Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 1 ALCOOLISMO: CONSEQUÊNCIAS FISIOPATOLOGICAS NA CIRROSE HEPÁTICA 3 4 4 4 Siqueira, D. F. de.²; Nicola, G. D. O. ; Fighera, S. M. ; Pozzobon, L. ; Vedoin, P.C. ; Walter, R. 4 5 6 da R. ; Freitas H. M. B de. ; Costenaro R. 1 Trabalho realizado na Disciplina de Enfermagem em Saúde Neonatal e Infanto – Juvenil do V do curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano_UNIFRA. 2 Relatora. Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. Membro do GEPESES. 3 Acadêmica do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. Membro do GEPESES. 4 Acadêmicas do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. 5 Enfermeira. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRGS. Docente Assistente do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA. Membro do GEPESES. 6 Enfermeira.. Dr em enfermagem. Docente Assistente do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA. Lider do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Saúde-GIPES E-mail: [email protected]; [email protected]; RESUMO Esse estudo apresenta como objetivo descrever a cirrose hepática e a fisiopatologia desta doença no alcoolismo, enfatizando a importância do cuidado de enfermagem. A cirrose hepática trata-se de uma doença crônica que é caracterizada por destruição difusa e regeneração fibrótica das células hepáticas. O fígado é o órgão que mais sofre com está patologia, o consumo abusivo do álcool produz uma substância que é muito tóxica a ele, provocando danos hepáticos gravíssimos e na maioria das vezes irreversíveis. Trata-se de uma análise teórica, por meio da revisão bibliográfica. O levantamento bibliográfico foi realizado em periódicos e livros da Área da Saúde, onde foi elaborado 4 um mapa conceitual. Deste modo, vale salientar que o trabalho proporcionou para os acadêmicos de enfermagem, um entendimento mais amplo sobre os processos fisiopatológicos da cirrose hepática, assim como seus sintomas e assistência prestada à pacientes com esta patologia. Palavras-chave: Cirrose hepática. Alcoolismo. Enfermagem. 1. INTRODUÇÃO Entender o processo de desenvolvimento das doenças se torna cada vez mais necessários para que os cuidados de enfermagem sejam efetivados de maneira adequada em cada patologia. Esse aspecto também é importante pelo fato de que a cada dia estão surgindo novas condutas e novas tecnologias que implicam num cuidado genuíno, comprometido e solidário com a promoção da saúde das pessoas. Neste aspecto destacam-se as doenças crônicas degenerativas dentre ela incluise a cirrose hepática provocada pelo alcoolismo. Salienta-se que o alcoolismo é considerado um importante problema de saúde publica do Brasil onde os dados apontam o aumento do consumo de álcool em faixas etárias cada vez mais precoces. Entre os jovens de 12 a 17 anos a taxa de alcoolismo é de 7,0%, este nível representa 554.000 jovens com sérios problemas sociais e de saúde (BRASIL, 2007). O consumo de álcool é considerado o principal fator etiológico para o surgimento da cirrose hepática, doença crônica caracterizada pela substituição do tecido hepático normal por fibrose difusa, a qual rompe com as estruturas e função do fígado (BRUNNER & SUDDARTH 2005). Nos Estados Unidos as doenças hepáticas induzidas por álcool é a primeira causa de morte, sendo que 40 a 90% destas mortes são devidas a cirrose hepática, o que é responsável por 10 000 a 24 000 mortes por ano. Segundo o relatório do Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso de Álcool sugere que a cirrose hepática está geralmente associada ao consumo de cinco doses de álcool/dia por um período de pelo menos cinco anos (ANDRADE, 2009). Corroborando, Parise, Oliveira, Carvalho, (2007) mostram, por meio de estudos epidemiológicos, que, independente da dose de etanol ingerida, apenas 30 a 35% dos alcoolistas evoluem para a cirrose hepática, presumindo que outros fatores, como sexo (entre as mulheres, essa evolução para a cirrose ocorre com ingestão de 1 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 menores doses de etanol e em menor tempo de alcoolismo), herança genética e outras influências ambientais, particularmente infecção viral crônica, teriam importante papel na gênese e na evolução da Doença Hepática Alcoólica O presente trabalho justifica-se devido ao alto índice de consumidores abusivos de álcool, e ao fato de tantos desenvolverem a cirrose hepática. Contextualizando a importância dos profissionais de saúde, mais especificamente a equipe de enfermagem ter conhecimento científico dessa patologia em conseqüência ao uso abusivo de álcool, para que realize uma promoção à saúde voltada a orientações que esclareçam a comunidade sobre os malefícios do álcool ao organismo humano. Assim, objetivou-se nesta pesquisa descrever a cirrose hepática e a fisiopatologia desta doença no alcoolismo, enfatizando a importância do cuidado de enfermagem. 2. METODOLOGIA Trata-se de uma análise teórica, em que o tema em questão foi explorado e discutido por meio da revisão bibliográfica. Para Marconi e Lakatos (2003) a pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, por meio de publicações impressas ou online. O levantamento bibliográfico foi realizado no período de outubro a novembro de 2009, em periódicos e livros da Área da Saúde. A busca por tais documentos foi realizada por meio da análise dos volumes disponíveis na biblioteca do Campus I do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA. Foi utilizada a Internet como meio de busca eletrônica para enriquecer o levantamento da bibliografia disponível. Severino (2007) enfatiza que a internet é um conjunto de redes de computadores interligados no mundo inteiro, permitindo o acesso dos interessados a milhares de informações que estão armazenadas em seus Web Sites. Permitindo a esses interessados navegar por essa malha de computadores, podendo consultar e colher elementos informativos, de toda ordem, aí disponíveis. Foi construído um mapa conceitual para auxiliar na compreensão da fisiopatologia da cirrose hepática por alcoolismo. Filho (2007) enfatiza que a utilização dos mapas conceituais, tem se apresentado como uma ferramenta de ação pedagógica bastante útil para o ensino de diversos temas. Devido a sua estrutura organizacional hierarquizada, procura facilitar o aprendizado e a assimilação do conteúdo dado com a estrutura cognitiva já existente (NAKAMOTO et al. 2005). 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Fisiologia Patológica Da Cirrose Hepática A cirrose hepática trata-se de uma doença crônica que é caracterizada por destruição difusa e regeneração fibrótica das células hepáticas. É duas vezes mais comum em homens que em mulheres e é especialmente predominante entra as pessoas subnutridas acima de 50 anos de idade e sob alcoolismo crônico (ATLAS OF PATHOPHYSIOLOGY, 2004). Entre os órgãos que mais sofrem com está patologia está o fígado, órgão único, que em estado sadio é descrito como laboratório químico do organismo, pois desempenha múltiplas funções, entre as quais a de síntese, armazenamento, desintoxicação e apresenta uma importante capacidade de regeneração (MANUAL DE ENFERMAGEM, 2006). O consumo abusivo do álcool produz uma substância denominada de acetaldeído, que é muito tóxica ao fígado, provocando danos hepáticos gravíssimos e na maioria das vezes irreversíveis. Fonseca (2009) salienta que o fígado daqueles que exageram no consumo contínuo do álcool tem na sua história clínica quatro fases distintas. A primeira fase caracteriza-se pela presença de deposição de gordura no fígado (esteatose hepática); a segunda, pela fase de inflamação aguda do fígado (hepatite aguda alcoólica); a terceira, pela fibrose do fígado (formação de tecido fibroso); e, finalmente, a quarta, que é a fase de cirrose alcoólica (fígado endurecido). As células hepáticas destruídas são substituídas por células fibróticas em um processo denominado regeneração fibrótica. Á medida que o tecido necrótico fica fibrótico, formam-se nódulos regenerativos e o parênquima hepático sofre alterações fibróticas extensas e irreversíveis. A doença altera a estrutura e a vascularização hepática normais e prejudica os fluxos sanguíneos e o linfático, acabando por causar insuficiência hepática (ANTCZAK, 2005). A cirrose hepática relacionada ao álcool, a exemplo das cirroses de outras etiologias, pode apresentar de forma sintomática por meio das principais complicações, como hemorragia digestiva, 2 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 ascite, encefalopatia ou icterícia, mas um significativo contingente de pacientes é assintomático e o diagnóstico acaba sendo feito por meio de algum exame complementar solicitado em decorrência de outro sintoma não relacionado á hepatopatia (PARISE, OLIVEIRA, CARVALHO, 2007). Desta forma, é de extrema importância que o paciente acometido por esta patologia tenha uma dieta adequada e uma rígida prevenção do álcool. Embora a fibrose do fígado cirrótico não possa ser revertida, sua progressão pode ser estancada ou lentificada por essas medidas. 3 Fig. 1 fisiopatologia da cirrose Uso abusivo do Álcool Inibição do ADH Absorção pelas vias digestivas Diminuição do apetite Má absorção de nutrientes Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 hepática por meio de um mapa conceitual Circulação sanguínea Metabolismo e excreção Altera suas funções FÍGADO Esteatose Hepática (acumulo de gordura) Alterações dos níveis glicêmicos Diminui a síntese protéica Disfunção metabólica Necrose celular Inflamação aguda do fígado Formação de tecido cicatricial Coma Formação de tecido fibroso Dificuldade de coagulação Cirrose alcoólica Diminuição da produção de bile Hipertensão porta Suscetível a outras doenças Icterícia Encefalopatia hepática Deteriorização da função cerebral devido ao acúmulo de substancias tóxicas. Baixa imunidade Falência e Degeneração do Fígado 4 Excedendo a quantidade de tecido funcional Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 3.2 Assistência de Enfermagem ao Paciente com Cirrose Hepática Atualmente, existe um sério problema relacionado à adesão ao tratamento das doenças crônicas, provavelmente, por este consistir numa terapêutica de longa duração e exigir do indivíduo mudanças no estilo de vida. Em relação à cirrose hepática, não poderia ser diferente visto que a eliminação do álcool, fator imprescindível para se obter resultados satisfatórios quanto ao tratamento, representa o maior obstáculo. Segundo Vargas e França (2007), o alcoolismo constitui um problema individual e social, pois o indivíduo sob estado de embriaguez torna-se, geralmente, agressivo e isso começa, com o decorrer do tempo, a refletir sobre os ambientes familiares e comunitários do indivíduo, afastando dele, as pessoas com as quais ele se importa. O tratamento da cirrose alcoólica envolve o manuseio de suas complicações e a inibição da compulsão pelo álcool, com suporte medicamentoso e psicoterapia. A esses tratamento é importante uma suplementação dietética composta por baixo teor de gordura insaturada e maior ingesta proteíno-calórica. Outras medidas, como transplante hepático, devem ser estudadas caso a caso (FRIEDMAN, 2001). A enfermeira avalia o estado mental do paciente por meio da entrevista e de outras interações com ele; observa a orientação em relação à pessoa, lugar e tempo. Também analisa o estado nutricional, o qual é de primordial importância na cirrose, observando e acompanhando o peso e a monitoração dos níveis plasmáticos de proteínas, transferrina e creatinina (BRUNNER & SUDDARTH 2005). Este autor supracitado enfatiza a importância dos cuidados de enfermagem, dando destaque aos seguintes: manter o paciente em repouso e outras medidas de suporte para permitir que o fígado restabeleça sua capacidade; estabelecer uma dieta nutritiva rica em proteínas e vitaminas do complexo B; fornecer cuidado cutâneo por causa do edema, imobilidade, icterícia e suscetibilidade aumentada à ruptura e infecção da pele; reduzir o risco de lesão, protegendo o paciente de quedas devido à possibilidade de sangramento pela anormalidade de coagulação. Além disso, a equipe de enfermagem deve estar atenta há presença de sangue nas fezes (sinal de possível sangramento interno) e monitoramento rigoroso dos sinais vitais. O paciente e a família precisam ser informados sobre essas possíveis complicações, receber explicações sobre tratamento e também receber suporte emocional. Nesse contexto, destaca-se a importância da equipe de enfermagem além do cuidado realizado ao paciente, valorizar a família e orientá-los sobre todas as possibilidades de cuidado e recaídas que possam acontecer com o paciente. No momento da doença, todos os componentes da família acabam também adoecendo e precisam de atenção, orientação, apoio conforme as necessidades, e realidade vivenciada por cada paciente e seus familiares. 4. CONCLUSÃO Em suma, a fisiopatologia da cirrose hepática é complexa, envolvendo interações de múltiplos mediadores. Sendo de grande relevância o conhecimento e preparo do profissional da saúde para atender esses pacientes, podendo prevenir ou evitar complicações decorrentes da falta de informação e contribuindo para uma melhor qualidade de vida. O trabalho proporcionou aos acadêmicos de enfermagem, futuros enfermeiros um entendimento amplo sobre os processos fisiopatológicos da cirrose hepática, assim como seus sintomas e assistência de enfermagem à pacientes valorizando sua história de vida. Para proporcionar uma explicação mais eficaz foi elaborado um mapa conceitual para melhor compreender e assimilar o processo da cirrose. Assim, considera-se de extrema relevância que os acadêmicos de enfermagem sejam instigados na academia a cuidarem da pessoa doente na sua integralidade, valorizando sua história de vida e contexto familiar, além do conhecimento da fisiopatologia da doença acometida. REFERÊNCIAS ANDRADE, A. G. de. Centro de informações sobre saúde e álcool. São Paulo, 2009. Disponível em: <www.cisa.gov.br> Acesso em: out. 2009. 5 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 ATLAS OF PATHOPHYSIOLOGY: Atlas de Fisiopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. ANTCZAK, S.E.; et al. Coleção Práxix: Enfermagem. Fisiopatologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional Antidrogas Drogas: cartilha álcool e jovens / Secretaria Nacional Antidrogas. – Brasília: 2007. BRUNNER & SUDDARTH. Suzanne C. Smeltzer e Brenda G. Bare. Tratamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Kogan, 2005. FILHO, J. R. de F. Mapas conceituais: estratégia pedagógica para construção de conceitos na disciplina química orgânica. Ciências & Cognição [online]; Ano 04, Vol 12. nov, 2007. ISSN 18065821. FONSECA, J. C. F. da. O fígado e suas doenças: o que você precisa saber. Manaus: Amazonas, 2009. FRIEDMAN S. L. Hepatopatia alcoólica, cirrose e suas principais seqüelas. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2001. MANUAL DE ENFERMAGEM. Enfermagem Médico-Cirúrgica – V.2. Cotia, SP: Vergare Brasil, 2006. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. 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