David de Prado Díez

Propaganda
Revista RecreArte 11
DIC09
Revista RecreArte 9 > II - Creatividad en Educación: Innovación Radical
David de Prado Díez
CIÊNCIAS COGNITIVAS E EDUCAÇÃO1[1]
Vilmar Urbaneski2[2]
Adolfo Ramos Lamar3[3]
RESUMO
As concepções de conhecimento que surgiram no decorrer da história da filosofia fizeram ou
fazem parte da Educação, de forma direta ou indireta. Entretanto, nos últimos tempos, a
preocupação com as questões relativas ao conhecimento não são mais exclusividade dos
filósofos profissionais que se dedicam a Epistemologia, mas também são das Ciências
Cognitivas, a qual têm se dedicado a esta tarefa. E neste sentido, este artigo tem como objetivo
apresentar o surgimento das Ciências Cognitivas, suas posições, seus desafios e em uma
instância, os possíveis desdobramentos na Educação, no quesito conhecimento.
Palavras-chaves: Ciências Cognitivas. Cognição. Conhecimento. Educação.
RESUMEN
Las concepciones de conocimiento que nacieron en el decurso de la historia de la filosofía
hicieron o hacen parte de la Educación, de forma directa o indirecta. Sin embargo, en los
últimos tiempos, la preocupación con las cuestiones relativas al conocimiento no son más
exclusividad de los filósofos profesionales que se dedican a Epistemología, mas también son de
las Ciencias Cognitivas, que tienen se dedicado a esta tarea. En este sentido, este artigo tiene
como objetivo abordar el surgimiento de las Ciencias Cognitivas, sus posiciones, sus desafíos y
en una instancia, los posibles despliegues en la educación, en la cuestión conocimiento.
Palabras-claves: Ciencias Cognitivas. Cognición. Conocimiento. Educación.
1. INTRODUÇÃO
A preocupação com a natureza do conhecimento tem despertado interesse desde
os primórdios da Filosofia e tem sido considerada como uma das questões centrais da
tradição filosófica e que de certa maneira a discussão do conhecimento perpassa o
campo da Educação.
Conforme, Dutra (2000, p.21), “os pensadores do período
clássico, como Platão e Aristóteles, formularam as doutrinas sobre a natureza do
conhecimento [...] e tais doutrinas tinham, obviamente, conseqüências para a educação”.
Na História da Filosofia, os filósofos têm se questionado sobre, por exemplo: o
que significa conhecer? Como conhecemos? Quais os limites, as possibilidades, a
validade e os meios para aquisição do conhecimento? Para responder as questões acima,
1[1] 1[1] Este artigo é um recorte da Dissertação de mestrado defendida no
PPGE(FURB) sob o titulo: Epistemologia Social, Ciências Cognitivas e Educação
2[2] Mestre em Educação (FURB)
3[3] Pós-Doutor em Educação(USP)
1
diversas teorias foram apresentadas com o intuito de apresentar possíveis soluções às
questões sobreposta.
A preocupação com as questões do conhecimento de certa medida tiveram o seu
início e sistematização com os filósofos da Grécia Antiga, principalmente com Platão e
Aristóteles e por outros filósofos que apresentaram o seu parecer sobre o assunto.
Entretanto, atualmente, estas questões não são mais de exclusividade dos filósofos
profissionais que se dedicam a Epistemologia, mas também tem sido objeto de
investigação dos cientistas cognitivos.
Diante do exposto, objetivo deste artigo é apresentar uma das áreas de
investigação que tem como um dos objetos de estudo as questões do conhecimento, a
saber: as Ciências Cognitivas. E, além disso, demonstrar o surgimento desta, suas
posições, seus desafios e em uma instância, os possíveis impactos para a Educação, se
esta ainda tem como uma das suas preocupações centrais, as questões do conhecimento.
2. ANTECEDENTES
Na História da Filosofia, os filósofos têm se questionado sobre, por exemplo: o
que significa conhecer? Como conhecemos? Quais os limites, as possibilidades, a
validade e os meios para aquisição do conhecimento? Como aparelho cognitivo pode
adquirir conhecimento de forma confiável? Quais são as possíveis influencias do
cérebro no processo de aquisição do conhecimento? Para responder estas questões,
dentre outras, diversas teorias surgiram e ficaram registradas na história da Filosofia. E
os arsenais de ideias e de argumentos que sustentam cada uma das teorias que surgiram,
variam de época para época, de autor para autor e de acordo com os instrumentos
investigativos existentes em cada período histórico.
Na Modernidade, as questões do conhecimento passaram a ser tratadas pela
Epistemologia e-ou Teoria do Conhecimento (ramo da Filosofia que tem como pedra
angular o conhecimento). Conforme Luz e Silva (2001, p.72), “principalmente a partir
da modernidade, os filósofos deram-se conta de que, antes de qualquer coisa,
deveríamos avaliar a possibilidade e o alcance de nosso conhecimento”. Assim, na
modernidade, as questões relativas ao conhecimento ficam predominantemente a cargo
da Epistemologia.
Para Blanché (1988), o termo "Epistemologia” propriamente dito, aparece pela
primeira vez, em 1854, quando foi empregado por Ferrier em sentido oposto à noção
2
"ontologia". Ou ainda, no dicionários franceses, a palavra Epistemologia tem o seu
aparecimento por volta de 1906 e significa literalmente teoria da ciência.
Para Dancy (1990, p.13), “a epistemologia é o estudo do conhecimento e a
justificação das crenças”. Então, a grosso modo, podemos dizer a título de
esclarecimento inicial, que a Epistemologia é uma das áreas da Filosofia, e tem como
uma
das
suas
tarefas
tradicionais
estabelecer
normas
e
critérios
de
aceitabilidade/validação aplicáveis às nossas crenças e aos nossos métodos de aquisição
de conhecimento.
Outrossim, mesmo que no campo da Epistemologia as discussões estão a “pleno
vapor4[4]”, o interesse e as investigações pelo conhecimento não está sendo mais,
certamente exclusividade dos filósofos que se dedicam a Epistemologia. Estas
investigações podem ser encontradas na Psicologia, na Biologia, na Neurociência e nas
Ciências Cognitivas. E nesta última, centraremos o nosso de discussão.
3. CIÊNCIAS COGNITIVAS
O surgimento das Ciências Cognitivas foi uma das mudanças que redesenhou o
cenário das investigações dos últimos 50 anos. Esta nova área desafia muitas das teorias
filosóficas ‘tradicionais’ e vem causando muitas disputas teóricas e de espaços.
Para Teixeira (2004, p.16), “nas décadas de 50 e 60, a psicologia atravessou sua
mais forte crise paradigmática” e que pode ter influenciado para o surgimento das
Ciências Cognitivas. Esta tem entre as suas motivações centrais modelar a vida
psicológica a de acordo com um programa de computador e assim, desvendar e
reproduzir os processos cognitivos. Em última instância, entender a cognição humana e
o seu funcionamento, tendo como modelo para tal empreendimento, o computador.
O escopo original das Ciências Cognitivas é a representação/modelagem da
cognição humana por meio de instrumentos matemáticos e ferramentas lógicas e/ou
computacionais com o intuito de extrair desta abordagem, diretrizes para entendimento
a respeito das suas variadas manifestações.
Então, o que ligaria essa nova ciência que tem como um dos escopos as
pesquisas da cognição? Ou conforme Ganascia (1996, p.89), “qual o cimento das
4[4] A exemplo: Cf. Perspectives Contemporary Epistemology. Revista Veritas. Porto
Alegre, V.50 No.4, dezembro 2005. p.1-278.
3
Ciências Cognitivas? O que tece a ligação entre os membros desta mesma família? Qual
o antepassado comum?”. Frente a estas questões, há algum ponto em comum com o
objeto de estudo, no caso da cognição, no qual se estabelece entre estas disciplinas que
compõem as Ciências Cognitivas. Neste sentido diz Abrantes (1994, p.09):
Os diversos artigos abordam direta ou indiretamente a cognição numa
perspectiva multidisciplinar; 2) adotam, com este fim, uma abordagem
“naturalista” e científica do problema; 3) referem-se explicita ou
implicitamente à metáforas computacionais ou fazem uso de uma linguagem
emprestada a ciência da computação e a teoria da informação.
Para uma definição preliminar, não unânime, as Ciências Cognitivas referem-se
ao estudo interdisciplinar relativo à cognição, aquisição e à utilização do conhecimento.
E desta forma, no seu mega-projeto interdisciplinar, as Ciências Cognitivas reúnem
disciplinas no afã de agregar esforços para compreender a cognição humana, seu
funcionamento e como esta adquire conhecimento ou ainda de modo geral, como as
ideias podem influenciar o cérebro ou como o cérebro podem influenciar nas ideias.
Entre os profissionais desta área estão: médicos, biólogos, engenheiros, físicos,
matemáticos, lingüistas, neurocientistas, psicólogos que participaram ou participam
ativamente dessa nova ‘superdisciplina’ e imprimindo caráter inovador, a inteligência
artificial (responsável pelos modelos artificiais de cérebro, mente e comportamento).
Entre as disciplinas que compõem este mega-projeto estão, de acordo com Nero (2005):
A Neurociência que colabora com o substrato da mente - o cérebro; a
Psicologia colabora com as teorias de funcionamento da mente propriamente
dita; a Lingüística colabora com o exame da principal função mental humana- a
linguagem; a Filosofia fornece, através da Lógica e da Epistemologia, vários
dos fundamentos e dos instrumentos de análise de hipóteses da Ciência
Cognitiva e a Inteligência Artificial, elemento fundamental, fornece os
modelos de máquinas reais ou teóricas que poderiam simular a mente humana,
particularmente o pensamento.
Contudo, vale salientar que, para Besnier (2000, p.71), “as pesquisas sobre a
cognição herdam do projecto das teorias do conhecimento. Para responder as questões
deixadas em aberto pelos filósofos, e elas mobilizam diversas disciplinas”. Essas
ciências que estão debutando merecem serem interpretadas como afirma Besnier (2000,
p.71) como “uma saída dos caminhos seguidos pelos principais teóricos do
conhecimento” e agora, essas diversas disciplinas (Ciências Cognitivas) reúnem-se para
aprofundar as investigações sobre a cognição, bem como, apresentar propostas para
qualificar o desempenho do aparelho cognitivo na aquisição do conhecimento.
Podemos dizer que hoje, equipados com novas ferramentas e novos conceitos,
essas disciplinas, com um novo quadro de pensadores denominados cientistas
4
cognitivos` investigam muitas das questões que já preocupavam os gregos a
aproximadamente 2500 anos. E esta idéia é reforçada por Gardner (1996, p.18) que
argumenta:
Assim como seus antigos colegas, os cientistas cognitivos de hoje perguntam o
que significa conhecer algo e ter crenças precisas, ou ser ignorante ou estar
errado. Eles procuram entender o que é conhecido - os objetos e sujeitos do
mundo externo - e as pessoas que conhece - seu aparelho perceptivo,
mecanismo de aprendizagem, memória e racionalidade. Eles investigam as
fontes do conhecimento: de onde vem, como é armazenado e recuperado, como
ele pode ser perdido? Eles estão curiosos com a diferença entre indivíduos:
quem aprende cedo ou com dificuldade: o que pode ser conhecido pela criança,
pelo cidadão de uma sociedade não letrada, por um indivíduo que sofreu lesão
cerebral, ou por um cientista maduro?[...]. Além disso, os cientistas cognitivos,
novamente como gregos, conjeturam a respeito dos vários veículos do
conhecimento: o que é forma, uma imagem, um conceito, uma palavra; e como
estes 'modos de representação' se relacionam entre si? Eles se perguntam sobre
as prioridades de órgãos sensoriais específicos em contraposição a uma
'compreensão geral' ou 'senso comum' central.
As tentativas de compreender o que significa conhecer, de acordo com Gardner
(1996), já despertava interesse nos gregos antigos, quando os filósofos tais como Platão
e Aristóteles apresentaram as suas posições sobre a natureza do conhecimento humano.
Entretanto, estes não tinham o aparato tecnológico da atualidade para formular as suas
teorias.
Já a posição de Fetzer (2000) é que as Ciências Cognitivas estão encontrando
novas maneiras de atacar velhos problemas, principalmente ao empregar técnicas
científicas para explorar questões sobre a natureza das mentes. A diferença entre
abordagem dos antigos gregos e dos modernos cognitivistas reside no uso recente de
técnicas computacionais para estudar o comportamento inteligente e para testar as
teorias propostas sobre a estrutura dos processos mentais. Neste sentido, os
computadores seriam bons modelos para entender a cognição humana.
Para Soares (2000), a Filosofia é a mais antiga das Ciências Cognitivas, porém,
certamente as preocupações dos filósofos antigos nem sempre coincidiram com os
dados empíricos com os quais os ‘cientistas cognitivos’ trabalham na atualidade. Os
filósofos, durante séculos, preocuparam-se com o processamento do pensamento e
sofisticaram as teorias sobre a natureza mental e as relações entre razão e os
sentimentos, mas sem ter como auxílio os aparatos tecnológicos atuais que permitem
visualizar o funcionamento cerebral.
Segundo Gonzales (1997) no século XX, sob o domínio da mentalidade
científica e tecnológica, os esforços de conhecimento do conhecimento tem se voltado
5
para o projeto de uma Ciência Cognitiva, que possa complementar, e eventualmente
corrigir, através do uso de método experimental e da construção de artefatos
tecnologicamente sofisticados, as teorias sobre a natureza e funcionamento dos
processos cognitivos. Coloca-se assim, um novo projeto para os filósofos e cientistas,
que procuram unir esforços na elaboração de uma abordagem inovadora dos problemas
filosóficos tradicionais.
Enfim, podemos destacar que as investigações das Ciências Cognitivas não são
totalmente idênticas as postuladas pelos gregos, mas nas investigações atuais há a
disposição dos pesquisadores instrumentos tecnológicos sofisticados e usa-se de
métodos empíricos para testar as teorias e as hipóteses, a fim de torná-las possíveis de
refutação ou não. Porém, ao mesmo tempo em que apresenta-se novas propostas e o uso
do aparato científico para o estudo de problemas antigos, as Ciências Cognitivas sofrem
ataques e têm seus limites como trataremos a diante.
3.1. Ciências Cognitivas: posições históricas
A preocupação com o conhecimento, como ressaltado, já era de interesse da
Filosofia na Grécia Antiga, mas posteriormente ficou a cargo da Epistemologia. Porém,
o interesse e as investigações pelo conhecimento não é, certamente exclusividade dos
filósofos que se dedicam à Epistemologia. Segundo Severino (2001, p.24), “a questão
do conhecimento é estudada, sobretudo por psicólogos e também por cientistas da
biologia e neurologia. Na psicologia, destacam-se Jean Piaget e Lev Seminov Vygotski,
representativos na discussão contemporânea”. Ainda, as investigações sobre o
conhecimento podem ser encontradas também nas Ciências Cognitivas.
Neste contexto para Teixeira (1998, p.35), “a idéia de que a mente funciona
como um computador digital e que este último pode servir de modelo ou metáfora para
conceber a mente humana, iniciou a partir da década de 40”. E desta forma, a
cibernética proporcionou às Ciências Cognitivas o primeiro modelo de cognição. Sua
premissa era de que a inteligência humana se assemelha à inteligência do computador,
em tal medida que a cognição pode ser definida como processamento de informações isto é, como uma manipulação de símbolos baseada num conjunto de regras.
Assim, as Ciências Cognitivas lançam mão de metáforas, como por exemplo, o
computador, para simular a mente. E estas metáforas têm por objetivo uma explicação
6
da natureza, da percepção humana, do aprendizado, da memória e de outros fenômenos
psicológicos. Desta forma, de acordo com Teixeira (2004, p.60):
Nas suas primeiras décadas de sua história, a ciência cognitiva apostou na
analogia entre mentes e computadores, entre pensamentos e símbolos. A mente
seria o software do cérebro e aposta na possibilidade de simulá-la através de
programas computacionais fez com que a ciência da computação ocupasse um
lugar privilegiado neste cenário inicial.
O modelo ‘clássico’, no qual a mente é representada por um computador, não é
mais hegemônico nas Ciências Cognitivas. Muitos de seus aspectos estão sendo
questionados. Não se trata necessariamente de uma rejeição total, mas de um
reconhecimento dos limites da sua aplicabilidade, e a necessidade de novas abordagens
e novos modelos. Mas mesmo assim, nas Ciências Cognitivas há pelo menos duas
correntes se tornaram fortes, a saber: o cognitivismo e o conexionismo.
O cognitivismo defenderá que pensar é calcular e o faz utilizando símbolos com
uma realidade semântica e de forma serial e lógica (como, aliás, se pode dizer que fazia
a máquina de Turing). Já, para os conexionistas, pensar é calcular como uma rede, não
de forma serial, mas paralela, e os comportamentos ditos cognitivos emergem como
efeitos das interações elementares nessa rede.
Ao resumir o cognitivismo Searle (1984) define este modelo da seguinte
maneira: pensar é processar informação e manipular símbolos. Assim, se os
computadores fazem manipulação dos símbolos, a melhor maneira de estudar a mente e
a cognição, é estudar os programas computacionais de manipulação dos símbolos. E se
a mente contém objetos que são símbolos-sentenças, e se há um modo de construir
relações entre símbolos através de regras e algorítmos, então a mente é um programa e o
cérebro é um computador (hardware).
No programa de pesquisa cognitivista, pode ser apresentado de acordo com as
respostas as seguintes questões apresentadas por Varela (1996, p.24):
Questão 1: O que é cognição?
Resposta: É o tratamento da informação: manipulação de símbolos a partir de
regras.
Questão 2: Como funciona?
Resposta: Por meio de qualquer dispositivo que possa representar e manipular
elementos físicos descontínuos: os símbolos. O sistema interage apenas com a
forma dos símbolos (os seus atributos físicos) e não com o seu sentido.
Questão 3: Como saber se um sistema cognitivo funciona de forma apropriada?
Resposta: Quando os símbolos representam adequadamente qualquer aspecto do
mundo real, e o tratamento da informação propõe uma solução eficaz para o
problema submetido aos sistemas.
7
Esta primeira visão, domina Ciências Cognitivas desde os anos 50 até os anos
70. Porém, o cognitivismo sofre objeções, em virtude que, nem toda relação entre
objetos pode ser expressa por regras claras. Por exemplo: o aprendizado, por vezes, é
realizado pelo exemplo e pela exposição. E diante dessas objeções e dentre outras, surge
então, uma maneira de computar um pouco diferente da proposta pelo cognitivismo.
Essa proposta é reconhecida por Redes Neurais (Inteligência Artificial Conexionista)
que são arquiteturas que simulam neurônios reais, altamente conectados e que são
capazes de aprender com exemplos.
Esse novo modelo privilegia as relações entre o cérebro e o computador. Na
arquitetura dos programas, o computador deve imitar o cérebro e desta forma, o cérebro
é o pólo dominante. O paradigma conexionista é quem enfoca a replicação da
inteligência pela construção de redes neurais artificiais. Assim, o conexionismo ou
Redes Neurais são técnicas computacionais que utilizam mecanismos de paralelismo, ou
seja, cada nó do sistema é conectado a um grande número de pequenas unidades de
processamento (outros nós) ligados em rede.
As mesmas questões colocadas pelos cognitivistas podem ser colocadas pelo
conexionismo da seguinte forma, conforme Varela (1996, p.63):
Questão 1: O que é cognição?
Resposta: A emergência de estados globais numa rede de componentes
simples.
Questão 2: Como funciona?
Resposta: Regras locais geram operações individuais e regras de mudanças
geram ligações entre os elementos.
Questão 3. Como saber se um sistema cognitivo funciona de forma
apropriada?
Resposta: Quanto as propriedades emergentes (e a estrutura resultante) são
identificáveis a uma faculdade cognitiva - uma solução adequada para uma
determinada tarefa.
Em termos de comparação, no Cognitivismo, a cognição é um processamento de
informação como computação simbólica, o qual é uma manipulação de símbolos tendo
como base regras e combinações. E em última instância no Cognitivismo: Conhecer é
computar. Já, para o conexionismo, conhecer é conectar.
Além das duas correntes existentes nas Ciências Cognitivas, no final dos anos
80, de acordo com Teixeira (2004) surge a neurociência cognitiva, no período
conhecido como a “década do cérebro”. Pioneiros com Gazzaniga e Kolsslyn
destacavam que num futuro breve todos os fenômenos poderão ser substituídos apenas
8
por manifestações da atividade cerebral5[5]. Destaca ainda Teixeira (2004, p.63) que
“tanto a nova robótica como a neurociência cognitiva tem trazido grande inquietação ao
cenário já conturbado das ciências cognitivas”. Um dos maiores motivos seria a
dissolução da idéia de mente a qual então, seria reduzida a atividade cerebral.
Entretanto, Teixeira (2004) afirma que ainda a inteligência artificial, as Ciências
Cognitivas e a neurociência cognitiva estão na infância, pois as pesquisas neste campo
evoluem constantemente e estão deixando a comunidade cientifica em alerta, pois em
um período próximo (4 a 5 anos), poderemos ter a dissolução completa das noções de
mente e de consciência.
E para finalizar, além do surgimento das Ciências Cognitivas, da neurociência
cognitiva, vale salientar que na atualidade, novos aparatos tecnológicos como
neurochip, biochip, cérebro artificial ou investigações avançadas do cérebro humano e
até mesmo, novos medicamentos inteligentes que agirão sobre o cérebro, poderão
contribuir para novas maneiras de se pensar e explicar a cognição humana e em última
instância influenciar nas concepções e nos métodos de aquisição do conhecimento e
que poderão ter implicações diretas ou indiretas na Educação.
3.2 Desafios das Ciências Cognitivas
Ainda que, há promessas das Ciências Cognitivas serem um campo promissor,
no decorrer da sua história, houve momentos em que adeptos passaram a posição de
críticos. Como exemplo, Oliveira (1999) que faz as suas críticas de um ponto de vista
dialético, centrado na questão do naturalismo.
Além das críticas, há alguns desafios para as Ciências Cognitivas para os quais
espera-se boas soluções. Dentre eles, podemos apontar: as emoções no pensar humano,
ambientes físicos no pensar humano, bem como o ambiente cultural, a contribuição do
corpo ao pensamento e à ação humana, dentre outros que as Ciências Cognitivas
precisam qualificar o seu entendimento.
Além dos desafios apresentados, as Ciências Cognitivas vivem em um
momento de revisão radical de suas fundações teóricas. Segundo Teixeira (2004, p.26),
“os modelos computacionais da cognição humana são incapazes de replicar
características específicas da vida mental humana como é o caso, por exemplo, da
5[5] Cf. capítulo 5 do seu livro: Filosofia e Ciência Cognitiva, João Fernando Teixeira
(2004
9
experiência subjetiva ou do qualia6[6]”. Além do qualia apontado por Teixeira,
Oliveira (1999, p.180) menciona:
Uma característica da mente humana é a plasticidade. A plasticidade da mente
humana não é total, e sistêmica, em particular, aspecto da cognição humana
que são naturais e, enquanto tais, dentro de certos limites, imutáveis. Estes
podem ser estudados com os mesmos métodos que são utilizados nas ciências
naturais. O problema da ciência cognitiva é que ela propõe estudar da mesma
forma aspectos da cognição que são culturais, e por isso variável ao longo da
história das sociedades.
Além disso, um cientista, por exemplo, pode inferir dizendo que o cérebro de
um individuo qualquer está sentindo calor, porém, não saberá dizer se o calor que o
individuo sente é maior ou menor do que o calor que o próprio cientista sente ao
observar o cérebro através de uma tomografia computadorizada, pois a experiência no
aparelho cognitivo é única, subjetiva e intransferível.
Contudo, não podemos negar que atualmente dispomos de um conhecimento do
funcionamento cerebral e das suas unidades básicas, bem como das reações químicas
que nele ocorrem. Sabemos que o cérebro é uma ‘máquina’ complexa resultante da
reunião de elementos fundamentais: o neurônio ou unidade básica, as sinapses ou
conexões entre os neurônios e as ligações químicas que ali ocorrem, através de
neurotransmissores e receptores. Essas combinações o tornam uma máquina
extremamente poderosa, na medida em que são capazes de gerar configurações e
arranjos variados num número astronômico. Porém, há ainda outro grande desafio como
diz Teixeira (2000, p.16);
O grande desafio que a neurociência ainda enfrenta é a dificuldade (ou será
uma impossibilidade?) de relacionar o que ocorre no cérebro com aquilo que
ocorre na mente, ou seja, de encontrar algum tipo de tradução entre sinais
elétricos das células cerebrais e aquilo que percebo ou sinto como sendo meus
pensamentos.
Outrossim, com os estudos da cognição humana pretende-se verificar os
processos globais que possam vir a ser generalizados, ou seja, podem ser considerados
equivalentes para a maioria das pessoas, se é que seja possível. Porém, os aspectos
inerentes à cognição variam de indivíduo para indivíduo, a exemplo, o ambiente social,
experiências, formas de pensar, agir e ver o mundo. Entretanto, não podemos negar que
6[6] Qualia é definida pela filosofia da mente como sensações ou estados mentais conscientes
estritamente subjetivos (por exemplos dores, ou percepções de uma cor com uma determinada
intensidade). Nas últimas décadas a filosofia da mente tem produzido uma vasta literatura ressaltando
que computadores e robôs seriam incapazes de ter estados subjetivos ou fenomenais (Teixeira,2004).
10
a cognição, de acordo com Teixeira (2004, p. 66), “integra diferentes tipos de
perspectivas e paradigmas”.
Assim, as abordagens dadas à cognição podem ser conceituadas de diversas
maneiras, porém estas ocorrem em um local comum: no cérebro. O cérebro tem um
funcionamento bastante complexo em relação a outros órgãos: envolve conversa entre
neurônios, envolve idéias, envolve líquidos, eletricidade. Contudo, busca-se também,
saber como a química do cérebro afeta as nossas idéias, e como as idéias afetam o nosso
cérebro? E como isso pode influenciar na aquisição do conhecimento.
Destacamos ainda aqui que o ser humano é portador de um cérebro, composto
por mais de 100 bilhões de neurônios que são formados no primeiro ano de vida
(FIALHO,2001). E é no cérebro humano, onde se acredita que ocorram processos
cognitivos, no qual se formam as crenças das mais diversas. Estas crenças podem
originar-se da visão, olfato, tato, paladar, audição ou atividades mentais como
raciocínio, resolução de problemas e compreensão. Contudo, salienta Severino (2001,
p.21):
A atividade da consciência subjetiva precisa da infraestrutura neurofisiológica
do cérebro. Pouco acrescenta saber o que acontece do ponto de vista químico,
físico ou fisiológico no cérebro quando ocorre atividade subjetiva da
consciência. Algum processo químico teria mesmo de ocorrer, já que somos
biológicos. Sem atividade orgânica, a subjetividade não se manifestaria, ou
seja, existe uma dependência radical da vida psíquica em relação à biológica.
Enfim, a cognição de acordo com Teixeira (2004) não pode ser descrita como
um fenômeno intrínseco ao cérebro, embora ocorra nele. Porém, ainda, como
mencionado, há muito que se pesquisar, pois mesmo se conhecendo a infraestrutura
neurofisiológica do cérebro, temos questões abertas, a exemplo: a plasticidade da
mente, a mensuração dos movimentos cognitivos que a cognição faz para adquirir
conhecimento ou que processos cognitivos devem/ podem/ são aceitos a fim que o
sujeito epistêmico adquira conhecimento.
4. Ciências Cognitivas e o campo educativo
As Ciências Cognitivas são uma das frente de investigação que a partir da
metade do século passado ganhou espaço no âmbito internacional, mas não goza de uma
posição confortável. Porém, o interesse investigativo das Ciências Cognitivas pode estar
relacionado a um dos interesses da Educação, no caso o conhecimento. Pois podemos
11
encontrar posições no qual se postula as questões do conhecimento no âmbito educativo
e a título de exemplo será mencionado a seguir.
Cortela (1998) expõe que o cerne e a finalidade da atividade educativa é o
conhecimento. Mas, as concepções de conhecimento no âmbito educativo adquiriram
uma variedade de sentidos e que todos que se dedicam à Educação têm as suas
interpretações, como diz Cortela (1998, p.55):
Toda educadora e todo educador têm uma interpretação do Conhecimento: o
que é, de onde vem e como chegar até ele. Ora, a interpretação nem sempre é
consciente e reflexiva e, no mais das vezes, é adotada sem uma percepção
muito clara de suas fontes e suas conseqüências.
As investigações sobre por exemplo, as noções que o professor tem de
conhecimento, podemos encontrar em Becker (1993), no seu trabalho intitulado
Epistemologia do Professor: o Cotidiano escolar. Becker pesquisa as noções de
conhecimento que o professor tem e que são oriundas ou não das teorias filosóficas e
que às vezes não estão muito claras para o próprio professor.
Além de Becker (1993) que apresenta a sua pesquisa sobre o que o professor
pensa sobre o conhecimento, encontramos em Luz e Silva (2001) um alerta quanto ao
uso do termo conhecimento na Educação. Os referidos autores afirmam (2001, p.93):
A epistemologia do senso comum é, com grande freqüência, a epistemologia
que acaba por fundamentar as ações educacionais de inúmeros professores. A
frouxidão no uso do conceito de conhecimento é um dos indicadores dessa
epistemologia naif. As atividades em sala de aula passam, com freqüência, a
ser tomadas como “produtoras de conhecimento” e não como deveria serexercício de fortalecimento da habilidade de encontrar razões para uma
determinada crença.
As questões relativas ao conhecimento podem estar na Educação, de forma
implícita ou não, quanto aos objetivos, como defende Goldman (2001, p.58):
Objetivo fundamental da educação, isto é, dos sistemas escolares, em todos os
níveis, é o de prover os estudantes com conhecimento e desenvolver
habilidades intelectuais que elevem as suas habilidades de aquisição de
conhecimento. Isto de qualquer modo, é a imagem tradicional, e eu não
conheço nenhuma boa razão para abandoná-la. Eu não sustento que
conhecimento factual e habilidades de aquisição de conhecimento são os
únicos objetivos da educação, mas eles são, na minha opinião, os seus
objetivos mais intrínsecos e característicos.
Os reflexos das Ciências Cognitivas pode estar presente no campo educativo de
forma direta ou indireta, uma vez que o entendimento do funcionamento do mecanismo
de como os cérebros produzem pensamento, aprendem, memorizam, adquirem
conhecimento estão inerente ao ato educativo.
12
Outrossim, sendo a cognição local da aprendizagem, qual seria a contribuição
das Ciências Cognitivas para a Educação? O conhecimento do funcionamento da
cognição, objeto de estudo das Ciências Cognitivas podem contribuir para o processo
ensino-aprendizagem mediado pelo educador? Conhecer a organização do cérebro, suas
funções, períodos críticos, as habilidades cognitivas e emocionais, as potencialidades e
limitações do sistema nervoso, as dificuldades de aprendizagem e intervenções
apropriadas, poderia tornar o trabalho do educador mais eficaz? E como possibilitar ao
educando “instrumentos” para melhorar os seus processos cognitivos na aquisição do
conhecimento? Muitas destas discussões estão abertas para futuras contribuições das
diversas áreas de investigação.
Assim, é salutar aos que estão envolvidos com a Educação estejam em alerta
quanto aos avanços das pesquisas sobre a cognição humana, bem como no
entendimento do funcionamento do cérebro a fim de qualificar o desempenho da
atividade cognitiva na aquisição de conhecimento, principalmente do educando. E se for
o caso ainda, quando necessário, estar em alerta para os resultados que não sejam
favoráveis à Educação, a fim de poder se posicionar frente a esses avanços e fazer as
requeridas críticas com argumentos sólidos, quando necessário.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Historicamente, como mencionado, a Filosofia em primeiro momento e com
predominância, a Epistemologia posteriormente tem no conhecimento como uma das
questões centrais de investigação. A Epistemologia esteve ameaçada de óbito com o
surgimento das Ciências Cognitivas. Porém, ao contrário do que se anunciava, a
Epistemologia, com ou sem auxilio das Ciências Cognitivas, segue o seu curso nas
discussões que é de sua tarefa. Contudo, as Ciências Cognitivas, buscam apresentar suas
propostas e de certa forma tem os seus méritos nas investigações acerca da cognição,
aquisição e a utilização do conhecimento.
Quanto, ao campo educativo, há uma variedade de preocupações, mas se as
questões do conhecimento é algo intrínseco ao ato educativo, então, por um lado, pode
ser relevante, levar em consideração as investigações das Ciências Cognitivas
principalmente porque é de vital importância qualificar o entendimento sobre a
memória, os mecanismos cerebrais, as normas sociais, dos critérios de validação,
científicos ou não que influenciam o sujeito epistêmico na aquisição do conhecimento.
13
E por outro lado, os resultados destas investigações podem possibilitar a busca para um
melhor desempenho do cérebro nos seus processos cognitivos a fim sofisticar as
habilidades de aquisição do conhecimento e de sobremaneira qualificar o desempenho
dos estudantes no campo educativo, principalmente na aquisição de conhecimento
seguido os postulados da Epistemologia.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANTES, Paulo (Org.). Naturalizando a Epistemologia. In:____. Epistemologia e
Cognição. Brasília : Editora Universidade De Brasília, 1994. p.171-215.
BESNIER, Jean-Michel. As teorias do conhecimento. Tradução Joana Chaves. Lisboa : Instituto Piaget, 2000.
BECKER, Fernando. Epistemologia do professor: o cotidiano da escola. 1.ed. _
Petropolis : Vozes, 1993.
BLANCHÉ, Robert. A epistemologia. Tradução Natalia Couto. - 4. ed. - Lisboa :
Presenca, 1988.
CORTELA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e
políticos. São Paulo : Cortez, 1998.
DANCY, Jonathan. Epistemologia contemporânea. Tradução de Teresa Louro Perez. Lisboa : Ed. 70, 1990. DUPUY, Jean-Pierre. Nas origens das Ciências Cognitivas.
Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo : Editora da UNP, 1996.
DUTRA, Luiz Henrique. Epistemologia da Aprendizagem. Rio de Janeiro : DP&A,
2000.
FETZER, James H. Filosofia e Ciência Cognitiva. Bauru, SP : UDUSC, 2000.
FIALHO, Francisco A. P. Ciências da Cognição. 1a. ed. Florianópolis : Insular, 2001.
LUZ, Alexandre Meyer; SILVA, Marcos Rodrigues. Conhecimento e construção
social: em defesa de uma abordagem conservadora para a Epistemologia e a Educação.
Contrapontos-ano 1-no. 3-Itajai, jul/dez de 2001. p. 71-94.
GARDNER, Howard. A nova ciência da mente: uma história da revolução cognitiva.
Trad. de Clãudia Malbergier Caon. São Paulo, EDUSP, 1996.
GANASCIA, Jean-Gabriel. As Ciências Cognitivas. Tradutor Alexandre Emílio Lisboa : Instituto Piaget, 1996.
14
GONZALES, Maria E. Quilici(org). Encontro das Ciências Cognitivas. 2.ed. ver e
ampl. Marlia : Faculdade de Filosofia e ciências, 1997.
GOLDMANN, Alvin, Educação e Epistemologia Social. Contrapontos-ano 1-no. 3Itajai, jul/dez de 2001a. Tradução: Alexandre Meyer Luz e Marcos Rodrigues da Silva.
P.57-70.
NERO, Henrique Schützer D. Ciência Cognitiva e Educação: reflexões sobre a escola
de amanhã. http://www.lsi.usp.br/~hdelnero/Palegre2.html Acesso:23/09/2005.
OLIVEIRA, Marcos B. Da ciência cognitiva Dialética. São Paulo : Discurso Editorial,
1999.
PARAISO, Marlucy Alves. Teorias Pesquisas pós-críticas em educação no Brasil:
esboço de um mapa Cadernos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas. V. 34, n 122
Maio./Ago. 2004 p.283-303.SEARLE, John R. Mente, cérebro e ciência. Tradução de
Artur Morão. - Lisboa : Edições 70, 1984.
SEARLE, John R. Mente, cérebro e ciência. Tradução de Artur Morão. - Lisboa :
Edições 70, 1984.
SEVERINO, Antônio J. Educação, sujeito e história. São Paulo : Olho d’ Água,
2001.
SOARES, A. O que são ciências cognitivas. São Paulo : Brasiliense, 2000.
TEIXEIRA, João Fernandes. Mentes e máquinas: Uma introdução as Ciências
Cognitivas. Porto Alegre : Artes Medicas, 1998.
_________. Filosofia e Ciência Cognitiva. Petrópolis, RJ : Vozes, 2004.
VARELA, Francisco J. Conhecer: As ciências cognitivas tendências e perspectivas.
tradução: Maria Teresa Guerreiro. - Lisboa : Instituto Piaget, 1996.
Dr. Adolfo Ramos Lamar (FURB. SC) Pos-Doutor (USP)
Vilmar Urbaneski. Mestre em Educação(FURB) Professor(UNIASSELVI-ASSEVIM)
E.mail: [email protected]
15
Revista RecreArte 11
DEC09
Revista Recrearte:
9 Director David de Prado Díez
9 Consejo de Redacción
9 Consejo científico
Frey Rosendo Salvado nº 13, 7º B 15701
Santiago de Compostela. España.
Tel. 981599868 - E-mail: [email protected]
www.iacat.com / www.micat.net / www.creatividadcursos.com
www.revistarecrearte.net / www.tiendaiacat.com
© Creacción Integral e Innovación, S.L. (B70123864)
En el espíritu de Internet y de la Creatividad, la Revista Recrearte no prohíbe, sino que te invita a
participar, innovar, transformar, recrear, y difundir los contenidos de la misma, citando SIEMPRE
las fuentes del autor y del medio.
Download