AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MÉRTOLA ESCOLA EB 2,3/ES DE SÃO SEBASTIÃO ANO LETIVO 2012-2013 CURSO PROFISSIONAL DE TÉCCNICO DE APOIO PSICOSSOCIAL – 11º B Disciplina: Psicopatologia Geral Módulo 5 – Semiologia Psíquica DEPRESSÃO “Não sou já mais do que uma sombra… já não sinto nada… tudo está longe e muito afastado… como se houvesse uma névoa.” 1. Distinção entre tristeza e depressão O transtorno depressivo diferencia-se do humor "triste", que afecta a maioria das pessoas regulamente. Nas conversas do dia-a-dia confunde-se muitas vezes tristeza e depressão. Algumas pessoas, por exemplo, assumem-se como deprimidas quando, na verdade, estão tristes e, noutros casos, rotula-se alguém como uma pessoa triste quando, na prática, aquela pessoa está doente. Essa é a principal diferença entre tristeza e depressão: uma é uma emoção, comum a todos os seres humanos, presente nalgumas fases da nossa vida e perfeitamente ajustada a determinadas circunstâncias; a outra é uma perturbação emocional, que pode implicar uma tristeza intensa e recorrente, dentre outros sintomas (físicos e emocionais). Em função da perda física de alguém, de uma situação de desemprego ou até das saudades de quem está longe, é natural e adaptativo sentirmo-nos tristes. Não há por que ter medo desta emoção nem é saudável reprimi-la. Na medida em que formos capazes de exteriorizar a nossa tristeza, sentir-nos-emos provavelmente mais aliviados e até amparados, desde que o façamos junto de alguém da nossa confiança. Dessa exteriorização resulta ainda a possibilidade de ouvirmos e interiorizarmos a mensagem de que “É normal” e de que “Vai passar”. E passa. Sempre. De resto, essa é outra grande diferença entre tristeza e depressão – a tristeza é situacional, transitória e desaparece na medida em que formos capazes de resolver os nossos problemas e de centrar a nossa atenção noutras áreas da vida. Mas a depressão é uma doença que teima em manifestar-se de forma contínua, transformando-se quase sempre numa perturbação incapacitante, que nos impede de dedicar energia às mais diversas áreas da vida. 1 A tristeza é uma emoção desagradável desencadeada por uma situação de perda. É, portanto, uma reacção normal que, tal como a alegria, dá colorido ao modo como as situações são experimentadas. A variação entre tristeza e depressão depende de factores cognitivos, como a avaliação que a pessoa faz da gravidade da situação, e dos seus recursos para lidar com ela. Por outro lado, a personalidade influi no modo como as pessoas reagem às perdas: umas irritam-se, ficam ansiosas ou tensas, outras apáticas e alheadas como se desistissem, ou susceptíveis e agressivas, outras ainda passivas, dependentes ou apelativas. A tristeza surge como uma forma básica de perturbação e é no cruzamento de fatores bio-psico-socioculturais que deve ser compreendida. Enquanto a alegria é efémera e se dissipa depressa, a tristeza pode estruturar-se na personalidade e perdurar muito para além da duração do acontecimento que a desencadeia ou da gravidade do mesmo, dando origem a um quadro clínico de depressão. «Depressão é um termo muito comentado nos últimos anos. De uma hora para a outra, esta palavra caiu no agrado popular e passou a ser usada para classificar toda e qualquer pessoa que enfrenta um momento de tristeza. Há, entretanto, grandes diferenças entre tristeza e depressão, pois enquanto a primeira é sinal de saúde, a segunda é sinônimo de doença. Com o avanço dos remédios anti-depressivos, a tristeza tornou-se um sentimento evitável e a cada dia cresce o número de pessoas que procuram tomar medicação para superar os momentos difíceis da vida. O ideal, entretanto, não é fazer a tristeza desaparecer com o uso de remédios. Isto porque, a tristeza não é uma doença e, sim, uma reação normal frente a uma situação de perda, decepção ou frustração. Vivenciar a tristeza permite que o indivíduo elabore suas perdas e se reorganize internamente, podendo superar a fase de dificuldade de maneira saudável. A depressão, por outro lado, é um distúrbio cujas características vão muito além da tristeza. O indivíduo deprimido sente-se infeliz na maior parte do tempo, mesmo sem causa aparente. A pessoa perde a capacidade de apreciar situações que antes lhe traziam prazer, deixa de conviver com amigos e familiares, apresenta perda de concentração, pode ter ganho excessivo de peso, pode sentir dores pelo corpo e mostrar-se mais ansioso ou irritado do que o normal. Por todas estas características, a depressão é uma doença altamente incapacitante e que requer auxílio profissional para ser controlada. A análise do funcionamento cerebral revela que a depressão envolve uma alteração do funcionamento neuropsíquico do cérebro, havendo um desequilíbrio dos neurotransmissores que regulam o humor. As causas deste mal não são bem conhecidas e acredita-se que fatores genéticos e ambientais (perdas e eventos estressantes) influenciem o desencadeamento do problema. Assim, o tratamento da depressão requer uma combinação de terapias medicamentosas e psicológicas, e ao suspeitar do 2 problema, recomenda-se que o indivíduo procure imediatamente um psiquiatra ou psicólogo para diagnosticar o quadro. Como se nota, tristeza e depressão não são sinônimos. Por mais que o sentimento de tristeza seja penoso, ele é necessário para a superação das dificuldades. O mesmo não se pode dizer da depressão que, caso não seja tratada, pode comprometer toda a saúde física e mental do indivíduo. Por: Flávia Leão Fernandes CRP 06/68043 Psicóloga clínica, Mestre em Psicologia pela Universidade de Londres, Inglaterra e especialista em Psicologia Hospitalar com enfoque em obesidade. 2. A depressão 2.1 Definição A depressão é um transtorno psiquiátrico que pode afectar pessoas de todas as idades. A depressão caracteriza-se por ser um estado duradouro (a maior parte do dia, quase todos os dias, pelo menos 2 semanas), de grande intensidade ou mesmo por uma tristeza de qualidade diferente da tristeza habitual, acompanhada de vários sintomas específicos que prejudicam e transtornam a vida das pessoas. Estima-se que cerca de 15 a 20% da população mundial, em algum momento da vida, sofreu de depressão. A depressão é mais comum em pessoas com idade entre 24 e 44 anos, mas pode ocorrer em crianças e adolescentes como consequência da separação dos pais, problemas na escola, sexualidade, rejeição e principalmente bullying. A prevalência, por ano, para a depressão, é de 0,4 a 3% em crianças e de 3,3 a 12,4% em adolescentes. Estima-se que o risco de desenvolver depressão, ao longo da vida, seja de 10% para os homens e de 20% para as mulheres. É mais frequente em países frios. Quando alguém parte do pressuposto que um familiar ou amigo está apenas triste e procura incentivá-lo com comentários do tipo “Olha à tua volta, tens uma família fantástica, um emprego extraordinário…” ignora que pode estar a fazer mais mal do que bem. Porquê? Porque a depressão é uma doença que pode implicar o desinteresse por tudo aquilo que antes era gerador de alegria e entusiasmo. Porque, por muito que o paciente que está deprimido se esforce, a força de vontade não é suficiente para dar a volta à situação. 3 De resto, para quem está de fora e nunca lidou com esta perturbação pode ser muito angustiante – irritante até! – perceber que a pessoa deprimida não tem vontade de fazer nada, não sai de casa e/ou passa o dia a dormir. Esta anedonia (ausência da capacidade para sentir prazer) é uma das características da doença que mais frequentemente se manifesta. Como a depressão se pode manifestar de forma diferente de pessoa para pessoa (e, nalguns casos, até nem é a tristeza que é particularmente visível), pode ser difícil, para quem está à volta, reconhecer a presença da doença. Mas como é uma perturbação que se estende no tempo, dominando o dia-a-dia de quem dela padece, é quase sempre identificável pela própria pessoa que, mesmo que não lhe atribua um nome, sabe que algo não está bem. 2.2 Sintomas Há vários sintomas que podem acompanhar um doente com depressão: Sintomas cognitivos Tristeza, melancolia Ausência de prazer e de alegria Sentimento de insensibilidade (não conseguir despertar em si próprio sentimentos) Sentimento de vazio ou de petrificação Pesado fardo, prostração vital, desalento Desânimo, perda de esperança, pessimismo, desespero Sentimento de culpa Medo Sentimento de autodesvalorização e de insignificância Desejos de suicídio (ideação suicida) Irritabilidade constante Diminuição do interesse pelas atividades do dia-a-dia Alterações de peso e/ou do apetite (perda do apetite, podendo ocorrer também aumento do apetite) Alterações do sono (mais frequentemente insónia, podendo ocorrer também hipersonolência) Agitação ou, pelo contrário, lentificação Fadiga/ falta de energia física Redução do interesse sexual Sensação de inadequação Dificuldades de concentração 4 Hipocondria: há o temor, a intuição ou a suspeita de estar doente. O indivíduo observa com redobrada atenção tudo o que acontece ao seu próprio corpo, sobrevalorizandoo. Pensamento: as ideias giram constantemente em torno dos mesmos assuntos, matuta, “cisma”, tem ideias compulsivas, ausência ou pobreza de ideias, incapacidade para pensar, inibição do pensamento, incapacidade para se decidir e falta de decisões, incapacidade volitiva. Despersonalização: há um sentimento de afastamento de si próprio, de surgir perante si próprio como estranho, não familiar, como uma sombra, sem vida, irreal. Um “eu observador” assiste, vivenciando a transformação, quase sempre sem se perguntar como ela ocorreu. Retraimento social (isolamento social) Chorar mais e com mais frequência Comportamento autodestrutivo (automutilação). Prejuízo funcional significativo (como faltar muito ao trabalho ou piorar o desempenho escolar). Delírios: Os delírios depressivos incluem um sentimento excessivo e angustiante de culpa, de punição merecida, delírios de ruína (incluindo a sensação de estar a apodrecer, a desintegrar-se ou a ser esmagado) e delírios niilistas (que podem configurar a síndrome de Cotard, quando incluem negação de órgãos). As alucinações congruentes com humor depressivo podem ser por exemplo de pessoas, espíritos ou vozes que condenam o paciente, ameaças de demónios ou choro de defuntos. NOTA: A síndrome de Cotard, também chamada de "delírio de negação", "delírio de negação de órgãos", é uma condição médica na qual a pessoa apresenta a crença delirante de estar morto ou de que seus órgãos estejam paralisados ou podres, ou ainda de que amigos, familiares, o mundo à sua volta já não existem ou estão em via de já não existir, independentemente do diagnóstico do paciente. Foi descrita pela primeira vez em 1880 pelo psiquiatra francês Jules Cotard na sua obra Du délire hypochondriaque dans une forme grave de la mélancolie auxieuse (Do delírio hipocondríaco sob uma forma grave de melancolia ansiosa), a partir do caso de uma mulher de 43 anos que se dizia sem cérebro, "sem cérebro, nervos, tórax ou entranhas e era só pele e ossos, nem Deus nem o Diabo existiam - ela era eterna e viveria para sempre". 5 Embora o sintoma central da síndrome seja o delírio de conteúdo niilista, ela pode apresentarse com diferentes graus de gravidade, variando de formas leves onde pacientes expressam sentimentos de desespero, até chegar a formas mais graves quando os doentes negam a própria existência e/ou a existência do próprio mundo. A crença, delirante, de já estar morto, ter apodrecido, ou estar apodrecendo, anuncia um conteúdo depressivo do pensamento, estando desde a sua descrição clássica mais relacionada com quadros melancólicos, ou modernamente, com quadros de transtorno de humor unipolar - depressões graves com sintomas psicóticos. Entretanto, como todos os sintomas em psiquiatria, não há sintoma característico apenas de uma doença, podendo também o fenómeno de Cotard ser descrito em esquizofenias, em psicoses devido ao uso de drogas, etc. Os pacientes costumam aludir ao sentimento de que tudo lhes parece fútil, ou sem real importância. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir alegria ou prazer na vida. Tudo lhes parece vazio e sem graça, o mundo é visto "sem cores", sem matizes de alegria. Em crianças e adolescentes, sobretudo, o humor pode ser irritável, ou "rabugento", ao invés de triste. Certos pacientes mostram-se antes "apáticos" do que tristes, referindo-se muitas vezes ao "sentimento da falta de sentimentos". Constatam, por exemplo, já não se emocionarem com a chegada dos netos, ou com o sofrimento de um ente querido, e assim por diante. Se sofre com alguns dos sintomas descritos acima, peça ajuda. Ao contrário da tristeza, a depressão não desaparece sem intervenção clínica. É uma doença que precisa de tratamento. 2.3 Causas As causas da depressão são inúmeras e controversas. Acredita-se que a genética, alimentação, stress, estilo de vida, separação dos pais, rejeição, problemas na escola e outros fatores estão relacionados com o surgimento ou agravamento da doença. Sabe-se hoje que a depressão é associada a um desequilíbrio de certas substâncias químicas no cérebro e os principais medicamentos antidepressivos têm como função principal agir no restabelecimento dos níveis normais destas substâncias, principalmente a serotonina. 6 2.3.1 Fatores psicossociais As pessoas que já experimentaram períodos de depressão relatam um acontecimento stressante como o fator que desencadeia a doença. A perda recente de uma pessoa amada é o fato mais citado, mas todas as grandes perdas (e mesmo as pequenas) causam um certo pesar. Também a falta de amigos, que pode ocorrer devido a vários factores, desde a rejeição, até à falta de interesses em comum, leva à solidão indesejada e é um factor de risco que frequentemente leva à depressão, principalmente durante a adolescência. Acontecimentos traumáticos, como a perda súbita de um ente querido, ou mesmo eventuais mudanças de cidade, podem causar uma depressão profunda, sendo necessário um longo período de recuperação. A maioria das pessoas supera este estado sem se tornar cronicamente deprimida. Alguns fatores genéticos ou biológicos podem explicar a maior vulnerabilidade de certas pessoas. A existência ou a ausência de uma forte rede social ou familiar também influenciam – positiva ou negativamente – na recuperação. Algumas pessoas podem sofrer com a doença pelo fato de trocar de uma cidade muito boa, para uma pior e que não oferece nada em troca. É um grande fator de risco, por exemplo, uma pessoa que tem vários amigos ir para outra cidade que não tenha ninguém. As pessoas afetadas criam um bloqueio de aceitação. Desse modo acabam por perder o interesse pelas atividades comuns do dia-a-dia e com o passar do tempo o desânimo aumenta, a pessoa perde a motivação/gosto pela vida, e isso gera uma grande tristeza. Este é um fator comum que afeta mais os jovens e os adultos. De entre os fatores psicossociais causadores de depressão, problemas relacionados com a convivência e relacionamento no ambiente de trabalho também têm fundamental importância para o desenvolvimento da doença em questão. 2.3.2 Fatores biológicos Alterações nos níveis de neurotransmissores (principalmente serotonina, acetilcolina, dopamina, adrenalina e noradrenalina) relacionam-se com a susceptibilidade para depressão. Ainda, atrofias em certas áreas do cérebro (particularmente no lobo pré-frontal) responsáveis pelo controle das emoções e produção de serotonina são responsáveis por distúrbios depressivos importantes. Na mania por outro lado, quando existe excesso desses neurotransmissores, os sintomas são de euforia, sensação de energia ilimitada, necessidade de poucas horas de sono, pensamentos acelerados, impulsividade, irritabilidade e dificuldade de se controlar. Evidências neurobiológicas mostram uma forte relação entre depressão com transtornos de ansiedade. Aproximadamente 85% dos pacientes com depressão tem sintomas de ansiedade 7 significativos e 90% dos pacientes com transtornos de ansiedade experienciam depressão em algum momento. 2.3.3 Factores Físicos Em algumas depressões podem ser encontradas causas físicas para a sua existência. Há muito que se sabe que muitos dos nossos traumatismos e acidentes físicos ficam registados no nosso corpo em conjunto com as emoções que sofremos na altura do acidente traumatismo. Isto cria situações somato-emocionais que muitas das vezes perpetuam as dores ou alteram a pessoa por completo em termos emocionais. São bem conhecidos os resultados de diversas terapias dirigidas ao físico que fazem libertação somato-emocional e alteram por completo o estado emocional da pessoa. Em algumas situações problemas físicos podem criar um desgaste e uma tensão demasiado grande sobre o corpo e sobre o sistema nervoso que desencadeiam ou agravam o estado depressivo. Nestas situações devem-se corrigir os diversos problemas físicos. 2.3.4 Outros fatores relacionados com o desenvolvimento de depressão Medicamentos como betabloqueadores, benzodiazepinas, corticosteróides, anti-histamínicos, analgésicos e antiparkinsonianos podem causar depressão, bem como a retirada de qualquer medicação utilizada a longo prazo. 2.3.5 Drogas Alguns tipos de drogas podem levar a depressão crónica ou a não crónica. A cocaína e o extrato de coca ou a pasta de Coca são as principais substâncias que são possíveis a levar à depressão crónica, capazes de alterar completamente o sistema nervoso em menos de 15 segundos após o uso. Já a depressão não crónica deriva geralmente de fatores genéticos ou é causada por distúrbios perante a vida. 2.4 Epidemiologia Cerca de 16% da população mundial já teve depressão pelo menos uma vez na vida. Em alguns países como a Austrália, uma em cada quatro mulheres e cerca de um em cada oito homens já sofreu de depressão. O início dos estudos sobre a depressão começou na década de 1920. Foi reportado que as mulheres têm duas vezes mais possibilidades de sofrer de depressão do que os homens, mas em contrapartida essa diferença tem diminuído durante os últimos anos. Esta diferença desaparece completamente entre os 50 e 55 anos. A depressão nervosa é causa comum de aposentação por invalidez na América do Norte e em outros países da Europa. Segundo a OMS, em 2020, a depressão nervosa passará a ser a segunda causa de mortes mundiais por doença, após as doenças cardíacas. As pessoas deprimidas têm frequentemente pensamentos mórbidos e a taxa de suicídio entre depressivos é 30 vezes maior do que a média 8 da população em geral. A depressão é considerada em várias partes do mundo como uma das doenças com mais alta taxa de mortalidade. 2.5 Classificação Segundo a versão atual de classificação internacional de doenças a depressão pode ser classificada como: Episódio depressivo (caso seja o primeiro episódio); Episódio depressivo leve: Dois ou três sintomas sem grave prejuízo nas atividades diárias; Episódio depressivo moderado: Quatro ou mais sintomas com sério prejuízo nas atividades diárias; Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos: muitos sintomas muito intensos, severo prejuízo nas atividades diárias, ideação suicida elevada e com ou sem sintomas somáticos; Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos: episódio depressivo grave acompanhado de alucinações, ideias delirantes, lentidão psicomotora ou de estupor de uma gravidade tal que todas as atividades sociais normais tornam-se impossíveis; pode existir o risco de suicídio, de desidratação ou de desnutrição; Transtorno depressivo recorrente: Caso não seja o primeiro episódio depressivo; Episódios depressivos recorrentes breves. 2.6 Diagnósticos diferenciais Caso a depressão seja intercalada com um ou mais episódio maníaco passa a ser denominado como transtorno bipolar de humor ou como ciclotimia dependendo da duração dos episódios. A esquizofrenia e outros transtornos do tipo psicótico com predomínio de sintomas negativos frequentemente são confundidos com uma depressão severa. Caso o humor depressivo seja tão duradouro que se torne parte da personalidade da pessoa, e não apenas um episódio, então passa a ser considerado um transtorno de personalidade como o transtorno de personalidade esquiva ou transtorno de personalidade esquizóide. Muitas doenças endócrinas também podem levar a um quadro depressivo, dentre elas: Hipotireoidismo (Problema no funcionamento da tiróide) Doença de Addison (Problema nas glândulas suprarrenais) Síndrome de Sheehan (Problema na hipófise) Síndrome da fadiga crônica Anemias Transtornos neurológicos como acidente vascular cerebral, demência vascular, Alzheimer e mal de Parkinson também frequentemente geram quadros depressivos sérios. Mesmo 9 algumas doenças infecciosas como AIDS e mononucleose também já foram correlacionadas com sintomas depressivos. 2.7 Tipos de depressão A depressão é muitas vezes classificada como distimia quando os sintomas permanecem por períodos muito longos de tempo (pelo menos seis meses) de forma "leve", enquanto que nas ocorrências graves da depressão os sintomas atingem proporções incontroláveis, impossibilitando as atividades normais do indivíduo e obrigando a internação devido ao alto risco de suicídio. Do ponto de vista didático, a depressão clínica pode ser dividida em 6 tipos principais. 2.7.1 Depressão major (maior) Os pacientes com este tipo de depressão apresentam pelo menos 5 dos sintomas listados a seguir, por um período não inferior a duas semanas: Desânimo na maioria dos dias e na maior parte do dia (em adolescentes e crianças há um predomínio da irritabilidade) Falta de prazer nas atividades diárias Perda do apetite e/ou diminuição do peso Distúrbios do sono — desde insónia até sono excessivo — durante quase todo o dia Sensação de agitação ou languidez intensa Fadiga constante Sentimento de culpa constante Dificuldade de concentração Ideias recorrentes de suicídio ou morte Começa a se preocupar com os pequenos problemas da vida Tem dificuldade para tomar banho, ler um livro e até coisas simples como assistir televisão Automutilação Além dos critérios acima, devem ser observados outros pontos importantes: os sintomas citados anteriormente não devem estar associados a episódios maníacos (como no transtorno bipolar); devem comprometer actividades importantes (como o trabalho ou os relacionamentos pessoais); não devem ser causados por drogas, álcool ou qualquer outra substância; e devem ser diferenciados de sentimentos comuns de tristeza. Geralmente, os episódios de depressão duram cerca de vinte semanas. Os sintomas da depressão em adolescentes podem ser diferentes das dos adultos, incluindo tristeza persistente, incapacidade de se divertir com suas atividades favoritas, teimosia constante, irritabilidade acentuada, queixas frequentes de problemas como dores de cabeça e cólicas abdominais, mau desempenho escolar, desânimo, dificuldades de concentração , alterações nos padrões de sono e de alimentação ou queixas frequentes de não quer ir às aulas. 10 2.7.2 Distimia A depressão crónica leve, ou distimia, caracteriza-se por vários sintomas também presentes na depressão maior, mas eles são menos intensos e duram muito mais tempo — pelo menos 2 anos. Os sintomas são descritos como uma "leve tristeza" que se estende na maioria das atividades. Em geral, não se observa distúrbios no apetite ou no desejo sexual, mania, agitação ou comportamento sedentário. Os distímicos cometem suicídio na mesma proporção dos deprimidos graves. Talvez devido à duração dos sintomas, os pacientes com depressão crónica não apresentam grandes alterações no humor ou nas atividades diárias, apesar de se sentirem mais desanimados e desesperançosos, e serem mais pessimistas. Os pacientes crónicos podem sofrer episódios de depressão maior (estes casos são conhecidos como depressão dupla). 2.7.3 Depressão atípica As pessoas com esta variedade geralmente comem demais, dormem muito, sentem-se muito enfadadas e apresentam um sentimento forte de rejeição. 2.7.4 Depressão pós-parto Após o parto é comum ocorrer um forte declínio hormonal, resultando num período de anedonia e apatia conhecido como "Baby blues", que caso persista pode se tornar uma "depressão pós-parto". Essa persistência ocorre em cerca de 6,8 a 16,5% das mulheres adultas e até 26% das adolescentes. E não afeta só as mães, os pais também esperenciam o "baby blues" em 25% dos casos. Este tipo de depressão pode dever-se não só às mudanças hormonais como também à grande ansiedade, desgaste e frustrações comuns na gravidez, sendo mais agravadas essas alterações com o nascimento de um bebé. Por vezes surgem desconfortos, mal-estar e dores que podem agravar o estado emocional e hormonal da recente mãe. Quanto mais stressante for uma gravidez mais provável que resulte em depressão. Os partos naturais e as alterações que a bacia sofre para o nascimento do bebé podem criar alterações quer a nível da bacia quer a nível da coluna, que podem agravar o estado emocional da mulher. Estas alterações podem estar na origem de depressões de causas físicas. 2.7.5 Distúrbio afetivo sazonal (DAS) Este distúrbio caracteriza-se por episódios anuais de depressão durante o outono ou no inverno, que podem desaparecer na primavera ou no verão, quando então tendem a apresentar uma fase maníaca. Este distúrbio tem como principal fator a falta de sol, sendo bem comum nos países onde a luz solar dura poucas horas. É menos comum em países onde a temperatura gira em torno de 20 a 30 °C. 11 A D.A.S. (S.A.D. em inglês) atinge cerca de 7% da população da Inglaterra. Outros sintomas incluem fadiga, tendência a comer muitos doces e dormir demais no inverno, mas uma minoria come menos do que o costume e sofre de insónia. De entre os tratamentos recomendados, deve-se ficar próximo às janelas durante o período diurno, sair para locais abertos com frequência durante o dia, decorar quartos, mesas, salas com itens coloridos, e fototerapia. 2.7.6 Tensão pré-menstrual (TPM) Há depressão acentuada, irritabilidade e tensão antes da menstruação. Afeta entre 40 a 75% das mulheres em idade fértil. O diagnóstico baseia-se na presença de pelo menos 5 dos sintomas descritos no tópico depressão maior na maioria dos ciclos menstruais, havendo uma acentuação dos sintomas cerca de uma semana antes da chegada do fluxo menstrual, melhorando logo após a passagem da menstruação. 2.7.7 Tratamento A cultura popular associa depressão como um estado de humor da pessoa, considerando que ela pode se curar sozinha. Isso faz com que as pessoas não encarem a depressão como uma doença e não procurem ajuda médica. A maioria das pessoas que possuem um quadro clínico depressivo não conhece ou não procura ajuda médica especializada apesar da grande possibilidade de tratamento efetivo. O tratamento geralmente envolve uma medicação antidepressiva receitada por pelo menos 12 meses para evitar recaídas e algumas vezes acompanhada de psicoterapia. A eletroconvulsoterapia (ECT) é utilizada para indivíduos com depressão grave e que não tiveram resposta satisfatória ao tratamento medicamentoso. A Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva (EMTr) ou em inglês Repetitive transcranial magnetic stimulation (rTMS) pode ser uma alternativa para os pacientes resistentes aos medicamentos. Sabe-se também que praticar exercícios regularmente e participar de atividades desportivas e sociais pode ajudar o paciente a superar os sintomas da depressão, além de outros benefícios para a saúde. São exemplos de tratamentos para a depressão: Medicação Psicoterapias Eletroconvulsoterapia Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva Suplementos alimentares Atividades físicas 12 2.7.8 Medicação Os antidepressivos mais usados no tratamento da depressão são os Inibidores seletivos da recaptação da serotonina como a Fluoxetina, a Paroxetina e a Sertralina. Outros antidepressivos usados são os Antidepressivos tricíclicos, Inibidores da MAO, Inibidores da recaptação de dopamina, Inibidores da recaptação de noradrenalina-dopamina, Inibidores da recaptação de serotonina-adrenalina e Antidepressivos tetracíclicos. O principal mecanismo de ação dos antidepressivos é provocando o aumento de neurotransmissores, como as aminas biogénicas (serotonina, dopamina e noradrenalina). Apesar do nome, alguns antidepressivos também são usados com sucesso em tratamento de diversos outros transtornos, como transtornos de ansiedade, fobias e transtorno obsessivocompulsivo. Quanto mais específicos na sua ação, menos efeitos colaterais eles apresentam. 13 TRISTEZA DEPRESSÃO 2. A tristeza é… __________________________________________ __________________________________________ 14 __________________________________________ __________________________________________ _______________________________________ . 3. A depressão é… __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ ________________________________________ . 4. Em que idade(s) é mais comum a depressão? __________________________________________ __________________________________________ ______________________________________ . 5. A depressão é mais comum nos homens ou nas mulheres? _______________________________________________________ . 6. Como pode ser justificado esse facto? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ _______________________________________________________ . 15 7. SINTOMAS DE DEPRESSÃO: PSICOLÓGICOS FÍSICOS COMPORTAMENTAIS SOCIAIS 8. Em que países são mais frequentes os estados de depressão? Tenta encontrar uma explicação para que tal aconteça. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ______________________________________________________. 16 9. CAUSAS PARA A DEPRESSÃO: Fatores psicossociais Fatores biológicos Fatores físicos Outros 9. Quais as características do transtorno bipolar? __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ _____________________________________________________. 10. 17 TIPOS DE DEPRESSÃO E SUAS CARATERÍSTICAS Depressão maior ou major Distimia Depressão atípica Depressão pósparto Distúrbio afectivo sasonal Tensão prémenstrual 10. Indique os tratamentos possíveis para a depressão. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ ________________________________________________________ . Nota: a) Imagem de estimulação eléctrica transcraniana: A Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva EMTr (repetitive Transcranial Magnetic Stimulation — rTMS) é uma nova técnica de abordagem e tratamento de desordens neuropsiquiátricas que permite a 18 exploração, ativação ou inibição das funções cerebrais, de maneira segura, específica, não invasiva e indolor. O método consiste em atingir o cérebro de forma dirigida, através de pulsos magnéticos sobre o crânio, os quais, atravessando os tecidos, geram uma fraca corrente elétrica capaz de provocar alterações na atividade das células nervosas. A técnica é aprovada para uso clínico em diversos países, inclusive no Brasil, mostrando-se muito útil no tratamento da depressão e reabilitação, sendo o tratamento já aprovado pela ANVISA e FDA. b) Imagem de eletroconvulsoterapia A eletroconvulsoterapia (ECT) é considerada recurso terapêutico eficaz e seguro, desde que tenha indicação e realização precisas. Desde a sua introdução, no final do século 19, a ECT passou por vários aperfeiçoamentos técnicos. Com o surgimento dos psicofármacos a sua prescrição diminuiu, porém nos últimos anos o seu papel tem sido revisto, não somente no caso de transtornos mentais resistentes a psicofarmacoterapia, mas como primeiro recurso terapêutico, principalmente na depressão grave. 19