EJA, Ensino de Matemática e Inserção Digital: o

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IV Mostra de Pesquisa
da Pós-Graduação
PUCRS
EJA, Ensino de Matemática e Inserção Digital:
o desafio da Integração
Mirela Stefânia Pacheco, Lucia Maria Martins Giraffa (orientador)
Mestrado em Educação em Ciências e Matemática, Faculdade de Física, PUCRS
Introdução
Desde 1998, têm ocorrido nos Encontros Nacionais de Educação Matemática
(ENEM’s), discussões e produções de conhecimento, ainda que relativamente pequenas, que
contemplam a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em suas sessões especiais. Demonstrando
o atendimento a uma demanda que vem se reconfigurando nos últimos anos, ditada pela
preocupação social das instituições civis ou governamentais para a elevação das taxas de
escolarização da população (FONSECA, 2002).
No entanto, os métodos de ensino utilizados para a aprendizagem de Matemática não
valorizam como deveriam os conhecimentos prévios dos alunos jovens e adultos que estudam
na modalidade EJA. O ensino de Matemática fica desconectado da realidade onde estão
inseridos e a aprendizagem fica prejudicada pela falta de associação entre o que é ensinado e a
sua utilização na solução de problemas do cotidiano destes alunos. Como conseqüência desta
dissociação aprender Matemática é algo penoso e complicado. Quando na realidade é
justamente o oposto, a Matemática faz parte do seu dia-a-dia, especialmente daqueles que
trabalham na construção civil e no comércio.
Busca-se, também, com esta investigação discutir de forma indireta a questão da
Inclusão Digital dos alunos do EJA, através da utilização de recursos computacionais como
suporte ao seu processo de aprendizagem. Em tempos de cibercultura a opção por
desconsiderar o uso de recurso de tecnologias condena o aluno a uma situação de exceção que
certamente dificultará sua inclusão no mercado de trabalho e impactará suas relações sociais
prejudicará (LEVY, 1999).
A importância da associação da aprendizagem de Matemática com uso de recursos
computacionais objetiva discutir dois aspectos importantes na formação destes alunos EJA:
necessidade de melhorar a auto-estima destes discentes e auxiliar a aumentar suas
possibilidades no mercado de trabalho, através de uma formação integrada que resgate
aspectos cognitivos e de cidadania. Uma vez que estes alunos sofrem ou sofreram um
processo de exclusão social que retardou sua entrada no sistema formal de ensino.
A proposta metodológica em desenvolvimento busca auxiliar a compreensão dos
conteúdos de Geometria Plana destes alunos suportada nas idéias de Paulo Freire (FREIRE,
2005), utilizando softwares de simulação para construção de plantas arquitetônicas
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denominado XHOME 3D e o programa Paint (Integrante do ambiente Windows) na
organização das atividades com os alunos.
O referencial teórico é baseado na literatura da Educação de Jovens e Adultos, tendo
como principal representante Paulo Freire (2001, 2002, 2005, 2006), e nos autores Fonseca
(2002), Duarte (1995), Lévy (1996, 1999), Moran (2003).
Metodologia
A pesquisa em desenvolvimento é de cunho sócio-empírico-naturalística, que utiliza
como base o pensamento de Paulo Freire, o qual possui características de trabalho qualitativo.
Na pesquisa qualitativa, utiliza-se o método indutivo, onde se parte dos dados para a teoria,
por definições que envolvem o processo, pela intuição e criatividade durante o processo de
pesquisa, por conceitos que se explicitam via propriedades e relações, pela síntese holística e
análise comparativa e por uma amostra pequena escolhida seletivamente (SANTOS FILHO,
2002, p. 45). No planejamento das atividades com os alunos da VI fase da EJA, sujeitos desta
pesquisa, se utiliza a Metodologia de Paulo Freire, que valoriza o nível de compreensão
inicial dos educandos, a partir da concepção problematizadora e libertadora da educação, em
oposição à educação bancária (FREIRE, 2005), que é o ato de depositar, de transferir, de
transmitir valores e conhecimentos.
Como instrumento de coleta de dados serão utilizadas atividades para identificar os
conhecimentos prévios dos alunos em relação aos conteúdos de Geometria Plana e atividade para
determinar indicadores de novas competências desenvolvidas, em relação aos conteúdos de Geometria
Plana, após o desenvolvimento do projeto com o software simulador. Posteriormente, para o
tratamento dos dados, serão feitas análises a partir das constatações obtidas, levantando indicadores
que deles emergirem.
Resultados e Discussão
A partir da atividade de coleta inicial, onde os 46 alunos escolhidos resolviam
atividades contextualizadas de Geometria Plana, constatou-se que em torno de 91,3% tinham
pouco conhecimento de Geometria Plana e não aplicam esses conhecimentos na resolução de
seus problemas diários.
Partindo dessa etapa, ocorreu a construção de conceitos de Geometria Plana com
auxílio do software Paint, onde os alunos desenharam a planta baixa da sala, calcularam
perímetro e área, utilizaram conhecimentos de retas paralelas e perpendiculares.
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Posteriormente realizaram atividades contextualizadas sobre o tema, explorando o mapa do
bairro onde se localiza a escola.
A próxima fase, ora em curso, se refere à construção da Planta Baixa da escola no
software simulador XHOME3D, onde se verificou um grau de compreensão e aplicação dos
conhecimentos de Geometria Plana, demonstrando a conexão existente entre a Matemática
escolar com aquela usada na resolução das situações cotidianas.
Conclusão
A pesquisa encontra-se em fase final de implementação, onde os alunos estão
montando a maquete da escola a partir da construção da planta baixa. Busca-se como
resultado desse trabalho subsidiar os professores de Matemática e os alunos da Modalidade
EJA, por meio de uma proposta metodológica de ensino, condizente com as necessidades e
desafios da Sociedade da Aprendizagem, usando como referencial teórico a proposta de Paulo
Freire, possibilitando reflexão e renovação de suas práticas pedagógicas.
Referências
DUARTE, Newton. O ensino de Matemática de adultos. 7. Ed. São Paulo: Cortez, 1995.
FONSECA, Maria da Conceição F. R. Educação Matemática de Jovens e Adultos: Especificidades, desafios e
contribuições. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 113 p.
FREIRE, Paulo. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. 11. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006. 224 p.
______. Política e Educação. 5. Ed. São Paulo: CORTEZ, 2001. 56 p.
______. Paulo. Pedagogia do Oprimido. 44. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. 213 p.
______. Pedagogia da Autonomia. 25. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 53 p.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. 250 p.
______. O que é Virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.110p.
LÜDKE, Menga; ANDRE, Marli E.A. Pesquisa em Educação: abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MORAN, J.M. MASETTO, M.T. BEHRENS, M.A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 6. Ed. São
Paulo: Papirus, 2003. 173 p.
SANTOS FILHO, José Camilo dos. Pesquisa quantitativa versus pesquisa qualitativa: o desafio paradigmático.
In: SANTOS FILHO, José Camilo dos; GAMBOA, Silvio Sánchez (org.). Pesquisa Educacional: quantidadequalidade. São Paulo: Cortez, 2002. p. 13-59.
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