DISCURSO 02/FS/GAB.827/2007 O SRº. DEP. FÁBIO SOUTO (PFL-BA. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, em 22 de janeiro o Governo federal lançou, com grande pompa e circunstância, o chamado Programa de Aceleração Econômica (PAC), com a promessa de relançar as bases do desenvolvimento sustentável no Brasil. São 36 medidas, já implementadas ou não, dentro e fora da arena legislativa. A indagação de todos os brasileiros é: o que este plano tem de novo no sentido de retirar a economia do País do atual estágio de letargia em que se encontra? Se pude aprender algo em meu curso de economia na Universidade Federal da Bahia, minha convicção é a de que o crescimento econômico do Brasil no curto prazo pouco será afetado pelo PAC. 2 Explico-me. Há um razoável consenso entre os especialistas de que os principais entraves ao desenvolvimento no Brasil residem na elevada carga tributária, na baixa dotação institucional, no expressivo custo do investimento, na reduzida poupança doméstica, especialmente a pública, e, associada a todos esses fatores, na precária infraestrutura que serve de base para a rentabilização dos investimentos privados. Nesse breve diagnóstico sobre as travas do crescimento brasileiro, o PAC começa do final: apresenta uma acentuada ênfase na destinação de recursos governamentais de curto prazo para investimento em infra-estrutura, mas não ataca os gargalos fundamentais da economia, o que permitiria que o impulso inicial ganhasse momento e se tornasse auto-sustentável. Não se quer afirmar que o investimento público não seja importante. É evidente que há um grande espaço ainda para a sua atuação, lado a 3 lado com o investimento privado, no País. O problema é que o Brasil ainda está longe de superar suas dificuldades na arena fiscal. A relação dívida/PIB vem oscilando no patamar dos 50% nos últimos anos, sem perspectiva de queda, mesmo com o “céu de brigadeiro” com que a conjuntura econômica internacional brindou o Brasil e todas as economias emergentes desde 2003. Essa rigidez à queda se explica pela performance das despesas do governo central, que saltaram de 17,25% do PIIB em 2002 para 19,19% em 2006, movimento que se acentuou fortemente nos últimos dois anos e que é claro reflexo da farra de gastos gerada no período eleitoral. Como o PAC pretende a ampliação dos gastos com investimento sem a contrapartida da urgente redução dos gastos correntes, garantir um mínimo equilíbrio nas contas públicas requererá a 4 manutenção – ou até a elevação - da insuportável carga tributária. O PAC parte do pressuposto de que a economia crescerá 4,5% em 2007 e 5% ao ano até 2010, o que geraria receitas tributárias suficientes para financiar a ampliação prevista nos investimentos. Ora, Sr. Presidente, o País não crescerá nesse ritmo sem que reformas estruturais mais profundas sejam implementadas. Sem medidas firmes na área fiscal, a consecução das metas de inflação fatalmente continuará constrangendo o crucial processo de relaxamento da política monetária. O corolário, já conhecido, é que os juros e a carga tributária elevadíssimos permanecerão limitando o investimento privado em favor do gasto público. Na contexto das reformas institucionais, o Governo manteve em tramitação, agora como parte do PAC, o projeto de lei das agências reguladoras, o qual, ao invés de reduzir a 5 incerteza jurídica e o espaço para intervenções políticas indevidas, remove grande parte da independência desses entes. Ocioso destacar o desestímulo ao investimento em infra-estrutura gerado por esta estratégia. As desonerações tributárias efetuadas são excessivamente pontuais. Na verdade, a proliferação de regimes especiais para setores específicos reflete muito mais a ação de lobbies bem organizados do que uma estratégia governamental consolidada pró-crescimento. Se a desoneração de um ou outro setor é positiva, muito provavelmente a extensão desta para outros segmentos poderia ser ainda melhor. De fato, a melhor desoneração é aquela realizada horizontalmente, para toda a economia, através de uma ampla reforma tributária, deixando que os mais eficientes se revelem pela própria dinâmica do livre mercado. E para isso, Sr. Presidente, é indispensável que o Estado brasileiro passe a 6 caber dentro de uma receita tributária mais modesta, destravando o investimento privado produtivo. Ao PAC falta ambição. Não a ambição fácil de “abrir as torneiras”, agradar a todos e se escusar de eleger prioridades. Falamos sim daquela ambição genuína, que não hesita em ferir interesses especiais dos que desfrutam do Estado patrimonialista inevitáveis na nem em enfrentar os desgastes popularidade vivida por todo verdadeiro estadista. Ser governo não é viver só de aplausos e ovações em cima de carros de som. Esse é o caso, por exemplo, da remissão da reforma da Previdência para um fórum de discussão cujo consenso pretendido, todos sabemos constituir tarefa impossível. Sabemos todos que a melhor forma de adiar a solução de um grave problema, que exige um governo sem medo, é criar um fórum de discussão ou um grupo de trabalho, providência ainda mais demagógica e 7 covarde quando as soluções já são sobejamente conhecidas, como é o caso da Previdência. Sras. e Srs. Deputados: ao se recusar a tomar medidas livres do fisiologismo, aproveitando o início de mandato quando o ciclo político lhe é mais favorável, o Governo Lula deixa de aproveitar a importantíssima oportunidade de lançar um plano que represente um verdadeiro ponto de inflexão rumo ao desenvolvimento econômico de longo prazo. No lugar disso, anuncia um arremedo de programa de desenvolvimento incompleto, intempestivo, e que não contempla os itens mais importantes de uma agenda de reformas que, mais cedo ou mais tarde, terá que ser encampada por qualquer governo sério e comprometido com o futuro da Nação. Muito obrigado. 8 2007_459_Fábio Souto_202