CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS – CEBRI

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Edição de 18/07/2002, n°27
TAILÂNDIA: GLOBALIZAÇÃO EXIGE ACESSO A MERCADOS NÃO TRADICIONAIS
O CEBRI recebeu nesta quarta-feira, 16 de julho, o Doutor Kantathi Suphamongkhon, Representante
de Comércio da Tailândia para a Europa, Américas, Austrália e Nova Zelândia, posição equivalente a
de Ministro do Comércio Exterior para essas áreas no Gabinete tailandês. O Ministro Suphamongkhon
é PhD em Relações Internacionais pela Universidade do Sul da Califórnia (USC), membro do
Parlamento tailandês, diplomata de carreira e ‘enviado especial’ do Primeiro-Ministro Thaksin
Shinnawatra. Em sua palestra, o Ministro abordou três temas: a crise financeira na Ásia de 1997, que
resultou na grande desvalorização do Baht; a participação da Tailândia no sistema multilateral de
comércio; e as lições extraídas de 1997 e como a Tailândia tem-se preparado para enfrentar os desafios
da globalização.
A Crise Cambial de Julho de 1997
A crise foi deflagrada por uma serie de fatores combinados, que atingiram diversas economias da
região da Ásia-Pacífico, mas em especial países como Indonésia e Tailândia. Se a globalização
possibilitou uma rápida inserção dessas economias nos fluxos dinâmicos da economia mundial, ela
também elevou substancialmente os riscos associados ao mau gerenciamento econômico, tanto no setor
público quanto no privado. Com a expansão do comércio e a elevação do déficit da balança comercial,
e a paridade nominal do Baht em relação ao dólar em constante valorização, houve rápido crescimento
do déficit em conta corrente de 1994 a 1996. O déficit em conta corrente e a valorização cambial foram
compensados pelo ritmo sustentado de investimento externo, embora somente uma pequena parte desse
investimento tivesse assumido a forma de inves timento direto (FDI), a maior parte representando
investimentos de curto prazo em carteiras de portfólios através do setor bancário. Mais investimentos
de curto prazo geravam aumento dos preços dos títulos e subseqüente elevação da sua quotação.
A ausência de regulamentação satisfatória da atividade bancária e a confiança implícita dos bancos
tailandeses de que o Governo garantiria os seus débitos gerou uma tomada excessiva de riscos por parte
desses bancos, e o valor dos títulos começou uma trajetória declinante. Outro fator de insegurança foi o
fato de que países da Ásia-Pacífico sofreram graves problemas climáticos, associados ao fenômeno “El
Niño”, com impacto no desempenho da agricultura, segurança alimentar e saúde pública. Em julho de
1997, reverte-se o movimento de ingresso líquido de recursos na economia tailandesa, o Baht se
deprecia em 40% em relação do dólar e desponta uma situação generalizada de falta de liquidez, com
pressões sobre o sistema bancário, sobre a rentabilidade das empresas, sobre o crédito e sobre o
mercado de capitais. Ao final de 1997, Coréia, Indonésia e Tailândia receberam juntas mais de US$
100 bilhões de ajuda do FMI.
“O Pesadelo Ficou Para Trás”
Após ter perdido dez por cento do seu PIB até 1998, e após a ajuda do FMI, a economia tailandesa
recuperou-se e a expectativa para 2002 é que seu PIB se situe num índice de 120, comparativamente ao
de 90, registrado no auge da crise, o que levou o Ministro Suphamongkhon a asseverar que “o pesadelo
ficou para trás”. Esse êxito pode ser atribuído a uma série de medidas tomadas pelo Governo na
seqüência da crise, que persistiu em medidas liberalizantes e buscou uma ampla modernização de
instituições políticas e econômicas do Estado.
Dentre essas medidas que possibilitaram a superação da crise, conforme indicou o Ministro tailandês,
incluem-se a adoção de políticas fiscais e monetárias mais rígidas; uma vez que essas políticas
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Presidente do Conselho Curador: Luiz Felipe Lampreia
Diretor Executivo: Mário Marconini
começaram a surtir efeito e os riscos da recessão se avolumaram, essas políticas foram relaxadas; a
Tailândia promoveu amplas reformas institucionais e financeiras, que compreenderam: mudanças de
regras para o funcionamento dos fundos de aplicação; levantamento de restrições à participação de
bancos estrangeiros no mercado local; reforma da burocracia, fortalecimento da diplomacia, maior
abertura e controle sobre as ações dos tomadores de decisão em posições-chave da economia. Outra
vertente das reformas foi jurídica, que compreendeu o restabelecimento de tribunais de comércio e
propriedade intelectual; a instituição de uma legislação de falências, de ingresso e participação de
capital privado no país; maior eficiência e rapidez do judiciário, com transparência, confiança e
previsibilidade.
Uma vez que a ameaça de persistência da crise se dissipou, a Tailândia pôde então assumir um papel
mais pró-ativo na gestão de sua política econômica, que assumiu a forma de um “fortalecimento da
economia a partir de dentro” e uma decisão inequívoca de ampliar a participação do país no comércio
mundial, sobretudo através da abertura de novos mercados – essa terá sido, aliás, a principal motivação
da visita do Ministro Suphamongkhon ao Brasil, que chefiou delegação de diversos líderes
empresariais, inclusive da Secretaria-Geral da Federação das Indústrias da Tailândia. O projeto de
fortalecimento interno da economia se deu com a disseminação do micro-crédito e com a criação do
‘Banco do Povo’, encarregado, dentre outras atribuições, de financiar micro-projetos de
desenvolvimento em vilas e aldeias. Outra medida foi manter as condições para a atração de FDI.
O Papel Central do Comércio na Recuperação Econômica
Suphamongkhon disse ter a crise sinalizado para a Tailândia que as exportações do país não podem ter
por destino apenas seus tradicionais mercados, o que as deixaria muito vulneráveis à situação
econômica de um pequeno grupo de importadores, vulnerabilidade essa acentuada pelo vínculo estreito
existente entre comércio e investimento. O país vem envidando esforços, no entanto, não só pela
ampliação quantitativa de suas exportações e pela abertura de novos mercados, mas em prol do esforço
de diversificar e agregar valor a essas exportações. A Tailândia é, como o Brasil, um dos cinco maiores
exportadores de alimentos do mundo, ambos os países sendo ativas lideranças no Grupo de Cairns e
aliados na OMC. A Tailândia tem como principais parceiros comerciais os Estados Unidos, o Japão, a
União Européia e um grupo de países da Ásia-Pacífico, e a aproximação com o Brasil reveste-se de um
componente essencialmente estratégico. Oportunidades de investimentos na Tailândia incluem setores
como manejo de florestas, fabricação de móveis, pesca, turismo e o setor de construção civil.
Destaques e Opiniões
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A Tailândia procurou contornar os efeitos sociais da crise de 1997 não só com a instituição do
micro-crédito, mas com a instituição do conceito de ‘família ampliada’, em que garantias de
provisão de bem-estar mínimo, sobretudo a idosos, crianças e pessoas incapacitadas passaram
a ser assumidas pelas comunidades locais, com recursos destinados a essas comunidades
especialmente para esse fim;
As relações com a China não foram historicamente das mais tranqüilas, mas a Tailândia está
decidida a fazer dela um aliado e não um competidor, com os exportadores tailandeses tendo
que reagir diante da abertura do mercado chinês após o recente ingresso deste país na OMC;
Uma das prioridades de ação da Tailândia no âmbito da Associação dos Países do Sudeste
Asiático – ASEAN, tem sido no sentido de encontrar mecanismos, inclusive inspirados nos
‘fundos estruturais’ da União Européia, para ajudar e financiar o desenvolvimento dos países
mais atrasados do subcontinente;
Sendo ainda o Japão um investidor essencial para a Tailândia, o otimismo cauteloso quanto ao
desempenho da economia tailandesa (previsão de crescimento de 5%, taxa de poupança
interna de 35% do PIB, inflação de 1%) terá que aguardar as novas estimativas para a
economia japonesa e as perspectivas de recuperação da crise de credibilidade da economia
norte-americana.
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