AVALIAÇÃO DA PARTIÇÃO DE COMPRIMIDOS DE ÁCIDO ACETILSALICÍLICO 500 MG. Aline Beatriz Zanzarini Pinheiro (PIBIC/UEL), Profa. Dra. Marlene Maria Fregonezi Nery, Profa. Dra. Elisabeth Aparecida dos Santos Gianotto (Orientador) ([email protected]) Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências da Saúde/ Departamento de Ciências Farmacêuticas Ciências da saúde – Análise e controle de qualidade de medicamentos Palavras chave: partição de comprimidos, ácido acetilsalicílico, controle de qualidade Resumo: O objetivo do trabalho foi avaliar a influência da partição de comprimidos de ácido acetilsalicílico 500mg nos medicamentos: referência, genérico e similar. Avaliaram-se características físico-químicas através dos ensaios de peso médio, dureza, friabilidade, desintegração, dissolução, doseamento e uniformidade de dose unitária. Os resultados indicam que houve uma grande variação de peso e uniformidade do fármaco nos comprimidos partidos, comprometendo a ação farmacológica e a saúde do paciente. Introdução Nem sempre a dosagem mais adequada para o tratamento de um determinado paciente encontra-se disponível em apresentações comerciais. Assim, a partição de comprimidos tornou-se uma prática comum há muitos anos. Dentre os vários fatores que interferem no sucesso do tratamento que inclui a partição de comprimidos, destacam-se a dificuldade de execução e a falta de uniformidade das partes obtidas (MARRIOT, 2002). O AAS foi o fármaco escolhido para este estudo porque é amplamente utilizado, em baixas doses, como anti-agregante plaquetário tanto na rede pública quanto na privada. E, muitas vezes, dependendo da posologia recomendada pelo médico ou por motivos econômicos, a partição de comprimidos de AAS se faz necessária para este tipo de tratamento. Uma alternativa para contornar o problema da divisão é recorrer ao setor magistral, capaz de manipular cápsulas contendo o fármaco na dosagem correta, prescrita pelo médico (SACHWEH et al, 2006). Para este estudo foram utilizados comprimidos com teor declarado de 500mg de Ácido acetilsalicílico, dos medicamentos: referência, similar e genérico. Materiais e Métodos Foram utilizados comprimidos com teor declarado de 500mg de Ácido acetilsalicílico. Amostra A (produto referência), amostra B (similar) e amostra C (genérico), sendo utilizados 3 lotes de cada produto, denominados 1, 2 e 3. As determinações de peso médio, dureza, friabilidade e desintegração foram realizadas de acordo com a metodologia geral descrita na Farmacopéia Brasileira IV ed. (1988). Para o teste de dissolução e doseamento foram utilizadas as especificações da monografia de AAS comprimidos, descritos na Farmacopéia Brasileira IV ed. (2002). Resultados e Discussão Inicialmente foram realizados testes com os comprimidos íntegros para avaliar a qualidade dos mesmos. Para comprimidos com peso médio acima de 500,0 mg é permitida uma variação de 5,0% e podem ser toleradas não mais que duas unidades fora deste limite e nenhuma unidade acima ou abaixo do dobro da porcentagem especificada. Todas as amostras estudadas apresentaram peso médio dentro das especificações. As especificações para o teste de friabilidade e dureza são definidas no processo de desenvolvimento do produto. As amostras estudadas apresentaram os seguintes resultados de friabilidade: amostra A (0,74; 0,45; 0,31%), amostra B (0,49; 0,57; 0,38%) e amostra C (0,22; 0,26; 0,18%) para os lotes 1, 2 e 3 respectivamente e dureza de 81,7; 88,6 e 82,4N para a amostra A; 117,1; 95,0 e 108,5N para a amostra B e 141,6 151,5 e 157,5 N para a mostra C, dos lotes 1, 2 e 3 respectivamente. No teste de desintegração todas as amostras se desintegraram no tempo inferior a 1 minuto, atendendo a especificação de no máximo 5 minutos. No teste de dissolução, todos os comprimidos apresentaram porcentagem de dissolução maior ou igual a 84%, exceto a amostra B2 que apresentou uma unidade abaixo da especificação, sendo necessário realizar a segunda etapa do teste. Na segunda etapa a amostra B2 atendeu as especificações e foi aprovada. Para o doseamento, a variação permitida para comprimidos de AAS é 95,0 a 105% do valor declarado. Apenas as amostras A1 e B1 que apresentaram resultados 104,12 e 103,68%, respectivamente, estando aprovadas. As amostras A2, A3, B2, B3, C1, C2 e C3 com resultados 108,25; 105,93; 105,44; 106,02; 108,78; 106,39 e 108,29% estão acima do valor permitido, estando reprovadas. Para o teste de uniformidade de doses unitárias foi utilizado o método de variação de peso. O produto passa no teste se a quantidade do fármaco em cada uma das 10 unidades estiver situada entre 85% e 115% do valor declarado e o desvio padrão relativo (DPR) for menor ou igual a 6,0%. Todas as amostras cumpriram o teste. Para avaliarmos a partição dos comprimidos foram utilizados os testes de peso médio e uniformidade de doses unitárias para cada metade. Para ambos os testes foram utilizados as mesmas metodologias utilizadas para os comprimidos íntegros. A variação de peso permitida para comprimidos com peso médio entre 80mg e 250mg é ± 7,5%, sendo que os critérios de aprovação são os mesmos descritos acima. Nesse teste nenhuma das amostras atendeu as especificações, pois todas apresentaram mais que dois comprimidos acima ou abaixo da porcentagem permitida e as amostras A2, A3, B1, B2, B3, C1, C2 e C3 apresentaram metades de comprimidos com valores acima e/ou abaixo do dobro da porcentagem citada. Para o teste de uniformidade de doses unitárias foi considerado o mesmo critério do comprimido integro, ou seja, os comprimidos cumprem o teste se a quantidade do fármaco em cada uma das 10 unidades estiver situada entre 85 a 115% do valor declarado e o desvio padrão relativo (DPR) for menor ou igual a 6,0%. Se uma unidade estiver fora da faixa de 85 a 115% da quantidade declarada e nenhuma estiver fora da faixa 75 a 125% da quantidade declarada, ou se o DPR for maior que 6,0%, ou se ambas as condições forem observadas, testar mais 20 unidades. Nesta etapa o produto passa no teste se não mais que uma unidade estiver fora da faixa de 85 a 115% da quantidade declarada e nenhuma unidade estiver fora da faixa 75 a 125% da quantidade declarada e o DPR de 30 unidades testadas não exceder 7,8%. Para este teste as amostras A2, A3, B1, B2, B3, C1 e C3 das metades I e as amostras A1, A3, B1, B2, B3 e C1 das metades II não cumprem o teste. Para as amostras A1 e C2 das metades I e A2, C2 e C3 das metades II se faz necessária a realização da segunda etapa do teste com mais 20 comprimidos. Como o objetivo foi avaliar as conseqüências da partição de comprimidos de AAS 500 mg não foi realizada a segunda etapa do teste, pois se observou que devido a perda excessiva de pó no processo de partição os comprimidos terão grande variabilidade de peso e conteúdo. Conclusões Os resultados obtidos com a partição dos comprimidos de AAS indicam que houve uma grande variação de peso e uniformidade de fármaco nos comprimidos partidos. Assim, a posologia não ficaria garantida, podendo acarretar no comprometimento do tratamento e da saúde do paciente. Podemos concluir que se faz necessária uma avaliação rigorosa das vantagens e desvantagem da partição de comprimidos para cada caso, devendo ser observado as variações de estabilidade de cada fármaco, o tipo de comprimido, a forma do mesmo, a janela terapêutica, entre outros fatores. Visando sempre a adequação, adesão e otimização do tratamento e, acima de tudo, a saúde do paciente. Referências Conti, M. A.; Adelino, C. C.; Leite, L. B.; Vasconcelos, S. B. Partição de comprimidos: considerações sobre o uso apropriado. Farmacoterapêutica, n 4/5, 2007. Farmacopéia Brasileira 4.ed. São Paulo: Atheneu, fascículo 4, 2002. Farmacopéia Brasileira 4.ed. São Paulo: Atheneu, 1998. Hill, S.W.; Varker, A.S.; Karlage, K.; Myrdal, P.B. Analysis of drug content and weight uniformity for half-tablets of 6 commonly split medications. Journal of Managed care Pharmacy. 2009. v.15. n.3. p 253-261 Marriot, J. L. And Nation, R. L. Splitting Tablets. Australian Prescriber, v. 25, n 6, 2002. MCDevit,.J.T.; Gurst, A.H.; Chen, Y. Accuracy Pharmacoterapy, v. 18 (1), p. 193-97, 1998. of tablet splitting. Van Santen, E.; Barends, D. M. e Frigink, H. W. Breaking of scored tablets: a review. Eur. J. Pharm. Biopharm., v. 53, p. 139-45, 2002.