DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano III - RACIONALIDADE ARGUMENTATIVA E FILOSOFIA 1 - ARGUMENTAÇÃO E LÓGICA FORMAL 1.1 – DISTINÇÃO VALIDADE-VERDADE 1.2 – FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA Prof.ª Elisabete Cró 1 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano SÍNTESE DE MATÉRIA Lógica – é o estudo das condições do pensamento válido, isto é, do pensamento que alcança a verdade. Lógica – é o estudo racional. da razão na linguagem ou o estudo do discurso Lógica Formal – A ciência das leis formais do pensamento. Ciência que se ocupa dos pensamentos, não na medida em que exprimem conteúdos objetivos, mas dos pensamentos como pensamentos, “esvaziados” dos seus conteúdos, estudados na sua generalidade. Lógica Formal diz-se formal porque não se ocupa de nenhum conteúdo concreto. ***/*** Raciocínio – é um processo mental (como são também a imaginação ou a recordação) que se caracteriza pelo facto de nele se dar um passo que vai de um ou mais enunciados (as premissas) para outro posterior (a conclusão) que deriva necessariamente daquelas. ***/*** Prof.ª Elisabete Cró 2 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Raciocínio – é uma operação intelectual. Raciocínio – é a terceira operação da mente/espírito. ***/*** Argumento – é a tradução verbal do raciocínio. ***/*** Os Princípios Lógicos: Princípio de Identidade – Toda a coisa é igual a si mesma. Princípio de Não-Contradição – É impossível afirmar e negar ao mesmo tempo. Princípio de Terceiro Excluído – Uma proposição é verdadeira ou falsa, não há outra possibilidade. Princípio de Razão Suficiente – Nada acontece sem que tenha uma causa ou pelo menos uma razão determinante (Leibniz). Prof.ª Elisabete Cró 3 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Conceito – é a primeira operação da mente/espírito. Conceito – elemento base do conhecimento. É ele que nos dá a representação mental, por meio da qual o espírito humano capta o que há de inteligível na realidade. Conceito – Representação mental, abstrata e geral que reúne os carateres comuns ao conjunto de seres de uma classe e os distingue dos seres que integram classes diferentes. (Ex: cão – pertence à classe dos vertebrados, mamífero, quadrúpede, corpo coberto de pelo e que ladra). ***/*** Juízo – é a segunda operação da mente/espírito. ***/*** a compreensão. No conceito podemos distinguir: a extensão. Prof.ª Elisabete Cró 4 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano CONCEITO Extensão ou denotação É o conjunto dos objetos abrangidos pelo conceito. Compreensão ou intensão ou conotação É o conjunto das qualidades/características específicas que definem esses objetos. Animalidade e racionalidade são os constituintes (qualidades) que formam o conceito de “homem” – Compreensão. O conceito de “europeu” aplica-se a todos os indivíduos que nasceram em países da Europa e tem uma extensão maior do que o conceito de “português”, que se aplica só aos que são originários de Portugal. ***/*** Prof.ª Elisabete Cró 5 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Na compreensão do conceito de réptil entra o ser rastejante, ter sangue frio, o corpo escamoso ou coriáceo, respiração pulmonar, etc., enquanto a sua extensão é constituída por todos os animais aos quais se aplicam características, como sejam as serpentes, os crocodilos, as tartarugas os dinossauros, etc. Entre a compreensão e a extensão estabelece-se uma relação quantitativa, que se pode caraterizar do seguinte modo: quanto maior a compreensão, menor a extensão; vice-versa, quanto maior a extensão, menor a compreensão. ***/*** Termo – É a expressão material do conceito, que pode ser formado por uma ou mais palavras. O termo ou nome é a palavra ou expressão verbal que serve como que de marca exterior da ideia que temos em mente. É portanto, uma denominação de um “objeto do pensamento”. Prof.ª Elisabete Cró 6 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Tipos de termos: particulares; contrários; contraditórios; Conceito . Conteúdo intelectual . O significado do termo universais; concretos; abstratos; Termo . Expressão verbal do conceito . O significante do conceito O JUÍZO E A PROPOSIÇÃO Juízo – Operação intelectual mediante a qual se estabelece uma relação de conveniência ou discordância entre conceitos. Ex: Relacionando os conceitos: “Marte” e “Planeta” podemos formar juízos como: “Marte é um Planeta” (relação de conveniência ou concordância entre os termos). “Marte não é um Planeta” (relação de não-conveniência ou discordância entre os termos). Prof.ª Elisabete Cró 7 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Qualquer juízo envolve uma asserção (afirmação), e traduz-se por uma proposição. Uma proposição é uma frase, mas nem todas as frases correspondem a proposições tratadas na lógica. As frases interrogativas, imperativas, exclamativas e outras que exprimem pedidos ou promessas, são fases que por nada afirmarem e nada negarem, não podem ser consideradas verdadeiras nem falsas. Por isso a lógica as exclui do seu âmbito, lidando apenas com proposições declarativas, as únicas que possuem um significado que pode ser avaliado em termos de verdade ou falsidade. MODALIDADES DE JUÍZOS/PROPOSIÇÕES Condicionais Se trabalhar, então ganho dinheiro Categóricos Disjuntivos As moscas são vertebrados. Ou estudo, ou me divirto. Prof.ª Elisabete Cró 8 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano O JUÍZO CATEGÓRICO A lógica aristotélica lida com juízos categóricos, os quais expressam uma relação de conveniência ou não conveniência entre um sujeito e um atributo ou predicado. Chamam-se categóricos na medida em que há uma relação entre os termos que se expressa de modo bem definido, isto é, com clareza e sem margem para dúvida. São juízos simples, constituídos por uma única proposição e têm como forma; “S é P”. Vamos centrar-nos nestes juízos, classificando-os segundo o critério da qualidade e o da quantidade. A qualidade – juízos afirmativos e negativos Qualquer juízo categórico é constituído por dois termos ou conceitos em que um desempenha a função de sujeito – S – e outro a função de predicado – P. Sujeito – Ser ou conjunto de seres de que se fala. Predicado – Aquilo que se diz ou se atribui ao sujeito. Prof.ª Elisabete Cró 9 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Se considerarmos a proposição: Proposição categórica – é um enunciado declarativo que consta de dois termos, um sujeito e um predicado, ligados por uma cópula (“S é P” ou “S não é P”). Cada um dos dois termos está representado por um nome. Os diamantes são duros. S (sujeito) P (predicado) Cópula (verbo ser) “Diamantes” é o termo que designa aquilo de que se fala, é o sujeito da proposição; “duros” é o atributo que se afirma acerca dos diamantes, é o predicado. A qualidade ou forma é o modo como o juízo é construído. Podemos identificá –la se dermos atenção à cópula, ou seja ao elemento que liga o predicado ao sujeito. Na proposição “os diamantes são duros” a cópula é “são”. A cópula tem a forma – é ou são – quando há concordância entre o sujeito e predicado; tem a forma – não é ou não são – quando há discordância ente eles. No primeiro caso, como a qualidade do juízo é afirmativa, o juízo chama-se afirmativo; no segundo a qualidade é negativa, o juízo chama-se negativo. Prof.ª Elisabete Cró 10 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano O critério da qualidade permite, pois, clarificar os juízos em afirmativos e negativos. . São exemplos de juízos afirmativos: Todos os marinheiros são bons nadadores. Alguns alunos são aplicados. Juízos afirmativos (cópula = é, são) Exprimem uma relação de concordância entre o sujeito e o predicado. Todos o S é P Alguns S é P . São exemplos de juízos negativos: Nenhum ácido é base. Algum gato não é perigoso. Juízos negativos Exprimem uma relação de não concordância Nenhum S é P (cópula = não é, ) entre o sujeito e predicado. Algum S não é P não são) Prof.ª Elisabete Cró 11 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano A quantidade – juízos universais e particulares A quantidade do juízo é dada pela quantidade do sujeito e o critério da quantidade permite classificar os juízos em universais e particulares. . Se a quantidade do sujeito é universal, o juízo é universal, visto que o predicado é afirmado ou negado em relação a todos os elementos incluídos na classe do sujeito. Constituem exemplos de proposições universais: Todos os poetas são sonhadores. Nenhum homem é uma máquina. Juízos universais Aqueles cujo predicado se afirma ou nega de todo o sujeito Todo o S é P Nenhum S é P . Se a quantidade do sujeito é particular, como é o caso de se afirmar ou negar o predicado apenas em relação a parte dos elementos que integram a classe do sujeito, o juízo é particular. São exemplos de proposições particulares: Alguns animais são mamíferos. Alguns livros não são maçadores. Prof.ª Elisabete Cró 12 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Juízos particulares Aqueles cujo predicado se afirma ou nega apenas de uma parte do sujeito Algum S é P Algum S não P Juízos como “Fernando pessoa escreveu a Mensagem”, “A Maria é estudante de medicina” ou “O professor não é eficiente no desempenho das suas funções” são designados por juízos singulares em virtude de afirmarem ou negarem o predicado relativamente a um indivíduo. Para efeitos de tratamento lógico, consideram-se universais, uma vez que o predicado é atribuído a toda uma classe ou conjunto que, nestes casos, é constituída por um só elemento. Combinação da quantidade e qualidade Como cada juízo pode ser, simultaneamente, classificado em função da qualidade e da quantidade, Aristóteles considerou, em função destes critérios, quatro tipos de proposições categóricas: . Proposições de tipo A: são universais e afirmativas. . Proposições de tipo E: são universais e negativas. . Proposições de tipo I: são particulares e afirmativas. . Proposições de tipo O: são particulares e negativas. Prof.ª Elisabete Cró 13 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Repare-se que as proposições A e I são afirmativas e E e O são negativas. Fixa-se mais facilmente o tipo das proposições se se ligar A e I à palavra AFIRMO e E e O à palavra NEGO. As proposições categóricas podem assumir, portanto, quatro formas típicas seja qual for o sujeito e o predicado. Proposições A E I O Formas Típicas/Padrão/Canónica Todos os homens são mortais. Nenhum poeta é um irracional. Alguns desportistas são médicos. Alguns alunos não são músicos. PROPOSIÇÕES EM LINGUAGEM NATURAL EQUIVALENTES ÀS QUATRO FORMAS TÍPICAS PROPOSIÇÕES EQUIVALENTES ÀS DE TIPO A Todos os sábios são poderosos (Forma Típica/Padrão/Canónica). Cada sábio é poderoso. Prof.ª Elisabete Cró 14 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano PROPOSIÇÕES EQUIVALENTES ÀS DE TIPO A (continuação) Os sábios são poderosos. Se alguém é sábio, é poderoso. Quem quer que seja sábio, é poderoso. Se alguém não é poderoso, então não é sábio. Todos os não-poderosos são não-sábios. Todo o S é P Alguém é sábio, somente se for poderoso. Somente os poderosos são sábios. Ser sábio é ser poderoso. Ninguém é sábio, exceto se for poderoso. Ninguém é sábio, a menos que seja poderoso. PROPOSIÇÕES EQUIVALENTES ÀS DE TIPO E Nenhum filósofo é milionário (Forma Típica/Padrão/Canónica). Os filósofos são não-milionários. Todos os milionários são não filósofos. Nenhum milionário é filósofo. Nenhum S é P Ninguém que seja milionário pode ser filósofo. Ninguém é filósofo, exceto se for não-milionário. Ninguém é filósofo, a menos que seja não-milionário. Prof.ª Elisabete Cró 15 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano PROPOSIÇÕES EQUIVALENTES ÀS DE TIPO E (continuação) Somente os não-filósofos são milionários. Se alguém é filósofo, então não é milionário. Nenhum S é P Se alguém é milionário, então não é filósofo. PROPOSIÇÕES EQUIVALENTES ÀS DO TIPO I Alguns estudantes são louros (Forma Típica/Padrão/Canónica). Há estudantes louros. Há estudantes que são louros. Há louros que são estudantes. Algum S é P Certos louros são estudantes. Determinados estudantes são louros. Há pelo menos um estudante que é louro. Há pelo menos um louro que é estudante. PROPOSIÇÕES EQUIVALENTES ÀS DO TIPO O Alguns brinquedos não são livros (Forma Típica/Padrão/Canónica). Alguns brinquedos que não são livros. Há pelo menos um brinquedo que não é livro. Algum S não é P Nem todos os brinquedos são livros. Ser brinquedo não significa que seja livro. Prof.ª Elisabete Cró 16 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano DISTRIBUIÇÃO DOS TERMOS Qualquer juízo categórico contém dois termos: um exerce a função de sujeito e outro a de predicado. Sujeito e predicado podem ser mais ou menos extensos. A extensão de um termo é a classe ou conjunto de coisas por ele denotadas. Um termo é universal se se refere à totalidade da classe denotada. É particular se se refere apenas a uma parte da classe. DISTRIBUIÇÃO OU QUANTIFICAÇÃO DO SUJEITO Quando o termo sujeito é precedido de “todos”, “qualquer”, “cada”, é universal. Em “Todo o homem é mortal” o termo “homem” é universal porque “todo” indica que “homem” está tomado em toda a sua extensão. Se o termo sujeito é tomado em toda a sua extensão, diz-se que esse termo está distribuído. Dito de outro modo, o termo sujeito está distribuído se a proposição afirma alguma coisa acerca de todos e de cada um dos elementos que o sujeito designa. É o que acontece nas proposições de tipo A e E como, por exemplo: “Todos os cães são mamíferos” ou “Nenhum cão é ave”. Se o termo sujeito é precedido de “alguns”, “existem”, “há”, o termo é particular. Em “Alguns animais são mamíferos” o termo “animal” é particular Prof.ª Elisabete Cró 17 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano porque “alguns” indica que “animal” está tomado em parte da sua extensão, ou seja, pressupõe que “nem todos os animais são mamíferos”. Nas proposições de tipo I e O o termo sujeito é particular, o que significa que não está tomada em toda a sua extensão, ou que não está distribuído. Exemplo: “Alguns homens são professores” ou “Alguns homens não são poderosos”. DISTRIBUIÇÃO OU QUANTIFICAÇÃO DO PREDICADO Nas proposições negativas o predicado é universal, isto é, está distribuído. Nas proposições de tipo E como “Nenhum cão é gato” e tipo O como “Alguns homens não são louros” é fácil verificar a distribuição do predicado. É evidente que “todos os cães” não são “todos os gatos” e que “alguns homens” não são “todos os louros”. Nas proposições afirmativas, tipo A e tipo I, o predicado é particular, ou seja, não está tomado em toda a sua extensão ou não está distribuído. Exemplo: “Todos os homens são inteligentes” ou “Alguns homens são astronautas”. REGRA DA QUANTIFICAÇÃO DO PREDICADO O predicado das proposições afirmativas é sempre particular (A;I). O predicado das proposições negativas é sempre universal (E;O). Prof.ª Elisabete CrósabetCró 181818 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano O QUADRO SEGUINTE SINTETIZA A DISTRIBUIÇÃO OU QUANTIFICAÇÃO DOS TERMOS DO JUÍZO CATEGÓRICO: Tipos de proposições Sujeito Predicado A Distribuído Não Distribuído E Distribuído Distribuído I Não Distribuído Não Distribuído O Não Distribuído Distribuído Olhando para a tabela podemos constatar que: 1. O sujeito está distribuído nas proposições universais e não nas particulares. 2. O Predicado está distribuído nas proposições negativas e não nas afirmativas. Prof.ª Elisabete Cró 19 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano VERDADE E VALIDADE Qualquer argumento é uma construção racional que, à semelhança de um edifício, é feito com materiais específicos que se dispõem de acordo com um plano estrutural que garante, no caso do edifício, a sua estabilidade; no caso do argumento, a sua consistência lógica. Conteúdo material e exigências formais da organização desse conteúdo são os ingredientes essenciais dos argumentos lógicos, remetendo-nos para a consideração dos conceitos de verdade e de validade. O VALOR LÓGICO DAS PROPOSIÇÕES – A VERDADE O conteúdo material refere-se àquilo de que um argumento é feito. Ora os argumentos são feitos de proposições ou juízos que podem traduzir fielmente, ou não traduzir, o que se passa na realidade. No primeiro caso, os juízos dizem-se verdadeiros. No segundo, falsos. VERDADE – Valor lógico da proposição que está de acordo com os factos. Por estarem de acordo com a realidade, consideram-se verdadeiras às proposições: “Os mamíferos são vertebrados”; “As estrelas têm luz própria” e “A filosofia é uma disciplina obrigatória na formação geral dos alunos do 11.º ano”. Prof.ª Elisabete Cró 20 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano FALSIDADE – Valor lógico das proposições que não está de acordo com os factos. Consideram-se falsas as proposições: “Os insetos são aves”; “Platão não escreveu A República” e “A geografia é uma disciplina que integra a formação geral do 11.º ano”. Verdade e falsidade são, pois, os valores lógicos que podemos atribuir aos juízos ou proposições. Nas proposições mais simples ou mais correntes, o apuramento da verdade ou falsidade faz-se pelo confronto com os factos da experiência. Em casos mais complexos, provar a verdade ou falsidade das proposições exige o recurso a outros métodos, designadamente ao método científico. O VALOR LÓGICO DOS ARGUMENTOS – A VALIDADE Atenção aos seguintes argumentos: Se estudarmos lógica, então não teremos dificuldade em argumentar. Estudamos lógica. Logo: Não teremos dificuldades em argumentar. Prof.ª Elisabete Cró 21 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Todos os cientistas se dedicam arduamente ao trabalho. Einstein foi um cientista. Logo: Einstein dedicou-se arduamente ao trabalho. Estes dois argumentos são válidos porque em ambos a conclusão se segue das premissas. Falar de um argumento dedutivo válido significa que as premissas e a conclusão estão ligadas de tal modo que é impossível a conclusão ser falsa se as premissas forem verdadeiras. VALIDADE – Qualidade de um argumento em que é impossível as premissas serem verdadeiras e a conclusão ser falsa. VERDADE E VALIDADE, CONCEITOS INDEPENDENTES Verdade é o termo que se aplica para clarificar o valor lógico de uma proposição. Validade designa o valor lógico que pode ser atribuído a um argumento. Dito de outro modo, as proposições apenas podem ser verdadeiras ou falsas, enquanto os argumentos apenas podem ser válidos ou inválidos. Prof.ª Elisabete Cró 22 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Contexto do pensamento Contexto de linguagem Juízo Proposição Valor lógico Verdade-falsidade Raciocínio Argumento Validade-invalidade A VERDADE NÃO IMPLICA VALIDADE Atenção ao argumento: Todos os cientistas se dedicam arduamente ao trabalho. Einstein dedicou-se arduamente ao trabalho. Logo: Einstein foi um cientista. Pode perguntar-se: Será lícito concluir que Einstein foi um cientista pelo facto de se ter dedicado arduamente ao trabalho? Não, pois do facto de “os cientistas se dedicarem arduamente ao trabalho” e de “Einstein se ter dedicado também arduamente ao trabalho” não se segue que “Einstein seja cientista”. Com efeito, há muitos indivíduos que, embora trabalhem afincadamente, não são cientistas. Isto significa que, embora formado por proposições verdadeiras, o argumento se apresenta inválido, em virtude destas não estarem encadeadas de modo a poder chegar-se àquela conclusão. Podemos dizer que partindo daquelas premissas não é logicamente possível chegar à conclusão: “Einstein foi um Prof.ª Elisabete Cró 23 cientista”. DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Em qualquer argumento há dois aspetos a considerar: o conteúdo ou matéria e a forma. CONTEÚDO – Significado das proposições constitutivas do argumento e que é suscetível de ser verdadeiro ou falso. FORMA – Encadeamento ou relação entre as proposições, independentemente do seu conteúdo significativo. Deste modo, apesar do seu conteúdo ser verdadeiro, o argumento em causa é inválido, em virtude da sua forma, ou seja, do facto de as suas proposições constituintes não estarem bem relacionadas. Da consideração deste exemplo podemos concluir que: a verdade das proposições não garante a validade de um argumento. A VALIDADE NÃO IMPLICA A VERDADE Atenção ao argumento: Todos os esquiadores são loiros. Todos os estudantes são esquiadores. Logo: Todos os estudantes são loiros. Prof.ª Elisabete Cró 24 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Apesar do argumento ser constituído por proposições falsas, é um argumento válido, logo tem uma estrutura formal consistente, garantia da conclusão se seguir obrigatoriamente das premissas. Por isso podemos também concluir: a Validade de um argumento não depende da verdade das proposições. Dito de outro modo, a falsidade das proposições não faz com que um argumento seja inválido. Dado que a validade se refere à consistência de um argumento, pode afirmar-se que, num argumento ou raciocínio válido, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será também necessariamente verdadeira. É possível verificarem-se as seguintes situações no que espeita a argumentos válidos: 1. As premissas serem verdadeiras e a conclusão ser verdadeira: As estrelas têm luz própria. O sol é uma estrela. Logo: O sol tem luz própria. Prof.ª Elisabete Cró 25 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano 2. As premissas serem falsas e a conclusão ser falsa: Se Platão nasceu no Porto, então Aristóteles nasceu em Lisboa. Platão nasceu no Porto. Logo: Aristóteles nasceu em Lisboa. 3. As premissas serem falsas e a conclusão ser verdadeira. Todos os cães têm asas. As abelhas são cães. Logo: As abelhas têm asas. A independência entre os conceitos de verdade e validade é atestada pelo facto de não se provar que um argumento é válido pelo facto de a sua conclusão ser verdadeira, nem se provar que um argumento é inválido pelo facto de a sua conclusão ser falsa. À lógica formal importa apenas a estrutura interna do pensamento, ou seja, a forma dos argumentos, fazendo abstração do conteúdo empírico ou da verdade e falsidade das proposições. Prof.ª Elisabete Cró 26 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Argumentos sólidos ou corretos Todas as ciências pretendem não só que os argumentos sejam válidos, mas também que as premissas e conclusões sejam verdadeiras. Quando isto acontece, os argumentos ou raciocínios designam-se por argumentos sólidos ou corretos. Exemplo de um argumento sólido: Se Mercúrio, Marte e Úrano são planetas, então giram à volta do sol. Mercúrio, Marte e Úrano são planetas. Logo: Mercúrio, Marte e Úrano giram à volta do sol. Com efeito, para além de possuir validade, este argumento apresenta premissas e conclusão verdadeiras. ARGUMENTO SÓLIDO OU CORRETO – Aquele que, possuindo forma válida, apresenta também conteúdo verdadeiro. RESUMINDO - Não há raciocínios ou argumentos verdadeiros nem falsos. Eles são válidos ou inválidos. - Não há proposições válidas ou inválidas. Elas são verdadeiras ou falsas. - A validade de um argumento não depende da verdade ou falsidade das premissas e conclusões. - Os argumentos podem ser constituídos por proposições verdadeiras ou por proposições falsas. - A validade depende da relação entre as premissas e a conclusão. - Um argumento válido é aquele em que é impossível a conclusão ser falsa se as premissas forem verdadeiras. - Um argumento correto ou sólido é aquele que sendo válido é, ao mesmo tempo, construído por Prof.ª Elisabete Cró 27 proposições verdadeiras. DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano DEDUÇÃO E INDUÇÃO A dedução e a indução inscrevem-se entre os modos mais vulgares de raciocinar. DEDUÇÃO – Argumento em que se as premissas forem verdadeiras, a conclusão é necessariamente verdadeira. INDUÇÃO – Argumento em que se as premissas forem verdadeiras, a conclusão não é necessariamente verdadeira, mas apenas provavelmente verdadeira. RELAÇÃO ENTRE AS PREMISSAS E CONCLUSÃO A primeira distinção reside no modo como as premissas e a conclusão se relacionam. Para compreendermos este aspeto, comecemos por dar atenção aos seguintes argumentos: 1. Todos os planetas giram à volta do Sol. Marte é um planeta. Logo: Marte gira à volta do Sol Prof.ª Elisabete Cró 28 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano 2. O calor dilata o azoto. O calor dilata o oxigénio. O calor dilata o hidrogénio. Logo: Todos os gases se dilatam sob a ação do calor. No primeiro caso temos um argumento dedutivo. No segundo caso um argumento indutivo. Assim, temos como verdade infalível que “Marte gira à volta do Sol”. Porém, quem nos garante que não exista um gás que, quando submetido a temperatura elevadas, não aumente de volume? A verdade da afirmação “O calor dilatar todos os gases” não passa, pois, de uma possibilidade relativa. Vejamos como, partindo de premissas verdadeiras, é possível induzir uma conclusão falsa. O cavalo é um animal terrestre. O leão é um animal terrestre. O veado é um animal terrestre. O cão é um animal terrestre. Logo: Todos os mamíferos são animais terrestres. Por isso, em termos dedutivos, de premissas verdadeiras é impossível extrair uma conclusão falsa. O mesmo se não pode dizer em termos indutivos, sendo possível de premissas verdadeiras chegar a uma conclusão falsa. Prof.ª Elisabete Cró 29 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Assim, na dedução, a conclusão que se extrai de premissas verdadeiras, é obrigatoriamente verdadeira. Já na indução, a verdade da conclusão extraída de premissas verdadeiras é meramente provável. Um argumento dedutivo é válido ou inválido de modo incondicional ou absoluto. Já num argumento indutivo, a conclusão situa-se num contexto de possibilidade, em que a probabilidade de ser verdadeira pode ser maior ou menor. Embora, os argumentos dedutivos tenham valor rigoroso, não se prestam à ampliação de conhecimentos. Já os argumentos indutivos apresentam-se destituídos de rigor, conduzindo a conclusões que vão para além do que é dado nas premissas. Portanto, ampliam o conhecimento. A dedução e a indução, constituem instrumentos básicos na elaboração do saber científico. A dedução é o raciocínio caraterístico das ciências formais como a lógica e a matemática, domínios que prescindem de qualquer observação empírica. A indução preside às ciências experimentais como física e a biologia, em que as investigações se fazem com base nos dados recolhidos pela observação da natureza. Prof.ª Elisabete Cró 30 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano INFERÊNCIAS MEDIATAS – O SILOGISMO O que é inferir? Inferir é raciocinar, é transitar inteletualmente de umas afirmações para outras que derivam logicamente das premissas. INFERÊNCIA – Processo de pensamento por meio do qual, partindo de uma ou mais proposições, se chega a outra, ou outras, cuja verdade resulta da verdade das primeiras. “Inferência” ou “raciocínio” possuem o mesmo significado. Argumento é a sua tradução verbal. ARGUMENTO – Expressão verbal do raciocínio, a qual pode ser analisada em premissas e conclusão ou conclusões. SILOGISMO – Argumento dedutivo formado por três proposições em que duas são as premissas e a outra é a conclusão e por três termos. Ex: Todos os homens são mortais. Todos os gregos são homens. Logo: Todos os gregos são mortais. Prof.ª Elisabete Cró 31 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano O Silogismo aristotélico - é uma inferência mediata em que a conclusão se obtém pela intervenção de um termo médio que relaciona outros dois termos. SILOGISMO CATEGÓRICO – Argumento constituído por três proposições categóricas (premissa maior, premissa menor = antecedente e conclusão = consequente) que, no seu conjunto, resulta da relacionação de três termos (termo maior; termo menor e termo médio). PREMISSA MAIOR – É aquela que tem maior extensão porque contém o termo maior. PREMISSA MENOR – É aquela que tem menor extensão porque contém o termo menor. TERMO MAIOR – É o predicado da conclusão e indica a premissa maior, porque contém o termo maior (maior extensão). TERMO MENOR – É o sujeito da conclusão e indica a premissa menor, porque contém o termo menor (menor extensão). TERMO MÉDIO – Termo que estabelece a relação entre o termo maior e o termo menor. Aparece nas duas premissas e nunca na conclusão. Termo Médio Todos os mamíferos são animais. Termo maior Todos os cães são mamíferos. Termo Menor Todos os cães são animais. Prof.ª Elisabete Cró 32 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano A FORMA DO SILOGISMO Designando o sujeito da conclusão por “S”, o predicado da conclusão por “P” e o Termo Médio por “M”, podemos esquematizar os dois últimos silogismos da seguinte maneira: A Todo o M é P -----------Premissa Maior (contém o Termo maior) A Todo o S é M -----------Premissa Menor (contém o Termo menor) A Logo: Todo o S é P ---Conclusão (contém o Termo maior e o Termo menor) Sujeito da conclusão M odo AAA Predicado da conclusão Figura----1.ª , porque o termo médio é sujeito da premissa maior e predicado da premissa menor. Nome-----BARBARA Quando um silogismo apresenta, como neste caso, em primeiro lugar, a premissa maior, em segundo lugar a premissa menor e, por último, a conclusão, diz-se que está na forma canónica ou forma típica. FORMA DO SILOGISMO – Maneira como os termos se encontram relacionados. Consta do modo e da figura. Prof.ª Elisabete Cró 33 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano O MODO O modo determina–se pelo tipo de proposição que o silogismo contém, dispostas pela ordem seguinte: premissa maior, premissa menor e conclusão. Recorrendo aos dois exemplos precedentes, dizemos que é do modo AAA, dado que todas as suas proposições são de tipo A – universais afirmativas. Já o silogismo: E ---Nenhum valente é medroso. – Premissa Maior I---- Alguns homens são medrosos. – Premissa Menor O--- Logo: Alguns homens não são valentes. Termo Maior Modo EIO Termo Menor Termo Médio É do modo EIO, em que E é o tipo da premissa maior, I o da premissa menor e O o da conclusão. Figura----2.ª , porque o termo médio é predicado nas duas premissas. Nome-----FESTINO Prof.ª Elisabete Cró 34 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano A FIGURA DO SILOGISMO A Figura de um Silogismo determina-se pela função do Termo Médio na Premissa maior e Menor. Como o termo médio pode exercer a função de sujeito e predicado em cada uma das premissas, há a possibilidade de existirem quatro figuras. 1.ª Figura 2.ª Figura 3.ª Figura 4.ª Figura Premissa maior MéP PéM MéP PéM Premissa menor SéM SéM MéS MéS Conclusão SéP SéP SéP SéP Se observarmos o silogismo: A --- Todos os mamíferos são animais. A --- Todos os cães são mamíferos. A --- Todos os cães são animais. Termo Médio O modo é A A A, é da primeira figura, porque o termo médio é sujeito da premissa maior e predicado da menor. Prof.ª Elisabete Cró 35 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano No Silogismo: Termo Médio E----Nenhum valente é medroso. – Premissa Maior I----Alguns homens são medrosos. – Premissa Menor O----Logo: Alguns homens não são valentes. – Conclusão O modo é E I O, pertence à segunda figura porque o termo médio é predicado nas duas premissas. As possibilidades de combinação dos tipos de premissas, desde AAA, AAE, … até OOO, dão-nos 64 modos diferentes. E como cada modo pode ocorrer em cada uma das quatro figuras, o silogismo pode assumir 256 formas típicas. Porém, só dezanove (19) são válidas(os), o que quer dizer estarem de acordo com as regras do silogismo. Prof.ª Elisabete Cró 36 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano FORMAS DE SILOGISMO VÁLIDO MODOS Fig 1.ª AAA AII EAE EIO BARBARA DARII CELARENT FERIO 2.ª 3.ª 4.ª AEE AOO EAE EIO CAMESTRES BAROCO CESARE FESTINO AAI AII EAO EIO IAI OAO DARAPTI DATISI FELAPTON FERISON DISAMIS BOCARDO AAI AEE EAO EIO IAI BRAMANTIP CAMENES FESAPO FRESISON DIMARIS As palavras-latinas que aparecem no esquema constituem uma mnemónica, criada na Idade Média pelo papa português João XXI, conhecido pelo nome de Pedro Julião ou Pedro Hispano, para ajudar a decorar os modos válidos de cada figura. As vogais colocadas indicam, por ordem, a qualidade e quantidade de cada proposição do silogismo: a primeira refere-se à premissa maior, a segunda à premissa menor e a terceira à conclusão. Prof.ª Elisabete Cró 37 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano REGRAS DO SILOGISMO As Regras do Silogismo Categórico são oito: quatro dos Termos e quatro das Proposições. REGRAS DOS TERMOS: - O Silogismo tem de conter três termos: maior, menor e médio. Os termos do silogismo têm de corresponder a três conceitos. Quando se usa como Termo Médio um termo ambíguo com sentido diferente em cada premissa, o silogismo passa a ter quatro termos em vez de três, o que o torna inválido. É o caso de: Todas as margaridas são plantas de jardim. Algumas raparigas são Margaridas. Algumas raparigas são plantas de jardim. Termo Médio com dois sentidos - O Termo Médio não pode entrar na conclusão. O Termo Médio é incluído nas duas premissas para fazer a ligação entre os Termos Maior e o Termo Menor e não na conclusão. Por não respeitar esta regra o Silogismo seguinte é inválido: Prof.ª Elisabete Cró 38 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Todos os jovens são bem dispostos. Termo Médio não pode estar na conclusão Todos os jovens são trabalhadores. Logo: Todos os jovens são trabalhadores bem dispostos. - O Termo Médio tem que ser tomado, pelo menos uma vez, em toda a sua extensão, isto é, tem de estar distribuído pelo menos uma vez. No Silogismo seguinte, o Termo Médio “europeus” não está distribuído, ou seja, não é universal em nenhuma das premissas, o que o torna inválido. Com efeito, na primeira premissa é particular – predicado de uma frase afirmativa. Na segunda, é também particular – sujeito precedido de “alguns”. Termo Médio Não está distribuído Todos os portugueses são europeus. em nenhuma das premissa Alguns europeus habitam nas ilhas Balneares. Logo: Todos os portugueses habitam nas ilhas Balneares. - Nenhum termo pode premissas. ser mais extenso na conclusão do que nas Se na conclusão um termo está distribuído, também tem que estar distribuído na premissa. Prof.ª Elisabete Cró 39 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano O Silogismo a seguir desrespeita esta regra, pois apresenta o termo “flores” universal na conclusão – predicado de uma frase negativa – sendo particular na premissa maior – predicado de uma frase afirmativa. Não está distribuído A -- Os cravos são flores. O -- As rosas não são cravos. Está distribuído maior O -- Logo: As rosas não são flores. Extensão do que na premissa REGRAS DAS PROPOSIÇÕES - De duas premissas particulares nada se pode concluir. O não cumprimento desta regra torna inválidos silogismos como este: I -- Alguns mamíferos são aquáticos. O -- Alguns animais não são mamíferos. O -- Logo: Alguns animais não são aquáticos. Premissas Particulares Daqui se depreende que, quando as premissas de um silogismo têm como forma típica os pares: II; OO; IO; e OI, nenhuma conclusão pode ser validamente extraída. Prof.ª Elisabete Cró 40 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano - De duas premissas negativas nada se pode concluir . O silogismo seguinte é inválido, pois não é legítimo extrair qualquer conclusão de premissas de qualidade negativa. O– Os leões não são animais domésticos. E -- Nenhum crocodilo é leão. E -- Nenhum crocodilo é animal doméstico. Premissas negativas Quando as premissas de um silogismo tiverem como forma típica EE; OO; EO; OE, não se pode chegar a nenhuma conclusão. - A conclusão segue sempre a premissa mais fraca. Na teoria do silogismo consideram-se como partes mais fracas a qualidade negativa e a quantidade particular em relação, respetivamente, à qualidade afirmativa e à quantidade universal. Assim, se uma das premissas for negativa, ou particular, a conclusão tem que ser também negativa e particular. Se for outro o procedimento, afirma-se mais na conclusão do que aquilo que é dito nas premissas. Prof.ª Elisabete Cró 41 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano É, portanto, inválido o silogismo seguinte, pois a conclusão é universal, sendo uma premissa particular: I E E Alguns frutos são saborosos. Nenhuma sardinha é fruto. Logo: Nenhuma sardinha é saborosa. Particular Universal Universal Também é inválido o raciocínio seguinte, pois que a qualidade negativa da segunda premissa não permite que se extraia uma conclusão afirmativa: A E I As árvores deste jardim ficam sem folhas no outono. Nenhum pinheiro fica sem folhas no outono. Algumas árvores deste jardim são pinheiros. Afirmativa Negativa Afirmativa - De duas premissas afirmativas não se infere uma conclusão negativa. A conclusão do raciocínio seguinte não foi, portanto, validamente extraída. A Os que se aplicam merecem boas classificações. Afirmativa I Alguns alunos são aplicados. Afirmativa O Logo: Alguns alunos não merecem boas classificações. Negativa Prof.ª Elisabete Cró 42 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Para que um silogismo seja válido, tem que obedecer a todas estas regras, bastando desrespeitar uma delas para se tornar inválido. Como verificar a validade de um silogismo: Consideremos o seguinte silogismo: A A A Todos os cães são mamíferos. Todos os gatos são mamíferos. Todos os gatos são cães. Termo Médio Termo Maior Termo Menor Para determinar se este silogismo é válido, ou não, procede-se do seguinte modo: 1.º - Quantificam-se os termos sujeito e Predicado das três proposições: Tipo Sujeito Predicado Premissa Maior A Distribuído Não Distribuído Premissa Menor A Distribuído Não Distribuído Conclusão A Distribuído Não Distribuído Prof.ª Elisabete Cró 43 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano 2.º Verifica-se se cada uma das regras foi respeitada: . A regra: “O silogismo tem de conter três termos: o maior, o médio e o menor”, foi respeitada, pois o silogismo apresenta três termos: o maior “cães”; o menor “gatos” e o médio “mamíferos”. . A regra: “O termo médio não pode entrar na conclusão”, foi respeitada, pois o termo médio “mamíferos” não aparece na conclusão. . A regra: “O termo médio tem que ser tomado, pelo menos uma vez, em toda a sua extensão”, foi violada, pois o termo médio “mamíferos”, não está distribuído em nenhuma das premissas. . A regra: “Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas”, foi respeitada, pois o termo menor “gatos” distribuído na conclusão, também está distribuído na premissa. . As regras: “De duas premissas particulares nada se pode concluir”, a “De duas premissas negativas nada se pode concluir” e a regra “A conclusão segue sempre a premissa mais fraca”, não se aplicam a este silogismo. Prof.ª Elisabete Cró 44 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano A regra “De duas premissas afirmativas não se infere uma conclusão negativa”, foi respeitada, pois a conclusão não é negativa. Mal deparámos com o desrespeito da regra “O termo médio tem que ser tomado, pelo menos uma vez, em toda a sua extensão”, concluímos que se tratava de um silogismo inválido, pelo que não era necessário continuar a analisá-lo. Se o fizemos, foi por motivos meramente didáticos. Principais falácias A palavra falácia designa-se um erro de raciocínio ou de argumentação. Assim, dizem-se falaciosos os argumentos inválidos, isto é aqueles em que as premissas não sustentam a conclusão. Há erros que se escondem, permanecendo nos argumentos sob a forma disfarçada. Trata-se de argumentos que, não sendo bem construídos, apresentam, contudo, uma forma que se assemelham a uma forma válida. Tais argumentos tornam-se perigosos, pois têm grandes hipóteses de induzir em erro as pessoas. Quando a falácia é cometida com o objetivo premeditado de fazer passar uma afirmação falsa por verdadeira, é designada por sofisma. Quando o procedimento não é intencional, designa-se por paralogismo. Prof.ª Elisabete Cró 45 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Há falácias formais e falácias não formais ou informais. Falácias formais são aquelas que se cometem quando, ao raciocinar, não se cumprem as regras de inferência dedutiva. Falácia Formal – Inferência inválida com aparência de válida. Comete-se quando se desrespeita uma das regras de inferência. 1.3 - Falácias do Silogismo ou falácias formais Quando num argumento se comete uma falácia formal, está-se a violar o princípio lógico de identidade. Uma vez detetada essa falácia, o argumento terá que ser recusado por ser inválido. A violação de qualquer uma das regras do silogismo dá, portanto, lugar a uma falácia. Enquanto as falácias que desrespeitam as regras das proposições não têm nenhuma designação digna de nota, as que desrespeitam as regras dos termos aparecem muitas vezes com denominação específica. . Falácia do quarto termo ou do termo médio ambíguo Consiste em introduzir um termo médio com dois sentidos, o que faz com que o silogismo passe a conter quatro termos. Prof.ª Elisabete Cró 46 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Exemplo: Termo médio com dois sentidos Quem tem pernas pode andar. A cadeira tem pernas. Logo: A cadeira pode andar. (ambíguo) . Falácia do termo médio não distribuído Comete-se esta falácia quando o termo universalmente pelo menos numa premissa. médio Exemplo: A A A não é tomado Termo Médio Não Distribuído Todos os portugueses são europeus. Os espanhóis são europeus. Logo: Os espanhóis são portugueses. . Falácia da Ilícita Maior - Ocorre quando o termo maior é particular na premissa e universal na conclusão. Prof.ª Elisabete Cró 47 DISCIPLINA DE FILOSOFIA - 11.º Ano Exemplo: Termo Maior – Não está distribuído A---Todos os portugueses são europeus. E--- Nenhum búlgaro é português. E--- Logo: Nenhum búlgaro é europeu. Termo Maior - Está distribuído Mais extenso na conclusão . Falácia da ilícita Menor - Comete-se quando o termo menor é universal na conclusão e particular na premissa. Exemplo: Termo Menor – Não está distribuído A--- Todos os papagaios são palradores. I --- Algumas aves são palradores Termo Menor – Está distribuído A--- logo: Todas as aves são palradoras. Mais extenso na conclusão FIM Prof.ª Elisabete Cró 48