‘ Pró-Reitoria de Graduação Curso de Farmácia Trabalho de Conclusão de Curso ESTRATÉGIAS PARA EVITAR ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR Autora: Jéssica Becker Ferretti Orientadora: MSc. Samara Haddad Simões Machado Brasília - DF 2013 JÉSSICA BECKER FERRETTI ESTRATÉGIAS PARA EVITAR ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR Monografia apresentada ao curso de graduação em Farmácia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Farmacêutico. Orientadora: Profª. MSc. Samara Haddad Simões Machado. Brasília/DF 2013 CURSO DE FARMÁCIA COORDENAÇÃO DE TCC Ciência do Orientador Eu, Samara Haddad Simões Machado, professora do curso de Farmácia, orientadora da estudante Jéssica Becker Ferretti, autora do trabalho intitulado “Estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar”, estou ciente da versão final entregue à banca avaliadora quanto ao conteúdo e à forma. Taguatinga: ____/_____/______ Samara Haddad Simões Machado Monografia de autoria de Jéssica Becker Ferretti, intitulada “ESTRATÉGIAS PARA EVITAR ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Farmácia da Universidade Católica de Brasília, em 10 de junho de 2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: _________________________________________________________ Profª. MSc. Samara Haddad Simões Machado Orientadora Farmácia - UCB _________________________________________________________ Profª. Esp. Débora Santos Lula Barros Farmácia - UCB _________________________________________________________ Profª. Esp. Marcela de Andrade Conti Farmácia - UCB Brasília 2013 AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus que através das minhas orações, pude alcançar vários caminhos que não imaginava conquistar. À minha família pelo incentivo. À Samara Haddad orientadora pela dedicação e que sempre se colocou a disposição. Aos professores do curso de Farmácia pela orientação durante todos esses anos. Às minhas grandes amigas que pude fazer durante o curso: Lívia Furtado, Marianna Maciel e Jéssica Gomes. RESUMO Referência: FERRETTI, Jéssica Becker. Estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar. 2013.77. Monografia (Farmácia) – Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, 2013. Os erros relacionados aos medicamentos no âmbito hospitalar estão envolvidos diretamente com os profissionais de saúde, por consequência da falta de atenção, prescrições mal elaboradas, dispensação e administração de medicamentos de forma incorreta, gerando a inadequada atenção ao paciente. O objetivo deste trabalho é revisar estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar. Trata-se de uma revisão bibliográfica narrativa, em que o material pesquisado foi organizado privilegiando-se os aspectos conceituais de erros de medicação, no intuito de embasar futuras aplicações das estratégias para evitar o seu surgimento no ambiente hospitalar. Os erros de medicação que ocorrem em hospitais estão relacionados principalmente com a prescrição (39 a 49%), seguido de erros de administração (26 a 38%) transcrição (11 a 12%) e/ou dispensação e distribuição de medicamentos (11 a 14%). Para a prevenção dos erros de medicação é necessária à implantação de ações e normas que envolvam a equipe multiprofissional da saúde e a sua organização. Como principais estratégias, seriam a presença de sistema de informatização, controle de dispensação de medicamentos, distribuição de medicamentos de forma a apresentar racionalidade, eficiência, economia e segurança, presença de farmácia clínica, atenção farmacêutica de forma que suas funções podem interferir tanto no aspecto administrativo quanto no clínico e criação de um manual voltado para os profissionais de saúde com ênfase nos profissionais médicos, enfermeiros e farmacêuticos como forma de seguimento para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar através de práticas do dia a dia. Por isso, este trabalho é de grande importância para promover a divulgação da problemática descrita, bem como propor alternativas de prevenção dos erros de medicação. Palavras-chave: Erros no ambiente hospitalar. Los errores de medicación. Medication error Prevenção de erros de medicação. Estratégias para evitar erros. Erros da equipe de saúde. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária CFF – Conselho Federal de Farmácia CRF – Conselho Regional de Farmácia CHS - Carga Horária Semanal COREN - Conselho Regional de Enfermagem DCB - Denominação Comum Brasileira DCI - Denominação Comum Internacional ESF - Equipe de Saúde da Família JCAHO - Joint Commission on Acreditation of Healthcare Organizations MS – Ministério da Saúde OMS - Organização Mundial da Saúde OPAS - Organização Pan Americana de Saúde pH – Potencial Hidrogeniônico PRM - Problemas Relacionados a Medicamentos QNQ– National Quality Forum RAM - Reações Adversas Medicamentosas RDC – Resolução da Diretoria Colegiada SBRAFH- Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar SDMDU- Sistema de Distribuição de Medicamentos por Dose Unitária SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde UCB - Universidade Católica de Brasília SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................9 2 OBJETIVOS ..................................................................................................................................11 2.1. OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................................................11 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................................................................11 3 METODOLOGIA..........................................................................................................................12 4 DESENVOLVIMENTO................................................................................................................13 4.1. ASPECTOS GERAIS DOS ERROS DE MEDICAÇÃO ...........................................................................................13 4.2. TIPOS DE ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR ................................................................14 4.3. INCIDÊNCIA DOS ERROS DE MEDICAÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO .......................................................16 4.4. PRINCIPAIS CAUSAS DOS ERROS ........................................................................................................................18 4.4.1. Prescrição.....................................................................................................................................18 4.4.2. Distribuição e dispensação dos medicamentos..........................................................................21 4.4.3. Administração dos medicamentos .... .........................................................................................23 4.4.4. Carga horária dos profissionais da saúde..................................................................................25 4.5. PRINCIPAIS FORMAS PARA EVITAR OS ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR........26 4.5.1. Informatização..................... ..... ...................................................................................................27 4.5.2. Controle de distribuição de medicamentos ... ............................................................................29 4.5.3. Sistema de Distribuição ..... .........................................................................................................31 4.5.4. Farmácia Clínica..........................................................................................................................37 4.5.5. Atenção Farmacêutica.................................................................................................................39 4.5.6. Serviço de Farmacovigilância.....................................................................................................40 4.6. PROPOSTAS DE ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DE ERROS .........................................................................42 4.6.1. Profissional Médico......................................................................................................................43 4.6.2. Enfermeiro ....... ............................................................................................................................46 4.6.3. Farmacêutico ...... .........................................................................................................................48 4.7. MANUAL DE ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DE ERROS DE MEDICAÇÃO EM AMBIENTE HOSPITALAR ...................................................................................................................................................................50 5 CONCLUSÃO................................................................................................................................78 REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................79 9 1 INTRODUÇÃO No âmbito hospitalar os erros de medicação têm sido evidenciados a cada ano como um fator preocupante para os hospitais e, consequentemente, para sociedade, estando caracterizados como fatos que podem ser evitados em qualquer fase da farmacoterapia (COREN, 2011; CAVALLINI, 2010). Os erros incidem desde a identificação do medicamento até serem administrados ao paciente, com base em ações cometidas pela equipe multiprofissional da saúde. Os componentes da equipe são considerados os responsáveis por designar uma condição de atendimento e cuidado ao paciente de forma sistemática e consistente (SANTOS, 2004; CAVALLINI, 2010; CIPOLLE, 2006). De acordo com alguns autores, os erros de medicação que ocorrem com os pacientes em hospitais estão relacionados principalmente com a prescrição (39 a 49%), seguido de erros de administração (26 a 38%) transcrição (11 a 12%) e/ou dispensação e distribuição (11 a 14%) (BEIJAMIN, 2003; CAPUCHO, 2011). Pode-se ressaltar como os principais fatores que induzem os erros no ambiente hospitalar relacionados com o medicamento a prescrição mal elaborada e ilegível, ocasionando a incompreensão por parte da equipe de saúde, a dispensação e distribuição de medicamentos de forma incorreta e sua administração ao paciente, podendo gerar um agravo aos usuários dos serviços (CAVALLINI, 2010; MIASSO, 2006; COREN, 2011). Os profissionais da saúde podem ser influenciados pelas falhas na comunicação, excesso de trabalho e sobrecarga, podendo gerar erros. Porém, esses fatores podem ser evitados com base em ações, medidas e estratégias que visam à melhora tanto para o hospital quanto o paciente. Como principais estratégias, seriam a presença de sistema de informatização, controle de dispensação de medicamentos, distribuição de medicamentos de forma a apresentar racionalidade, eficiência, economia e segurança, presença de farmácia clínica e atenção farmacêutica de forma que suas funções podem interferir tanto no aspecto administrativo quanto no clínico (CAVALLINI, 2010; MIASSO, 2006; SANTOS, 2004; SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). A prevenção de erros de medicação e promoção da segurança do paciente são assuntos de extrema importância no sistema de saúde envolvendo diferentes áreas, setores, equipe multiprofissional, em que as políticas públicas devem aprimorar o sistema de medicação, 10 incluindo estrutura, educação e processos que garantam segurança a população (COREN, 2011; MIASSO, 2006). A política organizacional dos procedimentos para a prevenção dos erros no âmbito hospitalar deve envolver os serviços que interferem tanto no aspecto administrativo quanto no clínico e concentrando principalmente nos profissionais de saúde com ênfase nos profissionais médicos, enfermeiros e farmacêuticos (CAVALLINI, 2010; ANACLETO, 2006). A grande demanda de pacientes internados no ambiente hospitalar e a falta de atenção dos profissionais da saúde tem apontado a constante presença dos denominados erros de medicação, promovendo assim a inadequada atenção ao paciente, devido às prescrições mal compreendidas, administração, distribuição e dispensação dos medicamentos de forma incorreta aos pacientes. Para a prevenção dos erros de medicação apresentados, é necessária a implantação de ações e normas que envolvam a equipe multiprofissional da saúde. Por isso, este trabalho é de grande importância para promover a divulgação da problemática descrita, bem como revisar estratégias de prevenção dos erros de medicação relacionados a prescrição, implantação de informatização, controle de dispensação, distribuição e administração de medicamentos, carga horaria, presença da farmácia clinica e atenção farmacêutica e a criação de um manual voltado para os profissionais de saúde médicos, enfermeiros e farmacêuticos.. Este trabalho organiza-se, após a introdução, pela apresentação de seus objetivos, descrição do método utilizado na pesquisa, desenvolvimento acerca do tema “Estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar” seguido de um manual envolvendo o assunto e, por fim, conclusão sobre o trabalho. 11 2 OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Revisar estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS · Diferenciar os principais erros de medicação no ambiente hospitalar por meio de dados, causas e fatores. · Identificar e detalhar as frequências de ocorrência de erros das prescrições. · Identificar as principais formas de evitar os erros de medicação no ambiente hospitalar. · Revisar propostas de estratégias de prevenção de erros voltados para os profissionais médicos, enfermeiros e farmacêuticos. · Criar um manual sobre estratégias para prevenção de erros de medicação no ambiente hospitalar. 12 3 METODOLOGIA O trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica narrativa. Todo o material pesquisado foi organizado privilegiando-se os aspectos conceituais de erros de medicação, no intuito de aplicar estratégias para evitar o seu surgimento no ambiente hospitalar. A metodologia seguida nesse trabalho baseou-se na pesquisa em revistas da saúde, livros acadêmicos disponíveis na biblioteca da Universidade Católica de Brasília – UCB e foram pesquisadas notícias aleatórias referentes a erros nos hospitais. A pesquisa também foi realizada em periódicos nacionais e internacionais da área e foram revisados artigos nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola, em biblioteca eletrônica e bases de dados no SCIELO, PORTAL DA CAPES, MEDLINE, e BIREME. Os descritores consultados para a pesquisa foram: “Erros de medicamentos”, “Los errores de medicación”, “Medication error” ”Erros no ambiente hospitalar”, “Evitar erros de medicação”, “Estratégias para evitar erros”, “Erros da equipe de saúde”. Criou-se um manual apontando as principais informações a cerca de erros de medicação e propostas de estratégias de prevenção de erros para possível seguimento dos profissionais da saúde como modelo a cartilha “Entendendo o SUS” do ministério da saúde publicado no ano 21⁄06⁄2006. O trabalho organiza-se através de um roteiro para investigação e discussão acerca de erros de medicação de acordo com o seguinte quadro: Quadro 01: Roteiro para investigação e discussão acerca de erros de medicação. ETAPAS DA ELABORAÇÃO DO TRABALHO ü Por meio de dados de incidência, causas e fatores foram caracterizados os principais erros de medicação no ambiente hospitalar. ü A partir das identificações dos erros de medicação foram apontadas as principais causas e consequências destes erros aos pacientes. ü Por meio das identificações dos erros de medicação,foram revisadas propostas de estratégias de prevenção de erros voltados para os profissionais de saúde. ü Criou-se um manual apontando as principais informações a cerca de erros de medicação e propostas de estratégias de prevenção de erros para possível seguimento dos profissionais da saúde. Fonte: Autoria própria. 13 4 DESENVOLVIMENTO 4.1. ASPECTOS GERAIS DOS ERROS DE MEDICAÇÃO Erros de medicação são caracterizados como casos previamente analisados que possam ser evitados, e normalmente realizados com a intenção de acerto, ou seja, acontecem em situações em que visivelmente tem-se um controle em qualquer fase do uso de medicamentos, podendo como consequência gerar agravos ao paciente. Erro, diferentemente de falta ou descuido, pode não ser determinado e ser resultado de ausência de conhecimento ou má interpretação de um fato (COREN, 2011; SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012; WANNMACHER, 2005; CAVALLINI, 2010). Incidentes devidos a erros apresentam-se com mais frequência durante tratamentos e procedimentos, sendo especialmente relacionados à prescrição, dispensação e administração de medicamentos por imprudência ou negligência. Outros erros comuns associam-se à deficiente informação clínica e falhas no seguimento de protocolos (WANNMACHER, 2005). Os erros de medicação representam uma infeliz realidade aos profissionais de saúde, com sérias consequências para pacientes e organização hospitalar. Raros são os profissionais que possuem consciência da importância que simples gestos ou atos têm sobre a diferença entre a vida e a morte de uma pessoa, e que as consequências por piores que sejam, podem ser evitadas (COREN, 2011; MIASSO, 2006). Compreender a prática de medicação como um sistema exige a identificação dos componentes necessários para realizar o propósito do tratamento medicamentoso ao paciente. Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) identificou cinco processos do sistema de medicação: seleção e obtenção do medicamento, prescrição, preparo e dispensação, administração de medicamentos e monitoramento do paciente após a utilização do medicamento. No entanto, estes fatores podem mudar de um hospital para o outro, de acordo com seu planejamento, organização, estrutura e a equipe multidisciplinar (MIASSO 2006; JCAHO, 2007). 14 4.2. TIPOS DE ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR Os tipos de erros de medicação constatados podem aparecer desde a identificação do medicamento até sua administração ao paciente. A prática profissional pode levar a problemas de comunicação principalmente nas fases de prescrição, dispensação e administração dos medicamentos, podendo resultar em uma ação indesejada ao paciente (Quadro 02) (CAVALLINI, 2010; CAPUCHO, 2011; SILVA CASSIANI, 2004). Quadro 02: Principais erros de medicação de acordo com a prescrição, dispensação e administração. ERROS DE MEDICAÇÃO TIPOS DE ERROS PRESCRIÇÃO DISPENSAÇÃO ADMINISTRAÇÃO Paciente Nome, dados pessoais Nome, dados pessoais Nome, dados pessoais Via de administração Prescrição de medicamento Administrar medicamento por via medicamento via incorreta incorreta em determinada (enteral, parenteral) Dispensar na CAUSAS Paciente errado, troca de paciente Via de administração de o incorreta via medicamento e/ou substância inadequada Horário Distribuir Prescrever medicamentos em horários diferentes do proposto ou vários medicamentos em um mesmo horário medicamentos (dose unitária, individualizada) em horários não que esteja de acordo com a prescrição Medicamento ou substância em horário que não esteja de acordo Administrar medicamentos no horário com a prescrição, que não esteja de acordo podem promover alterações com a prescrição fisiológicas e patológicas Dose Quantidade errada para mais ou para Administrar quantidade em doses medicamento em menos incorreta de medicamento determinado doses desnecessárias ao paciente paciente para os pacientes Dispensar Prescrever desnecessárias 15 Apresentação, embalagem, rótulo Prescrever medicamento que Confundir medicamentos ou Confundir medicamentos administrar Medicamento dispensar medicamento ou ou não esteja de medicamento que não errado que não esteja de esteja de acordo com a acordo com acordo com a prescrição apresentação, prescrição embalagem, rótulo não tenha no local Manipulação Forma de Prescrever manipulação do Preparar o medicamento medicamento Preparar o medicamento medicamento de forma podendo gerar de forma incorreta manipulado de forma consequências incorreta incorreta graves ao paciente Omissão Não prescrever medicamentos paciente para Não dispensar medicamento o Não administrar medicamento A não utilização o do medicamento ou substância Fonte: Adaptado por Santos, 2004; Cavallini, 2010. De acordo com o Quadro 02, observa-se que através da prescrição existem várias questões que podem levar a erros, como por exemplo: prescrições mal compreendidas, transcrição de prescrição, identificação e anamnese do paciente. Quanto à distribuição de medicamentos, erros podem advir das apresentações (genéricos, referência, similar), rótulos, embalagens, dose, vencimento, temperatura, armazenamento. Com base na administração de medicamentos ao paciente os erros podem estar relacionados na forma de preparo do medicamento, horário de administração, associação de medicamentos, via de administração, paciente errado, medicamento não prescrito entre outros. (SANTOS, 2004; CAVALLINI, 2010). As identificações dos erros de medicação auxiliam tanto na forma como solucionar os problemas ocorridos e avaliar a segurança do paciente e da qualidade do cuidado prestado como também poder evitar que estes ocorram novamente (MIASSO, 2006; SANTOS, 2004). 16 4.3. INCIDÊNCIA DOS ERROS DE MEDICAÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO As pesquisas demostram que em hospitais podem-se gerar acentuados erros no momento de administrar os medicamentos aos pacientes, o que coloca sua vida em risco (TEIXEIRA, 2010; WANNMACHER, 2005; SILVA, CASSIANI, 2004). No Brasil, um estudo realizado pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, analisou em cinco hospitais públicos a administração de medicamentos. Os pesquisadores observaram erros em 30% dos casos. Desses, 77,3% dos erros foram relativos ao horário da administração dos medicamentos. Erros de dosagem correspondem a 14,4% dos casos, seguidos de trocas na via de administração (6,1%), medicamento não autorizado (1,7%) e troca de paciente (0,5%). Tais fatos podem gerar consequências sérias como quadros de reações adversas, podendo gerar até a morte aos usuários (TEIXEIRA, 2010). Um estudo brasileiro apontando a incidência de erros com medicamentos analisou retrospectivamente prontuários de crianças hospitalizadas em três enfermarias pediátricas de hospital universitário, mostrando 1.717 erros de doses ou diluições, representando 21,1% dos 8.152 fármacos prescritos durante o período de estudo. Erro de omissão que são definidos como a não comprovação da realização da medicação, negligência por parte dos profissionais da saúde ou quando o número de doses administradas é menor que o prescrito, refletindo como sendo os erros mais frequentes (75,7%) (MELO, WANNMACHER, 2005). Os erros de medicação são considerados um problema mundial. Na Inglaterra, um levantamento em 19 hospitais apontou que uma em cada dez prescrições contém erros, 1,7% deles com grande risco de levar o paciente à morte (TEIXEIRA, 2010). Em um estudo norte-americano, envolvendo 114.746 pacientes ambulatoriais que receberam 250.024 prescrições de 300 médicos em 78 clínicas, encontraram-se 13 erros por 100 prescrições (WANNMACHER, 2005). Em estudos abordando prescrições de medicamentos, 47,0% das prescrições escritas à mão geram erros no nome do paciente, em 33,7% há dificuldades na identificação do prescritor e 19,3% estão pouco legíveis ou ilegíveis. Ao comparar com as prescrições informatizadas estes índices podem diminuir, evidenciando uma redução de erros (SBRAFH, 2010). Um levantamento de erros de prescrição no Baylor University Medical Center detectou 111,4 erros por 1000 receitas. A maioria correspondeu a erros de dose, seguido de 17 erros de intervalo entre administrações e outros erros não avaliados. Do total de erros, 46% foram causados por transcrição do médico em sistema computadorizado. Duplicação de receitas e falta de cruzamento de informação no sistema, acarretaram 35,4% dos erros. Dose errada e prescrição de fármacos não padronizados ocasionaram 18,6% de erros (SEELEY, 2004; WANNMACHER, 2005). Em um estudo analisando os tipos e as causas de erros de medicação inseridos na equipe médica, enfermagem e os profissionais da farmácia, pode-se observar que os tipos de erros mais comuns relacionados à medicação foram os alistados à prescrição de medicamentos, com 29% dos resultados, seguidos dos erros relacionados ao horário, com 20,6%, e ao preparo e administração dos medicamentos, com 13,6% (SILVA, CASSIANI, 2004). Estudo desenvolvido ressaltando os tipos de erros em hospitais e instalações de saúde identificaram como erros mais frequentes na administração de medicamentos: horário errado (43%), ou seja, administração do medicamento no horário incorreto, omissão (30%) a não administração do medicamento certo ao paciente, dose errada (17%) doses inapropriadas de medicamento administrado ao paciente, e aplicação de medicamento sem autorização (4%), sendo os erros mais comuns de medicação. Portanto, fatores como distribuição de doses diferentes das prescritas ou citadas em horários nos quais o paciente está sendo submetido a procedimentos contribuem para tais erros (MIASSO, 2006). Fatores mais relevantes encontrados em hospitais a cerca dos erros de medicação (Quadro 02) são as prescrições mal elaboradas como, por exemplo, a escolha incorreta do medicamento, doses inadequadas, via de administração, velocidade de infusão errado e documento ilegível. Através desses fatores apontados ressalta-se a importância e a vantagem da prescrição eletrônica como uma causa determinante para redução de erros de medicamento (CAVALLINI, 2010). Os erros de medicação com menor prevalência abordados no âmbito hospitalar, que ainda apresentam uma significância são as razões da não adesão aos medicamentos por parte do paciente e da família, o comportamento inadequado do paciente ou cuidador quanto a sua participação na proposta terapêutica, ausência de comunicação entre profissionais da saúde, a falha de registros de medicamentos. É necessário estabelecer meios eficazes de comunicação entre a equipe multiprofissional e entre os componentes da equipe, paciente e família (MIASSO, CIPOLLE, 2006;COREN, 2011). 18 4.4. PRINCIPAIS CAUSAS DOS ERROS A causa do erro pode ser acometida do ponto de vista individual e sistêmico. A abordagem dos erros no sistema de saúde é, geralmente, realizada de forma individualizada, considerando os erros como atos inseguros cometidos por pessoas desatentas, desmotivadas e/ou com treinamento deficiente. Pode-se ressaltar a carga horária exorbitante dos profissionais da saúde, os erros da prescrição, dispensação, distribuição e administração de medicamentos como os principais causadores de erros no ambiente hospitalar (Quadro 02) (ROSA, 2008; MIASSO, 2006). Os cuidados com medicamentos como a correta análise da prescrição, momento da distribuição e administração esclarecem bem a necessidade de abordagem sistêmica para prevenção de erros. Múltiplos são os causadores de erros no processo terapêutico, inclusive o próprio paciente, que deve ser adequadamente informado e estimulado a participar para que o erro não ocorra (WANNMACHER, 2005; SANTOS, 2004). Em um hospital universitário de Goiás, revelou-se que 29,04% de erros de prescrição de medicamentos são causados por falhas individuais (47,37%) ou do sistema de medicação (26,98%) (SILVA, CASSIANI, 2004; WANNMACHER, 2005). Erros de medicação acarretam custos humanos, econômicos e sociais, correspondendo a gastos altos em cuidados de saúde. Para que haja uma redução nesses fatores é necessário a implantação de estratégias para se evitarem essas problemáticas, dentre elas seria a implantação do seguimento farmacoterapêutico e no maior controle de distribuição de medicamentos. (NOVAES, 2009; WANNMACHER, 2005). A equipe de enfermagem e médica, atuando nas suas respectivas funções que estão interligados de maneira geral tanto com a prescrição e o medicamento como também promovendo a qualidade e saúde dos pacientes (COREN, 2011; BISSON, 2006; SILVA et al., 2007). 4.4.1. Prescrição As normas que orientam a prática da elaboração da prescrição no Brasil estão definidas em leis, decretos e códigos como Leis Federais 5.991/73 e 9.787/99 e as RDC ANVISA nº 80/2006 e 16/2007, Boas Práticas de Prescrição como os denominados na Resolução CFF 357/2001 e no Código de Ética Médico. 19 A receita é um documento de total responsabilidade de quem prescreve e dispensa o medicamento, portanto, envolve questões de âmbito legal, técnico e clínico, estando seus responsáveis sujeitos à legislação de controle e às ações de vigilância sanitária (FTN, 2008). A receita hospitalar é uma das principais ferramentas para se evitar os erros de medicação, e aumentar a segurança para os pacientes. A prescrição legível e sua correta interpretação é umas das principais formas de evitar os erros referentes ao medicamento. Portanto é necessário que o prescritor tenha a responsabilidade de elaborá-la de forma completa, inserindo nesta todas as informações necessárias para os profissionais que utilizam esse documento (ABREU et al., 2006; NÉRI, 2008). Para que seja elaborada uma prescrição de forma admissível é necessário estar legível ter os principais componentes: nome do paciente, forma farmacêutica e a nomenclatura dos medicamentos devem estar de acordo com Denominação Comum Brasileira (DCB), e na sua omissão, utiliza-se a Denominação Comum Internacional (DCI). A prescrição deve fazer parte da quantidade total de medicamento (número de comprimidos, drágeas, ampolas, envelopes). Informações quanto ao uso interno ou externo dos medicamentos, via de administração, intervalos entre as doses, doses máxima por dia e duração do tratamento são essenciais para administração do medicamento. São obrigatórios a data explicitada, a assinatura e o carimbo do prescritor. É recomendável conter endereço e telefone do prescritor, de forma a possibilitar o contato em caso de dúvidas (MS, 2008; MS, 2004; MASTROIANNI, 2009). A Prescrição Médica é composta por dados essenciais e facultativos. Dados Essenciais: 1. Cabeçalho: impresso que inclui nome e endereço do profissional ou da instituição onde trabalha (clínica ou hospital); registro profissional e número de cadastro de pessoa física ou jurídica, podendo conter, ainda, a especialidade do profissional. 2. Superinscrição: constituída por nome e endereço do paciente, idade, quando pertinente, e sem obrigatoriedade do símbolo RX, que significa: “receba”; por vezes, esse último é omitido, e, em seu lugar, se escreve: “uso interno” ou “uso externo”, correspondentes ao emprego de medicamentos por vias enterais ou parenterais, respectivamente. 3. Inscrição: compreende o nome do fármaco, a forma farmacêutica e sua concentração. 4. Subscrição: designa a quantidade total a ser fornecida; para fármacos de uso controlado, essa quantidade deve ser expressa em algarismos arábicos, escritos por extenso, entre parênteses. 5. Adscrição: é composta pelas orientações do profissional para o paciente. 6. Data e assinatura. Dados Facultativos: Peso, altura, dosagens específicas como usadas na Pediatria. O verso do receituário pode ser utilizado para dar continuidade à prescrição, aprazamento de consulta de 20 controle, e para as orientações de repouso, dietas, possíveis efeitos colaterais ou outras informações referentes ao tratamento (Figura 01) (MADRUGA, 2009). Figura 01: Exemplo de prescrição de receita, apresentando anverso e verso. Fonte: Madruga, 2009. A terapêutica medicamentosa sofre variação inter e mesmo intra-individual. Os médicos precisam ter conhecimento sobre as fontes de tais variações para prescrever os fármacos com segurança e eficácia. As variações podem ser causadas por diferentes concentrações do fármaco nos locais de ação ou pelas diferentes respostas a mesma concentração do fármaco. As variações podem ocorrer devido a diferenças de absorção, distribuição, metabolismo, pH e excreção, como também fatores genéticos, doenças, idade, sexo e interações medicamentosas (RANG, 2007; ROQUE, 2009). Os erros de prescrição são definidos como erros decisivos, não propositados ou de escrita no caso das prescrições não informatizadas, e que podem reduzir a possibilidade do tratamento ser efetivo ou aumentar o risco de dano ao paciente (ROSA, 2009; SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). 21 De acordo com OMS (2002) e COREN (2011, p. 08), a presença dos seguintes fatores pode levar aos erros de prescrição: escolha incorreta do medicamento, dose do medicamento, via de administração, velocidade de infusão do medicamento, forma de apresentação do medicamento, prescrição ilegível, prescrição incompleta, período de tratamento, interações medicamentosas, duração do tratamento, falta de ajustes para fatores clínicos, genéticos, ambientais e outros. Os prescritores devem apresentar o conhecimento dos medicamentos indicados sendo fundamentados nas evidências clínica para ter a decisão terapêutica mais correta, de maneira a buscar maiores níveis de segurança, eficácia e custo-efetividade comparado assim a outras opções terapêuticas para o paciente. A análise das prescrições pela atividade da equipe farmacêutica e da enfermagem é de grande importância para reduzir risco de algum erro ao paciente ser elevado adiante (FRÖHLICH, 2006; CRUCIOL-SOUZA, 2008). 4.4.2. Distribuição e dispensação dos medicamentos De acordo com a Lei 5.991, de 17 de dezembro de 1973 que dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos, e dá outras Providências, a dispensação é o ato de fornecimento ao consumidor de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, a título remunerado ou não (BRASIL, 1973, p. 2). Um sistema de distribuição de medicamentos requer uma investigação que possa garantir eficiência, efetividade, economia e segurança e estes devem estar de acordo com o esquema terapêutico prescrito para o paciente (CAVALLINI, 2010; MAIA NETO, 2005). De acordo com SBRAFH (2005, p. 51 a 52) a dispensação de medicamentos tem como objetivo: garantir o cumprimento da prescrição, racionalizar a distribuição dos medicamentos, garantir a administração correta do medicamento, diminuir os erros relacionados com a medicação (administração de medicamentos não prescritos, troca da via de administração, erros de doses, entre outros.), monitorizar a terapêutica, reduzir o tempo dos enfermeiros dedicados às tarefas administrativas e manipulação dos medicamentos e racionalizar os custos com a terapêutica. Para a escolha do sistema a ser implementado no hospital, deve-se seguir critérios de acordo com aspectos administrativos e econômicos como: o controle de estoque, a padronização, contratação de profissionais qualificados e, consequentemente, a inclusão de uma equipe capacitada de recursos humanos para o exercício das devidas funções que envolvem o ambiente hospitalar (CAVALLINI, 2010). 22 O sistema de distribuição de medicamentos é dividido em quatro tipos: misto, coletivo, individualizado e dose unitária. O sistema misto é quando no mesmo hospital adota-se mais de um tipo de sistema. No sistema coletivo o médico faz a prescrição, a enfermagem transcreve as prescrições, o pedido é encaminhado em nome da unidade, a farmácia separa materiais e medicamentos, a enfermagem recebe o pedido e armazena os itens na enfermaria. Por fim a enfermagem separa o pedido por paciente e por dose e administra ao mesmo (CAVALLINI, 2010; MAIA NETO, 2005). O sistema coletivo apresenta mais desvantagens que vantagens, devido a farmácia não participar efetivamente de todo o processo, e assim a equipe de enfermagem se torna responsável pelo serviço, podendo gerar consequências que vinculam tanto o hospital quanto o paciente, como perdas econômicas devido a falta de controle (desvio, falta de atenção, má condições de armazenamento e outros), facilidade de acesso aos medicamentos por qualquer pessoa, aumento de estoque dos medicamentos nas unidades assistenciais e na farmácia hospitalar (CAVALLINI, 2010; MAIA NETO, SBRAFH, 2005). No sistema individualizado o médico prescreve, a farmácia tem acesso a prescrição e separa os meterias e medicamentos por paciente e leito (período de 24 horas), a enfermagem recebe e confere a prescrição, logo após administra ao paciente e por fim faz a devolução dos medicamentos não administrados (CAVALLINI, 2010; MAIA NETO, 2005). O sistema individualizado apresenta mais vantagens em comparação com o coletivo desde que o farmacêutico atue no processo, pois este sistema aumenta a segurança a cerca do medicamento, diminui os riscos de interações, racionaliza melhor a terapêutica, reduz os desperdícios, entre outros fatores. Este representa um avanço na conquista de garantia e segurança quanto à prescrição, podendo levar os farmacêuticos optarem pelo sistema individualizado que satisfaz aos objetivos principais da distribuição antes de implantar a dose unitária que potencializa a racionalização, eficiência, economia e segurança ao usuário do medicamento (CAVALLINI, 2010; SBRAFH, MAIA NETO, 2005). No sistema de distribuição de medicamentos por dose unitária, a solicitação de medicamentos é feita a partir da prescrição (sistema informatizado ou manual), por paciente e para um período de 24 horas. A medicação é preparada em dose e concentração determinadas na prescrição médica, sendo administrada ao paciente diretamente de sua embalagem “unitarizada”, ou seja, “dose prescrita como dose de tratamento a um paciente em particular, cujo envase deve permitir administrar o medicamento diretamente ao paciente” (D’Alessio & Aguilar, 1997; ASHP , 2002) 23 A distribuição pode provocar oportunidades de erros de administração de medicamentos (dose errada, medicamento errado, via errada, entre outros) e estes podem ser prevenidos pelos profissionais da saúde (médicos, enfermeiros e farmacêuticos). Esses profissionais em qualquer fase da farmacoterapia são responsáveis pelas consequências que podem ocorrem com o medicamento até esse ser administrado ao paciente. Estes erros de podem ser adotados como um indicador da qualidade do serviço prestado pela equipe da saúde (ANACLETO, 2006). De acordo com COREN (2011; pag. 10) a inadequada presença dos seguintes fatores leva aos erros de distribuição: local de armazenamento do medicamento, distribuir medicamento errado, distribuir medicamento por via de administração inadequada, distribuir medicamento em dose imprópria, distribuir medicamentos com rótulos diferentes. Estudo realizado em farmácia de dispensação hospitalar analisou o erro de dispensação como sendo relacionado com a falha de comunicação, distração e interrupção, uso de informação incorreta e ultrapassada, falta de conhecimento do paciente sobre fármacos que lhe são prescritos, além de problemas ligados ao ambiente físico, à sobrecarga de trabalho e à embalagem similar de diferentes apresentações comerciais dos medicamentos (ANACLETO; 2006; WANNMACHER, 2005). A equipe da farmácia é a responsável pela dispensação de medicamentos com precisão, dessa forma deve dispensar os medicamentos de acordo com a prescrição médica, nas quantidades e especificações solicitadas, de maneira segura e no prazo requerido, promovendo o uso seguro e correto de medicamentos e correlatos (ANACLETO, 2006). Acredita-se que na farmácia do hospital o sistema de distribuição de medicamentos é um importante componente a ser observado durante uma inspeção, pois está envolvido na qualidade dos serviços prestados no hospital como um todo. Assim a importância em reduzir os erros é fundamental para que haja o aumento de aceitação da farmácia juntamente com a direção do hospital e a equipe de saúde (NETO MAIA, 2005). 4.4.3. Administração dos medicamentos A realização do sistema de medicação demanda um conhecimento técnico-científico por parte da equipe de enfermagem, por serem os responsáveis pela administração ao paciente nas fases relacionadas ao horário, o preparo e a administração adequada para as medicações, monitorando potenciais interações medicamentosas e os efeitos das medicações prescritas. 24 Portanto, é necessário que haja organização, concentração e ações para a administração segura de medicamentos (SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). De acordo com COREN (2011, p. 16, 24 e 25) a presença dos seguintes fatores leva aos erros de administração dos medicamentos: forma de preparo do medicamento, administração do medicamento por via diferente da prescrita, horário de administração do medicamento, administração de medicamento ao paciente errado, administração de medicamento não prescrito, associação de medicamentos física ou quimicamente incompatíveis, utilização de prescrição desatualizada, administração de medicamento não autorizado pelo médico, falha nos equipamentos ou problemas com acessórios da terapia de infusão, administração do medicamento em velocidade de infusão incorreta, falha na técnica de assepsia, administração do medicamento em local errado. Dentre os itens descritos outro fator que pode ressaltar como erro relacionado à administração do medicamento é a falta de orientação na alta do paciente por meio do profissional da saúde. Podendo ocorrer o uso inadequado de medicações, devido às poucas informações fornecidas, tornando-se um fator que predisponha o erro ao invés de servir como um auxilio para evitá-lo (SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). A administração de medicamentos previne o erro através da conferência dos “cinco certos”: medicamento certo, paciente certo, dose certa, via de administração certa e horário certo. Desses itens, o “paciente certo” aparece como um desafio para os profissionais, exigindo mais atenção e cuidado perante o paciente (SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). Para se evitar erros, a administração de medicamentos apresenta metas, essas têm como objetivo garantir a coerência nas associações medicamentosas. Os medicamentos administrados devem manter as suas propriedades e a segurança, assim como garantir o tempo de infusão como preconizado de acordo com cada medicamento e que as reações adversas medicamentosas (RAM) sejam ao máximo controladas (COIMBRA, 2002; SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). Desta forma as características essenciais de uma conduta de cuidado ao paciente e relacionado ao medicamento seria o respeito mútuo, honestidade, comunicação aberta, cooperação, sensibilidade, colaboração entre paciente e profissional, empatia, confiança, competência, oferecer segurança, dar prioridade ao paciente, assumir a responsabilidade das intervenções, entre outros fatores, que são importantes e devem ser induzindo no cuidado da saúde (CIPOLLE, 2006). 25 4.4.4. Carga horária dos profissionais da saúde De acordo com a Portaria nº 2.027, de 25 de agosto de 2011 a carga horária dos profissionais de saúde é determinada em 40 (quarenta) horas semanais, exceto os profissionais médicos, sendo necessária a dedicação mínima de 32 (trinta e duas) horas da carga horária para atividades na ESF (Equipe de Saúde da Família) e até 08 (oito) horas do total da carga horária para prestação de serviços na rede de urgência do município ou para atividades de especialização em saúde da família, residência multiprofissional e/ou de medicina de família e de comunidade, bem como atividades de educação permanente, tudo conforme autorização do gestor (MS, 2011 p. 1) Visto que os profissionais da saúde excedem os horários de trabalho, conciliam diversas cargas horárias em diferentes hospitais, resultando em estresse, cansaço, falta de concentração, entre outros fatores e, consequentemente, prejudica na administração de medicamentos e atenção ao paciente, podendo gerar erros de medicação (CAVALLINI, 2010; MIASSO, 2006). A falta de atenção é um atributo das causas dos erros, vinculando a ideia de que o profissional, e não o sistema é o responsável. Essa cultura determina, também, punições como relatórios, advertências, entre outros (MIASSO, 2006). Muitos estudos têm responsabilizado os profissionais da saúde pela maioria dos erros na medicação, indicando que os enganos ou lapsos são as causas mais frequentes de erros. Os profissionais geralmente culpam a si mesmos pelos erros, deixando de lado a visão de que o sistema em que estão envolvidos pode, também, colaborar para sua ocorrência (MIASSO, 2006; SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). O excesso de trabalho, a falta de interação da equipe, o volume de tarefas, a carga horária pesada, as falhas na comunicação e os pacientes utilizando diversas medicações devem ser levados em conta e deve ser evitado para a integração dos setores entre os profissionais que são citadas como determinantes na ocorrência dos erros (MIASSO, 2006; CAVALLINI, 2010). 26 4.5. PRINCIPAIS FORMAS PARA EVITAR OS ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR De acordo com a Portaria nº 4.283, de dezembro de 2010, Dentro da visão da integralidade do cuidado, a farmácia hospitalar, além das atividades logísticas tradicionais, deve desenvolver ações assistenciais e técnico-científicas, contribuindo para a qualidade e racionalidade do processo de utilização dos medicamentos e de outros produtos para a saúde e para a humanização da atenção ao usuário. Esta atividade deve ser desenvolvida, preferencialmente, no contexto multidisciplinar, privilegiando a interação direta com os usuários. As ações do farmacêutico hospitalar devem ser registradas de modo a contribuírem para a avaliação do impacto dessas ações na promoção do uso seguro e racional de medicamentos e de outros produtos para a saúde. O elenco de atividades farmacêuticas ofertadas depende da complexidade dos hospitais, bem como da disponibilidade de tecnologia e recursos humanos (BRASIL, 2010, p. 4). Quando discute-se a respeito de erros, logo tenta-se busca saber quem cometeu tal ato. Os erros são vistos como consequência de fatores sistêmicos, sendo recorrentes no local de trabalho em qualquer área, portanto a sugestão seria modificar a forma como se executa o trabalho, ao invés de tentar modificar o ser humano (CAPUCHO, 2011; CHIAVENATO, 2009). Poderia ser viável uma orientação da estruturação de processos que possa melhorar os serviços aos pacientes, como a implantação de serviços informatizados de prescrições eletrônicas, adequação dos sistemas de distribuição de medicamentos de forma setorial visando à implantação de dose individualizada ou unitária e redução na carga horária dos profissionais da saúde, presença da farmácia clínica e a atenção farmacêutica, serviço de farmacovigilância são fundamentais no processo de minimização de erros ao paciente, de forma que suas funções interferem tanto no aspecto administrativo quanto no clínico. (ANACLETO; 2006). A política organizacional dos procedimentos para a prevenção dos erros no âmbito hospitalar deve envolver não só o serviço de farmácia, mas também outros serviços, como a medicina e a enfermagem. Os recursos organizacionais devem ser adequadamente administrados inserindo treinamentos desde o nível microscópico até o macroscópico. Os treinamentos são processos educacionais que visam as mudanças de comportamento com o intuito de envolver transmissão de informações, desenvolvimento de habilidades, de atitudes e conceitos (CAVALLINI, 2010; ANACLETO; 2006; CHIAVENATO, 2009). Ações e estratégias bem planejadas devem ser implementadas para impedir a ocorrência de erros de medicação, promovendo assim a qualidade do sistema assistencial prestada nas unidades de saúde (CRUCIOL-SOUZA, 2008). 27 4.5.1. Informatização Nos dias atuais a informatização ainda não é implantada de modo geral em todos os hospitais do Brasil, tornando assim os dados emitidos de forma manual sendo realizados de maneira inadequada, dificultando a localização de informações quando necessária, além de consumir tempo e possibilitar informações erradas. Porém é de grande importância para a qualidade dos serviços que envolvam a farmácia, o enfermeiro e a equipe médica, pois a informatização do sistema é uma ferramenta que deve ser empregada para que haja a diminuição de eventos adversos e erros com a medicação, redução de tempo de trabalho, maior confiabilidade e rapidez na produção de informações (CAVALLINI, 2010; ANACLETO, 2006). Estudos epidemiológicos advertem que uma boa parte dos erros com medicação está relacionada às prescrições de medicamento e, para tal problema, a melhor forma para se evitar seria o desenvolvimento e implantação de um sistema informatizado de prescrição médica eletrônica para evitar ao máximo as prescrições escritas à mão (CAVALLINI, 2010; ANACLETO, 2006; ROSA, 2009). O sistema de identificação de pacientes, medicamentos e materiais médicos hospitalares por código de barras, que significa uma marcação gráfica caracterizada por uma sequência de barras paralelas claras e escuras, cuja combinação representa caracteres alfa numéricos que oferecem informações específicas. O código de barra tem como objetivo padronizar informações, obter rapidez ao atendimento e aperfeiçoar o controle de informações. Para o sistema de distribuição de medicamentos robotizados, sua utilização é indispensável, de modo que no controle de estoque é utilizado frequentemente. Embora apresente um custo elevado, pode acrescentar informações de extrema importância como a entrada, a distribuição e administração de medicamentos no hospital, o controle de validade e lotes no armazenamento, reduzindo assim erros de medicação (CAVALLINI, 2010; NETO, MAIA, 2005). Há um amplo volume de informações sobre os medicamentos como as apresentações comerciais, marcas e fármacos que torna impossível para os profissionais da saúde conseguir evitar os erros de medicação se não houver a sua disposição um banco de dados com fontes de informações eletrônicas ou um sistema informatizado (CAVALLINI, 2010; MASTROIANNI, 2009). 28 As principais vantagens da implementação de um sistema informatizado de prescrição eletrônica nos hospitais é melhorar a segurança dos dados sobre os medicamentos, acesso a padronização dos medicamentos, rapidez, legibilidade e simplificação do processo de prescrição, diminuição do custo de medicação, facilidade de informações entre os medicamentos a serem prescritos (doses, posologias, vias de administração, interações), melhor terapêutica e consequentemente a diminuição de erros de medicação, maior integração entre os profissionais da saúde, logo diminuição de desgastes pelo não comprimento ou extravio de documentos e prescrições (CAVALLINI, 2010; ANACLETO, 2006). Apesar das diversas vantagens que a implantação de um sistema informatizado de prescrição médica eletrônica apresenta, existem também algumas desvantagens como a falta de capacitação na área de informática por parte dos profissionais da saúde, situação financeira do hospital, rejeição pela equipe de saúde com a presença de inovação e adequação de sistemas, falta de rigidez e padronização dos processos e sistemas. Para que estes problemas possam ser resolvidos às sugestões seriam a montagem de um software especifico, treinamentos e suporte técnico aos usuários, padronização das rotinas e dos processos (CAVALLINI, 2010). Nos processos de informatização a intenção seria que as instituições hospitalares transformassem de forma a moderniza-las e modifica-las tanto os aspectos gerenciais quanto o pensamento dos profissionais da área da saúde, para que a tecnologia possa ser implementada em grande parte dos hospitais (MALTA, 2011; CAVALLINI, 2010). Diante de tantos avanços tecnológicos na sociedade, o ideal seria adotar todos os meios oportunos e disponíveis para preservar os pacientes que são atendidos diariamente nos hospitais. Com base na discussão a respeito da segurança no processo de uso do medicamento, é recomendada a informatização e a automação como meios para se evitar erros e eventos adversos, um mecanismo amplamente disponível e eficiente como fonte de segurança (MALTA, 2011). No processo de informatização existe a presença de rastreabilidade que trata de um aparelho de identificação que da origem do produto desde as matérias primas utilizadas, processo de produção, distribuição no mercado, até o consumo. No âmbito hospitalar, é a capacidade do hospital em monitorar o recebimento, distribuição, dispensação e administração mantendo-se o controle sobre lote e validade dos medicamentos nestes processos (Figura 02) (MALTA, 2011) 29 Figura 02: Aparelho utilizado para rastreabilidade de medicamentos. Fonte: Malta, 2011. Com a presença da rastreabilidade de medicamentos, no momento da leitura do código, o sistema importa automaticamente os dados de lote e validade e elimina a possibilidade de erro no registro destes dados no sistema de gestão de estoques. A simples proposta do uso de código de barras torna o uso de medicamentos mais seguro, encarregando à tecnologia um processo que é imensamente sujeito a falha quando limitado a procedimentos e controles administrativos (MALTA, 2011). Por diversas vezes os responsáveis pelas farmácias hospitalares encontram dificuldades que impedem o desenvolvimento de projetos de rastreabilidade ou por motivos financeiros ou falta de apoio da empresa. Entretanto, vale destacar que existem soluções para as questões financeiras, pois existem diversos valores de sistemas disponíveis, e os custos gerados pelo erro e o tempo de mão de obra gastos com tarefas que não acrescentam valor e só oferecem mais riscos, são fatores que naturalmente demonstram o rápido retorno do investimento (MALTA, 2011). 4.5.2. Controle de distribuição de medicamentos Para que seja garantido o sucesso da implantação e controle de um sistema de distribuição na área hospitalar, diversos fatores devem ser analisados, tais como: o tipo de hospital (privado ou público), o tipo de serviço (geral ou especializado) e os recursos disponíveis (humanos, materiais e econômicos). É necessário verificar a estrutura 30 organizacional e física do hospital, analisar a qualificação do corpo funcional, suas competências e as funções que desempenham para obter uma melhor assistência a saúde, garantir eficiência, economia e segurança (CAVALLINI, 2010; ORTIZ, 2004; ANACLETO, 2006). Existem várias vicissitudes dentro dos hospitais que dificultam as mudanças de melhora que se deseja realizar, sobretudo quando se trata de um controle mais rigoroso sobre aquisição, armazenamento e distribuição de medicamentos. Os desvios e a má administração de uso de medicamentos representam a cada vez mais questionamentos que devem ser resolvidos (NETO MAIA, 2005). O controle de dispensação de medicamentos no âmbito hospitalar é responsabilidade da equipe da farmácia que são os responsáveis pela distribuição da medicação com precisão, e para isso é necessário desenvolver e seguir procedimentos operacionais que previnam erros e garantam que os medicamentos sejam distribuídos com segurança aos pacientes. Para isso os passos a seguir são considerados fundamentais para promoção de uma dispensação adequada (ANACLETO, 2006; COREN-SP 2011): · Armazenar medicamentos em locais seguros e diferenciados daqueles medicamentos que possam causar erros irreversíveis, organizando-os por ordem alfabética segundo a denominação (genérica; similar e referência), prateleiras, armários e gaveteiros organizados de acordo com a forma farmacêutica, colocando em áreas separadas: sólidos, orais, líquidos, injetáveis de pequeno volume e de grande volume e medicamentos de uso tópico; implantação de normas de conferência dos medicamentos armazenados para evitar que sejam guardados em locais errados ou misturados com outros itens. · Disponibilizar local adequado para distribuição de medicamentos, sem fontes de distração e que proporcione pouca ou nenhuma interrupção. · Adotar sistema de distribuição de medicamentos por dose unitária e⁄ou individualizada. · Dispensar a medicação e a prescrição juntas durante todo o processo, este procedimento é importante na prevenção de trocas de medicamentos, evitando que o medicamento prescrito para um paciente seja dispensada para outro. · Comparar o conteúdo da medicação com a informação do rótulo e a prescrição. · Registrar o código de identificação do produto prescrito em sistema informatizado, este registro permite a verificação automatizada da prescrição e dos medicamentos separados para dispensação. 31 · Reduzir a complexidade, simplificando e padronizando procedimentos, diminuir o número de passos ou etapas no processo de trabalho, limitar a variedade de medicamentos, equipamentos, suprimentos e regras no processo de trabalho. · Antecipar e analisar os possíveis riscos derivados de mudanças nos processos de trabalho, para prevenir erros antes e não depois que ocorram. · Desenvolver e implementar programas de educação centrados na segurança do paciente que incluam informações sobre uso de novos medicamentos e treinamento da equipe multiprofissional nas diferentes etapas do sistema de medicação. · Incluir um farmacêutico clínico na equipe multidisciplinar que verifique a adequação da prescrição e a dose do medicamento e que esteja disponível para esclarecimento de dúvidas nas outras etapas do processo de medicação. · Efetuar a conferência final da prescrição com o resultado da dispensação utilizando automação, como código de barras, em caso de não haver informatização a conferência deve ser manual. Para que haja o cumprimento de práticas seguras no habitual de uma farmácia hospitalar é necessária uma supervisão farmacêutica que envolva todas as etapas do trabalho farmacêutico, assim como uma análise minuciosa dos medicamentos a serem dispensados, gerar atividades que possam garantir eficiência, eficácia, economia e segurança. Para o bom êxito do controle da dispensação de medicamentos seria o controle de estoque, a padronização de medicamentos e produtos afins, envolvimento de recursos humanos capacitados para o exercício das funções e controle da qualidade dos processos seguidos (CAVALLINI, 2010; NETO MAIA, 2005; ANACLETO, BISSON, 2006). 4.5.3. Sistema de Distribuição De acordo com a Portaria nº 4.283, de dezembro de 2010, A implantação de um sistema racional de distribuição de medicamentos e de outros produtos para a saúde deve ser priorizada pelo estabelecimento de saúde e pelo farmacêutico, de forma a buscar processos que garantam a segurança do paciente, a orientação necessária ao uso racional do medicamento, sendo recomendada a adoção do sistema individual ou unitário de dispensação (BRASIL, 2010, p. 2). O sistema de distribuição de medicamentos de um hospital deve estar de acordo com o esquema terapêutico prescrito garantindo segurança, economia, eficiência e ser racional. O sistema deve atender a todas as áreas do hospital onde são utilizados medicamentos e produtos para saúde (MAIA NETO, 2005; CAVALLINI, 2010). 32 De acordo com a OPAS - Organização Pan Americana de Saúde, os principais objetivos de uma distribuição de medicamentos é reduzir erros de medicação, racionalização, aumentar o controle sobre os medicamentos, reduzir os custos com medicamentos e aumentar a segurança para os pacientes (OPAS/OMS, 1997). Para viabilizar um sistema de distribuição de medicamentos individualizado ou um sistema de distribuição por dose unitária é necessário acima de tudo fracionar os medicamentos e segundo a RDC nº. 67, de 8 de outubro de 2007, esclarecendo que o fracionamento é um procedimento que integra a dispensação de medicamentos na forma fracionada efetuado sob a supervisão e responsabilidade de profissional farmacêutico habilitado, para atender à prescrição ou ao tratamento correspondente nos casos de medicamentos isentos de prescrição, caracterizado pela subdivisão de um medicamento em frações individualizadas, a partir de sua embalagem original, sem rompimento da embalagem primária, mantendo seus dados de identificação. Para que o medicamento seja fracionado é necessário que o mesmo passe pelo processo de identificação e rotulagem, que as embalagens utilizadas neste processo possam garantir a integridade, estabilidade e eficácia. Torna-se necessário a participação e o comprometimento de toda a equipe de saúde envolvida: médicos, farmacêuticos e enfermeiros (FREITAS, 2004). Sistema de distribuição por dose individualizada No sistema de distribuição de medicamentos por dose individualizada a farmácia recebe a prescrição médica de cada paciente por um sistema informatizado ou uma cópia da mesma em mãos. Então, o farmacêutico prepara ou supervisiona o técnico de farmácia que preparará as doses que serão encaminhadas para enfermagem que irá administrar o medicamento ao paciente, e logo após avaliação do paciente pelo médico e o farmacêutico clínico (Figura 03) (NETO, MAIA, 2005; CAVALLINI). O processo de preparação dos medicamentos para serem distribuídos pode ser totalmente manual ou com o apoio de diversos equipamentos semiautomáticos. Sempre que possível essa preparação deverá ser apoiado com equipamentos semiautomáticos, pois se torna assim possível: reduzir os erros; reduzir o tempo destinado a esta tarefa; melhorar a qualidade do trabalho executado, racionalizar os diversos estoques nas unidades de distribuição (SBRAFH, 2005). As doses poderão ser utilizadas por um período de até 24 horas, como é desejável. Aos fins de semana terão de ser distribuídos os medicamentos para o período de 48 ou 72 horas. 33 Estas serão encaminhadas para cada unidade assistencial de forma a serem administradas diretamente ao paciente no seu respectivo leito (NETO, MAIA; SBRAFH 2005, CAVALLINI, 2010). Figura 03: Fluxograma por dose individualizada. Fonte: Adaptado por SBRAFH, 2005. Com o auxílio e supervisão adequada do farmacêutico, o sistema por dose individualizada passa a ter algumas vantagens, pois a atuação do profissional farmacêutico minimizar alguns fatores devido à condição de analisar as prescrições e os esquemas terapêuticos informando ao médico os problemas relacionados à interação medicamentosa, dosagens excessivas ou inadequadas e outros fatores de suma importância, bem como ter a segurança de manipular as doses prescritas pelo médico, diminuindo a possibilidade de erros na dispensação, redução de estoque nos setores, atendimento da medicação por um período de 24 horas, redução do tempo gasto pela enfermagem, possibilidade de devolução a farmácia dos medicamentos que não foram utilizados (NETO, MAIA; 2005, CAVALLINI, 2010). Porém este sistema ainda apresenta algumas desvantagens relevantes como indício de aumento de erros de administração das doses por ineficiência própria dos procedimentos 34 utilizados para preparar a tabela de administração de doses, controle e registro no prontuário médico; tempo gasto pela enfermagem para separar as dosagens para os pacientes; desperdiço por falta de conservação adequada onde são estocados. Algumas desvantagens podem ser consideradas pela administração do hospital do ponto de vista técnico que é gerado através do aumento das atividades da farmácia, investimento inicial, aumento de recursos humanos e de infraestrutura da farmácia (NETO, MAIA; 2005, CAVALLINI, 2010). O fato da participação do farmacêutico neste sistema determina um cuidado mais amplo. Entretanto nenhuma tecnologia em particular é levada em consideração na preparação da dose individualizada, pois não há motivos para promover um trabalho mais determinado, pelos funcionários que desempenham suas tarefas na Farmácia (NETO, MAIA; 2005). Sistema de distribuição por dose unitária O Sistema de Distribuição de Medicamentos por Dose Unitária (SDMDU) é um método farmacêutico de dispensação e controle de medicamentos em instituições de saúde, e pode diferir na sua forma de execução, dependendo das condições e necessidades institucionais. Neste, os medicamentos são contidos em embalagens unitárias, dispostos conforme o horário de administração e prontos para serem administrados segundo a prescrição médica, individualizados e identificados para cada paciente, na dose certa e no horário certo (SILVA; CARVALHO, 2006;QUIRINO, 2003; CAVALLINI, 2010). Os principais objetivos do sistema por dose unitária são: garantir a adequada terapia farmacológica, cumprir a prescrição médica evitando erros, prover o acompanhamento farmacoterapêutico, diminuir erros de medicação, racionalizar o processo de distribuição dos medicamentos, reduzindo custos, proporcionar melhor segurança, rastreabilidade e identificação dos medicamentos, reduzir os estoques periféricos, com melhor controle logístico dos produtos farmacêuticos, favorecer a correta administração dos medicamentos, reduzir o tempo da enfermagem no preparo e administração de medicamentos, aumentar a qualidade assistencial ao paciente, dar suporte para a implantação da farmácia clínica, racionalizar a terapêutica (SILVA; CARVALHO, 2006; QUIRINO, 2003; CAVALLINI, 2010, ASHP, 2002; DEBIASI, 2009). No sistema de dispensação de medicamentos por dose unitária, a solicitação de medicamentos é feita com base na cópia da prescrição (ou por algum tipo de sistema informatizado), por paciente e para 24 horas. A medicação é preparada em dose e 35 concentração determinadas na prescrição médica, sendo administrada ao paciente diretamente de sua embalagem “unitarizada”, ou seja, “dose prescrita como dose de tratamento a um paciente em particular, cujo envase deve permitir administrar o medicamento diretamente ao paciente” Após a separação dos medicamentos, o farmacêutico procede a conferência da dose unitária, de acordo com a prescrição médica. Caso seja necessário, no momento do registro do perfil farmacoterapêutico, as incorreções ou possíveis problemas detectados devem ser relatados à equipe médica (Figura 04) (ASHP, 2002; DEBIASI, 2009). Figura 04: Fluxograma sistema de dose unitária. DOSES ELABORADAS PELA FARMÁCIA PARA ADMINISTRAÇÃO Fonte: Adaptado por Cavallini, 2010. O sistema de dose unitária é dividido em três sistemas (DEBIASI, 2009; QUIRINO, 2003; CAVALLINI, 2010) Sistema Centralizado: As doses são preparadas na Farmácia Central e distribuídas para todo o Hospital. Pelo fato da centralização, o controle de estoque e a supervisão da preparação das doses, pelo Farmacêutico, ficam mais contundentes. 36 Sistema Descentralizado: As doses são preparadas nas Farmácias Satélite (descentralizadas) e ao final de cada preparação, os quantitativos do consumo são enviados à Farmácia Central. Sistema Combinado: O sistema é combinado quando ao mesmo tempo, que as Farmácias Satélites estão atuando na preparação de doses, a Farmácia Central deixará de operar e vice-versa. Este esquema facilita a adequação aos horários de administração de doses e objetiva uma redução nos recursos humanos, aproveitando da melhor forma possível, o horário de trabalho do pessoal existente no quadro de funcionários da Farmácia (DEBIASI, 2009). O SDMDU apresenta inúmeras vantagens em relação aos demais sistemas. Entre elas, Storpirtisel al (2008) e Cavallini (2010) mencionam: garantia que o medicamento prescrito chegue ao paciente para qual foi destinado, utilização de forma eficiente e racional dos recursos humanos envolvidos com o processo de dispensação, diminuir o custo hospitalar associado ao medicamento, ao minimizar o tamanho dos estoques de medicamentos dos serviços, diminuindo os desperdícios por perdas, deterioração, vencimento, e outros fatores, recuperando os medicamentos não administrados ao paciente e diminuindo os erros de medicação. Maior facilidade de adaptação a procedimentos informatizados e automatizados, atuação efetiva e dinâmica do profissional farmacêutico, redução do tempo gasto pela enfermagem para separar a medicação, devolução dos medicamentos não utilizados á farmácia. Algumas desvantagens podem ser vistas no Sistema de Distribuição de Medicamentos por Dose Unitária (SDMDU) como aumento das necessidades de recursos humanos e infraestrutura da farmácia hospitalar, exigência de investimento inicial, incremento das atividades desenvolvidas pela farmácia e aquisição de matérias-primas e equipamentos especializados. Mas do ponto de vista técnico, estas aparentes desvantagens seriam na realidade condições necessárias à adequação e melhoria do sistema (SILVA; CARVALHO, 2006; CAVALLINI, 2010). Porém as desvantagens são condições necessárias a adequação e melhoria do sistema, ou seja, as ditas “desvantagens” acabam se tornando amplitude de resultados positivos. É importante entender o sistema de dose unitária como uma linha de produção, na qual todos os passos são minuciosamente acompanhados, controlados e conferidos pelo farmacêutico, garantindo a eficiência operativa e a segurança do paciente. (CAVALLINI, 2010) 37 O sistema individualizado representa um progresso na conquista de garantia e segurança quanto a prescrição. Apresenta como o mais completo e vantajoso, não só pela sua viabilidade econômica, mas pelo atendimento aos requisitados que visam beneficiar o alvo das atenções que fazem a área de saúde: paciente. Por isso muitos farmacêuticos preferem esse sistema antes de implantar a dose unitária. O sistema de dose unitária é o que mais responde aos objetivos da dispensação: racionalidade, eficiência, economia e segurança (CAVALLINI, 2010) No entanto, segundo o “Diagnostico de Farmácia Hospitalar Brasileira”, apenas 0,4% dos hospitais brasileiros utilizam o sistema unitário, por esse sistema oferecer um custo elevado para sua implantação, falta de apoio da empresa, necessidade de profissionais capacitados. Apesar das dificuldades este apresenta como sendo custo-efetivo. Espera-se que essa porcentagem aumente no decorrer dos anos, a exemplo do que já ocorre em países do primeiro mundo (MAIA NETO, 2005). Assim, conclui-se que o sistema de dispensação de medicamentos por dose unitária oferece atualmente as melhores condições para um adequado atendimento da terapia medicamentosa proposta aos pacientes e oferece maior segurança na assistência, assim como a correta utilização de recursos humanos relacionados aos setores de farmácia e enfermagem o que aprimora os cuidados ao paciente. Ainda a racionalização do uso dos produtos e investimento financeiro efetuado pela instituição. É necessário planejamento no processo de implantação visto que o mesmo requer altos valores investidos, a necessidade de profissionais capacitados para este fim e um cronograma gradual de atendimento das unidades de internação (CAVALLINI, 2010; MAIA NETO, 2005; SILVA; CARVALHO, 2006). 4.5.4. Farmácia Clínica De acordo com o Comitê de Farmácia Clínica da Associação Americana de Farmacêuticos Hospitalares, Farmácia Clínica é definida como: “A ciência da saúde cuja responsabilidade é assegurar, mediante aplicação deconhecimentos e funções, que o uso do medicamento seja seguro e apropriado, necessitando, portanto, de educação especializada e interpretação de dados, motivação pelo paciente e interação multiprofissional” (CRF- SP, 2007, p. 13). A farmácia clínica é um conceito que transforma a farmácia hospitalar de fabricante e dispensador de medicamentos, para uma intervenção farmacêutica baseada no paciente direta ou indiretamente e na melhor maneira de lhe dispensar os cuidados farmacêuticos com os menores riscos possíveis. Para isso, o farmacêutico hospitalar tem de fazer parte da equipe 38 clínica, acompanhando diretamente o paciente nos serviços, prestando apoio contínuo aos médicos e enfermeiros desses serviços (CAVALLINI, 2010; BISSON, 2006). As principais competências a serem desenvolvidas para a atividade clínica do farmacêutico é a capacidade de solucionar problemas, gerenciar conflitos e manter participação na equipe multidisciplinar, compreender termos médicos, conhecer os prontuários, avaliar e gerenciar informações médicas de forma a promover o uso racional de medicamentos, conhecer adequadamente a fisiopatologia e farmacoterapia para promover uso racional de medicamentos, interpretar e utilizar dados laboratoriais de forma adequada a gerar medidas de intervenção farmacêutica que levem a otimização da farmacoterapia (ACCP, 2005; BISSON, 2006). As funções da farmácia hospitalar é cada vez mais desenvolvida e são fundamentais para uma boa utilização do medicamento, a presença de farmacêuticos hospitalares altamente especializados, apoiados por suportes técnicos e informáticos que lhes permitam corresponder às solicitações dos serviços clínicos (BISSON, 2006; CAVALLINI, 2010). Estudos feitos em diversos países relataram que a presença de morbidade e mortalidade atribui-se diretamente a medicamentos, podendo ser evitados com a existência de farmacêuticos clínicos nos serviços. É necessário haver farmacêuticos especializados e disponíveis para estes serviços, assim como suporte técnico adequado. O aconselhado para a farmácia clínica é de um farmacêutico por serviço de internamento ou por 60 leitos. É necessário também assegurar um local de trabalho para esse profissional nesses serviços, que pode ser partilhado com outros profissionais, para facilitar uma presença efetiva do farmacêutico clínico nesses locais (ACCP, 2005; CAVALLINI, 2010). A prática de farmácia clínica ajusta com o conhecimento terapêutico especializado, experiência e julgamento para o fim de assegurar resultados positivos em pacientes e tem a obrigação de contribuir para a geração de novos conhecimentos e avanços da saúde e qualidade de vida (ACCP, 2005). 39 4.5.5. Atenção Farmacêutica Charles Hepler e Linda Strand definem atenção farmacêutica (Pharmaceutical Care) como “a provisão responsável do tratamento farmacológico com o proposito de alcançar resultados terapêuticos concretos que melhorem a qualidade de vida dos pacientes”. (HEPLER & STRAND, 1990). A atenção farmacêutica está inserida na área hospitalar, casas de saúde, drogarias, farmácias e a pacientes que recebem atendimento domiciliar. O sistema de atenção farmacêutica exige mudanças no comportamento profissional, atitudes, responsabilidades para o bom êxito de qualquer programa de atenção farmacêutica (NOVAES, 2009; MACHUCA, 2004; CONSENSO BRASILEIRO DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA, 2002). Para que haja uma redução nos erros de medicação no âmbito hospitalar, uma das estratégias para se evitar essa problemática seria o seguimento farmacoterapêutico (NOVAES, 2009). Na Espanha, o Consenso de Atenção Farmacêutica, seguido pelo Ministério de Sanidade e consumo, define “seguimento farmacoterapêutico“ como sendo “a pratica profissional em que o farmacêutico se responsabiliza pelas necessidades do paciente relacionadas com os medicamentos mediante a detecção, prevenção e resolução de problemas relacionados com a medicação (PRM), de forma continua, sistematizada e documentada, em colaboração com o próprio paciente e com outros profissionais da equipe de saúde, com o fim de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente” (NOVAES; 2009). O Seguimento Farmacoterapêutico representa um campo de intervenção farmacêutica em que o profissional pode colaborar de forma significativa para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo a morbidade, a mortalidade associada aos medicamentos e, no caso de pacientes internados, o tempo de internação (MACHUCA, 2004). A atenção farmacêutica é um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Abrangendo atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde, assim promovendo o trabalho em equipe. É a interação direta do farmacêutico com o usuário do medicamento, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados determinados, voltados para melhora da qualidade de vida (CONSENSO BRASILEIRO DE ATENÇÃO FARMACÊUTICA, 2002). 40 De acordo com Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutico, os macro componentes resultantes da busca do consenso são os seguintes: · educação em saúde (incluindo promoção do uso racional de medicamentos); · orientação farmacêutica; · dispensação; · atendimento Farmacêutico; · acompanhamento/seguimento farmacoterapêutico; · registro sistemático das atividades, mensuração e avaliação dos resultados. Para que o farmacêutico esteja incorporado na equipe de saúde e apresentando as suas responsabilidades diante da sociedade, Holland & Nimmo propõem três pré-requisitos para a mudança na prática individual do farmacêutico e suas respectivas estratégias. Ambiente adequado onde possa exercer a prática de atenção farmacêutica, recursos que promovam e apresente oportunidades ao aprendizado, o desenvolvimento das habilidades e o conhecimento exigido, e por fim estratégias motivacionais com o intuito de convencer o profissional praticar a mudança de forma a melhorar tudo em sua volta (HOLLAND & NIMMO, 1999). Desta forma, pode-se dizer que é indispensável a prática da atenção farmacêutica, pois é algo inovador e que, se for feita de forma correta, auxilia na melhora da qualidade de vida. Para isso, é essencial que o farmacêutico adquira novos conhecimentos e habilidades que possam habilitá-lo a atuar na equipe de saúde a fim de identificar, prevenir e resolver os PRMs que os pacientes possam apresentar, assim como promover o uso racional de medicamentos (MACHUCA, 2004). 4.5.6. Serviço de Farmacovigilância Os serviços de farmacovigilância apresentam um conjunto de procedimentos relacionados à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de reações adversas a medicamentos ou quaisquer outros possíveis problemas relacionados a fármacos. Tem como objetivo principal a redução das taxas de morbidade e mortalidade associada ao uso de medicamentos, através da detecção precoce de problemas de segurança desses produtos para os pacientes, além de melhorar a seleção e o uso racional dos medicamentos pelos profissionais de saúde, utilizando a principal ferramenta “notificação espontânea” (Figura 05) (CENTRO DE VIGILANCIA SANITARIA , 2013). 41 Figura 05: Fluxo de trabalho do núcleo de farmacovigilância CVS⁄SP. Fonte: <http://www.cvs.saude.sp.gov.br/apresentacao.asp?te_codigo=22> Com a presença das redes sentinelas que está integrada na farmacovigilância haverá mais segurança e qualidade para pacientes e profissionais de saúde, que é apresentado como um projeto criado pelo setor de Vigilância em Serviços Sentinela, integrante da área de Vigilância em Eventos Adversos e Queixas Técnicas da Anvisa, em parceria com os serviços de saúde brasileiros (hospitais, hemocentros e serviços de apoio diagnóstico e terapêutica), Associação Médica Brasileira (AMB) e órgãos de Vigilância Sanitária Estaduais e Vigilâncias Municipais. Tem como objetivo construir uma rede de serviços em todo o País preparada para notificar eventos adversos e queixas técnicas de produtos de saúde; insumos, materiais e medicamentos, saneantes, kits para provas laboratoriais e equipamentos médico-hospitalares em uso no Brasil, para ampliar e sistematizar a vigilância de produtos utilizados em serviços de saúde (ANVISA, 2013). 42 4.6. PROPOSTAS DE ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DE ERROS A prevenção de erros de medicação e promoção da segurança do paciente são assuntos de extrema importância no sistema de saúde envolvendo diferentes áreas, setores, equipe multiprofissional, onde as políticas públicas devem aprimorar o sistema de medicação, incluindo estrutura, educação e processos que garantam segurança a população (COREN-SP, 2011). Com base na Portaria nº 529, de 1º de abril de 2013 que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) tem como principais objetivos Ipromover e apoiar a implementação de iniciativas voltadas à segurança do paciente em diferentes áreas da atenção, organização e gestão de serviços de saúde, por meio da implantação da gestão de risco e de Núcleos de Segurança do Paciente nos estabelecimentos de saúde; II - envolver os pacientes e familiares nas ações de segurança do paciente; III - ampliar o acesso da sociedade às informações relativas à segurança do paciente; IV - produzir, sistematizar e difundir conhecimentos sobre segurança do paciente; e V - fomentar a inclusão do tema segurança do paciente no ensino técnico e de graduação e pós-graduação na área da saúde (Brasil, 2013; p. 01). O paciente é o principal afetado com erros provocados nos hospitais, dessa forma a segurança destes deveria estar em primeiro lugar, o ideal seria analisar todos os fatores que provocassem a insegurança destes paciente com base em estratégias, maneiras, estudos, análises das práticas dos profissionais, evitando que erros nos hospitais acontecessem (BRASIL, 2013). Os recursos organizacionais de uma empresa precisam ser administrados adequadamente e as pessoas são os únicos meios capazes de autodireção e desenvolvimento. Para que os objetivos tanto da empresa quanto interpessoal sejam alcançados é necessário uma organização com a interação entre pessoas, avaliação do desempenho da equipe e treinamentos frequentes. O treinamento é um processo educacional direcionado em um período curto de tempo inserido de maneira sistemática e organizada de maneira que as pessoas obtenham conhecimento, habilidades e competências em função de objetivos definidos (CHIAVENATO, 2009). Para que tenha uma redução nos erros de medicação no âmbito hospitalar, é necessário que haja algumas propostas de estratégias de prevenção destes erros, visando os principais profissionais: médicos, farmacêuticos e enfermeiros que estão diretamente interligados de maneira geral tanto com a prescrição, medicamento, e administração destes no próprio paciente (COREN-SP, 2011). 43 Segue abaixo quadro com as principais estratégias para prevenção de erros de medicamentos relacionada à equipe dos profissionais médicos, farmacêuticos e enfermeiros. Quadro 03: Estratégias para evitar erros de medicação com base nos profissionais médicos, farmacêuticos e enfermeiros. Fonte: Adaptado por COREN-SP, 2011, Cavallini, 2010; Maia Neto, 2005; Novaes, 2009. As principais estratégias básicas que se devem apresentar em um hospital relacionadas a equipe de saúde em destaque os profissionais médicos, farmacêuticos e enfermeiros são a redução da carga horaria, evitando o excesso de trabalho, treinamento periódico das equipes, implantação de informatização no hospital. Como estratégia especifica para farmacêuticos a presença de atenção farmacêutica, farmacêutico clinico e controle na distribuição de medicamentos. Na equipe de enfermeiro uma das principais estratégias é o cuidado e atenção na administração de medicamentos. Com base nestas principais estratégias pode se evitar significantemente os erros de medicação e promover uma maior qualidade de assistência em saúde (quadro 03) (COREN-SP, 2011, CAVALLINI, 2010; MAIA NETO, 2005; NOVAES, 2009). 4.6.1. Profissional Médico De acordo com o Art. 2° do código de ética médica (1988, p. 03) “O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir como máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional”. 44 O paciente é o fator determinante para o funcionamento de um hospital pela qual deve ser tratado com o maior zelo possível. E os principais responsáveis por esses pacientes são os profissionais da saúde que estão disponíveis para promover a melhora da assistência à saúde. O médico é um dos principais profissionais que está interligado com o paciente e que inicia o processo de tratamento dos mesmos. Portanto é necessário que estes profissionais sigam estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospital, e as principais propostas sugeridas são: (GIROTTO, 2006; FRÖHLICH, 2006; CRUCIOL-SOUZA, 2008; SILVA et. al, 2006) · Padronizar as prescrições. · Evitar emprego de abreviações, evitar o uso de casa decimal, destacar as alergias conhecidas, colocando a informação na capa do prontuário, na prescrição do dia e na pulseira do paciente, uniformizar a utilização de unidades de medida, incluir informações sobre peso do paciente. · Implantar sistema eletrônico de prescrição de medicamentos com recursos de apoio à decisão clínica. · Disponibilizar local adequado para a prescrição de medicamentos, sem fontes de distração e que proporcione poucas interrupções. · Documentar o cálculo das doses de medicamentos de alto risco no prontuário do paciente. · Implantar checagem do cálculo de medicamentos, por dois ou mais profissionais, sempre que possível. · Incluir um farmacêutico clínico na equipe multidisciplinar que verifique a adequação da prescrição e a dose do medicamento e que esteja disponível para esclarecimento de dúvidas nas outras etapas do sistema de medicação. · Solicitar que o médico refaça os cálculos da dose prescrita sempre que houver dúvidas ou discordância em relação à prescrição. · Não interpretar letras incompreensíveis; esclarecer com quem prescreveu. · Não executar prescrições rasuradas. · Nunca realizar prescrição quando tiver dúvida, procurar esclarecer com o médico, enfermeiro e ou farmacêutico. · Disponibilizar acesso fácil a informações científicas atualizadas e relevantes sobre terapia medicamentosa a todos os profissionais da equipe. · Desenvolver continuamente habilidade na realização de cálculos. 45 · Aumentar o quadro de profissionais para melhor atender os pacientes. · Reuniões multidisciplinares entre enfermagem, médicos e farmácia. · Seleção de medicamentos fundamentada em evidências inequívocas de eficácia, segurança, ao melhor custo-efetividade comparado a outras opções terapêuticas. · O prescritor deve avaliar a aceitabilidade e conveniência para o paciente, preferencialmente, dentre as alternativas disponíveis no sistema, considerando a possibilidade de acesso do paciente ao menor custo para o sistema, preservando sua equidade. · Aumentar a segurança na utilização de medicamentos, pois existem softwares desenvolvidos para prescrição computadorizada, permitindo apenas a emissão de prescrições completas com todos os campos e informações preenchidas, evitando falhas por falta de informações e até mesmo alertando interações medicamentosas perigosas, tais como as vedadas pela Portaria SVS/MS 344/98. · Apresentar informações sobre o medicamento (forma farmacêutica, dosagem e apresentação) e o seu modo de usar (posologia, via de administração, tempo de tratamento) (BEIJAMIN, 2003; ABRANTES et al, 2002). · No caso de prescrições irracionais de antimicrobianos, ainda podem levar ao recrudescimento da infecção e desenvolvimento de resistência microbiana. Portanto não basta o diagnóstico e seleção adequada do medicamento se a prescrição não for devidamente prescrita e dispensada, contendo todas as informações legais (ABRANTES et al, 2002; BEIJAMIN, 2003). Faz-se necessário que a prescrição seja vista como um documento terapêutico, pois apenas desta forma será um instrumento efetivo para assegurar o uso racional do medicamento, prevenindo erros de medicação abuso ou ainda uso ilícito. Portanto, os dados corroboram com a necessidade de atualização dos profissionais prescritores, dispensadores, bem como atuação orientativa dos respectivos conselhos de classe. Os profissionais prescritores e dispensadores precisam estar cientes do seu papel e responsabilidade no que diz respeito à legislação sanitária e profissional (GIROTTO, SILVA, FRÖHLICH, 2006). Os prescritores devem ter o conhecimento dos medicamentos escolhidos baseados nas evidências clínica para a tomada da decisão terapêutica mais reflexiva e assertiva, de maneira a buscar maiores níveis de segurança para o paciente. Portanto, a prescrição é um instrumento legal e um meio de comunicação, para tal devem ser cumpridas as exigências legais para o efetivo tratamento medicamentoso do paciente (FRÖHLICH, 2006). 46 4.6.2. Enfermeiro De acordo com um estudo transversal, descritivo exploratório, desenvolvido em um hospital do interior de São Paulo, por meio de relatos da equipe de enfermagem apresentando condutas e ações do enfermeiro frente aos erros na medicação, obteve-se propostas para se sugerir estratégias simples para evitar erros de medicação da equipe de trabalho. Visa-se uma implementação por meio de política dos administradores das instituições hospitalares, sendo necessário primeiramente subdividir em três itens: estratégias referentes ao próprio profissional enfermeiro, administração institucional e o sistema de medicação (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). 4.6.2.1. Profissional Enfermeiro: · Ter conhecimento quanto aos métodos e técnicas de administração de medicamentos e correlatos, a ação destes no organismo, as vias de administração e eliminação, as doses máxima e terapêutica, os efeitos tóxicos e os efeitos adversos como também a compreensão nas áreas de anatomia, fisiologia, microbiologia e bioquímica, consequentemente obter uma boa experiência no seu local de trabalho (SILVA et. al, 2007). · Na ocorrência do erro, é fundamental que o profissional envolvido aja com honestidade, sem medo de punições, o que facilita o relato do incidente para que sejam tomadas as devidas providências, consequentemente promovendo modificações nas condições de trabalho, deslocando o enfoque da culpa dos indivíduos para a prevenção dos erros (SILVA et. al, 2007). · Atenção no preparo do medicamento é de fundamental importância na prevenção de erros na (MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Implantar o exercício da supervisão sistematizada de enfermagem (MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Advertência pela chefia de enfermagem como estratégia viável para a redução de erros na administração de medicamentos, evidenciando a visão do erro como causa individual e não como resultante de falhas no sistema (MIASSO, 2005). 47 · Educação, tanto do paciente quanto da enfermagem, investir na educação persistir na necessidade de o paciente adquirir o máximo de apoio na informação e compreensão acerca de sua terapêutica medicamentosa (SILVA CASSIANI, 2004). · Conscientizar na melhora das atitudes individuais como se atentar mais, melhorar a comunicação entre setores e pessoas, saber trabalhar em equipe (MIASSO, 2005). 4.6.2.2. Administração Institucional: · Investir na educação continuada, incluindo, nos relatos obtidos, a capacitação do profissional através da realização de palestras sobre medicamentos e cursos de aperfeiçoamento (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). . · Reduzir a carga horária de trabalho, promover o dimensionamento de recursos humanos e leitos evitando assim o acúmulo de pacientes nos quartos (MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Conscientizar a equipe de enfermagem para que tenha organização com relação às técnicas de administração de medicamentos e à importância desse procedimento no cuidado ao paciente, o que pode levar a erros de cálculos, de preparo e de administração (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Obter número suficiente de profissionais para atender a alta demanda de pacientes internados (MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Subdivisão da equipe de enfermagem (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Treinamento de equipes (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Mudanças na estrutura hospitalar, nas condições de trabalho, na comunicação e interação entre setores e pessoas (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). 4.6.2.3. Sistema de Medicação · Implantação da informatização com adequação do sistema de prescrição eletrônica que se torna uma forma de modernizar, simplificar e permitir o sistema de medicação mais seguro. Assim evitam-se problemas como erros de transcrição, de legibilidade, de abreviaturas inadequadas e de prescrições incompletas ou ambíguas. Entretanto, a 48 prescrição eletrônica é um sistema caro, mesmo para os padrões internacionais e, assim, nem todas as instituições podem contar com a sua implementação (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Dose unitária e ⁄ ou individualizada (SILVA et. al, 2007; MIASSO, 2005; SILVA CASSIANI, 2004). · Etiquetação de medicamento (MIASSO, 2005). · Redução de prescrições em um mesmo horário (SILVA et. al, 2007). · Cursos, aulas, projetos sobre administração de medicamentos (SILVA et. al, 2007). De acordo com tais itens citados envolvendo profissional enfermeiro, administração institucional e sistema de medicação, se forem feitos de maneira correta pode-se garantir redução de erros de medicação, uma evolução na administração e desenvolvimento do hospital, e consequentemente melhora na assistência a saúde (SILVA, PASSOS, CARVALHO, 2012; MIASSO, 2005; SILVA et. al., 2007). 4.6.3. Farmacêutico O NQF, National Quality Forum organização americana tem como objetivo encontrar estratégias em nível nacional para melhorar a qualidade da assistência sanitária. Em 2003 publicou um conjunto de práticas de segurança para prevenir erros assistenciais destacando o papel do farmacêutico: (ANACLETO, 2006): · Participação ativa em todos os processos do sistema de utilização dos medicamentos, incluindo sua disponibilidade para inter-consultas com os prescritores sobre os medicamentos prescritos, revisão de prescrições, preparação e dispensação dos medicamentos e monitorização dos tratamentos. · Os farmacêuticos devem revisar todas as prescrições e o perfil completo da medicação do paciente antes de dispensar os medicamentos. · A revisão da prescrição deve ser documentada no prontuário do paciente. · Devem ser estabelecidas normas e procedimentos sobre o papel do farmacêutico no sistema de utilização de medicamentos. Entre os itens citados anteriormente sobre o papel do farmacêutico, podem-se citar as seguintes funções do farmacêutico no hospital para prevenção de erros de medicação que se forem seguidas corretamente reduzirão significantemente os erros não só de medicação, mas 49 também organização hospitalar e a melhora da equipe profissional (CAPUCHO, 2011; CONSENSO BRASILEIRO DE ATENÇÃO FARMACEUTICA, 2002; MIASSO, 2005; ANACLETO, 2010). · Participação ativa do farmacêutico em todas as etapas do medicamento intervenção farmacêutica, atendimento farmacêutico, acompanhamento seguimento farmacoterapeutico, atenção farmacêutica entre outras atividades que competem ao farmacêutico. · A identificação de PRMs que segue os princípios de necessidade, efetividade e segurança, próprios da farmacoterapia. · Registro sistemático das atividades realizadas com o medicamento, mensuração e avaliação dos seus resultados. · Ter conhecimento dos medicamentos quanto a apresentação, rótulo, embalagem, princípio ativo, nome comercial, indicações, farmacodinâmica, farmacocinética. · Educação continuada através de cursos, projetos que visam a melhoria e conhecimento dos profissionais. · Informatização dos Sistemas que auxiliaria na pratica profissional, analise de prescrição, distribuição e dispensação dos medicamentos. · Melhorar comunicação e interação entre setores e pessoas. · Realização de reuniões entre a equipe multidisciplinar. De acordo com tais itens citados envolvendo farmacêuticos, se forem feitos de maneira correta pode-se garantir redução de erros de medicação. Para isso, é essencial que o farmacêutico adquira novos conhecimentos e avanços da saúde, promover a qualidade de vida e habilidades que possam habilitá-lo a atuar na equipe de saúde a fim de identificar, prevenir e resolver os PRMs, assim como promover a evolução na administração e desenvolvimento do hospital, e consequentemente melhora na assistência a saúde (SILVA et. al, 2007; MACHUCA, 2004; ACCP, 2005). 50 4.7. MANUAL DE ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DE ERROS DE MEDICAÇÃO EM AMBIENTE HOSPITALAR 51 MANUAL DE ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DE ERROS DE MEDICAÇÃO EM AMBIENTE HOSPITALAR Brasília – DF 2013 52 SUMÁRIO Apresentação 10 Informações Básicas Notícias sobre erros de medicação Propostas de estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar Organização Institucional Profissional Médico Profissional Enfermeiro Profissional Farmacêutico Equipe de saúde Considerações Finais Referências 53 Apresentação “Estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar” tem a finalidade de reunir informações essenciais sobre as principais causas dos erros de medicamentos que acontecem nos hospitais e como evitá-los através de propostas de estratégias com base em ações e práticas do dia a dia para os profissionais médicos, enfermeiros, farmacêuticos a equipe de saúde integrada e a organização institucional. Os erros de medicamentos em hospitais é uma grande preocupação não só no Brasil mais também no mundo, e os fatos, causas que levam a estes acontecimentos são fatores como, prescrições mal elaboradas, dispensação e administração de medicamentos em pacientes de forma incorreta, carga horária excessiva, falta de informatização, entre outros fatores que comprometem a saúde dos pacientes. Para a prevenção dos erros de medicação é necessária à implantação de ações e normas que envolvam a equipe multiprofissional da saúde e a sua organização. Por isso, este manual apresenta uma importância para promover a divulgação da problemática descrita, bem como propor alternativas de prevenção dos erros de medicação. Jéssica Becker Ferretti Universidade Católica de Brasília - UCB 54 10 INFORMAÇÕES BÁSICAS 55 10 INFORMAÇÕES BÁSICAS 1 Erros de medicação são caracterizados como casos previamente analisados que possam ser evitados, e normalmente realizados com a intenção de acerto, ou seja, acontecem em situações em que visivelmente tem-se um controle em qualquer fase do uso de medicamentos, podendo como consequência gerar agravos ao paciente (COREN, 2011; SILVA, PASSOS, CARVALHOS, 2012; WANNMACHER, 2005; CAVALLINI, 2010). 2 Os tipos de erros constatados podem aparecer desde a identificação do medicamento até sua administração ao paciente. A prática profissional pode levar a problemas de comunicação focando-se nos principais meios como a prescrição, distribuição e administração dos medicamentos ao paciente que podem resultar em uma ação indesejada (SANTOS, 2004; CAVALLINI, 2010). 3 Fatores mais relevantes encontrados em hospitais a cerca dos erros de medicação são as prescrições mal elaboradas como, por exemplo, a escolha incorreta do medicamento, doses inadequadas, via de administração, velocidade de infusão errado e documento ilegível (CAVALLINI 2010). 56 4 Os erros de medicação menos comuns abordados no âmbito hospitalar, são as razões da não adesão do paciente e da família, o comportamento inadequado do paciente ou cuidador quanto a sua participação na proposta terapêutica (COREN, 2011; CIPOLLE, 2006). 5 A causa do erro de medicação pode ser abordada dos no ponto de vista individual e sistêmico. E a abordagem dos erros no sistema de saúde são considerados atos inseguros cometidos por pessoas desatentas, desmotivadas e/ou com treinamento deficiente (ROSA, 2009; MIASSO, 2006). 6 De acordo com OMS (2002) e COREN (2011, p. 08), a presença dos seguintes fatores pode levar aos erros de prescrição: escolha incorreta do medicamento, dose do medicamento, via de administração, velocidade de infusão do medicamento, forma de apresentação do medicamento, prescrição ilegível, prescrição incompleta, período de tratamento, interações medicamentosas, duração do tratamento, falta de ajustes para fatores clínicos, genéticos, ambientais e outros. 7 A equipe da farmácia é a responsável pela dispensação de medicamentos com precisão, assim deve dispensar os medicamentos de acordo com a prescrição médica, nas quantidades e especificações solicitadas, de forma segura e no prazo 57 requerido, promovendo o uso seguro e correto de medicamentos e correlatos (ANACLETO, 2006). 8 A administração de medicamentos previne o erro através da conferência dos “cinco certos”: medicamento certo, paciente certo, dose certa, via de administração certa e horário certo. Desses itens, o “paciente certo” aparece como um desafio para os profissionais, exigindo mais atenção e cuidado perante o paciente (SILVA; PASSOS; CARVALHOS, 2012). 9 O excesso de trabalho, a falta de interação da equipe, o volume de tarefas, a carga horária pesada, as falhas na comunicação e os pacientes utilizando diversas medicações devem ser levados em conta e deve ser evitado para a integração dos setores entre os profissionais que são citadas como determinantes na ocorrência dos erros (MIASSO, 2006; CAVALLINI, 2010). 10 A política organizacional dos procedimentos para a prevenção dos erros no âmbito hospitalar deve envolver a equipe multidisciplinar, serviços de farmacovigilância e iniciativas voltadas a segurança do paciente que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) (CAVALLINI, 2010; ANACLETO, 2006; CHIAVENATO, 2009; BRASIL, 2013). 58 NOTÍCIAS SOBRE ERROS DE MEDICAÇÃO 59 NOTÍCIAS SOBRE ERROS DE MEDICAÇÃO 1 “Idoso de 83 anos internado na UTI – Hospital particular de Alfenas-MG para tratar uma pneumonia, teria recebido alimento pelo cateter ligado à veia no lugar de medicação”. 2 “Um professor de 53 anos morreu após receber injeção de penicilina para tratar dor de garganta, em Americana/SP. O médico do Pronto-Socorro prescreveu penicilina sem perguntar ao paciente sobre o histórico de alergias”. 3 “Em um hospital de Belo Horizonte/MG uma criança recebeu ácido no lugar de um sedativo. A técnica de enfermagem que administrou o medicamento relatou que os frascos eram muito semelhantes, fato que não justifica o erro. O ácido causou queimaduras graves no esôfago da criança”. 4 “Uma técnica de enfermagem injetou leite na veia de um bebê, num hospital da de Belo Horizonte/MG. A criança foi internada com pneumonia e era alimentada por uma sonda na boca, recebendo soro na veia. Na hora de repor os frascos, a técnica em enfermagem trocou a medicação pelo leite. A criança foi a óbito”. 5 “Menina de 12 anos morreu após receber vaselina na veia no lugar de soro, num hospital de São Paulo. A enfermeira que aplicou a substância disse que no frasco estava descrito que continha vaselina, mas que mesmo assim cometeu o equívoco”. 60 6 “Bebê de 8 meses recebe dipirona no lugar de dramin e morre com parada cardíaca, em hospital de Campinas/SP. Segundo a equipe do hospital, o médico receitou dramin e uma enfermeira trocou o medicamento”. 7 “Mulher de 71 anos morre após ter recebido uma injeção em um hospital de Botelhos/MG. A vítima deveria ter recebido uma dose da vacina antitetânica por causa de um ferimento com um prego, mas a suspeita é de que foi aplicado uma injeção de relaxante muscular para uso cirúrgico”. 8 “Um bebê recebeu um ácido utilizado para cauterizar verrugas enquanto na verdade deveria ser medicado com um sedativo”. 9 “Idosas internadas que morreram após receberem café com leite na veia no lugar de soro”. 10 “Idosa internada morre após receber sopa na veia no lugar de soro”. 61 PROPOSTAS DE ESTRATÉGIAS PARA EVITAR ERROS DE MEDICAÇÃO NO AMBIENTE HOSPITALAR 62 A prevenção de erros de medicação e promoção da segurança do paciente são assuntos de extrema importância no sistema de saúde envolvendo diferentes áreas, setores, equipe multiprofissional como a organização institucional, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, e a equipe multidisciplinar em si, dessa forma as políticas públicas devem aprimorar o sistema de medicação, incluindo estrutura, educação e processos que garantam segurança a população (COREN-SP, 2011). Os recursos organizacionais de uma empresa precisam ser administrados adequadamente e as pessoas são os únicos meios capazes de autodireção e desenvolvimento. Para que os objetivos tanto da empresa quanto interpessoal sejam alcançados é necessário uma organização com a interação entre pessoas, avaliação do desempenho da equipe e treinamentos frequentes. O treinamento é um processo educacional direcionado em um período curto de tempo inserido de maneira sistemática e organizada de maneira que as pessoas obtenham conhecimento, habilidades e competências em função de objetivos definidos (CHIAVENATO, 2009). Segue abaixo quadro com as principais estratégias para prevenção de erros de medicamentos relacionada à equipe dos profissionais médicos, farmacêuticos e enfermeiros. Quadro 01: Estratégias para evitar erros de medicação com base nos profissionais médicos, farmacêuticos e enfermeiros. Fonte: Adaptado por COREN-SP, 2011, Cavallini, 2010; Maia Neto, 2005; Novaes, 2009. As principais estratégias básicas que se devem apresentar em um hospital relacionadas a equipe de saúde em destaque os profissionais médicos, farmacêuticos e enfermeiros são a 63 redução da carga horária, evitando o excesso de trabalho, treinamento periódico das equipes, implantação de informatização no hospital. Como estratégia especifica para farmacêuticos a presença de atenção farmacêutica, farmacêutico clinico e controle na distribuição de medicamentos. Na equipe de enfermeiro uma das principais estratégias é o cuidado e atenção na administração de medicamentos. Com base nestas principais estratégias pode se evitar significantemente os erros de medicação e promover uma maior qualidade de assistência em saúde (quadro 01) (Figura 01) (COREN-SP, 2011; CAVALLINI, 2010; MAIA NETO, 2005; NOVAES, 2009). Figura 01: Estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospitalar. Fonte: Autoria própria 64 ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL 65 Os recursos organizacionais de uma empresa precisam ser administrados adequadamente através de processos de desenvolvimento envolvendo todos os integrantes da instituição. Para que os objetivos tanto da empresa quanto interpessoal sejam alcançados é necessário seguir adequadamente processos de evolução descritas na figura 02 e se essas forem feitas de maneira correta pode-se garantir redução de erros de medicação, uma evolução na administração e desenvolvimento do hospital, e consequentemente melhora na assistência a saúde (Figura 02) (SILVA, PASSOS, CARVALHO, 2012; MIASSO, 2005; SILVA et. al., 2007). Figura 02: Estratégias para organização institucional Fonte: Adaptado por Silva, Passos, Carvalho, 2012; Miasso, 2005; Silva et. al., 2007. 66 PROFISSIONAL MÉDICO 67 De acordo com o Art. 2° do código de ética médica (BRASIL, 1988, p. 03) “O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir como máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional”. O paciente é o fator determinante para o funcionamento de um hospital pela qual deve ser tratado com o maior zelo possível. E os principais responsáveis por esses pacientes são os profissionais da saúde que estão disponíveis para promover a melhora da assistência à saúde. O médico é um dos principais profissionais que está interligado com o paciente e que inicia o processo de tratamento dos mesmos. Portanto é necessário que estes profissionais sigam estratégias para evitar erros de medicação no ambiente hospital, e as principais propostas sugeridas são (GIROTTO, FRÖHLICH, 2006; CRUCIOL-SOUZA, ROSA, 2008): Figura 03: Estratégias para os profissionais médicos. Fonte: Adaptado por Girotto, Fröhlich, 2006; Cruciol-Souza, Rosa, 2008. 68 PROFISSIONAL ENFERMEIRO 69 Por meio de pesquisas apresentando condutas e ações do enfermeiro frente aos erros na medicação, obteve-se propostas para se sugerir estratégias simples para evitar erros de medicação da equipe de trabalho (Figura 04). Figura 04: Estratégias para profissional enfermeiro. Fonte: Adaptado por Silva, Passos, Carvalho, 2012; Miasso, 2005; Silva et. al., 2007. 70 PROFISSIONAL FARMACÊUTICO 71 O farmacêutico é responsável pelo medicamento, promover a qualidade de vida e habilidades que possam habilitá-lo a atuar na equipe de saúde assim como promover a evolução na administração e desenvolvimento do hospital, e consequentemente melhora na assistência a saúde De acordo com os itens citados na figura 05 envolvendo farmacêuticos, se forem feitos de maneira correta pode-se garantir redução de erros de medicação. (Figura 05) (SILVA et. al, 2007; MACHUCA, 2004; ACCP, 2005). Figura 05: Estratégias para o profissional farmacêutico. F Fonte: Adaptado por Silva et. al, 2007; Machuca, 2004; ACCP, 2005 Fonte: Adaptado por Silva et. al, 2007; Machuca, 2004; ACCP, 2005. 72 EQUIPE DE SAÚDE 73 Quando discute-se a respeito de erros, logo tenta-se busca saber quem cometeu tal ato. Os erros são vistos como consequência de fatores sistêmicos, sendo recorrentes no local de trabalho em qualquer área, portanto a sugestão seria modificar a forma como se executa o trabalho, ao invés de tentar modificar o ser humano de forma a promover estratégias para equipe de saúde (CAPUCHO, 2011; CHIAVENATO, 2009). Figura 06: Estratégias para equipe de saúde. Fonte: Adaptado por Silva, |Passos, Carvalho, 2012; Miasso, 2005; Silva et. al., 2007; Girotto, Fröhlich, 2006; Rosa, 2008; Machuca, 2004; Capucho, 2011; Chiavenato, 2009. 74 CONSIDERAÇÕES FINAIS A criação do manual apresenta uma grande relevância quanto à prática dos profissionais da saúde, pois proporciona informações básicas sobre os erros de medicação e as formas de evitá-los, através de práticas do dia a dia que se forem seguidas corretamente reduzirão ao máximos os erros de medicação apresentados nos hospitais e consequentemente aumentará a melhora da assistência à saúde. A área de erros de medicamentos é muito vasta principalmente em função da interação de diferentes profissionais da saúde, das várias possíveis fontes de erro na cadeia do medicamento, por isso sugere-se novas pesquisas e aprofundamento na investigação do tema. 75 REFERÊNCIAS 76 ABRANTES PM, Magalhães SMS, Acúrcio FA, Sakurai E. Avaliação da qualidade dasprescrições de antimicrobianos dispensadas em unidades públicas de saúde de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2002. ANACLETO, A. T.; PERINI, E.; ROSA, B. M. Prevenindo erros de dispensação em Farmácias hospitalares. Infarma, v.18, nº 7/8, 2006. BEIJAMIN, D.M. Reducing medication errors and increasing patient safety: case studies in clinical pharmacology. 2003. P. 768-83. BRASIL. Portaria SVS/MS n.º 344, 12 de maio de 1998. Diário oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 19 maio 1998. Disponível em: <http://elegis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=17235&word=#'> Acesso em: 12 de Mar. 2013. ______. 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O farmacêutico apresenta um papel fundamental nessa prática, pois é capaz de auxiliar no melhor tratamento, dispensar e auxiliar no melhor sistema de distribuição de medicamentos e acompanhar a clínica do paciente. Foi possível diferenciar os principais erros de medicação no ambiente hospitalar por meio de dados, causas e fatores que estão relacionados principalmente com a prescrição (39 a 49%), seguido de erros de administração (26 a 38%) transcrição (11 a 12%) e/ou dispensação e distribuição de medicamentos (11 a 14%) e através desses identificar as principais formas de evitar os erros de medicação no ambiente hospitalar. Criando propostas de estratégias de prevenção de erros de medicamentos voltados para os profissionais médicos, enfermeiros e farmacêuticos. A criação do manual apresenta uma grande relevância quanto a prática dos profissionais da saúde, pois proporciona informações básicas sobre os erros de medicação e as formas de evitá-los, através de práticas do dia a dia que se forem seguidas corretamente reduzirão ao máximos os erros de medicação apresentados nos hospitais e consequentemente aumentará a melhora da assistência à saúde. Com a compilação dos conhecimentos de diferentes áreas profissionais espera-se que os resultados deste trabalho contribuam de uma forma prática e produtiva para assistência dos pacientes que recebem os medicamentos. A área de erros de medicação é muito vasta principalmente em função da interação de diferentes profissionais da saúde, das várias possíveis fontes de erro na cadeia do medicamento. Assim sugerem-se novas pesquisas e aprofundamento na investigação do tema. Estudar os possíveis sistemas de distribuição de medicamentos, investir em uma melhor educação nos profissionais, treinamentos e interação entre os profissionais de saúde. 79 REFERÊNCIAS ABRANTES PM, et al. Avaliação da qualidade das prescrições de antimicrobianos dispensadas em unidades públicas de saúde de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2002. ABREU. M.M. et al. Apoios de decisão: instrumento de auxílio à medicina baseada em preferências. Uma revisãoconceitual. Rev Bras Reumatol,v. 46, n.4, p. 266-72, 2006. ACCP – AMERICAN COLLEGE OF CLINICAL Pharmacy The Definition of Clinical Pharmacy, 2005 . Disponível em<http://www.accp.com/docs/about/ClinicalPharmacyDefined.pdf> Acesso em: 28 de Mar. 2013. AGUILAR NG, D’ALESSIO R, 1997. Guia para el desarrollo de servicios farmacêuticos hospitalarios: sistema de distribución de medicamentos por dosis unitárias. Washington, DC: Organización Panamericana de la Salud. 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