-REGENERAÇÃO, CICATRIZAÇÃO E FIBROSE- INTRODUÇÃO LEGAL No estado normal de homeostasia existe um equilibrio entre a proliferação e a apoptose.Quando um agente lesivo danifica o tecido, o hospedeiro responde com eventos para 1-eliminar o agente, 2-conter o dano e 3preparar as células sobreviventes para a replicação. O REPARO consiste na habilidade do corpo em substituir células lesadas/mortas e reconstituir o tecido após a inflamação; pode ser dividido em regeneração e cicatrização. A regeneração refere-se ao crescimento de células para substituir estruturas e restituir o tecido perdido, como ocorre na nefrectomia unilateral e na hepatectomia parcial que são,na verdade, crescimentos compensatórios ao invés de regeneração. Os tecidos com alta capacidade proliferativa, como o sistema hematopoiético e os epitélios de revestimento tem alta capacidade regenerativa, desde que as suas células tronco não sejam destruídas. A cicatrização é uma resposta tecidual a um ferimento ou a um processo inflamatório; apesar de poder restaurar as estruturas originais, a cicatrização envolve a deposição aberrante de colágeno e consequente formação de cicatriz. A aterosclerose, por exemplo, é uma tentativa de cicatrização da lesão existente na parede arterial, caracterizada pela regeneração e deposição de tecido fibroso(formação cicatricial). Assim como a aterosclerose, o infarto miocárdico também é seguido de um processo cicatricial caracterizado pela substituição do tecido muscular original por fibras colágenas. A condição inflamatória das formações mesoteliais(pleura, peritônio e pericardio), também cicatrizam por deposição de tecido fibroso espesso, criando aderências entre os folhetos viceral e parietal que podem desencadear uma pericardite constritiva; a inflamação crônica persistente das mucosas(estômago infectado por H. pilori), a cirrose hepática e doença pulmonar induzida por carvão e sílica também cursam com substituição gradual do infiltrado inflamatório por fibrose extensiva. Contrariamente aos casos anteriores, os ferimentos SUPERFICIAIS, como um ferimento que apenas danifica o epitélio, pode cicatrizar por regeneração epitelial. O estado de preservação da matriz extra-celular interfere nos processos de regeneração e cicatrização, uma vez que a arquitetura íntegra da matriz mantém a polaridade celular necessária à remontagem das camadas teciduais, além de fornecer a estrutura de migração celular e os agentes(fibroblastos, macrófagos, etc) críticos à reparação tecidual. A regeneração necessita que a arquitetura do tecido da matriz extracelular se mantenha íntegra.A aplicação maciça de CCl4 em uma única dose mata mais que 50% dos hepatócitos, um tipo de lesão seguida de completa regeneração do parênquima, uma vez que a arquitetura das fibras reticulares que constituem os lóbulos hepáticos NÃO são danificadas.A formação de cicatriz ocorre nos casos em que a estrutura da matriz extra-celular é danificada. A lesão decorrente de aplicações multiplas e graduais de químicos em pequenas doses rompem a matriz extra-celular, processo seguido pelo reparo por fibrose. MECANISMOS REGULADORES DAS POPULAÇÕES CELULARES Nos tecidos adultos o tamanho da população celular é determinado pelos níveis de proliferação, diferenciação, apoptose e neo-formação por células tronco; níveis alterados em qualquer um desses processos pode desencadear aumento ou diminuição do número celular. >A proliferação celular é controlada por sinalizadores(solúveis ou contato-dependente) de ativação ou inibição; esses sinais induzem o crescimento por meio do encurtamento do ciclo celular, recrutamento e conversão de células quiescentes em células proliferativas. Os tecidos são caracterizados de acordo com seu estado de proliferação. Os tecidos de divisão contínua(ou lábeis), representados pelo epitélio de revestimento e pelo tecido hematopoiético (medula óssea) proliferam por toda a vida para substituir as células destruídas, sendo que existe um equilíbrio homeostático entre proliferação e apoptose; nesses tecidos, as células maduras são terminalmente diferenciadas, de vida curta e incapazes de replicação, mas elas são normalmente substituídas por novas células basais oriundas das célulastronco(apresentam uma capacidade ilimitada de proliferação). Os tecidos quiescentes(estáveis-estado Go), representados pelo fígado e rins, células parenquimatosas(fibroblastos, m. liso, endotélio, condrócitos, osteócitos) têm baixo nível de replicação, mas podem eventualmente entrar em divisão rápida(passam para G1),em resposta aos estímulos, a fim de reconstituir o tecido de origem. Os tecidos não divisores(permanentes), representados pelos cardiomiócitos, m. esquelético e neurônios, contem células terminais diferenciadas(estão num estágio final de diferenciação e NÃO são capazes de replicação por divisão mitótica na vida pós-natal.Se os neurônios são destruídos, eles são substituídos pelas células gliais(elementos sustentadores do SNC); embora essas células maduras não se dividam, elas tem sim uma pequena capacidade regenerativa;a m. esquelética (por meio das células satélites ligadas à bainha endomisial, por superposição das bainhas terminais da musculatura). As células tronco são caracterizadas por capacidade prolongada de renovação e por sua replicação assimétrica(dentro de um grupo de células tronco, algumas se auto-replicam e outras se diferenciam); elas se aglomeram em locais denominados nichos, que variam de tecido para tecido(ex. istmo das glândulas estomacais e bases das criptas do cólon, bulbo do folículo piloso, limbo da córnea). Elas podem ser pluripotentes(presentes nos embriões -chamadas de células tronco embrionárias-e em outros tecidos), quando tem a capacidade de se diferenciar em todos os tecidos celulares, provavelmente devido a presença de fatores de transcrição únicos(ex. proteína homeobox Nanog ou Wnt-B catenina que mantêm a pluripotência). As células tronco embrionárias são aplicadas no estudo de vias de sinalização, na produção de camundongos Knockout(células tronco embrionárias contendo gene de interesse inativado são injetadas nos blastocistos e implantados no útero), repopular órgãos danificados utilizando as celulas do mesmo paciente para evitar rejeição por meio da clonagem terapêutica(o núcleo 2n de uma célula adulta é transferido para um oócito cujo núcleo foi retirado. Em seguida o oócito é ativado, originando um zigoto que se divide para formar um blastocisto com DNA do doador; a partir desse blastocisto são obtidas as células tronco embrionárias).Elas também podem ser células tronco adultas, presentes como 1-reservatórios na medula óssea e 2-em vários tecidos(células tronco teciduais), detentoras de capacidade de diferenciação restrita, sendo de linhagens específicas.1-A medula óssea contem células tronco hematopoiéticas(geram todas as células sanguíneas, neurônios, hepatócitos, miócitos, bem como a própria medula óssea) e células estromais(geram células como os condrócitos, osteoblastos, adipócitos, mioblastos e precursores de células endoteliais) capazes de diferenciação em várias linhagens; elas podem ser obtidas do sangue circulante após estimulação com citocinas(GM-CSF). As células tronco hematopoiéticas tem a capacidade de não apenas substituir células de tecidos lesados, mas também produzir citocinas e fatores de crescimento a fim de atuar nas células teciduais. Além disso, essas células tronco tem a capacidade de fundir com as células do hospedeiro e transferir material genético a elas, ocasionando a geração de novas células. A medula óssea, cérebro, músculo, pele também podem albergar uma população heterogênea de células-tronco presumivelmente derivadas das células tronco hematopoiéticas, denominadas células adultas progenitoras multipotentes(MAPC-1), que se diferenciam em tipos celulares mesodérmicos, endodérmicos e neuroectodérmicos.2-As células tronco teciduais, apesar de linhagem específicas, podem se comprometer com outras linhagens se forem transplantadas em tecidos diferentes. O fígado possui células tronco denominadas células ovais que estão localizadas ao longo dos canais de Hering e são progenitores bipotenciais(diferenciam-se em hepatócitos e células biliares); essas células funcionam como compartimento reserva, sendo ativadas apenas em caso de bloqueio proliferativo de hepatócitos(não são ativadas nos casos de regeneração após hepatectomia parcial e lesões necrosantes, sendo que os próprios hepatócitos são responsáveis pelo processo), como ocorre na insuficiência hepática fulminante, hepatite crônica, cirrose avançada e na carcinogênese.O cérebro possui áreas específicas de neurogênese contendo células tronco neurais marcadas por meio de nestina(biomarcador) no hipocampo e bulbo olfatório. Contrariamente aos hepatócitos, os miócitos do m. esquelético NÃO se replicam mesmo após lesão, de maneira que a repopulação tecidual é feita por células tronco satélites, que também tem propriedades adipogênica e osteogênica.O epitélio se auto-renova por meio do aumento do número de células tronco ativadas, aumento do numero de replicações no compartimento de amplificação(composto por células intermediarias proliferativas) e encurtamento no tempo do ciclo celular. Transdiferenciação: É o processo pelo qual uma célula já diferenciada sofre uma transgressão e torna-se um outro tipo de célula, células do fígado se transdiferenciando em células β secretoras de insulina. Plasticidade evolutiva(multiplicidade das opções de diferenciação de uma célula tronco) Para que as células estromais da medula óssea comprometam-se com uma linhagem específica, faz-se necessário a participação de fatores de crescimento e componentes da matriz que ativem proteínas regulatórias chave; os miotubos(fomadores de tecido muscular requerem mioD e miogenina), adipócitos(PPARy), da linhagem osteogênica(CBFA1), cartilagem(Sox9), endotélio(VEGF e FGF-2). O EGF (FC epidérmico) e o TGFa(FC transformador alfa) presentes nas plaquetas, macrófagos, e fluidos(suor, saliva, urina, leite, plasma) são mitogênicos para queratinócitos, hepatócitos, e fibroblastos, e estimulam a formação de tecido de granulação; ambos se ligam a receptores EGF(EGFR1 e EGFR2) munidos de atividade tirosina cinase, que estão envolvidos no câncer de mama. O HGF(FC hepatócitos) expresso em células mesenquimatosas é responsável pelo aumento da motilidade e migração celular(principalmente no período embrionário), sendo também mitogênico para hepatócitos, epitélios e endotélio; se liga ao receptor c-MET. O VEGF(FC do endotélio vascular), é uma família composta pelos VEGF A, B, C, D e FC placentário e causa aumento da permeabilidade vascular, vasculogênese(formação de vasos sanguíneos no inicio do desenvolvimento via VEGFR2), angiogênese(crescimento de novos vasos sanguíneos em adultos via VEGFR2) em caso de tumor, inflamação crônica ou cicatrização, linfangiogênese(via VEGFR3), manutenção da função cardíaca(via VEGFR-1), mitose de endotélio.O PDGF(FC derivado de plaquetas) é uma família constituída de 5 isoformas(AA, AB, BB, C e D) expressas em plaquetas, macrófagos, endotélio, queratinócitos, m. liso e tem a função de promover a quimiotaxia e ativação de polimorfonucleares, macrófagos, fibroblastos e m.liso, estimular a produção de metaloproteinases, fibronectina e ac. hialurônico, estimular angiogênese, contração e remodelação da ferida, inibir a agregação plaquetária, regular a expressão da integrina. O FGF (FC de fibroblastos) expresso em macrófagos, mastócitos, linfócitos T, endotélio, fibroblastos tem a função de promover quimiotaxia e migração de fibroblastos, macrófagos, endotélio e epitélio, mitose de fibroblastos e queratinócitos, angiogenese, contração da ferida e deposição de matriz, desenvolvimento do m. esquelético(induzem a proliferação de mioblastos) e maturação pulmonar, hematopoiese( desenvolvimento de linhagens sanguíneas e do estroma da medula óssea); FGF liberado se associa ao heparan sulfato(promove o armazenamento de fatores inativos). O TGF-B(FC transformador beta) é expresso em plaquetas, linfócitos T, macrófagos, endotélio, queratinócitos, m. liso, fibroblastos e realiza a quimiotaxia de polimorfonucleares, m. liso, macrófagos, linfócitos e fibroblastos(intensifica a síntese de colageno, fibronectina, proteoglicanos), estimula a síntese do TIMP, a migração de queratinócitos, a angiogênese e fibroplasia, inibe a produção de metaloproteinases(diminuindo a quebra de colágeno e a proliferação de queratinócitos, regula a expressão de integrinas e citocinas, têm efeito antiinflamatório, induz a produção de mais TGF-B. O TGF-B liga-se a 2 receptores de superfície com atividade serina/treonina e deflagra a forforilação dos fatores de transcrição Smads que ativam ou inibem a transcrição gênica; ele bloqueia o ciclo celular pelo aumento da expressão de inibidores Cip/Kip e INK4/ARF. MECANISMOS DE REGENERAÇÃO A maioria dos processos referidos como regeneração são, na verdade, processos de crescimento compensatório que envolvem a hipertrofia e hiperplasia, responsáveis por restaurar a capacidade funcional de um órgão sem reconstituir sua estrutura original; essa regeneração inadequada tem sido atribuída à resposta fibroproliferativa e à formação de cicatriz após ferimento. A restauração da massa hepática, após hepatectomia parcial, por exemplo, envolve inicialmente a fase de preparação, na qual diversas citocinas(TNF, IL-6) são secretadas a fim de estimular a reativação do ciclo celular em hepatócitos quiescentes estacionados em Go e ativar metaloproteinases a fim de ocasionar a liberação dos fatores de crescimento da matriz; nessa fase mais de 70 genes (c-FOS e c-JUN que se polimerizam para formar o fator de transcrição AP-1; c-MYC que ativa vários fatores de transcrição como NFkB, STAT3, C/EBP) são ativados na chamada resposta gênica imediata inicial. Em seguida se inicia a fase de proliferação, na qual diversos fatores de crescimento(TGF-a HGF), juntamente com auxiliares(norepinefrina, insulina, hormônio da tireóide, GH) estimulam a progressão do ciclo celular de G1 para S e a passagem de S para G2; a replicação dos hepatócitos é seguida pela replicação das células não-parenquimatosas(células de Kupffer, endotélio, células estreladas); as celulas tronco NÃO participam do crescimento compensatório após hepatectomia parcial, a não ser para a regeneração do endotélio. Nesse processo a restauração hepática é obtida sem o novo crescimento dos lobos que foram retirados. Ao invés disso, ocorre crescimento compensatório dos lobos remanescentes até que a massa funcional, e NÃO a forma do órgão, seja restituída.Em seguida ocorre a fase de inibição de crescimento, mediada pelo TGF-B e activina que aumentam a expressão de inibidores do ciclo celular, e diminuem a síntese de fatores de crescimento e a demanda metabólica. MATRIZ EXTRACELULAR E SEUS COMPONENTES A matriz extracelular é secretada localmente e agrupa-se nos espaços em torna das células, formando uma porção significativa do volume de qualquer tecido. As proteínas da matriz seqüestram água(fornece a turgência dos tecidos moles e minerais que dão rigidez ao tecido esquelético), atuam como reservatório de fatores de crescimento(controlando a proliferação e a diferenciação celular), fornece um substrato para adesão, migração e proliferação celular(modulando a morfofisiologia celular); a síntese e degradação da matriz acompanham a morfogênese, a cicatrização de ferimentos, a deposição crônica de tecido fibrótico, a invasão tumoral e as metástases. A matriz é constituída por 3 grupos de macromoléculas, a saber, 1-proteínas estruturais fibrosas(colágeno e elastina), 2-glicoproteínas adesivas, 3-proteoglicanas e ác. Hialurônico. Essas macromoléculas, localizadas nas junções intercelulares e superfícies celulares, podem se agrupar para formar a matriz intersticial (colágeno fibrilar e não fibrilar, elastina, fibronectina, proteoglicanas, ác. Hialurônico) ou a membrana basal( secretada por epitélio e pelo mesênquima é composta por colágeno não fibrilar amorfoprincipalmente tipo IV, laminina, heparan sulfato, proteoglicana e outras glicoproteínas). O colágeno( proteína mais abundante no reino animal, 27 tipos codificados por 41 genes dispersos em 14 cromossomos) é constituído por uma hélice tripla de 3 cadeias alfa com uma sequência de repetição gly-x-y; os tipos I( tecidos moles e duros), II( cartilagem e disco intervertebral, vítreo), III( tecidos moles e órgãos ocos), V( tecidos moles e vasos sanguíneos) e XI são os colágenos intersticiais/fibrilares mais abundantes. O tipo IV é não fibrilar( forma lâminas em vez de fibrilas) e, juntamente com a laminina, é o principal componente da membrana basal. O colágeno fibrilar é sintetizado do pré-colágeno que se converte em procolágeno, que é secretado da célula e clivado para formar a unidade das fibrilas. Em seguida, os resíduos de prolina e lisina são hidroxilados e os resíduos de lisina e hidroxilisina são oxidados pela lisil oxidase o que permite o alinhamento e a ligação cruzada(proporciona força tensora característica) de 3 cadeias de procolágeno para formar a tripla-hélice estável.A elastina, presente nos vasos sanguíneos, pele, útero, pulmão proporciona o recuo elástico característico desses tecidos; constituem-se de um núcleo central de elastina cercado por microfibrilas de fibrilina(glicoproteina que serve como sustentação à deposição de elastina e ao agrupamento de fibras elásticas; sua disfunção leva à síndrome de Marfan). As proteínas adesivas( CAM-moléculas de adesão celular), pode ser dividida em 4 famílias, a saber, CAMs da família das imunoglobulinas, caderinas, integrinas e selectinas; essas proteínas adesivas estão localizadas na membrana celular( onde atuam como receptores, ligando-se a moléculas semelhantes ou diferentes em outras células a fim de fornecer interação homotípicaentre o mesmo tipo celular- ou heterotípica-entre tipos celulares diferentes) ou no citoplasma. As caderinas estão envolvidas nas interações homotípicas dependentes de Ca as CAMs da família das imunoglobulinas participam de interações homotípicas e heterotípicas. As integrinas ligam-se às proteínas de matriz(fibronectina, laminina, trombospondina e osteopontina), a fim de mediar a adesividade entre as células e a MEC, e às proteínas adesivas em outras células a fim de mediar a adesividade célula-célula; elas também são estimuladas em caso de hipóxia a fim de regular a atividade do VEGFR2 e interagir com a metaloproteinase 2. A fibronectina, composta por 2 cadeias de glicoproteínas ligadas por ligações dissulfeto, é uma proteína que se liga ao colágeno, fibrina, proteoglicanas e receptores de superfície; o tipo fibronectina tecidual forma agregados fibrilares nos locais de cicatrização, enquanto que o tipo plasmático forma pontes de fibrina que constituem o coágulo sanguíneo e permite a deposição de nova matriz.A laminina é a glicoproteína mais abundante na membrana basal e tem domínios para ligação aos receptores na membrana basal e na matriz. As caderinas(proteína de aderência dependente do Ca) participam da interação entre células do mesmo tipo, ao conectar as membranas plasmáticas de células adjacentes para formar junções celulares( junção intermediária[zônula aderênte], desmossomos; a integrina e caderina se ligam ao citoesqueleto por meio das cateninas(além de mediar a interação com o citoesqueleto, pode funcionar como um regulador dos fatores de transcrição nuclear, sendo que sua mutação está relacionada ao câncer hepático e gastro-intestinal), o que ocasiona a montagem do complexo de adesão focal intracelular(talina, vinculina e paxilina) e possibilita a transmissão de forças mecânicas e a transdução de sinais(regulação da proliferação, apoptose e diferenciação).Além dessas proteínas adesivas, também existem outras moléculas de adesão como a SPARC(proteína acida secretada e rica em cisteína, ou osteonectina, contribui para a remodelagem em resposta à lesão e inibe angiogênese), trombospondinas( inibe a angiogenese), osteopontina(regula a calcificação e a migração de leucócitos ao funcionar como um ligante de receptor CD44). As proteoglicanas(eixo protéico central ligada a polissacarídeos denominados glicosaminoglicanas; ex. dermatan sulfato, heparan sulfato, sulfato de condroitina) tem a função de modular o crescimento e diferenciação celular(ao se ligarem a fatores de crescimento) e regular a estrutura e permeabilidade tecidual. O acido hialurônico( na cartilagem das articulações, em células proliferativas) é um polissacarídeo glicosaminoglicano que se liga a grande quantidade de água para formar um gel hidratado viscoso, o que fornece elasticidade e lubrificação, além de conferir ao tecido a habilidade de resistir às forças de compressão.O ác. Hialurônico também pode se ligar ao CD44 de leucócitos a fim de retê-los nos sítios de inflamação. REPARAÇÃO POR CICATRIZAÇÃO E FIBROSE A cicatrização é uma resposta fibroproliferativa que envolve a indução de um processo inflamatório em resposta à lesão inicial com remoção do tecido danificado, inicia a deposição , proliferação e migração de células parenquimatosas e conjuntivas, angiogênese e formação de tecido de granulação, síntese de proteínas de matriz e deposição de colágeno, remodelação tecidual, contração da ferida, aquisição de resistência da ferida. Nem todos esses eventos ocorrem num mesmo ambiente, sendo que a reparação é influenciada pelo ambiente e extensão do dano tecidual, pela intensidade e duração do estímulo danoso, pelas condições que inibem a reparação(corpos estranhos, baixa oferta sanguínea, esteróides, doenças como o diabetes). Alguns tecidos podem ser completamente reconstituídos como o osso após fratura ou epitélio A inflamação iniciada pela lesão tem o objetivo de conter o dano, remover o tecido lesado e iniciar a deposição de componentes da matriz. A cicatrização consiste na substituição do tecido parenquimatoso por tecido fibroso sendo que, se o dano persistir, a inflamação torna-se crônica e esse dano ocorre simultaneamente ao reparo por intermédio da deposição de tecido fibroso(fibrose).A reparação começa no INICIO da inflamação; se a resolução não ocorrer, os fibroblastos e o endotélio(angiogênese)proliferam para formar um tipo especializado de tecido de aparência rósea, lisa, granular, denominado tecido de granulação( indicador de cicatrização). A angiogênese é precedida pela vasculogênese, processo no qual uma rede vascular primitiva é estabelecida a partir dos angioblastos. 1-angiogênese de celulas precursoras : O hemangioblasto no período embrionário origina as células tronco hematopoiéticas e os angioblastos que se prolifera, migra para os órgãos periféricos e diferenciam-se em células endoteliais que formam as artérias, veias e os linfáticos, originam os periscitos e m. liso da parede vascular.A angiogênese também pode ocorrer pelo recrutamento de células progenitoras endoteliais(semelhantes aos angioblastos) armazenadas na medula óssea e integrantes dos processos de reendotelização, neovascularização de órgãos isquêmicos, feridas cutâneas e tumores; tanto os angioblastos como as células progenitoras endoteliais apresentam marcadores de superfície endoteliais( caderina vascular, E-selectina, receptor Tie2). 2- angiogênese de células preexistentes: a liberação de NO e VEGF ocasiona a vasodilatação e aumento da permeabilidade, que é seguido por degradação proteolítica da membrana basal pelas metaloproteinases e ruptura da adesão célula-célula pelo ativador do plasminogênio.Logo após ocorre migração das células endoteliais em direção ao estímulo angiogênico seguido de sua proliferação e maturação(inibição do crescimento e remodelação em tubos capilares), e formação de uma rede de sustentação vascular estável(composta pelos periscitos, m. liso e proteínas de matriz). Essa rede de sustentação é estimulada pelas angiopoetinas(Ang1-interage com o receptor Tie2 no endotélio a fim de recrutar células periendoteliais, mediar a maturação dos tubos endoteliais, e manter a quiescência endotelial; Ang2 interage com o Tie2 a fim de afrouxar e tornar as células endoteliais mais responsivas aos fatores de crescimento e mais responsivas aos inibidores de angiogênese na ausência desses fatores de crescimento), PDGF(recruta m. liso) e TGF-B(estabiliza os vasos recém-formados).O VEGF(expresso em diversos tecidos adultos e principalmente em podócitos glomerulares e miócitos cardíacos) é o fator de crescimento mais importante para a angiogênese, sendo induzido por hipóxia, TGF-B, PDGF e TGF-a; o VEGF se liga aos receptores VEGFR1, 2(no endotélio) e 3(endotélio linfático) para promover angiogênese, aumento de permeabilidade vascular, migração e proliferação endotelial, hiperplasia da vasculatura linfática, síntese endotelial de ativador do plasminogênio, inibidor do ativador do plasminogênio 1, fator tecidual e colagenase intersticial. Durante a angiogênese, as proteínas de matriz desempenham um papel central na motilidade e migração direcionada de células endoteiais; esses processos são controlados por integrinas(formação e manutenção de vasos recémformados), proteínas matricelulares-trombospondina 1, SPARC e tenascina C( desestabilizam as interações célula-matriz a fim de promover a angiogênese), proteinases( ativadores do plasminogênio tecidual e metaloproteinases que remodelam o tecido durante a invasão endotelial, clivam proteínas extracelulares para liberar fatores de crescimento estimuladores da angiogênese, como VEGF e FGF-2, e inibidores da proliferação endotelial e da angiogênese, como a endostatina) A proliferação e migração de fibroblastos A angiogênese e o aumento da permeabilidade vascular no local da lesão ocasionam o aumento da exsudação e a deposição de proteínas plasmáticas(fibrinogênio e fibronectina) na matriz, fornecendo um estroma provisório para o crescimento de fibroblastos e células endoteliais; a migração e proliferação desses fibroblastos é estimulada por TGF-B, PDGF, EGF, FGF, IL-1 e TNF.Além de também produzirem TGF-B, PDGF, e FGF, os macrófagos no sítio da lesão constituem o tecido de granulação ao eliminar detritos extracelulares, fibrina e outros corpos estranhos. Os sítios de lesão também podem acumular mastócitos, eosinófilos e linfócitos que podem contribuir para a migração de fibroblastos. Deposição de matriz e formação da cicatriz À medida que o reparo continua o número de células em proliferação diminui e os fibroblastos depositam quantidades cada vez maiores de matriz. Os colágenos fibrilares, importantes para a resistência na cicatrização, formam a porção principal do tecido conjuntivo de reparação; o acúmulo de colágeno é decorrente da síntese-estimulada pelos fatores de crescimento(PDGF, FGF, TGF-B) e citocinas(IL-1, IL-13) secretadas por leucócitos e fibroblastos- e da degradação diminuída. No final, o tecido de granulação é convertido numa cicatriz composta de fibroblastos fusiformes, colágeno denso, fragmentos de tecido elástico e outros componentes da matriz extracelular; a cicatriz gradualmente amadurece acompanhada de regressão vascular, que transforma o tecido ricamente vascularizado em tecido avascular e empalidecido. Remodelação tecidual Essa substituição do tecido de granulação por cicatriz envolve a mudança dos componentes da matriz, que é gradualmente remodelada por meio do equilíbrio entre síntese e degradação (realizada por metaloproteinases dependentes de Zn- colagenases, gelatinases, estromelisinas- e por serinoproteases como catepsina G, elastase, quininas, plasminas); as metaloproteinases são produzidas como peptídeos inativos por fibroblastos, macrófagos, neutrófilos, células sinoviais, e pelo epitélio em resposta a fatores de crescimento(PDGF e FGF), citocinas(IL-1 e TNF), fagocitose, estresse físico. Elas são inibidas por TGF-B e esteróides. As colagenases, por exemplo, são sintetizadas como procolagenase(precursor) que é ativado por químicos(radicais livres), proteinases(plasmina produzida a partir de plasminogênio ativado por ativadores do plasminogênio); as colagenases são inibidas pelo TIMPs(inibidores teciduais específicos das metaloproteinases) produzidos nas células mesenquimatosas, prevenindo a ação descontrolada dessas metaloproteinases. As enzimas ADAM(família de domínio de disintegrina e metaloproteinase) são enzimas ancoradas à membrana plasmática que clivam os precursores de diversas proteínas(como TNF e TGF-a clivados pela ADAM-17) em compostos ativos; os membros da ADAM estão envolvidos na patogênese da asma brônquica, da microangiopatia trombótica e da hipoplasia pumonar. CICATRIZAÇÃO DA FERIDA CUTÂNEA Os anexos epidérmicos não se regeneram, de maneira que mantêm uma cicatriz de tecido conjuntivo em lugar da rede de colágeno observada na derme íntegra. Em feridas muito superficiais, o epitélio é reconstituído com pouca formação cicatricial. Contrariamente em adultos, as feridas fetais cicatrizam sem a formação de cicatriz fibrosada, devido à expressão diferencial das isoformas de TGF-B menos fibrogênicas que o TGF-B1. A cicatrização da ferida cutânea é caracterizada por fases que se sobrepõe: inflamação(precoce e tardia), formação do tecido de granulação e reepitelização, contração da ferida, deposição de matriz e remodelagem; de acordo com a natureza da ferida, a cicatrização pode ser de primeira ou de segunda intenção. A cicatrização de primeira intenção(feridas com margens opostas) é a cicatrização de uma incisão cirúrgica não infectada, e aproximada por suturas; a incisão causa morte limitada de células epitelias e conjuntivas, bem como o rompimento da continuidade da membrana basal. 1-O espaço estreito da ferida é preenchido com sangue coagulado fibrinoso que desidrata para formar a crosta que cobre a ferida. Os neutrófilos aparecem nas margens da incisão e se aglomeram em torno do coágulo. 2-As células epiteliais da camada basal, próximas a derme, depositam componentes da membrana basal e se fundem para fechar a ferida. 3- Os neutrófilos são substituídos por macrófagos que depositam o tecido de granulação(colágeno orientado verticalmente) no espaço de incisão, e o epitélio se espessa.4-Ocorre neovascularização, proliferação de fibroblastos e aumento da quantidade das fibrilas colágenas para unir a incisão, a epiderme recupera sua espessura normal e sofre queratinização.5-O infiltrado de leucócitos, o edema e a vascularidade aumentados desaparecem totalmente, sendo que o tecido torna-se pálido(devido acúmulo de colágeno na cicatriz acompanhado de regressão vascular).6- A cicatriz é composta de um tecido conjuntivo celular desprovido de infiltrado inflamatório, coberto pela epiderme intacta; os anexos dérmicos destruídos são perdidos permanentemente, e a forçatensil/resistência(garantida pelo aumento da síntese e diminuição da degradação de colágeno e pelas modificações estruturais das fibras-ligação cruzada e aumento do tamanho da fibra) da ferida aumenta gradualmente por alguns meses até atingir 80% da resistência da área não lesada. Na cicatrização por segunda intenção(feridas com margens separadas) ocorre perda substancial de células e tecidos, acompanhada de grande deformação superficial, o que dificulta a reparação.A regeneração parenquimatosa é insuficiente para restaurar completamente a arquitetura original, de maneira que ocorre extenso crescimento de tecido de granulação, a partir da margem, para completar o reparo. O grande defeito gera extenso coágulo de fibrina, detritos necróticos e exsudato que devem ser removidos por reação inflamatória mais intensa. Além disso também ocorre grande contração da ferida, promovida por miofibroblastos localizados nas margens; há extensa formação de cicatriz e diminuição da epiderme. Dentre os fatores sistêmicos que influenciam a cicatrização, pode-se citar o estado nutricional(ex. deficiência de vit C, zindo e cobre), a condição metabólica(ex. diabetes melito causando microangiopatia), condição circulatória(oferta sanguínea inadequada causada por arterosclerose e anormalidades venosas que retardam a drenagem; hipóxia, hipovolemia), hormônios(ex. glicocorticóides de efeito antiinflamatório e inibidores da síntese de colágeno), idade, estado anêmico, uso de drogas( medicações citotóxicas, antibióticoterapia intensiva), disfunções genéticas(ex. osteogênese imperfeita, síndrome de Ehlers Danlos, síndrome de Marfan),doença maligna, obesidade, infecção sistêmica, temperatura, disfunções hemodinâmicas, uremia. Dentre os fatores locais que afetam a cicatrização, pode-se citar os fatores mecânicos( movimento inicial das feridas comprime os vasos sanguíneos e separa as margens da ferida, atrasando a cicatrização), corpos estranhos(suturas desnecessárias, fragmentos de aço, vidro, osso impedem a cicatrização), o tamanho, a localização(ex. área muito/pouco vascularizada)e o tipo de ferida(lesão por incisão pequena cicatriza mais rápido que lesão causada por trauma fechado ou incisão grande), estado de inervação, infecção local, hematoma, presença de necrose, presença de curativos As complicações na cicatrização podem surgir devido 1-formação inadequada de cicatriz : Corre por formação inadequada de tecido de granulação ou produção de uma cicatriz inadequada que desencadeiam deiscência(ruptura comum após cirurgia abdominal devido aumento da pressão ocasionado por vômito, tosse ou íleo) e ulceração da ferida(devido vascularização inadequada e ausência de inervação sensitiva na área lesada-ex. extremidades inferiores de indivíduos acometidos por neuropatia diabética). 2-formação excessiva dos componentes da reparação: Ocorre por crescimento aberrante em alguma fase do processo de reparo, produzindo cicatriz hipertrófica e quelóide(caso o tecido cicatricial cresça além dos limites da ferida original e não regrida).A formação de quelóide pode ser favorecida por uma predisposição individual, sendo um processo mais comum em afrodescendentes. Além disso, pode ocorrer a formação excessiva de tecido de granulação que se sobressai acima do nível da pele e bloqueia a reepitelização, processo denominado granulação exuberante ou carne esponjosa.Essa granulação exuberante deve ser removida por cauterização ou excisão cirúrgica para permitir a continuidade da restauração do epitélio. A cicatriz por incisão ou lesão traumática também pode ser seguida por proliferação exuberante de fibroblastos e outros elementos conjuntivos que podem reincidir após excisão; essa cicatriz aberrante é denominada desmóide ou fibromatose agressiva e está normalmente está localizada na interface entre as proliferações benignas e tumores malignos 3- formação de contraturas: consiste no exagero de contração da ferida, resultando em deformidades na ferida e nos tecidos adjacentes.Ocorre principalmente nas palmas das mãos, solas dos pés e face anterior do tórax após queimaduras sérias que podem comprometer o movimento das articulações. FIBROSE A fibrose pode estar associada a doenças inflamatórias crônicas como 1-artrite reumatóide(degradação acentuada de colágeno causa a destruição articular) , 2-doença pulmonar fibrótica( nas doenças pulmonares intersticiais crônicas denominadas pneumoconioses, causadas pela inalação de carvão, asbesto, e sílica; os macrófagos fagocitam essas partículas minerais, o que desencadeia a secreção de fatores de crescimento e citocinas que levam à fibrose) e 3-cirrose hepática(ocorre ativação e produção de colágeno pelas células estreladas hepáticas, ocasionando a deposição desse colágeno e consequente alteração morfofuncional). A permanência de um estímulo persistente(inflamação crônica) ou o desenvolvimento de reações imunes/autoimunes ativa os linfócitos e células do sistema mononuclear fagocitário, que passam a sustentar a síntese e secreção de fatores de crescimento(proliferação de fibroblastos, endotélio, e células fibrogênicas), citocinas fibrogênicas(TNF, IL-1, IL4, IL-13- aumentam a síntese de colágeno), enzimas proteolíticas e outras moléculas biologicamente ativas, e a contribuir para a redução da ativação de metaloproteinases(ocasiona a diminuição da degradação de colágeno); esses fenômenos conjuntos levam à fibrose. A fibrose também pode ocorrer nos pulmões, no trato gastrointestinal, nos rins, e em outros órgãos após o uso de radiação ionizante no tratamento do câncer. Na pancreatite aguda, os episódios repetidos de inflamação pancreática aguda levam à destruição das células acinares que são gradualmente substituídas por tecido fibroso.