jun 2 0 1 3 O IMA-B e o Cenário para a Taxa de Juros Sumário Executivo Embora já venham se desvalorizando desde o início do ano, as NTNs-B – títulos públicos atrelados ao IPCA – surpreenderam o mercado ao experimentarem alguns de seus piores dias de performance no último mês de maio, encerrando o período com perdas relevantes; Esse fenômeno, ainda que ocorrido dentro de um dos cenários previstos em nosso último Flash Report, deu-se em magnitude superior ao esperado, em virtude de outras variáveis econômicas locais e internacionais que se somaram àquelas anteriormente abordadas; Ao analisar estes novos fatores e, à luz deles, atualizar as possibilidades de cenário para os títulos de inflação, continuamos o debate iniciado sobre a natureza do comportamento destes ativos, bem como a dinâmica que deverá comandar seus preços daqui para frente; Assim como o anterior, este material não tem a pretensão de oferecer respostas definitivas, mas sim de contribuir para um melhor entendimento do cenário. Em abril, elaboramos um artigo intitulado “NTNs-B: O Sonho Acabou?”, no qual desenvolvemos possíveis cenários para o comportamento dos títulos indexados à inflação (NTNs-B), que haviam perdido algum valor até aquele momento. Não imaginávamos, nem de longe, o quadro que se desenhou em maio: perdas que somente se comparam ao pior momento da crise do subprime, em 2008. Nos gráficos a seguir, podemos observar as piores perdas mensais do IMA-B e de seus subíndices desde que estes índices começaram a ser calculados, em outubro de 2003: IMA-B5: Piores resultados mensais -0,76% -0,61% -0,57% -1,19% -1,76% Fonte: Western Asset mai/06 mai/13 mar/08 fev/05 out/08 IMA-B5+: Piores resultados mensais -3,49% -3,47% -6,27% -8,17% -8,17% mai/06 out/08 Fonte: Western Asset mai/13 mar/13 set/08 IMA-B: Piores resultados mensais -2,00% -4,52% -3,83% -1,88% -3,38% Fonte: Western Asset mai/13 out/08 mai/06 mar/08 mar/13 © Western Asset Management Company DTVM Limitada 2013. Esta publicação é de propriedade da Western Asset Management Company DTVM Limitada e não poderá ser reproduzida ou utilizada sob qualquer forma sem a nossa expressa autorização. Flash Report Note que, apesar de os resultados dos subíndices não terem sido os piores de suas respectivas séries históricas, a rentabilidade do índice completo (IMA-B) foi a pior. E é fácil entender o porquê: a duration do IMA-B em outubro de 2008 era de 4,6 anos. Depois de quase 5 anos, esta duration aumentou para 7,9 anos, ou 70% mais. Assim, um aumento de taxa de 57 pontos-base (que foi aproximadamente o que aconteceu neste mês de maio) gera uma perda de 4,5% (57 x 7,9 / 10.000). Em outubro de 2008, para gerar a mesma perda, seria necessário um aumento de taxa de quase 100 pontos-base (100 x 4,6 /10.000 = 4,6%). Mas por que um movimento tão violento? Para entender o que aconteceu, vamos relembrar os cenários que desenhamos em nosso artigo anterior para o comportamento futuro das NTNs-B: CENÁRIO 3 CENÁRIO 2 CENÁRIO 1 Conjuntura Comportamento dos Juros Resultado Esperado para o IMA-B Probab. Inflação corrente arrefece e expectativas para a inflação futura se acomodam em patamar aceitável, permitindo ao BC manter a SELIC nos atuais patamares durante um tempo relativamente longo As taxas de juros reais tendem a permanecer nos atuais patamares, ou até recuarem mais um pouco, dada a procura bastante intensa por NTNs-B Pode-se esperar que, em tese, renderia por volta de IPCA + 3% ao ano - o cupom médio da carteira. Na margem, pode até ocorrer uma valorização adicional, dependendo da intensidade da procura por títulos de inflação 10% Inflação corrente e expectativas continuam a subir, mas o BC insiste em uma política monetária frouxa As taxas de juros reais de vencimentos mais curtos (até 2015, por exemplo) tendem a cair ainda mais, mas as taxas dos papéis com vencimento mais longo podem até subir, sinalizando a necessidade de juros reais maiores no futuro Este é o pior cenário possível para o índice, pois prevendo a necessidade de juros reais maiores no futuro, os investidores pedirão mais prêmio para carregar as NTNs-B, e dessa forma os cupons destes títulos subirão. Pelo efeito da marcação a mercado, os títulos perdem valor, e o IMA-B pode continuar tendo rentabilidade negativa 25% Inflação corrente e expectativas continuam a subir, e o BC age aumentando as taxas de juros As taxas de juros reais de curto prazo sobem, mas é possível que as taxas dos títulos mais longos até recuem, pois reagem positivamente a uma política monetária mais ortodoxa Cenário intermediário entre os dois anteriores, pois ainda que o cupom das NTNs-B curtas suba, existe a possibilidade de que o fechamento do cupom das NTNs-B mais longas compense, parcial ou integralmente, este efeito potencialmente negativo de rentabilidade 65% De fato, o cenário 3 acabou sendo aquele que se materializou. O BC mostrou-se bem mais duro, tanto no discurso quanto na ação: no mesmo dia em que foi anunciado um PIB bem abaixo das expectativas (0,6% contra consenso de 0,9%), o COPOM decidiu aumentar a SELIC em 0,5%. Mas então por que as NTNs-B de prazos mais longos também subiram? Podemos identificar dois fatores, que não estavam em nosso radar quando desenhamos estes cenários: 1. Dados positivos da atividade econômica norte-americana fizeram com que se intensificassem os debates em torno da retirada dos estímulos monetários por parte do FED. Refletindo esses debates, as treasuries de 10 anos subiram 46 pontos-base em maio, para 2,16%, o maior patamar desde abril/2012. Este certamente é um fator relevante para a elevação das taxas de juros no mundo inteiro; 2. Depois de um ano de estabilidade em torno de R$2,00, o câmbio desvalorizou-se 7%, para R$2,14 em maio. Uma desvalorização cambial desta magnitude não ameaça seriamente a inflação. O problema é que o BC não interveio no mercado, como costumava fazer, pois identificou um movimento global de valorização do dólar, e avaliou que não valia a pena intervir, remando contra o mundo inteiro. Ao não identificar um novo patamar para o real, o mercado ficou inseguro em relação aos efeitos da desvalorização na inflação, o que também pressionou as taxas de juros. Western Asset –2– Junho 2013 Flash Report O que podemos esperar daqui em diante? Com relação aos dois pontos levantados acima, vejamos: 1. A nossa visão é de que há ainda um longo caminho pela frente para a economia norte-americana mostrar alguma recuperação que mereça uma ação do FED. O desemprego, apesar da melhora na margem, continua alto e longe da meta de 6,5% que o FED impôs a si mesmo para começar a retirar os estímulos do QE. É necessária a criação de 300 mil empregos/mês nos próximos 24 meses para que se atinja aquele patamar. O atual nível de criação de empregos é de 150 mil/mês. Portanto, avaliamos que este nível de desemprego somente deve ser atingido, no mínimo, em 2015 ou até mais para frente. Além disso, Ben Bernanke tende a atrasar o máximo possível o início de um eventual aperto monetário, preferindo correr o risco de pecar pela falta que pelo excesso de rigor. Ou seja, mesmo que o desemprego atinja 6,5%, este número não é um gatilho automático, sendo antes um ponto de observação. A inflação, o outro indicador acompanhado pelo FED além do desemprego, deverá se manter contida em função da ainda grande ociosidade da economia americana. O próprio desemprego alto coloca pressão negativa nos salários, o que inibe surpresas negativas com a inflação. Por fim, outra questão que deve continuar segurando o crescimento norte-americano no curto prazo é o ajuste fiscal em curso. O acordo feito para evitar o “fiscal cliff” adicionou cerca de US$180 bilhões em novos impostos, enquanto o “sequester” diminuirá os gastos do governo em US$65 bilhões. O crescimento do PIB tem sido sustentado pelo setor privado, o que é uma boa notícia, mas insuficiente para fazer o FED se mover. Assim, é pouco provável que venhamos a ter algum movimento significativo do FED ainda em 2013, e mesmo em 2014. Este pode, sim, diminuir o ritmo de compras do QE, mas revertê-lo vendendo títulos não está no horizonte. E muito menos começar a subir as taxas de juros. Deste modo, nos próximos 12-18 meses podemos observar um cenário bastante positivo para ativos de risco: taxas de juros ainda muito baixas, políticas monetárias frouxas, convivendo com recuperação lenta, mas certa, da atividade econômica; 2. O BC tomou de surpresa o mercado ao não intervir no mercado cambial quando as cotações ultrapassaram R$ 2,05. Este movimento, na verdade, fez parte de uma tendência global de valorização do dólar. Basta observar o que aconteceu com outras moedas em maio último: por exemplo, o peso mexicano desvalorizou-se 5,1%, o dólar australiano 7,4% e o rande sul-africano 10,8%. Provavelmente, o BC não quis intervir em um mercado onde o mundo inteiro está comprando dólar. Ou seja, o driver principal é global, e não questões domésticas. Por outro lado, é inegável que existe algum pass-through de uma desvalorização cambial para os preços no varejo. Segundo nossas estimativas, utilizando dados de mais longo prazo, avaliamos que esse pass-through é algo em torno de 30-40 pontos-base para cada 10% de desvalorização do real. Na desvalorização do ano passado, o pass-through foi um pouco mais alto, por volta de 4050 pontos-base. De qualquer forma, para uma inflação que vem trabalhando perto do topo da banda, não há muito espaço de manobra para grandes desvalorizações. Assim, avaliamos que, passando o pior do movimento global de valorização do dólar, é bem provável que o BC trabalhe para recolocar o dólar em um patamar mais próximo de R$2,05, pelo menos no curto prazo. Assim, nossa avaliação é de que o cenário 3 continua valendo e, portanto, as taxas dos títulos mais longos não deveriam continuar subindo dos atuais patamares. Pelo menos, não de maneira permanente. Tanto é assim, que estamos adicionando NTNs-B de prazos mais longos para os portfólios que administramos, e que permitem este tipo de investimento. As opiniões, estimativas e previsões apresentadas neste material, constituem julgamento dos gestores da Western Asset Management Company DTVM Limitada ('"Western Asset") baseadas nas condições atuais do mercado e estão sujeitas a mudanças sem aviso prévio. A Western Asset acredita que as informações apresentadas neste material são confiáveis, mas não garante sua exatidão. Este material não tem o propósito de prestar qualquer tipo de consultoria financeira, recomendação de investimentos, nem deve ser considerado uma oferta para aquisição de produtos da Western Asset. Recomendase ao leitor consultar seus analistas e especialistas particulares antes de realizar qualquer investimento. A Western Asset não se responsabiliza pelas decisões de investimento tomadas pelo leitor. Western Asset –3– Junho 2013