Uma sequência didática proposta para o ensino de funções na escola bilíngue para surdos Graziely Grassi Zanoni(1); Tânia Stella Bassoi(2) (1) Mestre em Ensino - UNIOESTE, campus Foz do Iguaçu. Secretaria de Estado da Educação do Paraná/ SEED. (2) Medianeira, Paraná; [email protected]; Professora Associada do Curso de Matemática. Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ UNIOESTE, campus Cascavel. [email protected]. Programa de Pós-Graduação: Stricto Sensu em Ensino (PPGEn) – Nível Mestrado. Categoria do trabalho: ( ) Projeto em fase inicial ( ) Resultados Parciais (x ) Resultados Finais INTRODUÇÃO A disciplina de matemática apresenta-se na escola de maneira formal, abstrata e dedutiva, dessa forma, para compreender os conceitos matemáticos é importante ensinarmos levando em consideração as características próprias que essa disciplina apresenta. Para os surdos isso se potencializa, pois ele utiliza duas representações linguísticas de comunicação. Além de compreender a linguagem matemática, há a necessidade de transitar da língua portuguesa para a língua de sinais e vice versa para a aprendizagem dos conceitos que lhes são ensinados. O objetivo deste estudo foi compreender o uso de sequência didática no processo de ensino de funções para alunos surdos. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa realizada apresentou uma abordagem de cunho qualitativo, para compreender o uso de uma sequência didática no ensino de funções para os alunos surdos. Foi uma pesquisa-ação, pois, ao mesmo tempo em que aplica a sequência, o professor pesquisador torna-se capaz de rever suas práticas pedagógicas modificando-as para promover melhorias e reflexões sobre as próprias ações de ensino e simultaneamente acompanhar as dificuldades e avanços na aprendizagem do conteúdo matemático. Para tanto, foi elaborada e aplicada uma sequência didática em uma escola bilíngue para surdos de uma cidade do Oeste do Paraná, propondo situações de ensino em que os alunos surdos na modalidade de Ensino Médio ou Ensino Profissionalizante, da escola regular comum fluentes em língua de sinais que utilizam a Libras, Língua Brasileira de Sinais, em sua comunicação, fossem desafiados a escrever a expressão matemática requerida. Para a coleta de dados utilizamos a filmagem durante a aplicação das unidades que compunham a sequência didática, tanto para registrar a fala na língua de sinais entre a pesquisadora e os educandos, bem como as representações escritas por eles efetuadas, uma vez que a língua de sinais se apresenta na modalidade viso espacial. O trabalho iniciou-se com quatro alunos, sendo dois matriculados no Ensino Médio e dois no Ensino Profissionalizante, no curso de Formação de Docentes, antigo Magistério. Vale ressaltar que o grupo de alunos surdos participantes da pesquisa era heterogêneo. Com a entrevista semiestruturada pudemos conhecer um pouco sobre os participantes da pesquisa, além de revelar que a escrita e compreensão de fórmulas era uma dificuldade comum entre os participantes, assim, poderíamos focar nossa pesquisa em dois conteúdos: equações e funções. Optamos em trabalhar o conceito de função, por ser um conceito abrangente e por se tratar de alunos do Ensino Médio e Ensino Profissionalizante, que utilizavam esse conceito em disciplinas como a física, a química, a biologia entre outras. Para as sessões foram utilizadas unidades adaptadas do livro de Isolani et al (2002) escolhidas por possibilitar a utilização de diferentes representações visuais como tabelas, gráficos, sequências pictóricas e desenhos no ensino do conceito. RESULTADOS Os resultados das discussões e interações em grupo trouxeram importantes contribuições para o ensino e a aprendizagem da escrita sobre o conceito de função. Na perspectiva do ensino, a pesquisadora se valeu de textos em língua portuguesa e figuras para elaborar as unidades que compunham a sequência didática com o conceito de função. Notou ao longo da pesquisa, a dificuldade em compreender o texto escrito para resolver a unidade necessitando da língua de sinais, para esta compreensão, língua esta pela qual o aluno surdo aprende e têm acesso ao conhecimento, assim, a língua portuguesa é uma segunda língua para os surdos e por isso, a importância da utilização da língua de sinais como “elemento fundador”, segundo Fernandes (2006, p. 6), para a compreensão e significação de palavras e sinônimos que não fazem parte da gramática da Libras. Além disso, houve a dificuldade em relacionar os elementos textuais aos correlatos matemáticos propostos na unidade e que necessitaram de outras informações relacionadas às figuras para estabelecerem as relações pedidas. Do ponto de vista da aprendizagem, houve avanços com relação às primeiras formas de representação de modo aritmético para a expressão algébrica. Na representação, por meio de tabelas, da relação entre as variáveis propostas na unidade, mostraram-se inicialmente como colunas de números, sem referências embora todos estivessem no Ensino Médio. Um dos educandos apresentou o significado operacional funcional pela expressão algébrica matemática, explicando as relações de dependência entre as variáveis, destacamos que esse aluno ressaltou na entrevista que Libras era utilizada por ele, não só no convívio com pessoas surdas, mas também na comunicação familiar o que parece ter favorecido seu desenvolvimento e aprendizagem confirmando o que ressalta Nogueira e Machado (2007) que a linguagem favorece a construção das estruturas cognitivas, A pesquisa evidenciou que as sequências didáticas planejadas auxiliam no processo de ensino não apenas de alunos surdos, pois o diferencial entre estes e os alunos ouvintes é que aqueles requerem uma representação a mais para o acesso ao conhecimento matemático, a língua de sinais, que faz parte do tripé na educação matemática dos surdos, como destaca Oliveira (2005) que envolve primeiramente a língua de sinais, o conhecimento matemático do docente e sua formação, bem como, a utilização de metodologias, que visem um ensino mais efetivo, com o máximo de detalhamento possível no planejamento, clareza e direcionamento do que realmente se deseja alcançar, favorece não apenas o ensino de alunos surdos. Vale ressaltar ainda que a utilização de diferentes representações visuais é importante para o ensino de conceitos matemáticos aos surdos, conforme Sales (2004) e Borges; Nogueira (2013), e que a proficiência em Libras pelo docente ou tradutor intérprete segundo Silva (2010), Nogueira; Borges; Frizzarini (2013) deve vir acompanhada da formação específica do tradutor e intérprete para que haja a compreensão do conceito por parte do surdo. Sendo assim, esperamos com essa pesquisa estimular mais estudos que contribuam para o aprofundamento desse tema, envolvendo outras estratégias para o ensino de funções, bem como, pesquisas que envolvam outros conceitos matemáticos. REFERÊNCIAS BORGES, F.A.; NOGUEIRA, C.M.I. Um Panorama da Inclusão de Estudantes Surdos nas aulas de Matemática: O uso de mídias e outros materiais no ensino de Matemática para surdos sem uma exploração pedagógica. In: NOGUEIRA, C.M.I. (Org.). Surdez, inclusão e matemática. 1 ed. Curitiba, PR: CRV, 2013. ISOLANI, C. M. 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