A INFLUÊNCIA DA COMUNICAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINAGEM Sandra Cavalheiro Acker Leichweis1 Orientanda Marisa Claudia Jacometo Durante2 Orientadora RESUMO A comunicação é utilizada em diversos segmentos, sendo um processo básico na educação, visto que essa se constitui no processo de ensinar e aprender, o qual também pode ser denominado de ensinagem. Com extrema relevância a avaliação desse processo o objetivo geral do estudo foi identificar quais os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal no processo de ensinagem. De modo específico buscou-se: a) Descrever os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal; b) Entender o processo de ensinagem; c) Relacionar os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal com o processo de ensinagem. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, apresentando a fundamentação teórica para comunicação interpessoal Sousa (2003), Vigotsky (1996) sobre aprendizagem, Anastasiou (2003) processo de ensinagem e sobre a construção do vínculo entre o par educativo, utilizou-se da literatura de Cervantes (2010). Os principais resultados indicam que a comunicação empregada no processo educativo nem sempre é eficaz e em algumas situações causa lacunas, que acabam distanciando os envolvidos gerando conflitos. Abstract Communication is used in several segments, since this constitutes the process of teaching and learning, which can also be called teaching-and-learning. With extreme relevance the evaluation of this process, the general goal of the study was to identify the facilitating and inhibiting is aspects of interpersonal communication on the teaching-and-learning process. Specifically, it sought: a) Describe the facilitating and inhibiting is aspects of interpersonal communication; b) Understand the teaching-andlearning process; c) Relate the facilitating and inhibiting is aspects with the teachingand-learning process. The methodology used was the literature, presenting the foundation for interpersonal communication theory Sousa (2003), Vigotsky (1996) about learning, Anastasiou (2003) teaching-and-learning process and about the construction of the link between education pair, it was used literature Cervantes (2010). The main results indicate that the communication used in the educational process is not always effective, in some situations cause gaps, distancing involved and generating conflicts. Key words: Interpersonal Communication. Teaching-Learning. Taeching. 1 INTRODUÇÃO 1 Artigo apresentado como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, na Faculdade La Salle, 2015. E-mail: [email protected]. 2 Doutora em Educação. Professora Orientadora do Artigo. E-mail: [email protected] A comunicação é para os seres humanos uma necessidade vital, pois abrange em sua concepção o ato de mediar às relações. O processo de comunicação deve ser dinâmico, para obter resultados satisfatórios, por isso, a humanidade desde os tempos mais remotos até os dias atuais foi se remodelando, reinventando suas técnicas comunicativas com intuito de disseminar conhecimento, aproximar grupos e resolver conflitos. Dentre as definições apresentadas no dicionário Michaelis (2015 online) aparece que a comunicação é: “[...] processo pelo qual ideias e sentimentos se transmitem de indivíduo para indivíduo, tornando possível a interação social [...]”. A comunicação é utilizada em diversos segmentos, sendo um processo básico na educação, visto que essa se constitui no processo de ensinar e aprender, o qual também pode ser denominado de ensinagem. Assim, o diálogo é a ferramenta que fomenta e promove transformações individuais e coletivas. Através dele, o individuo se apropria de diferentes meios para relacionar-se com o mundo e tornar-se independente, manifestando seus desejos e pensamentos. O ato de aprender, tomar conhecimento de algo, acontece pela interação de saberes é explorado tanto por meio formal (escola) ou informal (atividades de vida cotidiana). Essa construção é adquirida em experiências vivenciadas tendo a interferência direta da formação cultural, meio no qual se está inserido e de suas crenças. Neste propósito são utilizadas diferentes metodologias que exploram meios comunicativos na intenção de desenvolver o aprender significativo. A comunicação é o elo entre a comunidade educativa, assim verifica-se que a mediação deste processo corrobora para a eficácia da ensinagem. O processo que envolve o aprender é amplo e em algumas situações, a avaliação limita-se a analisar o aprendente de modo quantitativo, e não o processo de como esse apreender acontece. Acredita-se que os atores envolvidos diretamente, mediador da aprendizagem e aprendente, devam estar em sintonia para que exista a internalização deste conhecimento e que seja assimilado. Percebe-se que neste processo, além do vínculo direto dos envolvidos essa interação também deve considerar as metodologias aplicadas e a assimilação individual contemplando as múltiplas inteligências e diferenças que o ser humano demonstra no momento. O processo de desenvolvimento e exploração da inteligência humana, não deve relevar somente o que é lógico nos elementos conscientes e acadêmicos do conhecimento e sim, contemplar as motivações pessoais tais como: desejos, pretensões e fantasias do sujeito. No ambiente escolar, nota-se que por mais que os envolvidos estejam presentes, nem sempre estão disponíveis a desenvolver determinados conteúdos formais, atribuindo esse comportamento as mais variadas influências que o meio apresenta desde incompatibilidade ideológica, vínculo com professor, baixo estima relacionamento familiar dentre outros fatores visto que os processos de aprendizagem estão implicados na contemplação do organismo, corpo, inteligência e desejo, não se pode falar de aprendizagem sem essas considerações. Percebe-se que a participação familiar é de grande relevância, pois estes serão incentivadores e colaboradores no processo da “Ensinagem”. Com esta relação, forma-se o tríduo escola, aluno e família o qual denomina-se comunidade escolar. A família é a primeira comunidade expressiva a qual cada ser humano pertence. Como estão em constantes mudanças em sua estrutura formativa e organizacional, reflexos sociais e comportamentais são influências diretas no comportamento de seus indivíduos. Assim como as famílias, a educação através de seus procedimentos e metodologias aplicadas, sofreu transformações. Do processo seletivo que atendia a burguesia à democratização do ensino que hoje, tornou-se obrigatória e gratuita. As funções educativas que antes tinham como priori o desenvolvimento cognitivo e capacitação profissional são vistas como agentes de formação social do ser humano em uma abordagem ampla e que venha integrar as necessidades reais da sociedade. Percebe-se que em muitas situações essa tríade (família, escola, comunicação), tem sua ação baseada em razões particulares e fundamentos que não chegam a um denominador comum. Pois, enquanto o aluno em algumas situações atribui suas dificuldades de aprendizagem à qualidade repassada pela escola e não ao seu esforço pessoal, família e escola vivem um embate, onde situações e ruídos entre a comunicação afetam diretamente neste relacionamento e por hora distanciando as partes e dificultando o objetivo central. A relação entre ambos é essencial para que ocorra a aprendizagem, contudo, esta relação nem sempre acontece de forma harmoniosa, vindo a prejudicar principalmente aqueles que tenham histórico de dificuldade de aprendizagem e baixo déficit de participação escolar. Conforme Caetano (2009, p.42) “[...] esses processos de transformações da relação entre família e escola são frutos de muitos conflitos e tensões, e não é possível avaliar ou julgar se a interação entre as duas instituições pode ser considerada mais acessível e satisfatória na contemporaneidade [...]”. Entende-se desse modo, que os conflitos e tensões estão ligados a ausência da razão comunicativa. Conforme Siebeneichler (1989, p. 66) a definição de razão comunicativa empregada por Habermas é: O conceito razão comunicativa ou racionalidade comunicativa pode, pois, ser tomado como sinônimo de agir comunicativo, porque ela constitui o entendimento racional a ser estabelecido entre participantes de um processo de comunicação que se dá sempre através da linguagem, os quais podem estar voltados, de modo geral, para a compreensão de fatos do mundo objetivo, de normas e de instituições sociais ou da própria noção de subjetividade. Entendendo que a comunicação é uma necessidade humana, escolhi este tema, por fazer parte da minha atuação profissional e acreditar que o relacionamento e a comunicação entre as partes envolvidas é fundamental, na solidificação da aprendizagem. Dentre as diversas formas que a inteligência emocional se apresenta em cada pessoa, está à relação interpessoal, onde os vínculos produzidos projetam a interação do individuo com o meio onde esta inserido. Nesta relação, deve se levar em conta os valores pessoais que cada ser traz consigo. O elo que une os atores da comunidade escolar, será responsável pelo aproveitamento e efetivação da aprendizagem. O equilíbrio nas inter-relações é que limitará ou facilitará o grau de aprendizagem, visto que o sucesso depende da dinâmica de relacionamento estabelecido e da eficácia desta comunicação. Dentre os sistemas de comunicação usados no processo de ensinagem, devem ser avaliados a metodologia, a aplicação, relacionamento e vinculo no par educativo e acompanhamento e orientação na relação dos envolvidos. Com extrema relevância a avaliação do processo de “ensinagem”, é necessário fazer a investigação sobre quais os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal no processo de ensinagem? De modo específico buscou-se: a) Descrever os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal; b) Entender o processo de ensinagem; c) Relacionar os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal com o processo de ensinagem. 2 METODOLOGIA A metodologia empregada em uma pesquisa pode ser avaliada quanto ao seu contexto, aos objetivos descritos, à situação problema classificada quanto à sua natureza e também quanto aos procedimentos técnicos que serão abordados. Quanto aos procedimentos técnicos, a forma de pesquisa pode ser classificada como estudo de caso, pesquisa de campo, bibliográfica, documental, participante e experimental. Neste trabalho utilizou-se de pesquisa bibliográfica que é desenvolvida a partir de materiais publicadas em livros, artigos, dissertações e teses. Ela pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental. Segundo Cervo, Bervian e da Silva (2007, p.61), a pesquisa bibliográfica “constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema". A literatura utilizada para embasamento é uma das seções mais longas do desenvolvimento de um trabalho, pois se faz necessário a seleção entre muitos materiais, visto que o assunto envolvendo a importância do equilíbrio das relações da comunidade escolar no desenvolvimento da aprendizagem estão presentes em vários estudos da atualidade. É necessário que o pesquisador se aprofunde naquelas que respaldarão melhor seu trabalho e sejam de maior relevância ao seu tema. Para comunicação interpessoal utilizou-se o autor Jorge Pedro Sousa (2003) o qual apresenta processo de comunicação interpessoal, como uma necessidade para sustentar as relações entre os seres humanos. Na concepção da aprendizagem, utilizou-se do autor Vigotsky (1996) com a influencia do meio no desenvolvimento do ser humano, elevando em consideração seu desenvolvimento orgânico e mental. No processo de ensinagem utilizou-se a autora Léa das Graças Camargo Anastasiou (2003) que nos proporciona um entendimento sobre o tema ensinagem, derivado do processo de ensino aprendizagem onde engloba a ação de ensinar e a de aprender num contexto onde a parceria entre os envolvidos tenha consciência do objetivo maior. Para construção do vínculo entre o par educativo, utilizou-se da literatura de José Hernández Cervantes (2010). 3 REVISÃO E DISCUSSÃO DA LITERATURA 3.1 Descrever os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal O processo evolutivo da comunicação acompanha a necessidade humana de comunicar-se. Desde a pré-história, o homem aprendeu a relacionar-se com o meio. Dos grunhidos e gestos iniciais, foram criados meios para a comunicação externa, ou seja, com outros grupos. Essa progressão pôde ser observada através de registros onde a linguagem ilustrativa nas cavernas foi utilizada e analisada para a leitura de como era a vida das antigas civilizações. Dos desenhos a escrita pictográfica (herança dos povos sumérios), acompanhou-se na humanidade os registros de cada época, onde posteriormente, apareceu a escrita sagrada dos egípcios, que também utilizava símbolos (pictórica, ideográfica) para identificar os fonogramas referente a determinado objeto e posteriormente a escrita cuneiforme. A língua escrita mais antiga que se têm testemunhos data na antiga Mesopotâmia. Após este momento houveram significativas mudanças as quais hoje é comum e seu acesso disponibilizado democraticamente. Utilizar um conceito para definir comunicação é difícil, pois em se tratando de um processo que explora e expõe todo tipo de comportamento e atitudes humanas sejam de natureza objetiva ou subjetiva e que revelam algum sentido e por intenção uma forma de comunicar-se. A raiz etimológica da palavra comunicação é a palavra latina communicatione, que, por sua vez, deriva da palavra commune, ou seja, comum. Communicatione significa, em latim, participar, pôr em comum ou ação comum. Portanto, comunicar é, etimologicamente, relacionar seres viventes e, normalmente, conscientes (seres humanos), tornar alguma coisa comum entre esses seres, seja essa coisa uma informação, uma experiência, uma sensação, uma emoção, etc. (SOUSA, 2003, p. 22) Nesse contexto pode se afirmar que a comunicação é um processo social e que é indispensável para a sobrevivência dos seres humanos e para a formação e coesão de comunidades, sociedades e culturas. Segundo Gill e Adams (1998, p. 42) “A comunicação não é apenas uma troca de informações, mas também a partilha de pensamentos, sentimentos, opiniões e experiências". Conforme definição de SOUSA (2003, p.34) existem diferentes formas de comunicação humana que os indivíduos utilizam para viabilizar suas relações. Entre elas, o autor ressaltou a intrapessoal, a interpessoal, a grupal, a organizacional, a social e extrapessoal. Habitualmente, a comunicação interpessoal é direta, mas pode ser mediada. Na comunicação direta a integração dos elementos comunicativos é mais rica, o componente não-verbal (gestos, posição do corpo, distanciamento entre os interlocutores, expressões faciais, olhar, pausas, modulação da voz, cheiros emanados pelos interlocutores, etc.) são tão relevante quanto a verbal (as palavras em si). As percepções que os interlocutores fazem de si mesmo e dos outros, o feedback imediato, o próprio contexto da situação, entre outros fatores, interferem direta, imediata e processualmente no ato comunicativo interpessoal. O método de comunicação interpessoal busca promover nos sujeitos envolvidos a troca de informação, onde cada um tem a oportunidade de apresentar sua opinião pautada no seu conhecimento adquirido através de suas vivências e formação acadêmica. Nesta perspectiva, são realizadas as transmissões e trocas de experiências através de variados formatos de comunicação, onde por ora se torna transmissor e outra receptor de um sistema que pode ser compartilhado parcial ou integralmente. No processo de ensinar, mediar e intervir em sala de aula, se faz necessário que o profissional utilize-se de meios variados para um mesmo fim, no intuito de privilegiar as diferentes formas de recepção e entendimento. O estudo e a prática das relações interpessoais busca examinar os fatores condicionantes das relações humanas e, face aos mesmos, sugerir procedimentos que amenizem a angústia da singularidade de cada um e dinamizem a solidariedade entre todos que buscam conviver em harmonia (ANTUNES, 2003 p. 10). Na dinâmica das relações interpessoais, a modalidade de comunicação é a ferramenta geradora de significados que fundamentam e conduzem os relacionamentos. 3.2 Entender o processo de ensinagem O termo aprendizagem inicialmente surgiu do pressuposto que o conhecimento é um produto resultante de investigações comprovadas através de experiências. Nesse contexto, baseado no positivismo, o indivíduo era considerado um ser vazio no qual eram depositados conhecimentos, condicionados e posteriormente operacionados. Contrapondo a referência do positivismo da própria produção humana, surge a Gestalt, racionalista. Onde neste período histórico não se dirige a aprendizagem, mas à percepção, posto que tal corrente não acredita no conhecimento adquirido, mas defende o conhecimento como resultado de estruturas pré-formadas, do biológico do indivíduo. Após esse momento, surge estudos reverenciando à psicologia genética, trazendo nomes como Piaget e Vygotsky, que apresentam uma concepção de aprendizagem a partir do confronto e colaboração do conhecimento destes três: empirismo, behaviorismo e gestáltico. O desenvolvimento da aprendizagem está atrelado a um contínuo de evolução, nem sempre linear, se dá em diversos campos da existência, tais como afetivo, cognitivo, social e motor. Este caminhar contínuo não é determinado apenas por processos de maturação biológicos ou genéticos. O meio é fator de máxima importância no desenvolvimento humano. Dentre alguns conceitos, utilizou-se do post referido na Wikpedia (2015 online) que descreve: Aprendizagem é o processo pelo qual as competências, habilidades, conhecimentos, comportamento ou valores são adquiridos ou modificados, como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação. Este processo pode ser analisado a partir de diferentes perspectivas, de forma que há diferentes teorias de aprendizagem. Aprendizagem é uma das funções mentais mais importantes em humanos e animais e também pode ser aplicada a sistemas artificiais. Aprendizagem humana está relacionada à educação e desenvolvimento pessoal. Deve ser devidamente orientada e é favorecida quando o indivíduo está motivado. O estudo da aprendizagem utiliza os conhecimentos e teorias da neuropsicologia, psicologia, educação e pedagogia. Diante do exposto para desenvolver a aprendizagem são levados em consideração um conjunto de fatores que vão além das capacidades individuais de cada ser humano, mas também as interferências do meio, justificadas e embasadas em várias teorias. O indivíduo na educação é visto como um todo, parte-se de uma visão sistêmica e amplia-se o conceito de educação para o processo de ensino-aprendizagem. Este processo foi caracterizado de diferentes formas ao longo do tempo. Incialmente o professor era o transmissor de conhecimento, até as concepções atuais que concebem o processo de ensino-aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do educando como agente ativo neste processo. As reflexões sobre o processo ensino-aprendizagem nos remetem a profundidade do binômio ensino e aprendizagem. Fatores como a Psicologia em relação à aprendizagem, promovem o repensar da prática educativa, buscando conceptualização do processo ensino-aprendizagem. Existem diferentes contextos a serem analisados sobre a evolução da aprendizagem. Para Piaget, o desenvolvimento e a aprendizagem, se interrelacionam, sendo a aprendizagem a alavanca do desenvolvimento. A perspectiva piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela preza o desenvolvimento das funções biológicas – que é o desenvolvimento - como base para os avanços na aprendizagem. Na perspectiva sócio-interacionista, de Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois processos. Isso quer dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em paralelo. Para Vygotsky (1996), o aluno é reconhecido como ser pensante, reproduzindo em suas ações a constituição do meio que lhe é oportunizado. Ou seja, sua estrutura mental e desenvolvimento orgânico serão responsáveis pela internalização de conceitos vivenciados e produzidos pelo meio, onde esse pode ser chamado mediador. Nesse sentido, o papel do mediador é de favorecer esta aprendizagem, servindo como elo entre aluno e mundo. As relações estabelecidas em sala de aula podem ser a chave para desmistificar a relação na legitimação do não aprender. A construção dos processos simbólicos que estão intimamente ligados à construção de significados auxilia, diretamente, na apropriação do saber. Conforme POZO (2002, pp. 55 – 56) “... temos que admitir que a maior parte das aprendizagens cotidianas são produzidas sem ensino e inclusive sem consciência de estar aprendendo”. Percebe-se essa relação quando a criança não tem vínculo com a disciplina, mas é cativada pelo professor, construindo uma ligação de aprendizagem por meio de relação e não conteúdo propriamente dito. Nesta perspectiva surge uma nova concepção, a ensinagem a qual busca suprir as necessidades vivenciadas e carentes da educação atual. Para Anastasiou (2003, p.13), a necessidade de compreender a aprendizagem como um processo ativo por parte dos sujeitos e o ensino como uma atividade complexa, que possui duas dimensões “uma utilização intencional e uma de resultado”, o que é visto e observado na realidade são práticas metodológicas que não fazem à junção relativa de ensino-aprendizagem. Esses processos são interdependentes e formam uma unidade dialética. O conceito de ensinagem, que visa uma prática social complexa efetivada entre os sujeitos, professor e aluno, englobando tanto a ação de ensinar quanto a de apreender, em um processo contratual, de parceria deliberada e consciente para o enfrentamento na construção do conhecimento escolar. (ANASTASIOU, 2003, p. 15) Anastasiou (2003) em suas observações, amplia o conceito de ensinagem, onde traz para discussão uma diferenciação entre os conceitos de aprender a aprender, No primeiro aprender, significa “tomar conhecimento, reter na memória mediante estudo, receber a informação” (ANASTASIOU, 2003, p. 14) e no segundo apreender refere-se “segurar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender e agarrar” (idem). A autora salienta a necessidade de mudar o termo da pratica docente em “fazer aulas”. Dessa forma, o processo de ensinagem busca uma construção coletiva do conhecimento ressaltando-se o gosto, o sabor e a vontade que podem ser construídas no processo de ensinar e apreender, Na ensinagem, o processo de ensinar e apreender exige um clima de trabalho tal que se possa saborear o conhecimento em questão. O sabor é percebido pelos alunos quando o docente ensina determinada área que também saboreia, na lida cotidiana profissional e / ou na pesquisa, e a socializa com seus parceiros na sala de aula. Para isso, o saber inclui um saber o quê, um saber como, um saber por quê e um saber para quê. (ANASTASIOU, 2003, p. 15) Apropriando-se deste conceito, educador e educando, desfrutam do momento de construção deste conhecimento, mantendo suas “responsabilidades próprias e específicas” (ANASTASIOU, 2003, p. 15). Neste processo existe uma tentativa de suprimir o modelo de ensino pautado na fala do professor, na mera transmissão do conhecimento e busca-se construir um processo ressignificar o ensino. Nesta proposta se faz necessário conhecer, observar e analisar os sentidos objetivos e subjetivos que os estudantes atribuem ao seu processo de aprendizagem. 3.3 Relacionar os aspectos facilitadores e dificultadores da comunicação interpessoal com o processo de ensinagem. A comunicação na antiguidade na China, Egito e Babilônia tinha como propósito a instrução. O ato de comunicar-se, “pôr em comum”, é fundamental nas práticas educativas. Para esse meio, a forma utilizada é a comunicação didática, que visa a mediação do conhecimento de forma clara e acessível, estimulante e incentivadora. Nos anos 500 a. C. uma afirmação já mensurava o processo educativo como: “O que o céu conferiu chama-se natureza; a conformidade com ele chama-se senda do saber; a direção deste caminho chama-se instrução”. (CONFÚCIO apud GILES, 1983, p.61). Esta forma relevante de comunicação mantem-se ao longo do tempo, contudo, acompanha as variações de proposta e formação humana de acordo com as fundamentações de cada época. Segundo Gadotti (1991, p. 69) “o diálogo é uma exigência que possibilita comunicação” e “para pôr em prática o diálogo, o educador deve colocar-se na posição humilde de quem não sabe tudo”. Este ato não é simplesmente conversar e trocar informações. Para que seja efetivo, os interlocutores precisam estar frente à frente, as emoções devem ser sinceras e coerentes com as intenções mais íntimas de quem conversa. As práticas pedagógicas devem sempre estar pautadas em objetivos claros, que conduzam os educandos a construir seus próprios conhecimentos e saberes, a partir dos conceitos anteriormente estabelecidos. Sobre a visão do educador são descritos como pontos que merecem ser visto, as questões de distribuição e número de alunos por sala, falta de atenção e interesse, falta de meios para aplicação de metodologias alternativas. Na concepção do aluno, o professor nem sempre apresenta postura adequada, falta de conhecimento do conteúdo, autoritarismo, falta de profissionalismo, falta de experiência em gerenciar conflitos e respeito a diversidade de ideologias. Segundo Luckesi (1994), a relação professor-aluno ainda apresenta mazelas onde prevalece à autoridade do professor, exigindo receptividade dos alunos, transmitindo conteúdos como verdades amparadas aos seus conhecimentos prévios e experiências. A educação em suas diferentes esferas investe na formação profissional e pessoal de seus educadores, contudo, ainda existem profissionais que não se permitem mudar e acompanhar a evolução, continuando em muitas situações com o mesmo material e metodologias empregadas durante anos. Percebe-se que durante o processo, o aluno recebe uma sobrecarga de informações do meio em que se vive e também da própria proposta educativa em conteúdos secundários, que em algumas situações não tem uma função específica e nem uma utilidade vital, sendo algo importância irrelevante. Em outra situação, quando não existe vínculo entre aluno e professor, um dos atores pode ficar na defensiva ou no ataque, não tornando o momento propício ao aprender. Na perspectiva de atingir a excelência na dinâmica das relações educacionais, Cervantes pontua: (2009, p.65): A referência, para lidar com a vida e suas escolhas com êxito, tem de ser ao mesmo tempo afetuosa e firme, e isto diariamente. A tarefa de educar, possivelmente é a missão mais transcendental, mas quando não se consegue, é também, a mais nefasta. Quando a “estaca” tiver sido firme e adequada, a jovem planta, por sua vez, cresce, floresce, produz frutos e também se converterá em escora ou amparo para outras jovens plantas. Na proposta de Cervantes, é preciso usar linguagem apropriada e direta com informações claras e objetivas, utilizar diferentes meios metodológicos contemplando os variados sentidos do receptor, relacionar informações e fazer interferências próximas e individuais. Para a continuidade do bom desempenho é necessário participação e retorno, pois no momento onde se recebe a resposta, pode se avaliar o processo e ver onde é necessário fazer alterações para alcançar o objetivo. Saber ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto a tarefa que tenho – a e ensinar e não de transferir conhecimento (FREIRE, 1997, p. 54). A essa interação comunicativa atribui-se um momento especial, onde é possível observar através de diferentes linguagens a proporção do objetivo. Nessa análise pode-se fazer a auto avaliação e buscar melhorias nas relações. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A comunicação sendo uma necessidade humana é a chave que abre caminhos para o relacionamento e solidificação da aprendizagem. O elo entre os atores da comunidade escolar será responsável pelo aproveitamento e efetivação da aprendizagem. O equilíbrio nessas inter-relações é que limitará ou facilitará o grau de aprendizagem, visto que o sucesso depende da dinâmica de relacionamento que será empregada. Nas metodologias empregadas na mediação do conhecimento, percebe-se influência nos objetivos relacionados ao “aprender”, professor e aluno devem construir uma parceria de trabalho que vá além de suas expectativas individuais. Quando o ensinante não forma vínculo com o aprendente, não promove o despertar e interesse do aluno em seu método de aplicação, terá sim uma fratura e dificuldade em atingir seus objetivos como mediador. A priore o relacionamento direto na sala de aula é o mais evidente no processo, contudo, também são geradores de aprendizagem o vínculo familiar e o envolvimento na comunidade educativa. Ambos devem ter objetivos comuns no que tange ao desenvolvimento do educando. Propostas claras, relacionamento direto e objetivo entre os envolvidos garantirá um processo saudável de aprendizagem. Após analisar os diferentes contextos apresentados no material teórico que fundamentou esta pesquisa é possível dizer que a comunicação empregada no processo educativo nem sempre é eficaz, e em algumas situações, causa lacunas, que acabam distanciando os envolvidos gerando conflitos. Os ruídos de comunicação afetam quando a mensagem original é modificada, interpretada de forma equivocada ou repassada intencionalmente com essa finalidade. Entre os principais aspectos destacados cita-se a desarmonia, falta de empatia, habilidade de interpretação e também a falta de atenção. Quando a conexão entre emissor e receptor apresenta falha, surgem os ruídos que afetam a apropriação do sentido e significado da mensagem, podendo este, ser temporário ou até mesmo interferir em longo prazo, na aquisição do conhecimento. Com base nos estudos, é possível afirmar que a participação da comunidade escolar, traz bons resultados ao processo de ensinagem. No primeiro momento a questão da revalorização do saber do que foi aprendido, visto que a escola é um lugar onde se constrói e solidifica o conhecimento. Com essa ênfase os filhos internalizam a importância do estudar. Complementando outro aspecto fundamental, é a interação entre pais e escola que após estarem envolvidos tomam conhecimento do processo e seus entraves no desenvolvimento do saber, colaborando com mais afinco nesta construção. Outro ponto positivo desta parceria é que a colaboração dos pais e envolvimento no decorrer do processo pode influenciar seus filhos na extensão deste compromisso e colaborar para que os mesmos possam confiar e respeitar as pessoas envolvidas em direcionar o processo pedagógico. Conforme Cervantes (2009, p.11) relata, o professor deve “conquistar o coração de seus alunos.”, sobre essa concepção avalia-se o seguinte pressuposto: a comunicação no processo de “ensinagem” é uma necessidade, contudo, existem outras dimensões humanas relevantes para que se consolide este processo. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ANASTASIOU, Léa das Graças C. Ensinar, aprender, apreender e processos de ensinagem. Processos de ensinagem na universidade. Joinville, SC: Editora Univille, 2003. 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