41 - Cegos Adventistas

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LIVRO ATOS DOS APÓSTOLOS.
Escritora Ellen G. White.
TÍTULO quatro.
O Ministério de Paulo.
CAPÍTULO 41.
Quase Persuadido.
Paulo tinha apelado para César, e Festo não tinha outro jeito senão enviá-lo a
Roma. Mas algum tempo se passou antes que pudesse ser encontrado um navio
oportuno; e como outros prisioneiros deviam ser enviados com Paulo, a
consideração de seus casos também ocasionou demora. Isto deu a Paulo
oportunidade de apresentar as razões de sua fé diante dos principais homens de
Cesaréia, como também perante o rei Agripa II, o último dos Herodes.
"E, passados alguns dias, o rei Agripa e Berenice vieram a Cesaréia, a saudar
Festo. E, como ali ficassem muitos dias, Festo contou ao rei os negócios de Paulo,
dizendo: Um certo varão foi deixado por Félix aqui preso. Por cujo respeito os
principais dos sacerdotes e os anciãos dos judeus estando eu em Jerusalém,
compareceram perante mim, pedindo sentença contra ele." Atos 25:13-15. Ele
esboçou as circunstâncias que levaram o prisioneiro a apelar para César, contando
do recente julgamento de Paulo perante ele, e dizendo que os judeus não tinham
apresentado contra Paulo nenhuma acusação das que ele supunha, mas "algumas
questões acerca de sua superstição, e de um tal Jesus, defunto, que Paulo afirmava
viver".
Havendo Festo contado sua história, Agripa tornou-se interessado, e disse: "Bem
quisera eu também ouvir esse homem." Conforme sua vontade foi arranjada uma
reunião para o dia seguinte. "E, no dia seguinte, vindo Agripa e Berenice, com
muito aparato, entraram no auditório com os tribunos e varões principais da cidade,
sendo trazido Paulo por mandado de Festo." Atos 25:19, 22 e 23.
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Em homenagem aos visitantes, Festo buscara tornar a ocasião bastante aparatosa.
As ricas vestes do procurador e de seus hóspedes, as espadas dos soldados e as
brilhantes armaduras de seus comandantes, emprestavam brilho à cena.
E agora Paulo, ainda algemado, achava-se diante do grupo reunido. Que contraste
era aqui apresentado! Agripa e Berenice possuíam poder e posição, e eram por isto
favorecidos pelo mundo. Mas eram destituídos dos traços de caráter que Deus
estima. Eram transgressores de Sua lei, corruptos de coração e de vida. Sua
conduta era aborrecida pelo Céu.
O idoso prisioneiro, acorrentado a um soldado, não tinha em seu aspecto coisa
alguma que levasse o mundo a prestar-lhe homenagem. Entretanto nesse homem,
aparentemente sem amigos, riqueza ou posição, preso por sua fé no Filho de Deus,
o Céu todo estava interessado. Os anjos eram seus assistentes. Caso se houvesse
manifestado a glória de um só desses resplandecentes mensageiros, a pompa e o
orgulho da realeza teria empalidecido; rei e cortesãos teriam sido lançados por
terra, como os soldados romanos junto ao sepulcro de Cristo.
O próprio Festo apresentou Paulo à assembléia com estas palavras: "Rei Agripa, e
todos os varões que estais presentes conosco; aqui vedes um homem de quem toda
a multidão dos judeus me tem falado, tanto em Jerusalém como aqui, clamando
que não convém que viva mais. Mas, achando eu que nenhuma coisa digna de
morte fizera, e apelando ele mesmo também para Augusto, tenho determinado
enviar-lho. Do qual não tenho coisa alguma certa que escreva ao meu senhor, e por
isso perante vós o trouxe, principalmente perante ti, ó rei Agripa, para que, depois
de interrogado, tenha alguma coisa que escrever. Porque me parece contra a razão
enviar um preso, e não notificar contra ele as acusações." Atos 25:24-27.
O rei Agripa deu agora a Paulo a liberdade de falar por si. O apóstolo não estava
desconcertado pela brilhante pompa ou elevada posição de seu auditório; pois sabia
de quão pouco valor representam riqueza ou posição mundanas. Poder e pompa
terrestres não poderiam nem por um momento abater-lhe o ânimo ou roubar-lhe o
domínio próprio.
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"Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa", disse ele, "de que perante ti me haja hoje
de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus; mormente sabendo
eu que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus;
pelo que te rogo que me ouças com paciência." Atos 26:2 e 3.
Paulo relatou a história de sua conversão de obstinada incredulidade à fé em Jesus
de Nazaré como o Redentor do mundo. Descreveu a visão celestial que a princípio
o enchera de indizível terror, porém mais tarde provou ser uma fonte da maior
consolação - uma revelação de glória divina, no meio da qual estava entronizado
Aquele a quem ele desprezara e odiara, cujos seguidores procurara mesmo levar à
destruição. Desde esse momento Paulo se havia tornado um novo homem, um
sincero e fervoroso crente em Jesus, a isto chegando pela transformadora
misericórdia.
Com clareza e poder Paulo traçou perante Agripa um esboço dos principais
acontecimentos relacionados com a vida de Cristo sobre a Terra. Sustentou que o
Messias da profecia tinha já aparecido na pessoa de Jesus de Nazaré. Mostrou
como as Escrituras do Antigo Testamento haviam declarado que o Messias devia
aparecer como um homem entre os homens; e como na vida de Jesus se havia
cumprido cada especificação esboçada por Moisés e os profetas. Com o propósito
de redimir o mundo perdido, o divino Filho de Deus, desdenhando a ignomínia,
suportou a cruz e subiu ao Céu, triunfante sobre a morte e a sepultura.
Por que, raciocinava Paulo, parecia incrível que Cristo ressuscitasse dos mortos?
Uma vez assim lhe parecera; mas como poderia descrer daquilo que ele mesmo
havia visto e ouvido? À porta de Damasco havia sem qualquer dúvida contemplado
o Cristo crucificado e ressurgido, o mesmo que tinha palmilhado as ruas de
Jerusalém, morrido no Calvário, quebrado as ligaduras da morte e ascendido ao
Céu. Tão seguramente como Cefas, Tiago e João, ou qualquer outro dos discípulos,
tinha-O visto e com Ele falado. A Voz o intimara a proclamar o evangelho de um
Salvador ressuscitado, e como poderia desobedecer? Em Damasco, em Jerusalém,
através de toda a Judéia e nas regiões distantes, havia ele testemunhado de Jesus, o
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Crucificado, mostrando a todas as classes "que se emendassem, e se convertessem
a Deus, fazendo obras dignas de arrependimento".
"Por causa disto", declarou o apóstolo, "os judeus lançaram mão de mim no
templo, e procuraram matar-me. Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia
de hoje permaneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não
dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia
acontecer, isto é, que o Cristo devia padecer, e, sendo o primeiro da ressurreição
dos mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios." Atos 26:20-23.
Todos os presentes escutaram encantados a narração feita por Paulo de suas
maravilhosas experiências. O apóstolo estava falando sobre o seu tema predileto.
Nenhum dos que o ouviam podia duvidar de sua sinceridade. Mas no momento de
sua mais persuasiva eloqüência, foi interrompido por Festo, que exclamou: "Estás
louco, Paulo; as muitas letras te fazem delirar."
O apóstolo respondeu: "Não deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palavras de
verdade e de um são juízo. Porque o rei, diante de quem falo com ousadia, sabe
estas coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto; porque isto não se fez em
qualquer canto." Então, voltando-se para Agripa, a ele se dirigiu diretamente:
"Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? Bem sei que crês." Atos 26:24-27.
Profundamente impressionado, Agripa perdeu de vista por um momento o
ambiente e a dignidade de sua posição. Tendo apenas consciência das verdades que
tinha ouvido, vendo somente o humilde prisioneiro que estava diante dele como
embaixador de Deus, respondeu involuntariamente: "Por pouco me queres
persuadir a que me faça cristão!"
Ardorosamente o apóstolo respondeu: "Prouvera a Deus que, ou por pouco ou por
muito, não somente tu, mas também todos quantos me estão ouvindo, se tornassem
tais qual eu sou, exceto estas cadeias" (Atos 26:28 e 29), acrescentou erguendo as
mãos acorrentadas.
Festo, Agripa e Berenice podiam com justiça trazer nos pulsos os grilhões que
acorrentavam o apóstolo. Eram todos culpados de graves crimes. Esses
transgressores tinham ouvido nesse dia a oferta de salvação mediante o nome de
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Cristo. Um, pelo menos, estivera quase persuadido a aceitar a graça e o perdão
oferecidos. Mas Agripa afastou a misericórdia oferecida, recusando aceitar a cruz
de um Redentor crucificado.
A curiosidade do rei foi satisfeita, e levantando-se deu a entender que a entrevista
tinha terminado. Ao se dispersarem, os presentes falavam entre si dizendo: "Este
homem nada fez digno de morte ou de prisões."
Embora Agripa fosse judeu, não participava ele do zelo intolerante e cego
preconceito dos fariseus. "Bem podia soltar-se este homem", disse ele a Festo, "se
não houvera apelado para César." Atos 26:31 e 32. Mas o caso fora levado àquele
supremo tribunal, e estava agora além da jurisdição tanto de Festo quanto de
Agripa.
FIM DO CAPÍTULO 41.
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