 03 - Porcentagem de pessoas que sabem o que é o estresse .....................................68 Figura 04 - Porcentagem de pessoas que sabem o que é o estresse ocupacional .................68 Figura 05 - Porcentagem de pessoas que realizam atividades de trabalho sob influência de estímulo estressor ................................................................................................................ 69 Figura 06 - Porcentagem de pessoas que se estressam em decorrência do trabalho que exercem ................................................................................................................................71 Figura 07 - Porcentagem de pessoas que se consideram ansiosas .......................................73 Figura 08 - Porcentagem de pessoas que vivenciam estresse no trabalho ...........................75 Figura 09 - Porcentagem de pessoas que consideram o trabalho motivo de satisfação pessoal ..................................................................................................................................76 Figura 10 - Porcentagem de pessoas que necessitaram procurar ajuda médica em virtude do sintoma do estresse .........................................................................................................77 Figura 11 - Porcentagem de pessoas que sabem o que é o “burnout” .................................78 LISTA DE QUADROS Quadro 01 - F40-F48 - Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o "stress" e transtornos somatoformes – CID 2010 ..............................................................................63 Quadro 02 - Agentes estressores detectados em uma universidade pública e percentual de servidores públicos que realizam atividades de trabalho sob a influência de agente(s) estressor(es) .......................................................................................................................70 Quadro 03 - Principais sintomas do estresse apresentados pelos servidores de uma Universidade Pública..........................................................................................................72 Quadro 04 - Sintomatologias da Ansiedade detectadas em uma universidade pública.....74 Quadro 05 - Principais medidas a serem tomadas para evitar situação de estresse...........75 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 16 2 PROBLEMA DE PESQUISA ....................................................................................... 18 3 OBJETIVOS ................................................................................................................... 19 4 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 19 5 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 20 5.1 Breve Histórico Sobre a Regularização do Trabalho no Brasil .............................. 20 5.1.1 O Governo JK, a Reforma Militar, a Administração Pública na Nova Constituição.. 21 5.1.2 O Governo Collor de Mello (1990) ........................................................................... 25 5.1.3 A Era Fernando Henrique Cardoso – FHC (1995/2002) ........................................... 26 5.1.4 O Governo Luiz Inácio Lula da Silva – Lula (2003/2006-2006/2010) ...................... 28 5.2 Conjuntura Mundial ................................................................................................... 29 5.2.1 Marxismo ................................................................................................................... 29 5.2.2 Taylorismo/Fordismo ................................................................................................. 29 5.2.3 Neoliberalismo ........................................................................................................... 32 5.3 O Estresse ..................................................................................................................... 34 5.3.1 Agentes estressores .................................................................................................... 35 5.3.2 Principais sintomas do estresse .................................................................................. 41 5.3.3 Doenças psicossomáticas relacionadas ao estresse .................................................... 48 5.3.4 O estresse e o trabalho profissional (ocupacionais) .................................................. 51 6 METODOLOGIA .......................................................................................................... 65 7 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................ 66 7.1 Sobre a Obtenção dos Dados ...................................................................................... 66 7.2 Delineamento da Pesquisa .......................................................................................... 67 7.3 Coleta dos Dados ......................................................................................................... 67 7.4 O Fator Político Atuando como Estímulo Estressor ................................................ 70 7.5 Trabalho e Estresse ..................................................................................................... 71 8 RESULTADOS ALCANÇADOS.................................................................................. 76 9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.................................................................... 79 10 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 81 APÊNDICE A .................................................................................................................... 84 APÊNDICE B .................................................................................................................... 88 16 1 INTRODUÇÃO O ser humano desde os mais remotos tempos sempre teve preocupação com a sobrevivência e na sua luta pela existência, o homem pescava, caçava e recolhia o alimento que a natureza lhe oferecia. A atividade não era fácil, mas o contato com a natureza, a sensação de liberdade e o empenho para conseguir a caça e/ou o alimento com o qual iria prover a sua prole, causava-lhe uma sensação de prazer. Hoje, de maneiras e formas diferentes, o ser humano ainda “luta” pela sobrevivência lançando mão de uma atividade denominada trabalho, assim como o mundo através dos séculos sofreu (e continua a sofrer) transformações de toda ordem, a concepção de trabalho também sofreu muitas transformações de ordem política, social, religiosa, econômica, etc. O paradigma moderno para trabalho é baseado em eficiência, eficácia, produtividade e na sua relação com custo/benefício. Essa é a exigência da atualidade para as organizações/empresas e para os homens, sendo que, aquele que não possuir certas habilidades e “atitudes”, está condenado ao revés do desemprego e/ou, no caso das empresas, à falência. A carga de responsabilidade que enfrenta no dia a dia acaba por fazer com que o homem se sinta fisicamente debilitado, “estressado” e doente, quando não dispõe de instrumental suficiente para se proteger dos riscos, segundo Lipp (2001). O que ocorre então, é que, apesar de o estresse não ser considerado uma doença, acaba ocasionando no organismo um desequilíbrio e desestabilização em potencial, e aí sim, causa doenças. De acordo com Mcgrath1 apud Ramos (2003, p.141): O estresse no trabalho existe sempre que os indivíduos percepcionam um desequilíbrio substancial entre as exigências impostas pelo trabalho e a sua capacidade de resposta, sendo que a não satisfação dessas exigências pode acarretar consequências desagradáveis. Ao iniciar esta pesquisa, o propósito da autora desta Monografia era tão somente estudar sobre o que é o estresse, as suas causas e como o trabalho realizado sem prazer, sob pressão, poderia estar contribuindo para fazer adoecer os servidores de uma universidade pública. 1 McGRATH, J.E. Stress and behavior in organization. 1976. 17 Os muitos anos de Instituição, a observação de colegas que ao longo dos anos apresentavam sintomas do estresse, ou até doenças cuja origem desconheciam, fizeram-na pesquisar sobre o assunto, numa tentativa de reunir dados que pudessem demonstrar em que situações o estresse, quando não devidamente detectado e tratado, poderia evoluir para um quadro de doença psicossomática. O estresse emocional é definido por Selye (1965) como uma “reação do organismo com reações psicofisiológicas que ocorrem frente a situações que o amedrontam, excitam ou o façam feliz”, sendo objeto de várias pesquisas na atualidade as quais mostram um aumento em sua incidência, segundo Sadir & Lipp (2009, p.118). Nesse sentido, a autora optou por realizar uma estratégia de pesquisa “estudo de caso” sobre as principais sintomatologias do estresse, percebidos na busca pelos paradigmas apontados, quando da realização do trabalho desempenhado. Entendido o estresse como uma reação complexa com componentes físicos e psicológicos, ao servidor desavisado ficará difícil uma reação positiva frente aos distúrbios causados. Quando o prolongamento de suas causas e os meios de enfrentamento são escassos, o estresse pode avançar para um quadro de maior gravidade, tornando-se o corpo vulnerável a diversas doenças, inclusive as doenças psicossomáticas. Apesar de bastante comentada e ser conhecida como a “doença do século”, a maioria das pessoas ainda desconhecem quais sejam as principais doenças psicossomáticas e como ocorrem; por isso, será também função desta pesquisa, a título de orientação, identificar de que forma e em quais situações a atividade ocupacional exercida “sob pressão” poderá levar os servidores públicos a adquirir uma doença psicossomática. Um dado de grande importância, para o estudo de caso, será avaliar se o servidor público tem percepção da extensão do estresse (supondo-se que exista essa situação). Assim sendo, e de onde os trabalhadores tiram estímulos/motivação, para ajudá-los a prosseguir, realizando as suas atividades durante a fase de adaptação? O que fazem para tornar o trabalho menos estressante e como conseguem trabalhar e conciliar a vida familiar, para ter uma boa qualidade de vida? 18 2 PROBLEMA DE PESQUISA As mudanças organizacionais mudam o ambiente e a vida do trabalhador, e, se para certas pessoas, é visível a facilidade de adaptação ao novo sistema, para algumas delas há conflito, em razão de realizarem atividades diferentes daquelas até então realizadas (muitas vezes até por décadas), ou por serem desestimulantes. Somado a isso, compute-se as precárias condições de trabalho, tanto a nível de ambiente físico como organizacional, para que os mesmos comecem a apresentar certos sintomas relacionados ao estresse. A autora deste trabalho, tendo conhecimento de alguns desses sintomas, passou a observar e perceber na população estudada que os mesmos se repetiam com uma determinada frequência em diferentes indivíduos. Muitos adoeceram, afastaram-se do trabalho e/ou se aposentaram, sem sequer saber a verdadeira causa do “mal” que os afetou. Foi no sentido de prevenir, conscientizar e esclarecer que buscamos realizar este trabalho, na hipótese de que, realmente, os agravamentos dos sintomas causados pelo estresse, poderiam levar o trabalhador, no caso, o servidor público, a adquirir uma doença psicossomática. Daí, então, surgiu o interesse da autora em reunir alguns dados que pudessem responder ao problema de pesquisa, objeto deste estudo: QUAIS OS PRINCIPAIS SINTOMAS DO ESTRESSE PERCEPTÍVEIS NO AMBIENTE DE TRABALHO E QUE PODEM LEVAR O SERVIDOR PÚBLICO A ADQUIRIR UMA DOENÇA PSICOSSOMÁTICA? 19 3 OBJETIVOS Esta pesquisa teve por objetivo, fazer um estudo junto aos servidores de uma universidade pública, sobre os principais sintomas de estresse percebidos quando da realização de suas atividades profissionais. Através de entrevistas e questionários aplicados, foram detectados o nível de conhecimento sobre o estresse e seus sintomas e os principais sinais percebidos pela população estudada. O objetivo final foi o de esclarecer como a atividade laboral realizada “sob pressão”, por períodos prolongados e sem tratamento adequado, pode causar o desgaste do corpo e da mente, culminando nas doenças conhecidas como psicossomáticas. 4 JUSTIFICATIVA Esta pesquisa justifica-se na medida em que ao analisarmos os conceitos de estresse, conseguimos perceber sintomas evidentes na população de servidores de uma universidade pública. Esses sintomas imperceptíveis para o leigo e também desconhecidos por alguns dos servidores, na medida em que evoluem, agravam-se acabando por culminar nas doenças profissionais/ocupacionais e nas doenças psicossomáticas. Através de pesquisa exploratória com aplicação de questionários e entrevistas, buscaremos ter uma quantificação sobre o grau de conhecimento da população estudada com relação ao tema abordado: sintomas do estresse e as doenças psicossomáticas, onde será dada ênfase ao fato de que na literatura, muitas das doenças adquiridas são em função do estresse produzido em decorrência da atividade de trabalho exercida. O levantamento dos dados referentes aos principais sintomas apresentados e daqueles que evoluíram para um quadro mais grave (doenças psicossomáticas), também serão de primordial importância para o estudo. Um alerta, sobre os prejuízos físicos e psíquicos que o estresse pode ocasionar pela não adaptação do indivíduo às condições de trabalho, será feito sob a forma de conscientização. 20 5 REFERENCIAL TEÓRICO 5.1 Breve Histórico sobre a Regularização do Trabalho no Brasil Quando se trata de trabalho, todo ser humano tem a necessidade de sentir-se protegido e possuidor de certas garantias. Essas condições são essenciais para o seu equilíbrio físico e mental, no caso de estar empregado, ou na perspectiva de obter um emprego. No Brasil, podemos dizer que esse fato se concretizou na era Vargas, onde Getúlio através do Decreto-Lei Nº 5.452 (1 de maio de 1943), aprova a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, que vem de encontro a alguns anseios há muito almejados. A CLT em seu Título I - Artigo 1º – versa que a consolidação estatui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela previstas. A carteira de trabalho e previdência social devidamente registrada, a aprovação do decreto que regulamenta a fixação do salário mínimo e a estipulação da duração normal da jornada de trabalho, fixada em 8(oito) horas diárias, são alguns dos benefícios que dão ao trabalhador, agora, a segurança e a tranqüilidade necessária para o exercício da sua atividade de trabalho (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm). Com relação às Universidades Públicas Federais e às Autarquias, a partir de 11/12/1990, através da Lei 8.112, foi adotado o Regime Jurídico Único – RJU. Essa Lei institui o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos da União, das Autarquias, e das Fundações Públicas Federais. Para os efeitos dessa Lei, servidor é a pessoa legalmente investida em cargo público. Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8112cons.htm). Portanto, temos no Brasil, os servidores estatutários (vinculados ao RJU) e os celetistas (obedecem a CLT). Isso posto, será possível avaliar também, ao final deste estudo, se essas medidas que foram na época tão festejadas pelos trabalhadores ainda são sinônimo de tranquilidade e estabilidade profissional, possibilitando que os trabalhadores se mantenham no nível de eustress, ou seja, apresentando um estresse positivo (sensação de realização pessoal, bem-estar e satisfação das necessidades), quando o assunto é emprego. Após Vargas (1930/45), novos governos e novas mudanças administrativas tiveram grande impacto na vida do trabalhador, dentre eles: 21 5.1.1 O Governo Juscelino Kubitschek (JK), a Reforma Militar, a Administração Pública na Nova Constituição Administração Juscelino Kubitschek – JK (1956/60) Juscelino Kubitschek iniciou sua carreira política em dezembro de 1933, atuando como Secretário do Governo de Minas Gerais, a pedido de Benedito Valadares (nomeado Interventor de Minas Gerais pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas). A partir de então, candidata-se e elege-se a Deputado Federal em 1934 (tomou posse em 1935); em 1937, teve o seu cargo extinto, em virtude do golpe de estado dado por Getúlio Vargas (institui-se o Estado Novo); em 1940, é nomeado Prefeito de Belo Horizonte, novamente a convite de Benedito Valadares; elege-se Deputado Federal pelo PSD em 1945; em 1950 elege-se Governador de Minas Gerais (toma posse em 31 de janeiro de 1951). Com a morte do Presidente Getúlio Vargas em 1954 (eleito Presidente em 1950), assume o Vice-Presidente Café Filho, um dos grandes opositores políticos de JK, futuro candidato à Presidência da República. Enfrentando uma infinidade de pressões das oposições da época (principalmente da União Democrática Nacional - UDN), Juscelino Kubitschek é eleito o 20º Presidente do Brasil (1955), ao lado de João Goulart (o “Jango”) Vice-Presidente. Foi empossado em 31 de janeiro de 1956 e era sua tarefa agora, controlar as expansões do povo que sofria com a perda de Vargas, para que não fosse gerado um movimento de desordem. Dentre essa massa sofrida (povo), destacavam-se as classes trabalhadoras, que em momento anterior haviam se regozijado com as condições de trabalho proporcionadas por Getúlio. Era grande a responsabilidade de JK com a herança deixada por Vargas. Sua proposta de governo incluía trinta metas que objetivavam gerar o progresso e a modernização do país, sendo que a administração paralela foi um dos artifícios utilizados pelo Governo JK, no sentido de atingir o seu plano de metas (“50 anos em 5” – 50 anos de progresso em 5 anos de governo) rumo ao seu projeto desenvolvimentista. Para Lima Junior (1998), a administração paralela foi uma tendência de se evitar conflitos. A política econômica desenvolvimentista de Juscelino apresentou pontos positivos e negativos para o nosso país. A entrada de multinacionais gerou empregos, porém, deixou nosso país mais dependente do capital externo. O investimento na industrialização deixou de lado a zona rural, prejudicando o trabalhador do campo e a produção agrícola. O país ganhou uma nova capital, porém a dívida externa contraída para esta obra, aumentou significativamente. A migração e o êxodo rural 22 descontrolados fez aumentar a pobreza, a miséria e a violência nas grandes capitais do sudeste do país (http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/governo_jk.htm). O Governo JK: se por um lado trouxe a riqueza, o desenvolvimento de grandes centros e criou uma classe média forte, também aumentou a miséria do proletariado e apesar dos vários órgãos criados em face da industrialização, ainda não foi nesse período que o servidor público conseguiu conquistas trabalhistas significativas para a classe. JK foi ainda: eleito Senador por Goiás em 1961; indicado em 1962 pela Organização dos Estados Americanos (OEA), Coordenador da Aliança para o Progresso. Com a Revolução de 1964, teve o seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos. Parte para o exílio voluntário em 14 de junho de 1964, retornando definitivamente ao Brasil em 1967. JK morre em 22 de agosto de 1976, vítima de um acidente automobilístico no Km 165 da via Dutra, Brasil (www.memorialjk.com.br). 23 A Reforma Militar (Decreto Lei 200/67) – (1967) Na Ditadura Militar, temos novas transformações. Devem ser ressaltados três aspectos: a ampliação da função econômica do Estado com a criação de várias empresas estatais, a facilidade de implantação de políticas (pela autoridade do regime) e o aprofundamento da divisão da administração pública, através do Decreto Lei 200/67 – Administração Direta. Warlich2, apud Lima Junior (1998), destaca cinco princípios norteadores da reforma administrativa militar: 1) planejamento, descentralização, delegação de autoridade, coordenação e controle; 2) expansão das empresas estatais, de órgãos independentes (fundações) e semi-independentes (autarquias); 3) fortalecimento e expansão do sistema de mérito; 4) diretrizes gerais para um novo plano de classificação de cargos; 5) reagrupamento de departamentos, divisões e serviços em 16 (dezesseis) ministérios. Sofreu, o servidor público, com o Regime Militar, onde qualquer expressão contrária ao governo eram abafada, muitas vezes com o uso da violência. Educadores passaram a ser perseguidos em virtude de posicionamentos ideológicos e na educação, o caráter antidemocrático da proposta ideológica do regime militar, culminou na prisão e demissão de professores; universidades foram invadidas; estudantes foram presos e feridos. Durante esse governo, o servidor público passou por um período de estresse violento gerado pelo medo e pela incerteza do amanhã. Contudo, foi nesse período que houve a grande expansão das universidades no Brasil, e a criação do vestibular classificatório. Sem desfazer dos méritos advindos das mudanças empreendidas, é fato que a tão desejada e necessária valorização do servidor público, novamente, não ocorreu, a exemplo de governos anteriores. 2 WARLICH, B. A reforma administrativa no Brasil: experiência anterior, situação atual e perspectivas. Uma apreciação geral. Revista de Administração Pública, v.18, n.1, jan/mar. 1984. 24 A Administração Pública na Nova Constituição - (1998) Instituiu regras iguais às que deveriam ser seguidas pela administração pública indireta. A nova Constituição da República Federativa do Brasil voltou a fortalecer a administração direta. O Governo Sarney recria o Ministério Extraordinário para Assuntos Administrativos e também a Comissão Geral do Plano de Reforma Administrativa (1985). Para o suporte do programa de reformas na área administrativa, tivemos os seguintes órgãos: a Secretaria de Administração Pública da Presidência da República – SEDAP; a Fundação Centro de Formação do Servidor Público – FUNCEP; FUNCEP da Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, com o propósito de formar, aperfeiçoar e profissionalizar o servidor público de nível superior, dentre outros. Algumas medidas tiveram por objetivo a extinção de estatais e de 37 (trinta e sete) órgãos. A economia brasileira no Governo Sarney passa por uma crise sem precedentes na história da república do país. Diversos planos de estabilização inflacionária foram lançados sem êxito. Em detrimento ao governo anterior, os trabalhadores conseguem agora permanecer com um nível regular de estresse, mediante algumas conquistas: - limitação da jornada de trabalho para 44 horas semanais; - o seguro desemprego; - a licença maternidade e a licença paternidade. A Constituição também assegurou aos servidores públicos o direito de se organizar em sindicatos e utilizar a greve como instrumento de negociação (exceto nos serviços essenciais). A reforma pretendida pelo Governo Sarney reforça a preocupação com o cidadão, idéia essa que surgiu pela primeira vez no programa de desburocratização dos governos militares. 25 5.1.2 O Governo Collor de Mello – (1990) Foi marcado pelo desmonte da máquina pública e sob o slogan de que os servidores públicos eram verdadeiros marajás. Segundo Costin (2010), o Governo Collor de forma desastrada, buscou a redução do aparelho do Estado por meio de demissão de funcionários e eliminação de órgãos, sem antes assegurar sua legalidade pela reforma da Constituição. Para as elites políticas e empresariais, foi oferecida a modernização econômica do país em consonante com a receita do neoliberalismo, bem como a redução da intervenção estatal. De uma maneira geral, foram bem recebidos por esses, os planos de modernização econômica e da reforma administrativa. O Governo Collor tinha como pretensão com a reestruturação administrativa, a modernização do Estado, privilegiando o ajuste econômico, a desregulamentação, a desestatização e a abertura da economia. A reforma redundou na demissão ou dispensa de 112 (cento e doze) mil servidores (entre celetistas e não-estáveis), além da aposentadoria de 45 (quarenta e cinco) mil servidores. De acordo com Costin (2004). Aos servidores públicos, coube a responsabilidade pelos “males do país”. Na área pessoal, instituiu o RJU (Lei Nº 8.112). A Reforma Collor, naquilo que se materializou, é vista como desmobilização de ativos: Além da desestruturação de setores inteiros da Administração Federal, esta reforma não deixou resultados perenes, quer em termos de cultura reformista, quer em termos metodológicos, técnicos ou processos. Seguir um diagnóstico consistente pode ser elaborado a partir de sua intervenção, pois em nenhum momento o voluntarismo que a marcou permitiu que a abordagem do ambiente administrativo se desse de maneira científica, Santos3 apud Lima Junior (1998, p.17). Com o impeachment de Collor, assume o Vice-Presidente Itamar Franco. 3 SANTOS, L.A. Reforma administrativa no contexto da democracia. Brasília: DIAP/Arko Advice Ed. 1997. 26 5.1.3 A Era Fernando Henrique Cardoso – FHC (1995/2002) A reforma administrativa foi a grande pretensão de FHC, quando da administração pública brasileira. A reforma administrativa no contexto da reforma do estado foi implantada pelo Ministro Luis Carlos Bresser-Pereira à frente do Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado – MARE. Foi instrumento da reforma gerencial o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado – PDRAE, cuja função era à reestruturação do aparelho do Estado para combater entre outros, a cultura burocrática. Ao MARE foi atribuída à responsabilidade por formular políticas para a reforma do Estado, reforma administrativa, modernização da gestão e promoção da qualidade no serviço público. De acordo com Bresser-Pereira (2005, p.12): O pressuposto da reforma que foi adotada no Brasil é o de que só um Estado capaz pode garantir e regular um mercado que consiga alocar com eficiência os fatores da produção. A reforma da Gestão pública de 1995-98, avançou na direção de uma administração mais autônoma e mais responsabilizada perante a sociedade, a partir do pressuposto que a melhor forma de lutar contra o clientelismo e outras formas de captura do Estado é dar um passo adiante e tornar o Estado mais eficiente e mais moderno. É preciso lutar contra a corrupção e o desperdício, mas essa luta não alcança êxito se nos limitarmos a travar a administração pública com controles e mais controles. Na opinião de Lima Junior (1998), o diagnóstico sobre o qual se basearam as mudanças, são discutíveis por não corresponder à realidade brasileira, isto porque o diagnóstico, em primeiro lugar, afirma que as fases patrimonialista e burocrática estão separadas, cabendo agora introduzir no estado a administração gerencial. O patrimonialismo e o clientelismo político, conforme reconhece e condena o Governo FHC, têm sido os traços estruturais da administração pública: O capítulo da administração pública da Constituição de 1988 será o resultado de todas as forças contraditórias. De um lado ela é uma reação ao populismo e ao fisiologismo que recrudescem com o advento da democracia. Por isso a Constituição irá sacramentar os princípios de uma administração pública arcaica, burocrática ao extremo. Uma administração pública altamente centralizada, hierárquica e rígida, em que toda a prioridade será dada à administração direta ao invés da indireta. A 27 Constituição de 1988 ignorou completamente as novas orientações da administração pública. Pereira4, apud Lima Junior (1998, p.18). A Reforma da Gestão Pública de 1995/98 valorizou os servidores públicos do alto escalão, por entender que os mesmos tinham um papel estratégico para o desenvolvimento do país. Esta foi uma tentativa de substituir a administração pública burocrática pela administração pública gerencial ou gestão pública como uma maneira de valorização do alto servidor público. O servidor seria agora um gestor, mais capacitado para a tomada de decisões e com autonomia e responsabilização. Em nome dessa valorização, no Governo FHC deu-se uns dos maiores números de demissões e aposentadorias do funcionalismo público. Essa situação, somada aos salários dos servidores congelados por sete anos, provocou um enorme índice de rejeição da classe trabalhadora. Apesar do Governo FHC não ter conseguido eliminar o patrimonialismo e a burocracia, temos que admitir que a cultura gerencial estabeleceu-se no Brasil, a partir da reforma gerencial de 1995. 4 PEREIRA, L.C.B. Da administração púbica burocrática à gerencial. Revista do Serviço público, Brasília, v.120, n.1, jan/abr. 1996 28 5.1.4 O Governo Luiz Inácio Lula da Silva - Lula – (2003/2006 – 2006/2010) A revitalização do Estado, a redução da pobreza e a promoção do desenvolvimento, redução do déficit institucional, transparência e ética, esses foram alguns dos pontos-chave do Governo Lula. O projeto social voltado para o combate à fome (“fome zero”), foi um dos diversos programas sociais que marcaram o seu governo, sendo que o servidor público se viu mais valorizado com os planos de carreira e as políticas de qualificação do servidor. A ação política de Lula conseguiu empreender um desenvolvimento historicamente reclamado pelos diversos setores sociais, contudo, ainda assim, o crescimento econômico do Brasil não conseguiu se desvencilhar de práticas econômicas semelhantes às dos governos anteriores. Avaliar se o Governo Lula foi vitorioso ou fracassado não está em pauta, mas fato importante e de grande impacto político foi o exercício da democracia no país, com a eleição de um Presidente de um partido considerado da esquerda, colocando fim ao pensamento político que excluía as minorias do poder (http://www.brasilescola.com/historiab/governo-luis-inacio-lula-da-silva.htm). Quanto maior a incerteza sobre uma situação, maior será o estresse vivenciado pelo indivíduo. Essa incerteza, o trabalhador sentiu a cada troca de Governo. O fechamento de empresas, o medo do desemprego, a instabilidade financeira, dentre outros fatores, atuaram como agentes estressores e de forma negativa na sua saúde. De acordo com França & Rodrigues5 apud Pereira Jorge (2004, p.40), os impactos e tensões vivenciados deixam marcas e modificam o corpo. “No corpo de cada ser humano estão as marcas de sua história, de seu esforço, de suas perdas e de suas vitórias” E foi nesse clima de estresse emocional, que alguns servidores vivenciaram as mudanças políticas, estruturais e culturais patrocinadas pelos Governos do Brasil. 5 FRANÇA, A.C.; RODRIGUES, A.L. Estresse e trabalho: guia básico com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997. 29 5.2. Conjuntura Mundial Num mundo, propenso a crises e mudanças de toda ordem, aquelas ligadas ao trabalho afetam de maneira inevitável (mesmo que ocorridas no Primeiro Mundo), os trabalhadores de todas as partes. O trabalho é uma atividade antiga, e iremos situá-lo desde Karl Marx, para que possamos sentir a trajetória do trabalhador: 5.2.1 Marxismo Karl Marx era um crítico radical das sociedades capitalistas e defendia ser o trabalho uma atividade fundamental da humanidade, sendo a centralidade da atividade humana. Desenvolvendo-se socialmente, o homem é um ser social, que usa o trabalho como instrumento para o progresso da comunidade a que pertence. A teoria de Marx versa que o trabalho gera riqueza, e que o lucro não se dá pela troca de mercadorias, trocadas geralmente por seu valor, mas sim em sua produção. Daí a exploração do trabalhador que não recebe o valor correspondente ao seu trabalho, mas somente o necessário para a sua sobrevivência – conceito da mais-valia. 5.2.2 Taylorismo/Fordismo No Taylorismo, o que conta é a produção, devendo o indivíduo cumprir a sua tarefa num tempo record, sendo premiados aqueles que se sobressaírem. O operário precisa desdobrar-se para cumprir o seu trabalho. Segundo Antunes (2009, p.38), tudo indica que o taylorismo/fordismo foi: Expressão dominante do sistema produtivo e de seu respectivo processo de trabalho, tendo vigorado na grande indústria, ao longo praticamente de todo o século XX , sobretudo a partir da segunda década. Baseava-se na produção em massa de mercadorias, que se estruturava a partir de uma produção mais homogeneizada e enormemente verticalizada. 30 Segundo Dejours (1992, p. 47): A alienação pelo sistema Taylor, onde o comportamento condicionado e o tempo recortado sob as medidas da organização do trabalho, formam uma verdadeira síndrome psicopatológica que o operário, para evitar algo ainda pior, se vê obrigado a reforçar também ele. A injustiça quer que, no fim, o próprio operário torne-se o artesão de seu sofrimento. Para Henry Ford, o que importava era o consumo. A ele é atribuído o “fordismo”, onde os operários eram treinados para a execução de sua tarefa na linha de montagem, para gerar uma produção que pudesse ser consumida em massa. Esse método produtivo industrial foi adotado quase na sua totalidade pelos países desenvolvidos, tendo sido importante no século XX para a consolidação da supremacia norte-americana. Na década de 60 (sessenta) houve uma grande mobilização dos trabalhadores (operários-massa), os quais haviam perdido a sua identidade cultural (artesanato) e manufatureira dos ofícios; daí o surgimento de um “novo proletariado”, marcado pela massificação, servindo como modelo para uma nova identidade e de uma nova forma de consciência de classe. Se o operário-massa foi a base social para a expansão do compromisso socialdemocrático anterior, ele foi também seu principal elemento de transbordamento, ruptura e confrontação, do qual foram forte expressão os movimentos pelo controle social da produção ocorridos no final dos anos 60, Antunes (2009, p.43). Torna-se importante frisar, que o Taylorismo / Fordismo, destituiu o operário massa de qualquer participação na organização do processo de trabalho. Ele apenas efetuava uma atividade repetitiva e desprovida de sentido, situação essa considerada como forte estímulo estressor pela literatura especializada na área de psicologia/estresse. A partir dos anos 70(setenta), o capitalismo começa a dar mostras de declínio em virtude da queda da taxa de lucro (aumento do preço da força de trabalho); o esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista de produção (retração em resposta ao desemprego estrutural que ora se iniciava); hipertrofia da esfera financeira (passou a ganhar autonomia frente aos capitais produtivos); maior concentração de capitais frente às fusões entre as empresas monopolistas e oligopolistas; crise do Welfare State (ou do “Estado do Bem-Estar Social”) – que acarretou a crise fiscal do Estado capitalista; política de privatizações. Com a crise estrutural do capitalismo, desmoronavam também os mecanismos de “regulação” que vigoraram, durante o pós-guerra, em diversos países capitalistas (incluindo a Europa). Em resposta a isso, começa um processo de reorganização do capital, 31 bem como de seu sistema ideológico e político de dominação, partindo-se para o advento do neoliberalismo. A expressão mais forte desse período foi Thatcher – Reagan, sendo também caracterizado também por uma pressão generalizada do capital e do Estado contra a classe trabalhadora e contra as condições vigentes durante a fase de apogeu do fordismo. Devido às dimensões fortes que atingiu, a crise desestruturou grande parte do terceiro mundo, países do Leste Europeu, afetando também o centro do sistema global de produção do capital. Na década de 80 (oitenta), os Estados Unidos da América - EUA foram afetados e a partir dos anos 90 (noventa) também o Japão e os países asiáticos. No movimento de reposição dos capitais produtivos e financeiros e do padrão tecnológico, vários países foram excluídos por não conseguirem acompanhar a competição intercapitalista (formada pela tríade EUA e o Tratado Norte Americano de Livre Comércio – NAFTA*, a Alemanha à frente da União Européia e Japão liderando os países asiáticos. O desemprego e a precarização da força humana de trabalhos, são a herança dos trabalhadores dos países excluídos. Quanto mais aumentam a competitividade e a concorrência intercapitais mais nefastas são suas conseqüências, das quais duas são particularmente graves: a destruição e/ou precarização, sem paralelos em toda a era moderna, da força humana que trabalha e a degradação crescente do meio ambiente, na relação metabólica entre homem, tecnologia e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercadorias e para o processo de valorização do capital, Antunes (2009, p. 36). De acordo com Lazzareschi (2007), apesar do alto preço pago pela classe operária, o taylorismo/fordismo possibilitou que uma grande parcela de trabalhadores assalariados, tivesse uma condição de vida melhor. Esses trabalhadores tiveram acesso ao consumo de bens industrializados, além de terem gerado milhares de emprego nos E.U.A., tendo assim contribuído em grande parte para o seu crescimento econômico, fazendo desse país uma grande potência mundial. Mais especificamente com relação ao fordismo, Ford que considerava o trabalhador não apenas um diferentemente de produtor de Taylor mercadorias, e sim um consumidor, implementou as seguintes medidas, segundo Lazzareschi (2007, p.44): Aumentou os salários de seus trabalhadores, instituiu a jornada de trabalho de oito horas como incentivo ao consumo, distribuiu alguns benefícios, como restaurantes, transporte, hospital e assistência social, por ter compreendido que a produção padronizada em massa, graças à nova organização do processo de trabalho inaugurada em suas fábricas com a construção da linha de montagem com esteira rolante – esteira de produção – requeria consumo de massa. _________________ * Bloco econômico formado por EUA, Canadá e México. 32 5.2.3 Neoliberalismo O Neoliberalismo surgiu na década de 70(setenta), como uma tentativa para resolver a crise que atingiu a economia mundial em 1973, como consequência do preço excessivo do petróleo. Tem como princípios básicos: a pouca intervenção do governo no mercado de trabalho; abertura da economia para a entrada de multinacionais; privatização de empresas estatais; posição contrária aos impostos e tributos excessivos; defesa dos princípios econômicos do capitalismo, dentre outros. Alguns críticos afirmam que a economia neoliberal somente beneficia as grandes potencias econômicas, sendo que os países pobres ou em desenvolvimento (Brasil, por exemplo) sofrem com a política neoliberal (baixos salários, desemprego, diferenças sociais, dependência de capital externo). Na Inglaterra de Thatcher, o neoliberalismo teve que se defrontar com grandes movimentos de oposição (greve dos mineiros de 1982 e a histórica greve ocorrida em 1984/5, contra a política de fechamento das minas), que apesar do impacto social, político, ideológico e simbólico, terminou com um desfecho emocional e político, desfavorável para os trabalhadores. Na década de 1990, o Neoliberalismo espalhou-se pelo mundo, sendo o Brasil nessa época governado por Color de Mello, que aderiu a essas idéias. Segundo Almeida (2002), com relação ao desempenho efetivo do neoliberalismo nos anos 90(noventa), se foi cumprido o que ele prometia, se foi eficiente no fornecimento de seus serviços econômicos, políticos e sociais, de maneira geral, concorda que sim, alegando algumas insuficiências localizadas. Ainda de acordo com a avaliação de Almeida (2002, p. 7): Nem todas as mazelas sociais e os problemas econômicos acumulados no Brasil “neoliberal” podem ou devem ser atribuídos ao neoliberalismo, em particular a pobreza generalizada, a corrupção, os baixos níveis educacionais, o não funcionamento da justiça, a esclerose administrativa, a insuficiência dos serviços de saúde e previdenciários, a criminalidade rampante, os surtos de dengue ou a decadência do futebol. Existem problemas seculares, outros criados ao longo de um regime republicano pouco propenso a estimular as virtudes cívicas dos cidadãos, alguns derivados da ditadura e vários outros criados nos anos de populismo constitucional-democrático, a maior parte deles “made in Brazil”, e não importados pela onda globalizante que conviveu com o neoliberalismo nos tormentosos anos 90. 33 Todas essas teorias tiveram importância para a concepção de trabalho e para a vida do trabalhador de várias partes do mundo, e, é claro, no Brasil. A suposta insatisfação do cidadão em relação à política neoliberal, servirá de base para estarmos avaliando, também, nesta pesquisa, os sintomas de estresse percebidos pelos servidores de uma universidade pública. 34 5.3 O Estresse Quando falamos de estresse, normalmente pensamos em algo que nos deixa “sob pressão”. O mundo passa por mudanças expressivas tanto no setor cultural, econômico político como no social. No setor econômico, as dificuldades financeiras advindas de baixos salários, desemprego, gastos potenciais com saúde, estudo e alimentação, são estressores capazes de desencadear o aparecimento de diversas respostas orgânicas, mentais e psicológicas e/ou comportamentais que acabam por afetar negativamente partes importantes do nosso organismo. Inicialmente, essas respostas têm como objetivo a adaptação do indivíduo à nova situação criada pelo estímulo estressor, denominado de estresse. De acordo com Everly6 apud Lipp (2001, p.2), “o estresse pode ser definido como um estado de tensão que causa uma ruptura no equilíbrio interno do organismo, ou seja, um estado de tensão patogênico do organismo. O desequilíbrio ocorre quando a pessoa necessita responder a alguma demanda que ultrapassa sua capacidade adaptativa”. Outros autores definem estresse como: Processo químico do corpo, seja uma manifestação normal de adaptação do corpo às exigências de seu ambiente ou possa ser ele causado por fatores físicos, os mais evidentes são os de origem psíquica, por exemplo, a ansiedade que se manifesta organicamente, Boller7 apud Pereira Jorge (2004, p.24). Uma reação neuro-hormonal, ou seja, diante de uma situação extraordinária, o cérebro recebe a informação sobre o que está acontecendo e descarrega vários hormônios para que a pessoa possa enfrentar aquele momento, Vasconcelos8 apud Pereira Jorge (2004, p.25). Relacionado ao trabalho, é definido como as situações em que a pessoa percebe o seu ambiente de trabalho como ameaçador de suas necessidades de realização pessoal e profissional e/ou a sua saúde física ou mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o ambiente de trabalho, à medida que esse ambiente contém demandas excessivas a ela, ou que ela não contém recursos adequados para enfrentar tais situações, França & Rodrigues (2005, p.36). 6 EVERLY, G.S. A clinical guide to the treatment of the human stress response. Plenum Press, New York, 1990. 7 BOLLER, E. O enfrentamento do estresse no trabalho de enfermagem – possibilidades e limites na implementação de estratégias gerenciais. FlorianópolisUFSC, 2002. Dissertação de Mestrado em Assistência de Enfermagem, PPGE. 8 VASCONCELOS, E.G. Extra stress. São Paulo. Boletim da Central Bussiness, 1996. 35 Tendo em vista os avanços tecnológicos, a globalização, as mudanças organizacionais implementadas nas instituições/empresas, houve a necessidade do trabalhador se reciclar para atender a um consumidor cada vez mais exigente. Isso não se deu de forma diferente nas universidades públicas. De um momento para o outro, os seus servidores viram-se envolvidos com termos como internet, intranet, administração de redes, tecnologia de informação – T.I. etc., tendo que se qualificar para preservar o seu emprego. Somado a isso, as demissões procedidas pelos governos, a criação de novos cursos nas universidades e a não contratação de funcionários em número suficiente, foram algumas das medidas que fizeram com que alguns trabalhadores entrassem em colapso por não poderem dar conta das suas ocupações. Esses serão alguns dos estressores que estaremos analisando como possíveis causas de estresse dos servidores de uma universidade pública (adaptação a novas situações, realização de trabalho sob pressão, sobrecarga de trabalho, cumprimento de prazos, etc.). 5.3.1 Agentes estressores Tudo aquilo que afeta o nosso metabolismo, no sentido de despertar reações de estresse, é chamado de estressor. Os fatores ou agentes estressantes são de três categorias a saber: 1) fatores do contexto: remuneração inadequada; propaganda enganosa; mercado de trabalho restrito; previdência social mal planejada; legislação salarial instável e desajustamento familiar, dentre outras; 2) fatores ou agentes do ambiente de trabalho: podem referir-se às variáveis – chefia insegura ou incapaz; políticas governamentais; autoridade mal delegada; bloqueio de carreira; conflito entre colegas de trabalho; organização deficiente do ambiente de trabalho; salário inadequado para satisfazer a ambição individual; falta de motivação, dentre outras e 3) fatores de vulnerabilidade: pode-se catalogar as pessoas que necessitam ingerir drogas com frequência (para suprir problemas laborais), indivíduos com QI acima da média, portadores de traços neuróticos em sua personalidade, tais como: impaciência; impetuosidade verbal; dominar a conversa; fazer ou pensar em duas ou mais coisas ao mesmo tempo; alta competitividade, etc., afirma Vieira9 apud Pereira Jorge (2004, p.30 ). 9 VIEIRA, S.I. Medicina básica do trabalho. Curitiba: Gênesis, 1996. Volume I, II, III e IV. 36 Segundo França & Rodrigues10 apud Sadir &Lipp (2009, p.121): As condições de trabalho são geradoras de fatores estressantes, quando há deterioração das relações entre funcionários, com ambiente hostil entre as pessoas, trabalho isolado entre os membros, com pouca cooperação, presença de uma inadequada abordagem política, com competição não saudável entre as pessoas. Outras consequências podem ser as greves, atrasos nos prazos, ociosidade, absenteísmo, alta rotatividade, altas taxas de doenças e baixo nível de esforço. De acordo com Kompier (2003, p.44), “alguns trabalhos são estressantes em si mesmos e que pode não ser muito realista reduzir ou eliminar todos esses fatores de risco. O interessante seria ensinar aos empregados a lidar com as condições necessárias ao trabalho.” O exercício profissional deveria ser motivo de satisfação pessoal. Com relação ao resultado da pesquisa realizada pela American Management Association com executivos, as necessidades que essas pessoas procuravam satisfazer no trabalho seriam: recompensa material; progresso na carreira; reconhecimento; status na comunidade; satisfação no trabalho; percepção de seu trabalho como significativo; obtenção de tranquilidade doméstica; preservação de sua saúde; segurança no trabalho. Esses dados não diferem dos apresentados nas pesquisas com trabalhadores brasileiros. No entanto, fatores estressantes no trabalho tais como: liderança do tipo autoritário; execução de tarefas sob repressão; falta de conhecimento no processo de avaliação de desempenho e de promoção; carência de autoridade e de orientação; excesso de trabalho; grau de interferência na vida particular que os trabalhadores podem ter, têm sido motivo de estresse e objeto de estudo por pesquisadores. Lidera ainda as pesquisas, como um dos principais fatores de estresse, a incerteza. É um dos sentimentos mais frequentes na atualidade e fortemente associada ao trabalho (incerteza da manutenção do emprego, do salário, da família, etc.). As respostas do indivíduo ao estresse, podem estar ligadas aos aspectos negativos. Porém, certas situações estressantes podem ser bem agradáveis: casamento, aprovação no vestibular, vencer uma competição, o nascimento de um filho, ganhar na loteria, dentre outros. 10 FRANÇA, A.C.L.; RODRIGUES, A.L. Stress e trabalho. Uma abordagem psicossomática. 2ed. São Paulo: Atlas, 1999, 154p. 37 De acordo com França & Rodrigues (2002), quando a resposta de um indivíduo diante do estímulo, que é a resposta ou o processo de estresse, for negativa, ou seja, desencadeia um processo adaptativo inadequado, com o comprometimento da saúde, é chamado Distress; no entanto, quando o indivíduo reage bem à demanda, chamamos de Eustress. O estresse em si, não é bom nem ruim, apesar de suas respostas estarem quase sempre associadas a aspectos negativos. Pode ser danoso, em excesso, mas ao manter-se um equilíbrio, aprendendo-se a lidar com ele, poderemos obter um funcionamento adequado do organismo, uma vez que, a todo instante, fazemos movimentos de adaptação, ou seja, tentamos ajustar-nos às situações do ambiente externo, ou do mundo interno. A certas modificações que ocorrem no organismo frente a situações de estresse, Selye (1965) deu o nome de Síndrome Geral de Adaptação, composta de três fases: Reação de Alarme, Fase de Resistência e Fase de Exaustão. Reação de Alarme – Assemelha-se à Reação de Emergência de Cannon. Walter B. Cannon, responsável pelo desenvolvimento da homeostase* detectou que um animal ao ser submetido a estímulos que ameaçavam o seu equilíbrio orgânico, se preparava para a luta ou para a fuga, ao que denominou de reação de Emergência. Nessa fase, o organismo desencadeia as seguintes reações: aumento da frequência cardíaca; aumento da pressão arterial; aumento da concentração de glóbulos vermelhos; aumento da concentração de açúcar no sangue; redistribuição do sangue; aumento da frequência respiratória; dilatação dos brônquios; dilatação da pupila; aumento da concentração de glóbulos brancos; ansiedade. Fase de Resistência – São observadas as seguintes reações: aumento do córtex da supra-renal; ulcerações no aparelho digestivo; irritabilidade; insônia; mudanças no humor; diminuição do desejo sexual; atrofia de algumas estruturas relacionadas à produção de células do sangue. Fase de Exaustão – Representa na maioria das vezes a falha dos mecanismos de adaptação. Observam-se as seguintes reações: retorno parcial e breve à reação de alarme; falha dos mecanismos de adaptação; esgotamento por sobrecarga fisiológica; morte do organismo. _________________ * Homeostase: equilíbrio dinâmico do organismo 38 Somente nas situações mais graves de estresse, é que se atinge a última fase, a de exaustão, de acordo com França & Rodrigues (2002). A maioria dos sintomas somáticos e psicossomáticos fica mais evidente nesse estágio (podendo ser percebida nos outros estágios também). “Nesse momento o indivíduo fica deprimido e perde a razão. É considerado o mais grave e pode levar o indivíduo à morte”, Pereira Jorge (2004, p.28). No ambiente de trabalho vários são os estímulos estressores que proporcionam desgaste emocional e são importantíssimos no desencadeamento de transtornos relacionados ao estresse. Nesse sentido, podemos citar o caso das depressões, ansiedade patológica, fobias, pânico, doenças psicossomáticas, etc. Ballone (1999) realizou estudos que comprovam as situações mais comumente relacionadas ao estresse no trabalho: Sobrecarga - os principais fatores que contribuem para a demanda excessiva de agentes estressores seriam: a) urgência de tempo; b) responsabilidade excessiva; c) falta de apoio; d) expectativas excessivas de nós mesmos e daqueles que nos cercam. Falta de estímulos – atividades medíocres, destituídas de significação, tarefas altamente repetitivas ou desinteressantes também podem produzir estresse. O risco de ataques cardíacos, por exemplo, podem ser observados nos dois primeiros anos após uma aposentadoria (tédio, sensação de nulidade, de solidão, etc.). Ruído - do ponto de vista científico, a exposição repetitiva e o ruído excessivo podem causar estresse pela estimulação do Sistema Nervoso Simpático, ao provocar irritabilidade e diminuição do poder de concentração. O ruído pode ter um efeito físico e/ou psicológico capaz de desencadear uma reação de estresse. Alterações do sono - o ritmo das atividades sociais e, mesmo os horários prolongados de trabalho pode levar à insônia e, fatalmente, ao estresse. Funcionários que trabalham em turnos ou em trabalhos noturnos por exemplo, têm um sono de má qualidade durante o dia (excesso de ruído diurno). Esse sono de má qualidade, acabará por produzir aumento de sonolência no período de trabalho (noturno ou 39 diurno), responsável muitas vezes por acidentes, desinteresse, ansiedade, irritabilidade, perda da eficiência e estresse. Falta de perspectivas - a impossibilidade de conquistar uma posição melhor no cargo que se exerce ou de obter qualquer melhoria de salário, são fatores que ajudam a aumentar as tensões do dia a dia no trabalho. Na falta de perspectivas ou na presença de perspectivas pessimistas a pessoa ficará totalmente à mercê dos efeitos ansiosos do cotidiano e sem esperança de recompensas agradáveis. Logo sobrevém o estado de esgotamento com efeitos imprevisíveis (estresse). Mudanças na empresa/instituição - essa mudança pode ser em função de uma nova chefia, orientação geral da empresa/instituição, etc., o que pode gerar insegurança. Como associamos o estresse à adaptação, é o que é mais solicitado das pessoas diante das mudanças. Portanto, é o momento em que acontece o estresse. Quando a pessoa passa por momentos de ansiedade e estresse por causa de mudanças, nessa situação é importante não deixar que o lado emocional: mágoa, orgulho, inveja, rancor, dominem o lado racional. Mudanças devido às novas tecnologias - a contínua substituição do “velho” pelos sistemas mais modernos, acaba obrigando as pessoas a se adaptarem emocionalmente ao novo. No presente caso, teremos uma situação de estresse variável, de acordo com as disposições pessoais, ou mesmo em função do tipo de tecnologia a ser implantada. A adaptação ao novo tende a exercer um profundo impacto sobre a ansiedade (estresse) das pessoas. Ergonomia - não devemos apenas levar em conta as razões emocionais em relação ao estresse, por se tratar esse de uma alteração global do organismo e não apenas emocional. Também deve-se considerar o conforto térmico, acústico, horas trabalhadas (sem interrupção), a exigência física, postural, etc. Algumas atividades demandam posições anti-fisiológicas, exercícios repetitivos e permanência exagerada em atitudes cansativas; são exigências posturais a que as pessoas são submetidas durante o trabalho. 40 Um assessoramento técnico da Medicina do Trabalho seria de grande importância para prevenir estados de esgotamento (estresse). TIPOS DE STRESS Distress Eustress ESFORÇO Monotonia (- esforço) Distress Sobrecarga (+ esforço) Área de melhor desempenho e conforto Manifestações e sintomas da doença TEMPO FIGURA 1 – Curva do Estresse Fonte: França & Rodrigues (2011) Manifestações e sintomas da doença 41 5.3.2 Principais sintomas do estresse Sabe-se hoje em dia, que assim como o ambiente está intimamente ligado ao aparecimento (ou não) de certas doenças, que o estresse tem íntima relação na maioria das doenças da área da Medicina do Trabalho. Para Masci11 apud Pereira Jorge (2004), as pessoas mais propensas ao estresse, possuem as seguintes características em comum: não conseguem relaxar, não são flexíveis em seu ponto de vista, desejam ser bem sucedidas o tempo todo, procuram sempre preservar a sua imagem pessoal. Além disso, dão demasiada importância a um único aspecto em sua vida, necessitam sempre de estímulos externos para sentir-se bem. Acrescente-se ainda a tudo isso o fato de não se sentirem bem a vontade com as pessoas que as rodeiam, possuem desejo permanente de ser outra coisa ou outro alguém e levam-se muito a sério. Diversos são os fatores do ambiente de trabalho considerados estressores, e que têm tendência a correlacionar níveis altos de pressão arterial e/ou doenças cardiovasculares em geral, segundo Mendes12 apud Pereira Jorge (2004). Quando o assunto é estresse, a literatura especializada aponta a existência de diversos sintomas, entre os quais: irritabilidade; problemas cardíacos (aceleração do ritmo cardíaco) e/ou aumento da tensão (hipertensão); problemas com o sono (insônia); problemas digestivos; queda de cabelos; desenvolvimento ou reaparecimento de doenças infecciosas como herpes labial, herpes genital, dores de garganta, resfriados, ansiedade, fadiga física e mental, tensão muscular, dentre outros. O estresse patológico, portanto, seria uma consequência direta dos esforços da pessoa para se adaptar à sua situação existencial e de acordo com estudos realizados, tudo indica que as pessoas adoecem com mais facilidade quando encontram-se estressadas. No caso, por exemplo, da perda de um emprego, baixam as defesas imunológicas do indivíduo e este pode facilmente vir a contrair doenças. Situações de estresse prolongadas (crônicas) poderão levar a pessoa a ter as seguintes complicações diante do processo de adaptação biológica natural: pressão alta, derrame, infarto, enxaqueca, insônia, depressão, etc. 11 MASCI, C. Estresse. WWW.regra.com.br/cyromasci acesso em 28 ago. 2001. 12 MENDES, R. Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995. 42 Os sintomas, portanto, são um sinal de alerta para que se restabeleça o equilíbrio mente/corpo diante do estresse (sinais de cansaço, tristeza, dor de cabeça, grande agitação, constantes crises de tensão e angústia; diminuição da produtividade, isolamento, mau humor, medo, colite, sudorese intensa, irritação, incapacidade de domínio sobre as emoções, etc.). Sendo muitos os sintomas provenientes do estresse descritos na literatura especializada (Ballone, 2005, 2007, 2008; Franca & Rodrigues, 2011; Pereira Jorge, 2004), baseados na observação (informal) da população de uma universidade pública, descrevemos alguns desses sintomas detectados: Ansiedade - É um termo recorrente entre as pessoas participantes daquilo que se chama vida moderna, ou seja, um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira, sujeitos. Dessa forma, o estresse é o representante emocional da ansiedade, a correspondência psíquica de toda movimentação causada na pessoa. A ansiedade pode ser percebida como um sentimento de apreensão, ou uma sensação de que algo está para acontecer, representando um contínuo estado de alerta e uma constante pressa em terminar as coisas que ainda nem começamos. De acordo com Ballone (2008) Com relação à sintomatologia geral da ansiedade, normalmente são observados pelo menos seis dos dezoito sintomas listados: 01 - tremores ou sensação de fraqueza 02 - tensão ou dor muscular 03 - inquietação 04 - fadiga fácil 05 - falta de ar ou sensação de fôlego curto 06 - palpitações 07 - sudorese, mãos frias e úmidas 08 - boca seca 09 - vertigens e tonturas 10 - náuseas e diarréia 11 - rubor ou calafrios 12 – polaciúria* 13 - bolo na garganta 14 - impaciência 15 - resposta exagerada à surpresa 16 - pouca concentração ou memória prejudicada 17 - dificuldade em conciliar e manter o sono 18 – irritabilidade __________________ *urinar com frequência, mas em pequenas quantidades 43 Sistema Imunológico - O estresse diário e presente nas situações mais exaustivas, tensas e crônicas, acabam por afetar diversos elementos imunológicos. Dentre essas alterações podemos citar as alterações de Células T, a atividade de Células NK, a resposta de anticorpos, a função dos macrófagos, a reativação de vírus latentes, como o herpes simples, dentre outras. As relações entre o estresse e infecções datam de longa data e constatados através de trabalhos experimentais, que mostram que estresse e imunidade baixa têm estreita relação. Insônia - A insônia além de ser um sintoma de estresse, constitui-se por si só, num fator estressante. Alterações do ritmo do sono são normalmente um dos principais sintomas de estresse a serem percebidos. O estresse patológico está associado aos altos níveis de hormônio Adrenocorticotrófico – ACTH – circulante, que mantém o corpo desperto impedindo o sono. Os efeitos da insônia podem se autoperpetuar, diminuindo a resistência ao estresse. Estômago - A um comando do cérebro, o estômago produz os ácidos do suco gástrico. O excesso de acidez, unido à queda de resistência a infecções (estresse), pode provocar úlceras e gastrite. Muitos pacientes ulcerosos são altamente sensíveis ao estresse, o que pode limitar os benefícios do tratamento, na medida em que promove a ansiedade que causa secreção ácida excessiva. Etilismo - A pressão psicológica vivida pelo trabalhador, a incapacidade de enfrentar o estresse da vida moderna, fazem com que cada vez mais as pessoas busquem no álcool, o alívio para a fadiga, a ansiedade e a tensão. Os efeitos iniciais do álcool no metabolismo corporal, se assemelham aos efeitos do próprio estresse. O uso abusivo de álcool proporciona inúmeros problemas tais quais: a cirrose hepática, hipertensão, doenças cardíacas, problemas sexuais, alterações do ritmo do sono e lesões da mucosa de revestimento da parede do estômago. O indivíduo fica mais acessível ao estresse. Tabagismo - O cigarro pode comprometer praticamente todos os órgãos do corpo, sendo responsável por milhares de mortes por ataques cardíacos, úlceras e neoplasias. Apesar de psicologicamente o cigarro ter um efeito calmante, pois os fumantes acham que ele alivia a tensão, fisicamente os efeitos da nicotina sublimam a resposta ao estresse. 44 Tireóide (tiróide) - Glândula responsável pela regulação geral do organismo. Quando da existência de alterações clínicas dessa glândula, para mais, temos o hipertiroidismo e quando para menos o hipotiroidismo, que comprometem significativamente o psiquismo. O envolvimento da tireóide no emocional, se dá em razão do envolvimento do hipotálamo diante das emoções. Na fase de alarme do estresse é comum o hipertirodismo e no esgotamento o hipotiroidismo (podendo essas alterações, acontecer também inversamente). Vale comentar a título de curiosidade, a glândula tireóide e a sua reciprocidade com as emoções; os estados emocionais mais contundentes e o estresse têm como consequência as alterações da tireóide, mas as alterações da tireóide também levam a alterações emocionais. Tanto o hiper como o hipotiroidismo podem causas problemas psiquiátricos, como por exemplo, transtornos do humor. Maxilares (“Bruxismo”) - A pessoa “estressada” costuma ranger os dentes, o que pode desgastá-los e deslocar a mandíbula a ponto de pressionar os nervos da face. Isso produz zunidos nos ouvidos e até tontura. O Bruxismo também pode causar problemas que envolvam a articulação da mandíbula (síndrome da articulação têmporo-mandibular – ATM). A tensão cotidiana (estresse) parece ser uma das causas principais do Bruxismo. Diabete - Quando em situação de estresse, existe um aumento na secreção de alguns hormônios, em especial o cortisol, que age contra a insulina ajudando na manifestação do diabete. O diabete mexe com o equilíbrio hormonal, a ponto de em alguns casos causar um estado depressivo. Se não for bem controlado, acaba por produzir lesões graves e potencialmente fatais: infarto do miocárdio, derrame cerebral, cegueira, impotência, nefropatia, úlcera nas pernas e amputações de membros. Se controlada, as complicações crônicas podem ser evitadas, podendo o diabético ter uma qualidade de vida normal. A diabetes mellitus (melitus) é o transtorno mais comum observado, sendo consequência da alteração da produção de insulina pelo pâncreas (hormônio responsável em transformar o açúcar, presente na corrente sanguínea, em energia). Os sintomas mais frequentemente observados são: aumento da sudorese e do apetite; aumento da frequência urinária; fadiga; náuseas acompanhadas algumas vezes por vômito; perda de peso; visão turva ou borrada; na mulher, aumento das infecções vaginais; no homem, impotência. Em adultos com mais de 40(quarenta) anos, é mais comum a Diabetes Tipo II (os pacientes não são tão insuficientes na produção da insulina, decorrendo o problema na dificuldade do organismo em produzir esse hormônio de forma adequada). Citamos como causas, a obesidade, vida sedentária e claro, o 45 estresse. Um diagnóstico precoce pode ser a maior arma contra essa doença, para uma pessoa que apresente: peso acima do normal, para sua altura e idade; antecedentes hereditários de diabetes na família; 45(quarenta e cinco) anos ou mais; níveis de pressão arterial acima de 140/90 mmhg; níveis de colesterol HDL ao redor de 35 mg/dl ou níveis de triglicérides de 250 mg/dl ou acima; vida sedentária; momento de vida ou atividade estressante; resultado de uma glicemia, nos limites máximos ou próximos a ele. O descuido com tal doença, pode resultar em prejuízos tanto a curto como a longo prazo, pois a diabetes é potencialmente uma doença muito grave, podendo trazer sérias consequências à saúde e qualidade de vida do indivíduo. Estudos experimentais têm demonstrado que o estresse pode interferir na produção da insulina pelos pâncreas e, também, nas taxas de açúcar do sangue. De acordo com França & Rodrigues (2011), a Diabete pode ser ainda citada como uma doença decorrente de forte carga emocional. Doenças de Pele - Em situações de estresse, principalmente nas mulheres, o organismo poderá produzir o hormônio masculino conhecido como testosterona, tendo como consequências o aparecimento de espinhas, acne e oleosidade. Em casos mais graves, doenças como herpes labial, vitiligo e psoríase (associados às pessoas ansiosas, deprimidas ou estressadas). O estresse favorece também, o aparecimento de rugas pelo estímulo dos radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das pessoas. Doença Cardiovascular - A noradrenalina, produzida nas supra-renais acelera os batimentos cardíacos, provocando uma alta pressão arterial. Estudos científicos demonstram estreita ligação entre doenças cardíacas e fatores estressantes. O estresse ocupacional é considerado por muitos trabalhadores, como um fator de risco à doença coronariana e infartos cardíacos. O estresse ainda tem sido evidenciado como agente causador de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, arritmias cardíacas, doenças coronarianas, infarto do miocárdio e até morte súbita. Fadiga Física e Mental - Quando motivados e sob níveis adequados de estresse, produzimos mais, criamos mais, nos comunicamos mais e somos saudáveis. Ao ser ultrapassado o nosso nível ótimo de desempenho, passaremos para a forma negativa de estresse, levando-nos a sermos ineficientes, sem criatividade e improdutivos, e ao empobrecimento de nosso relacionamento interpessoal. Todos esses fatores cumulativos, levam-nos a uma fadiga mental. Nesse ínterim, impelimos nossos corpos para atingir o nível de desempenho anterior, 46 enfraquecendo ainda mais os nossos recursos físicos. Os efeitos sinérgicos da fadiga mental e física acabam por produzir ainda mais estresse, formando um ciclo vicioso. Quando a fadiga decorre de forte carga emocional, pode levar a um quadro mais preocupante: a síndrome da fadiga. Suas principais características são: sensação de cansaço, fadiga constante e intensa após esforço mental; às vezes seguida de exaustão ou de esgotamento e fraqueza, após pequenos esforços; dores musculares e nas articulações, tonturas, dor de cabeça decorrente de tensão emocional, diversas perturbações do sono, sonolência excessiva, alterações digestivas, gânglios sensíveis ou dolorosos (sintomas orgânicos mais comuns); manifestações de ansiedade, com sintomas principalmente no nível do corpo, tais como: sudorese, aceleração da frequência do pulso, dos batimentos cardíacos e da respiração; sensação de falta de ar, com aumento ou não da pressão arterial; palidez ou vermelhidão; diminuição da libido; reações depressivas leves: diminuição do prazer naquilo que faz, com pouco interesse pela vida; afastamento de parentes e amigos; sentimento de desmotivação; falta de vontade; desatenção; irritação ou desânimo fácil e por vezes intenso; menor interesse sexual e/ou menor prazer na relação sexual; a intensidade dos sintomas é leve podendo a pessoa com algum esforço continuar realizando as suas atividades de trabalho e sociais, usualmente, preocupado com seus sintomas; sensação de menor energia e de que está acontecendo muita coisa, mas nota que tem dificuldade em acompanhar; quando a pressão é intensa, a pessoa tende a introverterse; sensação de peso nos ombros; dificuldade em tomar decisões; diminuição da capacidade de concentração; comprometimento da memória. Algumas doenças físicas podem provocar a Síndrome da Fadiga (quadros infecciosos como brucelose, mononucleose infecciosa, virose por Epstein-Baar, etc.; distúrbios endócrinos – glandulares – como hipo ou hipertiroidismo da tireóide, doença de Addison, pan-hipopituitarismo, doença de Simmond, alterações do metabolismo (potássio e distúrbios do sono, como apnéia do sono, entre outras). Distúrbios psiquiátricos também podem provocar a fadiga (hipocondria, depressões e psicose). Nem sempre manifestações de fadiga são provocadas por essas doenças orgânicas ou psiquiátricas, sendo que dentro da perspectiva da Psicologia do Trabalho essa síndrome teria como fator etiológico principal – causas – situações que provocam um estado de tensão crônica, principalmente em situações em que não existe uma sintonia entre a motivação, o esforço envolvido na tarefa e as funções orgânicas, principalmente as vegetativas (circulação sanguínea), respiração, digestão, etc. Lesões por Esforços Repetitivos – LER (DORT) - Constituem-se hoje em importante patologia relacionada ao estresse e ao trabalho (ocupacional). Abrange um grupo de 47 comprometimentos que incide principalmente nos membros superiores (destaque para a tenossinovite). Foi diagnosticada inicialmente em digitadores, mas no presente momento pode ser detectada em trabalhadores que realizam trabalhos repetitivos. Provoca dores de intensidades variáveis, inflamações em articulações (por sua complexidade, a LER vem sendo abordada dentro da psicossomática). É comum observar-se que as pessoas que sofrem dessa patologia, submetem-se a tratamentos frequentes, mas com resultados bastante frustrantes, os quais não trazem o alívio dos sintomas como o esperado. Também é diagnosticada quando o indivíduo passa por intensa carga emocional. Tensão Muscular - Sempre que somos submetidos a um estresse patológico, tendemos a sobrecarregar os nossos músculos. Uma tensão muscular excessiva, tanto pode ser a causa como uma resposta ao estresse. Uma situação estressante, mesmo que imaginária, além de produzir uma resposta imediata ao estresse, deixa uma quantidade residual de tensão no corpo. Sendo o estresse cumulativo, essa tensão tende a aumentar no decorrer do dia, causando distúrbios como: dor lombar e no pescoço, limitação da flexibilidade e de movimentos, câimbra, espasmos musculares e nervosos, fadiga, agressividade, insônia, irritabilidade, dentre outros. 48 5.3.3 Doenças psicossomáticas relacionadas ao estresse De acordo com França & Rodrigues (2002, p.73), “o termo psicossomática foi introduzido na medicina em 1818, pelo psiquiatra alemão Heinroth. Sua finalidade era designar as doenças do corpo decorrentes de fatores mentais.” A moderna psicossomática hoje estuda a pessoa como ser histórico e social: somos hoje, o resultado de nossa interação com o mundo e das nossas experiências do passado, e de expectativas futuras, ou seja, um sistema único formado por três subsistemas: mente, corpo e relacionamentos sociais. A Medicina Psicossomática é recente (cerca de 60 anos) e tem como primeira meta, a figura do doente e não a doença. Não é uma especialidade médica ou ramo da psiquiatria. É uma postura, uma atitude do médico ou de qualquer profissional da área de saúde que concebe o ser humano como um ser bio-psico-social, França & Rodrigues (2002, p.72). A utilização de diferentes e complexas disciplinas permitiu que a psicossomática se assentasse sobre os conhecimentos da Fisiologia, da Psicologia Social, da Patologia Geral e das psicologias dinâmicas, em especial da Psicanálise, França & Rodrigues (2002). Dentro do enfoque psicossomático, a saúde e a doença são estados que resultam da harmonia ou da desregulação de três campos: corpo, mente e meio externo. O estresse varia de pessoa para pessoa, portanto cada qual de adapta ao mesmo à sua maneira. Dissabores emocionais provocam nas pessoas um aumento não só daquelas doenças suscetíveis à influência emocional (aumento da pressão sanguínea, úlceras, dores de cabeça, etc.), mas também o aumento de doenças infecciosas, dores lombares, etc. Então, quanto mais elevados os níveis de estresse emocional, mais suscetíveis ficam as pessoas às doenças. Mediante o estresse crônico, ocorre a supressão do sistema imunológico, o que ocasiona uma maior suscetibilidade à doença, especialmente o câncer. O estresse emocional realimenta o desequilíbrio emocional. Esse descontrole (desequilíbrio), pode vir a aumentar a produção de células anormais, e o corpo nesse momento, incapacitado, não consegue destruílas, descreve Cabral, A.P.T. et al (1997). A abordagem psicossomática tenta evidenciar que o ser humano é um todo, interligado em profundas e complexas relações, sendo que para a Medicina Psicossomática o 49 importante é a figura do doente e não a doença em si: “É uma postura, uma atitude do médico ou de qualquer profissional da área da saúde que concebe o ser humano como um ser biopsico-social”, França & Rodrigues (2011, p. 83). O que se conclui através dos diversos estudos médicos e psicológicos, é que o ser humano ainda é incapaz de lidar com os estímulos estressores presentes nos ambientes de sua convivência, apresentando doenças que mostram muito bem o seu jeito de viver. Para Ballone (1999), o indivíduo estressado está sujeito a manifestar qualquer tipo de doença psicossomática. Do ponto de vista emocional, o estresse se relaciona à depressão, à síndrome do pânico, aos transtornos de ansiedade e às fobias. Relata que as doenças psicossomáticas são desencadeadas ou agravadas pelas emoções e pelos estados estressantes a longo prazo, atingindo qualquer órgão ou sistema: • Cardiologia: hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, arritmias, etc; • Gastroenterologia: polipose, diverticulose, insuficiência hepática, etc; • Neurologia: enxaqueca, sequelas de AVC, hidrocefalias, epilepsia, etc; • Otorrino: labirintopatias, síndromes vertiginosas, zumbidos, etc; • Endocrinologia: diabetes, insuficiência suprarenal, tireóide, etc; • Clínica Geral: reumatismos, lúpus, doença de Reynauld, imunopatias, etc; • Ginecologia: endometriose, esterilidade, insuficiência ovariana, etc; • Ortopedia: lombalgias, osteoartrose, lesões osteomusculares (LER/DORT), etc. De acordo com França & Rodrigues (2011), a lista de doenças poderia até triplicar, mas segundo alguns autores, nem sempre os pacientes relatam os sintomas mentais, que por sua vez também não são investigados pelo médico (uma espécie de conluio para centrar o problema somente no físico). Atualmente, mudanças estão ocorrendo, e a sociedade e a Medicina estão deixando de lado os preconceitos que carregaram durante séculos em relação à vida psíquica do ser humano. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação à depressão por exemplo, é de que milhões de pessoas no mundo necessitariam de tratamento para essa manifestação psiquiátrica, mas a maioria desses pacientes nem chegam aos consultórios 50 médicos. Para aqueles que frequentam um clínico geral e/ou cardiologista, a prescrição dada é tranquilizantes (remédios para ansiedade). A busca a esses médicos e não aos psiquiatras, deve-se ao fato de que o seu sofrimento (o “distress”) se manifesta principalmente no nível do físico. FIGURA 2 - Interação Biopsicossocial Fonte: França & Rodrigues (2011) 51 5.3.4 O estresse e o trabalho profissional (ocupacional) O trabalho, inicialmente, era considerado pela humanidade como um sinal de desprezo e de inferioridade. Ele não merecia a atenção de pessoas educadas, abastadas ou investidas de autoridade (era destinado aos escravos). Esse conceito modificou-se com o decorrer do tempo e a evolução das sociedades. O trabalho “escravo”, torturante, deu lugar ao trabalho como fonte de realização tanto pessoal como social. Um trabalho mais dignificante. Com as mudanças tecnológicas, sociais, econômicas e culturais, muda também a relação do indivíduo com o trabalho, tendo o mesmo que adaptar-se à nova situação. A mão-de-obra tradicional cede lugar aos trabalhadores do conhecimento e embora essa mudança faça parte do trabalho, alguns trabalhadores resistem a ela, não sentem confiança. Nesse ínterim, já não se pode mais trabalhar apenas pela satisfação pessoal, o mundo clama por adaptação, qualificação. O trabalhador que precisa escolher entre a evolução e o trabalho “seguro” (formal), vê-se novamente diante de um conflito: o estresse profissional. De acordo com Antunes (2009, p.139): O trabalho entendido em seu sentido mais genérico e abstrato, como produtor de valores de uso, é a expressão de uma relação metabólica entre o ser social e a natureza. No seu sentido primitivo e limitado, por meio do ato laborativo, objetos naturais são transformados em coisas úteis. Mais tarde, nas formas mais desenvolvidas da práxis social, num paralelo a essa relação homem-natureza desenvolvem-se inter-relações com outros seres sociais, também com vistas à produção de valor de uso. Portanto, para Antunes (2009, p.141), ”trabalho é a forma fundamental, mais simples e elementar daqueles complexos cuja interação dinâmica constitui-se na especificidade do ser social.” Na conjuntura atual, com o crescimento da máquina pública, o mundo se reorganizou, evoluiu. No universo das universidades, novos cursos foram criados; aumentouse a clientela e novas formas de tecnologias tiveram que ser aprendidas e adaptadas pelo servidor, para exercer o seu trabalho com eficácia/eficiência. 52 De acordo com Lages (2008), ao servidor é necessário agora, o domínio de um número cada vez maior de tarefas e o desenvolvimento de competências múltiplas. Isso significa que o servidor tem que ser polivalente, criativo, flexível e estar sempre disponível. Deverá se atualizar constantemente, ser participativo, ter espírito de liderança, valorizar o trabalho em equipe. Esse quadro estressa o trabalhador de forma perversa, fragiliza-o: O medo de perder o emprego, de não conseguir um emprego, o medo de não corresponder às expectativas dos novos paradigmas em informação, conhecimento, o medo de não saber fazer, de não saber ser geram comportamentos, sentimentos, emoções que são importantes para a captura da subjetividade do trabalhador, uma vez que, tendo internalizado os valores da empresa – lealdade, fidelidade, sucesso – este passa a se vigiar, tanto para manter seu próprio emprego quanto para denunciar os que resistem às manipulações de tal ideologia, Lages (2008, p. 4). Essa sobrecarga de trabalho, a preocupação com a sua qualificação, a cobrança da chefia, o cumprimento de prazos para a entrega de determinados serviços, a necessidade da utilização de ferramentas e softwares cada vez mais sofisticados, são a base para que alguns servidores desequilibrem-se psiquicamente. É o medo de não dar conta da demanda. Ainda de acordo com Lages (2008), essa sobrecarga, sinal de estresse, pode significar para alguns servidores, sentimentos de importância, de reconhecimento dentro da instituição (principalmente em ambientes competitivos). Muitos trabalhadores para preservar o emprego, ou como forma de obter reconhecimento por parte das Chefias e/ou colegas, ”sacrificam” o seu horário de almoço e/ou levam tarefas para casa no dia a dia e finais de semana. Desde há muito tempo, o trabalho e a saúde do trabalhador são discutidos, mas apesar disso percebe-se ser essa uma questão subjetiva e complexa. Segundo Balassiano (2011, p.754): A aptidão de criar e manter um ambiente com presença reduzida de estressores organizacionais é uma exigência crescente e todo administrador deve estar capacitado para gerir e reduzir o próprio estresse e para auxiliar na diminuição das tensões de seus subordinados. Além disto, é necessário admitir que haja estressores inerentes à natureza da atividade, à cultura organizacional e às interações humanas. Ainda assim, a identificação dos estressores é essencial para que se possa adequar o perfil dos cargos à convivência com estes estressores. 53 Para Willard & Spackman13 apud Pereira Jorge (2004), para se detectar a doença o indivíduo não pode ser fragmentado, devendo-se sim, analisar os vários aspectos de sua vida, seu meio social, profissional e familiar. É o que vem buscando a saúde ocupacional – não dividir o indivíduo, e sim, analisá-lo mediante um viés holístico como um todo, um ser integrante. De acordo com Balassiano (2011), ainda existe uma carência de pesquisas sobre o estresse ocupacional no Brasil, no campo da administração pública. Mas o que é saúde e o que é doença? Segundo a medicina, saúde é a ausência de doença, mas deve-se ir além, pois saúde compreende o estado global do indivíduo – aspecto físico, mental, profissional e social. Pretende-se nesta pesquisa, saber quais os sintomas de estresse que estão fazendo os servidores de uma universidade pública adoecer. Segundo França & Rodrigues (2002), o desenvolvimento de métodos científicos criou condições para sair-se de uma perspectiva individual e, penetrar na dimensão coletiva do processo saúde-doença. Quando se analisa um grupo de trabalhadores, verifica-se como são influenciados por agentes sociais, ambiente e organização do trabalho. As estruturas sociais podem ser um dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças. Estudos realizados pela Medicina do Trabalho relatam que muitas das patologias apresentadas pelos trabalhadores têm correlação com o estresse. O ambiente de trabalho conturbado e as relações desgastantes que o trabalhador se submete no exercício da profissão, são fatores dos mais significativos na determinação de doenças. A doença nem sempre é bem vista no trabalho por quem emprega ou por quem compartilha tarefas. Para o trabalhador que necessita utilizar a sua capacidade física e mental para o desenvolvimento das suas atividades de trabalho, tendo em vista a preservação do emprego, a doença ou até mesmo a dor é sinônimo de fragilidade. Assim sendo, trabalha no limite das suas forças, pois existe suspeita por parte da empresa/instituição (empregador), de que o trabalhador sempre supervaloriza a dor e sintomas para não trabalhar ou faltar sem “perder” o dia, segundo França & Rodrigues (2011). É muito comum atribuir-se a ela (dor), um caráter meramente psicológico. Esse pensamento é contrário dentro da abordagem psicossomática, uma vez que todos os tipos de 13 WILLARD; SPACKMAN. Tradução de CREPEAU, E.B.; NEISTADT, M.E. Terapia ocupacional. Rio de Janeiro: Guanabara, 2002. 54 queixas, dores, sintomas e certas manifestações clínicas, são passíveis de investigação. As doenças que pesam sobre os trabalhadores, como o pavor da demissão e consequente precarização da vida, são fatores que, somados à sobrecarga de trabalho vão afetar a saúde física e mental, relata Dejours (1992). Além das doenças do trabalho tradicionais, torna-se premente abordar as doenças psicossomáticas, e a saúde mental, pois nas empresas/instituições, quando surgem queixas psicossomáticas, fatalmente haverá queda de produção, despesas médicas e administrativas sem retorno, clima interpessoal negativo, etc. Apesar do trabalho representar a possibilidade de crescimento, independência pessoal-profissional, dentre outras coisas, é também motivo de insatisfação, desinteresse, irritação, apatia. A reação a esses estímulos estressores, é o aparecimento das doenças ocupacionais, com sintomas ligados às características de trabalho e condições inerentes à tarefa, de acordo com França & Rodrigues (2011). Como exemplos de doenças ocupacionais temos as lombalgias (levantamento inadequado de peso, ou por postura, por atividades intensivas – LER); silicoses, tendossinovites; pneumocoliose; fadiga crônica e incapacidade laboral (relacionadas ao trabalho noturno/turnos, temperaturas extremas). Podemos citar ainda aquelas doenças que se manifestam em virtude de forte carga emocional, e que levam a problemas graves e, com muita freqüência, até à morte. Apesar das somatizações* apresentarem sinais importantes para o diagnóstico da saúde e das doenças, ainda são pouco compreendidas e encontram certas reticências em alguns ramos da Medicina, relata França & Rodrigues (2011). É importante frisar no entanto, que muitos clínicos dão especial atenção a esses somatizadores e, procuram seguir o que foi preconizado por Maimônides**, médico, rabino e filósofo de vertente aristotélica do século XII: “Uma consulta deve durar uma hora. Durante dez minutos, ausculte os órgãos do paciente. Nos cinquenta minutos restantes, sonde-lhe a alma”, Buchalla (2007, p.2). Dessa forma, passaram a tratar o seu padecimento atual, evitando-se os futuros, ao invés de se apressarem em livrar-se dos “neuróticos”. Tratamentos inadequados decorrentes de falha no diagnóstico médico, os quais muitas vezes, interpretam dor como “só psicológica” - (“piti”), de acordo com França & _____________________ *Somatizações: sensações e distúrbios físicos com forte carga emocional e afetiva ** Moisés Bem Maimônides (Hebr. Mosheh Ben Maimon) (Córdoba, 1138 – Cairo, 1204) 55 Rodrigues (2011), deixam marcas profundas no trabalhador. Descrevemos a seguir, algumas manifestações relativas a doenças decorrentes de forte carga emocional de acordo com França & Rodrigues (2011): • Distúrbios do Sono Alguns sintomas a eles relacionados, talvez possam ser considerados os mais comuns em uma situação de estresse. Esses distúrbios dividem-se em: - Insônia (vide 5.3.2, p.43). - Distúrbios de sonolência excessiva: não existe uma média padrão, nem todas as pessoas necessitam das mesmas horas de sono (fala-se em oito horas para um sono reparador). Uma das causas de distúrbios de sonolência excessiva são as apnéias do sono (interrupções na respiração durante o sono, provocando despertares breves para a desobstrução). Quem as apresenta normalmente tem sonolência durante o dia, chegando às vezes, ao ponto de dormir no trabalho. - Distúrbios do padrão sono-vigília: no sono-vigília convencional, o ciclo que as pessoas apresentam é dormir à noite (oito horas) e permanecer acordado durante o resto do dia. Esses distúrbios se dão na categoria de pessoas que trabalham em turnos, sendo submetidas a mudanças constantes, abruptas e involuntárias do padrão de sono e vigília. Com isso, ocorre um desgaste individual da pessoa em relação ao trabalho, o rendimento fica prejudicado, surgem dificuldades para conciliar e manter o sono, ficando cansados e sonolentos quando acordados, o que interfere na vida social e familiar. - Parasonias: incluem-se distúrbios como sonambulismo, terror noturno, certos tipos de enxaqueca, bruxismo, etc. • Workaholics (refere-se às pessoas que são “viciadas”, dependentes do trabalho) São pessoas que não sabem e não conseguem fazer outra coisa na vida a não ser trabalhar. Quando ao final de semana, feriado, férias, apresentam dificuldades em conviver com a família, com o lazer e vida social. Tornam-se irritadiços, estressados, chegando a desenvolver manifestações depressivas. Para eles, o trabalho é uma válvula de escape (adaptaram-se ao estresse que o trabalho pode proporcionar). • Trabalho alienante 56 Quando o trabalho é desenvolvido de forma coercitiva; as pessoas não exercitam seus potenciais, principalmente a criatividade; os trabalhadores não têm controle sobre seu processo de trabalho; as tarefas são tidas como aborrecidas e arbitrariamente decididas quanto ao seu ritmo, intensidade e duração; as relações de trabalho são fragmentadas e competitivas – trabalho alienante. Ambientes com esses tipos de características tornam-se estressantes, sentindo as pessoas falta de poder, sentimentos de insatisfação, frustração, sensação de viver num mundo invisível e hostil (experiência subjetiva de alienação). • Depressão Caracteriza-se por apresentar vários sintomas de intensidade variável, podendo comprometer a vida das pessoas que apresentam esse problema. Os sintomas da depressão podem afetar, por exemplo, o humor (podendo o indivíduo apresentar graus variáveis de tristeza e até melancolia), a disposição e o estado de ânimo, a qualidade e as perspectivas de vida, o comportamento e até o funcionamento do corpo. Esse estado depressivo, quase sempre compromete o lado profissional, não conseguindo o trabalhador desenvolver suas atividades adequadamente; por vezes não consegue nem trabalhar, tem dificuldade de concentração, cansaço excessivo... Por suas peculiaridades, a depressão requer tratamento médico e psicológico. Sintomas mais observados: redução do nível de energia; perda do interesse; dificuldade em iniciar atividades, principalmente no período da manhã; diminuição significativa do apetite ou aumento da ingestão de alimentos (compulsivamente); hipersonia durante o dia; preocupação acima do habitual; dificuldade em tomar decisões; sentimento de desesperança; pessimismo; diminuição do prazer nas atividades em geral; diminuição da libido; afastamento das atividades sociais; irritabilidade; diminuição da autoestima; idéias negativas sobre si mesmo; crises de choro; angústia; lentificação do pensamento e/ou dos movimentos; pensamento de que a morte seria um alívio ou solução; idéias ou planos de suicídio; incremento da preocupação com a saúde. Contribui ainda para a depressão, o consumo contínuo de drogas que atuam no sistema nervoso central, tais como: a maconha, a cocaína, as anfetaminas e o álcool. Os 57 tratamentos para essa doença dependerão do grau de comprometimento, da história familiar e pessoal do indivíduo que a apresente. De acordo com França & Rodrigues (2011, p. 117), A natureza etiológica da LER, é multifatorial. Ela é exemplarmente Psicossomática. E aí parece residir umas das grandes dificuldades da Medicina em lidar com essa patologia. É somática em seus aspectos fisiopatológicos; é psíquica, pois envolve as características de personalidade do trabalhador e é social , porque se relaciona com a organização e a divisão do trabalho. Para o trabalhador, com a falta de reconhecimento do seu trabalho, pois com “a automação e a informatização, o reconhecimento pela produção já não é mais creditado a ele, mas à máquina”, de acordo com França & Rodrigues (2011, p. 119) fica impossível obter prazer e ter qualquer pretensão de criatividade. A rotina acaba por massacrar qualquer tentativa de transformação do trabalhador. Com a sua autoestima diminuída, pois o seu trabalho não é percebido como útil ou interessante, não existe por parte do trabalhador a sensação de que o seu esforço é socialmente reconhecido, e não há reforço da sua identidade por meio de sua práxis. Mediante esses aspectos presentes na organização trabalho x trabalhador, a consequência não poderia ser outra que, um sentimento de frustração, raiva e sofrimento. Não podendo-se lidar de forma eficaz com a subjetividade e sua expressão, os mecanismos de defesa podem mostrar-se ineficazes ou serem utilizados de forma inadequada. Como resultado, teremos a doença, pois as energias mobilizadas pelo estresse, resultante dessa situação, não podem ser adequadamente consumidas. Pela perspectiva da Abordagem Sociopsicossomática, a LER seria uma doença que remete a um sentido figurado, uma metáfora das relações de trabalho de nossa época, onde vemos que o culto à máquina se sobrepõe ao trabalho humano (França & Rodrigues, 2011). • Conceito de Burnout Não podemos deixar de falar de um dos desdobramentos mais importantes do estresse profissional neste século: - o conceito de burnout*. _________________________ * Desenvolvido na década de 1970 por Cristina Maslach - psicóloga social e H.J. Freudenberg - psicanalista 58 Para Maslach e Freudenberg, “o burnout tem o sentido de preço que o profissional paga por sua dedicação ao cuidar de outras pessoas ou de sua luta para alcançar uma grande realização”, segundo Freudenberg & Richelson14 apud França & Rodrigues (2002, p.50). Aqueles profissionais cujo objeto de trabalho é o relacionado diretamente com outras pessoas, seriam exemplos de que o burnout é fruto de situações de trabalho. Portanto, o burnout na conceituação de Freudenberg & Richelson é a resposta emocional a situações de estresse crônico, em função dessas situações vivenciadas no trabalho – com outras pessoas ou do próprio profissional que se autoavalia, em função do seu desenvolvimento profissional (“cobranças”). Segundo Carlotto (2008), as emoções deram início às primeiras pesquisas realizadas sobre burnout. Era necessário achar uma “forma” de lidar com elas. Serviram de instrumento para a pesquisa, aqueles profissionais que pela natureza do trabalho realizado, necessitavam manter contato direto, frequente e emocional com a sua clientela (trabalhadores da área da saúde, serviços sociais e educação). Notava-se nesses profissionais, grande estresse emocional e a presença de sintomas físicos. A preocupação com burnout, cresceu em função de três fatores, sendo o primeiro, as modificações que foram sendo introduzidas no conceito de saúde e o enfoque dado à melhoria da qualidade de vida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Como segundo fator, o aumento da demanda e exigências de uma população preocupada com os serviços sociais, educativos e de saúde. E, como terceiro fator, o trabalho de conscientização de pesquisadores, órgãos públicos e serviços clínicos com relação ao fenômeno, visando o aprofundamento dos estudos e a prevenção de sua sintomatologia. Caracteriza-se o burnout por três aspectos básicos, de acordo com conceituação de Maslach: Exaustão Emocional O contato frequente e intenso com pessoas, inclusive com aquelas que vivem situações de sofrimento, levam o indivíduo a ter uma carga emocional tão grande, que pode levá-lo a desenvolver uma exaustão emocional. 14 FREUDENBERG, H.J; RICHELSON, G. The high cost of hight achievement. New York: Ancher Press, 1980. 59 O desgaste profissional é tão grande que pode levar o indivíduo ao esgotamento, minando-lhe as energias a ponto de não ter como enfrentar o trabalho no dia seguinte. Sua impressão é que não terá como recuperar essas energias. Em função disso, os profissionais tanto no ambiente de trabalho como fora dele, terão atitudes pouco tolerantes, ficando facilmente irritáveis, “nervosos”, seja com amigos ou com familiares. Torna-se pouco generoso, aparentemente insensível e, quase sempre apresenta um comportamento rígido e adota rotinas inflexíveis, como uma forma de evitar qualquer tipo de envolvimento com clientes e colegas. Despersonalização Com o distanciamento emocional, se exacerba um certo grau de frieza, indiferença diante das necessidades dos outros, insensibilidade e postura desumanizada. O profissional que assume atitude desumanizada passa a não perceber os outros como pessoas semelhantes a ele, com sentimentos, impulsos, pensamentos e processos que ele também pode ter. O resultado é que em função do processo de desumanização, o profissional perde a capacidade de identificação e empatia com as pessoas que buscam neles algum tipo de ajuda, tratando-as como “coisas”, “objetos”. O contato com as pessoas será apenas tolerado, sendo a sua atitude em geral, de intolerância, irritabilidade, ansiedade. Redução da Realização Pessoal e Profissional Havendo deterioração da qualidade da atividade exercida, a realização pessoal e a profissional também ficam comprometidas. De acordo com Freudenberg o burnout surge naquelas áreas, em que as pessoas acreditam ser mais promissoras para suas realizações, nos profissionais que querem se destacar na comunidade, serem reconhecidos e terem uma situação econômica confortável. Mas pelo contrário, após algum tempo, o que desenvolvem são intensos sentimentos de decepção e frustração. Com o incremento da exaustão emocional e da despersonalização e todas suas consequências, aflora o sentimento de que falhas têm sido cometidas, com seus ideais, normas e conceitos. 60 O indivíduo percebe que não é mais a mesma pessoa, está mais fria e descuidada. Então, surge queda da autoestima, que poderá levar à depressão. “O burnout instala-se insidiosamente. É um estado que vai corroendo progressivamente a relação do sujeito com sua atividade profissional”, França & Rodrigues (2011, p. 55). Diferentemente do que foi observado anteriormente, hoje a síndrome de burnout já se estende a todos os profissionais que interagem de forma ativa com pessoas, que cuidam e/ou solucionam problemas de outras pessoas, que obedecem técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas a avaliações (médicos, professores, bombeiros, comerciários, atendentes públicos, telemarketing, assistentes sociais, etc.), segundo Ballone (2009). Ainda, segundo Ballone (2009), parece existir uma preponderância do transtorno em função da dupla jornada de trabalho – profissional e a tarefa familiar. Apesar do burnout ser o resultado do estresse emocional, de acordo com França & Rodrigues (2011), não se pode generalizar que as reações do estresse são os grandes vilões da história, pois como já comentado anteriormente, estão presentes em todos os momentos de nossa vida e não podemos viver sem elas, pois são extremamente importantes para os movimentos de adaptação de que necessitamos. A síndrome de burnout tem sido considerada um problema social de grande relevância e vem sendo investigada em diversos países, uma vez que se encontra vinculada a grandes custos organizacionais. Alguns destes custos devem-se a rotatividade de pessoal, absenteísmo, problemas de produtividade e qualidade e também por associar-se a vários tipos de disfunções pessoais, como o surgimento de graves problemas psicológicos e físicos podendo levar o trabalhador à incapacidade total para o trabalho, Carlotto (2008). Hoje, as leis brasileiras já reconhecem o burnout e amparam o trabalhador. O burnout vem sendo investigado em diversos países e considerado um problema social, relevante e digno de ser investigado, pois o seu desconhecimento leva a grandes custos organizacionais. No Brasil, o Decreto 6.957 de 9 de setembro de 2009, que trata dos Agentes Etiológicos ou Fatores de Risco de Natureza Ocupacional, contempla o Bournout em seu Item XII - Sensação de Estar Acabado ("Síndrome de Burn-Out", "Síndrome do Esgotamento Profissional") (Z73.0) , classificada junto aos “Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho” (Grupo V da CID 10). 61 Quadro Clínico da Síndrome de Burnout 1. Esgotamento emocional, com diminuição e perda de recursos emocionais. 2. Despersonalização ou desumanização, que consiste no desenvolvimento de atitudes negativas, de insensibilidade ou de cinismo para com outras pessoas no trabalho ou no serviço prestado. 3. Sintomas físicos de estresse, tais como cansaço e mal-estar geral. 4. Manifestações emocionais do tipo: falta de realização pessoal, tendências a avaliar o próprio trabalho de forma negativa, vivências de insuficiência profissional, sentimentos de vazio, esgotamento, fracasso, impotência, baixa autoestima. 5. É frequente irritabilidade, inquietude, dificuldade para a concentração, baixa tolerância à frustação, comportamentos paranóides e/ou agressivos para com os clientes, companheiros e para com a própria família. 6. Manifestações físicas: como qualquer tipo de estresse, a síndrome de burnout pode resultar em transtornos psicossomáticos. Esses, normalmente se referem à fadiga crônica, frequentes dores de cabeça, problemas com o sono, úlceras digestivas, hipertensão arterial, taquiarritimias, e outras desordens gastrointestinais, perda de peso, dores musculares e de coluna, alergias, etc. 7. Manifestações comportamentais: probabilidade de condutas aditivas e evitativas, consumo aumentado de café, álcool, fármacos e drogas ilegais, absenteísmo, baixo rendimento pessoal, distanciamento afetivo dos clientes e companheiros como forma de proteção do ego, aborrecimento constante, atitude cínica, impaciência e irritabilidade, sentimento de onipotência, desorientação, incapacidade de concentração, sentimentos depressivos, frequentes conflitos interpessoais no ambiente de trabalho e dentro da própria família. Então, entenda-se por saúde profissional (ocupacional), como o caminho percorrido até a saúde do trabalhador, intermediado pelo fator ambiente, entendido como sendo o local de trabalho. 62 As condições de trabalho proporcionadas pelo ambiente físico, e a maneira como o trabalho é organizado em termos de: 1) divisão, 2) conteúdo da tarefa, 3) sistema hierárquico, 4) relações de poder, 5) questões de responsabilidade, dentre outras, se devidamente supervisionadas pelo gestor, permitirão que as atividades de labor possam ser exercidas dentro de um clima salutar: Saúde do trabalhador é uma formação discursiva que se estrutura a partir de um conjunto de enunciados oriundos de diversas disciplinas, como: Medicina Social, Saúde Pública, Saúde Coletiva, Clínica Médica, Medicina do Trabalho, Sociologia, Epidemiologia Social, Engenharia, Psicologia, entre outras tantas, aliadas ao saber do trabalhador sobre seu ambiente de trabalho e de suas vivências das situações de desgaste e reprodução da força e trabalho, estabelecem uma nova forma de compreensão das relações entre saúde e trabalho e propõem uma nova prática de atenção à saúde dos trabalhadores e intervenções nos ambientes de trabalho, Nardi15apud Pereira Jorge (2004, p.23). 15 NARDI, H.C. Saúde, trabalho e discurso de médico: a relação médico-paciente e o conflito capital-trabalho. São Leopoldo: Unisinos, 1999. 63 QUADRO 1 - F40-F48 - Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o "stress" e transtornos somatoformes – CID 2010. CID Discriminação F40 Transtornos fóbico-ansiosos F40.0 Agorafobia 00 - Sem transtorno de pânico 01 - Com Transtorno de pânico F40.1 Fobias sociais F40.2 Fobias específicas (isoladas) F40.8 Outros transtornos fóbico-ansiosos F40.9 Transtorno fóbico-ansioso, não especificado F41 Outros transtornos ansiosos F41.0 Transtornos de pânico (ansiedade paroxística episódica) F41.1 Transtorno de ansiedade generalizada F41.2- Transtorno misto de ansiedade e depressão. F41.3 Outros transtornos de ansiedade mistos F41.8 Outros transtornos ansiosos especificados F41.9 Transtorno ansioso, não especificado F42 Transtorno obsessivo-compulsivo F42.0 Com predominância de idéias ou de ruminações obsessivas F42.1 Com predominância de comportamentos compulsivos (rituais obsessivos) F42.2 Forma mista com idéias obsessivas e comportamentos compulsivos F42.8 Outros transtornos obsessivo-compulsivos F42.9 Transtorno obsessivo-compulsivo, não especificado F43 Reação a estresse grave e transtornos da adaptação F43.0 Reação aguda ao estresse F43.1 Transtorno de estresse pós-traumático F43.2 Transtornos de adaptação .20 - Reação depressiva breve .21 - Reação depressiva prolongada .22 - Reação mista, depressiva ansiosa .23 - Com perturbação predominantemente de outras emoções .24 - Com perturbação predominantemente de conduta .25 - Com perturbação mista de emoções e conduta .28 - Com outros sintomas predominantes especificados F43.8 Outras reações ao estresse grave F43.9 Reação ao estresse grave, não especificada 64 F44 Transtornos dissociativos (conversivos) F44.0 Amnésia dissociativa F44.1 Fuga dissociativa F44.2 Estupor dissociativo F44.3 Transtornos de transe e possessão .80 - Síndrome de Ganser .81 - Transtorno de personalidade múltipla .88 - Outros transtornos dissociativos (conversivos), especificados F44.9 F45 Transtorno dissociativo (conversivo), não especificado Transtornos somatomorfos F45.0 Transtorno de somatização F45.1 Somatomorfo indiferenciado F45.2 Transtorno hipocondríaco F45.3 Disfunção autonômica somatomorfe .30 - Coração e sistema cardiovascular .31 - Trato gastrintestinal superior .32 - Trato gastrintestinal inferior .33 - Sistema Respiratório .34 - Sistema geniturinário .38 - Outro órgão ou sistema F45.4 Transtorno doloroso somatomorfo persistente F45.8 Outros transtornos somatomorfos F48.9 Transtorno neurótico, não especificado Obs: Dados e nomenclaturas fornecidos pelo Prof. Dr. Dorgival Caetano, tradutor para o Português do livro Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 da OMS, Editora Artes Médicas, 1993. (http://www.psiquiatriageral.com.br/cid/f40.htm) 65 6 METODOLOGIA Este estudo de caso permite uma maior familiaridade com o problema abordado – “Principais sintomas do estresse frente à realização da atividade profissional”. De acordo com Yin (2005), os estudos de caso são cada vez mais utilizados como ferramentas de pesquisa. Como estratégia de pesquisa, utiliza-se o estudo de caso em diversas situações como forma de contribuir com o conhecimento que temos, seja de fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos ou de grupos, e/ou outros fenômenos relacionados. Para este estudo de caso, a estratégia de pesquisa utilizada é a descritiva e exploratória, sendo que a obtenção de dados foi realizada mediante a aplicação de questionários estruturados, com um roteiro prévio de perguntas elaboradas a partir dos objetivos do estudo, observação e pesquisa bibliográfica. Na maioria dos casos, pesquisas desse tipo envolvem: a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; c) análise de exemplos que “estimulem a compreensão”, de acordo com Selltiz16 apud Gil (1991, p.45). O método de pesquisa é o quantitativo, que se apropria da análise estatística para o tratamento dos dados, de acordo com Figueiredo (2004) e a população-alvo escolhida pela autora para a busca de evidências empíricas, foi constituída por servidores de uma universidade pública. 16 SELLTIZ, C. et al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder, 1967. 66 7. ANÁLISE DOS DADOS De posse dos resultados obtidos, poderemos ter uma base das situações de estresse no trabalho que estão levando o servidor público a adoecer física e psiquicamente, assim como, detectar as principais doenças psicossomáticas adquiridas pela persistência dos sintomas. Isso nos permitirá fazer um esclarecimento aos servidores de uma maneira geral, e alertá-los para o fato de que o estresse pode ser sadio, mas que também, pode de alguma forma, em função dos sintomas nocivos, ter sérias consequências para o organismo como um todo. 7.1 Sobre a Obtenção dos Dados Participantes da pesquisa Foram investigadas 84 (oitenta e quatro) pessoas do sexo feminino e masculino (não optamos pela definição dos sexos por categoria (F/M)). A faixa etária dos participantes variou entre: 20 a 30 anos (2% - dois por cento); 31 a 40 anos (25% - vinte e cinco por cento); 41 a 50 anos (36% - trinta e seis por cento); 51 a 60 anos (29% - vinte e nove por cento); 61 a 70 anos (8% - oito por cento). Com relação ao estado civil, tivemos as seguintes porcentagens dentre os pesquisados: solteiros (17% - dezessete por cento); casados (70% - setenta por cento); outros (13% - treze por cento). Foi interessante por parte da autora, constatar, que o maior retorno das informações deu-se por parte do pessoal de nível superior (docentes), e não do nível médio, como até então imaginava que aconteceria. Responderam ao questionário 57(cinquenta e sete) docentes e 27(vinte e sete) técnico-administrativos. Desse contingente, 77% (setenta e sete por cento) possuía pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado); 11% (onze por cento) curso superior completo; 6% (seis por cento) curso superior incompleto e 6% (seis por cento) II grau completo. O presente estudo foi realizado em um Centro de Ciências Biológicas de uma universidade pública, abrangendo os servidores técnico-administrativos e docentes, no período de fevereiro a setembro de 2011. 67 7.2 Delineamento da Pesquisa Como foi citado nos objetivos, procurou-se, nesta pesquisa exploratória, levantar dados que pudessem apontar a existência de situações de estresse, as suas causas e os principais sintomas apresentados pelos servidores de uma universidade pública. Utilizou-se na pesquisa o levantamento de fontes secundárias: levantamento bibliográfico obtido através de literatura especializada; método de observação (indireta); entrevista e bate-papo informal. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário estruturado, elaborado com respostas de múltiplas alternativas e/ou não, o qual se encontra anexado ao final deste trabalho (apêndice B). Em razão dos questionários terem sido encaminhados via e-mail, para uma melhor compreensão do seu conteúdo, foi elaborada uma pequena introdução, sendo que, antes de cada questão, foi dada uma breve explicação sobre o que se desejava com a pergunta. 7.3 Coleta dos Dados Partindo-se da hipótese que norteia esta pesquisa, sobre os principais sintomas do estresse perceptíveis no ambiente de trabalho e que podem levar o servidor público a adquirir uma doença psicossomática, verificou-se a existência de evidências que nos permitem confirmar tal hipótese. Ainda que o grupo pesquisado afirme que esses sintomas acontecem ocasionalmente (não sabemos com que frequência), são detectados na grande maioria da população estudada. Procurou-se, num primeiro momento, obter por parte dos envolvidos a informação se os mesmos sabiam o que é estresse, e se já haviam ouvido falar em estresse ocupacional. De acordo com os dados obtidos comprovou-se que: 100% (cem por cento) da população pesquisada sabe o que é estresse, conforme demonstrado na figura 3(três). 68 FIGURA 3 – Porcentagem/número de pessoas que sabem o que é o estresse. Com relação ao estresse ocupacional, 98% (noventa e oito por cento) da população, têm conhecimento do que seja, conforme podemos observar na figura 4(quatro). FIGURA 4 – Porcentagem/número de pessoas que sabem o que é o estresse ocupacional. 69 Um dado de grande importância para o desenvolvimento do estudo foi a obtenção da informação frente ao fato de os servidores públicos, objeto desta pesquisa, considerarem-se ou não, pessoas estressadas. Um percentual de 65% (sessenta e cinco por cento) declarou serem pessoas estressadas ocasionalmente. Em resposta à questão de número 6(seis) que indagava se o estresse era devido a atividades de trabalho realizadas sob a influência de agentes estressores, 89% (oitenta e nove por cento) dos servidores responderam que sim, conforme ilustrado na figura 5(cinco). FIGURA 5 – Porcentagem/número de pessoas que realizam atividades de trabalho sob influência de estímulo estressor. Dos estressores apontados por Ballone (1999), como exemplos de situações mais comumente relacionadas ao estresse no trabalho e detalhados no item 5.3.1, através de pesquisa realizada em uma universidade pública, comprovou-se situação de estresse, quando da existência de: sobrecarga, alterações do sono e problemas de ergonomia. Esses dados encontram-se demonstrados no quadro 2(dois). 70 QUADRO 2 – Agentes estressores detectados em uma universidade pública e percentual de servidores públicos que realizam atividades de trabalho sob a influência de agente(s) estressor(es). Estímulo estressor Servidores públicos (%) Sobrecarga 95 Alterações do sono 65 Ergonomia 54 Falta de estímulos 40 Falta de perspectivas 32 Mudanças na empresa/instituição 31 Ruído 24 Mudanças devido a novas tecnologias 21 7.4 O Fator Político Atuando como Estímulo Estressor Este estudo também teve o intuito de fazer uma análise, visando-se tomar conhecimento quanto ao fato de a situação política do país ter contribuído ou não, como estímulo estressor na vida do servidor de uma universidade pública. Procurou-se a partir do Governo de Getúlio Vargas (1930/45), onde conquistas importantes foram obtidas pela massa trabalhadora, avaliar se os governos conseguiram desestabilizar emocionalmente o servidor público. Ficou comprovado, de acordo com manifestação de 62% (sessenta e dois por cento) da população pesquisada ao responder a questão de número 7(sete), que os diversos governos tiveram papel relevante para o desequilíbrio emocional (estresse) do trabalhador. Dentre as medidas tomadas que afetaram o servidor, foram apontadas: as leis trabalhistas do Governo Vargas; golpe militar e a reforma universitária; plano Bresser; plano Collor; falta de planos de carreira; congelamento dos salários; criação de gratificações sem a incorporação no salário-base; redução do quadro de funcionários; privatizações; falta de investimento na educação pública; corrupção, entre outras. Dentre os governos, o Governo FHC foi apontado como o que mais desestabilizou o servidor público, de acordo com as opiniões postadas. 71 7.5 Trabalho e Estresse De acordo com os dados obtidos, 81% (oitenta e um por cento) dos servidores, alvo desta pesquisa, já se sentiram em situação pessoal de estresse em função da atividade que desempenham no trabalho, como demonstra a figura 6(seis). FIGURA 6 – Porcentagem/número de pessoas que se estressam em decorrência do trabalho que exercem. Com relação ao estresse, a literatura especializada (Lipp, 2001; França & Rodrigues, 2011; Ballone, 2005; Boller, 2002, etc) aponta a existência de diversos sintomas, sendo muitos deles relatados pela população estudada. Apesar da maioria dos envolvidos admitirem sentir esses sintomas ocasionalmente (não sabemos com que frequência), para alguns dos sintomas vivenciados, esse índice é bastante expressivo se somados aos daquelas pessoas que os sentem frequentemente. Os sintomas, portanto, já sinalizam como um alerta, para que o equilíbrio da mente e corpo sejam restabelecidos, e é com base nessa confirmação que no quadro 3(três), 72 descrevemos as principais sintomatologias apresentadas pelos servidores, bem como a frequência com que são percebidas: QUADRO 3 - Principais sintomas do estresse apresentados pelos servidores de uma universidade pública. Incidência(%) SINTOMAS nunca Ocasionalmente Frequentemente Ansiedade 6 56 37 Tensão muscular 11 53 36 Fadiga física e mental 16 58 28 “Bruxismo” 59 17 24 Insônia 22 63 14 Lesões por esforços repetitivos (LER) 58 32 11 Problemas de estômago 41 49 9 Doenças de Pele (espinhas, acne, herpes labial, vitiligo, psoríase) 64 28 8 Problemas com a glândula Tireóide 85 7 8 Sistema Imunológico (baixa imunidade, herpes, por ex.) 36 59 5 Doenças cardiovasculares (hipertensão, arritmias, doenças coronárias 66 31 3 Tabagismo 91 7 3 Etilismo 92 8 0 73 O estresse é o representante emocional da ansiedade. A ansiedade interfere na atenção ou na realização de tarefas. Na questão 9(nove), perguntamos aos servidores se os mesmos se consideravam pessoas ansiosas. Um total de 71% (setenta e um por cento) deles, respondeu afirmativamente a essa questão, conforme ilustrado na figura 7(sete). FIGURA 7 – Porcentagem/número de pessoas que se consideram ansiosas. Em um estudo apresentado por Ballone (2008), o mesmo afirma que com relação à sintomatologia geral da ansiedade, de 18 (dezoito) sintomas listados, podem ser observados pelo menos 6 (seis). No quadro 4(quatro), se observarmos o índice de servidores que responderam o questionário afirmando apresentar a sintomatologia da ansiedade, ocasionalmente e/ou frequentemente, veremos que essa afirmação se comprova: 74 QUADRO 4 – Sintomatologias da Ansiedade detectadas em uma universidade pública Incidência dos Sintomas (%) SINTOMAS Nunca Ocasionalmente Frequentemente Tensão ou dor muscular 8 62 30* Impaciência 12 64 23* Dificuldade em conciliar e manter o sono 26 52 22* Inquietação 19 60 22* Fadiga fácil 40 42 18* Irritabilidade 18 65 18* Pouca concentração ou memória prejudicada 19 63 18* Falta de ar ou sensação de fôlego curto 66 25 10 Resposta exagerada à surpresa 44 49 8* Palpitações 60 33 7 Rubor ou calorias 63 32 6 Polaciúria 84 12 4 “Bolo” na garganta 64 33 3 Tremores ou sensação de fraqueza 68 29 3 Náuseas e diarréias 67 32 1 Vertigens e tonturas 69 30 1 Sudorese (mãos frias e úmidas) 64 30 1 (*) sintomas observados por Ballone (1999) Segundo França & Rodrigues (2011), cerca de 2(dois) a 4% (quatro por cento) da população mundial tem problemas de ansiedade, que exigiriam tratamento médico. Com relação a tratamento, nas últimas décadas a prescrição de tranquilizantes (remédios para ansiedade) tem se multiplicado; nos últimos três anos cresceu cerca de 65% (sessenta e cinco por cento). A presença do estresse no ambiente de trabalho, não é tarefa fácil de se avaliar. O estresse é um fenômeno complexo, com uma multiplicidade de conceitos que quando, colocados à prova, ainda demonstram fragilidade de toda ordem. A questão de número 11(onze) teve por finalidade obter dos servidores de uma universidade pública, a informação sobre o fato de passarem ou não por situação estressante 75 no seu trabalho. A grande maioria (76% - setenta e seis por cento) dos entrevistados respondeu que sim, conforme mostra a figura 8(oito). FIGURA 8 – Porcentagem/número de pessoas que vivenciam estresse no trabalho. Para aqueles cujas respostas foram afirmativas, apresentamos algumas medidas que poderiam estar contribuindo para evitar essa situação de estresse vivenciada (poderia ser assinalada mais do que uma alternativa). No quadro 5(cinco), podemos observar quais medidas foram mais significativas para o trabalhador: QUADRO 5 – Principais medidas a serem tomadas para evitar situação de estresse Medidas a Serem Tomadas Respostas (%) Estabelecer prioridades 98 Reconhecer as próprias limitações 97 Enfrentar os problemas na hora em que acontecem de forma racional 94 Procurar tornar o trabalho mais interessante 88 Buscar a ajuda de colegas, amigos ou familiares 80 Evitar situações que levem ao estresse 79 Manter-se ocupado(a) 72 76 8 RESULTADOS ALCANÇADOS Esta pesquisa permitiu constatar que embora a população estudada não assuma a situação de estresse frequentemente, a mesma está presente em algum período de suas vidas, podendo-se deduzir de acordo com definição de Seyle (1965) com relação à Síndrome Geral de Adaptação, que os servidores encontram-se na fase de alarme. Apesar do organismo desencadear várias reações, o mesmo ainda mantêm uma adaptação satisfatória aos sintomas (situação de Eustress). De acordo com França & Rodrigues (2011), apesar de algumas condições de trabalho serem geradoras de fatores estressantes e, no presente estudo, alguns desses estressores se fazerem presentes, um total de 95% (noventa e cinco por cento) dos servidores consideram que, ainda assim, o exercício da atividade profissional é motivo de satisfação pessoal, conforme ilustrado na figura 9(nove). FIGURA 9 – Porcentagem/número de pessoas que consideram o trabalho motivo de satisfação pessoal. 77 O estresse por eles apresentado, não prejudica a vida familiar e/ou profissional, segundo 68% (sessenta e oito por cento) dos entrevistados ao responder a questão de número 4(quatro). A pesquisa apontou um baixo índice de afastamento do servidor do trabalho, em virtude da situação de estresse (apenas 8% - oito por cento). Quanto à procura por ajuda médica em virtude dos sintomas do estresse apresentados, o índice é razoável (38% - trinta e oito por cento), tendo-se em vista que a grande maioria afirmou a presença dessa situação apenas ocasionalmente, ao responder a pergunta de número 13(treze) do questionário, como ilustrado na figura 10(dez). FIGURA 10 – Porcentagem/número de pessoas que necessitaram procurar ajuda médica em virtude dos sintomas do estresse. Os principais quadros clínicos relatados foram: hipertensão; pericardite; arritmias; taquicardia; dores no peito; falta de ar; cansaço; alteração da pressão; insônia; dificuldade de concentração; vertigens; dores musculares; tensão muscular; dores na coluna e articulações; herpes; dispnéia; doenças de pele; depressão; falta de equilíbrio orgânico (baixa resistência); problemas gastrointestinais (estômago); ansiedade; bruxismo; dor de cabeça; 78 fadiga; dores musculares sem explicação física; tristeza; desesperança; baixa auto-estima; perda de concentração e memória; nervosismo; impaciência; angústia; aumento do apetite; psoríase; sede excessiva (sintoma de diabete). Alguns dos sintomas, enquadram-se como doenças psicossomáticas, confirmando o que foi comprovado por Ballone (1999), de que o indivíduo estressado pode manifestar qualquer tipo de doença psicossomática. De acordo com França & Rodrigues (2011), a lista poderia ser mais extensa, mas nem sempre os pacientes relatam sintomas mentais. Dos participantes da pesquisa, 96% (noventa e seis por cento) afirmaram saber o que é doença psicossomática, e a lista daqueles que necessitaram procurar por ajuda médica em razão da sua manifestação, foi em torno de 17% (dezessete por cento), apresentando o seguinte quadro clínico: pânico; depressão; doenças cardíacas; diabetes; problemas de estômago; câncer, dentre outras doenças. Com relação à doença de “burnout”, 57% (cinquenta e sete por cento) dos servidores disseram ter conhecimento do que seja, conforme ilustra a figura 11(onze). FIGURA 11 – Porcentagem/número de pessoas que sabem o que é o “burnout”. Não nos aprofundamos na exploração dos sintomas percebidos pela população estudada, recomendando que o assunto possa ter continuidade em pesquisa futura. 79 9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES É fato que temos uma situação de estresse em uma universidade pública. Mesmo que os envolvidos assumam essa “presença” ocasionalmente, temos que pensar que os estímulos estressores aí residem, e que, se não, “extirpados”, podem fazer com que tenhamos um quadro não muito agradável com o decorrer do tempo. Temos no presente momento no país, um governo recém-eleito, ainda adequando-se às políticas externas e à crise mundial. Os servidores têm que estar preparados para a não concessão de aumento de salários, falta de contratações e a falta de novos investimentos nas universidades públicas. Esses fatores, certamente contribuirão para o aumento da pressão que já vinham sofrendo (sobrecarga, falta de estímulo, estresse proporcionado pela política, pressão da chefia e da sociedade para o cumprimento de prazos, etc.). Será que os gestores estão preparados para entender essa situação, e proporcionar ao servidor um mínimo de equilíbrio para o exercício da profissão? Algumas instituições já possuem programas de qualidade de vida voltados aos seus funcionários, no sentido de aliviar as tensões do dia-a-dia. Mas como motivar o servidor a usufruir desse benefício? São questões que precisariam ser revistas pelos responsáveis, tendo em vista que a autora já participou de atividades de Programa de Qualidade de Vida – PQV, tendo constatado que existe mais evasão do que a participação do servidor, em virtude de compromissos no serviço, ou mesmo obrigações familiares, não os deixarem relaxar. O lazer não é a cura, deve ser a prevenção. O estresse é um inimigo silencioso e perigoso, e nem sempre tem a atenção que deveria, seja por parte da chefia e/ou do trabalhador. Que, em função dos dados levantados, possam os dirigentes ter um olhar mais aguçado e postura interventiva, quando o assunto for estresse, uma vez que os sintomas relatados são expressivos, levando-se em consideração o estudo ter sido realizado apenas com uma pequena população de servidores. Em uma entrevista informal, com um profissional do Serviço Médico da Universidade, constatou-se a inexistência de registros e/ou levantamentos que pudessem comprovar o número de servidores afastados devido aos sintomas do estresse e/ou à doença psicossomática. O servidor afirma que pelo conhecimento do assunto em pauta, sabe que o número é grande, mas não se tem como precisar. Esses dados, se levantados e computados, poderiam ser de primordial importância para a direção de qualquer instituição, pois permitiriam o acompanhamento e tratamento do trabalhador, logo no início do aparecimento 80 de doenças e situações de estresse, sendo que essas medidas certamente reduziriam o número de afastamentos e situações de constrangimento vividas pelo servidor. Em razão de situação de estresse vivenciada e pela observação de colegas que passam por essa situação na realização de tarefas diárias, a autora, a exemplo de Pereira Jorge (2004), recomenda: - a formação de equipes que possam estar fazendo um trabalho de conscientização e passando informações sobre saúde do trabalhador; - tratar da valorização do servidor (enquanto ser humano), promovendo palestras abordando diversos assuntos; - motivar o trabalhador, promovendo eventos que contribuam para isso; - treinar funcionários do setor de saúde para atendimento específico de queixas relacionadas ao estresse. Deixa aqui também, a sugestão da continuidade deste estudo, abordando a doença de burnout; a pesquisa junto a funcionários de outros setores; a criação de uma cartilha a ser divulgada para os servidores. 81 10 REFERÊNCIAS ALMEIDA, P.R. A indiscutível leveza do neoliberalismo no Brasil: uma avaliação econômica e política da era neoliberal. Revista Espaço Acadêmico, Ano I, nº 10, p. 1-8, março/2002. Disponível em: < http://www.espacoacademico.com.br/010/10almeida.htm>. Acesseo em 10/08/2011. ANTUNES, R.L.C. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2009. 287 p. BALASSIANO, M; TAVARES, E.; PIMENTA, R.C. Estresse ocupacional na administração pública brasileira: quais os fatores impactantes. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro 45(3): 751-74, maio/jun2011. BALLONE, G.J. Curso de psicopatologia: stress. <http://www.psique.med.br, acesso em 22 out. 2002. BALLONE, G.J. Estresse. 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São Paulo: Ibrasa, 1965. 354p. 84 APÊNDICE A 85 DEPOIMENTO PESSOAL O Estresse que eu “Vivi” Até então, o que pessoalmente sentira como estresse, era o cansaço do diaa-dia pelo ritmo desenfreado das atividades realizadas, da responsabilidade diante das tarefas não inerentes ao seu cargo, da falta de férias, do acúmulo de trabalhos no lar, etc.; mas nada como um final de semana ou um feriado prolongado para se repor as energias. Até que um dia (um certo dia), lá estava ela envolta com “milhões” de atividades, cuja realização já estava programada em sua cabeça (dentro de uma sequência lógica, é claro), as quais a seu ver, deveriam ser realizadas por pelo menos mais uma pessoa, tendo-se em vista o volume e a complexidade de algumas das tarefas a serem desenvolvidas. Nesse ínterim, adentrou ao seu local de trabalho, a Chefe Responsável pelo Setor, comunicando a necessidade da realização de uma atividade que deveria sobrepor-se às demais, inclusive com descumprimento de normas e prazos estipulados. Ao ser interpelada, a autora tentou argumentar sobre as consequências relativas ao descumprimento dos prazos, que afetariam não somente o setor em que trabalha, mas aqueles em que o documento a ser expedido deveria ser aprovado, bem como as implicações com inscrições a serem realizadas, lançamento em bancos de dados, reserva de sala, etc., tudo dentro de um período de tempo demasiado curto, não sendo esse o procedimento correto. A Chefia responsável, pelo que lhe pareceu, não gostou de ser contrariada, dizendo ser essa uma atividade importante e que não seria uma questão de trâmites que impediriam a sua realização. Nesse momento, alguns integrantes da Coordenação diretamente ligados à Chefia, que chegavam para uma reunião, juntaram-se à mesma fazendo “coro”: - um dizendo que certas burocracias deveriam ser contornadas - contanto que fossemos nós, reles funcionários, os responsáveis por elas - outros se omitindo, mas em síntese concordando com a responsável hierárquica. Argumentou então a autora, que enquanto funcionária do setor, sentia ser inviável trabalhar nessas condições: com sobrecarga de trabalho, sem critérios e/ou regras, descumprindo prazos, sem férias, o que já estava começando a afetá-la fisicamente. Até um: – “Se alguém está doente é bom então se tratar”, ouviu ser dito com um certo sarcasmo. Naquele momento, ao olhar para aquelas pessoas percebeu com angústia (pode levar à depressão), o quanto os servidores (nível médio e apoio) ainda são desrespeitados; 86 como aqueles que detêm o poder, podem sem perceber, destruir em poucos segundos relações de anos de amizade; e que tanta dedicação, tanto comprometimento (que “sugam”, anos de suas vidas), muitas vezes tornam-se vãos. Já na sala para onde se retirara, percebeu que o seu corpo todo tremia, além de ter as mãos frias e trêmulas e os olhos marejados. Os companheiros de trabalho preocupados, não sabiam o que fazer para ajudá-la. Aguardou a saída da Chefe do setor e do pessoal que a acompanhava. Não se sentia bem. Informou aos seus colegas que procuraria por atendimento médico. Dirigiu-se a um “Hospital 24 horas”, e ao ser atendida teve uma crise involuntária de choro, estando sua pressão arterial em 22/11. Ela sabia o diagnóstico: ERA UMA CRISE DE ESTRESSE. Apesar de gostar do serviço que realiza, naquele momento desejou não mais retornar ao trabalho e rever aquelas pessoas. Esse sentimento de distanciamento e frieza, se não tivesse sido debelado com certeza, poderia ter iniciado um processo futuro de burnout. Por orientação médica, marcou alguns dias de férias dos que tinha em haver, sem importar-se com a demanda de tarefas a serem cumpridas posteriormente no trabalho. Uma coisa ficou-lhe bem clara: que todos nós temos o comando de nossas vidas em nossas mãos, e controlar as emoções deve ser uma atividade para ser exercitada em tempo integral. As suas crenças pessoais e espirituais, o apoio familiar e a compreensão dos amigos, ajudaram-na a superar a situação de DISTRESS. A pesquisa realizada foi de grande importância para saber quais os caminhos a seguir e como portar-se diante da situação enfrentada, não deixando que um sentimento de raiva mais intensivo pudesse instalar-se em seu organismo, prejudicando-lhe o controle acertado das emoções. De acordo com Cabral et al. (1997), de todas as emoções, a raiva é o sentimento que temos maior dificuldade em controlar. É a mais sedutora das emoções negativas e energiza e até mesmo exalta. Pode ser controlada, desde que evitemos “ruminações” e procuremos ver e tratar as coisas pelo lado positivo. Essa primeira “reação de alarme” vivenciada pela autora, ajudou-a a pensar e “tentar” encarar a vida com mais leveza - trabalhar sim, escravizar-se não... Finais de semana foram feitos para relaxar, férias existem para nos permitir descansar, e o trabalho - “se for necessário um afastamento e houver alguma atividade 87 importante a ser feita, alguém certamente se incumbirá de realizá-la, pois como dizem: ‘Ninguém é Insubstituível’ – No Stress” (a autora, 2011). 88 APÊNDICE B 89 São Carlos, 02 de agosto de 2011. Prezado(a) Servidor(a) Meu nome é Roseli A. Gonçalves e sou funcionária desta UFSCar, lotada no Programa de PósGraduação em Ecologia e Recursos Naturais – PPGERN. No momento, estou concluindo o curso de Pós-Graduação Lato sensu em Gestão Pública, oferecido pela Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas - ProGPe aos Servidores da UFSCar. Necessito contar com a sua colaboração para o desenvolvimento da parte prática/experimental da pesquisa por mim iniciada (referente ao trabalho de Monografia exigido para o curso), respondendo às perguntas do questionário em anexo, cujo sigilo sobre o responsável pelos dados fornecidos será devidamente mantido. O trabalho de monografia intitulado “Estresse Profissional: Estudo de Caso sobre os Principais Sintomas Apresentados pelos Servidores de uma Universidade Pública” foi a forma que eu encontrei para contribuir com os servidores públicos, numa tentativa de conscientizá-los sobre as diversas formas de manifestação do estresse: como identificá-lo, como adaptar-se a ele nas situações que ocorrem no seu meio ambiente, formas de enfrentamento, etc. Para melhor avaliarmos como anda a saúde do Servidor, as questões deverão ser respondidas com a maior fidelidade possível. Mediante o exposto, conto com o pronto retorno dos dados solicitados, para que possamos dar sequência à tabulação dos mesmos, e finalizar a pesquisa que futuramente estará à disposição (Monografia), junto à ProGPe da UFSCar. Atenciosamente, Roseli A. Gonçalves Assistente Administrativo PPGERN Prazo para Devolução: 09/09/2011 (enviar uma única vez) NÃO DEIXAR QUESTÕES SEM ASSINALAR (Obs.: Caso não consiga visualizar o formulário, favor preenchê-lo pelo endereço online indicado, sem perigo de vírus) 90 QUESTIONÁRIO AVALIATIVO – PARTE PRÁTICA DA MONOGRAFIA DO CURSO DE GESTÃO PÚBLICA – EAD – UFSCar 1. VOCÊ SABE O QUE É ESTRESSE ( ) SIM ( ) NÃO 2. VOCÊ SABE O QUE É ESTRESSE OCUPACIONAL? ( ) SIM ( ) NÃO 3. VOCÊ SE CONSIDERA UMA PESSOA ESTRESSADA? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) OCASIONALMENTE 4. O ESTRESSE TEM PREJUDICADO A SUA VIDA FAMILIAR E/OU PROFISSIONAL? ( ) SIM ( ) NÃO 5. PARA VOCÊ O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE PROFISSIONAL É MOTIVO DE SATISFAÇÃO PESSOAL? ( ) SIM ( ) NÃO 6. COM RELAÇÃO AO SEU TRABALHO, VOCÊ JÁ CHEGOU A REALIZAR AS ATIVIDADES DIÁRIAS SOB A INFLUÊNCIA DE ALGUM(S) ESTÍMULO(S) ESTRESSOR(ES) Obs.: (em caso afirmativo responder Sim e assinalar as alternativas abaixo concordando ou discordando) ( ) SIM ( ) NÃO 6.1. Sobrecarga de Trabalho (urgência de tempo, responsabilidade excessiva, falta de apoio, etc.) ( ) SIM ( ) NÃO 6.2. Falta de estímulos (tarefas repetitivas ou rotineiras, por exemplo) ( ) SIM ( ) NÃO 6.3. Exposição a Ruídos Excessivos ( ) SIM ( ) NÃO 91 6.4. Alterações do Sono (devido a horários prolongados de trabalho, ritmo das atividades sociais, etc) ( ) SIM ( ) NÃO 6.5. Falta de Perspectivas (ascensão no cargo, melhoria de salário, etc) ( ) SIM ( ) NÃO 6.6. Mudança de Chefia ( ) SIM ( ) NÃO 6.7. Adaptação a Novas Tecnologias ( ) SIM ( ) NÃO 6.8. Ergonomia (falta de conforto térmico, problemas de acústica, mobiliário impróprio, etc.) ( ) SIM ( ) NÃO No caso de algum estímulo estressor não listado, mais significativo para você, especificar 7. OS GOVERNOS TOMAM DECISÕES QUE MUITAS VEZES INFLUENCIAM NOSSA VIDA PROFISSIONAL. VOCÊ CONSIDERA QUE EM GOVERNOS ANTERIORES FORAM TOMADAS MEDIDAS QUE INFLUENCIARAM NEGATIVAMENTE A SUA VIDA PROFISSIONAL? (Obs.: em caso afirmativo, assinale nas alternativas abaixo qual(is) Governo(s), e descreva ao final, qual(is) a(s) medida(s): ( ) SIM ( ) NÃO 7.1. Governo Vargas (1930/45) ( ) SIM ( ) NÃO 7.2. Governo Juscelino Kubitschek – JK (1956/60) ( ) SIM ( ) NÃO 7.3. Governo da Reforma Militar (1967) ( ) SIM ( ) NÃO 7.4. Governo José Sarney (1998) ( ) SIM ( ) NÃO 92 7.5. Governo Color de Melo (1990) ( ) SIM ( ) NÃO 7.6. Governo Fernando Henrique Cardoso (1995/2002) ( ) SIM ( ) NÃO 7.7. Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2010) ( ) SIM ( ) NÃO Qual(is) medida(s) tomada(s) referente(s) ao(s) Governo(s) assinalado(s) ______________________________________________________________________ 8. COM RELAÇÃO À ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DE TRABALHO, VOCÊ JÁ SE SENTIU EM SITUAÇÃO PESSOAL DE ESTRESSE EM FUNÇÃO DA ATIVIDADE QUE DESEMPENHA? (Obs.: em caso afirmativo, assinalar nas alternativas abaixo quais dos sintomas de estresse já sentiu) ( ) SIM ( ) NÃO 8.1. Ansiedade ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.2. Sistema Imunológico (baixa imunidade, herpes, por exemplo) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.3. Insônia ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.4. Problemas de Estômago ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 93 8.5. Etilismo (uso de álcool para alívio da fadiga, ansiedade e tensão) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.6. Tabagismo (uso de cigarro para alívio da tensão) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.7. Problemas com a Glândula tireóide (hiper ou hiptirodismo) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.8. “Bruxismo” (ranger dos dentes) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.9. Doenças de Pele (espinhas, acne, herpes labial, vitiligo psoríase, etc.) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 8.10. Doenças Cardiovasculares (hipertensão, arritimias doenças coronárias, infarto) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9. A ANSIEDADE É UM DOS SINTOMAS DO ESTRESSE MAIS COMUMENTE APRESENTADO, INTERFERINDO NA ATENÇÃO OU NA REALIZAÇÃO DE TAREFAS, VOCÊ SE CONSIDERA UMA PESSOA ANSIOSA? (Obs.: em caso afirmativo, assinalar com que frequência apresenta as sintomatologias da ansiedade nas alternativas abaixo): ( ) SIM ( ) NÃO 9.1. Tremores ou Sensações de Fraqueza ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.2. Tensão ou Dor Muscular ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.3. Inquietação ( ) NUNCA 94 ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.4. Fadiga Fácil ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.5. Falta de Ar ou Sensação de Fôlego Curto ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.6. Palpitações ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.7. Sudorese, Mãos Frias e Úmidas ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.8. Vertigens e Tonturas ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.9. Náuseas e Diarréias ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.10. Rubor ou Calorias ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.11. Polaciúria (urinar com frequência mas em pequenas quantidades) ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.12. “Bolo” na Garganta ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 95 9.13. Impaciência ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.14. Resposta Exagerada à Surpresa ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.15. Pouca Concentração ou Memória Prejudicada ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.16. Dificuldade em Conciliar e Manter o Sono ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 9.17. Irritabilidade ( ) NUNCA ( ) OCASIONALMENTE ( ) FREQUENTEMENTE 10. VOCÊ TEM CONHECIMENTO DO QUE SEJA A DOENCA DE “BOURNOUT”? ( ) SIM ( ) NÃO 11. VOCÊ CONSIDERA QUE PASSA POR SITUAÇÃO ESTRESSANTE NO SEU TRABALHO? (Obs.: Em caso afirmativo, indique qual(is) da(s) alternativa(s) abaixo você adotaria e qual(is) não adotaria para evitar essa situação) ( ) SIM ( ) NÃO 11.1. Tentando Evitar Situações que Levem ao Estresse ( ) SIM ( ) NÃO 11.2. Reconhecendo as Próprias Limitações ( ) SIM ( ) NÃO 11.3. Buscando a Ajuda de Colegas, Amigos ou Familiares ( ) SIM ( ) NÃO 96 11.4. Enfrentando os Problemas na Hora em que Acontecem de Forma Racional ( ) SIM ( ) NÃO 11.5. Procurando Tornar o Trabalho mais Interessante ( ) SIM ( ) NÃO 11.6. Estabelecendo Prioridades ( ) SIM ( ) NÃO 11.7. Mantendo-se Ocupado(a) ( ) SIM ( ) NÃO 12. O ESTRESSE JÁ LEVOU VOCÊ A SE AFASTAR DO TRABALHO? ( ) SIM ( ) NÃO 13. VOCÊ JÁ NECESSITOU PROCURAR AJUDA MÉDICA DEVIDO A ALGUM SINTOMA DO ESTRESSE? ( ) SIM ( ) NÃO Quais Sintomas? _____________________________________________________ 14. VOCÊ SABE O QUE É DOENÇA PSICOSSOMÁTICA? ( ) SIM ( ) NÃO 15. VOCÊ JÁ NECESSITOU PROCURAR AJUDA MÉDICA EM RAZÃO DE ALGUMA DOENÇA PSICOSSOMÁTICA? ( ) SIM ( ) NÃO Quais Doenças? ______________________________________________________ 97 16. DADOS PESSOAIS (não serão de maneira alguma nominalmente divulgados) CARGO: DEPARTAMENTO/SETOR: TEMPO DE IES: FAIXA ETÁRIA: 20 – 30 anos ( ) 31 – 40 anos ( ) 41 – 50 anos ( ) 51 – 60 anos ( ) 61 – 70 anos ( ) 71 anos ou mais ( ) ESTADO CIVIL: Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) Outros ( ) ESCOLARIDADE: I Grau Completo ( ) II Grau Completo ( ) Superior Incompleto ( ) Superior Completo ( ) Pós-Graduação (Mestrado, Doutorado) ( )