Revista RecreArte 11 DIC09 Revista RecreArte 9 > II - Creatividad en Educación: Innovación Radical David de Prado Díez CIÊNCIAS COGNITIVAS E EDUCAÇÃO1[1] Vilmar Urbaneski2[2] Adolfo Ramos Lamar3[3] RESUMO As concepções de conhecimento que surgiram no decorrer da história da filosofia fizeram ou fazem parte da Educação, de forma direta ou indireta. Entretanto, nos últimos tempos, a preocupação com as questões relativas ao conhecimento não são mais exclusividade dos filósofos profissionais que se dedicam a Epistemologia, mas também são das Ciências Cognitivas, a qual têm se dedicado a esta tarefa. E neste sentido, este artigo tem como objetivo apresentar o surgimento das Ciências Cognitivas, suas posições, seus desafios e em uma instância, os possíveis desdobramentos na Educação, no quesito conhecimento. Palavras-chaves: Ciências Cognitivas. Cognição. Conhecimento. Educação. RESUMEN Las concepciones de conocimiento que nacieron en el decurso de la historia de la filosofía hicieron o hacen parte de la Educación, de forma directa o indirecta. Sin embargo, en los últimos tiempos, la preocupación con las cuestiones relativas al conocimiento no son más exclusividad de los filósofos profesionales que se dedican a Epistemología, mas también son de las Ciencias Cognitivas, que tienen se dedicado a esta tarea. En este sentido, este artigo tiene como objetivo abordar el surgimiento de las Ciencias Cognitivas, sus posiciones, sus desafíos y en una instancia, los posibles despliegues en la educación, en la cuestión conocimiento. Palabras-claves: Ciencias Cognitivas. Cognición. Conocimiento. Educación. 1. INTRODUÇÃO A preocupação com a natureza do conhecimento tem despertado interesse desde os primórdios da Filosofia e tem sido considerada como uma das questões centrais da tradição filosófica e que de certa maneira a discussão do conhecimento perpassa o campo da Educação. Conforme, Dutra (2000, p.21), “os pensadores do período clássico, como Platão e Aristóteles, formularam as doutrinas sobre a natureza do conhecimento [...] e tais doutrinas tinham, obviamente, conseqüências para a educação”. Na História da Filosofia, os filósofos têm se questionado sobre, por exemplo: o que significa conhecer? Como conhecemos? Quais os limites, as possibilidades, a validade e os meios para aquisição do conhecimento? Para responder as questões acima, 1[1] 1[1] Este artigo é um recorte da Dissertação de mestrado defendida no PPGE(FURB) sob o titulo: Epistemologia Social, Ciências Cognitivas e Educação 2[2] Mestre em Educação (FURB) 3[3] Pós-Doutor em Educação(USP) 1 diversas teorias foram apresentadas com o intuito de apresentar possíveis soluções às questões sobreposta. A preocupação com as questões do conhecimento de certa medida tiveram o seu início e sistematização com os filósofos da Grécia Antiga, principalmente com Platão e Aristóteles e por outros filósofos que apresentaram o seu parecer sobre o assunto. Entretanto, atualmente, estas questões não são mais de exclusividade dos filósofos profissionais que se dedicam a Epistemologia, mas também tem sido objeto de investigação dos cientistas cognitivos. Diante do exposto, objetivo deste artigo é apresentar uma das áreas de investigação que tem como um dos objetos de estudo as questões do conhecimento, a saber: as Ciências Cognitivas. E, além disso, demonstrar o surgimento desta, suas posições, seus desafios e em uma instância, os possíveis impactos para a Educação, se esta ainda tem como uma das suas preocupações centrais, as questões do conhecimento. 2. ANTECEDENTES Na História da Filosofia, os filósofos têm se questionado sobre, por exemplo: o que significa conhecer? Como conhecemos? Quais os limites, as possibilidades, a validade e os meios para aquisição do conhecimento? Como aparelho cognitivo pode adquirir conhecimento de forma confiável? Quais são as possíveis influencias do cérebro no processo de aquisição do conhecimento? Para responder estas questões, dentre outras, diversas teorias surgiram e ficaram registradas na história da Filosofia. E os arsenais de ideias e de argumentos que sustentam cada uma das teorias que surgiram, variam de época para época, de autor para autor e de acordo com os instrumentos investigativos existentes em cada período histórico. Na Modernidade, as questões do conhecimento passaram a ser tratadas pela Epistemologia e-ou Teoria do Conhecimento (ramo da Filosofia que tem como pedra angular o conhecimento). Conforme Luz e Silva (2001, p.72), “principalmente a partir da modernidade, os filósofos deram-se conta de que, antes de qualquer coisa, deveríamos avaliar a possibilidade e o alcance de nosso conhecimento”. Assim, na modernidade, as questões relativas ao conhecimento ficam predominantemente a cargo da Epistemologia. Para Blanché (1988), o termo "Epistemologia” propriamente dito, aparece pela primeira vez, em 1854, quando foi empregado por Ferrier em sentido oposto à noção 2 "ontologia". Ou ainda, no dicionários franceses, a palavra Epistemologia tem o seu aparecimento por volta de 1906 e significa literalmente teoria da ciência. Para Dancy (1990, p.13), “a epistemologia é o estudo do conhecimento e a justificação das crenças”. Então, a grosso modo, podemos dizer a título de esclarecimento inicial, que a Epistemologia é uma das áreas da Filosofia, e tem como uma das suas tarefas tradicionais estabelecer normas e critérios de aceitabilidade/validação aplicáveis às nossas crenças e aos nossos métodos de aquisição de conhecimento. Outrossim, mesmo que no campo da Epistemologia as discussões estão a “pleno vapor4[4]”, o interesse e as investigações pelo conhecimento não está sendo mais, certamente exclusividade dos filósofos que se dedicam a Epistemologia. Estas investigações podem ser encontradas na Psicologia, na Biologia, na Neurociência e nas Ciências Cognitivas. E nesta última, centraremos o nosso de discussão. 3. CIÊNCIAS COGNITIVAS O surgimento das Ciências Cognitivas foi uma das mudanças que redesenhou o cenário das investigações dos últimos 50 anos. Esta nova área desafia muitas das teorias filosóficas ‘tradicionais’ e vem causando muitas disputas teóricas e de espaços. Para Teixeira (2004, p.16), “nas décadas de 50 e 60, a psicologia atravessou sua mais forte crise paradigmática” e que pode ter influenciado para o surgimento das Ciências Cognitivas. Esta tem entre as suas motivações centrais modelar a vida psicológica a de acordo com um programa de computador e assim, desvendar e reproduzir os processos cognitivos. Em última instância, entender a cognição humana e o seu funcionamento, tendo como modelo para tal empreendimento, o computador. O escopo original das Ciências Cognitivas é a representação/modelagem da cognição humana por meio de instrumentos matemáticos e ferramentas lógicas e/ou computacionais com o intuito de extrair desta abordagem, diretrizes para entendimento a respeito das suas variadas manifestações. Então, o que ligaria essa nova ciência que tem como um dos escopos as pesquisas da cognição? Ou conforme Ganascia (1996, p.89), “qual o cimento das 4[4] A exemplo: Cf. Perspectives Contemporary Epistemology. Revista Veritas. Porto Alegre, V.50 No.4, dezembro 2005. p.1-278. 3 Ciências Cognitivas? O que tece a ligação entre os membros desta mesma família? Qual o antepassado comum?”. Frente a estas questões, há algum ponto em comum com o objeto de estudo, no caso da cognição, no qual se estabelece entre estas disciplinas que compõem as Ciências Cognitivas. Neste sentido diz Abrantes (1994, p.09): Os diversos artigos abordam direta ou indiretamente a cognição numa perspectiva multidisciplinar; 2) adotam, com este fim, uma abordagem “naturalista” e científica do problema; 3) referem-se explicita ou implicitamente à metáforas computacionais ou fazem uso de uma linguagem emprestada a ciência da computação e a teoria da informação. Para uma definição preliminar, não unânime, as Ciências Cognitivas referem-se ao estudo interdisciplinar relativo à cognição, aquisição e à utilização do conhecimento. E desta forma, no seu mega-projeto interdisciplinar, as Ciências Cognitivas reúnem disciplinas no afã de agregar esforços para compreender a cognição humana, seu funcionamento e como esta adquire conhecimento ou ainda de modo geral, como as ideias podem influenciar o cérebro ou como o cérebro podem influenciar nas ideias. Entre os profissionais desta área estão: médicos, biólogos, engenheiros, físicos, matemáticos, lingüistas, neurocientistas, psicólogos que participaram ou participam ativamente dessa nova ‘superdisciplina’ e imprimindo caráter inovador, a inteligência artificial (responsável pelos modelos artificiais de cérebro, mente e comportamento). Entre as disciplinas que compõem este mega-projeto estão, de acordo com Nero (2005): A Neurociência que colabora com o substrato da mente - o cérebro; a Psicologia colabora com as teorias de funcionamento da mente propriamente dita; a Lingüística colabora com o exame da principal função mental humana- a linguagem; a Filosofia fornece, através da Lógica e da Epistemologia, vários dos fundamentos e dos instrumentos de análise de hipóteses da Ciência Cognitiva e a Inteligência Artificial, elemento fundamental, fornece os modelos de máquinas reais ou teóricas que poderiam simular a mente humana, particularmente o pensamento. Contudo, vale salientar que, para Besnier (2000, p.71), “as pesquisas sobre a cognição herdam do projecto das teorias do conhecimento. Para responder as questões deixadas em aberto pelos filósofos, e elas mobilizam diversas disciplinas”. Essas ciências que estão debutando merecem serem interpretadas como afirma Besnier (2000, p.71) como “uma saída dos caminhos seguidos pelos principais teóricos do conhecimento” e agora, essas diversas disciplinas (Ciências Cognitivas) reúnem-se para aprofundar as investigações sobre a cognição, bem como, apresentar propostas para qualificar o desempenho do aparelho cognitivo na aquisição do conhecimento. Podemos dizer que hoje, equipados com novas ferramentas e novos conceitos, essas disciplinas, com um novo quadro de pensadores denominados cientistas 4 cognitivos` investigam muitas das questões que já preocupavam os gregos a aproximadamente 2500 anos. E esta idéia é reforçada por Gardner (1996, p.18) que argumenta: Assim como seus antigos colegas, os cientistas cognitivos de hoje perguntam o que significa conhecer algo e ter crenças precisas, ou ser ignorante ou estar errado. Eles procuram entender o que é conhecido - os objetos e sujeitos do mundo externo - e as pessoas que conhece - seu aparelho perceptivo, mecanismo de aprendizagem, memória e racionalidade. Eles investigam as fontes do conhecimento: de onde vem, como é armazenado e recuperado, como ele pode ser perdido? Eles estão curiosos com a diferença entre indivíduos: quem aprende cedo ou com dificuldade: o que pode ser conhecido pela criança, pelo cidadão de uma sociedade não letrada, por um indivíduo que sofreu lesão cerebral, ou por um cientista maduro?[...]. Além disso, os cientistas cognitivos, novamente como gregos, conjeturam a respeito dos vários veículos do conhecimento: o que é forma, uma imagem, um conceito, uma palavra; e como estes 'modos de representação' se relacionam entre si? Eles se perguntam sobre as prioridades de órgãos sensoriais específicos em contraposição a uma 'compreensão geral' ou 'senso comum' central. As tentativas de compreender o que significa conhecer, de acordo com Gardner (1996), já despertava interesse nos gregos antigos, quando os filósofos tais como Platão e Aristóteles apresentaram as suas posições sobre a natureza do conhecimento humano. Entretanto, estes não tinham o aparato tecnológico da atualidade para formular as suas teorias. Já a posição de Fetzer (2000) é que as Ciências Cognitivas estão encontrando novas maneiras de atacar velhos problemas, principalmente ao empregar técnicas científicas para explorar questões sobre a natureza das mentes. A diferença entre abordagem dos antigos gregos e dos modernos cognitivistas reside no uso recente de técnicas computacionais para estudar o comportamento inteligente e para testar as teorias propostas sobre a estrutura dos processos mentais. Neste sentido, os computadores seriam bons modelos para entender a cognição humana. Para Soares (2000), a Filosofia é a mais antiga das Ciências Cognitivas, porém, certamente as preocupações dos filósofos antigos nem sempre coincidiram com os dados empíricos com os quais os ‘cientistas cognitivos’ trabalham na atualidade. Os filósofos, durante séculos, preocuparam-se com o processamento do pensamento e sofisticaram as teorias sobre a natureza mental e as relações entre razão e os sentimentos, mas sem ter como auxílio os aparatos tecnológicos atuais que permitem visualizar o funcionamento cerebral. Segundo Gonzales (1997) no século XX, sob o domínio da mentalidade científica e tecnológica, os esforços de conhecimento do conhecimento tem se voltado 5 para o projeto de uma Ciência Cognitiva, que possa complementar, e eventualmente corrigir, através do uso de método experimental e da construção de artefatos tecnologicamente sofisticados, as teorias sobre a natureza e funcionamento dos processos cognitivos. Coloca-se assim, um novo projeto para os filósofos e cientistas, que procuram unir esforços na elaboração de uma abordagem inovadora dos problemas filosóficos tradicionais. Enfim, podemos destacar que as investigações das Ciências Cognitivas não são totalmente idênticas as postuladas pelos gregos, mas nas investigações atuais há a disposição dos pesquisadores instrumentos tecnológicos sofisticados e usa-se de métodos empíricos para testar as teorias e as hipóteses, a fim de torná-las possíveis de refutação ou não. Porém, ao mesmo tempo em que apresenta-se novas propostas e o uso do aparato científico para o estudo de problemas antigos, as Ciências Cognitivas sofrem ataques e têm seus limites como trataremos a diante. 3.1. Ciências Cognitivas: posições históricas A preocupação com o conhecimento, como ressaltado, já era de interesse da Filosofia na Grécia Antiga, mas posteriormente ficou a cargo da Epistemologia. Porém, o interesse e as investigações pelo conhecimento não é, certamente exclusividade dos filósofos que se dedicam à Epistemologia. Segundo Severino (2001, p.24), “a questão do conhecimento é estudada, sobretudo por psicólogos e também por cientistas da biologia e neurologia. Na psicologia, destacam-se Jean Piaget e Lev Seminov Vygotski, representativos na discussão contemporânea”. Ainda, as investigações sobre o conhecimento podem ser encontradas também nas Ciências Cognitivas. Neste contexto para Teixeira (1998, p.35), “a idéia de que a mente funciona como um computador digital e que este último pode servir de modelo ou metáfora para conceber a mente humana, iniciou a partir da década de 40”. E desta forma, a cibernética proporcionou às Ciências Cognitivas o primeiro modelo de cognição. Sua premissa era de que a inteligência humana se assemelha à inteligência do computador, em tal medida que a cognição pode ser definida como processamento de informações isto é, como uma manipulação de símbolos baseada num conjunto de regras. Assim, as Ciências Cognitivas lançam mão de metáforas, como por exemplo, o computador, para simular a mente. E estas metáforas têm por objetivo uma explicação 6 da natureza, da percepção humana, do aprendizado, da memória e de outros fenômenos psicológicos. Desta forma, de acordo com Teixeira (2004, p.60): Nas suas primeiras décadas de sua história, a ciência cognitiva apostou na analogia entre mentes e computadores, entre pensamentos e símbolos. A mente seria o software do cérebro e aposta na possibilidade de simulá-la através de programas computacionais fez com que a ciência da computação ocupasse um lugar privilegiado neste cenário inicial. O modelo ‘clássico’, no qual a mente é representada por um computador, não é mais hegemônico nas Ciências Cognitivas. Muitos de seus aspectos estão sendo questionados. Não se trata necessariamente de uma rejeição total, mas de um reconhecimento dos limites da sua aplicabilidade, e a necessidade de novas abordagens e novos modelos. Mas mesmo assim, nas Ciências Cognitivas há pelo menos duas correntes se tornaram fortes, a saber: o cognitivismo e o conexionismo. O cognitivismo defenderá que pensar é calcular e o faz utilizando símbolos com uma realidade semântica e de forma serial e lógica (como, aliás, se pode dizer que fazia a máquina de Turing). Já, para os conexionistas, pensar é calcular como uma rede, não de forma serial, mas paralela, e os comportamentos ditos cognitivos emergem como efeitos das interações elementares nessa rede. Ao resumir o cognitivismo Searle (1984) define este modelo da seguinte maneira: pensar é processar informação e manipular símbolos. Assim, se os computadores fazem manipulação dos símbolos, a melhor maneira de estudar a mente e a cognição, é estudar os programas computacionais de manipulação dos símbolos. E se a mente contém objetos que são símbolos-sentenças, e se há um modo de construir relações entre símbolos através de regras e algorítmos, então a mente é um programa e o cérebro é um computador (hardware). No programa de pesquisa cognitivista, pode ser apresentado de acordo com as respostas as seguintes questões apresentadas por Varela (1996, p.24): Questão 1: O que é cognição? Resposta: É o tratamento da informação: manipulação de símbolos a partir de regras. Questão 2: Como funciona? Resposta: Por meio de qualquer dispositivo que possa representar e manipular elementos físicos descontínuos: os símbolos. O sistema interage apenas com a forma dos símbolos (os seus atributos físicos) e não com o seu sentido. Questão 3: Como saber se um sistema cognitivo funciona de forma apropriada? Resposta: Quando os símbolos representam adequadamente qualquer aspecto do mundo real, e o tratamento da informação propõe uma solução eficaz para o problema submetido aos sistemas. 7 Esta primeira visão, domina Ciências Cognitivas desde os anos 50 até os anos 70. Porém, o cognitivismo sofre objeções, em virtude que, nem toda relação entre objetos pode ser expressa por regras claras. Por exemplo: o aprendizado, por vezes, é realizado pelo exemplo e pela exposição. E diante dessas objeções e dentre outras, surge então, uma maneira de computar um pouco diferente da proposta pelo cognitivismo. Essa proposta é reconhecida por Redes Neurais (Inteligência Artificial Conexionista) que são arquiteturas que simulam neurônios reais, altamente conectados e que são capazes de aprender com exemplos. Esse novo modelo privilegia as relações entre o cérebro e o computador. Na arquitetura dos programas, o computador deve imitar o cérebro e desta forma, o cérebro é o pólo dominante. O paradigma conexionista é quem enfoca a replicação da inteligência pela construção de redes neurais artificiais. Assim, o conexionismo ou Redes Neurais são técnicas computacionais que utilizam mecanismos de paralelismo, ou seja, cada nó do sistema é conectado a um grande número de pequenas unidades de processamento (outros nós) ligados em rede. As mesmas questões colocadas pelos cognitivistas podem ser colocadas pelo conexionismo da seguinte forma, conforme Varela (1996, p.63): Questão 1: O que é cognição? Resposta: A emergência de estados globais numa rede de componentes simples. Questão 2: Como funciona? Resposta: Regras locais geram operações individuais e regras de mudanças geram ligações entre os elementos. Questão 3. Como saber se um sistema cognitivo funciona de forma apropriada? Resposta: Quanto as propriedades emergentes (e a estrutura resultante) são identificáveis a uma faculdade cognitiva - uma solução adequada para uma determinada tarefa. Em termos de comparação, no Cognitivismo, a cognição é um processamento de informação como computação simbólica, o qual é uma manipulação de símbolos tendo como base regras e combinações. E em última instância no Cognitivismo: Conhecer é computar. Já, para o conexionismo, conhecer é conectar. Além das duas correntes existentes nas Ciências Cognitivas, no final dos anos 80, de acordo com Teixeira (2004) surge a neurociência cognitiva, no período conhecido como a “década do cérebro”. Pioneiros com Gazzaniga e Kolsslyn destacavam que num futuro breve todos os fenômenos poderão ser substituídos apenas 8 por manifestações da atividade cerebral5[5]. Destaca ainda Teixeira (2004, p.63) que “tanto a nova robótica como a neurociência cognitiva tem trazido grande inquietação ao cenário já conturbado das ciências cognitivas”. Um dos maiores motivos seria a dissolução da idéia de mente a qual então, seria reduzida a atividade cerebral. Entretanto, Teixeira (2004) afirma que ainda a inteligência artificial, as Ciências Cognitivas e a neurociência cognitiva estão na infância, pois as pesquisas neste campo evoluem constantemente e estão deixando a comunidade cientifica em alerta, pois em um período próximo (4 a 5 anos), poderemos ter a dissolução completa das noções de mente e de consciência. E para finalizar, além do surgimento das Ciências Cognitivas, da neurociência cognitiva, vale salientar que na atualidade, novos aparatos tecnológicos como neurochip, biochip, cérebro artificial ou investigações avançadas do cérebro humano e até mesmo, novos medicamentos inteligentes que agirão sobre o cérebro, poderão contribuir para novas maneiras de se pensar e explicar a cognição humana e em última instância influenciar nas concepções e nos métodos de aquisição do conhecimento e que poderão ter implicações diretas ou indiretas na Educação. 3.2 Desafios das Ciências Cognitivas Ainda que, há promessas das Ciências Cognitivas serem um campo promissor, no decorrer da sua história, houve momentos em que adeptos passaram a posição de críticos. Como exemplo, Oliveira (1999) que faz as suas críticas de um ponto de vista dialético, centrado na questão do naturalismo. Além das críticas, há alguns desafios para as Ciências Cognitivas para os quais espera-se boas soluções. Dentre eles, podemos apontar: as emoções no pensar humano, ambientes físicos no pensar humano, bem como o ambiente cultural, a contribuição do corpo ao pensamento e à ação humana, dentre outros que as Ciências Cognitivas precisam qualificar o seu entendimento. Além dos desafios apresentados, as Ciências Cognitivas vivem em um momento de revisão radical de suas fundações teóricas. Segundo Teixeira (2004, p.26), “os modelos computacionais da cognição humana são incapazes de replicar características específicas da vida mental humana como é o caso, por exemplo, da 5[5] Cf. capítulo 5 do seu livro: Filosofia e Ciência Cognitiva, João Fernando Teixeira (2004 9 experiência subjetiva ou do qualia6[6]”. Além do qualia apontado por Teixeira, Oliveira (1999, p.180) menciona: Uma característica da mente humana é a plasticidade. A plasticidade da mente humana não é total, e sistêmica, em particular, aspecto da cognição humana que são naturais e, enquanto tais, dentro de certos limites, imutáveis. Estes podem ser estudados com os mesmos métodos que são utilizados nas ciências naturais. O problema da ciência cognitiva é que ela propõe estudar da mesma forma aspectos da cognição que são culturais, e por isso variável ao longo da história das sociedades. Além disso, um cientista, por exemplo, pode inferir dizendo que o cérebro de um individuo qualquer está sentindo calor, porém, não saberá dizer se o calor que o individuo sente é maior ou menor do que o calor que o próprio cientista sente ao observar o cérebro através de uma tomografia computadorizada, pois a experiência no aparelho cognitivo é única, subjetiva e intransferível. Contudo, não podemos negar que atualmente dispomos de um conhecimento do funcionamento cerebral e das suas unidades básicas, bem como das reações químicas que nele ocorrem. Sabemos que o cérebro é uma ‘máquina’ complexa resultante da reunião de elementos fundamentais: o neurônio ou unidade básica, as sinapses ou conexões entre os neurônios e as ligações químicas que ali ocorrem, através de neurotransmissores e receptores. Essas combinações o tornam uma máquina extremamente poderosa, na medida em que são capazes de gerar configurações e arranjos variados num número astronômico. Porém, há ainda outro grande desafio como diz Teixeira (2000, p.16); O grande desafio que a neurociência ainda enfrenta é a dificuldade (ou será uma impossibilidade?) de relacionar o que ocorre no cérebro com aquilo que ocorre na mente, ou seja, de encontrar algum tipo de tradução entre sinais elétricos das células cerebrais e aquilo que percebo ou sinto como sendo meus pensamentos. Outrossim, com os estudos da cognição humana pretende-se verificar os processos globais que possam vir a ser generalizados, ou seja, podem ser considerados equivalentes para a maioria das pessoas, se é que seja possível. Porém, os aspectos inerentes à cognição variam de indivíduo para indivíduo, a exemplo, o ambiente social, experiências, formas de pensar, agir e ver o mundo. Entretanto, não podemos negar que 6[6] Qualia é definida pela filosofia da mente como sensações ou estados mentais conscientes estritamente subjetivos (por exemplos dores, ou percepções de uma cor com uma determinada intensidade). Nas últimas décadas a filosofia da mente tem produzido uma vasta literatura ressaltando que computadores e robôs seriam incapazes de ter estados subjetivos ou fenomenais (Teixeira,2004). 10 a cognição, de acordo com Teixeira (2004, p. 66), “integra diferentes tipos de perspectivas e paradigmas”. Assim, as abordagens dadas à cognição podem ser conceituadas de diversas maneiras, porém estas ocorrem em um local comum: no cérebro. O cérebro tem um funcionamento bastante complexo em relação a outros órgãos: envolve conversa entre neurônios, envolve idéias, envolve líquidos, eletricidade. Contudo, busca-se também, saber como a química do cérebro afeta as nossas idéias, e como as idéias afetam o nosso cérebro? E como isso pode influenciar na aquisição do conhecimento. Destacamos ainda aqui que o ser humano é portador de um cérebro, composto por mais de 100 bilhões de neurônios que são formados no primeiro ano de vida (FIALHO,2001). E é no cérebro humano, onde se acredita que ocorram processos cognitivos, no qual se formam as crenças das mais diversas. Estas crenças podem originar-se da visão, olfato, tato, paladar, audição ou atividades mentais como raciocínio, resolução de problemas e compreensão. Contudo, salienta Severino (2001, p.21): A atividade da consciência subjetiva precisa da infraestrutura neurofisiológica do cérebro. Pouco acrescenta saber o que acontece do ponto de vista químico, físico ou fisiológico no cérebro quando ocorre atividade subjetiva da consciência. Algum processo químico teria mesmo de ocorrer, já que somos biológicos. Sem atividade orgânica, a subjetividade não se manifestaria, ou seja, existe uma dependência radical da vida psíquica em relação à biológica. Enfim, a cognição de acordo com Teixeira (2004) não pode ser descrita como um fenômeno intrínseco ao cérebro, embora ocorra nele. Porém, ainda, como mencionado, há muito que se pesquisar, pois mesmo se conhecendo a infraestrutura neurofisiológica do cérebro, temos questões abertas, a exemplo: a plasticidade da mente, a mensuração dos movimentos cognitivos que a cognição faz para adquirir conhecimento ou que processos cognitivos devem/ podem/ são aceitos a fim que o sujeito epistêmico adquira conhecimento. 4. Ciências Cognitivas e o campo educativo As Ciências Cognitivas são uma das frente de investigação que a partir da metade do século passado ganhou espaço no âmbito internacional, mas não goza de uma posição confortável. Porém, o interesse investigativo das Ciências Cognitivas pode estar relacionado a um dos interesses da Educação, no caso o conhecimento. Pois podemos 11 encontrar posições no qual se postula as questões do conhecimento no âmbito educativo e a título de exemplo será mencionado a seguir. Cortela (1998) expõe que o cerne e a finalidade da atividade educativa é o conhecimento. Mas, as concepções de conhecimento no âmbito educativo adquiriram uma variedade de sentidos e que todos que se dedicam à Educação têm as suas interpretações, como diz Cortela (1998, p.55): Toda educadora e todo educador têm uma interpretação do Conhecimento: o que é, de onde vem e como chegar até ele. Ora, a interpretação nem sempre é consciente e reflexiva e, no mais das vezes, é adotada sem uma percepção muito clara de suas fontes e suas conseqüências. As investigações sobre por exemplo, as noções que o professor tem de conhecimento, podemos encontrar em Becker (1993), no seu trabalho intitulado Epistemologia do Professor: o Cotidiano escolar. Becker pesquisa as noções de conhecimento que o professor tem e que são oriundas ou não das teorias filosóficas e que às vezes não estão muito claras para o próprio professor. Além de Becker (1993) que apresenta a sua pesquisa sobre o que o professor pensa sobre o conhecimento, encontramos em Luz e Silva (2001) um alerta quanto ao uso do termo conhecimento na Educação. Os referidos autores afirmam (2001, p.93): A epistemologia do senso comum é, com grande freqüência, a epistemologia que acaba por fundamentar as ações educacionais de inúmeros professores. A frouxidão no uso do conceito de conhecimento é um dos indicadores dessa epistemologia naif. As atividades em sala de aula passam, com freqüência, a ser tomadas como “produtoras de conhecimento” e não como deveria serexercício de fortalecimento da habilidade de encontrar razões para uma determinada crença. As questões relativas ao conhecimento podem estar na Educação, de forma implícita ou não, quanto aos objetivos, como defende Goldman (2001, p.58): Objetivo fundamental da educação, isto é, dos sistemas escolares, em todos os níveis, é o de prover os estudantes com conhecimento e desenvolver habilidades intelectuais que elevem as suas habilidades de aquisição de conhecimento. Isto de qualquer modo, é a imagem tradicional, e eu não conheço nenhuma boa razão para abandoná-la. Eu não sustento que conhecimento factual e habilidades de aquisição de conhecimento são os únicos objetivos da educação, mas eles são, na minha opinião, os seus objetivos mais intrínsecos e característicos. Os reflexos das Ciências Cognitivas pode estar presente no campo educativo de forma direta ou indireta, uma vez que o entendimento do funcionamento do mecanismo de como os cérebros produzem pensamento, aprendem, memorizam, adquirem conhecimento estão inerente ao ato educativo. 12 Outrossim, sendo a cognição local da aprendizagem, qual seria a contribuição das Ciências Cognitivas para a Educação? O conhecimento do funcionamento da cognição, objeto de estudo das Ciências Cognitivas podem contribuir para o processo ensino-aprendizagem mediado pelo educador? Conhecer a organização do cérebro, suas funções, períodos críticos, as habilidades cognitivas e emocionais, as potencialidades e limitações do sistema nervoso, as dificuldades de aprendizagem e intervenções apropriadas, poderia tornar o trabalho do educador mais eficaz? E como possibilitar ao educando “instrumentos” para melhorar os seus processos cognitivos na aquisição do conhecimento? Muitas destas discussões estão abertas para futuras contribuições das diversas áreas de investigação. Assim, é salutar aos que estão envolvidos com a Educação estejam em alerta quanto aos avanços das pesquisas sobre a cognição humana, bem como no entendimento do funcionamento do cérebro a fim de qualificar o desempenho da atividade cognitiva na aquisição de conhecimento, principalmente do educando. E se for o caso ainda, quando necessário, estar em alerta para os resultados que não sejam favoráveis à Educação, a fim de poder se posicionar frente a esses avanços e fazer as requeridas críticas com argumentos sólidos, quando necessário. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Historicamente, como mencionado, a Filosofia em primeiro momento e com predominância, a Epistemologia posteriormente tem no conhecimento como uma das questões centrais de investigação. A Epistemologia esteve ameaçada de óbito com o surgimento das Ciências Cognitivas. Porém, ao contrário do que se anunciava, a Epistemologia, com ou sem auxilio das Ciências Cognitivas, segue o seu curso nas discussões que é de sua tarefa. Contudo, as Ciências Cognitivas, buscam apresentar suas propostas e de certa forma tem os seus méritos nas investigações acerca da cognição, aquisição e a utilização do conhecimento. Quanto, ao campo educativo, há uma variedade de preocupações, mas se as questões do conhecimento é algo intrínseco ao ato educativo, então, por um lado, pode ser relevante, levar em consideração as investigações das Ciências Cognitivas principalmente porque é de vital importância qualificar o entendimento sobre a memória, os mecanismos cerebrais, as normas sociais, dos critérios de validação, científicos ou não que influenciam o sujeito epistêmico na aquisição do conhecimento. 13 E por outro lado, os resultados destas investigações podem possibilitar a busca para um melhor desempenho do cérebro nos seus processos cognitivos a fim sofisticar as habilidades de aquisição do conhecimento e de sobremaneira qualificar o desempenho dos estudantes no campo educativo, principalmente na aquisição de conhecimento seguido os postulados da Epistemologia. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRANTES, Paulo (Org.). Naturalizando a Epistemologia. In:____. Epistemologia e Cognição. 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Mestre em Educação(FURB) Professor(UNIASSELVI-ASSEVIM) E.mail: [email protected] 15 Revista RecreArte 11 DEC09 Revista Recrearte: 9 Director David de Prado Díez 9 Consejo de Redacción 9 Consejo científico Frey Rosendo Salvado nº 13, 7º B 15701 Santiago de Compostela. España. Tel. 981599868 - E-mail: [email protected] www.iacat.com / www.micat.net / www.creatividadcursos.com www.revistarecrearte.net / www.tiendaiacat.com © Creacción Integral e Innovación, S.L. (B70123864) En el espíritu de Internet y de la Creatividad, la Revista Recrearte no prohíbe, sino que te invita a participar, innovar, transformar, recrear, y difundir los contenidos de la misma, citando SIEMPRE las fuentes del autor y del medio.