Intervenção da terapia da fala

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O Deficiente auditivo
na escola
Artur Ramísio
Mestrado em Ensino de TIC
Instituto de Estudos Superiores de Fafe
Docente: Profª Doutora Maria Celeste da Silva
Leal de Sousa Lopes
2010
Conceito de perda auditiva
• Hipoacúsia
– Redução na sensibilidade da audição sem
alteração da qualidade de audição,
podendo o aumento da intensidade da
fonte sonora possibilitar uma audição
bastante adequada
http://d91601.tinf28.tuganet.info/artigo.asp?idartigo=243
Conceito de perda auditiva
• Classificação das hipoacúsias em função do
grau de perda autiva
– dB (1/10 do bel) – grau de intensidade
necessária para amplificar um som de modo a
ser ouvido pela pessoa humana
– Audição humana normal: entre -10 dB e +10 dB
• A progressão da intensidade a partir deste limite é
exponencial
– 90 dB – limite entre a hipoacúsia e a surdez
• Exemplo: 70 dB é a intensidade produzida por um
grito à distância de 1 metro
Conceito de perda auditiva
• É também necessário saber qual o
expectro de frequências afectado pela
surdez
– Perdas nas frequências mais baixas são mais
prejudiciais do que nas frequências mais altas
– Ouvido humano percebe sons entre 20 e 20000
Hz, sendo essa percepção melhorada pelo
aumento do tom em que é produzido
Resíduos auditivos
aproveitáveis
• Distância entre o limiar auditivo e o
limiar da dor
• Se o limiar da dor aparecer numa frequência
antes do limiar auditivo significa que nesta
frequência não há resíduo auditivo
aproveitável
Resíduos auditivos
aproveitáveis
• Diagnóstico:
– Exploração audiométrica
• Determinação do grau de perda auditiva em relação
ao expectro de frequência mais utilizada na fala
humana
– De 125 Hz (limiar auditivo) a 4000 Hz (limiar doloroso)
• Limiar auditivo
– Nível de intensidade para que a pessoa surda perceba
um som, podendo ser diferente em cada frequência
• Limiar doloroso
– Grau de intensidade que provoca dor
Consequências da hipoacúsia na
linguagem e no comportamento
• A audição é fundamental para o
desenvolvimento da fala e da
linguagem e de muitas aprendizagens
• Daí que os problemas de audição devam ser
detectados e tratados o mais cedo possível
– Grau de hipoacúsia
– Se a hipoacúsia se manifestou antes ou depois da
aquisição da linguagem
– Se a surdez é neuro-sensorial ou de transmissão
Consequências da
hipoacúsia na leitura
•
A aprendizagem da leitura é muito difícil para os surdos
•
Orientações para a superação destas dificuldades:
– % muito alta de analfabetismo funcional
– Organização de actividades de leitura utilizando meios que favoreçam
aprendizagens significativas
• Leituras ideovisuais (palavras, logotipos…)
–
Leitura logográfica facilita a posterior aprendizagem fonológica)
• Leituras a partir das experiências pessoais da criança (rótulos, anúnicos,
cartazes…)
• Textos adaptados aos níveis de compreensão nos primeiros níveis, evoluindo
para textos não adaptados e para a leitura de livros
 As actividades de leitura devem ser treinadas e iniciadas o mais cedo
possível e sempre em forma de jogo
 Programas informáticos que podem ser utilizados para melhorar a leitura:
ELMMO, Leer Mejor, LALO…
Consequências da
hipoacúsia na escrita
•
A escrita é muito afectada pelas dificuldades na linguagem oral e
na compreensão da leitura
•
Características mais frequentes:
– Frases simples e curtas
– Mais palavras de conteúdo do que de função
– Uso inadequado dos tempos e erros de concordância de género, número
e pessoa
– Descoordenação de ideias e dificuldades no uso de frases compostas
– Uso escasso de pronomes e má disposição dos parágrafos e dos sinais
de pontuação
– Frases estereotipadas e frequência de omissões, substituições, adição
e troca da ordem das palavras…
Consequências da
hipoacúsia na escrita
• Dois tipos de provas para avaliação da
escrita:
– Redacção livre sobre um tema à escolha do
aluno, com tempo e extensão determinada pelo
professor
– Redacção sobre um tema sugerido pelo
professor, com tempo controlado mas não
imposto
 Deve-se proceder a revisões sistemáticas dos
trabalhos efectuados pelos surdos (resumos,
esquemas, comentários, etc.)
Consequências da
hipoacúsia na escrita
• Tratamento baseado na avaliação da
escrita:
– Aprender a escrever escrevendo
• É fundamental que o surdo escreva, mesmo com erros
– Alternar os exercícios de composição com os de
compreensão da leitura
– Privilegiar a facilitação da leitura e da escrita
em relação à articulação
Importância dos pais na educação
das crianças surdas e hipoacúsicas
• Sobretudo até à idade escolar, os
pais têm um papel decisivo na
reabilitação dos filhos, pois são …
– Quem primeiro detecta as anomalias
– Quem melhor dá os afectos e os apoios
– Quem melhor pode procurar intervenção
especializada
Importância dos pais na educação
das crianças surdas e hipoacúsicas
• É aconselhável que os pais contactem:
– Com outros pais com experiências
semelhantes e associações de pais
– Com equipas de intervenção precoce (no
caso das crianças terem menos de 3 anos)
– Com médicos que os informem sobre
medicamentos ototóxicos (negativos para
os restos auditivos)
Importância dos pais na educação
das crianças surdas e hipoacúsicas
• Na fase da escolarização a evolução da
criança surda passa a ser influenciada
fundamentalmente pelo contacto com
os colegas e com os professores…
• …embora a colaboração dos pais
continue a ser indispensável
Intervenção da terapia da fala
• Sistemas e métodos na educação do
surdo:
– Oralista
• Procura a aquisição da linguagem oral sem
intervenção de sistemas de gestos
– Gestualista
• Acompanha o ensino da linguagem oral
fundamentalmente através de sistemas de
gestos
Intervenção da terapia da fala
• Método oralista:
– Verbotel
• Baseado em estudos de Petar Guberina sobre
como o cérebro percebe a fala
• Toma como ponto de partida a percepção e a
palavra como estímulo
• Aproveita para a reabilitação os campos
óptimos de audição (zonas de frequência mais
sensíveis), através de amplificadores, filtros de
frequências, auscultadores, vibradores,
microfones…
Intervenção da terapia da fala
• Métodos gestualistas:
– Não tem correspondência exacta com a
linguagem oral
• Os gestos podem corresponder a palavras,
frases ou ideias
• Não há diferenças entre substantivos,
adjectivos e verbos
• Não tem artigo feminino e masculino
 Os trabalhos sobre gestualismo indicam que este
favorece a aprendizagem da leitura e da escrita por
beneficiar o desenvolvimento cognitivo das crianças
Intervenção da terapia da fala
• A mímica:
– Gestos totalmente motivados pela
realidade
• Tanto a mímica como a gestualidade
podem ser utilizados sem a intervenção
absoluta da linguagem oral
Intervenção da terapia da fala
• O sistema bimodal:
– Comunicar simultaneamente de forma oral
e gestual
• Pidgin:
– Mistura de gestos com emissões orais sem
respeitar a estrutura gramatical oral nem
a gestual e utilizando tanto a boca como as
mãos
Intervenção da terapia da fala
• A língua oral gestualizada:
– Uso de gestos para traduzir palavra por
palavra da frase oral
• O cued-speech ou fala complementada:
– Série de 8 gestos realizados em 3 posições
à volta da boca e que, juntamente com a
fala, proporciona um sistema de
representação fonemático completo
• Elimina a ambiguidade e o gesto serve apenas
evidencia os fonemas empregues
Intervenção da terapia da fala
• A escrita de gestos Sutton:
– Série de símbolos que, combinados,
representam por escrito as posições e
movimentos da cabeça, braços e mãos
utilizados na linguagem gestual
• O alfabeto manual:
– Substitui por posições dos dedos as letras
da representação escrita da linguagem oral
• Soletra as palavras
Não deve ser confundido com linguagem gestual
Organização educativa
Integração escolar
• “A escola deve oferecer ao aluno surdo a
possibilidade de se desenvolver no
ambiente natural em que vai viver toda a
vida”
– A escola é local para todos aprenderem a
conviver no contexto do seu grupo social
– É também importante que os alunos não
surdos possam conhecer e compreender as
pessoas surdas
Organização educativa
Integração escolar
• Mas a escola não tem uma verdadeira
prática integrativa quando pretende
apenas adaptar os surdos ao sistema e
sociedade existentes
– Sociedade vista como referência fixa à qual
os surdos se têm de adaptar
• O verdadeiro modelo integrativo é o que
exige esforço de adaptação tanto aos
surdos como ao sistema
Opções organizativas
• Não modelos fechados, sim opções
organizativas individuais e dinâmicas
• Variáveis a considerar:
–
–
–
–
Características
Características
Características
Características
da surdez
do aluno
dos professores
da escola
Da análise destas variáveis devem resultar
possibilidades organizativas
Possibilidades organizativas
Aluno integrado na aula com currículo normal
• Sem apoio directo ao aluno
• Assessorar e coordenar com a família
• Informação e difusão da temática do aluno a
professores e colegas
• Coordenação permanente entre professores
• Estimulação terapêutica específica implicada
na escola e tendo como objectivos gerais o
desenvolvimento da comunicação e da
linguagem, da leitura e da escrita
Possibilidades organizativas
Aluno integrado em aula normal com
reforço pedagógico
• Recebe apoio pedagógico para adiantar-se ou
suprir deficiências de compreensão, técnicas
de trabalho, explicação das matérias, selecção
e estruturação de conteúdos
Possibilidades organizativas
Aluno integrado em aula normal com
reforço pedagógico
• Possibilidades de organização deste apoio:
– Individual ou em pequenos grupos
• Deve ir sendo transferido dos professores especializados
de surdos para os das matérias à medida que os alunos
avançam do nível básico para o secundário
– Modelo bipedagógico
• Trabalho simultâneo na sala de aula do professor da
disciplina e do professor de apoio
– Estimulação específica de terapia da fala
• Individual ou em pequenos grupos
Possibilidades organizativas
Aluno integrado em aula normal,
excepto em algumas disciplinas
• Aluno integrado nas aulas normais excepto nas
de componente linguística ou em que
manifeste mais dificuldades
• Responsabilidade conjunta do professor de
surdos com o professor da escola ou da
disciplina, de forma simultânea ou em
coordenação
Possibilidades organizativas
Aluno integrado em sala de surdos
numa escola normal
• Casos:
– Surdos profundos pré-linguísticos
– Surdos com outras deficiências associadas
• O currículo é totalmente adaptado às
necessidades do aluno
• O aluno surdo participa com os outros alunos
ouvintes em todas as actividades lúdicas,
culturais e práticas
Possibilidades organizativas
Outros aspectos organizativos
• As principais diferenças situam-se nos
métodos e estratégias educativos, de forma a
garantir:
– O apoio à integração, o reforço pedagógico e a
terapia da fala
• A intervenção dos professores é dirigida ao
aluno e ao ambiente familiar e escolar
• O local para o apoio e o sistema de
comunicação a usar têm de ser equacionados
em função das situações concretas
Condições mínimas de uma escola
com surdos
• Profissionais em número e formação
adequadas
– Especialistas para apoio e terapeutas da fala,
formação de professores, equipa multiprofissional
para acompanhamento específico de surdos…
• Material de amplificação auditiva, estimulação
e reeducação da linguagem, fala e voz
• Nas universidades:
– Diminuição do rácio em grupos de integração,
adequação do rácio alunos surdos – professor,
estabilidade e redução de horários dos professores
Sugestões para a integração dos
alunos surdos na escola regular
Relativamente aos alunos
• Ter-se em conta que recebe a informação pelo
canal visual
• Estar posicionado de modo a olhar
directamente para o professor
• Não estar colocado de frente para a luz
• Estar colocado longe de fontes ruidosas
• Ser devidamente informado sobre
actividades, horários, regras, etc.
• Professores conhecerem as possibilidades das
próteses usadas pelos alunos
Sugestões para a integração dos
alunos surdos na escola regular
Relativamente a modelos-chave da comunicação
• Proporcionar melhor leitura labial com
posicionamento de frente para o aluno
• Falar devagar e de forma clara
• Utilizar a comunicação total: fala, gestos,
escrita, expressões faciais…
• Não simplificar a linguagem
• Fazer perguntas de vez em quando ao aluno
sobre a matéria para saber se este está a
acompanhar bem o seu desenvolvimento
Sugestões para a integração dos
alunos surdos na escola regular
Relativamente ao conteúdo
• Planear o conteúdo dos temas
– vocabulário, termos técnicos, etc.
– Fornecer guia dos temas
• Reformular a informação no lugar de a repetir
– Melhora a compreensão para os surdos
• Inter-relacionar as áreas do currículo
Sugestões para a integração dos
alunos surdos na escola regular
Relativamente à metodologia
• Colocar o aluno surdo ao lado de quem tem facilidade
de tomar apontamentos (poder ir copiando por este)
• Ter em conta que o surdo não consegue ler e tomar
apontamentos ao mesmo tempo
• Haver pausas para distrair e descansar (a leitura
labial contínua a que o aluno é obrigado é cansativa)
• Entregar documentação escrita ao aluno surdo
(rentabiliza o tempo e evita confusões)
• Favorecer os métodos activos baseados na observação
e na prática
• Sinalizar bem as mudanças de tema e de actividade
Sugestões para a integração dos
alunos surdos na escola regular
Relativamente às relações sociais
• Proporcionar ao aluno surdo a identificação dos que
intervêm na aula
• Privilegiar a constituição de pequenos grupos
– Favorece a participação e o relacionamento
• Fornecer aos outros alunos informação clara e simples
sobre a surdez e sobre a sua normalidade
• Situar o aluno surdo em grupos onde tenha maior
facilidade de comunicação
Sugestões para a integração dos
alunos surdos na escola regular
Relativamente ao material
• Fazer uso de meios visuais
– Retroprojector, projector de vídeo, quadro,
gráficos, etc.
• Usar o quadro tendo o cuidado de estabelecer
ordem na informação
–
–
–
–
Assinalar com o dedo
Sublinhar
Utilizar cores distintas
Etc.
Sugestões para a integração dos
alunos surdos na escola regular
Relativamente à avaliação
• Avaliar os alunos surdos na mesma base e com as
mesmas responsabilidades exigidas aos outros alunos
• Favorecer a avaliação contínua
• Valorizar mais o conteúdo do que a forma (provas
escritas)
• Distribuir os conteúdos por mais provas de avaliação
• Substituir as provas escritas por orais (quando a
expressão escrita não for funcional)
• Dar mais tempo ao aluno surdo quando de tal necessite
• Realizar trabalhos em substituição de exames (em
algumas circunstâncias)
Novas tecnologias aplicadas ao
ensino-aprendizagem do surdo
• Próteses auditivas
– Servem para amplificar o som
– Precisam de uso continuado e treino
• Equipamentos autónomos de amplificação
por frequência modulada
– Transmitem sinal sonoro mediante ondas de
alta frequência
– Evitam interferências, reduzem o ruído e a
distância entre interlocutores
Novas tecnologias aplicadas ao
ensino-aprendizagem do surdo
• Amplificadores de bandas de
frequências especializados (ex.: SUVAG)
– Possuem filtros de frequências que só
deixam passar as desejadas
• Filtros passabaixo – frequências abaixo de
determinada frequência
• Filtros passa-alto – frequências cima de
determinada frequência
• Filtros passabanda – largura de banda em volta
de frequência de referência
Novas tecnologias aplicadas ao
ensino-aprendizagem do surdo
• Tecnologia de tratamento electrónico de
sons
– Traduz os sons em vibrações percebidas
pelo tacto
Este canal vibroáctil trabalha-se com métodos
como o de Kanievski
Novas tecnologias aplicadas ao
ensino-aprendizagem do surdo
Informática
• Muito útil para surdos por favorecer a
comunicação visual e pela facilidade de
adaptação ao aluno. Exemplos:
– Visualizador de voz
• Visualizador fonético com microfone conectado
a placa electrónica que digitaliza o som e
controla o ecrã de acordo com os sons
produzidos
– Videodisco
• Técnicas audiovisuais com o computador para
ensinar linguagem gestual e a leitura labial
Novas tecnologias aplicadas ao
ensino-aprendizagem do surdo
Informática
• Mais exemplos:
– Retroprojector
• Não necessita de luzes apagadas e permite que o
professor esteja de frente para os alunos
– Fotografia, diapositivos, cinema, vídeo…
• São meios de ensino poderosos embora alguns
necessitem de alguma especialização dos
professores
O objectivo fundamental da
integração
“conseguir a harmonia do aluno com a
sociedade e o mundo em que vive,
desfrutando dos bens culturais da
comunidade.”
“não poderá fazer-se uma verdadeira
integração escolar nem social a partir de
uma perspectiva unilateral, a do ouvinte.
Há que respeitar e valorizar a opinião dos
surdos”
Novas tecnologias aplicadas ao
ensino-aprendizagem do surdo
• Informática
– Muito útil para surdos por favorecer a
comunicação visual
– Facilidade de adaptação ao aluno
Bibliografia
• Jiménez, et.al. O Deficiente Auditivo na Escola, in:
Necesidades Educativas Especiales (1993). Lisboa: Dinalivro
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