UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC CENTRO DE TECNOLOGIA – CT PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LOGÍSTICA E PESQUISA OPERACIONAL – GESLOG ROBSON TORRES BANDEIRA INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA E DE TRANSPORTES NO NORDESTE NOS ANOS 2000: CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO INTERNO E DO COMÉRCIO EXTERIOR? FORTALEZA 2012 1 ROBSON TORRES BANDEIRA INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA E DE TRANSPORTES NO NORDESTE NOS ANOS 2000: CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO INTERNO E DO COMÉRCIO EXTERIOR? Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Logística e Pesquisa Operacional, do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Logística e Pesquisa Operacional. Área de concentração: Gestão Logística. Orientador: Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira. FORTALEZA 2012 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Pós Graduação em Engenharia B167i Bandeira, Robson Torres. Investimentos em infraestrutura logística e de transportes no Nordeste nos anos 2000: consolidação do mercado interno e do comércio exterior? / Robson Torres Bandeira. – 2012. 141 f. : il. color., enc. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Programa de PósGraduação em Logística e Pesquisa Operacional, Fortaleza, 2012. Área de Concentração: Gestão Logística. Orientação: Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira. 1. Logística – Brasil. Nordeste. 2. Transportes. 3. Investimentos. 4. Economia – Brasil. I. Título. CDD 658.78 2 ROBSON TORRES BANDEIRA INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA E DE TRANSPORTES NO NORDESTE NOS ANOS 2000: CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO INTERNO E DO COMÉRCIO EXTERIOR? Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Logística e Pesquisa Operacional, do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Logística e Pesquisa Operacional. Área de concentração: Gestão Logística. Aprovada em: 31 de agosto de 2012. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Prof. Dr. Carlos Américo Leite Moreira (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) ____________________________________________________ Profª. Drª. Marta Maria de Mendonça Bastos Universidade Federal do Ceará (UFC) ____________________________________________________ Prof. Dr. José Sydrião de Alencar Junior Universidade de Fortaleza (UNIFOR) 3 A Deus, pelo dom maravilhoso da vida. Aos meus pais, irmão e amigos, por todo o apoio e incentivo, além das manifestações de amor, carinho e compreensão em todas as etapas deste trabalho. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela oportunidade de viver, sonhar, compartilhar e atingir sonhos, objetivos. Pelos vários anjos da guarda que Ele colocou no meu caminho: pais, irmão e melhores amigos. Sou grato em especial por Ele nunca desistir de mim e mesmo quando passei pelos momentos de maior desmotivação e crença na minha incapacidade de concretizar este trabalho, Deus estava lá para me socorrer por meio de Suas misteriosas e infinitas manifestações de amor e benção. Obrigado Senhor por ter me permitido acordar todos os dias e me dar forças para batalhar e concretizar mais esta etapa da minha vida. Aos meus pais, Sérgio Bandeira e Gerjanes Torres, por toda a dedicação, carinho, amor, compreensão, sermões, incentivo, ensinamentos, exemplos de vida e, principalmente, pelo sacrifício árduo feito em prol da minha educação. Nunca poderei expressar a magnitude da minha gratidão, orgulho e amor por vocês. Ao meu irmão Rômulo, pelo amor, carinho, respeito e incentivo. Ao meu orientador, Prof. Carlos Américo Leite Moreira, por todo o apoio, suporte e exemplo na minha formação acadêmica e intelectual. Por acreditar no meu potencial e na minha capacidade, muitas vezes quando eu mesmo não acreditei. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, que garantiu o suporte financeiro necessário à consecução do mestrado e sua consequente conclusão. À minha ex-namorada e grande amiga, Deyser de Oliveira dos Reis, por estar comigo nos momentos bons e ruins, por ter sido grande incentivadora dos meus estudos no mestrado, por me ensinar o verdadeiro sentido e a grandeza do sentimento mais valioso que existe: o amor. Muito do meu caráter e conquistas nesses últimos tempos foram possíveis porque você esteve comigo. E estaremos sempre juntos! Aos meus amigos, que com sua alegria, sermões, incentivos, respeito e carinho enchem meu coração de felicidade todos os dias, e compartilham comigo as dificuldades e benesses de toda uma trajetória pessoal, acadêmica e profissional. Dedico um agradecimento mais que especial à grande amiga Nayara Asano, pois se finalizei este trabalho foi devido o seu incentivo e companheirismo. Obrigado por ser meu anjo da guarda! Aos professores: Marta Maria de Mendonça Bastos, João Bosco Furtado Arruda, Fernando Ribeiro de Melo Nunes, João Welliandre Carneiro Alexandre, e José Lassance de Castro pelos valiosos conhecimentos transmitidos durante o mestrado. 5 “A verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas, mas em escapar das velhas idéias.” (John Maynard Keynes, 1883-1946) 6 RESUMO A economia brasileira enfrentou duas décadas de atraso (1980 e 1990), com sérios desdobramentos econômicos e sociais, como: crise nas dívidas interna e externa, aumento dos níveis de desemprego, queda e piora na distribuição de renda, forte retração dos investimentos e agravamento das desigualdades regionais. Houve uma reversão do panorama econômico nos anos 2000, marcado por profundas transformações na sociedade brasileira, com a retomada do crescimento econômico. Inicialmente por indução externa, com a retomada e forte crescimento e diversificação das exportações; e por indução interna a partir de 2006, com o mercado interno determinando o ritmo de expansão da economia nacional. Resultado de políticas fiscal e monetária atuando no aumento do emprego e renda, expansão do crédito, redução nos juros e aumento nos investimentos públicos em infraestrutura e nos investimentos privados. O cenário também mudou na região Nordeste, que registrou taxas de crescimento superiores às do país, com crescimento nas exportações, consumo interno e investimentos privados (destaque para indústria e serviços) e públicos em infraestrutura. O objetivo do trabalho foi analisar se a dinâmica de investimentos públicos, principalmente com o advento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), foi determinante na retomada dos investimentos nos setores de atividade econômica da região Nordeste. Esse argumento toma por base a Teoria de Investimento Keynes-Minsky, pela qual os empresários são estimulados a investir não apenas pela indução dos investimentos públicos em infraestrutura, mas principalmente pela criação de um ambiente econômico favorável ao aumento das inversões industriais. Foi constatado forte aumento dos investimentos industriais no Nordeste, condizente também com maiores inversões em infraestrutura Logística e de Transportes. No entanto, os investimentos privados na região cresceram antes mesmo dos investimentos em infraestrutura, a partir da melhora do ambiente econômico nacional e cenário externo (inicialmente) favorável. As inversões em infraestrutura nordestina analisadas neste trabalho foram direcionadas a corredores de exportação regional, com pouco apelo de integração regional e expansão da oferta de modais, e sua realização teve o intuito de minimizar os efeitos negativos dos gargalos logísticos sobre o crescimento do Nordeste, seguindo a política nacional adotada pelo PAC. Palavras-chave: Economia brasileira. Investimentos. Logística e Transportes. PAC. Nordeste. 7 ABSTRACT The Brazilian economy faced two decades of delay (1980 and 1990), with serious economic and social consequences, such as: crisis on domestic and foreign debt, rising unemployment, falling and worsening income distribution, strong retraction of investment and aggravation regional inequalities. There was a reversal of the economic landscape in the 2000s, marked by profound changes in Brazilian society, with the resumption of economic growth. Initially by external induction, with the resumption and strong growth and diversification of exports, and internal induction since 2006, with the market determining the expansion rate of the national economy. Result of fiscal and monetary policies acting to increase employment and income, credit expansion, reduction in interest rates and increased public investment in infrastructure and private investments. The scenario has changed in the Northeast, which recorded growth rates above those of the country, with growth in exports, domestic consumption and private investment (especially industry and services) and public infrastructure. The objective of this study was to analyze the dynamics of public investment, especially with the advent of the Growth Acceleration Program (PAC), was instrumental in the recovery of investment in sectors of economic activity in the Northeast. This argument is based on the Theory of Investment Keynes-Minsky, in which entrepreneurs are encouraged to invest not only by inducing public investment in infrastructure, but mainly by creating a favorable economic environment with increased industrial investment. It was observed sharp increase in industrial investments in the Northeast, also consistent with greater investments in infrastructure Logistics and Transport. However, private investment in the region even before the increased investment in infrastructure, from the improved economic environment and domestic external environment (initially) favorable. The investments in infrastructure Northeastern analyzed in this study were directed to regional export corridors, with little appeal to regional integration and expansion of modal, and its realization aimed to minimize the negative effects of the logistical bottlenecks on growth in the Northeast, followed national policy adopted by the PAC. Keywords: Brazilian Economy. Investments. Logistics and Transport. PAC. Northeast. 8 LISTA DE FIGURAS E QUADROS Figura 1 – Intervenções do PAC em Rodovias e Ferrovias entre 2007 e 2010 ......................... 97 Figura 2 – Região Nordeste. Intervenções em Logística e Transporte previstas no PAC entre 2007 e 2010................................................................................................................... 99 Figura 3 – PAC. Inversões previstas em Aeroportos no 2º Balanço do PAC ......................... 100 Figura 4 – Alagoas. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 ..................... 102 Figura 5 – Bahia. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 ......................... 104 Figura 6 – Ceará. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 ......................... 108 Figura 7 – Maranhão. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 .................. 111 Figura 8 – Paraíba. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 ...................... 112 Figura 9 – Pernambuco. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 ............... 114 Figura 10 – Piauí. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 ........................ 116 Figura 11 – Rio Grande do Norte. Principais intervenções em Logística do PAC 20072010..................................................................................................................................... 118 Figura 12 – Sergipe. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 .................... 120 Figura 13 – Nordeste. Distribuição espacial da malha ferroviária ......................................... 124 Figura 14 – Nordeste. Malha ferroviária da Transnordestina Logística S/A .......................... 125 Quadro 1 – Comparativo entre as características do regime de acumulação Fordista e do Estado keynesiano com o regime de Finanças Mundializadas ................................................. 35 Quadro 2 – Determinantes dos investimentos mapeados para 2008-2011¹ .............................. 63 Quadro 3 – Nordeste: características de dependência e complementaridade da indústria no período 1995-2007 ................................................................................................................. 68 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Extensão das linhas ferroviárias em tráfego: período 1854-1930 (em Km) ........... 27 Gráfico 2 – Evolução das rodovias principais pavimentadas, por região: Período 19652004 (Em quilômetros) .......................................................................................................... 29 Gráfico 3 – Brasil: Variação % anual do PIB (1980-1999) .................................................... 33 Gráfico 4 – Brasil: PIB trimestral para índices selecionados (1995-1999)............................... 38 Gráfico 5 – Brasil: Utilização da capacidade instalada (1995-1999) ....................................... 38 Gráfico 6 – Brasil. Taxa de investimento industrial (Investimento da indústria/PIB Industrial) e Formação bruta de capital fixo/PIB .................................................................... 41 Gráfico 7 – Decomposição do crescimento do PIB brasileiro, em % (2002-2011) .................. 44 Gráfico 8 – Balança Comercial brasileira entre 2000 e 2010 (em US$ milhões) ..................... 45 Gráfico 9 – Impacto efeitos Preço e Quantum sobre o Comércio Exterior do Brasil no período 2001 a 2005 (em %) .................................................................................................. 46 Gráfico 10 – Exportações brasileiras por categoria de uso (participação %) no período 2000-2010.............................................................................................................................. 47 Gráfico 11 – Brasil. Evolução das classes sociais (% da população e milhões de indivíduos) ............................................................................................................................. 49 Gráfico 12 – Brasil. Operações de crédito com recursos livres e direcionados (2002-2010) .... 50 Gráfico 13 – Evolução do IPCA em % a.a. (1999-2010)......................................................... 50 Gráfico 14 – Geração líquida de empregos (1995-2010) ......................................................... 51 Gráfico 15 – Brasil. Evolução do Salário Mínimo (1990-2010) .............................................. 51 Gráfico 16 – Evolução do Programa Bolsa Família (2004-2010) ............................................ 52 Gráfico 17 – Brasil. Formação bruta de capital fixo, público e privado (% do PIB) ................ 56 Gráfico 18 – Investimento industrial brasileiro, por empresa (2004-2011) .............................. 57 Gráfico 19 – Brasil. Taxa de crescimento da produção industrial e de Bens de capital ............ 59 Gráfico 20 – Taxa de investimento¹ das Administrações Públicas no Brasil............................ 60 Gráfico 21 – Taxa de Investimento do governo Federal (2000-2010)...................................... 61 Gráfico 22 – Investimentos do setor Privado e das Estatais Públicas em Infraestrutura (R$ bilhões) .................................................................................................................................. 61 Gráfico 23 – Brasil. Distribuição de Operações de crédito em 2010 ....................................... 63 Gráfico 24 – Desembolsos do BNDES por setor em 2010 (R$ bilhões e % do total) ............... 64 Gráfico 25 – Série encadeada do volume do Produto Interno Bruto Regional e Brasil (1995-2009) 10 .............................................................................................................................................. 69 Gráfico 26 – Participação das Grandes Regiões e Unidades da Federação no Produto Interno Bruto (1995-2009) ..................................................................................................... 70 Gráfico 27 – Participação (%) setorial do Valor Adicionado por setores econômicos – Brasil e Nordeste (2008) ........................................................................................................ 73 Gráfico 28 – Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado – Região Nordeste (2008) ..... 74 Gráfico 29 – Decomposição do multiplicador da Indústria, Brasil, 1996 ................................. 76 Gráfico 30 – Nordeste. Exportação e Importação no período 2000-2010, em US$ FOB (milhões)................................................................................................................................ 78 Gráfico 31 – Evolução dos Investimentos em Infraestrutura por setor (em R$ bilhões) ........... 83 Gráfico 32 – Nordeste. Caracterização da Malha Rodoviária (2010) ..................................... 122 Gráfico 33 – Nordeste. Qualidade das Rodovias (2010) ....................................................... 123 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Movimento de capitais líquidos no Brasil 1994-2002 (em US$ milhões) ............... 37 Tabela 2 – Brasil. Comércio Exterior no período 1990-1999 (US$ Milhões FOB) .................. 39 Tabela 3 – Brasil. Indústria de transformação e extrativas: participação do valor adicionado por tipo de tecnologia (%) .................................................................................... 40 Tabela 4 – Brasil. Investimentos Estrangeiros Diretos 2000-2010 (líquido e relação IDE/PIB)................................................................................................................................ 54 Tabela 5 – Brasil. Investimentos líquidos em carteira 2000-2010 em milhões (US$) .............. 55 Tabela 6 – Expansão nos investimentos em infraestrutura¹ (2007-2010/ 2002-2005) .............. 62 Tabela 7 – Proporção de pessoas de 10 anos ou mais de idade recebendo até um salário mínimo e com até quatro anos de estudo nas diversas regiões brasileiras em 2007.................. 72 Tabela 8 – Evolução das taxas acumuladas e anuais da Indústria – Brasil e Nordeste (2004-2008) ........................................................................................................................... 74 Tabela 9 – Coeficientes de Exportação interestadual e internacional: Estados brasileiros, 1997....................................................................................................................................... 77 Tabela 10 – Brasil: Evolução do Saldo da Balança Comercial (2002-2007) (US$ Milhões) .... 79 Tabela 11 – Brasil e Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2004 por Setor .......... 85 Tabela 12 – Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2005-2006, Setores selecionados (em US$ milhões).............................................................................................. 86 Tabela 13 – Brasil e Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2007 por Setor .......... 87 Tabela 14 – Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2008-2009, Setores selecionados (em US$ milhões).............................................................................................. 88 Tabela 15 – Brasil e Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2010 por Setor .......... 90 Tabela 16 – Nordeste. Total de Investimentos Privados Anunciados entre 2004 e 2010, por Setor de Atividade Econômica (em US$ milhões) ............................................................ 92 Tabela 17 – Investimentos do PAC previstos entre 2007 e 2010 (em R$ bilhões) ................... 95 Tabela 18 – Investimentos do PAC previstos entre 2007 e 2010, por região (em R$ bilhões) .................................................................................................................................. 96 Tabela 19 – Previsão Total de Investimentos do PAC em Infra-Estrutura Logística entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ................................................................................................ 96 Tabela 20 – Previsão Total de Investimentos do PAC em Infra-Estrutura Logística entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ................................................................................................ 97 Tabela 21 – Programa Nacional de Dragagem dos Portos Brasileiros (2007) .......................... 99 12 Tabela 22 – Nordeste. Total de investimentos Geral e Logística¹ do PAC, por Estado (em R$ milhões) ...................................................................................................................... 101 Tabela 23 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado de Alagoas entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ....................................................................................................... 102 Tabela 24 – Alagoas. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) .................. 103 Tabela 25 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado da Bahia entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ....................................................................................................... 104 Tabela 26 – Bahia. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) ...................... 105 Tabela 27 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Ceará entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ....................................................................................................... 106 Tabela 28 – Ceará. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) ...................... 107 Tabela 29 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Maranhão entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ....................................................................................................... 108 Tabela 30 – Maranhão. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) ............... 109 Tabela 31 – Maranhão. Empreendimentos de caráter regional do PAC (em R$ milhões) ... 110 Tabela 32 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado da Paraíba entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ....................................................................................................... 112 Tabela 33 – Paraíba. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões).................... 113 Tabela 34 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado de Pernambuco entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ........................................................................................... 114 Tabela 35 – Pernambuco. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) ............ 115 Tabela 36 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Piauí entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ....................................................................................................... 116 Tabela 37 – Piauí. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) ....................... 117 Tabela 38 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Rio Grande do Norte entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ................................................................................... 118 Tabela 39 – Rio Grande do Norte. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) ............................................................................................................................ 119 Tabela 40 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado de Sergipe entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) ....................................................................................................... 120 Tabela 41 – Sergipe. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) ................... 121 Tabela 42 – Brasil. Investimentos mapeados na Infraestrutura 2011-2014 ......................... 127 Tabela 43 – Brasil. Crescimento dos Investimentos em Infraestrutura* ............................. 127 13 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS E QUADRO ..................................................................................... 08 LISTA DE GRÁFICOS ....................................................................................................... 09 LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... 11 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 1.1. Contextualização e justificativa da pesquisa ......................................................... 15 1.2. Problema de pesquisa ............................................................................................. 17 1.3. Hipótese .................................................................................................................. 17 1.4. Objetivos ................................................................................................................. 18 1.5. Metodologia ............................................................................................................ 18 1.6. Estrutura da dissertação ........................................................................................ 20 2. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................. 22 2.1 A Teoria do Investimento Keynes-Minsky ............................................................ 22 2.2 Evolução histórica dos investimentos em Transportes no Brasil .......................... 25 3. AS DÉCADAS PERDIDAS E A RETOMADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL: DA RESTRIÇÃO EXTERNA AO AVANÇO ENDÓGENO .......................................................................................................... 32 3.1. As décadas perdidas: 1980-1990 ............................................................................ 32 3.2. Anos 2000: retomada do crescimento econômico brasileiro ................................. 42 3.2.1. O início do governo Lula e o estímulo proveniente das exportações ....................... 43 3.2.2. Crédito, emprego e renda: crescimento da demanda interna .................................. 48 4. DINÂMICA RECENTE DOS INVESTIMENTOS E CRESCIMENTO ENDÓGENO .......................................................................................................... 53 4.1. Investimentos na Indústria .................................................................................... 56 4.2. Investimentos em Infraestrutura ........................................................................... 58 5. CARACTERIZAÇÃO E POSICIONAMENTO DO NORDESTE NA DINÂMICA RECENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA .................................. 65 14 5.1. Caracterização econômica e panorama recente .................................................... 65 5.2. Comércio exterior ................................................................................................... 73 6. INVESTIMENTOS PRODUTIVOS E EM INFRAESTRUTURA NA REGIÃO NORDESTE NO PERÍODO 2000-2010 ................................................ 81 6.1. Investimentos produtivos no Nordeste entre 2004 e 2010: caracterização por setores de atividade econômica e estados receptores............................................. 83 6.2. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Nordeste e os investimentos em infraestrutura Logística e de Transportes................................ 92 6.2.1. Investimentos em infraestrutura Logística e de Transportes no Nordeste: análise por estado .................................................................................................... 99 6.2.1.1. Alagoas .................................................................................................................. 100 6.2.1.2. Bahia ...................................................................................................................... 102 6.2.1.3. Ceará ...................................................................................................................... 105 6.2.1.4. Maranhão ............................................................................................................... 107 6.2.1.5. Paraíba ................................................................................................................... 110 6.2.1.6. Pernambuco ........................................................................................................... 112 6.2.1.7. Piauí ....................................................................................................................... 115 6.2.1.8. Rio grande do norte ................................................................................................ 116 6.2.1.9. Sergipe ................................................................................................................... 118 6.2.2. Panorama da Infraestrutura Logística da Região Nordeste em 2010.................... 121 7. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 127 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 133 15 1. INTRODUÇÃO Nesta introdução, tem-se um prelúdio de toda a dissertação. Inicialmente é apresentada a contextualização da mesma, a partir de explanação acerca da dinâmica econômica dos períodos analisados (de 1980 aos anos 2000). Apresenta-se a problemática de pesquisa, hipótese estabelecida e os objetivos (o geral e os específicos). Segue-se a metodologia aplicada e a estrutura da dissertação. 1.1. Contextualização e justificativa da pesquisa A economia brasileira enfrentou duas décadas de atraso (1980 e 1990), com sérios desdobramentos econômicos e sociais, como: crise nas dívidas interna e externa, aumento dos níveis de desemprego, queda e piora na distribuição de renda, forte retração dos investimentos e agravamento das desigualdades regionais. O descontrole de preços com a hiperinflação prejudicou tanto o setor produtivo quanto a população em geral, além do governo, que enfrentou problemas com desequilíbrio fiscal, resultado da queda da arrecadação e aumento dos gastos públicos. A década de 1990 foi marcada pela estabilização da economia com a criação do Plano Real, em 1994. O mecanismo de indexação e conversão da URV (Unidade Real de Valor) em Real estabilizou os preços e as expectativas dos agentes econômicos; a política de juros elevados trouxe divisas estrangeiras para o país, necessárias para a manutenção da paridade cambial adotada e para a estabilidade dos preços domésticos. Outras medidas que vieram com o plano de estabilização foram: ajuste fiscal, política monetária restritiva, abertura da economia (de forma prematura e radical) aos capitais externos e as privatizações. Apesar da estabilidade monetária, o novo plano de estabilização aprofundou desequilíbrios estruturais já existentes na economia e desencadeou uma profunda instabilidade macroeconômica. A economia apresentava profundo desequilíbrio externo, baixos índices de investimento produtivo e em infraestrutura, além do mercado interno estagnado. O crescimento da economia dependia de indução externa, sendo que os anos 90 foram marcados por crises internacionais (México/1994, Sudeste asiático/1997, e Rússia/1998), que afetaram negativamente a economia brasileira. Levando inclusive ao abandono do regime de câmbio fixo e ao estabelecimento do que se convenciona chamar o “tripé” de política econômica no Brasil: câmbio flutuante, regime de metas inflacionárias e metas de superávit primário. 16 O período 1995-1999 e início dos anos 2000 no Brasil foram característicos de crescimento econômico em trajetória “stop and go” , com FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) em torno de 17% (baixa para sustentar taxas vigorosas de incremento do produto) e perda de dinamismo industrial, mesmo com a abertura comercial e econômica no país. O novo arranjo produtivo brasileiro do período em questão, apoiado nos capitais estrangeiro e privado doméstico, foi deteriorado pelos altos custos de capital e pela não observância de melhora no ambiente de investimentos. Prova disso foi que os investimentos em infraestrutura e expansão industrial de setores intensivos em capital, por exemplo, foram desestimulados. Isso comprometeu a formação de uma base sólida de crescimento contínuo para a economia do país. Crescimento este que viria a ocorrer nos anos 2000, trazendo profundas transformações não apenas para a economia, mas para a sociedade brasileira. Num primeiro momento, a retomada do crescimento econômico foi baseada na demanda externa, com a forte recuperação das exportações, de básicos a manufaturados, e aumento da corrente de comércio. O crescimento dos setores voltados ao exterior, principalmente commodities, aliado a um conjunto de políticas de geração de emprego, renda, transferências governamentais e expansão do crédito, desencadearam em forte crescimento da demanda doméstica. A grande marca dessa mudança foi consubstanciada pelo surgimento da nova classe média brasileira, um contingente atual de cerca 100 milhões de pessoas com grande potencial de consumo, desde alimentos a bens de consumo durável. A emergência desta nova classe consumidora atrai o interesse de capitais nacionais e estrangeiros, interessados em se instalar no mercado brasileiro e conquistar fatia significativa desses consumidores. Em síntese, os fatores que estimularam a expansão do mercado interno foram: a) Expansão do emprego e, consequentemente, maior geração de renda; b) Expansão do crédito, tanto pessoa física quanto jurídica; c) Ampliação dos programas sociais; d) Estabilidade de preços; e) Política de valorização contínua do salário-mínimo; f) Aumento das taxas de investimento. O panorama de crescimento da economia nacional também refletiu o crescimento das regiões, em especial do Nordeste, principal beneficiada pelos programas de transferência de renda e pelo efeito do aumento dos empregos formais sobre a geração de renda (por concentrar grande proporção de trabalhadores remunerados pelo salário-mínimo). 17 A região também atraiu grandes volumes de investimentos destinados à implantação de novas plantas produtivas e expansão da capacidade existente, com foco na expansão do mercado interno regional e nas exportações. O atraso nordestino em relação às demais regiões do país, e a existência de mecanismos de incentivo fiscal e custo da mão de obra contribuem para a maior atração de investimentos produtivos para o Nordeste. Porém a região ainda é bastante carente de infraestrutura, seja ela básica ou de transportes, fator que prejudica a atração de investimentos produtivos que efetivamente agreguem valor à economia nordestina e dificulta um crescimento mais robusto. 1.2. Problema de pesquisa O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) pelo Governo Federal em 2007 se deu num ambiente de crescimento da economia, porém com o discurso de recuperação da capacidade de planejamento do desenvolvimento a partir do Estado, e de indução ao crescimento interno sustentável. O PAC se propunha a criar um ambiente econômico propício à expansão dos investimentos privados, ao estimular a economia com inversões em infraestrutura a partir de três eixos básicos: Logística (transportes), Energia, e Social e Urbano. Investimentos públicos no sentido de prover infraestrutura adequada ao país incentivam o aumento de inversões pela indústria, desde que haja disponibilidade de financiamento (crédito) e expectativas positivas quanto à dinâmica econômica. E em termos de infraestrutura, destaca-se aquela referente à Logística e Transportes, capaz de expandir fronteiras produtivas, conectar mercados e gerar escala em termos de produção e comercialização. Logo, o problema de pesquisa envolve a elucidação do seguinte questionamento: “Os investimentos em infraestrutura realizados no Nordeste, nos anos 2000, foram efetivamente capazes de contribuir para a consolidação de um mercado interno regional e do comércio exterior nordestino?”. 1.3. Hipótese As hipóteses são afirmações que respondem ao problema, de modo antecipado. [...] devem ser colocadas para informar ao leitor a que possíveis soluções ou explicações se 18 propõe o pesquisador, mostrando o que a pesquisa pretende testar. (SANTOS; CANDELORO, 2006, p. 117). Eis aqui a hipótese desta dissertação: a relação de indução e criação de um ambiente econômico propício a novos negócios que os investimentos em Infraestrutura Logística e de Transportes exercem sobre as intenções de investimentos dos empresários, nos diversos setores da atividade econômica, voltando-se o ambiente de análise para a região Nordeste do Brasil nos anos 2000. O arcabouço teórico é dado pela Teoria de Investimento Keynes-Minsky, descrita por Feijó (2008). 1.4. Objetivos O objetivo geral desta dissertação, portanto, é analisar a real contribuição dos investimentos em Infraestrutura Logística e de Transportes na atração de novos investimentos produtivos, voltados ao mercado interno e comércio exterior, para a economia nordestina nos anos 2000. Como objetivos específicos, necessários para a consecução do objetivo maior desta pesquisa, têm-se: a) Analisar, de forma geral, o panorama econômico das décadas de 1980 e 1990, com suas influências para a década seguinte; b) Analisar o panorama econômico dos anos 2000, segmentando as etapas de indução ao crescimento econômico: exógena (2000-2005) e endógena (20062010); c) Descrever os aspectos que estimularam o crescimento do Nordeste em termos dos fatores de estímulo ao crescimento econômico brasileiro; d) Caracterizar os investimentos previstos nos diversos setores de atividade econômica da região Nordeste entre 2004-2010; e) Caracterizar os investimentos em Infraestrutura Logística e de Transportes previstos no PAC para a região Nordeste entre 2007-2010. 1.5. Metodologia Conforme Santos e Candeloro (2006), a metodologia deve explicar, dentre uma série de conformidades, o tipo de pesquisa, o delineamento a ser utilizado e as variáveis a serem estudadas. 19 A pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas. Assim, ela parte de uma dúvida ou de um problema, buscando uma resposta ou solução, com o uso do método científico. Pesquisa também é uma forma de obtenção de conhecimentos e descobertas acerca de um determinado assunto ou fato. (FONSECA, 2009, p. 21). Em termos de tipo, a pesquisa pode ser qualitativa, quantitativa ou quali-quanti (que envolve ambas as abordagens). Quanto ao delineamento, temos que a pesquisa pode ser descritiva, exploratória ou explicativa, para citar os principais. Para esta dissertação, a metodologia aplicada é qualitativa, com delineamento descritivo-exploratório. As pesquisas de delineamento descritivo-exploratório têm o objetivo fundamental de proporcionar ampla visão sobre o tema selecionado. (SANTOS; CANDELORO, 2006, p. 73). As pesquisas de delineamento descritivo têm como objetivo descrever as características de um fenômeno ou de um fato, estabelecendo relações entre suas variáveis. O que atende aos objetivos propostos, visando caracterizar, por exemplo, a dinâmica dos investimentos em infraestrutura na região Nordeste e relacioná-la aos investimentos produtivos realizados no mesmo período. A pesquisa descritiva [...] descreve uma realidade tal como esta se apresenta, conhecendo-a e interpretando-a por meio da observação, do registro e da análise dos fatos ou fenômenos (variáveis). Ela procura responder questões do tipo “o que ocorre” na vida social, política, e econômica, sem, no entanto, interferir nessa realidade. (FONSECA, 2009, p. 22). Familiarizar-se com um fenômeno ou descobrir nova percepção do mesmo é um dos objetivos desse tipo de pesquisa. O aspecto exploratório condiciona duas particularidades ao delineamento descritivo-exploratório. Primeiro por não condicionar o uso obrigatório da coleta de dados, o que não se aplica a esta pesquisa, visto a necessidade de se utilizar dados macroeconômicos e os referentes aos números do PAC na região Nordeste, para exemplificar. Em segundo lugar, traz a necessidade de se realizar uma boa pesquisa bibliográfica, o que é feito nos três primeiros capítulos, além do referencial teórico, onde é dada maior ênfase tanto aos investimentos e à história do setor de transportes no Brasil quanto à Teoria de Investimento Keynes-Minsky. A pesquisa bibliográfica fornece a base teórica necessária ao desenvolvimento da dissertação, de forma a amparar científicamente a análise dos dados utilizados. 20 A pesquisa bibliográfica deve ser somada, necessariamente, a todo e qualquer outro tipo de pesquisa ou trabalho científico, constituindo uma base teórica para o desenvolvimento de todo trabalho de investigação em ciência. [...] A pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras. É necessário refletir sobre ela para que se possa articular e correlacionar as informações obtidas com o objeto de estudo. (FONSECA, 2009, p. 21). 1.6. Estrutura da dissertação A dissertação está dividida em seis capítulos, incluindo esta introdução, e conclusão. O segundo capítulo contém o Referencial Teórico, baseado na Teoria de Investimento Keynes-Minsky, uma breve aplicação à conjuntura econômica brasileira na década de 1990, e uma análise da evolução histórica dos investimentos em transportes no país. No terceiro capítulo é feita uma análise do panorama econômico brasileiro nas décadas de 1980 e 1990, com uma descrição geral do processo de mundialização financeira, ressaltando seus condicionantes (como a globalização, a revolução da informática e o neoliberalismo, para citar alguns) e conseqüências (como a prevalência do aspecto financeiro em detrimento do produtivo, estagnação econômica, instabilidade macroeconômica internacional, etc.). A situação econômica, desde o advento do Plano Real (1994), passando pela instabilidade macroeconômica interna, e a retomada do crescimento econômico (anos 2000) com a recuperação das exportações e as variáveis que estimularam o crescimento do mercado interno, também foram avaliados. O quarto capítulo analisa a dinâmica recente dos investimentos na economia brasileira e o crescimento econômico baseado na indução endógena, avaliando o panorama de atração de investimentos externos e a execução de investimentos produtivos no país, principalmente na indústria e em infraestrutura. O Nordeste brasileiro é tratado a partir do quinto capítulo, com a descrição de sua inserção na nova dinâmica de crescimento no país e quais os fatores, dentre os que explicam o crescimento nacional, foram determinantes para o crescimento do mercado nordestino, em termos internos e de comércio exterior. 21 O sexto capítulo apresenta os resultados da dissertação, caracterizando os investimentos produtivos e em Infraestrutura Logística e de Transportes na região Nordeste no período analisado. Avalia-se a influência destes quanto ao real papel de indutores dos primeiros e a criação de ambiente propício para intenções de inversões direcionadas à economia regional, a partir da Teoria de Investimento Keynes-Minsky. Uma breve caracterização da infraestrutura nordestina pós-2010 e algumas contribuições em termos de intervenções são postas ao final do capítulo e nas considerações finais. 22 2. REFERENCIAL TEÓRICO Neste tópico, que contém o referencial teórico, serão tratados: a Teoria de Investimento Keynes-Minsky, e breves considerações acerca da evolução dos investimentos em transportes no Brasil. 2.1. A Teoria do Investimento Keynes-Minsky Investimentos são fundamentais para um crescimento econômico sustentável, seja para uma nação ou organização. Em conjunturas de crise, sua importância é atribuída na medida em que governos podem incentivá-lo como medida anticíclica e estímulo à atividade econômica. Os investimentos também são importantes para o setor privado, na medida em que permitem o crescimento das empresas e a expansão do comércio e dos mercados. Realizados pelo setor público ou setor privado, contribuem com o aumento do emprego e renda. No caso da esfera governamental, não há a obrigatoriedade de rentabilidade pelas inversões realizadas. Por essa razão o papel do governo é considerado fundamental, por exemplo, para estimular setores econômicos nascentes e mesmo para atuar em setores que exigem grandes quantidades de investimento e oferecem retornos arriscados e mesmo pouca rentabilidade, como tecnologia e saneamento básico, respectivamente. Para as empresas privadas a necessidade de realizar inversões conflita com a disponibilidade de recursos, próprios e de terceiros (o que remete à situação do crédito no sistema bancário e na economia). Além disso, ainda há os conflitos de interesse no bloco de controle das companhias, metas a atingir, os ditames do mercado de capitais e outras questões que devem ser consideradas quando da escolha dos investimentos mais rentáveis e de melhor percepção de risco. Keynes foi o primeiro economista a reconhecer o papel dos investimentos e sua capacidade de estímulo à atividade econômica, como forma de superar quadros de estagnação econômica e crise. Demonstrou também o trade-off entre inversões em ativos reais e em ativos financeiros. Keynes desenvolveu sua teoria de investimento como uma teoria de escolha de ativos. Para ele, nas economias modernas, a existência de ativos financeiros e monetários sob condições de incerteza não probabilística representava um obstáculo ao investimento em capital fixo por possuírem um atributo inexistente nos bens de 23 capital: liquidez. Para que investimentos fossem realizados, o retorno esperado do investimento em bens de capital deveria ser suficientemente alto para compensar seus riscos, já que se as expectativas fossem desapontadas, tentativas de livrar-se desses ativos poderiam causar elevadas perdas. (FEIJÓ, 2008, p. 202). Ainda conforme Feijó (2008), Keynes conclui que a decisão de escolha de ativos não é independente de outras escolhas disponíveis, permitindo o estudo do comportamento do investimento agregado como resultado de escolhas dos agentes privados quando comparam várias formas de acumular riqueza. Ou seja, há relação com a formação de expectativas dos agentes quanto à rentabilidade futura, aos retornos de longo prazo. Porém, as decisões, mesmo que relacionadas ao futuro, são tomadas no presente. O futuro será, para Keynes, fruto das decisões empresariais, tomadas no presente no processo de valorização dos seus capitais. Os agentes econômicos, e de uma maneira particular os empresários, decidem seus investimentos e financiamentos no momento presente. Mesmo que se recorde o passado e especule sobre o futuro não se tem conhecimento suficiente sobre o devir. (BRAGA NETO, 2001, p. 11). Minsky, fornecendo uma contribuição importante à teoria do investimento de Keynes, reconheceu o impacto sobre o balanço das empresas das decisões de investimento, considerando que a decisão de investir envolve duas escolhas: qual tipo de ativo a ser adquirido e como financiar sua aquisição. Segundo Keynes, a escolha por investimento em recursos menos líquidos demonstra um alto grau de confiança no futuro e vice-versa. Segundo Minsky, a forma de financiar a aquisição de um ativo depende tanto da capacidade de geração interna de fundos pelas firmas como das condições de financiamento oferecidas pelo mercado financeiro. (FEIJÓ, 2008, p. 203). As condições em que recursos externos à firma podem ser obtidos funcionam como um incentivo ou um desestímulo ao investimento 1. (FEIJÓ, 2008, pp. 203-204). No tocante à geração de fundos internos, a margem operacional bruta e o grau de endividamento da firma são determinantes para que a mesma possa financiar seus investimentos. 1 Segundo Feijó (2008, p. 205), as empresas ainda têm alternativas em caso de falha em suas apostas de investimento. “Caso, ao longo do processo de investimento, suas expectativas de lucro não sejam validadas pela demanda, a firma ainda pode dar continuidade ao projeto, desde que o sistema financeiro seja capaz de prover as necessidades de financiamento das empresas”. 24 O cumprimento dos compromissos da firma pressupõe que os preços relativos relevantes para a firma se comportem conforme o esperado. A sustentabilidade do investimento implica a contínua expansão da economia, garantindo a geração de renda que valide as expectativas de lucro dos empresários. (FEIJÓ, 2008, pp. 205206). Na década de 1990 e início dos anos 2000 o investimento em ativos fixos não melhorou, apesar da estabilização da economia e abertura econômica e financeira, com conseqüências negativas sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira. “As mudanças ocorridas não produziram um ambiente de confiança suficiente que contribuísse para a retomada de investimento em volume e de qualidade necessários para a promoção de um novo ciclo expansivo de crescimento”. (FEIJÓ, 2008, p. 207). Feijó ainda afirma (2008) que dada a prioridade de política monetária em controlar a taxa de inflação, encarecendo o custo do capital com uma elevada taxa de juros, os investimentos produtivos foram direcionados à atividades com alta expectativa de rentabilidade e rápido retorno. Isso comprometeu os investimentos em infraestrutura e em setores intensivos em capital, estes oriundos principalmente do setor privado, inversões estas necessárias a manutenção de um crescimento econômico sustentável. A baixa confiança nos prognósticos econômicos (1994-1998), e inseguranças quanto à elevação da carga tributária e os marcos regulatórios nos segmentos de infraestrutura (1999-2005), comprometeram as expectativas dos agentes quanto ao ambiente macroeconômico brasileiro. As decisões dos agentes, portanto, foram orientadas por expectativas de curto prazo. Portanto, para incentivar a indústria é preciso que haja investimentos públicos que garantam infraestrutura adequada, disponibilidade de fontes financiadoras e boas expectativas em torno da situação econômica. De acordo com a Teoria de Investimento Keynes-Minsky, descrita por Feijó (2008, p. 206), “a dinâmica do sistema econômico depende não apenas de quanto os empresários decidem gastar em bens de capital, mas também de como financiam novos planos”. Esse investimento nas infraestruturas, principalmente de transportes, deve partir do Estado. Ou o mesmo deve passar à iniciativa privada, com regras claras, a concessão destes serviços. As teorias de desenvolvimento englobam os transportes como fator de atratividade e competitividade às economias. 25 As infraestruturas de transporte normalmente exigem a propriedade ou a regulamentação do governo, em razão de sua natureza inerentemente monopolista. Na ausência de um monopólio, a desregulamentação e as forças de mercado são um mecanismo eficaz. (CHOPRA; MEINDL, 2011, p. 382). A sinalização de aumento nestes investimentos por parte da esfera pública contribui para a melhora do ambiente econômico e, consequentemente, influencia nas expectativas dos agentes privados quanto à realização de inversões no setor produtivo. Condições de financiamento desses investimentos também são importantes. Alinhado à Teoria do Investimento Keynes-Minsky, esta dissertação se propõe avaliar a relação entre os investimentos produtivos e em infraestrutura Logística e de Transportes no Brasil, voltados à região Nordeste, nos anos 2000. 2.2. Evolução histórica dos investimentos em Transportes no Brasil As discussões sobre desenvolvimento ganham força em períodos de crescimento econômico, quando se discutem os rumos do ritmo de crescimento e se o mesmo se configura como componente efetivo do desenvolvimento econômico. Segundo Souza (2005a, p. 19), a discussão sobre o desenvolvimento econômico brasileiro tem início com os estudos da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (CMBEU), entre 1951-1953, e do grupo misto BNDES-CEPAL, de 1953 a 1955, quando, a partir de teses keynesianas (como no Plano de Metas de JK entre 1956 e 1960), foram apontados os principais problemas da economia brasileira. Entre os problemas mais graves apontados por estas análises estavam a carência de infra-estrutura, a exemplo da energia, TRANSPORTES e comunicações, uma produção agrícola insuficiente, sobretudo ALIMENTOS, a oligopolização da produção agrícola e sua comercialização, dentre outros (DANTAS JR, 2010, p. 56). Segundo Barat (2007d), nos sucessivos planos de governo elaborados entre os finais dos anos 40 e 50, o sistema de transportes era visto como fator de estímulo à expansão do PIB, pelo lado da demanda e da oferta, sendo, portanto, um importante elemento de indução ao desenvolvimento econômico. 26 Transporte refere-se ao movimento de produto de um local para outro enquanto ele prossegue do início de uma cadeia de suprimentos2 até o cliente. O transporte é um fator importante da cadeia de suprimentos porque os produtos raramente são produzidos e consumidos no mesmo local. (CHOPRA; MEINDL, 2011, p. 374). No entanto, o surgimento e crescimento do setor de transportes são anteriores a esse período e se confundem com o advento do setor ferroviário no país (gráfico 1), que, conforme Barat (2007d) foi implantado para atender às necessidades de uma economia exportadora de produtos primários, característica marcante da economia brasileira, com ferrovias dirigidas do interior para os portos regionais. Gráfico 1 – Extensão das linhas ferroviárias em tráfego: período 1854-1930 (em Km). 35.000 32.478 30.732 30.000 28.300 26.062 25.000 21.326 20.000 16.781 15.316 15.000 12.967 9.973 10.000 6.930 5.000 3.398 1.800 15 223 498 745 1854 1860 1865 1870 0 1875 1880 1885 1890 1895 1900 1905 1910 1915 1920 1925 1930 Fonte: IBGE apud Barat (2007a, p. 24). O intercâmbio comercial era tipicamente entre produtos agropecuários e extrativistas e manufaturados leves de consumo e equipamento pesado. Ou seja, uma relação comercial centro-periferia, fundamentada a partir do predomínio dos modais ferroviário (transporte e movimentação interna) e marítimo (transporte e movimentação externa). A periferia latino-americana nasceu sob a égide da expansão dos estados territoriais originários, sendo parte constitutiva dos grandes negócios comerciais que 2 Para uma definição de cadeia de suprimentos, ver: BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos / logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. 27 conformaram a etapa inicial da história capitalista. Nascida como apêndice de um processo que tinha seu centro em outro lugar, impulsionada por um movimento externo a si mesma, essa periferia funcionou, por muito tempo, apenas como reserva patrimonial e praça comercial (...). (PAULANI, 2007, p. 303) O caráter primário-exportador da economia brasileira e a consequente falta de planejamento regional desses investimentos caracterizaram a configuração de economias exportadoras regionais, isoladas umas das outras. Some-se o advento da segunda guerra mundial, que trouxe consigo o arrefecimento do comércio exterior brasileiro com as economias desenvolvidas e a necessidade de passar a produzir internamente o que antes se importava, e, a partir disso, a configuração de um mercado consumidor nacional. A própria configuração do comércio exterior brasileiro é contestada, em termos do que se exporta e importa, ao nível de produtos e conseqüente agregação de valor. A partir disso, surgem os postulados em prol do estímulo à industrialização, no Brasil e na América Latina, no âmbito da substituição de importações. “(...), o economista argentino Raúl Prebish vai encontrar na DETERIORAÇÃO DOS TERMOS DE TROCA vigentes nas relações comerciais que envolviam, de um lado, países industrializados do Centro e, de outro, países produtores de matériasprimas e bens agrícolas da Periferia, a razão maior do não desenvolvimento dos países latino-americanos, indicando também, em conseqüência, como única forma de solucionar o problema, a rápida e progressiva industrialização dos últimos.” (PAULANI, 2007, p. 306-307) A entrada de grandes montadoras estrangeiras de automóveis, para produção no país, fez com que as ferrovias, antes tidas como propulsoras do crescimento econômico do país, perdessem espaço para as rodovias. Estas geraram retornos maiores e mais rápidos em seus investimentos e possibilitaram a integração, ainda que deficiente, dos mercados regionais brasileiros, favorecendo o processo de industrialização. Além disso, os automóveis que seriam produzidos no país precisariam ser não apenas absorvidos pelo mercado consumidor nacional, mas também de uma estrutura de transportes pronta para seu uso. No caso, as rodovias. As diferenças de bitolas e as deficiências de traçado das ferrovias, somadas aos altos custos de construção e aos períodos mais longos de maturação de novos investimentos na infra-estrutura ferroviária, transferiram para as rodovias o papel de destaque na consolidação de um mercado de âmbito nacional. (BARAT, 2007d, p.7) 28 Assim, os altos níveis dos investimentos em transportes nas décadas de 60 e 70 foram motivados pelos acréscimos nos volumes de produção, pela dinâmica de expansão das fronteiras econômicas e pelo processo de ocupação territorial – associados ao período de industrialização acelerada – que exigiram vultosos recursos nas infraestruturas de logística e transporte. A partir da década de 1970 a extensão das rodovias pavimentadas no país seguiu tendência de alta em todas as regiões do país, como exposto no gráfico 2. Gráfico 2 – Evolução das rodovias principais pavimentadas, por região: Período 1965-2004 (Em quilômetros). 60000 51881 51080 50000 40000 32542 1970 30000 24060 20000 1980 1990 2004 13796 10000 0 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Fonte: Barat (2007c, p. 42). No âmbito das ferrovias, conforme Barat (2007d), nos anos 60 e 70 tanto as pertencentes ao sistema da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A) como as administradas pelo governo de São Paulo (Fepasa – Ferrovias Paulistas S/A) apresentaram graves desequilíbrios financeiros. Resultado de déficits operacionais crônicos e o excesso de subvenções que, ao invés de dar eficiência ao sistema, contribuíam para ampliar as deficiências estruturais das ferrovias. Assim, a expansão das estradas e a consolidação do modal rodoviário foram favorecidas pari passu a perda de importância das ferrovias. No entanto, o prolongado quadro recessivo que assolou a economia brasileira nos anos 80 e 90, com a crise da dívida, provocou uma queda brutal dos investimentos públicos 29 nas infraestruturas econômicas em geral, o que ocasionou a redução da própria FBCF, de uma média de 23,6% do PIB entre 1972 e 1982 para 19,4% do PIB entre 1992 e 2002 – assim como da participação dos investimentos em transportes. Barat (2007c) ressalta que o processo de privatização de rodovias e ferrovias, a partir de meados dos anos 90, contribuiu para a recomposição parcial dos investimentos com recursos das concessionárias privadas. As privatizações de rodovias na década de 1990 foram concentradas no Sudeste e Sul do país, em trechos considerados importantes para o escoamento da produção nas áreas mais dinâmicas do país, em termos de produção e consumo. No caso das ferrovias, o programa de privatizações manteve a distribuição existente, ou seja, as malhas regionais foram divididas entre empresas diferentes, mantendo a estrutura característica voltada para o simples escoamento de produtos e sem integração regional. Cite-se ainda a baixa capilaridade do modal ferroviário no Brasil, comparado a outros países de dimensão continental, como EUA e, mais recentemente, a China. Contudo, apesar de números positivos no passado e as privatizações da década de 1990, os investimentos em transportes e na própria infraestrutura econômica, em geral, foram concentrados espacialmente. A ideia de formação de um mercado consumidor a partir de um processo de industrialização e de criação de uma rede de transportes a nível nacional foi relegada às regiões Norte e Nordeste, por exemplo, prejudicando ainda mais o dinamismo econômico e o desenvolvimento das mesmas. E mesmo a criação da rede de transportes e a alocação dos investimentos nos diversos modais, apesar de possuírem o discurso do fomento ao desenvolvimento nacional, seguiam influências externas à economia brasileira, contribuindo para a formação de pólos dinâmicos em determinadas regiões e setores. E a infraestrutura de transportes fora direcionada para atender a esses pólos, e não às necessidades de incremento produtivo, geração de renda e integração regional. Podemos pensar na rede de transporte como uma coleção de nós e ligações. O transporte começa e termina nos nós e trafega pelas ligações. Para a maioria dos modos de transporte, a infraestrutura, como portos, estradas, hidrovias e aeroportos, é necessária tanto nos nós quanto nas ligações. (...) A política de transporte define a direção da quantidade de recursos nacionais que vão para a melhoria da infraestrutura de transporte. (CHOPRA; MEINDL, 2011, p. 375). 30 Araújo (2006a) enfatiza que o processo de crescimento econômico provoca aumento da demanda de transporte, buscando acesso físico a mercados cada vez mais distantes para os produtos de consumo final e intermediário. Dessa forma, uma debilidade no setor de transporte, limita o desenvolvimento, tanto porque provoca restrições a possíveis ganhos oriundos do comércio, como pode afetar a produtividade de outras atividades produtivas, haja vista que estas estão interligadas num sistema. Os transportes, como atividade meio de apoio à produção de bens e serviços, são essenciais para o aproveitamento do potencial produtivo de um país ou região, devido sua influência positiva sobre a formação de capital, ocupação da mão-de-obra, consumo de insumos energéticos e formação de clusters produtivos e eixos de desenvolvimento. Da logística e do transporte são exigidos, portanto, desempenhos ligados à eficiência e ao dinamismo dos setores produtivos, contribuindo para elevar o binômio produtividade/ renda e propiciando, em conseqüência, transformações na estrutura econômica. (BARAT, 2007c, p. 40) É necessário, assim, que os investimentos propostos para as infraestruturas de logística e transporte resultem de uma articulação efetiva com os objetivos de expansão dos mais importantes setores produtivos, sob o risco de serem geradas ociosidades, ineficiências ou estrangulamentos. A partir disso, pode-se refletir sobre a importância das infraestruturas de transportes em termos de sua relação e contribuição quanto ao escoamento da produção e seu papel quanto à integração produtiva das regiões brasileiras. Uma função primordial do transporte é reduzir custos logísticos não apenas das exportações, mas também do abastecimento interno. Para tal, deve-se abandonar a visão clássica sobre o investimento na infra-estrutura de transporte (obra pública, projeto de engenharia e modal isolado) e tomar uma VISÃO MODERNA (serviço, componente da cadeia logística, e concepção multimodal). (BARAT, 2007c, p. 57). Ballou (2006) fala da importância dos transportes na criação de um alto nível de atividade econômica, comparando nações desenvolvidas com nações em desenvolvimento. Estas últimas têm como características, por exemplo, "(...) a ocorrência da produção e do consumo em áreas geograficamente próximas (...)" (BALLOU, 2006, p. 149). 31 Os modais de transporte e todos os agentes envolvidos direta e indiretamente em seu escopo, além do setor produtivo demandante desses serviços, tem papel fundamental não apenas na garantia da mobilidade humana, mas também na garantia do suprimento, escoamento e comercialização da produção da economia. Mais especificamente, um sistema de transportes eficiente e barato contribui para intensificar a competitividade no mercado, aumentar as economias de escala na produção e reduzir os preços dos produtos em geral. (BALLOU, 2006, p. 150). A trajetória dos investimentos em infraestrutura Logística e de Transportes sofreu oscilações e mudanças desde a década de 1990, e se mostra fundamental a retomada do planejamento e política de transportes a superação das crônicas deficiências logísticas do Brasil (do abastecimento à produção, estocagem, armazenagem e distribuição). Questão fundamental para que o país continue sua trajetória de crescimento econômico. 32 3. AS DÉCADAS PERDIDAS E A RETOMADA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL: DA RESTRIÇÃO EXTERNA AO AVANÇO ENDÓGENO Neste capítulo é feita uma análise do panorama econômico brasileiro nas décadas de 1980 e 1990, com ênfase no advento do Plano Real (1994), passando pela instabilidade macroeconômica interna, e a retomada do crescimento econômico (anos 2000), com suas variáveis condicionantes e principais conseqüências. 3.1. As décadas perdidas: 1980-1990 A economia brasileira enfrentou duas décadas de atraso, os anos 1980 e 1990, com sérios desdobramentos econômicos e sociais: crise nas dívidas interna e externa, aumento dos níveis de desemprego, queda no rendimento dos trabalhadores, piora na distribuição de renda, agravamento das desigualdades regionais, queda nos investimentos e tantos outros que merecem destaque. Naturalmente foram vinte anos de instabilidade na trajetória do produto interno bruto (PIB), como observado no gráfico 3. Gráfico 3 – Brasil: Variação % anual do PIB (1980-1999) 10 8 6 Variação % 4 2 0 -2 -4 -6 Fonte: Banco Central do Brasil (2011), elaboração do autor. Legenda: PIB em R$, a preços de 2010. 33 Mesmo nos anos 1990, década marcada pela estabilidade da economia após a implantação do Plano Real, alguns problemas econômicos persistiram, e mesmo outros foram agravados, resultado da própria condução do plano. O Plano Real atingiu o seu objetivo explícito, e mais imediato, que era derrubar a inflação. No entanto, o caminho trilhado para alcançar a estabilidade dos preços aprofundou desequilíbrios estruturais já existentes, bem como criou novos, desencadeando uma profunda instabilidade macroeconômica. (FILGUEIRAS, 2000, p. 149). A dívida externa continuou em alta, e houve ainda um forte aumento na dívida pública. O consumo e os investimentos no mercado interno, que enfrentavam dificuldades na década anterior, foram prejudicados pela estagnação econômica causada, em especial, pelas altas taxas de juros da economia e pela fase de transição pela qual passava a indústria nacional, que se adaptava à concorrência estrangeira seja internamente ou via importações. Esse contexto de estagnação e instabilidade não se restringiu ao Brasil, tendo afetado outras economias em desenvolvimento. Porém, sua origem provém da década de 1960, quando começa a ser configurada uma nova forma de acumulação na economia mundial que privilegia a especulação financeira em detrimento do setor produtivo e perdura até os dias atuais: a mundialização financeira 3. A mundialização financeira nasceu de um processo de interação, ao longo de quinze anos, entre o movimento de fortalecimento do capital privado – tanto industrial como bancário – e o crescente impasse das políticas governamentais. O contexto geral é o fim dos “anos dourados”. (CHESNAIS, 1996, p. 16-17). Assim, a economia mundial entrou numa onda crescente de taxas de juros reais positivas, o oposto da situação anterior (de taxas de juros baixas 4 para estimular a atividade 3 Sobre a gênese completa do regime de mundialização financeira, com suas características e principais acontecimentos, ver Quadro I. CHESNAIS, F. A mundialização financeira. 1996, p. 24. 4 Keynes (1983, p. 254) afirmava que, para os clássicos, sustentar uma taxa de juros elevada seria necessário para estimular a poupança. Entretanto, o mesmo demonstrou que a extensão da poupança efetiva é determinada pelo montante de investimento, que cresce por efeito de uma taxa de juros baixa, onde esse investimento não excede o nível de pleno emprego. Assim, fica tácito que, numa análise keynesiana, mostra-se o real efeito das elevadas taxas de juros sobre o investimento e a poupança das nações nesse novo processo de mundialização financeira, onde o próprio nível de pleno emprego fica distante de ser atingido, devido à precarização do trabalho. 34 econômica e chegar ao pleno emprego, conforme Keynes). Com taxas de juros elevadas, os credores passam a determinar o nível de retorno dos empréstimos (taxas de juros de longo prazo), além do que os próprios governos podem tornar suas emissões de títulos ainda mais atrativas através da manipulação da taxa de câmbio5. Nesse novo panorama, onde predominam as finanças desintermediadas, os bancos perderam espaço para novas instituições financiadoras, os novos investidores dessa nova forma de acumulação: os investidores institucionais (fundos de pensão, fundos de hedge, mutual funds e demais sociedades de investimento coletivo). Em linhas gerais, abandona-se o regime fordista e o Estado de Bem-Estar keynesiano e entra-se num novo contexto, o das finanças mundializadas e liberalizadas, com uma série de mudanças no cotidiano econômico, político e social. O quadro 1 ilustra algumas das principais diferenças entre as duas formas de acumulação. Quadro 1 – Comparativo entre as características do regime de acumulação Fordista e do Estado keynesiano com o regime de Finanças Mundializadas Regime Fordista / Estado keynesiano Mundialização Financeira Atividade econômica dinâmica Estagnação ou mesmo Recessão Ganhos de produtividade e de rentabilidade Redução de efetivo (alta oferta de trabalho) Salários em alta Queda nos salários (precarização do trabalho) Pleno Emprego Aumento nos índices de desemprego Estabilidade de preços Inflação Política de juros reais baixos Elevação dos juros reais (estímulo ao setor produtivo) (incentivo ao capital financeiro) Déficits públicos financiados por Déficits públicos financiados através da empréstimos bancários emissão de títulos (securitização) Bancos: principais emprestadores Prevalência do devedor sobre o credor Instituições não-bancárias: principais emprestadores Prevalência do credor sobre o devedor Fonte: adaptado de Bandeira (2009, p. 22). 5 Exatamente como fizeram os EUA quando do abandono do acordo de Bretton Woods, em 1980, devido aos problemas com seu duplo déficit, aumentando subitamente o preço do dólar para atrair liquidez do resto do mundo. 35 Para o Brasil, as amarras da dívida e as dificuldades de solvência do setor público determinaram sua inserção nos circuitos de capitais sob dominância financeira, gerando forte desequilíbrio externo a partir da estabilização da economia com o Plano Real. O próprio Plano Real fora resultado de uma conjuntura externa de incorporação dos então Novos Países Industrializados (NPI) nos circuitos do capital mundializado, quando passam a ser chamados de “Mercados Emergentes”, como descreve Dufour (1999). As diretrizes do plano e das medidas de política macroeconômica tomadas pelos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso apresentavam ditames presentes no Consenso de Washington, dentre os quais podemos destacar, conforme Kuczynski e Williamson (2004): a) Liberalização financeira (com o mercado determinando as taxas de juros); b) Redução progressiva das restrições comerciais; c) Fim das barreiras à entrada de Investimento Direto Estrangeiro (IDE); d) Privatização de empresas estatais; e) Desregulamentação do mercado de produtos (fim das barreiras à entrada de novas empresas) e do mercado de trabalho. Feijó (2008) e Filgueiras (2000) afirmam que mesmo as reformas ocorridas na economia não resultaram num crescimento sustentado do PIB. Ademais, essas mesmas reformas (abertura comercial e financeira, âncora cambial, política de elevadas taxas de juros) resultaram num forte desequilíbrio externo. A economia brasileira, que possuía forte restrição externa, ficou ainda mais dependente de capitais estrangeiros, em especial para garantir o sucesso do plano de estabilização. No entanto, a dinâmica de entrada/saída desses capitais independe das necessidades de capitalização da economia local, tornando-a dependente de uma conjuntura exógena e, em certos casos, não condizente com a situação do mercado interno. Segundo Prates (1999) a questão central reside na lógica atual de funcionamento do mercado financeiro internacional e nas características dos fluxos recentes de capitais, que são orientados essencialmente pela busca de ganhos financeiros de curto prazo. A entrada/saída de IDE e investimentos de portfólio é determinada pelo tipo de investidor (fundos mútuos, fundos de pensão, seguradoras e instituições bancárias). Dado o novo panorama, os IDE assumem a liderança no aporte de capitais externos no Brasil, superando os investimentos em carteira. Esses recursos são destinados, em geral, a novas plantas produtivas de matrizes estrangeiras ou mesmo aquisições/fusões das mesmas com empresas locais, tendo impacto sobre a produção do país receptor. Entretanto, 36 conforme Laplane e Sarti (2003), grande parte dos recursos oriundos de IDE para o Brasil foram destinados a fusões e aquisições, em especial privatizações. Ou seja, não necessariamente criaram nova capacidade produtiva, não se caracterizando como investimentos no sentido macroeconômico. Ressalte-se que esse fluxo de capitais ocorreu a despeito da estagnação econômica brasileira na década de 1990 e dos choques externos ocorridos (México, Ásia, Rússia), que geralmente acarretam em saída de capitais dos países emergentes, mas tiveram curtos impactos no fluxo de capitais para o Brasil (tabela 1). Tabela 1 – Movimento de capitais líquidos no Brasil – 1994-2002 – em US$ milhões Tipo 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Investimento direto 1460 3309 11261 17877 26002 26888 30498 24715 (líquido) Inv. Em carteira 50642 9217 21619 12616 18125 3802 6955 77 (líquido) Ações 6933 2999 5875 6510 975 1708 1123 1360 Renda fixa e 43709 6217 15744 6106 17110 2094 5833 -1283 demais Financiamento -43584 16217 635 -5086 -14745 -13708 -18399 2296 (líquido) 2002 14108 -5119 1592 -6711 -1418 Fonte: Bandeira (2009, p. 29). Nota: dados do Banco Central do Brasil. A queda observada após o ano 2000, quando o Brasil recebeu mais de US$ 30 bilhões em IDE líquido, explica-se devido os efeitos das sucessivas crises internacionais (além das supracitadas, deve-se incluir a moratória argentina em 2001) e à instabilidade provocada pela transição de governo no Brasil em 2002. Esta, de acordo com Gregory e Oliveira (2005), resultante do temor do mercado financeiro internacional quanto aos rumos de política econômica do país num possível governo de esquerda, dados os prognósticos de vitória do então candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Luís Inácio Lula da Silva. A entrada de capitais não engendrou grande impacto no setor produtivo, resultado também da economia estagnada em termos de consumo, mesmo sendo observados aumentos nos índices referentes ao governo e às famílias. Vale destacar que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) assinalou leve queda entre 1995-1999 (gráfico 4), refletindo a estagnação econômica mesmo no ambiente de estabilidade monetária vigente no país. Reflexo da perda de competitividade da indústria nacional e da política monetária austera, com juros básicos da economia bastante elevados, o que encarece os investimentos e prejudica a geração de emprego e renda, e o consumo. 37 Gráfico 4 - Brasil: PIB trimestral para índices selecionados (1995-1999) 140 120 100 80 Consumo das famílias Índice 60 Consumo do governo Índice 40 FBCF - Índice 20 Fonte: Banco Central do Brasil (2011), elaboração do autor. Legenda: PIB trimestral índice (1995=100). Os dados sobre o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da indústria nacional revelam um contexto de instabilidade econômica, refletindo os choques advindos da estabilização da economia (1995), dos períodos de crise no exterior (principalmente em 1998) e da maxidesvalorização do Real em 1999 (gráfico 5). Gráfico 5 - Brasil: Utilização da capacidade instalada (1995-1999) 82 81 80 79 78 77 76 75 74 73 Fonte: IPEADATA (2011), elaboração do autor. Legenda: (%) mensal, dados dessazonalizados. 38 Para Feijó (2008) o período que compreende os anos de 1995 e 1999 é característico do ritmo de crescimento stop and go da economia brasileira anterior a 2005, com FBCF em torno de 17% (baixa para sustentar taxas vigorosas de incremento do produto) e perda de dinamismo industrial, mesmo com a abertura comercial e econômica. “Para que ela (a abertura econômica) reforce o processo de crescimento, em vez de frustrá-lo, é indispensável que leve não apenas a maiores importações, mas também a uma expansão rápida e persistente das exportações”. (FAJNZYLBER, 1990, p. 899). O câmbio fixo desestimulou as exportações brasileiras, ao mesmo tempo em que estimulou as importações. Isso influenciou negativamente a produção local, principalmente da indústria de transformação, além de gerar déficits da balança comercial a partir de 1995. Tabela 2 – Brasil. Comércio Exterior no período 1990-1999 (US$ Milhões FOB) ANO EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO SALDO 1990 31.413.756.040 20.661.362.039 10.752.394.001 1991 31.620.439.443 21.040.470.792 10.579.968.651 1992 35.792.985.844 20.554.091.051 15.238.894.793 1993 38.554.769.047 25.256.000.927 13.298.768.120 1994 43.545.148.862 33.078.690.132 10.466.458.730 1995 46.506.282.414 49.971.896.207 -3.465.613.793 1996 47.746.728.158 53.345.767.156 -5.599.038.998 1997 52.994.340.527 59.747.227.088 -6.752.886.561 1998 51.139.861.545 57.763.475.974 -6.623.614.429 1999 48.012.789.947 49.301.557.692 -1.288.767.745 Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)/ Sistema AliceWeb (2011), elaboração do autor. Gonçalves (2003) argumenta que a pauta exportadora também foi prejudicada pelo efeito cambial, afetando diretamente as vendas de produtos manufaturados e reduzindo sua participação no total exportado. Ao mesmo tempo, cresceram as exportações de produtos agrícolas6 (em especial commodities como as do complexo soja 7). Esse duplo efeito trouxe instabilidade à composição da pauta exportadora brasileira, à época passando por um processo de reprimarização, explicado sob dois aspectos: 6 Além da demanda externa, fatores de ordem interna favorecem a competitividade do agronegócio brasileiro, tais como a disponibilidade de terras, o potencial da bioenergia e a pesquisa agrícola. (Coronel, 2007). 7 Conforme classificação da Food and Agriculture Organization of The United Nations (FAO), compõem o complexo soja os seguintes produtos: grão, farelo e óleo. 39 a) Perda de competitividade internacional dos produtos manufaturados e ganho dos produtos agrícolas exportados pelo Brasil; b) Mudança na estrutura de exportação brasileira, com maior participação relativa de agrícolas em comparação aos manufaturados. Essa perda de participação dos manufaturados em detrimento dos produtos básicos na pauta exportadora não é característica apenas da economia brasileira, mas também das economias latino-americanas, representando um empecilho à industrialização. Conforme Paulani (2007, pp. 306-307): [...] o economista argentino Raúl Prebish vai encontrar na deterioração dos termos de troca vigentes nas relações comerciais que envolviam, de um lado, países industrializados do Centro e, de outro, países produtores de matérias-primas e bens agrícolas da Periferia, a razão maior do não desenvolvimento dos países latinoamericanos, indicando também, em consequência, como única forma de solucionar o problema, a rápida e progressiva industrialização dos últimos. Feijó (2008, p. 201) destaca o aumento de participação das indústrias extrativas no total do setor, “indicando uma tendência para a especialização da economia em setores nos quais a vantagem competitiva está na exploração de recursos naturais 8”. Tabela 3 – Brasil. Indústria de transformação e extrativas: participação do valor adicionado por tipo de tecnologia (%) Tipo de tecnologia 1996 2004 Baseada em recursos naturais 32,7 40,1 Intensiva em trabalho 13,6 9,7 Intensiva em escala 35,8 35,6 Tecnologia diferenciada 13 10 Baseada em ciência 5 4,5 100 100 Indústria total Fonte: Nassif, 2006, Tabela 1 apud Feijó (2008). Segundo Cavalcanti e Ribeiro (1998) as exportações brasileiras de manufaturados parecem depender das condições de oferta interna (capacidade produtiva e rentabilidade do comércio exterior), e as exportações de produtos agrícolas parecem mais influenciadas por 8 Numa discussão recente, vem à tona a problemática da desindustrialização. 40 variáveis exógenas pelo lado da demanda (nível de renda mundial e os preços internacionais). Como exposto anteriormente, o setor produtivo nacional enfrentava dificuldades na década de 1990, enquanto o setor de produtos básicos vivenciava uma conjuntura de alta nos preços de commodities. O novo arranjo da estrutura produtiva brasileira na década em questão, apoiado nos capitais estrangeiro e privado doméstico, foi deteriorado pelos altos custos de capital e pela não observância de melhora no ambiente de investimentos (Feijó, 2008). Os investimentos em infraestrutura e em expansão industrial de setores intensivos em capital, por exemplo, foram desestimulados, comprometendo a formação de uma base sólida de crescimento contínuo para a economia do país. Gráfico 6 – Brasil. Taxa de investimento industrial (Investimento da indústria/PIB Industrial) e Formação bruta de capital fixo/PIB 18 17 16 15 14 InvInd/PIBInd FBCF/PIB 13 12 11 10 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Fonte: Feijó (2008, p. 207). Legenda: IBGE – Contas Nacionais e Pesquisa Industrial Anual. O investimento da indústria corresponde ao saldo de aquisições e baixas no equipamento mais o investimento em melhorias. “Em suma, as expectativas de investimento, mesmo em um ambiente competitivo e de estabilidade de preços, continuaram dominadas pelas expectativas de curto prazo, resultando em baixa formação de capital”. (FEIJÓ, 2008, p.208). Com a abertura econômica e o estabelecimento de um ambiente competitivo, esperavam-se ganhos de produtividade para a economia nacional. De acordo com Gonçalves (2003), o aumento da produtividade pode estar na origem de um círculo virtuoso, visto 41 acarretar no incremento das exportações que, por sua vez, provoca a expansão da produção e aumento de ganhos de escala, o que gera mais aumento de produtividade. Esses são os preceitos da Teoria da Base Exportadora, que seriam válidos ao Brasil a partir da abertura comercial e financeira e da desnacionalização da economia, com a melhoria da competitividade do parque produtivo nacional. Mas isso não ocorreu. A âncora cambial (câmbio fixo na paridade R$1=US$1), pela necessidade de elevados níveis de reservas, foi sustentada por elevadas taxas de juros, o que deteriorou todas as outras variáveis macroeconômicas, em especial as exportações (pelo encarecimento relativo dos produtos brasileiros) e, consequentemente, a produção nacional. As altas taxas de juros também encareciam a produção doméstica, no entanto sua função principal era manter a estabilidade monetária (contenção do consumo) e atrair a liquidez externa, necessária para a manutenção do câmbio paritário. Logo, o aumento da produtividade não teve reflexos positivos sobre o nível de produção da economia, pois tivemos: a) Taxa de crescimento da produção industrial em declínio (1,8% em 1990-94 e 1,6% em 1995-99); b) Altas taxas de desemprego industrial (5,9% em 1990-91, 6,4% em 1995-96 e 9,0% em 1998-99); c) Caracterização de uma adaptação regressiva9 do setor produtivo brasileiro (explicada pelas baixas taxas de investimento e perda de participação das exportações de produtos associados a ganhos de escala); d) Pouco estímulo à inovação por parte das empresas no país, principalmente as filiais de multinacionais. Quanto à perda de dinamismo das exportações de manufaturados no Brasil no mesmo período, Gonçalves (2003) atribuiu aos seguintes fatores: a) efeito cambial, pois a paridade reduziu a rentabilidade em 11% na década; b) baixa taxa de investimentos, dado que FBCF no período 1995-99 foi de apenas 3,6% a.a.. Com a desvalorização cambial de 1999, esperava-se a retomada das exportações nacionais como forma de gerar divisas, melhorar a situação fiscal do país e o nível de 9 Feijó (2008) afirma que o aumento da produtividade observada no Brasil nos anos 1990 ocorreu num contexto de baixo crescimento e investimento e elevado desemprego, caracterizado por um período de “ajuste defensivo” (Feijó, 2003) entre 1990-1993, com redução de efetivo e fechamento de unidades fabris, e por outro de modernização da estrutura produtiva (1994-1998), este beneficiado pelo câmbio sobrevalorizado e que foi direcionado para aquisição de bens de capital para aumento da produtividade com redução da necessidade de trabalho humano. 42 atividade econômica. No entanto, conforme destaca Batista Jr. (2005), o fato de o governo brasileiro ter enfatizado as políticas de superávit primário e metas de inflação após a adoção do câmbio flutuante e a economia estar num contexto de flutuação cambial com desaceleração do mercado interno, fez com que o efeito mais expressivo recaísse sobre as importações (que foram reduzidas). O que não foi suficiente, num primeiro momento, para reverter o saldo negativo da balança comercial. Segundo Filgueiras (2000), três motivos explicam o fraco resultado da balança comercial pós-desvalorização cambial, advindo principalmente da não retomada das exportações: a) Aumento do coeficiente importador e perda de importantes clientes, fruto da abertura comercial e do período de sobrevalorização cambial; b) Desaceleração da economia mundial, que derrubou os preços das commodities, (ainda hoje) representativas de grande parte das vendas externas brasileiras; c) Retração das linhas internacionais de crédito e adiamento de contratos de exportação, visando ganhos posteriores com a desvalorização cambial. Deve-se ressaltar também a influência das expectativas sobre os rumos da economia brasileira. A conjuntura desfavorável prejudicou ainda mais qualquer recuperação econômica do país. Com a atividade econômica em baixa, a arrecadação do setor público foi prejudicada, reduzindo os investimentos públicos. Principalmente em infraestrutura básica (saúde, educação, saneamento etc) e de transportes, tendo como conseqüência o desestímulo aos investimentos privados, já penalizados por altas taxas de juros e dificuldades em exportar com o câmbio sobrevalorizado. Esse cenário viria a mudar no decorrer dos anos 2000. 3.2. Anos 2000: retomada do crescimento econômico brasileiro A primeira década do século XXI foi marcada por transformações profundas na sociedade brasileira. De uma economia pouco dinâmica, com taxas de crescimento abaixo da média mundial, o Brasil passou a integrar o rol dos países emergentes dinâmicos (em conjunto com China e Índia) que lideram o crescimento mundial. Ao longo da década de 2000, conforme o relatório Economia Brasileira em Perspectiva do Ministério da Fazenda (2010), o crescimento da economia brasileira saltou de uma média anual de 2,5% para cerca de 4,5% devido à condução da política econômica, que privilegiou a geração de empregos, os investimentos e o mercado interno. A única queda observada na década se refere ao ano de 2009, devido os efeitos da crise econômica mundial 43 sobre a economia brasileira, que poderiam ter sido maiores caso não fosse o dinamismo do mercado interno. Com o impulso inicial proveniente do comércio exterior, o mercado nacional cresceu de forma vigorosa e, a partir de 2004, tornou-se o principal indutor do crescimento do PIB. A demanda interna se sobrepôs à demanda externa líquida e garantiu a retomada do crescimento econômico brasileiro na maior parte da década (gráfico 7). Gráfico 7 – Decomposição do crescimento do PIB brasileiro, em % (2002-2011) Fonte: IBGE, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: (*) Estimativas do Ministério da Fazenda. 2.2.1. O início do governo Lula e o estímulo proveniente das exportações No governo Lula, as políticas de liberalização financeira iniciadas na década de 1990 foram intensificadas e a credibilidade brasileira junto aos credores internacionais foi retomada. Assim, graças a um novo e intenso movimento de liquidez internacional, os capitais externos, as exportações e o nível de reservas bateram recordes, impactando positivamente no balanço de pagamentos e colocando o setor externo, com destaque para as exportações, como principal motor da economia nos primeiros anos da década de 2000. A retomada da liquidez internacional favoreceu o crescimento das exportações brasileiras, em especial de manufaturados, beneficiadas também pelo câmbio flutuante e desvalorizado que marcou a primeira metade dos anos 2000 e, na outra metade, pelo forte crescimento das exportações de commodities agrícolas e minerais, tendo como contraponto o aumento das importações devido a valorização cambial da moeda brasileira. 44 Entre 2000 e 2005, as exportações brasileiras cresceram a uma expressiva taxa de 16% ao ano. Esse desempenho foi acompanhado por aumentos no saldo comercial, por elevados superávits em conta corrente e, consequentemente, por forte redução na restrição externa ao crescimento econômico. (PUGA, 2006, p. 1). A balança comercial brasileira recuperou-se das perdas dos anos 1990, aumentando tanto os fluxos de importação quanto os de exportação. Ou seja, houve um aumento da corrente de comércio do país com o exterior, como observado no gráfico 8. Gráfico 8 – Balança Comercial brasileira entre 2000 e 2010 (em US$ milhões) 2,5E+11 2E+11 1,5E+11 EXPORTAÇÃO IMPORTAÇÃO 1E+11 SALDO COMERCIAL 5E+10 0 -5E+10 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da SECEX/MDIC, Sistema Alice web. Como observado acima, a retomada começou no ano de 2003 com as exportações, motivadas pelo aumento da demanda mundial por commodities agrícolas e metálicas, e pelo nível do câmbio, ainda elevado por ocasião do “efeito Lula” em 2002. As exportações de manufaturados foram as mais beneficiadas com o câmbio desvalorizado, situação que perdurou de 2000 a 2005. Os resultados mais significativos para o comércio exterior brasileiro começam a aparecer no período mais recente, notadamente a partir de 2003, quando se apresenta um ciclo dinâmico de evolução das exportações e são registrados seguidos recordes nos saldos na balança comercial. As exportações brasileiras de manufaturados vêm 45 justificando em grande medida a evolução total das exportações, com destaque para segmentos não-commodities (MELO, 2007, p. 584). A conjuntura mundial favorável foi decisiva para o desempenho do setor exportador brasileiro, á medida que ocorreu não só aumento do volume de comércio como dos preços internacionais de produtos com participação importante na pauta brasileira (MELO, 2007, p. 586). Puga (2006) afirma que o crescimento das exportações e a aumento da participação do Brasil no comércio mundial do período é explicado em boa parte pela capacidade de resposta das empresas brasileiras ao aumento da demanda mundial, não estando associada a ganhos nos termos de troca (dada a forte elevação nos preços internacionais de commodities, produtos nos quais o Brasil possui históricas vantagens comparativas). Ou seja, o impacto do efeito-quantum exportado foi bem maior que o efeito-preço, como atestam os dados do gráfico 9. Gráfico 9 – Impacto efeitos Preço e Quantum sobre o Comércio Exterior do Brasil no período 2001 a 2005 (em %) Fonte: Puga (2006, p. 5). A partir de 2006, com a mudança no nível da taxa de câmbio, as exportações de manufaturados passam a perder participação na composição da pauta para os produtos básicos10, como exemplificado no gráfico 10. 10 Essa situação é similar ao ocorrido a partir de meados da década de 1990, na descrição de Gonçalves (2003) sobre o processo de reprimarização da pauta exportadora brasileira. 46 Confirmando os postulados de Cavalcanti e Ribeiro (1998), as exportações de produtos manufaturados no país parecem bastante afetadas por fatores internos, como a rentabilidade do comércio exterior, influenciada negativamente, nesse caso, pela apreciação cambial. Gráfico 10 – Exportações brasileiras por categoria de uso (participação %) no período 2000-2010 120,0 100,0 22,8 26,3 28,1 28,9 80,0 15,4 14,1 60,0 29,5 29,3 29,2 32,1 14,8 15,0 13,9 13,5 14,2 36,9 40,5 44,6 Básicos 13,6 13,7 13,4 Semimanufaturados 14,0 40,0 59,1 56,5 54,7 54,3 55,0 55,1 54,4 52,3 46,8 Manufaturados Operações Especiais 20,0 44,0 39,4 0,0 2,7 3,0 2,4 1,8 1,6 2,1 2,2 2,1 2,6 2,1 2,0 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da Secex/MDIC. Balança Comercial brasileira, Dados Consolidados (2010). O processo de recuperação das exportações brasileiras, iniciado nos primeiros anos da década de 2000, estimulou o crescimento do mercado interno com a dinamização da produção, do emprego e, como consequência, do consumo. Pelo lado da geração de emprego, a melhora do cenário mundial e os bons números da economia nacional estimularam os investimentos do setor produtivo. A política de valorização salarial, por parte do governo, também teve sua importância para o aumento do consumo, bem como a política fiscal expansionista no mercado de crédito. Estudos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE (2005) sobre a economia brasileira no período 2000-2005 apontaram que o governo aproveitou o momento de recuperação econômica para aumentar a arrecadação sem, no entanto, aumentar o nível de investimentos, o que poderia prejudicar a continuidade do ciclo de crescimento e a própria recuperação dos investimentos do setor privado. 47 Os investimentos privados estão se recuperando, mas os níveis atuais de investimento, especialmente em infraestrutura, são insuficientes para sustentar um crescimento robusto a médio prazo. Na conjuntura atual, o espaço orçamentário para ampliar os gastos de capital é limitado e os investimentos privados são desencorajados pela escassez de crédito, custos de intermediação altos e incerteza regulatória em vários setores. (OCDE, 2005, p. 12). Essa passagem corrobora com o argumento de Feijó (2008) sobre a inconsistência da retomada dos investimentos até o ano de 2005, apesar do crescimento da economia. No entanto, a partir de 2006, a continuidade do fortalecimento das variáveis endógenas vem estimular o crescimento do mercado interno e aumenta as expectativas positivas em torno da economia brasileira. Isso estimula investimentos nacionais e atrai capitais estrangeiros, seja IDE ou de curto prazo. A demanda doméstica está se fortalecendo após um período de forte crescimento no saldo da balança comercial. O consumo privado está se recuperando, impulsionado pela expansão do crédito e pelo fortalecimento do mercado de trabalho. O desemprego formal permanece alto nas principais cidades, mas a tendência é de queda. Os salários reais estão subindo, após uma estagnação ou queda nos últimos anos. Um ambiente melhor para os negócios está trazendo novo ímpeto para os investimentos privados, que estão mostrando sinais de recuperação. (OCDE, 2005, pp. 17-18). Com a intensificação dos investimentos, o estímulo à economia passa a advir de um mercado interno em constante crescimento. Com o aumento do nível de atividade econômica (produção, emprego e renda) o mercado interno se expandiu e trouxe consigo a elevação no nível de investimentos públicos e privados, necessários para garantir um nível sustentável de crescimento. Quanto mais ativo for o comércio exterior [...], tanto maiores serão as possibilidades de aumentar a produtividade de seu trabalho, mediante uma intensa formação de capital. A solução não está em crescer à custa do comércio exterior, mas em saber extrair, de um comércio exterior cada vez maior, os elementos propulsores do desenvolvimento econômico. (PREBISCH, 1962, p. 73). 48 O maior crescimento, com forte geração de empregos, associado à inclusão e os programas sociais, tem permitido a diminuição da pobreza, a criação de uma nova classe média (gráfico 11) e os estímulos aos investimentos. Gráfico 11 – Brasil. Evolução das classes sociais (% da população e milhões de indivíduos) Fonte: FGV, IBGE e LCA. Elaboração do Ministério da Fazenda (2010). Legenda: (*) Estimativa. 2.2.2. Crédito, emprego e renda: crescimento da demanda interna A expansão do crédito corroborou com a retomada da atividade econômica no Brasil. Esta expansão foi impulsionada pelo crédito a pessoa física e ao setor produtivo, principalmente por meio dos bancos públicos. Pelo lado da oferta, pode-se dividir o crescimento em dois períodos distintos. No primeiro, compreendido entre 2004 e setembro de 2008, a liderança das operações de crédito ficou a cargo dos bancos privados nacionais, que tiveram ganhos contínuos de market share. No segundo, entre setembro de 2008 e o final de 2009 – período marcado pelo agravamento da crise internacional – foram os bancos públicos que atuaram de maneira agressiva na concessão de crédito à economia, exercendo um importante papel anticíclico diante do comportamento defensivo dos bancos privados. (BORÇA JR; COUTINHO, 2010, p. 1). Pelo lado da demanda, os determinantes da expansão do crédito tiveram um comportamento mais uniforme. O segmento mais dinâmico durante todo o período foi aquele destinado às famílias, [...]. Entre 2004 e 2009, as operações de crédito às pessoas físicas saltaram de 6,7% para 14,7% do PIB, sendo responsável, 49 isoladamente, pela maior parte do incremento total da demanda por crédito na economia. (BORÇA JR; COUTINHO, 2010, pp. 1-2). Como resultado, a proporção entre o Crédito Total frente ao Produto Interno Bruto teve um aumento considerável entre março de 2004 e dezembro de 2009, passando de 25,7% para 46,6%, como mostram os dados do gráfico 12. Gráfico 12 – Brasil. Operações de crédito com recursos livres e direcionados (2002-2010) Fonte: Banco Central do Brasil, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: dados em R$ bilhões, em valores nominais, e % do PIB (totais). Para Torres Filho (2006b) dois fatores contribuíram para a continuidade no aumento do crédito: a redução da vulnerabilidade externa e a queda nas taxas de juros, esta resultante do comportamento estável da inflação (gráfico 13). Gráfico 13 – Evolução do IPCA em % a.a. (1999-2010) Fonte: IBGE e Banco Central do Brasil, elaboração do Ministério da Fazenda (2010). 50 Outro importante fator determinante para a expansão do mercado interno foi o crescimento do emprego formal. Comparando os números desde o período de implantação do Real (gráfico 14), enquanto foram gerados 5 milhões de vagas formais entre 1995 e 2002, foram pouco mais de 15 milhões de empregos de 2003 a 2010. Gráfico 14 – Geração líquida de empregos (1995-2010) Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: dados em milhares de postos de trabalho acumulados no ano, saldos do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e RAIS (Relatório Anual de Informações Sociais). A expansão do emprego veio acompanhada por políticas sistemáticas de valorização do salário-mínimo promovidas desde o início do governo Lula, registrando crescimento superior a 57% no período 2002-2010 (gráfico 15). Gráfico 15 – Brasil. Evolução do Salário Mínimo (1990-2010) Fonte: IPEA, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: dados em R$, média anual, a preços de dezembro de 2010. 51 Outro fator relevante para a expansão da renda e consumo foram os programas de transferência de renda, notadamente o Programa Bolsa Família. De 2004 a 2010, o número de famílias atendidas passou de 6,6 quase 13 milhões, representando um montante de R$ 14,4 bilhões em transferências, o equivalente a 0,4% do PIB (gráfico 16). Gráfico 16 – Evolução do Programa Bolsa Família (2004-2010) Fonte: SPE/ Ministério da Fazenda, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). A passagem abaixo resume de forma objetiva a importância das políticas de valorização salarial e transferências de renda no dinamismo atual do mercado interno brasileiro: Portanto, o avanço da massa salarial está ligado às políticas de reajuste salarial e de transferências de renda do governo, as quais promoveram o aumento do consumo das famílias. Por ter atingido indivíduos de menor renda, cuja propensão marginal a consumir é maior, a elevação dos ganhos de renda real impulsionou ainda mais fortemente a demanda interna. Ademais, a estabilidade do ambiente macroeconômico, com diminuição do desemprego e inflação mais baixa, aumentou a confiança dos assalariados de menor renda na sua capacidade de consumo e preservou seus ganhos reais de renda. (INHUDES, 2009, p.5). O documento Panorama da Economia Brasileira, do Ministério da Fazenda (2007), apresenta os fatores que estimularam o mercado interno, em sintonia com o tratado nesta subseção: a) Expansão do emprego e, consequentemente, maior geração de renda; 52 b) Expansão do crédito, tanto pessoa física quanto jurídica; c) Ampliação dos programas sociais; d) Estabilidade de preços; e) Política de valorização contínua do salário-mínimo; f) Aumento das taxas de investimento. Analisados os fatores que contribuíram para a retomada do crescimento econômico no Brasil, faz-se necessário discorrer sobre a resposta dada pelo setor produtivo e pelo próprio governo em termos de investimentos, ou seja, o lado da oferta doméstica. E o mais importante: como a oferta interna respondeu a uma dinâmica de crescimento endógeno, e não proveniente do exterior como em períodos anteriores. 53 4. DINÂMICA RECENTE DOS INVESTIMENTOS E CRESCIMENTO ENDÓGENO Historicamente o problema do Brasil tem sido sustentar suas trajetórias de crescimento econômico, saindo do tradicional Stop and Go. O estímulo ao mercado interno, aliado à estabilidade econômica e a melhoria de renda da população, deu suporte à expansão dos investimentos, públicos e privados, no país. Além de partir dos atores internos da economia, os investimentos do exterior também têm sua importância para a retomada do crescimento no país, refletindo uma nova dinâmica de atração que não mais apenas as tendências do mercado mundial. Ao contrário da década de 90, as privatizações não são o foco de atratividade dos fluxos de IDE nos anos 2000 e sim a robustez observada no crescimento do mercado interno e na melhoria dos índices de solvência externa da economia brasileira. O fluxo de IDE (líquido) passou de quase US$ 33 bilhões em 2000 para mais de US$ 48 bilhões em 2010. No entanto, a relação IDE/PIB que era de 5% no início da década em questão caiu para 2,26% no ano de 2010 (tabela 4), mesmo com o aumento do aporte de inversões externas. Essa queda reflete o forte crescimento do PIB brasileiro no período, associado à perda de importância relativa dos recursos externos em termos do setor interno da economia. Tabela 4 – Brasil. Investimentos Estrangeiros Diretos 2000-2010 (líquido e relação IDE/PIB) Data IDE (líquido)¹ IDE/PIB² 2000 32.779,20 5,08 2001 22.457,40 4,06 2002 16.590,20 3,29 2003 10.143,50 1,83 2004 18.145,90 2,73 2005 15.066,30 1,71 2006 18.822,20 1,73 2007 34.584,90 2,53 2008 45.058,20 2,73 2009 25.948,60 1,60 2010 48.506,50 2,26 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Banco Central do Brasil (2011). Legenda: (1) Anual, em milhões (US$). (2) Percentual acumulado em 12 meses. 54 O aumento nos investimentos em carteira no Brasil (tabela 5) se refletiu na expansão e modernização do mercado de capitais local, com a adesão de mais empresas e mesmo a internacionalização de grandes multinacionais brasileiras. Além de contarem com melhores níveis de endividamento e de crédito disponível via sistema bancário, as empresas locais passaram ainda a dispor de captação de recursos externos no mercado financeiro, para “o financiamento dos novos investimentos de forma mais equilibrada e menos onerosa, refletindo as novas condições de geração de recursos próprios e de risco das empresas brasileiras”. (NASCIMENTO, 2006, p. 5). Tabela 5 – Brasil. Investimentos líquidos em carteira 2000-2010 em milhões (US$) Data IC¹ Total IBC² IEC³ 2000 6.955,10 -1.695,70 8.650,80 2001 77 -795,1 872,1 2002 -5.118,60 -321,1 -4.797,40 2003 5.307,50 178,8 5.128,80 2004 -4.750,10 -754,6 -3.995,60 2005 4.884,50 -1.770,80 6.655,30 2006 9.081,20 5,6 9.075,60 2007 48.390,40 286,1 48.104,30 2008 1.133,10 1.900,00 -766,9 2009 50.283,00 4.124,50 46.158,50 2010 63.010,90 -4.783,90 67.794,90 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Banco Central do Brasil (2011). Legenda: (1) Investimentos em carteira. (2) Investimentos brasileiros em carteira. (3) Investimentos estrangeiros em carteira. Considerando a essência de cada categoria, percebe-se como relevante a participação dos investimentos externos nos anos 2000. Principalmente o IDE, que está mais associado a inversões físicas no parque industrial brasileiro. Esses capitais, por sua vez, têm sido atraídos pela dinâmica do mercado interno, como citado anteriormente. E essa dinâmica também tem estimulado o aumento dos investimentos internos, impactando na formação de capital. O aumento da atividade econômica no Brasil motivou a expansão de inversões na FBCF, principalmente pelo setor privado, chegando a 15,5% do PIB em 2008, ano de eclosão da crise econômica mundial, registrando queda em 2009. No entanto, a composição do setor 55 público aumentou de 3,6% em 2008 para 4,3% em 2009, impedindo uma queda ainda maior no índice total (gráfico 17). Gráfico 17 – Brasil. Formação bruta de capital fixo, público e privado (% do PIB) Fonte: adaptado de Ministério da Fazenda (2010). Esse indicador demonstra a importância do governo na manutenção dos investimentos no país e, mais que isso, para não retroceder a expansão do consumo observada após 2005-2006 e o dinamismo do mercado interno. O lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC – em 2007 e a expansão do financiamento público ao setor privado (destaque ao BNDES) foram fundamentais para manter o nível de atividade econômica interna no apogeu da crise, em 2009, amenizando os efeitos externos sobre a economia, e contribuindo para a recuperação de uma série de indicadores econômicos em 2010. A finalidade do PAC é promover investimentos em infra-estrutura, que permitam: eliminar gargalos a esse crescimento; aumentar a produtividade das empresas; estimular investimentos privados; e, reduzir as desigualdades regionais. O PAC está organizado em duas partes. A primeira reúne os investimentos em infra-estrutura e a segunda as ações para: ampliação do crédito; melhoria do ambiente de investimento; e melhora na qualidade do gasto público. (PUGA et. al., 2007, pp.1-2). Ainda segundo Puga et. al. (2007), os investimentos contemplados pelo PAC quando de seu lançamento totalizavam R$503,9 bilhões, a serem desembolsados ao longo do 56 período 2007-2010, em três diferentes áreas da infraestrutura: Energia (R$274,8 bilhões ou 54,5% do total); Social e Urbana (R$170,8 bilhões, 33,9% do total); e Logística (R$58,3 bilhões, 11,6%). A retomada da agenda de investimentos em infraestrutura por parte do governo federal, a captação de IDE visando a abertura e/ou expansão de novos negócios no país e as expectativas positivas que a atividade econômica interna sinalizava aos empresários tiveram impacto direto sobre os investimentos industriais. 4.1. Investimentos na Indústria Com a melhora do ambiente de investimentos, não apenas o investimento total, mas também o investimento da indústria seguiu tendência crescente (gráfico 18), mesmo após o período de apogeu da crise financeira internacional. Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a aceleração dos investimentos do setor industrial (mais de 200% entre 2004 e 2010) foi resultado, principalmente, do aumento da demanda doméstica. Gráfico 18 – Investimento industrial brasileiro, por empresa (2004-2011) Fonte: CNI, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: milhões de R$, a preços de 2010. Indústria de transformação. (*) Estimativa. (**) Estimativas do investimento planejado. Dados em % do PIB. As elevações dos investimentos industriais e do próprio ritmo de atividade econômica interna resultaram num forte movimento de geração de empregos, levando a sucessivas quedas nas taxas de desemprego nas principais regiões metropolitanas do país. Com uma oferta elástica de mão-de-obra, o principal fator determinante do ritmo do 57 crescimento econômico é a capacidade produtiva da indústria de bens de capital (ignorado o intercâmbio externo, para simplicidade de exposição)11. O aumento da geração líquida de empregos na indústria, mais que resultado do crescimento da atividade econômica, foi possibilitado em certa medida pela efetividade da política fiscal e creditícia do governo. Esse aumento da oferta de crédito ao setor produtivo foi garantido pelos aportes do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O BNDES desempenha vários papéis importantes no mercado de crédito. Entre os mais conhecidos, está o de ser o principal financiador de longo prazo de investimentos na indústria e na infra-estrutura, bem como das exportações brasileiras de bens e serviços. Um lado menos visível – mas não menos importante do Banco – é sua atuação anticíclica. (TORRES FILHO, 2006a, p.1). Além de ser o maior emprestador ao setor industrial e de infraestrutura no Brasil, o BNDES é o maior banco brasileiro voltado para operações de longo prazo 12, o que lhe garante uma especial particularidade quanto aos demais bancos do país. Sua atuação junto ao setor produtivo, muitas vezes como único emprestador de longo prazo, além de presença no mercado de valores mobiliários (debêntures e ações) através da BNDESPar – braço de participações do banco –, competem ao banco o papel de promover os investimentos e, com isso, o ganho de competitividade pelas firmas nacionais e o estímulo a geração de empregos. Merece destaque o setor de Bens de Capital, que tem crescido mais que a indústria geral no período 2005-2010 (gráfico 19), quando a economia brasileira apresenta forte expansão do PIB. Dado o estímulo à importação de máquinas e equipamentos que o câmbio sobrevalorizado do período exerce sobre o setor produtivo, pode-se caracterizar um processo de modernização do parque industrial nacional para expansão de capacidade instalada. Essa é uma sinalização positiva em termos das expectativas dos empresários quanto à continuidade do crescimento econômico no Brasil. Celso Furtado. Para uma análise deste ponto, veja-se N. Kaldor, “Alternative Theories of Distribution” (Review of Economic Studies, março de 1956). p. 247. 11 12 Conforme Torres Filho (2006a) a atuação anticíclica do BNDES quanto à manutenção dos investimentos e apoio a retomada da atividade econômica no Brasil, mesmo após os choques externos e internos sobre a economia local, está relacionada diretamente a dois fatores: A origem dos recursos administrados pela instituição ser quase que 100% oriundo de fundos parafiscais, como o FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador, e de organismos internacionais, não sofrendo, portanto, com a volatilidade dos mercados; e A capacidade da instituição em avaliar o risco de longo prazo dos tomadores, em especial de seus clientes tradicionais. 58 Gráfico 19 – Brasil. Taxa de crescimento da produção industrial e de Bens de capital Fonte: IBGE e Ministério da Fazenda. Elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: dados em % anual, acumulado no ano entre 2005 e 2010. O governo também se utilizou de combinação de política fiscal (expansão do crédito pelos bancos oficiais, desoneração tributária para alguns setores, aumento real do salário mínimo, transferências de renda etc.) e política monetária (liberação de compulsório bancário, queda na taxa Selic etc.) no sentido de manter o mercado interno aquecido e ambiente propício a novos investimentos privados. 4.2. Investimentos em Infraestrutura Os investimentos em infraestrutura envolvem projetos de valores elevados, cujos retornos são de longo prazo de maturação. Por esse motivo, sua determinação depende de expectativas quanto ao comportamento futuro de variáveis macroeconômicas, como a renda nacional e os juros. Além disso, envolvem setores que são objeto de intensa regulação do Estado. Tomando por base a Teoria de Investimento Keynes-Minsky citada neste trabalho, os investimentos em infraestrutura são fundamentais para a criação de um ambiente de segurança e estímulo que permita aos industriais planejarem inversões no setor produtivo nacional, a fim de aumentar a oferta e atender a demanda previamente induzida pelo aumento das taxas de ocupação e renda da economia, em geral induzidas pelos próprios investimentos em infraestrutura. 59 “A expansão e melhoria da infraestrutura são de importância fundamental para o crescimento econômico. Muitos desses setores são de natureza essencial e geram impactos positivos sobre o restante da economia, quer através da redução de custos de natureza sistêmica, quer formando expectativas positivas para investimentos em outros setores”. (TORRES FILHO; PUGA, 2006b). E é da administração pública a responsabilidade pela realização ou mesmo a indução desses investimentos. No Brasil, as duas últimas décadas apresentaram panoramas opostos quanto ao papel do governo. Em termos gerais, a taxa das Administrações Públicas13 (gráfico 20) saiu de seus níveis mais baixos da história recente, quando atingiu valores próximos a 1,5% do PIB em 1999 e 2003, e cresceu durante o restante da década, alcançando 2,9% do PIB no final de 2010. Em valores monetários, a taxa saiu de R$ 42,6 bilhões em 2003 para R$ 104,3 bilhões em 2010. Esse crescimento representou uma reversão em relação à trajetória de relativo declínio observada no período 1995-2003. Gráfico 20 – Taxa de investimento¹ das Administrações Públicas no Brasil 3,00% 2,80% 2,60% 2,40% 2,20% 2,00% 1,80% 1,60% 1,40% 1,20% 1,00% Fonte: adaptado pelo autor a partir de dados do IPEA (2011). Legenda: (1) valores nominais acumulados em quatro trimestres em participação (%) do PIB. Pelo conceito de caixa, os investimentos do governo federal (União + Estatais), em termos do PIB, ficaram acima de 3% ao final de 2010 (gráfico 21). 13 Em valores nominais, referentes apenas à Administração Pública, ou seja, não inclui os investimentos das empresas estatais e financiamentos dos bancos públicos. 60 Gráfico 21 – Taxa de Investimento do governo Federal (2000-2010) Fonte: SIAF e DEST/MPOG, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: dados em % do PIB, conceito caixa, acumulado em 12 meses, atualizados pelo IPCA. O gráfico acima é importante por retratar a importância das empresas estatais na retomada dos investimentos em infraestrutura, levando-se em conta a grande parcela referente à Petrobras e aos setores de energia elétrica e transportes (gráfico 22). Gráfico 22 – Investimentos do setor Privado e das Estatais Públicas em Infraestrutura (R$ bilhões) Fonte: ABDIB, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: (*) A preços de 2009 pelo IPCA, estimativa Ministério da Fazenda. ¹ Valores no setor de telecomunicações incluem apenas telefonia fixa e móvel. ² Valores de Petróleo e Gás incluem apenas exploração e produção, abastecimento, gás e energia. 61 O aumento do montante de inversões em infraestrutura e da maior participação das estatais no mesmo deve ser creditado ao PAC, o qual incluiu projetos de infraestrutura que previam inversões de R$ 198 bilhões 14 no período 2007-2010 (tabela 6). Representa um acréscimo de 60% sobre os R$ 124 bilhões investidos pelos mesmos setores (energia elétrica, comunicações, portos, ferrovias e saneamento), entre 2002 e 2005. Crescimento real de 10% ao ano15. Tabela 6 – Expansão nos investimentos em infraestrutura¹ (2007-2010/ 2002-2005) Investimento (R$ bilhões) Previsão de Setores Realizado Previsão Crescimento 2002-2005 2007-2010 (% ao ano) Energia Elétrica 40,8 88,2 16,6 Comunicações 58,7 58,8 0,0 Portos nd 1,9 nd Ferrovias 7,7 11 7,4 Saneamento 16,3 38,1 18,5 Infraestrutura 123,5 197,9 9,9 Fonte: Torres Filho e Puga (2006b, p. 5). Dos setores analisados, destacam-se energia elétrica, ferrovias e portos, impulsionados pela dinâmica de crescimento interno e externo da economia, respectivamente, e advindos das empresas concessionárias e estatais de energia elétrica e “empresas privadas exportadoras e de logística, com forte geração de caixa e bons indicadores de lucratividade” (TORRES FILHO; PUGA, 2006b, p. 7). Em outro levantamento para o mesmo período, Torres Filho e Puga (2006a) indicaram um maior aumento dos investimentos produtivos nos segmentos fornecedores de insumos básicos: mineração; petróleo e gás; siderurgia; papel e celulose e petroquímica. Da mesma forma que a análise feita aos setores de infraestrutura, a expansão desses investimentos no setor produtivo também é heterogênea em sua essência, como ilustra o quadro 2. 14 A valores de 2006. Os investimentos no período 2002 a 2005 foram levantados a partir de informações sobre os projetos apoiados pelo BNDES no período. 15 62 Quadro 2 – Determinantes dos investimentos mapeados para 2008-2011¹ Fonte: Torres Filho, Puga e Nascimento (2007, p. 4). Legenda: (1) dados do PDI-BNDES, Prospecção do investimento, APE/BNDES. Os bancos oficiais têm garantido o financiamento tanto dos investimentos produtivos quanto às concessões de crédito ao consumo, representando, juntos, quase 87% das operações de crédito apenas no ano de 2010 (gráfico 23). Gráfico 23 – Brasil. Distribuição de Operações de crédito em 2010 Fonte: Banco Central do Brasil, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: dados em % do total. 63 Em termos dos desembolsos oriundos do BNDES em 2010, a grande maioria dos recursos vai para a indústria (R$ 78,8 bilhões) e para infraestrutura (R$ 48,2 bilhões), crescimentos de 24% e 8,1% com relação a 2009, respectivamente (gráfico 24). As medidas de fomento a determinados setores produtivos nacionais e o financiamento para as obras da Copa do Mundo de 2014, seja para estádios ou mobilidade urbana, são alguns dos fatores que explicam o volume destinado. Gráfico 24 – Desembolsos do BNDES por setor em 2010 (R$ bilhões e % do total) Fonte: BNDES, elaborado pelo Ministério da Fazenda (2010). Legenda: (*) Infraestrutura corresponde a eletricidade e gás, água, esgoto e lixo, transportes (terrestre, aquaviário e aéreo) e telecomunicações. A expansão do investimento em infraestrutura é, por sinal, condição fundamental para a aceleração do desenvolvimento sustentável brasileiro, conforme o Ministério da Fazenda (2010). O papel do Estado foi fundamental para o fortalecimento do País durante o período anterior à crise e na recuperação econômica pós-2008, produzindo os incentivos corretos e estimulando – direta ou indiretamente – o emprego e a renda. Na crise, o Governo garantiu a ampliação do crédito e o financiamento dos bancos públicos para contrabalançar a retração das linhas dos bancos privados e suprir as necessidades do setor produtivo. Medidas de desoneração tributária de produtos de consumo duráveis e de construção civil, entre outros, estimularam a demanda doméstica, que também respondeu à manutenção da confiança dos consumidores. A expansão do emprego, da renda e, consequentemente, da massa salarial propiciou a 64 preservação do círculo virtuoso do crescimento que tem caracterizado a economia brasileira na última década. (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2010, p.9). A expansão do investimento, sobretudo público, vem sendo fundamental para a superação dos gargalos de oferta da economia, tanto no mercado interno quanto no comércio exterior. Grandes obras de infraestrutura de transportes, por exemplo, estão sendo executadas com o intuito de dinamizar os fluxos de troca e facilitar a eficiência comercial dos produtores e industriais instalados no país (ferrovias, portos, aeroportos, rodovias etc.). A problemática dos transportes tem se notabilizado como um dos principais desafios na área de infraestrutura, compondo grande parte do chamado custo-Brasil. Num país de dimensões continentais e com regiões em crescimento, faz-se necessária uma rede de transportes integrada e eficaz, garantindo o correto escoamento da produção e o fluxo de mercadorias e insumos produtivos, ao menor tempo e ao menor custo possíveis. A região Nordeste, historicamente a mais pobre e carente de investimentos públicos e privados do país, tem sido beneficiada pela atual dinâmica de crescimento econômico brasileiro. Aportes de investimentos nos três setores, crescimento da corrente de comércio e nos níveis de emprego e renda também tem sido verificados nos estados da região. Investimentos públicos em infraestrutura também estão sendo executados, contribuindo para a captação de recursos privados, sejam nacionais ou internacionais. No entanto, dado que a estrutura econômica nordestina difere das regiões mais dinâmicas do país, faz-se necessária uma caracterização do ambiente de investimentos observado no Nordeste para a década de 2000. O objetivo é analisar o real impacto das inversões privadas e públicas, estas principalmente na parte de infraestrutura Logística e de Transportes, na consolidação de um mercado de consumo na região e/ou se os mesmos contribuem para afirmar a região no contexto do comércio exterior desigual (modelo exportador primário). 65 5. CARACTERIZAÇÃO E POSICIONAMENTO DO NORDESTE NA DINÂMICA RECENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA Este capítulo descreve a inserção do Nordeste na nova dinâmica de crescimento do Brasil e quais os fatores, dentre os que explicam o crescimento nacional, foram determinantes para o crescimento do mercado nordestino, em termos internos e de comércio exterior. 5.1. Caracterização econômica e panorama recente “O Nordeste é, na verdade, a face do Brasil em que transparece com brutal nitidez o sofrimento do seu povo. Aí se mostram sem disfarces as malformações maiores de nosso desenvolvimento. Se não existir política adequada para o Nordeste, pode-se dar por mais certo que os problemas. Se não existir política adequada para o Nordeste, pode-se dar por certo que os problemas maiores do país se estão agravando”. (FURTADO, 1981, p. 119). A região Nordeste, negligenciada pela falta de políticas públicas ou mesmo por medidas equivocadas, e sob a influência de fatores climáticos adversos (seca), sempre foi tida como a mais pobre e atrasada do país. Desemprego, baixos índices educacionais e de saúde, falta de dinamismo industrial (e de competitividade, mesmo nos setores tradicionais da região), elevada concentração de renda etc. Estes são alguns dos índices e fatores que demonstram a discrepância entre a estrutura socioeconômica do Nordeste em relação ao país e às demais regiões, em especial o Centro-Sul. Quando se discute a questão regional no Brasil, o foco de análise é direcionado, naturalmente, para a região Nordeste, visto que essa (historicamente) apresenta indicadores econômicos e sociais bastante desfavoráveis em relação às áreas mais dinâmicas do País. (LIMA; SIMÕES, 2010, p. 40). Como descrito na passagem acima, a situação desigual entre o Nordeste e as demais regiões do país, notadamente o Centro-Sul, vem de décadas. Lima e Simões (2010) afirmam que mesmo os investimentos nacionais recebidos pela região no período 1950-1980 não foram suficientes para diminuir essa desigualdade, além de reforçar a heterogeneidade dentro da própria região. Constata-se a existência de grandes áreas estagnadas, “nas quais a 66 modernização, quando ocorre, é bastante seletiva e limitada” (LIMA; SIMÕES, 2010, p. 40), e algumas áreas de maior dinamismo e moderno parque produtivo. Celso Furtado, que dedicou importante contribuição teórica no intuito de promover a superação do atraso da economia nordestina, descreve a região de forma contundente em duas de suas obras, posteriores a primeira grande contribuição à formulação de políticas para o desenvolvimento da região: o Relatório “Uma Política de Desenvolvimento para o Nordeste”, do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN), em 1959. Neste, afirmações como “O Nordeste brasileiro se singulariza no Hemisfério Ocidental como a mais populosa zona de nível de renda inferior a cem dólares” (GTDN, p. 7, 1959), e diagnósticos, como o da relação dependente com a economia do Sudeste, são estabelecidos. O intuito foi de caracterizar o subdesenvolvimento nordestino e seus condicionantes, para então se definir políticas para a sua superação. Na Perspectiva da Economia Brasileira (FURTADO, 1960), expõe quatro características marcantes do que ele designou como sistema econômico nordestino: os baixos níveis de renda, a descontinuidade de sua articulação econômica interna, a ausência de condições de gerar espontaneamente poupança necessária para crescer e uma classe capitalista (comerciantes em geral) com reduzida propensão a investir produtivamente na economia. “Assim, quando no capítulo XI de FEB, Celso Furtado fala de “complexo econômico nordestino”, é toda uma economia que está configurada neste conceito: o setor açucareiro, exportador; a economia algodoeira voltada para exportação e para o mercado interno; a pecuária sertaneja extensiva e seus desdobramentos piauienses; as ubíquas manchas da agricultura de subsistência; a expansão territorial e a diversificação produtiva que decorrem da ocupação das terras maranhenses.” (PAULA, 2009, p. 111). Em O Brasil Pós-“Milagre” (1981), Celso Furtado aponta para o processo de industrialização que ocorria no Nordeste a partir de um eixo de integração que reduz a autonomia regional – produção de insumos para o Centro-Sul e importação de equipamentos e outros insumos desta. Constata, assim, o avanço da integração regional, com a articulação das regiões brasileiras em um sistema de mínima integração, classificada enquanto nova dependência que se apoia em uma subordinação à lógica da industrialização do Centro-Sul e transforma o Nordeste num simples apêndice de um mercado de alta renda. Pode-se associar essa questão a uma importante passagem do documento do GTDN, citado anteriormente: 67 [...] o Nordeste, fornecendo divisas ao Centro-Sul, tem contribuído para o desenvolvimento desta última região com o fator nela mais escasso: capacidade de importação. Pagando com divisas parte substancial do que adquire no Centro-Sul, o Nordeste vem contribuindo para dar maior flexibilidade à oferta nessa região. [...] o Nordeste constitui um mercado de maiores proporções para o Centro-Sul, que o inverso; em outras palavras, o Centro-Sul vende no Nordeste quantidade substancialmente maior de mercadorias do que compra. De resto, como as exportações do Centro-Sul para o Nordeste se compõem principalmente de manufaturas, pesando nas exportações nordestinas muito mais as matérias-primas, cabe concluir que a discrepância a favor do Centro-Sul ainda é maior se se mede o intercâmbio em termos de emprego criado nas duas regiões. (GTDN, 1959, p. 25). Essas mudanças persistiram na década de 1990, com o parque produtivo industrial nordestino apresentando duas características principais em relação à expansão da indústria nacional liderada pelo Sudeste: dependência e complementaridade (Quadro 3). Quadro 3 – Nordeste: características de dependência e complementaridade da indústria no período 1995-2007 DEPENDÊNCIA COMPLEMENTARIDADE O comércio e a transferência de Tendência a complementaridade entre a capitais produtivos para a periferia, em indústria do Nordeste e do resto do país, especial o Nordeste, intensificam a devido os recursos de investimento integração nacional; serem externos à região; Recursos, principais fornecedores e consumidores eram, em geral, extrarregionais; Indústria nordestina voltada para mercados consumidores extrarregionais (fornecedora de insumos); Crescimento da indústria nordestina atrelado ao bom desempenho da indústria do Sudeste (nacional). O parque produtivo nordestino se ajustou ao nacional e passou a acompanhar seus movimentos cíclicos. Fonte: elaborado pelo autor, a partir de Lima e Simões (2010, pp. 41-42). A economia nordestina resistiu por “[...] mais de três séculos às mais prolongadas depressões, logrando recuperar-se sempre que o permitiam as condições do mercado externo, sem sofrer nenhuma modificação estrutural significativa” (FURTADO, 1959, p. 56). A introdução de novos produtos de relevante importância na pauta exportadora (como o cacau e o algodão), o relevante processo de urbanização das principais capitais (Salvador, Recife e Fortaleza), a industrialização de várias áreas da região (influenciada pelo direcionamento de 68 investimentos a partir de mecanismos federais, como Sudene e BNB, e estaduais, por meio de incentivos fiscais) não mudaram os aspectos fundamentais da região em termos sócioeconômicos. Conforme Furtado (1989), problemas graves da região, como a disparidade de renda quanto ao Centro-Sul e o crescimento econômico menor que o desta região, persistem até os dias atuais. A obra se referia ao período da década de 1980, mas caracteriza bem o panorama da década seguinte. O PIB nordestino, assim como as demais regiões do país, teve desempenho praticamente estável durante a década de 1990. Nos anos 2000, observou-se crescimento, porém pouco acima da média brasileira e das regiões Sul e Sudeste (Gráfico 25). Gráfico 25 – Série encadeada do volume do Produto Interno Bruto Regional e Brasil (1995-2009) 190,0 170,0 150,0 Brasil Norte 130,0 Nordeste 110,0 Sudeste Sul 90,0 Centro-Oeste 70,0 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 50,0 Fonte: elaborado pelo autor, a partir de dados das Contas Regionais do Brasil, IBGE (2012). Num contexto econômico liberal, como o da década de 1990, com o encolhimento do Estado, economia com estabilidade de preços, porém baixo crescimento, a dinâmica de investimentos (principalmente públicos) não seria diferente do panorama nacional descrito anteriormente neste trabalho. E a região Nordeste permaneceu estagnada ou mesmo apresentando baixo crescimento, carente de inversões em infraestrutura e políticas públicas indutoras. Escassez também verificada quanto aos investimentos privados, devido a pouca atratividade do mercado nordestino, em diversos setores. 69 Em termos de participação percentual no PIB brasileiro, a tendência observada no gráfico anterior, para os dois períodos (1995-1999 e 2000-2009) foi semelhante. Ressalte-se que a série comparativa inicia em 1995 devido a ser o primeiro ano disponível da série (Gráfico 26). Gráfico 26 – Participação das Grandes Regiões e Unidades da Federação no Produto Interno Bruto (1995-2009) 80,0 70,0 60,0 Norte 50,0 Nordeste 40,0 Sudeste 30,0 Sul 20,0 Centro-Oeste 10,0 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 - Fonte: elaborado pelo autor, a partir de dados das Contas Regionais do Brasil, IBGE (2012). Indicadores como educação, saneamento básico, saúde e segurança pública reforçam os problemas nordestinos e a discrepância quanto às demais regiões, ressaltando que a situação no restante do país, mesmo sendo melhor, também se apresenta problemática. Essas deficiências prejudicam o crescimento da região, visto que, por exemplo, os baixos níveis educacionais comprometem a qualificação da mão de obra necessária ao setor produtivo. E a baixa cobertura de saneamento nas capitais e, principalmente, no interior nordestino pressiona custos do setor de saúde. Ambas as deficiências acabam por se configurar em restrições à atração de investimentos produtivos, o que pode explicar, de certa forma, a maior localização dos parques industriais dos estados nordestinos serem próximas às regiões metropolitanas, demais capitais e cidades médias. Logo: “[...] característica dessa [...] indústria foi seu elevado grau de concentração espacial: Bahia, Ceará e Pernambuco foram os Estados mais beneficiados por esse processo e os níveis de emprego, produtividade e salários registrados nesses Estados eram os mais elevados da região. O resultado foi uma indústria concentrada, pouco integrada 70 internamente, com baixo nível de diversificação, elevado diferencial de produtividade, salários e emprego e pouco representativa quando comparada à indústria nacional”. (LIMA; LIMA, 2005, p. 43). As áreas dinâmicas da região ocupam uma pequena parte do território nordestino, sendo esparsas e, em geral, possuem elevado nível de concentração e especialização. De acordo com o IBGE16 (2008), em termos de áreas de influência, a divisão na região é esta: a) Divisão 1 (Metrópole): Fortaleza, Recife e Salvador; b) Divisão 2 (Capitais Regionais): São Luís, Teresina, Natal, João Pessoa, Maceió e Aracaju (nível A – mediana de 955 mil habitantes); Campina Grande/PB, Feira de Santana/BA, Ilhéus-Itabuna/BA e Vitória da Conquista/BA (nível B – 435 mil habitantes); Imperatriz/MA, Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha/CE, Sobral/CE, Mossoró/RN, Caruaru/PE, Petrolina/PE-Juazeiro/BA, Arapiraca/AL e Barreiras/BA (nível C – 250 mil habitantes). Praticamente toda a dinâmica industrial, e econômica em geral, gira em torno das aglomerações citadas acima, guardadas discrepâncias mesmo entre esses centros dinâmicos, como por exemplo, entre Fortaleza e Sobral que são cidades separadas por pouco mais de 220 km dentro do mesmo estado. Assim, a desigualdade ocorre entre o Nordeste e as demais regiões do país, e dentro da própria região. Nos anos 2000, principalmente a partir da metade da década, o cenário mudou para a região. Com o crescimento da economia do país, puxado pelas exportações e crescimento do mercado interno (com os programas de transferência de renda e aumento nos níveis de emprego), a economia nordestina também foi beneficiada, não tardando a apresentar taxas de crescimento superiores às do Brasil. E a indústria nordestina também cresceu. Para Barros e Athias (2009), a explicação para o crescimento do Nordeste acima da média nacional está nos seguintes fatores: a) Impacto dos programas de transferência de renda (pois a região possui a maior parte dos beneficiários de programas como o Bolsa Família), por meio do efeito-demanda e efeito desenvolvimento tecnológico 17; 16 A classificação do IBGE contempla 5 divisões (Metrópole, Capital Regional, Centro sub-regional, Centro de Zona, e Centro Local). O estudo Regiões de Influência das Cidades (2008) mostra as redes formadas pelos principais centros urbanos do País, baseadas na presença de órgãos do executivo, do judiciário, de grandes empresas e na oferta de ensino superior, serviços de saúde e domínios de internet. Tais redes, às vezes, se sobrepõem à divisão territorial oficial, estabelecendo forte influência até mesmo entre cidades situadas em diferentes unidades da federação. 71 b) Importância das elevações contínuas no salário mínimo. Como o Nordeste possui a maior proporção de trabalhadores do país que recebem até um salário mínimo (Tabela 7), os efeitos positivos de uma política de valorização do mesmo acabam por afetar positivamente o setor produtivo da região, de forma mais intensa que nas demais. Ressalte-se que essa política afetou positivamente toda a economia do país, e tem sido um dos mecanismos de indução de crescimento do mercado interno por meio do consumo, somado a maior disponibilidade de crédito. Tabela 7 – Proporção de pessoas de 10 anos ou mais de idade recebendo até um salário mínimo e com até quatro anos de estudo nas diversas regiões brasileiras em 2007. Proporção de pessoas de 10 anos ou Proporção de pessoas de 10 anos ou mais de idade recebendo até um mais de idade com até quatro anos salário mínimo de estudo Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste 23,90% 26,30% 38,30% 17,10% 17,90% 21,40% 35,60% 38,80% 45,90% 30,50% 31,50% 33,10% Fonte: adaptado de Barros e Athias (2009, p. 8), a partir de dados do IBGE/ PNAD (2007). A análise do comportamento do emprego na região Nordeste do Brasil no período 1995 e 2007 indica, conforme Lima e Simões (2010), que não houve mudanças significativas na estrutura produtiva regional, com elevada concentração do emprego. Ressaltam ainda que possam surgir outras áreas dinâmicas, porém sem mudança no panorama atual: maior ligação com áreas extrarregionais, “com baixo efeito de encadeamento na economia local, funcionando em alguns casos como enclaves”. (LIMA; SIMÕES, 2010, p. 62). Com políticas recentes de transferência de renda, ampliação do valor real do SM, aumento do acesso a crédito, aumento da formalização dos trabalhadores, os rendimentos médios na região Nordeste têm crescido significativamente acima da média nacional entre 2004 e 2009, uma vez que o rendimento real nesta região cresceu a uma taxa próxima a 5%. Aliado a este processo de crescimento do rendimento real dos trabalhadores, observam-se a ampliação do emprego e o 17 O efeito desenvolvimento tecnológico ocorre por que as pessoas preferem não trabalhar a salários baixos e ficar aptas a receber as transferências sem ter que realizar o esforço relacionado com o trabalho. Isso muda a relação de custo entre o fator trabalho e o investimento em tecnologia, o que eleva o investimento em desenvolvimento tecnológico. Como no Nordeste ha maior contingente de pobres com potencial acesso aos programas de transferência, essa retração da oferta de mão de obra é relativamente maior, o que elevou o desenvolvimento tecnológico relativo na região. (BARROS; ATHIAS, 2009, p. 5). 72 crescimento da formalização, isto é, de trabalhadores cobertos pelo sistema de seguridade social. Em 2001, perto de 45% dos trabalhadores tinham cobertura formal da seguridade social; em 2009, este percentual chega a quase 56% dos trabalhadores, num período de forte expansão do emprego formal. Este fato ocorre em todas as regiões. Não obstante este crescimento, nota-se novamente a diferença na estrutura produtiva das regiões. (Carleial e Cruz, 2010, p.18). Ainda conforme Carleial e Cruz (2010), na região Nordeste são o comércio e a administração pública os setores que mais contribuíram para a criação de empregos. Mesmo concentrada, dependente e complementar à indústria dinâmica do país, localizada no Sudeste, o setor industrial representa 24% do PIB nordestino, com 67% para o setor de serviços e apenas 9% da agropecuária. Essa distribuição, de acordo com dados oficiais, é verificada também entre os estados nordestinos, e mesmo entre suas capitais. Esta repartição é semelhante à composição do PIB do Brasil, com 66% de participação sendo referente ao setor de Serviços, 28% ao setor da Indústria e apenas 6% de participação da Agropecuária. Proporção esta menor que a do próprio setor no Nordeste. (Gráfico 27). Gráfico 27 – Participação (%) setorial do Valor Adicionado por setores econômicos – Brasil e Nordeste (2008) Fonte: IBGE e IPECE (2010). Legenda: PIB a preços de mercado (estão inclusos os impostos líquidos e subsídios). Como afirmado anteriormente, não apenas a economia nordestina, mas também a indústria da região cresceu acima da média nacional (Tabela 8). Isso retrata a relação da indústria regional com a nacional, nos sentidos de dependência e complementaridade, visto a aceleração da atividade econômica brasileira nos anos 2000, desta feita com maior apelo ao mercado interno. 73 Tabela 8 – Evolução das taxas 2008) Anos 2004 (=100%) 2005 2006 2007 2008 Taxa média anual (%) acumuladas e anuais da Indústria – Brasil e Nordeste (2004Brasil 100 102,1 104,3 109,8 114,3 3,4 Nordeste 100 102,4 105,8 111,3 115,9 3,8 Fonte: adaptado de IBGE (Contas Nacionais) e IPECE (2010). Em termos de maiores economias da região, o panorama percebido nas duas décadas anteriores não se altera, mantendo-se Bahia, Pernambuco e Ceará como as economias mais dinâmicas da região Nordeste (Gráfico 28). Gráfico 28 – Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado – Região Nordeste (2008) Fonte: IBGE (Contas Nacionais) e IPECE (2010). 5.2. Comércio exterior O crescimento econômico da região também se refletiu no comércio exterior, assim como ocorreu com o Brasil. Porém, deve-se levar em conta a natureza da inserção da economia brasileira no cenário internacional que, segundo Araújo (2006b), é caracterizada 74 como “submissa” e “passiva” frente ao ambiente mundial dos anos 1980 e 1990. Conforme diz, quando se observa o Nordeste, os programas federais “Avança Brasil” e “Brasil em Ação”, colocados em prática na época, evidenciam bem essa tendência, privilegiando apenas os vales úmidos da fruticultura, o litoral do turismo e o oeste graneleiro, ou seja, áreas da região já consideradas competitivas. Portanto, o pouco que se tinha em termos de política de investimentos era direcionado para essas áreas, negligenciando áreas mais carentes de estímulos, como setores com defasagem tecnológica, o semi-árido, a pecuária e mesmo a agricultura de subsistência. De acordo com Haddad (2007), a economia brasileira não é homogênea internamente, apresentando fortes variações entre regiões e setores. Logo, ao se analisar a estrutura de comércio internacional dos estados, deve-se considerar as características particulares de suas estruturas produtivas e de comércio. Essas características, em geral, podem ser explicadas pelas diferenças entre os estados no que concerne aos custos de transporte, às economias de escala e à dotação de fatores. Perobelli (2004) calculou os pontos fortes de comércio internacional para as unidades da federação, adotando explicitamente a teoria ricardiana das vantagens comparativas reveladas pelos estados. As principais considerações estão a seguir: Em geral, enquanto se verificou uma grande concentração dos fluxos de comércio originados no Centro-Sul do país, onde os estados apresentaram maior diversificação da pauta de exportação, nos estados localizados nas regiões periféricas observou-se um padrão de maior especialização no comércio internacional. Identificaram-se, nesses estados, vantagens comparativas em produtos cuja produção se beneficia de fatores bastante específicos, tais como dotação de recursos naturais, baixo custo da mão de obra e até mesmo incentivos fiscais que criam vantagens competitivas espúrias. (PEROBELLI, 2004 apud HADDAD, 2007, p. 208). Numa análise posterior, Haddad e Perobelli (2005) introduziram o custo de transporte entre portos de entrada e saída dos fluxos internacionais e os locais de consumo e produção em território nacional. O objetivo era avaliar os impactos regionais da liberalização de barreiras ao comércio internacional em um contexto de um sistema interestadual integrado. Os autores consideraram os impedimentos espaciais que afetam negativamente a transmissão interna dos benefícios do processo de liberalização comercial, como, por exemplo, os altos custos de transporte das regiões remotas. 75 Os resultados mostraram que as regiões litorâneas apresentam uma vantagem geográfica que lhes proporciona maiores ganhos associados a uma integração mais ampla do Brasil com o exterior. A distribuição espacial dos portos de entrada para as importações estaduais e dos portos de saída para as exportações estaduais mostra que algumas economias estaduais dependem em grande parte de portos localizados fora de suas fronteiras. Estes resultados sugerem a existência de uma “armadilha espacial” na economia brasileira, associada, em grande medida, a configuração da estrutura de transporte existente no país, à especialização produtiva regional e à interdependência produtiva espacial que daí emerge. Assim, em um contexto de maior liberalização comercial, as regiões tradicionalmente mais desenvolvidas teriam um ponto de partida privilegiado. (HADDAD, 2007, p. 228) Com relação às exportações, sabe-se que seus efeitos positivos não se restringem apenas à geração de superávit comercial, mas que contribuem também para a geração de emprego e renda. Em contraponto, observa-se uma forte dependência dos estados brasileiros mais pobres quanto ao fluxo de comércio interestadual, em comparação com os fluxos de comércio internacional, fato este que pode ser analisado em termos do multiplicador da indústria (gráfico 29) e dos coeficientes de exportação e importação estaduais (tabela 9). Gráfico 29 – Decomposição do multiplicador da Indústria, Brasil, 1996 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 AC AP AM PA RO RR TO AL BA CE MA PB PE PI RN SE ES MG RJ SP PR SC RS DF GO MT MS INTRA-Regional INTER-Regional Fonte: Haddad e Domingues (2003) apud Haddad (2007, p. 233). Pelo gráfico 29, percebe-se que em São Paulo, 85% do efeito (líquido) multiplicador é internalizado pelo próprio estado, enquanto no Ceará 47% é absorvido. A 76 interdependência estadual, no caso da indústria brasileira e, sendo mais específico, da cearense, mostra-se bastante relevante. E, apesar dos dados se referirem ao ano de 1996, pode-se presumir que os índices não perceberam grandes alterações, visto a estrutura econômica dos dois estados ainda apresentar consideráveis discrepâncias. Esses estudos demonstram que a relação de dependência e complementaridade do Nordeste para com o Sudeste, observada por Furtado, ainda permanece na conjuntura recente. Tabela 9 – Coeficientes de Exportação interestadual e internacional: Estados brasileiros, 1997 Estado Acre Alagoas Amapá Amazonas Bahia Ceará Distrito Federal Espírito Santo Goiás Maranhão Mato Grosso Mato Grosso do Sul Minas Gerais Pará Paraíba Paraná Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Rondônia Roraima Santa Catarina São Paulo Sergipe Tocantins Fonte: Haddad (2007, p.239). Exportações Exportações Interestaduais/PIB Internacionais/PIB 25,7 0,1 30,8 4,6 5,3 3,4 87,7 1,9 30,5 4,4 28,9 2,1 10,4 0,0 90,2 5,6 52,6 2,3 13,1 8,7 76,5 7,9 41,6 2,6 57,5 7,6 14,5 14,0 27,5 0,9 59,1 7,7 31,2 1,1 13,5 1,2 23,8 1,4 36,1 7,6 32,3 1,6 17,6 1,0 13,8 0,3 61,7 7,9 49,0 5,4 39,1 0,6 20,5 0,6 A partir dos dados da tabela 9, tem-se que os fluxos interestaduais possuem importância relativa maior para os estados menos desenvolvidos, com exceção do Amapá, Maranhão e Pará, que possuem sistemas de transporte e comunicação voltados predominantemente para o escoamento das exportações de minérios. 77 Quanto aos fluxos internacionais, em termos relativos, sua contribuição é menor que os fluxos interestaduais para estados mais e menos desenvolvidos, com exceção do Pará (já citado acima), o que demonstra o pouco grau de abertura da economia brasileira. Assim, pode-se chegar à conclusão de que para muitas regiões do país, o futuro talvez não esteja tão intimamente ligado à sua performance nos mercados internacionais, mas sim a sua articulação com outros mercados domésticos. Mais uma vez, vislumbra-se espaço para a atuação do poder público, através de ações visando a modernização da REDE DE TRANSPORTE do país, gerando uma integração mais eficiente entre os mercados produtores e consumidores, e maximizando, assim, os efeitos das estratégias de política comercial brasileira. Destarte, não apenas seriam criados mecanismos para a propagação dos efeitos feedbacks, mas também aumentaria a COMPETITIVIDADE dos produtos brasileiros no mercado internacional. (HADDAD, 2007, p. 240) Analisando a expansão da corrente de comércio exterior da região no período recente18, observa-se expansão entre 2000 e 2010 (Gráfico 30), à exceção de 2009, quando toda a economia brasileira sentiu os efeitos imediatos da crise financeira internacional. Gráfico 30 – Nordeste. Exportação e Importação no período 2000-2010, em US$ FOB (milhões) 16.000.000.000 14.000.000.000 12.000.000.000 10.000.000.000 EXPORTAÇÃO 8.000.000.000 IMPORTAÇÃO 6.000.000.000 4.000.000.000 2.000.000.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Fonte: elaboração do autor, a partir de dados do Sistema AliceWeb/MDIC (2012). 18 Tomando por base os números dos principais estados, em termos de corrente de comércio exterior, da região: Bahia, Ceará, Maranhão e Pernambuco. 78 A forte expansão, tanto das vendas quanto das compras externas, está associada a dinâmica de crescimento recente da economia brasileira, que tem afetado o Nordeste de forma mais incisiva por meio, como posto anteriormente, devido às políticas de estímulo ao consumo com as transferências de renda, aumento do salário mínimo e expansão do crédito. Adicionalmente, outro fator tem sido determinante para a trajetória do comércio externo no período tanto para o Brasil quanto para o Nordeste: a expansão do comércio exterior e da economia da China (tabela 10), atualmente o maior parceiro comercial brasileiro. Tabela 10 – Brasil: Evolução do Saldo da Balança Comercial (2002-2007) (US$ Milhões) Fonte: Melo e Moreira (2007). Conforme Moreira e Melo (2007), tanto o crescimento das exportações quanto das importações brasileiras tem sido explicado pela dinâmica da economia chinesa, seja pela compras de produtos básicos (commodities) brasileiros ou pela venda ao Brasil de produtos manufaturados de média alta e alta tecnologia (bens duráveis e de capital). Para a região Nordeste o mesmo contexto tem sido observado, com as trocas comerciais dos estados da região com a China sendo determinantes para o aumento da corrente de comércio externo nordestina. Apenas entre 2003 e 2007 as exportações nordestinas para a China cresceram 68% ao ano, e as importações 64%. Bahia e Maranhão concentraram a maior parcela das vendas para a China e responderam, em 2007, por 96% do valor total exportado pela Região para esse destino. Esses Estados são importantes produtores de bens intermediários, setores em que a demanda chinesa esteve em expansão nos últimos anos. Do lado das compras, Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco responderam juntos por 93% do valor total adquirido naquele ano. Os quatro Estados citados são os que, na Região, apresentam economias relativamente dinâmicas na produção e no consumo, o que justifica essa participação nas compras externas. (MOREIRA; MELO, 2007, p. 98). 79 Portanto, da mesma forma que os números brasileiros, as exportações nordestinas para a China estão fortemente associadas a bens intermediários (semimanufaturados) e básicos (como minério de ferro), e as importações relacionadas a bens duráveis e bens de capital. O perfil das importações demonstra o momento econômico da região, com aumento do consumo das famílias e das aquisições externas como consequência da economia aquecida, além do fator cambial favorável no período. Quanto às exportações, além dos produtos tradicionalmente vendidos aos chineses, os estados da região também exportam manufaturados, a partir das regiões dinâmicas descritas por Moreira e Melo (2007) – a dizer, Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco – que possuem parques industriais relevantes na região e de certa especialização, em setores como calçados, alimentos, têxtil, metal-mecânico etc. O aumento do dinamismo econômico observado trouxe além de benefícios ao crescimento da região em termos de mercado de consumo e atração de investimentos, questões importantes que merecem atenção do setor privado e, especialmente, do poder público: escassez de mão de obra especializada, baixa cobertura de saneamento básico, burocracia excessiva, incertezas regulatórias, ameaças de repiques inflacionários a cada surto de crescimento da economia, dentre outros. Porém, um problema em especial tem afetado o setor produtivo de forma mais incisiva e demandado das autoridades públicas soluções de planejamento e operação eficazes na sua superação: os gargalos na infraestrutura de transportes. Os modais de transporte e todos os agentes envolvidos direta e indiretamente em seu escopo, além do setor produtivo demandante desses serviços, tem papel fundamental não apenas na garantia da mobilidade humana, mas também na garantia do suprimento, escoamento e comercialização da produção da economia. E regiões como Suape/PE, Camaçari/BA e Pecém/CE são pautadas na atração de setores industriais de ampla cadeia produtiva, como forma de expandir não apenas esses polos, mas também todo o entorno. Ao mesmo tempo em que há a atuação dos governos na busca por esses empreendimentos motrizes, o mercado nordestino tem se expandido rapidamente, e ganho posição de destaque para grandes empresas brasileiras e estrangeiras, dos mais diversos setores, da indústria aos serviços, que vislumbram na região um mercado consumidor em franca expansão. [...], é importante destacar a retomada considerável dos investimentos no Brasil, especialmente através do chamado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), [...]. Há uma ampliação das inversões públicas e, em especial, percebe-se alguma 80 desconcentração regional dos investimentos. Tal fato pode ser observado, por exemplo, através dos desembolsos do BNDES, aumentados em R$ 45 bilhões em 2009, uma elevação de quase 50% em relação aos períodos anteriores. Quando se compara a distribuição regional, nota-se que as regiões menos desenvolvidas do Norte e do Nordeste praticamente duplicaram a participação nos desembolsos. A construção de refinarias e investimentos ligados à cadeia de petróleo e gás abrem oportunidades para novos empreendimentos que possam alterar a estrutura produtiva destas regiões, através de investimentos que complementem esta cadeia de produção. (CARLEIAL; CRUZ, 2010, p.20). Partindo do exposto anteriormente, tem-se que a dinâmica de crescimento observada no Brasil tem afetado positivamente o Nordeste, no sentido da atração de investimentos, públicos e privados, seja em infraestrutura ou cadeias produtivas. A região tem gerado emprego e renda, fazendo com que um mercado de consumo regional comece a surgir no Nordeste. Mas, conforme Haddad (2007), a região precisa estar integrada ao restante do país por meio de uma moderna e eficiente rede de transporte, que garanta competitividade a sua produção e mercado consumidor. Em conseqüência, aumentar a corrente de comércio com o restante do Brasil e mesmo com o exterior. Logo, faz-se necessário analisar a tipologia desses investimentos e seu direcionamento, sejam eles produtivos ou em infraestrutura Logística e de transportes, no sentido de consolidar um mercado interno crescente no Nordeste e também expandir o comércio exterior da região. O que é feito no capítulo seguinte. 81 6. INVESTIMENTOS PRODUTIVOS E EM INFRAESTRUTURA NA REGIÃO NORDESTE NO PERÍODO 2000-2010 A Região Nordeste é composta por nove estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe) e tem o 3º maior território entre as cinco Regiões brasileiras, com uma área de 1.554.257,0 km2 – correspondente a 18,3% do território nacional. Apresenta, hoje, uma população de cerca de 53 milhões de habitantes, na qual se observa ainda uma grande proporção de pobreza absoluta, e alta diferenciação de densidades dos principais modais de transporte (rodoviário e ferroviário). Com a retomada do crescimento do país, a expansão econômica afetou positivamente a economia em seus diversos setores, em todas as regiões. No Nordeste, como comentado anteriormente, o novo ciclo de crescimento da economia brasileira fez com que esta ressurgisse no cenário nacional, devido o seu grande potencial de seu mercado. Conforme Torres Filho et. al. (2009, p. 2): “A generalização do ciclo de investimento (no Brasil, de 2000 a 2006) deu maior solidez ao processo (de crescimento econômico). As inversões em infraestrutura, além de aumentarem a competitividade sistêmica da economia, tiveram a capacidade de alavancar investimentos do setor privado em outros segmentos – efeito arraste. A expansão dos setores de bens de consumo durável e de construção residencial, por sua vez, gerou efeitos multiplicadores na economia ao elevar o nível de renda e o volume de emprego. Como resultado, o investimento da economia deixou de ser motivado pelo cenário internacional favorável. O dinamismo do mercado interno também se tornou relevante”. O crescimento endógeno, baseado tanto no consumo quanto no investimento, também esteve caracterizado no ambiente econômico nordestino. As políticas governamentais de indução ao crescimento, materializadas na criação e execução do PAC, em 2007, contemplaram o direcionamento de investimentos para a infraestrutura, em especial de Logística e Transportes. No ano de 2008, boa parte do crescimento do PIB foi explicada pelo desempenho da variável investimento, mesmo num cenário de crise, iniciada em 2007 e agravada em setembro de 2008 com a quebra do banco Lehman Brothers. No entanto, a crise afetou setores que até então lideravam o crescimento do investimento brasileiro, como os ligados a 82 commodities agrícolas e minerais, extrativa mineral, siderurgia e papel e celulose (puxados pela demanda externa); e ao de construção civil (afetada pela relativa escassez de crédito no mercado interno devido à incerteza no cenário internacional). No entanto, conforme Torres Filho et. al. (2009), mesmo num contexto de crise internacional não houve queda brusca nos investimentos planejados, em especial nos seguintes setores: petróleo e gás (devido aos planos de inversões da Petrobras na camada présal), mineração (Vale), energia e telecomunicações (concessões públicas e atualização tecnológica, respectivamente) e infraestrutura (PAC). Gráfico 31 – Evolução dos Investimentos em Infraestrutura por setor (em R$ bilhões) Fonte: GT do Investimento. Elaboração da APE/BNDES. (Puga e Borça Jr, 2011, p.3). Legenda: período 2001-2010 (dados consolidados) e 2011-2014 (projeções). Isso demonstra que os investimentos em infraestrutura têm sido fundamentais para o aumento da competitividade e a manutenção do crescimento econômico. Essas inversões estabelecem as bases para o fortalecimento do setor produtivo no espaço regional e o estabelecimento de novos empreendimentos em áreas muitas vezes isoladas, porém possuidoras de grande potencial econômico. Além de desenvolver determinadas regiões, esses investimentos também possibilitam a integração das áreas produtivas distantes dos nós de escoamento da produção para o exterior, caso de portos (como Pecém/CE, Itaqui/MA e Suape/PE) e grandes aeroportos 83 (Fortaleza e Recife, por exemplo). Dessa forma, contribuem para a facilitação e expansão do comércio exterior nordestino. A região Nordeste tem sido bastante beneficiada pelo panorama recente de crescimento brasileiro. Afluxos consideráveis de investimentos no setor produtivo foram anunciados entre 2004 e 2010, de acordo com dados da Rede Nacional de Informações sobre o Investimento – RENAI. Destaque para projetos voltados às Indústrias de transformação; Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos; e Transporte, armazenagem e comunicação. A construção civil também tem avançado principalmente nas grandes capitais nordestinas: Fortaleza, Recife e Salvador. Essas três cidades e seus respectivos estados concentraram grande parcela das inversões planejadas para o Nordeste. Panorama similar tanto para investimentos em infraestrutura de Logística e Transportes quanto ao setor produtivo. A seguir será descrita a caracterização dos investimentos em infraestrutura de Logística e Transportes direcionados ao Nordeste, com ênfase no período 2007-2010, em decorrência do PAC, e avaliado o seu real caráter de atração de novos investimentos produtivos para a região. Partindo da Teoria de Investimento Keynes-Minsky, será avaliado se, em termos qualitativos, o aumento dos investimentos produtivos da região Nordeste fora induzido pelas inversões em infraestrutura e uma melhora no ambiente de investimentos. 6.1. Investimentos produtivos no Nordeste entre 2004 e 2010: caracterização por setores de atividade econômica e estados receptores As informações acerca dos investimentos por setores de atividade econômica para o Nordeste foram coletadas a partir do Banco de Dados de Projetos de Anúncios de Investimentos, disponibilizado no sítio da RENAI semestralmente (a partir de 2004) por meio de relatório. O relatório traz informações sobre o ambiente de investimentos na economia nacional, proporcionando uma estimativa aproximada sobre para que setores, estados e municípios estão previstas a realização de novas inversões, sejam elas para implantação, expansão ou modernização. Além de sua magnitude, origem e distribuição no tempo. É importante salientar que os dados divulgados pela RENAI não são investimentos efetivamente realizados, e sim anúncios de intenções de investimentos futuros. O que se vai ao encontro da intenção deste trabalho, pois a motivação de executar investimentos em determinada região parte da existência de um ambiente econômico 84 favorável para tal. E, como descrito nos dois primeiros capítulos, a economia brasileira experimenta um período de crescimento desde os anos 2000, mais especificamente a partir de 2004-2005. Em 2004 os setores que mais anunciaram investimentos para o Nordeste foram: alojamento e alimentação (US$ 1,08 bilhão), e indústrias de transformação (US$ 8,2 bilhões). No total, a região registrou mais de US$ 10,2 bilhões em intenções de execução de projetos produtivos, nos diversos setores de atividade econômica. Tabela 11 – Brasil e Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2004 por Setor Valor US$ Setor Nordeste Resto Brasil 2.273.840 37.374.174 Agricultura. pecuária. silvicultura e exploração florestal 1.082.163.874 488.880.783 Alojamento e alimentação Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos Construção Indústrias de transformação Indústrias extrativas Outros serviços coletivos, sociais e pessoais Produção e distribuição de eletricidade, gás e água Transporte, armazenagem e comunicações Demais1 Total Total 39.648.014 1.571.044.657 262.775.744 1.930.201.574 2.192.977.318 8.218.504.802 213.278.000 4.545.455 227.228.718 234.016.007 10.244.786.440 43.697.736.992 7.966.640.252 807.455.231 13.183.461.213 14.602.368.783 729.032.528 83.443.151.530 51.916.241.794 8.179.918.252 812.000.686 13.410.689.931 14.836.384.790 729.032.528 93.687.937.970 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da RENAI (2004). Legenda: (1) Compreende os investimentos nos setores não contemplados na Região Nordeste. Neste ano a recuperação da economia brasileira se dava basicamente por indução externa, advinda dos setores exportadores, beneficiados pelo panorama favorável do comércio mundial. Os investimentos anunciados para a indústria de transformação se concentraram em segmentos como derivados de petróleo, químico e petroquímico, papel e celulose, minerais metálicos e não metálicos. Os segmentos têxtil e de alimentos e bebidas também registraram grandes volumes de investimentos programados, num sinal claro do início da recuperação do mercado interno advinda do contexto externo favorável e do início da aplicação das medidas de estímulo fiscal por parte do governo (valorização do salário mínimo e transferências de renda). Maranhão, Bahia, Pernambuco e Ceará concentraram mais de 60% desses investimentos. Nos anos de 2005 e 2006, mais investimentos continuaram sendo anunciados para a região, com “alojamento e alimentação” e “indústrias de transformação” mantendo a 85 liderança, concentrando grande parcela dos recursos regionais totais (Tabela 12). O segmento “Produção e distribuição de eletricidade, gás e água” também começa a ganhar destaque, com o incentivo ao potencial de geração de energias renováveis e outras formas de geração à base de combustíveis fósseis (usinas termoelétricas). As inversões voltadas às “indústrias de transformação” tiveram contribuição decisiva dos estados da Bahia e Pernambuco, que concentraram considerável parcela do montante acumulado de US$ 10,6 bilhões anunciados para a região. Os pólos industriais de Camaçari/BA e Suape, em Ipojuca/PE, e seus municípios de entorno parecem explicar esse movimento, além dos investimentos anunciados para as respectivas capitais: Salvador e Recife. Outra característica importante é que entre 60%-70% dos investimentos anunciados para o setor no período se referiam à implantação ou expansão da capacidade produtiva. Esse direcionamento vai ao encontro do período de expansão no nível de emprego e da renda no país, que começa em 2006 e se intensifica a partir de 2007, com a aceleração do crescimento da economia brasileira. O setor de comércio, que registrou investimentos programados de US$ 113,6 milhões em 2005 e nenhum anúncio em 2006, perceberia o retorno dos investimentos na indústria de transformação e o maior dinamismo interno da região, sendo impulsionado pelo aumento da renda e do consumo. Grande volume de inversões para o setor seria anunciado a partir de 2007 e principalmente 2008, como será visto mais adiante. Tabela 12 – Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2005-2006, Setores selecionados (em US$ milhões) Setor 2005 2006 60.913.735 3.252.327.189 Alojamento e alimentação 7.897.746.002 2.764.059.484 Indústrias de transformação Comércio; reparação de veículos automotores, objetos 113.636.364 pessoais e domésticos 225.577.794 2.307.133.451 Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 8.362.634.475 9.325.798.454 Total Geral (NE) Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da RENAI (2005, 2006). Em 2007, ano do lançamento do PAC, o montante de investimentos anunciados para a região saltou de US$ 9,3 bilhões no ano anterior, para US$ 16,2 bilhões (10,2% do total anunciado para o país), aumento determinado principalmente pela indústria de transformação. Apenas esse setor anunciou US$ 12,8 bilhões a serem aplicados no Nordeste a partir de 2007 (Tabela 13). 86 Tabela 13 – Brasil e Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2007 por Setor Setor Alojamento e alimentação Comércio; reparação de veículos automotores. objetos pessoais e domésticos Indústrias de transformação Indústrias extrativas Produção e distribuição de eletricidade, gás e água Saúde e serviços sociais Transporte, armazenagem e comunicações Demais¹ Total Nordeste 621.492.234 Valor US$ Resto Brasil 113.417.038 Total 734.909.272 109.973.565 3.724.318.451 3.834.292.016 12.811.877.566 1.650.000.000 91.050.540.974 103.862.418.540 20.154.633.000 21.804.633.000 1.054.176.566 15.437.021.160 16.491.197.726 1.034.029 19.898.543 20.932.572 32.979.798 13.494.716.111 13.527.695.909 16.281.533.758 1.222.290.075 1.222.290.075 145.216.835.352 160.276.079.035 Legenda: (1) Compreende os investimentos nos setores não contemplados na Região Nordeste. Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da RENAI (2007). Pernambuco e Maranhão tiveram a maior previsão de investimento no referido ano: US$ 5,59 bilhões e US$ 5,39 bilhões, respectivamente. Em Pernambuco, grande parcela dos investimentos novamente destinados a Ipojuca, nos segmentos: metalurgia, energias renováveis, químico e petroquímico; investimentos no segmento fármaco-químico em Goiana; alimentos e bebidas em Petrolina e Bom Conselho. No Maranhão, do volume anunciado, US$ 5 bilhões se referiam a projeto de construção da Usina Siderúrgica do Mearim19, um complexo logístico-siderúrgico no município de Bacabeira, com capacidade para produzir 10 milhões de toneladas de placas de aço, construção de um porto e de uma usina termelétrica de 420 megawatts, operando à base de carvão mineral importado. Da mesma forma, no Ceará a quase totalidade do montante de US$ 793 milhões anunciado era referente a um projeto siderúrgico: a Usina Ceará Steel20. Projeto das empresas Vale (Brasil), Dongkuk Steel (Coréia do Sul) e Danielli (Itália) avaliado em US$ 700 milhões, no complexo industrial e portuário do Pecém. 19 O site da empresa (http://www.csmearim.com.br/noticias.php) não é atualizado desde 14 de dezembro de 2008, o que demonstra que o projeto não fora concretizado. 20 O projeto foi alterado nos anos seguintes, passando a denominação de Companhia Siderúrgica do Pecém – CSP, localizada na Zona de Processamento de Exportação – ZPE do Pecém, em São Gonçalo do Amarante/CE. A estrutura societária é quase a mesma do projeto inicial, mantendo Vale e Dongkuk. A única alteração foi a saída da italiana Danielli e posterior entrada da siderúrgica também sul-coreana Posco. Encontra-se em construção. 87 Na Bahia, o montante anunciado foi de US$ 900 milhões, voltado aos seguimentos: químico e petroquímico, alimentos e bebidas, siderurgia, transportes, agroindústria e biocombustíveis, principalmente em municípios com atividades industriais consolidadas, como Camaçari e Ilhéus, além da capital Salvador. Outros setores com destaque regional foram: “Alojamento e Alimentação”, com anúncios de US$ 621 milhões em novos investimentos, atraindo mais investimentos que o restante do país (para o mesmo setor); “Indústrias Extrativas”, com US$ 1,65 bilhão devido a projetos de extração de minério de ferro na Bahia e de petróleo na costa de Pernambuco; e “Produção e distribuição de eletricidade, gás e água”, com US$ 1,05 bilhão, contemplando obras de saneamento (Ceará), construção e modernização de usinas termoelétricas (Maranhão e Ceará, respectivamente), construção de usina eólica (Pernambuco) e de Pequenas Centrais Hidroelétricas – PCH’s (Bahia), e investimentos em transmissão de energia (Paraíba e Bahia). Tabela 14 – Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2008-2009, Setores selecionados (em US$ milhões) Setor 2008 2009 10.600.000.000 229.576.365,50 Alojamento e alimentação Comércio; reparação de veículos automotores, objetos 1.168.576.685 355.163.306,66 pessoais e domésticos 23.723.782.476 26.369.017.023 Indústrias de transformação 3.000.000.000 397.778.318 Indústrias extrativas 1.803.216.604 5.622.505.461 Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 57.079.646 45.000.000 Transporte, armazenagem e comunicações 40.372.443.644 33.019.610.422 Total Geral (NE) Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da RENAI (2008, 2009). O período 2008-2009 (Tabela 14) foi marcado pela crise financeira internacional, deflagrado num momento em que a economia brasileira experimentava forte período de aceleração e os fatores de indução interna passaram a ser determinantes para a expansão do ritmo de atividade da economia nacional. Isso se refletia também na economia regional, com o Nordeste registrando US$ 40,3 bilhões em investimentos anunciados em 2008, acréscimo superior a 200% em relação ao ano anterior. Todos os setores abrangidos pela pesquisa RENAI registraram aumento consideráveis nas intenções de investimento na região Nordeste, motivados por bons resultados no comércio exterior do período e, principalmente, pelo fortalecimento do mercado interno, a nível regional e nacional. Em termos de setores selecionados, os incrementos em setores descritos a seguir revelam a indução interna aos investimentos anunciados: “Comércio; reparação de veículos 88 automotores, objetos pessoais e domésticos” passou de US$ 109 milhões em 2007 para US$ 1,1 bilhão em 2008; “Produção e distribuição de eletricidade, gás e água”: de US$ 1,05 bilhão para US$ 1,8 bilhão; e, “Transporte, armazenagem e comunicações”: de US$ 32,9 milhões para US$ 57 milhões. A indústria de transformação, grande beneficiada em termos de aumento nas intenções de investimento regional, registrou US$ 23,7 bilhões em 2008, quase o dobro do ano anterior. Como nos anos anteriores, voltados em sua grande maioria à implantação e expansão da capacidade produtiva. Na Bahia, destaque para investimentos em papel e celulose, indústria naval e química e petroquímica, em especial para o polo de Camaçari. Pernambuco teve destaque na atração de inversões para indústria automotiva, indústria naval, farmaco-química, siderurgia e bens de consumo, principalmente nos municípios de Ipojuca (polo de Suape) e Goiana. No Ceará, com US$ 11,1 bilhões em previsões de investimento, deve-se salientar que US$ 11 bilhões (quase 100%) se devem ao anúncio da Refinaria Premium II da Petrobras, empreendimento que sequer teve sua construção iniciada, projeto incluso no PAC. A mesma Petrobras foi responsável pelo único anúncio de investimento para o Rio Grande do Norte em 2008: US$ 200 milhões para a modernização e expansão da Refinaria de Guamaré. Os outros estados da região tiveram anúncios de investimento em valores não significativos. “Alojamento e alimentação” (US$ 10,6 bilhões de grupos espanhóis para construção de complexos turísticos de alto luxo em Camaçari/BA e Itapipoca/CE) e “indústrias extrativas” (US$ 3 bilhões em 2008, investimento da Vale em São Luís/MA) registraram grande aumento de intenções de investimento motivadas principalmente por indução externa, como a demanda chinesa por minério de ferro da Vale, exportado em sua maioria via porto de Itaqui/MA. Quanto às inversões no segmento de turismo, a demanda estrangeira por resorts no Nordeste tem crescido e motivado a construção desses empreendimentos por grupos brasileiros e estrangeiros, que trazem a expertise internacional necessária. No entanto, o aumento da renda do brasileiro também tem motivado a expansão do turismo interno, sendo o Nordeste o grande destino, com destaque para o Ceará e Bahia. Em 2009, devido às incertezas da crise internacional sobre a economia mundial e mesmo sobre a economia brasileira, houve queda nas previsões de novos investimentos em quase todos os setores de atividade econômica no Nordeste, com exceção da indústria de transformação, com mais US$ 26,3 bilhões previstos em novos investimentos. Entre os estados da região os principais segmentos, em volume de recursos, foram: papel e celulose, petroquímica, e automotivo (Bahia); indústria naval – construção de estaleiros, e em menor 89 medida bens de consumo, química, gás e biocombustíveis (Pernambuco); refino de petróleo (construção da Refinaria Premium I da Petrobras, avaliada em US$ 19,9 bilhões), bens de consumo e alumínio (Maranhão); indústria naval (estaleiro 21), automotivo (modernização da unidade Troller – Ford) e minerais não-metálicos (cimenteira do grupo M. Dias Branco), e em menor medida bens de consumo, fabricação de painéis fotovoltáicos e equipamentos de transporte (Ceará); US$ 2,3 bilhões em celulose e papel (Piauí) e investimentos de menor porte nos demais estados da região. Tabela 15 – Brasil e Nordeste. Investimentos Privados Anunciados em 2010 por Setor Setor Nordeste Resto Brasil Total Agricultura. pecuária. silvicultura e 20.873.427 1.018.959.064 1.039.832.491 exploração florestal 303.685.212 2.142.593.586 2.446.278.798 Alojamento e alimentação 3.428.571 1.794.929.291 1.798.357.862 Atividades imobiliárias Comércio; reparação de veí. automotores. 1.528.111.011 2.520.278.851 4.048.389.862 objetos pessoais e domésticos 14.959.230 3.710.710.029 3.725.669.259 Construção 13.131.602.345 32.271.195.635 45.402.797.980 Indústrias de transformação 3.055.492.228 110.837.931.493 113.893.423.721 Indústrias extrativas Outros serviços coletivos, sociais e 80.000.000 2.094.471.237 2.174.471.237 pessoais 40.000.000 40.000.000 Pesca Produção e distribuição de eletricidade, 2.432.533.407 23.397.443.399 25.829.976.806 gás e água Transporte, armazenagem e 318.713.946 18.607.834.932 18.926.548.878 comunicações 4.687.315.295 4.687.315.295 Demais1 20.929.399.377 203.083.662.812 224.013.062.189 Total Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da RENAI (2010). Legenda: (1) Compreende os investimentos nos setores não contemplados na Região Nordeste. No ano de 2010 houve recuperação no ritmo de anúncios de investimento na economia brasileira, atingindo o máximo da série histórica iniciada em 2004: US$ 224 bilhões. No entanto o Nordeste registrou intenção de investimentos menor que nos anos anteriores, em valores monetários, mesmo com a previsão de forte crescimento da economia nacional para o ano. Por setores houve incremento: “Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal”, “atividades imobiliárias”, “construção”, “Outros serviços coletivos, sociais e pessoais” e “Pesca” registraram novos investimentos. Apesar dos investimentos 21 Em julho de 2010 o investimento foi direcionado para o estado de Pernambuco, devido a problemas e indefinições quanto à localização do empreendimento em Fortaleza/CE. 90 previstos em mais setores, o total de inversões anunciadas para a região ficou abaixo de 2009 (US$ 33 bilhões), ao registrar US$ 20,9 bilhões. Contribuiu para essa queda o volume menor de novos investimentos na indústria de transformação, comparado ao ano anterior. Mas o registro de US$ 1,5 bilhão ao comércio demonstra a força do setor na manutenção da atividade econômica na região, mesmo num contexto de incerteza que persiste desde 2008. A tabela 15 contém os números para o ano de 2010 no Nordeste e Brasil. No setor de “Comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos”, o volume de novos investimentos em 2010, num total de 8 (oito) empreendimentos no Nordeste, foi direcionado ao varejo (de vestuário e de combustíveis) e construção de shopping centers, este em forte expansão até o momento. Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte foram os estados receptores. Na “indústria de transformação” os mesmos setores e estados mantém a liderança de anos anteriores, dando mostras de especialização produtiva em determinadas áreas da região que concentram a maior parte dos investimentos de seus estados. O polo de Suape, em Ipojuca/PE, é o maior exemplo dessa especialização, atraindo empreendimentos industriais diversos, desde bens de consumo até indústria naval (estaleiros) e automotiva. O polo de Camaçari, tradicional em química e petroquímica. O Ceará tem atraído investimentos em energias renováveis, alimentos e bebidas e outros setores com vocação tradicional do estado, principalmente para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), incluindo o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), em São Gonçalo do Amarante. Essa concentração também se reflete entre estados, com Bahia, Ceará, Maranhão e Pernambuco concentrando grande parte dos anúncios de investimento na região, no período analisado. Importante ressaltar que estes quatro estados também são os principais em termos de corrente de comércio exterior da região. Dos mais de US$ 138 bilhões em inversões anunciadas para a região Nordeste entre 2004 e 2010, que representaram 14% do total brasileiro, os principais setores beneficiados foram: “indústrias de transformação” (69% do total da região), “alojamento e alimentação” (12%) e “produção e distribuição de eletricidade, gás e água” (10%). O setor de “comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos” cresceu mais no final do período analisado, provavelmente em resposta aos indicadores de emprego e renda já citados e a própria expansão dos investimentos privados direcionados em volume considerável para a região, como analisado neste trabalho. Os números gerais do período estão na tabela 16. 91 Tabela 16 – Nordeste. Total de Investimentos Privados Anunciados entre 2004 e 2010, por Setor de Atividade Econômica (em US$ milhões) Setor Valor 57.599.466,00 Agricultura. pecuária. silvicultura e exploração florestal 16.150.158.610,00 Alojamento e alimentação Comércio; reparação de veí. automotores. objetos pessoais e 3.538.236.676,00 domésticos 15.165.784,00 Construção 94.916.589.698,00 Indústrias de transformação 8.869.723.053,00 Indústrias extrativas 84.984.554,00 Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 13.672.372.001,00 Produção e distribuição de eletricidade, gás e água 1.170.768.013,00 Transporte, armazenagem e comunicações 60.608.716,00 Demais1 Total Nordeste Total Resto do Brasil Total Brasil NE/Total Brasil (%) 138.536.206.571,00 863.710.699.107,00 1.002.246.905.678,00 14% Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da RENAI (2004-2010). Legenda: (1) Compreende investimentos nos seguintes setores: Atividades imobiliárias, Saúde e serviços sociais, e Pesca. Deve-se destacar a importância da Vale e da Petrobras em parte dos investimentos mapeados para o Nordeste, além da influência de medidas governamentais sobre os investimentos, como os estímulos à indústria naval (incentivada pelo governo federal por meio da Transpetro, subsidiária de transportes da Petrobras) e à geração de energia (construção de termoelétricas e energias alternativas). Os governos estaduais também têm sua importância na política de atração de novas inversões para a região, com a aposta em regiões dotadas de infraestrutura competitiva, como as regiões de Suape/PE e Pecém/CE. A chegada de novas inversões à região demonstra seu crescimento e importância crescentes em termos de dinamismo econômico e mercado consumidor. Porém, deve-se ressaltar que a economia nordestina ainda está atrasada quanto às áreas mais dinâmicas do país, mesmo com o recente crescimento. Todavia, o potencial do mercado consumidor nordestino é relevante e será cada vez mais motivo de disputa pelos players de diversos setores do mercado, o que vem ocorrendo com mais intensidade no período recente. Os investimentos previstos acompanharam a tendência de crescimento da economia brasileira e da própria economia nordestina, concentrando-se em determinados estados e segmentos, ou mesmo acelerando o processo de consolidação e especialização 92 produtiva em determinados espaços geográficos da região. Espaços estes que contam com investimentos estaduais como mecanismo de indução à atração de investimentos, mas que não são o foco deste trabalho. Os polos industriais de Camaçari/MA, Suape/PE e Pecém/CE, com maior destaque aos dois primeiros, são mecanismos estaduais de atração de indústrias motrizes como forma de dinamizar todo o espaço regional e gerar emprego e renda. Da mesma forma, locais como a região portuária de Itaqui/MA, Petrolina/PE, Goiana/PE, Ilhéus/BA, Sobral/CE e regiões metropolitanas de Fortaleza/CE, Recife/PE e Salvador/BA também apresentam grande fator de atratividade para novos investimentos, em setores já tradicionais ou não, que se beneficiam de mecanismos como incentivos fiscais, existência de infraestrutura adequada (em relação aos demais espaços regionais) e mesmo o potencial de seus mercados consumidores e do entorno. Da mesma forma que os governos estaduais realizam investimentos de base para atração de novos empreendimentos produtivos, o governo federal também exerce influência direta com suas políticas de investimento global em infraestrutura, principalmente em pontos críticos da região Nordeste, como: Logística e Transportes, Energia, Saneamento, Mobilidade Urbana etc. Os transportes se constituem na atividade logística mais importante, pois permitem atender aos mercados mesmo os mais longíquos, além de integrar os nós de produção e abastecimento das várias cadeias de suprimentos existentes no espaço, sejam regionais, nacionais ou internacionais. Nesse sentido, a expansão desses investimentos na Região Nordeste se torna crucial. A realização de blocos de inversões na região tem, dentre os objetivos principais, o desenvolvimento de infra-estrutura logística (rodovias, portos, aeroportos, hidrovias e dutovias). A seguir é feita uma análise dos investimentos federais direcionados a Logística e Transportes, a fim de identificar se houve ou não uma real contribuição dos mesmos, no sentido de efetivo instrumento de indução aos investimentos privados na região Nordeste no período em questão. 6.2. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Nordeste e os investimentos em Infraestrutura Logística e de Transportes 93 Os investimentos direcionados à infraestrutura são de grande importância estratégica, pois elevam a competitividade e as taxas de crescimento de longo prazo da economia. É através da melhoria das condições de logística (rodovias, ferrovias, aeroportos e portos) que a produção interna é escoada de maneira mais eficiente para atender aos consumidores domésticos e aos mercados internacionais. O crescimento estável do fornecimento de energia elétrica é condição vital para a expansão sustentada da economia. Inversões em saneamento básico, por sua vez, melhoram as condições de vida da população. (PUGA; BORÇA JR, 2011, p. 1). O PAC foi concebido no ano de 2007 como um programa de governo pautado na promoção do desenvolvimento da economia brasileira a partir de um conjunto de medidas visando estimular o investimento privado, aumentar as inversões públicas em infraestrutura e suplantar obstáculos (jurídicos, burocráticos etc) ao crescimento do país. As medidas constantes do PAC se dividem em cinco blocos: a) Investimento em três eixos de Infraestrutura (Logística e Transportes; Energia; Social e Urbana); b) Estímulo ao crédito e ao financiamento; c) Melhora do ambiente de investimento; d) Desoneração e aperfeiçoamento do Sistema Tributário; e) Medidas fiscais de longo prazo. O objetivo é aumentar o investimento em infraestrutura para: a) Eliminar os principais gargalos que podem restringir o crescimento da economia; b) Reduzir custos e aumentar a produtividade das empresas; c) Estimular o aumento do investimento privado; e d) Reduzir as desigualdades regionais. O contexto de criação do PAC remetia à nova trajetória de crescimento da economia brasileira a partir de 2004-2005, evidenciando os gargalos de infraestrutura que poderiam por em risco a continuidade da ascensão econômica e o projeto de “desenvolvimento sustentável” pretendido pelo governo. A expansão do investimento em infra-estrutura é condição fundamental para a aceleração do desenvolvimento sustentável no Brasil. Dessa forma, o país poderá 94 superar os gargalos da economia e estimular o aumento da produtividade e a diminuição das desigualdades regionais e sociais. (PAC, 2007, p. 15). As medidas relacionadas a melhoria no ambiente de investimentos incluíam questões como o marco regulatório das agências reguladoras, a reestruturação do sistema brasileiro de defesa da concorrência e a recriação das superintendências de desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da Amazônia (SUDAM), além de medidas de incentivo e facilitação dos investimentos em infraestrutura, como o aumento de recursos oriundos do BNDES e a desoneração de fundos de investimento, e medidas fiscais de longo prazo, em especial a política nacional de valorização do salário mínimo, importante instrumento de aumento de renda e do consumo das famílias na última década. Na análise dos resultados serão priorizados os investimentos em infraestrutura, como citado anteriormente, além de aspectos relacionados à melhora no ambiente de investimento, que vai ao encontro dos preceitos Keynes-Minsk em termos de inversões. As condições fiscais favoráveis à época permitiram o aumento da previsão de investimentos do Governo Federal nos três eixos estratégicos do programa (Logística, Energia e Infraestrutura Social), num total de inversões de R$ 503,9 bilhões entre 2007 e 2010 oriundas do orçamento da União, Estatais federais e demais fontes (Tabela 17). Tabela 17 – Investimentos do PAC previstos entre 2007 e 2010 (em R$ bilhões) EIXOS DE INFRAESTRUTURA 2007 2008 - 2010 TOTAL LOGÍSTICA 13,4 44,9 58,3 ENERGÉTICA 55 219,8 274,8 SOCIAL E URBANA 43,6 127,2 170,8 TOTAL 112 391,9 503,9 Fonte: elaboração do autor a partir do projeto do PAC (2007). Em termos regionais, a divisão dos recursos do PAC contemplou principalmente as regiões Sudeste (com R$ 130,5 bilhões) e Nordeste (R$ 80,4 bilhões), vindo em seguida o Norte, Sul e Centro-Oeste (Tabela 18). Some-se ainda o montante de R$ 180,5 bilhões destinado a projetos nacionais, pois envolvem mais de uma região, como a Ferrovia NorteSul. 95 Tabela 18 – Investimentos do PAC previstos entre 2007 e 2010, por região (em R$ bilhões) SOCIAL E REGIÃO LOGÍSTICA ENERGÉTICA TOTAL URBANA Norte 6,3 32,7 11,9 50,9 Nordeste 7,4 29,3 43,7 80,4 Sudeste 7,9 80,8 41,8 130,5 Sul 4,5 18,7 14,3 37,5 Centro-Oeste 3,8 11,6 8,7 24,1 Nacional 28,4 101,7 50,4 180,5 TOTAL 58,3 274,8 170,8 503,9 Fonte: elaboração do autor a partir do projeto do PAC (2007). Analisando a previsão de inversões em termos de modais de transporte (Tabela 19), percebe-se grande concentração da maior parte dos recursos para o rodoviário (R$ 33,4 bilhões), com grande diferença para o segundo modal mais beneficiado, o ferroviário (R$ 7,8 bilhões). Enquanto isso as hidrovias são negligenciadas, desperdiçando o potencial de navegação fluvial do país com a destinação de recursos muito aquém do efetivamente necessário para construir e estruturar uma efetiva malha de hidrovias no país. Tabela 19 – Previsão Total de Investimentos do PAC em Infra-Estrutura Logística entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) MODAL 2007 2008-2010 TOTAL Rodovias 8.086 25.352 33.437 Ferrovias 1.666 6.197 7.863 Portos 684 1.979 2.663 Aeroportos 878 2.123 3.001 Hidrovias 280 455 735 TOTAL¹ 13.373 44.907 58.280 Fonte: elaboração do autor a partir do projeto do PAC (2007). Legenda: (¹) Inclui as inversões direcionadas à Marinha Mercante: R$ 1,7 bilhão em 2007, R$ 8,8 bilhões entre 2008-2010, num total de pouco mais de R$ 10,5 bilhões. Caracteriza-se, portanto, enquanto conservadora a partilha de recursos provenientes do PAC, em termos de distribuição, equiparação e expansão da oferta de modais de transporte ao setor produtivo do país. Manteve-se a prioridade às rodovias em detrimento de modais como o ferroviário e aquaviário, mais adequados a países de grande dimensão territorial como o Brasil. 96 Mesmo para as rodovias, tinha-se previsão de mais quilômetros recuperados do que novos trechos construídos, o que não é negativo. Porém, diante das necessidades do país os números deixam a desejar. Quanto às ferrovias, a maior parte das intervenções será do setor privado, em termos de extensão de malha (Figura 1). Figura 1 – Intervenções do PAC em Rodovias e Ferrovias entre 2007 e 2010 Fonte: PAC (2007, p. 17). Legenda: por extensão de malha (em Km). Em termos regionais, o Nordeste teve a maior provisão de recursos voltados para Logística e Transporte dentro do PAC (Tabela 20): R$ 7,3 bilhões, seguido do Norte (R$ 6,2 bilhões) e Sudeste (R$ 6,1 bilhões). Boa parte dos recursos nordestinos esteve direcionada à construção da ferrovia Nova Transnordestina e à duplicação da BR-101. Tabela 20 – Previsão Total de Investimentos do PAC em Infra-Estrutura Logística entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) REGIÃO INVESTIMENTO TOTAL Norte 6.295 Nordeste 7.451 Sudeste 7.901 Sul 4.501 Centro-Oeste 3.853 TOTAL 30.001 Fonte: elaboração do autor a partir do projeto do PAC (2007). Legenda: não inclui e o valor de R$ 28,4 bilhões referente a “Projetos Especiais”, como o Programa de Financiamento da Marinha Mercante e concessões de rodovias à iniciativa privada (Sudeste e Sul). 97 A seguir são listadas as intervenções em infraestrutura de Logística e Transporte previstas no projeto do PAC entre os anos de 2007 e 2010, na região Nordeste (Figura 2): a) BR-101-Nordeste (RN-PB-PE-AL-SE-BA): Duplicação e Adequação de Capacidade Natal - Entroncamento BR-324 (Feira de Santana); b) BR-230-PB: Duplicação João Pessoa - Campina Grande; c) BR-135-PI-BA-MG: Pavimentação Jerumenha - Bertolínea - Eliseu MartinsPI; Construção de Trechos entre a Divisa PI-BA e a Divisa BA-MG; Pavimentação Divisa BA-MG – Itacarambi; d) BR-116-BA: Execução de Ponte sobre o Rio São Francisco - Divisa PE-BA; e) BR-116-324-BA: Salvador - Feira de Santana - Divisa BA-MG - Parceria Público Privado; f) Contorno de São Félix - Cachoeira – BA; g) Variante Ferroviária Camaçari - Aratu – BA; h) Ferrovia Nova Transnordestina – CFN; i) Recuperação e Ampliação dos Berços 101 e 102 do Porto de Itaqui – MA; j) Construção do Berço 100 do Porto de Itaqui – MA; k) Dragagem dos Berços 100 ao 103 do Porto de Itaqui – MA; l) BR-135: Duplicação do Acesso Rodoviário ao Porto de Itaqui - MA; m) Duplicação do Acesso Rodoviário ao Porto de Pecém - CE - BR-222-CE Caucaia – Pecém; n) Melhorias no Terminal Salineiro de Areia Branca – RN; o) Construção de Novo Acesso Rodoferroviário ao Porto de Suape – PE; p) Construção da Via Expressa Portuária ao Porto de Salvador – BA; q) Dragagem e Derrocagem na Hidrovia do Rio São Francisco (Pirapora-MG Juazeiro-BA - Petrolina-PE) e Acesso Ferroviário ao Porto de Juazeiro – BA; r) Aeroporto de Fortaleza-CE- Construção do Terminal de Cargas e da Torre de Controle; s) Construção do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante/RN; t) Aeroporto de João Pessoa-PB - Ampliação da Capacidade para 860 mil pass/ano; u) Aeroporto de Parnaíba-PI - Ampliação e Reforço de Pátio e Pista; v) Aeroporto de Recife-PE - Construção de 4 Pontes de Embarque; w) Readequação do Acesso ao Aeroporto de Salvador/BA. 98 Figura 2 – Região Nordeste. Intervenções em Logística e Transporte previstas no PAC entre 2007 e 2010 Fonte: PAC (2007, p. 19). Ainda em 2007 foram incluídas novas obras e projetos no âmbito do PAC. Os portos de Fortaleza, Recife, Suape/PE e Aratu/BA foram inclusos no Programa Nacional de Dragagem, num total de R$ 972,9 milhões destinados a portos de todo o país (Tabela 21). Tabela 21 – Programa Nacional de Dragagem dos Portos Brasileiros (2007) Modernização dos Acessos Aquaviários Total estimado Porto Dragagem Derrocagem Profundidade de em milhões de modernização (m) R$ Volume estimado (mil m³) 14 4.200 2.000 34,4 Fortaleza-CE 11,5 1.855 20,4 Recife-PE 19 11.000 110 Suape-PE 17 3.300 5 49 Aratu-BA 43.870 696 759,1 Resto do Brasil ¹ 64.225 2.701 972,9 TOTAL Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados de PAC (2007). Legenda: ¹ Portos nos estados de SP, RS, SC, RJ, ES. 99 Obras e projetos de reforma, expansão e modernização de aeroportos também foram contemplados, com previsão de R$ 20,2 bilhões em inversões. Os terminais de Teresina/PI, Fortaleza/CE, Salvador/BA e Ilhéus/BA fizeram parte da lista (Figura 3). Figura 3 – PAC. Inversões previstas em Aeroportos no 2º Balanço do PAC ¹ Fonte: PAC (2007b, p. 73). Legenda: ¹ Referente ao período Janeiro-Agosto de 2007. 6.2.1. Investimentos em Infraestrutura Logística e de Transportes no Nordeste: análise por estado A expectativa é de que os investimentos produzam efeitos multiplicadores sobre o PIB regional, gerados pelo efeito renda e pelos efeitos de encadeamento. A maior integração da base produtiva em função dos efeitos de encadeamento reduzirá substancialmente os vazamentos de renda observados na Região. Nessa perspectiva, estratégias de consolidação, interligação e adensamentos de setores produtivos ganham relevância no momento de afluxos de investimentos privados e de ação públicas de apoio a esses investimentos. O adensamento e integração de cadeias produtivas regionais são fundamentais para romper limitações na competitividade, consolidando na Região uma base produtiva exportadora que avance na agregação de valor. 100 Vale destacar que essa configuração exige uma participação decisiva do Estado no planejamento da melhor sequência de investimentos que possibilitaria um desenvolvimento mais acelerado. Nessa perspectiva, a estratégia adequada para regiões em processo de desenvolvimento consiste na alocação de recursos em setores que assinalam forte capacidade de induzir novos investimentos dentro da própria estrutura produtiva. Tabela 22 – Nordeste. Total de investimentos Geral e Logística¹ do PAC, por Estado (em R$ milhões) Estado Logística Total do PAC Log/Total PAC 495,90 4.149,50 12% Alagoas 4.007,00 33.319,60 12% Bahia 1.006,40 16.668,00 6% Ceará 1.136,80 8.738,90 13% Maranhão 994,80 5.238,80 19% Paraíba 6.590,10 26.739,00 25% Pernambuco 515,80 3.566,20 14% Piauí 974,40 8.963,10 11% Rio Grande do Norte 434,00 7.181,30 6% Sergipe 16.155,20 114.564,40 14% TOTAL Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados de PAC (2010). Legenda: ¹ Valores “Geral” e “Logística” referentes a empreendimentos exclusivos. Assim como ocorreu com os investimentos produtivos, quatro estados nordestinos concentraram grande parcela das inversões em infraestrutura destinadas à região pela PAC: Bahia, Ceará, Maranhão e Pernambuco, tanto no total de recursos do programa quanto nos direcionados à Logística e Transporte (Tabela 22). Pelos investimentos programados, percebe-se um foco maior no sentido de favorecer a estrutura exportadora da região, em termos dos modais de transporte capazes de integrar as regiões produtoras existentes nos estados com seus principais pontos de escoamento, seja nacional ou internacional (ligação interior-portos e entre as capitais da zona da mata nordestina). 6.2.1.1. Alagoas No estado de Alagoas os investimentos do PAC somaram R$ 8,9 bilhões entre 2007-2010, sendo R$ 2,6 bilhões em Logística, entre empreendimentos exclusivos e aqueles de caráter regional (Tabela 23). 101 Tabela 23 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado de Alagoas entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL Logística 495,9 2.163,80 * 2.659,70 Energética 743,5 2.617,30 3.360,80 Social e Urbana 2.910,00 - 2.910,00 TOTAL 4.149,50 4.781,10 8.930,60 Eixo Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Legenda: (*) Valor referente ao montante previsto inicialmente para a construção da ferrovia Nova Transnordestina e que contempla PI-CE-PE-AL. As principais intervenções são a obra de duplicação da BR-101 (ainda em execução) e a construção do cais de contêineres do Porto de Maceió, obra concluída. A estratégia de atuação, segundo o balanço 2007-2010 do PAC, visava melhorar a interligação do estado com os demais da região e apoiar o turismo (BR-101) e facilitar o escoamento da produção regional (obra no porto), como visto na Figura 4. Figura 4 – Alagoas. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). 102 Dentre os empreendimentos exclusivos, com exceção ao cais de contêineres do porto de Maceió as demais intervenções foram em rodovias, principalmente para manutenção, sinalização e estudos e projetos. Tabela 24 – Alagoas. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 5). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. Percebe-se que as intervenções de caráter estadual (exclusivo) em território alagoano representaram esforços na manutenção e melhoria da malha rodoviária, no entanto sem expansão da mesma e mantendo a dependência da rodovia BR-101 e do porto de Maceió enquanto ligações logísticas únicas. As obras da Transnordestina, de caráter regional, seguem com cronograma atrasado e problemas relacionados a montante de recursos para sua consecução e conclusão até o período recente. 6.2.1.2. Bahia Na Bahia os investimentos do PAC somaram cerca de R$ 40,8 bilhões no período analisado, o maior montante de recursos dentre os estados nordestinos. Destes, pouco mais de R$ 4 bilhões destinados à Logística, quase 100% em empreendimentos exclusivos (Tabela 25). 103 Tabela 25 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado da Bahia entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Eixo Logística Energética Social e Urbana TOTAL Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL 4.007,0 13.233,3 16.079,3 33.319,6 49,6 * 7.394,6 7.444,2 4.056,6 20.627,9 16.079,3 40.763,8 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Legenda: (*) Valor referente em parte ao início das obras da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, entre Barreiras/BA e Figueirópolis/TO, trecho concluído. A estratégia visava: ”Escoar a produção regional para consumo interno e exportação, aumentando a competitividade regional: portos de Aratu e Salvador, BR-324, BR101, BR-135, BR-116, BR-030 e Ferrovia de Integração Oeste-Leste” (PAC, 2010, p. 4). Figura 5 – Bahia. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010. Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). Assim como em Alagoas, as obras bastante voltadas ao comércio exterior e às áreas mais dinâmicas do Estado, como se pode ver na Figura 5. 104 Tabela 26 – Bahia. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, pp. 5-6). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. 105 Os empreendimentos exclusivos incluíram obras em portos (Aratu e Salvador), aeroportos (Salvador), Marinha Mercante (construção de duas embarcações), ferrovias (contornos ferroviários de Camaçari e São Félix, e trecho da FIOL) e rodovias, com destaque para a concessão da BR-116-324. Pouco mais da metade das intervenções foram concluídas até o ano de 2010 (Tabela 26). 6.2.1.3. Ceará Pouco mais de R$ 22,1 bilhões: esse foi o valor previsto de aplicação do PAC no estado do Ceará entre 2007 e 2010, com o montante direcionado a Logística chegando a R$ 3,1 bilhões, mais da metade relacionado a ferrovia Nova Transnordestina (caso semelhante a Alagoas). Em obras exclusivas, o montante pouco superou R$ 1 bilhão (Tabela 27). Tabela 27 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Ceará entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL Logística 1.006,4 2.163,8 * 3.170,2 Energética 8.138,0 1.251,5 9.389,5 Social e Urbana 7.523,6 2.034,0 9.557,6 TOTAL 16.668,0 5.449,3 22.117,3 Eixo Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Legenda: (*) Valor referente ao montante previsto inicialmente para a construção da ferrovia Nova Transnordestina e que contempla PI-CE-PE-AL. O relatório 2007-2010 informa intervenções em obras após o período de vigência do programa, porém as mesmas sofreram paralisações oriundas de cancelamentos de licitação e problemas ambientais e de projeto: BR-020 em sua duplicação e melhoramento do contorno de Fortaleza e a ponte sobre o Rio Jaguaribe (BR-304). A única intervenção física efetiva concluída no período foram o Terminal de Cargas e a nova torre de controle do aeroporto de Fortaleza. Intervenções em rodovias (sinalização, manutenção, estudos e projetos, etc) e financiamentos para construção de embarcações para a Marinha Mercante, também constam como concluídos (Tabela 28). 106 Tabela 28 – Ceará. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, pp. 5-6). A estratégia de intervenção visava: ”Escoar a produção regional para exportação, aumentando a competitividade regional: Ferrovia Transnordestina, Porto de Fortaleza e BR222, BR-304” (PAC, 2010, p. 4). Ou seja, investimentos contemplando áreas de comprovado dinamismo econômico no estado, sem o intuito de fomentar a integração de outras regiões econômicas estaduais e com foco no corredor de exportação Transnordestina-PecémMucuripe, notoriamente no entorno da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Exceção apenas à duplicação da ponte sobre o Rio Jaguaribe, no município de Aracati, obra que estava paralisada há anos e fora incluída no PAC. A Figura 6 contém o mapa das principais intervenções previstas pelo PAC em território cearense. 107 Figura 6 – Ceará. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). 6.2.1.4. Maranhão O Maranhão contou com previsão de aplicação de R$ 13,6 bilhões do PAC entre 2007 e 2010, sendo cerca de R$ 1,6 bilhão para infraestrutura Logística (Tabela 29). Tabela 29 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Maranhão entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL Logística 1.136,8 454,1 * 1.590,9 Energética 2.549,3 4.394,2 6.943,5 Social e Urbana 5.052,8 - 5.052,8 TOTAL 8.738,9 4.848,3 13.587,2 Eixo Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Legenda: (*) Valor referente às obras do trecho Norte da Ferrovia Norte-Sul e estudos e projetos de integração das malhas ferroviárias da Norte-Sul e Transnordestina. 108 Pouco mais de R$ 1,1 bilhão em empreendimentos exclusivos foi aplicado principalmente no Porto de Itaqui (Tabela 30), o principal corredor de exportação maranhense, e onde estão localizados importantes empreendimentos, como o Consórcio Alumar e o Terminal de Ponta da Madeira, pertencente à Vale. Tabela 30 – Maranhão. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, pp. 5-6). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. 109 Quanto aos empreendimentos de caráter regional, o montante de R$ 454 milhões se referiu a construção da Ferrovia Norte-Sul (trecho Norte) e estudos e projetos de integração ferroviária para a construção do ramal Estreito/MA-Eliseu Martins-PI, ligando a malha norte da Ferrovia Norte-Sul com a Ferrovia Transnordestina (Tabela 31). Esse ponto merece destaque por ser um dos únicos direcionamentos em termos de integração da malha ferroviária nacional dentro do PAC para a região Nordeste, e que pode contribuir para a construção de um corredor de exportação e importação competitivo entre as regiões produtoras de grãos e minérios do Norte e Centro-Oeste e os portos de Itaqui, Suape e Pecém, via modal ferroviário. Caso o governo federal persista com a integração ferroviária nacional, a ligação entre Transnordestina e Norte-Sul, até seu trecho final nas regiões Sul e Sudeste, poderá também criar um corredor logístico continental, iniciando no Nordeste e chegando até os demais países do Mercosul, como a Argentina e o Uruguai. E mesmo com o Chile, abrindo novas possibilidades para o comércio com os países banhados pelo Oceano Pacífico, em especial os mercados asiáticos. A própria expansão do Canal do Panamá, atualmente em execução, deve favorecer o Brasil, em especial os portos nordestinos, quanto ao aumento da corrente de comércio com os países da Ásia. Principalmente a China, um dos principais compradores internacionais de importantes commodities brasileiras. Nesse ínterim, o Porto de Itaqui deverá se beneficiar bastante, devido suas elevadas exportações de minério de ferro. Tabela 31 – Maranhão. Empreendimentos de caráter regional do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 7). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. 110 A estratégia de intervenção do PAC no Maranhão focou na competitividade em termos de comércio exterior, daí a concentração dos investimentos no porto de Itaqui e seu entorno, além da ligação com a construção do trecho norte da Norte-Sul (Figura 7). O estado maranhense, grande exportador de minério de ferro (escoadouro da Estrada de Ferro Carajás/ Vale) e grãos (cerrado nordestino) não parece mudar sua característica de pouca geração de externalidades do seu comércio exterior via Itaqui com o restante do estado. Isso porque as inversões do PAC foram concentradas em estrutura já existente e de dinâmica econômica reconhecida, não direcionando esforços de integração regional, exceto os estudos de integração ferroviária citados anteriormente. Figura 7 – Maranhão. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010. Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). 6.2.1.5. Paraíba Cerca de R$ 9,1 bilhões foi o valor previsto de aplicação do PAC na Paraíba até 2010, sendo R$ 1,02 bilhão em Logística. Este valor inclui R$ 994,8 milhões em obras exclusivas, ou seja, apenas no território estadual, e R$ 28,9 milhões em obras de caráter regional, como consta na tabela 32. 111 Tabela 32 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado da Paraíba entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL Logística Energética Social e Urbana 994,8 1.645,6 2.598,4 28,9 116,4 3.739,7 1.023,7 1.762,0 6.338,1 TOTAL 5.238,8 3.885,0 9.123,8 Eixo Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). A estratégia de intervenção na Paraíba foi direcionada para melhorar sua integração via litoral com as demais capitais da zona da mata nordestina (duplicação da BR101) e com Campina Grande (duplicação da BR-230). Também procurou fortalecer o comércio exterior com obras de dragagem no Porto de Cabedelo (Figura 8). O PAC não contemplou, por exemplo, a reforma e modernização do ramal ferroviário entre João PessoaCampina Grande e o Ceará, atualmente desativado pela concessionária Transnordestina Logística S/A (controlada do Grupo CSN – Cia. Siderúrgica Nacional). Figura 8 – Paraíba. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). 112 Grande parte dos recursos foi direcionada para rodovias (tabela 33), principalmente para manutenção (mais de R$ 250 milhões) e duplicações da BR-101 (R$ 580 milhões) e da BR-230 (R$ 94,3 milhões), reforçando o foco de investimentos do PAC no litoral nordestino em detrimento do interior da região. Tabela 33 – Paraíba. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 5). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. 6.2.1.6. Pernambuco O estado de Pernambuco recebeu a segunda maior quantia prevista em inversões do PAC na região Nordeste até o ano de 2010: R$ 33,6 bilhões (Tabela 34). Do total referente à Logística, R$ 6,5 bilhões em projetos exclusivos e R$ 2,1 bilhões em obras de cunho regional (Transnordestina). Ressalte-se que os trechos em obra da ferrovia onde mais se avança estão em território pernambucano, onde a malha leva até o terminal portuário de Suape, em Ipojuca. 113 Tabela 34 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado de Pernambuco entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL Logística 6.590,1 2.170,6 * 8.760,7 Energética 12.147,6 943,3 13.090,9 Social e Urbana 8.001,3 3.739,7 11.741,0 TOTAL 26.739,0 6.853,7 33.592,7 Eixo Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Legenda: (*) Valor referente ao montante previsto inicialmente para a construção da ferrovia Nova Transnordestina e que contempla PI-CE-PE-AL. Em termos de recursos para Infraestrutura Logística, Pernambuco foi o estado que recebeu a maior parte dos recursos voltados exclusivamente para esse eixo, fato relacionado à estratégia de “Dar suporte ao novo Polo de Refino, Petroquímico e Naval instalado” em Suape, município de Ipojuca, e “Escoar a produção regional para consumo interno e exportação” (PAC, 2010, p. 4), assim como para os demais estados da região (Figura 9). Figura 9 – Pernambuco. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). Como se pode observar na Tabela 35, boa parte das inversões direcionadas a empreendimentos localizados em Suape e entorno foi realizada no prazo de referência (até 114 2010). Parcela considerável dos recursos esteve também direcionada à duplicação da BR-101 e outras rodovias do estado. Tabela 35 – Pernambuco. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, pp. 5-6). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. 115 6.2.1.7. Piauí O Piauí contou com R$ 6,7 bilhões do PAC até 2010 (Tabela 36), sendo R$ 2,6 bilhões voltados à Logística. Porém, apenas R$ 515,8 milhões correspondiam a projetos exclusivos. O restante se referia à Transnordestina e elaboração do projeto de integração desta com a Norte-Sul (citado no subtópico referente ao Maranhão). O foco das intervenções foi o sudoeste do estado, região produtora de grãos (faz parte da fronteira agrícola chamada MAPI-TO, região de cerrado que vai do sudoeste do Piauí, sul do Maranhão, até o Tocantins), no sentido de facilitar o escoamento da produção (Figura 10). Tabela 36 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Piauí entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Eixo Logística Energética Social e Urbana TOTAL Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL 515,8 220,6 2.829,8 3.566,2 2.166,8 * 959,3 3.126,1 2.682,6 1.179,9 2.829,8 6.692,3 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Legenda: (*) Valor referente ao montante previsto inicialmente para a construção da ferrovia Nova Transnordestina e que contempla PI-CE-PE-AL, além de projeto de integração Transnordestina e trecho Norte da ferrovia Norte-Sul (ligação Eliseu Martins/PI a Estreito/MA). Figura 10 – Piauí. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). 116 Exceto pelos gastos com manutenção e sinalização de rodovias (Tabela 37), todas as demais intervenções físicas efetivas não foram concluídas dentro do prazo do programa. Ressalte-se que o atraso, aditivos e mesmo paralisações prolongadas foram características nas obras do PAC, em todo o país. Tabela 37 – Piauí. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 5). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. 6.2.1.8. Rio Grande do Norte O Rio Grande do Norte foi contemplado com recursos previstos da ordem de R$ 12,8 bilhões até 2010 (Tabela 38), sendo apenas R$ 974,4 milhões destinados á Logística (projetos exclusivos). 117 Tabela 38 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado do Rio Grande do Norte entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Eixo Logística Energética Social e Urbana TOTAL Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional TOTAL 974,4 4.933,7 3.055,0 8.963,1 1.806,2 2.034,0 3.840,2 974,4 6.739,9 5.089,0 12.803,3 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Além de integrar o RN aos demais estados da região (duplicação da BR-101) e garantir o escoamento da produção do estado (BR-226, BR-304 e dragagem do porto e Natal), destaca-se duas particularidades. Primeiro, as inversões destinadas ao Terminal Salineiro de Areia Branca, beneficiando a produção e distribuição de sal marinho. Segundo, a construção do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, concebido para cargas e que será mais um modal de transporte disponível para a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Macaíba, dinamizando as operações logísticas na região. Figura 11 – Rio Grande do Norte. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). 118 Tabela 39 – Rio Grande do Norte. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 5). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. 6.2.1.9. Sergipe O estado de Sergipe foi contemplado com recursos previstos do PAC no montante de R$ 9 bilhões até 2010 (Tabela 40). Deste total, apenas R$ 434 milhões foram destinados à Logística, em projetos exclusivos, o menor valor dentre os estados nordestinos. O eixo estratégico das inversões em Sergipe foi concentrado na melhoria da integração viária do estado com os demais da região. Ou seja, o foco foram as rodovias, notadamente as obras de duplicação e modernização da BR-101 no trecho sergipano (Figura 12). Além das contratações em termos de rodovias, destaca-se inversão de R$ 38,7 milhões por meio do Fundo de Marinha Mercante em financiamento de quatro embarcações (Tabela 41). 119 Tabela 40 – Investimento Total do PAC previsto para o Estado de Sergipe entre 2007 e 2010 (em R$ milhões) Eixo Logística Energética Social e Urbana TOTAL Empreendimentos exclusivos Empreendimentos de caráter regional 434,0 3.211,2 3.536,1 7.181,3 1.801,3 1.801,3 TOTAL 434,0 5.012,50 3536,1 Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Balanço 2007-2010 do PAC (2010). Figura 12 – Sergipe. Principais intervenções em Logística do PAC 2007-2010 Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 4). O eixo estratégico das intervenções em Logística, em todos os estados da região contemplou o fomento à melhoria das condições de escoamento da produção. A dizer, favoreceu inversões em corredores de exportação de cada unidade federativa da região, seja em rodovias, ferrovias, aeroportos ou portos. Os resultados alcançados pelo PAC nesses quatro anos mostram o acerto da decisão de lançar o programa. Os investimentos executados pelo programa chegaram a R$ 619 bilhões até 31 de dezembro de 2010. Esse valor representa 94,1% dos R$ 657,4 bilhões previstos para serem investidos pelo programa entre 2007 e 2010. Os empreendimentos concluídos no âmbito do PAC alcançam R$ 444 bilhões até dezembro de 2010, o que representa 82% dos R$ 541,8 bilhões previstos para serem concluídos no mesmo período. (PAC, 2010, p. 2). 120 Tabela 41 – Sergipe. Empreendimentos exclusivos do PAC (em R$ milhões) Fonte: Balanço 2007-2010 do PAC (2010, p. 5). Legenda: (*) conclusão prevista em 31/12/2010. Não foi observado, portanto, o estímulo à integração e promoção da multimodalidade para a região, estimulando o provimento da oferta de opções de modais de transporte para movimentação de mercadorias e passageiros no âmbito estadual e regional. Gerando competitividade pela maior disponibilidade e qualidade da infraestrutura logística disponível, e favorecendo a integração espacial das diversas áreas do território nordestino, em especial do interior da região, cada qual com suas características e potencialidades econômicas. Os desdobramentos dessas iniciativas, no que se refere ao crescimento de investimentos induzidos na estrutura produtiva, parecem confirmar a consolidação na Região de um ciclo endógeno de investimentos produtivos. Porém não parece haver um papel determinante dos investimentos do PAC na atração desses investimentos, que aportam na região seguindo o panorama de crescimento do mercado interno brasileiro (e nordestino) e fatores pontuais associados à demanda externa por determinados produtos. No entanto, a realização dos investimentos do PAC sinaliza a preocupação do governo com os gargalos de infraestrutura que prejudicam os setores de atividade econômica, 121 e a continuidade dessas inversões tem sua influência na criação de um ambiente propício para novos investimentos por parte dos empresários e investidores nacionais e internacionais. 6.2.2. Panorama da Infraestrutura Logística da Região Nordeste em 2010 Apesar dos diversos avanços obtidos nos últimos anos, a infraestrutura do Nordeste ainda carece de diversos investimentos, em toda a oferta de modais. Em termos de rodovias, mais de 80% ainda não são pavimentadas, mesmo com a maior parte das intervenções do programa na região ter sido em rodovias. O gráfico a seguir exemplifica o desafio em termos de recuperação das rodovias nordestinas. Gráfico 32 – Nordeste. Caracterização da Malha Rodoviária (2010) 6,45% 11,85% PAVIMENTADAS NÃO PAVIMENTADAS PLANEJADAS 81,70% Fonte: elaboração do autor a partir de dados do Ministério dos Transportes (2010). Destes 11% de rodovias pavimentadas, entre federais e estaduais, numa extensão total de 25.644 km, apenas 8.898 km (34,7%) foram classificados como “ótimo” ou “bom”, 9.652 km (37,6%) como regular e 7.094 km (27,7%) como “ruim” ou “péssimo” em pesquisa realizada no ano de 2010 pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Os resultados demonstram que mesmo com grande parte dos investimentos do PAC na região tendo sido direcionado às rodovias, a qualidade das mesmas continua muito abaixo dos padrões mínimos exigidos para um país com a dimensão territorial, diversidade industrial e importância econômica que tem o Brasil (Gráfico 33). Provável reflexo da má gestão desses recursos, desde o projeto executivo, licitação até a execução das obras. 122 Gráfico 33 – Nordeste. Qualidade das Rodovias (2010) 10,80% 7,50% 16,90% ÓTIMO 27,20% BOM REGULAR RUIM PÉSSIMO 37,60% Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados da Pesquisa CNT de Rodovias (2010). Com relação à malha ferroviária, o Nordeste ainda possui baixa densidade em termos de cobertura, falta de integração à malha nacional, e ferrovias ainda com predomínio de bitola métrica e fora dos padrões internacionais de qualidade. Mesmo os projetos existentes, como o da Nova Transnordestina e da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL) não serão capazes de integrar a malha da região à nacional. A FIOL tem ligação prevista à Ferrovia Norte-Sul, porém a ferrovia ainda conta com menos de 500 km de seus cerca de 1500 km totais, entre Ilhéus/BA e Figueirópolis/TO. Quanto à Transnordestina, esta ainda aguarda estudos para viabilizar a construção de um ramal de ligação ao trecho norte da ferrovia Norte-Sul. Além disso, o atraso nas obras, problemas relacionados às questões ambientais, desapropriações e erros de projeto (e mesmo a falta deles) prejudicam a efetivação desses empreendimentos, e com isso todo o setor produtivo que aguarda sua conclusão e os que realizam inversões na expectativa do funcionamento dessas ferrovias. Por exemplo, além dos atrasos nas obras da FIOL, o Super Porto Sul, a ser construído na região de entorno de Ilhéus/BA, até o ano de 2012 sequer possuía licença de instalação para a obra. Citem-se ainda entraves relacionados à licença ambiental e mesmo a definição de local para a construção do porto, este essencial para garantir a viabilidade econômica e operacional (e, portanto, competitividade) à FIOL. 123 A região perde competitividade no escoamento de grãos e minérios pela falta de condições de uso do modal, quilômetros de ramais abandonados, atraso na entrega dos novos trechos e a falta de manutenção daqueles que não prevêem investimentos (como a malha São Luís/MA- Fortaleza/CE). Quatro concessionárias operam na região: Transnordestina Logística (antiga Cia. Ferroviária o Nordeste – CFN); Vale, com a Estrada de Ferro Carajás; a estatal VALEC, com parte do trecho Norte da Ferrovia Norte-Sul; e a Ferrovia Centro-Atlântica – FCA, também da Vale (Figura 13). Figura 13 – Nordeste. Distribuição espacial da malha ferroviária Fonte: Atlas do Transporte no Brasil22 (CNT, 2006). A seguir, tem-se um mapeamento da malha completa da Transnordestina Logística S/A incluindo o trecho da Nova Transnordestina (Figura 14), ligando Eliseu Martins/PI aos portos de Pecém/CE e Suape/PE. Os ramais foram adquiridos da antiga CFN. 22 http://www.sistemacnt.org.br/informacoes/pesquisas/atlas/2006/index.htm 124 Figura 14 – Nordeste. Malha ferroviária da Transnordestina Logística S/A Fonte: JUSTO (2010, p. 120). O custo logístico da baixa capilaridade e falta de manutenção da malha ferroviária do Nordeste se configura num gargalo de infraestrutura que ainda não foi solucionado, mesmo que um dos objetivos do PAC envolva a resolução dos problemas deste modal na região. Muitas empresários que poderiam ganhar competitividade com o escoamento de produtos e aquisição de insumos importantes via modal ferroviário, resta a utilização pouco eficiente das rodovias. No sistema portuário da região há portos modernos e competitivos (como Suape/PE e Pecém/CE) e outros que têm sido subutilizados, necessitando de maiores investimentos especialmente no que diz respeito às condições mínimas de navegabilidade dos canais de acesso. As dragagens realizadas no porto de Cabedelo/PB e no terminal salineiro de Areia Branca/RN contribuíram para melhorar a operação destes equipamentos logísticos. O ritmo acelerado de expansão econômica seja em termos de comercialização da produção ao de aumento da renda e, consequentemente, do número de passageiros 125 transportados pelas empresas aéreas, tem levado vários terminais pelo país à saturação e no Nordeste não é diferente. Em termos de capacidade e estrutura adequada para o transporte de cargas, os aeroportos nordestinos também carecem de maiores investimentos, tanto os das capitais quanto de cidades importantes do interior nordestino, como Juazeiro do Norte/CE, que registrou crescimento de 69% em movimentação de cargas e correio apenas em 2010 (INFRAERO, 2010). Há ainda o aeroporto de Petrolina, que apresentou crescimento acumulado em cerca de 40% entre 2006-2010, e aeroportos de capitais como João Pessoa/PB, Teresina/PI e Nata/RN, que têm apresentado aumento na movimentação de cargas nos últimos anos. Em termos de maiores movimentações de carga em terminais aeroportuários da região, destacam-se os aeroportos Luís Eduardo Magalhães (Salvador/BA), Pinto Martins (Fortaleza/CE) e Guararapes (Recife/PE), nesta ordem (INFRAERO, 2010). Os três aeroportos movimentaram apenas em 2010 mais de 135 milhões de toneladas de carga e correio, grande parcela dos números da região. Porém ainda necessitam de recursos para expansão de capacidade e modernização, a fim de atender a demanda crescente não apenas de movimentação cargueira, mas também o aumento considerável no número de passageiros. Cite-se também o aeroporto de São Gonçalo do Amarante/RN, próximo à ZPE de Macaíba, que atenderá cargas e deve expandir a oferta de modais disponíveis para a mesma. Avaliando rapidamente a situação dos quatro principais modais de transporte da região a conclusão que se tem é de que ainda há muito a ser feito. O PAC representou uma sinalização do governo no intuito de demonstrar ao setor produtivo que os devidos investimentos em infraestrutura seriam realizados como forma de viabilizar a atração e expansão das inversões nos diversos setores de atividade econômica. Porém, também foi uma constatação da falta de competitividade que os diversos gargalos logísticos impõem ao empresariado e à economia brasileira. Faz-se necessário que os investimentos em infraestrutura continuem sendo realizados. O lançamento do PAC 2 é a confirmação dessa necessidade, e da falta de correto planejamento e execução de projetos da versão anterior, analisada neste trabalho, que deixou várias obras ainda a entregar após 2010. Os investimentos mapeados no período 2011-2014 atingem R$ 380 bilhões. A Tabela 42 mostra que desse total, mais de 1/3 – ou seja, R$ 139 bilhões – são destinados ao setor de energia elétrica. A logística, no entanto, não fica muito distante – R$ 129 bilhões. Em seguida, estão os investimentos em telecomunicações de R$ 72 bilhões e em saneamento de R$ 41 bilhões. 126 Tabela 42 – Brasil. Investimentos mapeados na Infraestrutura 2011-2014 Setores R$ Bilhões % Energia Elétrica Telecom Saneamento Logística 139 72 41 129 60 51 18 381 Ferrovias Transp. Rodoviário Portos Infraestrutura 36,6 18,8 10,7 33,9 15,9 13,3 4,7 100,0 Fonte: GT do Investimento. Elaboração APE/BNDES. A Tabela 43 compara os investimentos previstos para 2011-2014 com os realizados entre 2006-2009. A perspectiva global é de expressivo crescimento real de 9,0%. As maiores taxas são em Logística. Chama atenção o cenário de aumento em torno de 25% ao ano nas inversões em ferrovias e portos. Projeta-se também forte elevação em transporte rodoviário, saneamento e energia elétrica. Tabela 43 – Brasil. Crescimento dos Investimentos em Infraestrutura* Valores (R$ Bilhão) Crescimento Setores 2006-2009 2011-2014 % % a.a. 104 139 34 6,0 Energia Elétrica 62 72 15 2,8 Telecom 26 41 57 9,4 Saneamento 55 129 135 18,6 Logística Ferrovias Transp. Rodoviário Portos Infraestrutura 20 60 202 24,7 30 51 71 11,4 5 18 225 26,6 247 380 54 9,0 Fonte: GT do Investimento. Elaboração da APE/BNDES. (Puga e Borça Jr, 2011, p.5). Legenda: (*) Comparação entre os períodos 2006-2009 e 2011-2014. 127 CONCLUSÃO Com uma nova etapa do processo de globalização econômica, presenciada nas últimas décadas, os mercados mundiais estão cada vez mais integrados e dependentes, com insumos e produtos acabados (mercadorias em geral) sendo produzidos e comercializados a todo o momento. A qualidade das ligações (modais de transporte e meios de comunicação) entre os diversos nós das cadeias de suprimentos, hoje cada vez mais globais, é determinante para a competitividade e sobrevivência das mesmas à concorrência de mercado. Em termos de Logística, um dos maiores desafios é proporcionar ao cliente um nível de serviço de excelência ao menor custo total possível, o que inclui a busca contínua por eficiência nas operações e maior qualidade na configuração das redes logísticas. No planejamento da rede logística, fatores como a composição de custos devem ser considerados e mensurados. No entanto, muitos dos direcionadores desses custos não estão ao alcance do controle das empresas, como, por exemplo, as condições da infraestrutura logística das regiões nas quais a cadeia de suprimentos está inserida. E no caso do Brasil, os gargalos nos diversos modais de transporte têm sido grandes entraves à continuidade do processo de crescimento da economia e fortalecimento dos negócios no país. Após uma década de escassez nos investimentos, retração no consumo e baixos níveis de atividade econômica nos anos 90, a economia brasileira experimentou, a partir de meados dos anos 2000, uma etapa de forte crescimento. Esta se iniciou a partir da geração de divisas dos setores exportadores, aliada a políticas fiscais e monetárias expansionistas que estimularam o consumo das famílias e encorajaram os empresários a retomar os investimentos produtivos na economia. Assim, em linhas gerais, configurou-se o que talvez seja a característica mais marcante desse período de crescimento econômico no Brasil: a indução interna. Entretanto, a continuidade do crescimento econômico expôs os problemas de décadas sem investimentos na infraestrutura de base no Brasil, principalmente em logística, com gargalos intra e interregionais. A região Nordeste, considerada a mais atrasada em termos econômicos e detentora de muitos dos piores indicadores sociais do país, passou a atrair esses investimentos produtivos e, assim como o restante do país, também sentiu o peso dos problemas em sua infraestrutura, inclusive em situação pior que as regiões mais dinâmicas do Centro-Sul brasileiro. 128 O PAC, lançado em 2007, destinou vultosos investimentos para o Nordeste, divididos em três eixos: Logística, Energia, e Social e Urbano. Porém, o eixo logístico foi o menos contemplado e mesmo os projetos inclusos no programa acabaram não garantindo a superação de todos os entraves que prejudicam a competitividade da região. Atrasos na entrega das obras, problemas relacionados a questões ambientais e erros de projeto também caracterizaram a execução da primeira etapa do PAC não apenas no Nordeste, mas em todo o Brasil. Os investimentos do programa não foram direcionados a integrar o espaço nordestino por meio de uma rede interligada de modais de transporte, mas sim tentar minimizar os problemas para o escoamento de produtos das principais regiões produtoras da região, ligando essas áreas aos principais portos. A maior parte das intervenções foi em rodovias. Mesmo assim a região possui apenas 11% de rodovias pavimentadas, além do baixo adensamento, desproporcional à magnitude geográfica do Nordeste. E as intervenções nesse modal se concentraram no litoral, em sua maioria. Mesmo a reforma e expansão da BR-101, de Natal/RN a divisa com o sudeste, integrou corredores de exportação da zona da mata nordestina, sem grandes pretensões sobre o interior da região e o litoral norte nordestino (CEMA). As inversões em ferrovias foram concentradas na construção da nova Transnordestina, ligando o polo produtor de grãos do sul do Piauí aos portos de Pecém/CE e Suape/PE, e na ferrovia Oeste-Leste. Ambas ainda não foram concluídas, apresentando diversos problemas para a continuidade das obras. No caso da Transnordestina, seu projeto não incluía uma ligação à malha nacional, o que está sendo avaliado e devem ser direcionados recursos do PAC 2 para a ligação efetiva da ferrovia à malha norte da Ferrovia Norte-Sul. Por fim, há trechos adquiridos pelas concessionárias que estão desativados ou subutilizados pelas companhias, contribuindo na piora do custo logístico global da região Nordeste. Esses ramais são importantes no sentido de integrar a Transnordestina e a Oeste-Leste, além de conectar outros portos da região à malha ferroviária, como Cabedelo/PB e Maceió/AL, por exemplo. Ou seja, também não há clareza quanto à efetiva integração ferroviária dentro do espaço geográfico nordestino. Os portos receberam investimentos consideráveis em dragagem, expansão e modernização. Há terminais modernos e competitivos (como Suape/PE e Pecém/CE) e outros que têm sido subutilizados, necessitando de maiores investimentos especialmente no que diz respeito às condições mínimas de navegabilidade dos canais de acesso. As dragagens 129 realizadas no porto de Cabedelo/PB e no terminal salineiro de Areia Branca/RN contribuíram para melhorar a operação destes equipamentos logísticos. O ritmo acelerado de expansão econômica seja em termos de comercialização da produção ao de aumento da renda e, consequentemente, do número de passageiros transportados pelas empresas aéreas, tem levado vários terminais pelo país à saturação e no Nordeste não é diferente. Em termos de capacidade e estrutura adequada para o transporte de cargas, os aeroportos nordestinos também carecem de maiores investimentos. Os aeroportos de Salvador/BA, Fortaleza/CE e Recife/PE, nesta ordem, são os que mais movimentam cargas na região. A obra de construção do terminal de cargas do aeroporto cearense foi uma das entregues dentro do prazo no PAC. Todavia, o crescimento da região demanda maiores investimentos nesses e em outros aeroportos, em especial no interior nordestino. O crescimento operacional relativo à movimentação de cargas e passageiros nesses aeroportos tem sido expressivo, com destaque para os aeroportos de Juazeiro do Norte/CE e de Petrolina/PE. Com relação ao aeroporto pernambucano, que é um terminal de cargas, o mesmo tem sido subutilizado devido às deficiências no transporte do polo fruticultor da região. Problema este que afeta também os demais aeroportos nordestinos. Cite-se também o aeroporto de São Gonçalo do Amarante/RN, em construção, específico para cargas e que está ligado à ZPE de Macaíba expandindo a oferta de modais disponíveis para a mesma. Quanto às hidrovias, existem três de grande potencial no Nordeste: Parnaíba/PI, São Francisco (Bahia e Pernambuco) e Mearim-Pindaré/MA. As deficiências se relacionam menos à navegabilidade e mais a falta de infraestrutura em termos de portos fluviais e ligações intermodais e multimodais que permita um maior fluxo de cargas por essas hidrovias. Avaliando a situação dos quatro principais modais de transporte da região a conclusão que se tem é de que ainda há muito a ser feito. O PAC representou uma sinalização do governo no intuito de demonstrar ao setor produtivo que os devidos investimentos em infraestrutura seriam realizados como forma de viabilizar a atração e expansão das inversões nos diversos setores de atividade econômica. Porém, também foi uma constatação da falta de competitividade que os diversos gargalos logísticos impõem ao empresariado e à economia brasileira. O lançamento do PAC 2 e de outros programas de inversões públicas em infraestrutura, como o Plano Nacional de Logística e Transportes – PNLT e, mais recentemente, do Programa de Investimentos em Logística Integrada, reafirmam a necessidade urgente do país investir na superação dos entraves na infraestrutura Logística e de 130 transportes para que o ciclo de crescimento econômico não seja interrompido. E, ademais, possa ser potencializado. Como apontamentos visando superar algumas deficiências a níveis de integração e maior competitividade logística ao Nordeste, tem-se as seguintes sugestões: a) Investir na recuperação da infraestrutura de acesso rodo-ferroviário aos principais portos regionais; b) Investimentos nas grandes rodovias de integração regional, visando facilitar a mobilidade de passageiros e mercadorias de forma mais rápida, segura e eficiente no espaço regional nordestino. Em especial no interior da região; c) Associar à implantação das Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) programação de investimentos que visem provê-las com infraestrutura logística intermodal ou multimodal, tornando-as verdadeiras Plataformas Logísticas, como mais um atrativo a empreendimentos que queiram se instalar nas mesmas; d) Integração da malha ferroviária nordestina com a do restante do país: Transnordestina e Oeste-Leste com a Norte-Sul e FCA. E recuperação da malha ferroviária desativada dos estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, ligando a Nova Transnordestina aos Portos de Natal e Cabedelo, além do futuro trecho cearense da Transnordestina à Campina Grande/PB e ao porto de Cabedelo; e) Investir na recuperação, expansão e modernização das hidrovias nordestinas: Parnaíba, São Francisco e Mearim-Pindaré. Integrar a hidrovia do São Francisco à Transnordestina por meio de uma plataforma multimodal de integração (rodo-ferro-hidroviária); f) Investimentos em Cabotagem nos portos nordestinos, com esforço de integração em termos de planejamento e operação comercial entre os terminais. Quanto aos investimentos produtivos, estes não parecem estar diretamente associados às inversões do PAC no período, pois o Nordeste passou a receber consideráveis montantes de investimentos antes mesmo do início do programa. Portanto, boa parte desses investimentos, salvo exceções como Petrobras e Vale, apenas acompanhou a tendência de crescimento da economia brasileira e da própria economia nordestina, concentrando-se em determinados estados e segmentos, ou mesmo acelerando o processo de consolidação e especialização produtiva em determinados espaços geográficos da região. Espaços estes que 131 contam com investimentos estaduais como mecanismo de indução à atração de investimentos, que não são o foco deste trabalho. Os polos industriais de Camaçari/MA, Suape/PE e Pecém/CE, com maior destaque aos dois primeiros, são mecanismos estaduais de atração de indústrias motrizes como forma de dinamizar todo o espaço regional e gerar emprego e renda. Da mesma forma, locais como a região portuária de Itaqui/MA, Petrolina/PE, Goiana/PE, Ilhéus/BA, Sobral/CE e regiões metropolitanas de Fortaleza/CE, Recife/PE e Salvador/BA também apresentam grande fator de atratividade para novos investimentos, em setores já tradicionais ou não, que se beneficiam de mecanismos como incentivos fiscais, existência de infraestrutura adequada (em relação aos demais espaços regionais) e mesmo o potencial de seus mercados consumidores e do entorno. O potencial do mercado consumidor nordestino é relevante e será cada vez mais disputado pelos players, nacionais e internacionais, de diversos setores do mercado, o que vem ocorrendo com mais intensidade no período recente. É importante salientar que os dados divulgados pela RENAI não são investimentos efetivamente realizados, e sim anúncios de intenções de investimentos futuros. O que se vai ao encontro da intenção deste trabalho, pois a motivação de executar investimentos em determinada região parte da existência de um ambiente econômico favorável para tal. E, como descrito nos dois primeiros capítulos, a economia brasileira experimenta um período de crescimento desde os anos 2000, mais especificamente a partir de 2004-2005. Porém, foi a partir de 2006 que os investimentos se intensificaram e o estímulo à economia veio do mercado interno em ascensão. Com a posição de credor externo e a forte atração de capitais internacionais, o aumento do nível de atividade econômica (produção, emprego e renda) a partir do setor externo expandiu o mercado interno e trouxe consigo a elevação no nível de investimentos privados. Revelou também, como referido anteriormente, as deficiências em infraestrutura, um dos grandes gargalos a superar para que o Brasil possa manter um nível sustentável de crescimento, garantindo também competitividade à indústria nacional. Investimentos públicos foram direcionados para tal, sendo o lançamento do PAC a grande sinalização das autoridades governamentais quanto à sapiência do problema e a conseqüente disposição em resolvê-lo. A ideia, inserida no texto do próprio PAC, seria criar um ambiente propício à proliferação dos investimentos a partir das inversões em infraestrutura previstas no programa. 132 Tomando por base a Teoria de Investimento Keynes-Minsky citada neste trabalho, os investimentos em infraestrutura são fundamentais para a criação de um ambiente de segurança e estímulo que permita aos industriais planejarem inversões no setor produtivo nacional, a fim de aumentar a oferta e atender a demanda previamente induzida pelo aumento das taxas de ocupação e renda da economia, em geral induzidas pelos investimentos em infraestrutura. Conclui-se, tendo em vista o exporto, que os investimentos em infraestrutura Logística e de Transportes na região Nordeste nos anos 2000 não criaram um ambiente propício ao aumento dos investimentos na região. No entanto, contribuíram para afirmar esse ambiente favorável, impulsionado pelo vigor do mercado interno (aumento do emprego, renda, crédito e investimentos, com juros em queda e inflação estável). Analisados por cada estado nordestino foram destinados a melhorar as condições operacionais dos principais corredores de exportação regionais, auxiliando no estímulo ao crescimento da corrente de comércio exterior. Ademais, estimularam a geração de emprego e atração de mais investimentos produtivos nas principais regiões beneficiadas pelas inversões públicas, naturalmente as regiões de maior crescimento econômico, doméstico e externo, representadas pelas seguintes unidades federativas: Bahia, Ceará, Maranhão e Pernambuco. 133 REFERÊNCIAS ARAÚJO, M. P. 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