UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM GERONTOLOGIA Mestrado EFICÁCIA DA TADALAFILA EM HOMENS IDOSOS PORTADORES DE DISFUNÇÃO ERÉTIL Autor: Sérgio Maurício Pereira Marquez Orientador: Prof. Dr. Adriano Bueno Tavares Co-orientadora: Profa. Dra. Margô Gomes de Oliveira Karnikowski BRASÍLIA 2007 M357e Márquez, Sérgio Maurício Pereira. Eficácia da tadalafila em homens idosos portadores de disfunção erétil / Sérgio Maurício Pereira Márquez. – 2007. 70 f.: il. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2007. Orientação: Adriano Bueno Tavares 1. Disfunção erétil. 2. Envelhecimento. I. Tavares, Adriano Bueno, orient. II. Título CDU 613.98 Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB. SÉRGIO MAURÍCIO PEREIRA MARQUEZ EFICÁCIA DA TADALAFILA EM HOMENS IDOSOS PORTADORES DE DISFUNÇÃO ERÉTIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Gerontologia. Orientador: Prof. Dr. Adriano Bueno Tavares Co-orientadora: Profa. Dra. Margô Gomes de Oliveira Karnikowski TERMO DE APROVAÇÃO Dissertação defendida e aprovada como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Gerontologia em 10 de abril de 2007 pela banca examinadora constituída por: ____________________________________________ Profa. Dra. Anaglória Pontes (Examinadora Externa) ____________________________________________ Profa. Dra. Alzira Amélia Martins Rosa e Silva (Examinadora Externa) ____________________________________________ Prof. Dra. Margô Gomes de Oliveira Karnikowski (Examinadora Interna) ____________________________________________ Prof. Dr. Adriano Bueno Tavares (Presidente) Brasília UCB Dedico este trabalho À minha esposa, Marcella, e aos meus filhos, Gabriel e Bárbara em reconhecimento à sua presença sempre positiva e ao seu amor sem limite a mim doado em todas as etapas deste processo. Aos meus pais, Carlos e Sônia, por haverem me ensinado o valor da leitura e a importância do saber. AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos Ao Prof. Dr. Adriano Bueno Tavares, pela atenção e orientação dispensada, o que viabilizou a realização deste trabalho. À Me. Suerly Nicolau, pela colaboração e pela força nos momentos difíceis desta jornada. Aos funcionários do Hospital Monte Sinai, pela atenção com os pacientes envolvidos na pesquisa. Ao Comitê de Ética do Hospital Monte Sinai, por acreditar neste projeto. À Dra. Patrícia Rebello Cury, pela preparação do fármaco utilizado nesta pesquisa. À funcionária Lourdes, que me auxiliou na seleção e na organização do grupo de pacientes. A todos os pacientes participantes. À Profa. Me. Suzana Oellers, pela competência e eficiência demonstradas na revisão desta dissertação, pois sem ela, com certeza, a dificuldade teria sido maior. A todos aqueles que permaneceram no anonimato, mas que de alguma forma deram sua contribuição. Ninguém precisa estar na flor da idade; mas cada um pode estar na flor da sua própria idade.” Mário Quintana (1906-1994) “O homem sobrevive aos terremotos, às epidemias, aos horrores da doença e a todas as agonias da alma. Porém, a maior tragédia de todos os tempos foi, é e será a tragédia do quarto de dormir”. Leon Tolstói (1828-1910) LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição de homens acima de 60 anos com disfunção erétil quanto ao número de vezes em que tiveram ereção plena nas seis vezes em que fizeram uso da tadalafila em três semanas.. Tabela 2. 47 Distribuição de homens acima de 60 anos com disfunção erétil quanto ao número de vezes em que obtiveram satisfação plena entre as seis vezes em análise.. ................................................. Tabela 3. 49 Grau de satisfação e tipo de ereção em homens acima de 60 anos com disfunção erétil conforme a ordem de uso da tadalafila. ..................................................................................... Tabela 4. 50 Grau de satisfação e tipo de ereção em homens acima de 60 anos com disfunção erétil conforme a ordem de uso do Tabela 5. placebo. ....................................................................................... 52 Reações adversas relatadas com o uso de tadalafila. ................ 53 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Corte transversal do pênis. .......................................................... 22 Figura 2. Pênis em corte transversal dissecado em camadas. .................. 24 Figura 3. Inervação peniana. ...................................................................... 25 Figura 4. Esquema da inervação somática e autonômica peniana. ........... 26 Figura 5. Mecanismo de venoclusão. ......................................................... 27 Figura 6. Corpo cavernoso com o pênis em estado de flacidez. ................ 28 Figura 7. Corpo cavernoso com o pênis em estado de ereção. ................. 29 Figura 8. Neurotransmissores facilitadores da ereção peniana. ................ 30 Figura 9. Neurotransmissores facilitadores da detumescência peniana. ... 31 LISTA DE ABREVIATURAS CC – corpos cavernosos CE – corpo esponjoso CYP – citocromo P450 DE – disfunção erétil DHEA – diidroepiandrosterona GMPc – guanosina monofosfato cíclica IIEF – Índice Internacional de Função Erétil PDE-5 – fosfodiesterase tipo 5 SNC – sistema nervoso central SUS – Sistema Único de Saúde RESUMO A busca pela qualidade de vida dos idosos tem encontrado obstáculos no campo da sexualidade, pois o envelhecimento masculino pode acarretar perdas na capacidade de ereção. Existem várias causas para a disfunção erétil: orgânica, psicogênica ou mista. Este estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a eficácia da tadalafila em idosos portadores de disfunção sexual erétil de várias etiologias. Para isto, foi feita seleção dos pacientes seguindo critérios de inclusão e exclusão preestabelecidos. Todos os participantes foram pré-avaliados por intermédio de anamnese, exames físicos e laboratoriais. Participaram do estudo 30 pacientes do sexo masculino, com idade igual ou superior a 60 anos, portadores de disfunção erétil, selecionados por meio de suas respostas a questionário sobre o Índice Internacional de Função Erétil, que foram divididos em dois grupos. O primeiro grupo (G1) recebeu tadalafila na dose de 20 mg duas vezes por semana durante três semanas, enquanto o outro (G2) recebeu placebo pelo mesmo período; decorrido este período, o G1 passou a tomar o placebo e o G2 recebeu tadalafila, nas mesmas condições já descritas. Os sujeitos foram orientados a fazer um diário sexual elaborado pelo pesquisador e analisado semanalmente. A análise dos resultados comprovou que 83,3% dos participantes (n = 25) tiveram ereção plena nas seis vezes em que usaram o medicamento, apenas um deles (3,3%) não conseguiu ter ereção nem uma vez e 63,3% não apresentaram nenhum efeito colateral. Com o placebo, 93,1% dos indivíduos (n = 27) não conseguiram ter ereção. A presente pesquisa mostrou que a tadalafila foi extremamente eficiente para que idosos alcançassem alto grau de satisfação e sucesso em suas relações sexuais, representando uma nova arma a favor dessa crescente população na luta contra a disfunção sexual erétil. Palavras-chave: disfunção erétil; tadalafila; envelhecimento. ABSTRACT EFFICACY OF TADALAFIL IN ELDERLY MALES PRESENTING ERECTILE DYSFUNCTION The search for the elderly quality of life has found some obstacles in sexuality field, because male aging may cause losses in erection capacity. There are several causes for erectile dysfunction: organic, psychogenic or mixed. This study was carried out aiming to evaluate the efficacy of tadalafil in elderly men presenting erectile dysfunction of various etiologies. In order to do that, a rigorous selection of patients was performed following the inclusion and exclusion criteria pre-established. All the participants were pre-evaluated through anamnesis, physical and laboratory exams. The 30 individuals participating in the study were male, 60 years old or more, presenting erectile dysfunction, selected by their responses to the International Index of Erectile Function (IIEF) questionnaire, and divided into two groups. The first group (G1) received 20 mg of tadalafil twice a week for three weeks, while the other group (G2) received placebo for the same period; after this period, G1 received placebo and G2 received tadalafil under the same conditions already described. The participants were asked to keep a sexual diary prepared by the researcher and analyzed weekly. The analysis of the results showed that 83.3% of the participants (n = 25) had complete erection in the six times they used the medicine, only one of them (3.3%) did not have any erections, and 63.3% did not present any collateral effects; 93.1% of the placebo-treated patients (n = 27) did not have any erections. The present research showed that tadalafil was extremely efficient to give the elderly a high degree of satisfaction and success in their sexual intercourses, representing a a new resource for this increasing population in their struggle against erectile dysfunction. Key words: erectile dysfunction; tadalafil; aging. SUMÁRIO LISTA DE TABELAS ................................................................................ 6 LISTA DE FIGURAS ................................................................................ 7 LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................... 8 RESUMO .................................................................................................. 9 ABSTRACT .............................................................................................. 10 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13 2 OBJETIVOS ............................................................................................. 15 2.1 Objetivo geral ...................................................................................... 15 2.2 Objetivos específicos .......................................................................... 15 3 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 16 3.1 Envelhecimento, velhice e atividade sexual ....................................... 16 3.1.1 Envelhecimento e atividade sexual ........................................... 16 3.1.2 Velhice e atividade sexual do idoso .......................................... 18 3.2 Alterações androgênicas do envelhecimento ..................................... 20 3.3 Fisiologia da ereção peniana .............................................................. 21 3.3.1 Anatomia funcional do pênis ..................................................... 22 3.3.2 Fisiologia da ereção peniana ..................................................... 26 3.3.3 Ereção: mecanismos centrais de neurotransmissão ................. 30 3.4 Disfunção erétil ................................................................................... 32 3.4.1 Disfunção erétil e epidemiologia ................................................ 32 3.4.2 Qualidade de vida e disfunção erétil ......................................... 33 3.4.3 Fatores de risco da disfunção erétil ........................................... 35 3.4.4 Fisiopatologia da disfunção erétil .............................................. 36 3.4.5 Tratamento clínico da disfunção erétil ....................................... 38 3.5 Tadalafila ............................................................................................ 39 3.5.1 Farmacodinâmica e farmacocinética da tadalafila .................... 39 3.5.2 Reações adversas da tadalafila ................................................ 41 4 CASUÍSTICA E MÉTODOS ..................................................................... 42 4.1 Casuística ........................................................................................... 42 4.2 Delineamento do estudo ..................................................................... 43 4.3 Método estatístico ............................................................................... 43 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 45 6 CONCLUSÕES ......................................................................................... 54 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 55 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................ 61 APÊNDICES ............................................................................................. 62 APÊNDICE A. APROVAÇÃO PELO COMITÊ DE ÉTICA DO HOSPITAL MONTE SINAI ........................................................................................... APÊNDICE B. DECLARAÇÃO DE DISPONIBILIZAÇÃO 63 DE ESTRUTURA PARA A PESQUISA .......................................................... 64 APÊNDICE C. QUESTIONÁRIO DO ÍNDICE INTERNACIONAL DE FUNÇÃO ERÉTIL (IIEF) ........................................................................... APÊNDICE D. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE 65 E ESCLARECIDO ........................................................................................ 68 APÊNDICE E. DIÁRIO SEXUAL .............................................................. 70 13 1 INTRODUÇÃO A preocupação com o envelhecimento e o aumento da longevidade é motivo de discussão e pesquisa em todo o mundo. Esse tema tem desafiado profissionais de várias áreas de atuação. Com ênfase nesse processo, é cada vez mais importante a busca pela qualidade de vida dos idosos e sua inserção no meio sociocultural (WHO, 2005). Objetivando melhorar a qualidade de vida dos idosos, surgiu a Gerontologia, ciência que estuda o processo de envelhecimento e as múltiplas alterações que envolvem os gerontes (PAPALÉO NETTO; PONTE, 1996). Os gerontólogos são ativos na transformação da velhice em uma questão social, do idoso em um novo ator e, além disso, em razão do sucesso dos programas voltados para a população de idosos e do interesse pelas tecnologias de rejuvenescimento, também são agentes privilegiados na reprivatização da velhice (DEBERT, 2004). Embora o interesse sexual dos idosos seja mais abrangente do que se pensa, existe o mito da velhice assexuada, reforçando a imagem popular de que o idoso que expressa sua sexualidade com naturalidade apresenta um desvio da normalidade. Assim, muitos idosos têm tomado para si o estereótipo negativo da pessoa anciã representado por um inválido assexuado (RIBEIRO, 1996). O impacto social da melhoria de qualidade de vida e longevidade tem aumentado o interesse em se identificar e tratar a disfunção erétil (DE) no homem idoso. Entretanto, ainda existem poucos estudos epidemiológicos sobre DE dirigidos à população idosa. Dados estatísticos para os Estados Unidos mostraram que, de 14 400.000 consultas motivadas por DE feitas em 1985, 40% envolveram homens acima de 60 anos de idade (MARINELLI; MOREIRA JÚNIOR; ROCHA, 2003). Mostrar que esse panorama não reflete a realidade é de responsabilidade dos pesquisadores, pois muitas pessoas na sexta, sétima e oitava décadas de vida continuam sendo sexualmente ativas e mais da metade dos homens de 90 anos relata que mantém o interesse sexual (SCHIAVI; REHMAN, 1995). É muito difícil haver um profissional, no contexto médico, que aborde a questão sexual e ouça as queixas do paciente idoso (JACOB FILHO; ANDRADE; COELHO, 2002). Se a sociedade evita o assunto em decorrência do preconceito, os médicos ignoram-no por completo e os pacientes sentem-se constrangidos e embaraçados. Desse modo, o panorama sexual na população idosa fica relegado ao conformismo e à apatia cultural. Grande parte da sociedade não contribui para que as pessoas idosas possam manifestar livremente sua sexualidade, seja pelo negativismo cultural, seja simplesmente pela rejeição ao indivíduo por ser idoso. É importante estudar a sexualidade no envelhecimento, pois as pesquisas nesse campo são escassas e as já existentes trazem poucas informações, provavelmente porque o assunto tenha sido marginalizado pela comunidade científica (JACOB FILHO; ANDRADE; COELHO, 2002). A tendência contemporânea, entretanto, é rever os estereótipos associados ao envelhecimento (DEBERT, 2004). A idéia de um processo de perdas tem sido substituída pela consideração de que os estágios mais avançados da vida são momentos propícios para novas conquistas, guiadas pela busca do prazer e da satisfação pessoal. Esta dissertação aborda a atividade sexual do homem idoso e avalia a eficácia da tadalafila em homens acima de 60 anos de idade portadores de DE. 15 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar a eficácia da tadalafila em homens acima de 60 anos de idade portadores de DE. 2.2 Objetivos específicos 9 Avaliar a eficácia da tadalafila, considerando a ocorrência de ereções penianas plenas; 9 Avaliar o grau de satisfação do usuário do fármaco; 9 Avaliar o tipo e a freqüência das reações adversas à tadalafila. 16 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Envelhecimento, velhice e atividade sexual 3.1.1 Envelhecimento e atividade sexual O envelhecimento é considerado um processo dinâmico e progressivo no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a progressiva perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos, os quais terminam por levá-lo à morte (CARVALHO FILHO; ALENCAR, 1994). A determinação de que a velhice se inicia aos 65 anos de idade difundiu-se a partir do final do século XX como conseqüência da necessidade de definição de uma idade para a aposentadoria (MORAGAS, 1997). A Organização das Nações Unidas estabeleceu as idades de 60 anos e 65 anos como aquelas que especificam o início da velhice nos países em desenvolvimento e nos países desenvolvidos, respectivamente (NÉRI; FREIRE, 2000). No entanto, outras características do indivíduo, tais como: estado físico, ocorrência de doenças, história pessoal e profissional, equilíbrio familiar e social, deveriam ser levadas em consideração e avaliadas para se definir essa fase da vida, em vez de se estabelecer arbitrariamente uma idade específica para que ela ocorra (MORAGAS, 1997). 17 Alguns estudos mostram que o envelhecimento e as alterações hormonais estão mais diretamente relacionados com a atividade sexual do que com a libido (BERTERO, 2002). A desinformação, as falsas expectativas e a atitude derrotista são alguns fatores que podem contribuir para a disfunção sexual do idoso (JACOB FILHO; ANDRADE; COELHO, 2002). Em nossa cultura existe o mito de que o processo de envelhecimento acarreta perda da capacidade de ereção peniana (BRANDÃO, 1996). Discutir a sexualidade na terceira idade é expor um tema efervescente ao qual novas descobertas são adicionadas a cada dia, embora o assunto ainda se encontre cercado de muito preconceito por parte dos mais jovens, dos próprios idosos e de vários profissionais da saúde (RIBEIRO, 1996). A atividade sexual é ou tem sido socialmente aceita como uma característica pertencente ao indivíduo jovem, e a sua valorização entre os idosos é ou tem sido entendida como uma transgressão social, ou mesmo uma peculiaridade clínica (JACOB FILHO; ANDRADE; COELHO, 2002). O assunto tem sido marginalizado pela comunidade científica de tal modo que, apesar da explosão demográfica dos idosos (aged boom), da melhoria da compreensão sobre os fenômenos decorrentes do processo de envelhecimento e da diversificada co-morbidade encontrada nessa faixa etária, os estudos sobre o comportamento sexual nas faixas etárias mais avançadas são bastante escassos (JACOB FILHO; ANDRADE; COELHO, 2002). O ato sexual humano, além de seu aspecto puramente reprodutivo, tem atributos psicológicos e sociológicos, servindo para atender às necessidades pessoais mais profundas, reforçando a ligação entre os parceiros e colaborando para a estabilidade da sociedade (RIBEIRO, 1996). 18 A sexualidade está vinculada à sensibilidade física e psíquica, à sociabilidade, à intimidade que mantém aceso o amor e impulsiona a qualidade de vida (COSTA, 2003). É muito comum encontrar pessoas que têm dificuldade de entender a atividade sexual do indivíduo idoso, pelo fato de não compreenderem o processo de maturidade do corpo ou o modo como o processo de envelhecimento pode alterar o interesse e a capacidade sexual do idoso (BRANDÃO, 1996). A sexualidade é o resultado da complexa psicodinâmica entre as íntimas emoções vividas pelo indivíduo em sua cultura e os valores com que esta significa os sexos, atribui funções, hierarquiza e confere poderes (GRESPAN; LUIZ, 2005). 3.1.2 Velhice e atividade sexual do idoso A velhice humana origina reduções na capacidade funcional em decorrência do transcurso do tempo, assim como ocorre com qualquer organismo vivo, mas essas limitações não impossibilitam o ser humano de desenvolver sua vida plenamente, como uma pessoa que vive não somente com seu psíquico e o social, mas também com o físico (MORAGAS, 1997). A velhice não está relacionada a uma existência restrita a alterações funcionais, pois o idoso é capaz de desfrutar essa etapa de sua vida com qualidade, apesar das limitações inerentes ao processo de senescência. Uma velhice bem-sucedida, com boa qualidade de vida, depende das chances do indivíduo quanto a usufruir condições adequadas de educação, urbanização, habitação, saúde e trabalho durante todo o seu curso de vida (FREIRE, 2000). 19 É também do delicado equilíbrio entre as limitações e as potencialidades do indivíduo que lhe advém a possibilidade de lidar com as perdas inevitáveis do envelhecimento, apresentando diferentes graus de eficácia (MASCARO, 1997). No homem idoso, a dimensão da velhice está relacionada às alterações fisiológicas em sua potência física ou sexual. Assim, ele se sente velho e vê sua masculinidade ameaçada. Com isso, o medo de envelhecer pode desencadear um quadro de depressão, o qual, por sua vez, diminui o interesse e, conseqüentemente, a atenção para perceber estímulos que venham a despertar a libido desse indivíduo (RIBEIRO, 1996). A ereção acontece durante a maior parte da vida de um homem. Com o envelhecimento, os homens podem levar mais tempo para obtê-la, mesmo com estímulo suficiente. Apesar de ser um resultado normal do processo de envelhecimento, isso angustia o idoso, já que ele relaciona a capacidade de obter uma ereção à sua masculinidade (BRANDÃO, 1996). A velhice é marcada por sabedoria, ressignificação de valores, consciência da finitude, esperança, mas também por perdas, entre as quais se destacam as biológicas, as sociais e as psicológicas, que podem gerar sentimentos de solidão, desvalorização pessoal e profissional ou levar à dependência e à falta de autonomia (CORTELLETTI; CASARA; HERÉDIA, 2004). Os profissionais da saúde que atuam na área da sexualidade deveriam ter como um de seus objetivos proporcionar aos idosos uma velhice digna e esclarecida. 20 3.2 Alterações androgênicas do envelhecimento Os androgênios são produzidos pelos testículos e pelas glândulas suprarenais e dependem da integridade do eixo hipotálamo-hipofisário-adrenal-gonadal, sendo a testosterona um dos mais importantes representantes desses hormônios (FONSECA; CAMPOS; GLINA, 2003). O homem adulto e saudável produz aproximadamente 5 mg a 7 mg de testosterona todos os dias, o que permite manter os níveis plasmáticos desse hormônio entre 300 ng/dL e 1.000 ng/dL, ocorrendo o pico no período da manhã e o nadir no período noturno (FONSECA; CAMPOS; GLINA, 2003). A partir dos 40 anos, o homem apresenta diminuição de 1,2% ao ano nos níveis séricos de testosterona livre e de 1,0% ao ano nos níveis de testosterona ligada à albumina. Entretanto, o nível sérico de testosterona total permanece estável até a quinta década da vida, apresentando, a partir daí, um processo de diminuição que varia entre 0,4% e 0,8% ao ano (FONSECA; CAMPOS; GLINA, 2003). Os níveis de testosterona biodisponível apresentam-se reduzidos em aproximadamente 25% dos homens com idade superior a 75 anos. A função testicular é afetada de maneira lenta e progressiva como parte do processo normal de envelhecimento e em cerca de 20% da população de idosos ocorre uma situação de hipogonadismo (FONSECA; CAMPOS; GLINA, 2003). A diidroepiandrosterona (DHEA) e a androstenediona, andrógenos produzidos pelas supra-renais, são os primeiros hormônios a apresentar declínio com o avanço da idade (FONSECA; CAMPOS; GLINA, 2003). 21 Todo o processo clínico e fisiológico e as abordagens terapêuticas atuais para homens idosos com alteração da libido, portadores de DE, com alterações de massa óssea e muscular, de memória e de funções cognitivas estão revolucionando a pesquisa, a discussão e o entendimento das causas, das complicações e do tratamento dos distúrbios da sexualidade (FONSECA; CAMPOS; GLINA, 2003). As alterações androgênicas do envelhecimento não são um fenômeno isolado. O envelhecimento masculino é acompanhado de outras alterações de caráter multifatorial, pois simultaneamente ao envelhecimento ocorrem alterações fisiológicas que podem afetar os níveis hormonais, incluindo co-morbidades, uso de alguns medicamentos, depressão, alcoolismo, tabagismo, falta de atividade física, falta de parceria sexual, dentre outras (FONSECA; CAMPOS; GLINA, 2003). 3.3 Fisiologia da ereção peniana Deve-se salientar que é importante para os profissionais que trabalham com homens idosos ter noções sobre a anatomia e a fisiologia do pênis, bem como da fisiopatologia da DE para que sejam capazes de diferenciar os efeitos que o processo de envelhecimento pode causar sobre a função erétil de doenças ou reações medicamentosas (GROMATZKY; CARTAFINA; GÓES, 2003; TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). 22 3.3.1 Anatomia funcional do pênis O pênis, que tem duas funções principais, a urinária e a sexual, contém estruturas anatômicas que permitem a penetração vaginal durante o ato sexual, as quais são constituídas por dois corpos cavernosos (CC) e um corpo esponjoso (CE). Está localizado acima da bolsa escrotal, sendo unido à sínfise pubiana por dois ligamentos (TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). A microarquitetura dos CC revela uma estrutura de tecido conjuntivo que serve de sustentação para um conjunto de músculo liso e endotélio (espaços lacunares), que é preenchido por sangue proveniente das artérias cavernosas direita e esquerda, as quais são ramos das artérias pudendas internas (Figura 1). Figura 1. Corte transversal do pênis. Fonte: TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA (2002). 23 Funcionalmente, a musculatura lisa é responsável por modular o fluxo sangüíneo intracavernoso. Os CC são responsáveis pela rigidez peniana, por estarem rodeados pela túnica albugínea, uma estrutura fibrosa elástica (WROCLAWSKI; TORRES, 2002). As artérias penianas se originam da artéria pudenda interna, ramo da artéria hipogástrica que, no interior do órgão, se subdivide em três ramos: artéria dorsal, artéria cavernosa e artéria bulbouretral (TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). A drenagem venosa é complexa e está integrada por dois sistemas, sendo um superficial e outro profundo, que inclui a veia dorsal profunda, as veias circunflexas, as veias emissárias, as veias cavernosas e as veias crurais. Os espaços lacunares drenam em pequenas vênulas, as quais confluem para um plexo subalbugíneo que, por sua vez, emerge como veias emissárias (Figura 1 e Figura 2). Notam-se os dois CC com as artérias cavernosas em seu centro e os espaços sinusoidais envoltos pela túnica albugínea. Podem também ser observados as artérias e os nervos dorsais, as veias dorsais superficiais e profunda e as artérias esponjosas (TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). A túnica albugínea que reveste os corpos cavernosos é uma bainha resistente e espessa que protege o tecido erétil, permitindo rigidez aos CC e participando do fenômeno venoclusivo durante o estado de ereção (WROCLAWSKI; TORRES, 2002). O pênis é inervado pelo sistema nervoso autônomo, com fibras simpáticas T11-L2 da medula espinhal e fibras parassimpáticas (S2-S4) também provenientes da medula espinhal (Figura 3). Esse conjunto participa do controle do processo de ereção-detumescência peniana (WROCLAWSKI; TORRES, 2002). 24 Figura 2. Pênis em corte transversal dissecado em camadas. Fonte: PAGANI; DI DIO (2002). A inervação somática do pênis é feita pelo nervo pudendo, que contém aferentes sensoriais e eferentes motores. O nervo dorsal do pênis é o ramo sensorial do nervo pudendo. As fibras sensoriais são responsáveis pela condução de impulsos sensitivos táteis, de pressão, vibratórios, térmicos e dolorosos (PAGANI; DI DIO, 2002). A Figura 4 mostra o esquema da inervação somática e autonômica peniana. Nota-se o hipotálamo como principal centro encefálico gerador de ereções psicogênicas. Os impulsos originados no hipotálamo dirigem-se à formação reticular e daí atingem centros espinhais (PAGANI; DI DIO, 2002). As vias simpáticas, de ação predominantemente erectolítica, originam-se nos segmentos T11-L2 da medula 25 espinhal e ambas reúnem-se nos nervos cavernosos. As vias somáticas, representadas pelos nervos dorsais do pênis e pudendos, realizam a integração também nos segmentos S2-S4 (WROCLAWSKI; TORRES, 2002). Figura 3. Inervação peniana. Fonte: TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA (2002). 26 Figura 4. Esquema da inervação somática e autonômica peniana. Fonte: PAGANI; DI DIO (2002). 3.3.2 Fisiologia da ereção peniana A ereção é um processo neuro-hemodinâmico ativo que ocorre em um ambiente endócrino adequado em face de diversos estímulos. A ereção é o sinal físico de excitação sexual nos homens que, em geral, ocorre poucos segundos após 27 o início da estimulação sexual, sendo o resultado de um acúmulo de sangue nos tecidos esponjosos que compõem o pênis (BRANDÃO, 1996). O processo de ereção tem por base o relaxamento das fibras musculares dos CC, permitindo maior fluxo sangüíneo arterial para os espaços lacunares, com concomitante vasodilatação das artérias cavernosas. A distensão dos espaços lacunares leva à compressão do plexo venoso contra a túnica albugínea, diminuindo o fluxo venoso (GROMATZKY; CARTAFINA; GÓES, 2003). A pressão intracavernosa eleva-se, promovendo, então, a rigidez peniana (Figura 5). Figura 5. Mecanismo de venoclusão. Fonte: TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA (2002). Em nível de sistema nervoso central (SNC) há diversas áreas associadas à resposta sexual. Em relação à ereção propriamente dita, os núcleos paraventriculares, a área pré-óptica medial e o hipocampo são as áreas mais 28 estudadas. Ainda assim, na modulação da resposta sexual participam diversos neurotransmissores, sendo alguns facilitadores e outros, inibidores. Os facilitadores (ou excitadórios) principais são: dopamina, acetilcolina, oxitocina e serotonina (TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). À vasodilatação arterial peniana sobrevém um aumento do fluxo sangüíneo até os espaços lacunares, enquanto o relaxamento do músculo liso sinusoidal permite a distensão desses espaços (tumescência). O aumento de pressão gerado leva à compreensão das veias emissárias contra a túnica albugínea e o corpo cavernoso esponjoso apresenta exclusivamente tumescência, como mostrado na Figura 6 e na Figura 7 (TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). Figura 6. Corpo cavernoso com o pênis em estado de flacidez. Fonte: TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA (2002). 29 Figura 7. Corpo cavernoso com o pênis em estado de ereção. Fonte: TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA (2002). O principal neurotransmissor periférico que promove o relaxamento da musculatura lisa dos CC é o óxido nítrico, sintetizado pela enzima óxido nítrico sintetase. O óxido nítrico atua sobre a célula muscular lisa promovendo aumento da concentração intracelular de guanosina monofosfato cíclica (GMPc), segundo mensageiro que induz a dissociação do complexo actina-miosina, com diminuição da concentração intracelular de cálcio e conseqüente relaxamento das fibras musculares lisas (WROCLAWSKI; TORRES, 2002). Um aspecto importante no processo de ereção peniana é a transmissão de informações entre as células musculares lisas, por intermédio de conexões intercelulares conhecidas como gap junctions (WROCLAWSKI; TORRES, 2002). Tais conexões permitem tanto a troca de íons cálcio como também de GMPc, o que explica a sincronização do relaxamento da musculatura lisa dos CC no processo de ereção (Figura 8). 30 Figura 8. Neurotransmissores facilitadores da ereção peniana. Fonte: TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA (2002). 3.3.3 Ereção: mecanismos centrais de neurotransmissão Ereção, do latim, erectio, designa o estado de elevação, enrijecimento ou endurecimento (PAGANI; DI DIO, 2002). No momento da ereção, a vasodilatação das artérias heliciformes desvia o sangue para os espaços sinusoidais, também abertos pela ação de fatores miorrelaxantes e estes comprimem a drenagem venosa contra a túnica albugínea, conferindo rigidez ao pênis. Na detumescência, a contração da musculatura lisa cavernosa reduz a compressão das vênulas e o início 31 da drenagem. Com o leito venoso aberto, a drenagem torna-se progressivamente mais fácil, revertendo a ereção (GLINA et al., 2002). Diversos neurotransmissores centrais têm participação na modulação da função sexual e erétil (TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). Os principais neurotransmissores excitatórios são: dopamina, acetilcolina, prostanóides, oxitocina e peptídeo vasointestinal. A serotonina é um neurotransmissor central que pode modular a ereção peniana de formas diferentes, de acordo com o receptor sobre o qual atua (WROCLAWSKI; TORRES, 2002). Entre os neurotransmissores inibidores mais importantes são relacionados noradrenalina, peptídeos opióides e endotelinas (Figura 9). Figura 9. Neurotransmissores facilitadores da detumescência peniana. Fonte: TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA (2002). 32 3.4 Disfunção erétil 3.4.1 Disfunção erétil e epidemiologia Define-se DE como a incapacidade do homem de obter ereção peniana com rigidez e tempo de duração suficiente para uma relação sexual (MARINELLI; MOREIRA JÚNIOR; ROCHA, 2003). O primeiro estudo epidemiológico sobre esse assunto foi conduzido em 1948 e os autores admitiram a ocorrência de DE em cerca de 1% dos homens abaixo de 19 anos, 3% até 45 anos, 6,7% entre 45 e 55 anos e em 25% até a idade de 75 anos (CAIROLI; RHODEN, 2003). Admite-se que a ocorrência de DE esteja diretamente relacionada ao avanço da idade e que um em cada cinco homens após os 50 anos e um em cada quatro homens após os 65 anos de idade apresentam queixas dessa disfunção (BENET; MELMAN, 1995). No sul do Brasil, 965 homens com idades variando de 40 a 90 anos responderam ao Índice Internacional de Função Erétil (IIEF), tendo sido observada DE em 53,9% deles, a qual foi considerada leve em 21,5%, moderada em 14,1% e severa em 11,9% dos entrevistados. A estratificação por idade demonstrou que as seguintes porcentagens de indivíduos relataram DE: na faixa de 40-49 anos, 36,4%; 50-59 anos, 42,5%; 60-69 anos, 58,1%; 70-79 anos, 79,4%; com 80 anos ou mais, 100%. Resultados semelhantes foram observados no norte do Brasil, de acordo com a avaliação de 1.286 homens, tendo sido relatada DE em 46,2% dos indivíduos, a qual foi considerada leve em 31,5%, moderada em 12,1% e completa em 2,6% dos 33 indivíduos. No mesmo estudo, a prevalência de DE aumentou dez vezes entre homens na faixa de 40 a 70 anos, passando de 1% para 11%, a DE moderada aumentou de 8% para 27%, enquanto a DE mínima permaneceu aproximadamente constante em 31% (CAIROLI; RHODEN, 2003). O Brasil ainda necessita de estudos planejados para a obtenção de dados confiáveis que abranjam diferenças regionais, sociais e culturais de modo a fornecer números exatos de homens que necessitam de tratamento para a DE. 3.4.2 Qualidade de vida e disfunção erétil Qualidade de vida é a percepção do indivíduo quanto à sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive, levando em conta suas metas, expectativas, padrões e preocupações (OMS, 1998). Definir qualidade de vida não é uma tarefa fácil, pois tem significados diversos para diferentes pessoas em lugares e ocasiões distintos (PASCHOAL, 2002). O conceito adotado pelos gerontologistas é o modelo multidimensional de Lawton (1983), o qual declara que qualidade de vida é uma avaliação multidimensional, realizada a partir de critérios intrapessoais e socionormativos, a respeito do sistema pessoa–ambiente de um indivíduo, no momento atual, no passado e no futuro. Qualidade de vida pode ser definida como a adequação das circunstâncias materiais e dos sentimentos das pessoas a respeito dessas circunstâncias (RUIGÓMEZ, A.; ALONSO, J.; ANTÓ, 1993), ou é um termo que se refere à avaliação das circunstâncias da vida de um indivíduo, grupo ou população (BIRREN; DIECKMAN, 1991). 34 A má qualidade de vida é um dos maiores fatores impeditivos de uma plena relação sexual em qualquer idade, entendida como atração e aproximação genital, sendo a sexualidade uma expressão muito mais ampla de afeto, carinho, contato, conhecimento e integração de pessoas (FRAIMAN, 1995). A gerontologia tem como referência quatro dimensões que envolvem: a otimização de funções e de capacidades, levando à maior autonomia e independência; a prevenção de fatores de risco que comprometem a qualidade de vida do idoso; a reabilitação no sentido de remotivá-lo para a vida; o gerenciamento de situações irreversíveis de forma a dar maior segurança e conforto ao idoso comprometido (BRANDÃO, 1996). A DE é uma condição multifatorial que afeta a qualidade de vida de um grande número de homens (GLINA et al., 2002), podendo afetar indiretamente os relacionamentos sociais e desenvolver, em alguns casos, problemas mais sérios como a depressão. Desde o seu nascimento, o indivíduo tem obrigações sociais a cumprir, tais como crescer, namorar e fazer sexo. Para ser reconhecido e reconhecer-se como homem, ele necessita cumprir as inúmeras contingências exigidas pela sociedade (RODRIGUES JÚNIOR, 2002). A vida sexual é um fato que existe desde o nascimento até a morte, portanto, o estereótipo de que o idoso não tem interesse por sexo é decorrente da cultura em que se vive e da ansiedade que cerca o assunto (BRANDÃO, 1996). A DE tem profundo impacto na qualidade de vida dos idosos (BERTERO, 2002), os quais permanecem interessados em sexo e cuja atividade preferida é a relação com penetração. Para tal, a capacidade de ereção é fundamental. 35 Os profissionais de saúde que se preocupam com a qualidade de vida dos indivíduos idosos devem ter como objetivo proporcionar-lhes bem-estar em todas as áreas e, fundamentalmente, em sua vida sexual, muitas vezes relegada a segundo plano em nossa cultura. O tratamento da DE com medicamento oral comprova significativo impacto na melhoria dos parâmetros de qualidade de vida relacionados à disfunção sexual e à saúde mental (ABDO; COSTA, 2005). 3.4.3 Fatores de risco da disfunção erétil Não obstante o aumento da incidência de DE com a idade, ela não é uma conseqüência inexorável do processo de envelhecimento, pois o homem idoso hígido pode ter a mesma proporção de musculatura intracavernosa que o jovem (TELOKEN et al., 1998). No entanto, a DE pode ser sensivelmente aumentada por processos que ocorrem com o avanço da idade, tais como aterosclerose, doenças cardíacas, diabetes e hipertensão (MORAES; CAIROLI; CHAVES, 2003). Entre os vários fatores que podem comprometer o desempenho sexual do homem estão: idade avançada, baixa escolaridade, baixa renda, desemprego, sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, uso de drogas, obesidade, diabetes melittus, cardiopatias, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, hiperlipidemias, dislipidemias, tumores de próstata, trauma pélvico, insuficiência renal, cirurgias do aparelho genito-urinário, doenças hormonais, uso de medicamentos, estresse emocional, percepção negativa da saúde, coerção sexual, insatisfação com a vida e sintomas de depressão (ABDO; COSTA, 2005). 36 A DE aumenta na proporção em que esses fatores se apresentam associados em um mesmo indivíduo. A importância de se conhecer os fatores de risco é essencial na prevenção e controle dessa afecção. 3.4.4 Fisiopatologia da disfunção erétil Independentemente do mecanismo etiológico envolvido, sugere-se que o problema básico em pacientes com DE seja um desequilíbrio entre a contração e o relaxamento da musculatura lisa do CC. A DE pode ser classificada quanto à sua origem em três grandes grupos (WROCLAWSKI; TORRES, 2002): 9 Psicogênica; 9 Orgânica; 9 Mista (orgânica e psicogênica). A DE psicogênica é definida como aquela em que não se identifica nenhum componente orgânico (TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002); é mais prevalente em homens jovens, com apenas 10% dos casos ocorrendo em indivíduos com mais de 50 anos (REHMAN; MELMAN, 2002). Quanto à fisiopatologia, permite-se classificar a DE orgânica (WROCLAWSKI; TORRES, 2002) em: a. Arterial ou vascular – as alterações hemodinâmicas determinadas por obstruções arteriais crônicas ou traumáticas promovem a diminuição do aporte 37 sangüíneo aos sinusóides dos CC, podendo reduzir de forma significativa a qualidade da ereção; b. Neurogênica – como a ereção peniana é um evento neurovascular, qualquer doença ou disfunção que afete o cérebro, a medula espinhal ou a inervação periférica do pênis pode induzir disfunção erétil; c. Endócrina – hormônios modulam não só a libido, como também a ereção peniana. O hipogonadismo, a hiperprolactinemia e os distúrbios no perfil hormonal tireoidiano podem interferir negativamente na ereção; d. Tecidual – o aumento de fibras colágenas e a diminuição de fibras elásticas e do percentual de fibras musculares lisas dos CC, que podem ocorrer com o processo de envelhecimento e em presença de doenças degenerativas, explicam a fisiopatologia da DE denominada disfunção venoclusiva; e. Medicamentosa – efeitos secundários provocados por medicamentos podem promover distúrbios da libido, disfunções ejaculatórias e DE. Os medicamentos de ação sobre o sistema nervoso central, como ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos, são freqüentemente relacionados com piora da função erétil. Algumas classes de anti-hipertensivos, sobretudo diuréticos e certos beta-bloqueadores, e diversas drogas com atividade anti-androgênica podem atuar também de forma negativa na qualidade da ereção peniana. 38 3.4.5 Tratamento clínico da disfunção erétil O tratamento oral da DE é o preferido pela maioria dos homens e, de acordo com Vitezic e Pelcic (2002) e Torres (2003), as medicações disponíveis atualmente são: a. loimbina – é um antagonista do receptor alfa-2-adrenérgico e utilizado há mais de 100 anos. Estudos de metanálise não demonstraram eficácia comprovada, embora possa apresentar bons resultados em pacientes com DE de origem psicogênica. Entre os efeitos colaterais mais comuns encontram-se taquicardia, irritabilidade e náuseas; b. Fentolamina – é um antagonista dos receptores alfa-1 e alfa-2adrenérgicos de ação curta. Não demonstrou bons resultados e os efeitos colaterais mais freqüentes incluem cefaléia, taquicardia e hipotensão; c. Trazodona – é uma medicação antidepressiva de ação serotoninérgica, utilizada em homens com DE decorrente de ansiedade ou depressão. Entre os efeitos colaterais mais comumente relatados estão sonolência, boca seca e náuseas; d. Apomorfina sublingual – é um agonista dopaminérgico indicado principalmente para homens com DE leve a moderada. Seus efeitos colaterais mais freqüentes são náuseas, cefaléia e tonteiras. Há também os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE-5), que são os mais utilizados atualmente pelo seu alto grau de eficácia e segurança (CORBIN; FRANCIS; WEBB, 2002). Esse grupo de agentes tem a característica em comum de ser contra-indicados para pacientes que fazem uso de medicamentos à base de 39 nitratos. Os efeitos colaterais também são comuns nesse grupo e os mais freqüentes são cefaléia, rubor facial, congestão nasal, dispepsia e mialgia. Entre os inibidores da PDE-5 encontram-se a sildenafila, a vardenafila e a tadalafila. A sildenafila está disponível no mercado desde 1998. Sua vida média é de aproximadamente quatro horas, devendo ser ingerida entre 30 minutos e 60 minutos antes da relação sexual. Seu efeito pode ser comprometido por alimentação e bebidas alcoólicas e não se deve utilizar mais do que uma dose máxima diária. Em raros casos pode causar distúrbios visuais, tais como fotossensibilidade e visão borrada (CORBIN; FRANCIS; WEBB, 2002). A vardenafila tem composição química bastante semelhante à da sildenafila. Sua vida média é de aproximadamente quatro horas e deve ser ingerida entre 30 minutos e 60 minutos antes da relação sexual. Parece não sofrer interferência de ingestão de alimentos ou bebidas alcoólicas (DOGGRELL, 2006). A tadalafila, princípio ativo do medicamento escolhido para desenvolver a presente pesquisa, é o lançamento farmacêutico mais recente para a terapia da DE. 3.5 Tadalafila 3.5.1 Farmacodinâmica e farmacocinética da tadalafila As propriedades farmacodinâmicas de uma droga são resultantes da interação com seu respectivo receptor. Já a farmacocinética descreve a movimentação de uma droga pelo organismo desde a sua administração até a sua eliminação (CAIROLI; CAMPOS, 2005). 40 Quando ocorre a estimulação sexual, há liberação de óxido nítrico local e a inibição da PDE-5 pela tadalafila produz níveis elevados de GMPc no CC. Assim, ocorre relaxamento da musculatura lisa e estriada de sangue nos tecidos penianos, produzindo uma ereção. A tadalafila é um inibidor seletivo da PDE-5, que é uma enzima encontrada na musculatura lisa do CC, região vascular, vísceras, músculo esquelético, plaquetas, rins, pulmões e cerebelo (CAIROLI; CAMPOS, 2005). A tadalafila é rapidamente absorvida após administração oral e sua concentração máxima observada no plasma é atingida após um tempo médio de duas horas (CAIROLI; CAMPOS, 2005). A ingestão de alimentos ou bebidas alcoólicas não interfere na absorção e na ação dessa medicação (NARDOZA JÚNIOR; GROMATIZK; FACIO JÚNIOR, 2005). O volume médio de distribuição dessa droga é de 63 litros, indicando sua ampla distribuição nos tecidos (CAIROLI; CAMPOS, 2005). No plasma, 94% da tadalafila encontra-se ligada a proteínas, ligação esta que não é afetada em indivíduos com insuficiência renal. Sua metabolização é predominantemente feita pela via do citocromo P450 (CYP) isoforma 3A4. O clearance oral médio para essa substância é de 2,5 L/h e sua meia-vida é de 17,5 horas em indivíduos sadios. O glicuronídeo metilcatecol é o metabólito circulante principal, e é pelo menos 13.000 vezes menos potente do que a tadalafila propriamente dita (CAIROLI; CAMPOS, 2005). A tadalafila é excretada predominantemente como metabólitos inativos, principalmente nas fezes (aproximadamente 61% da dose) e em quantidade menor na urina (aproximadamente 36% da dose) (NARDOZA JÚNIOR; GROMATIZK; FACIO JÚNIOR, 2005). 41 3.5.2 Reações adversas da tadalafila As reações adversas ocasionadas por essa medicação não são prolongadas e não interferem na ingestão de alimentos ou bebidas alcoólicas (TORRES, 2003). Os efeitos adversos mais comumente relatados incluem cefaléia, dispepsia, lombalgia, congestão nasal, rubor facial e mialgia (CLARO; CHAVES; RHODEN, 2005; TORRES; UGARTE y ROMANO; GLINA, 2002). A tadalafila apresenta estrutura molecular e especificidade diferente de outras drogas inibidoras da PDE-5 e, por isso, também apresenta pequenas diferenças em relação aos efeitos colaterais (DOGGRELL, 2006). 42 4 CASUÍSTICA E MÉTODOS 4.1 Casuística A presente pesquisa foi conduzida no ambulatório de Urologia do Sistema Único de Saúde (SUS) do Hospital Monte Sinai, no município de Goiânia-GO, devidamente aprovada pelo Comitê de Ética nº 1 daquela instituição (Apêndice A), a qual disponibilizou sua estrutura para o atendimento dos indivíduos (Apêndice B). Este estudo se iniciou em fevereiro de 2006 e teve duração de três meses. Inicialmente, realizou-se a seleção dos idosos a participar por intermédio de agendamento de consultas para análise de antecedentes médicos e uso de medicações, avaliação andrológica, exame físico completo e exames laboratoriais, tais como: hemograma, ECG, raio-X de tórax, glicemia, testosterona total, FSH, LH, prolactina, lipidograma, TGO, TGP, γGT, uréia e creatina. Tais exames foram essenciais para averiguar se havia ocorrência de doenças como: dislipidemias, alterações hepáticas e renais, alterações cardíacas, alteração hormonal, hipogonadismo. Os participantes do estudo foram escolhidos entre indivíduos que estavam incluídos nos seguintes critérios: homens com idade igual ou superior a 60 anos; com diagnóstico clínico estabelecido de DE moderada a grave, com pelo menos quatro meses de duração, de acordo com a análise do questionário de IIEF (Apêndice C) respondido pelos candidatos; moradores da cidade de Goiânia-GO, com endereço fixo e que concordassem em participar da pesquisa após compreender e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice D). 43 Foram considerados critérios de exclusão: deformidades penianas, ICC grave, angina, lesão medular, alteração hepática ou renal significativa, ocorrência de acidente vascular cerebral nos últimos seis meses, uso de anti-androgênicos, quimioterapia, cirurgia pélvica, uso de próteses penianas. Desse modo, foram selecionados 30 idosos que participaram do estudo e não tiveram nenhum ônus durante a pesquisa. 4.2 Delineamento do estudo Foi realizado um ensaio clínico randomizado placebo-controlado ao longo de seis semanas. Os idosos selecionados foram divididos aleatoriamente em dois grupos de 15 participantes. O grupo G1 utilizou tadalafila por via oral na dose de 20 mg duas vezes por semana durante três semanas, enquanto o grupo G2 utilizou placebo pelo mesmo período. Decorrido esse período, o grupo G1 passou a utilizou placebo e o G2 utilizou tadalafila. Os idosos foram orientados a utilizar a medicação sempre 30 minutos antes das relações sexuais. Semanalmente, os idosos foram orientados a responder a um Diário Sexual (Apêndice E) no qual anotariam informações relativas à eficácia da medicação ou placebo e suas reações adversas. 4.3 Método estatístico A análise estatística foi elaborada a partir dos resultados baseados no cálculo da amostragem e no Diário Sexual que continha a avaliação dos idosos durante o 44 uso do medicamento. Cada indivíduo participante deveria anotar o dia e a hora em que tomou sua medicação (ou placebo), os fatos ocorridos após essa administração, isto é, se teve ereção ou não, a duração do efeito da droga e se ficou satisfeito. A cada semana o mestrando-pesquisador teve um encontro com os sujeitos da pesquisa no qual transcreveu, empregando os termos técnicos, todos os efeitos colaterais sentidos por eles e relatados com suas palavras. Para fazer a análise comparativa entre variáveis nominais de grupos independentes, foram usados o Teste Qui-quadrado e o Teste Exato de Fisher. O Teste Qui-quadrado tem como princípio básico comparar as divergências entre as freqüências observadas e as esperadas e compara a distribuição de diversos acontecimentos em diferentes amostras, a fim de avaliar se as proporções observadas desses eventos mostram ou não diferenças significativas ou se diferem quanto às proporções. O Teste Exato de Fisher, que é adequado para pequenas amostras, com 20 dados ou menos, testa diferenças entre dois grupos independentes em relação a uma variável qualquer que só admite duas possíveis respostas: Sim/Não, Positivo/Negativo ou +/- (CAMPOS, 2001; MORCILLO, 2003). Nas variáveis mensuráveis foi usada a Análise de Variância, empregada para avaliar grupos semelhantes (MORCILLO, 2003). Para as variáveis discretas restritas pareadas usou-se o Teste de Wilcoxon, empregado para avaliar se ocorreram modificações significativas nos dois conjuntos de dados. Quando as modificações ou diferenças são muito pequenas, podem ser devidas ao acaso, porém, quando são expressivas, é pouco provável que se devam ao acaso, sendo fruto de um fator causal (MORCILLO, 2003). 45 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados aqui apresentados referem-se aos 30 homens idosos que usaram tadalafila e placebo durante o período estabelecido de seis semanas. A pesquisa realizada visou obter análise da eficácia dos resultados da tadalafila com idosos, já que estudos exclusivos para homens com idade igual ou superior a 60 anos são escassos (MEULEMAN, 2003). Não se tentou identificar as causas da DE, visto que a droga em questão está indicada para DE psicogênica, orgânica e mista (BROCK et al., 2002). Todos os homens foram observados e analisados quando em uso de tadalafila durante três semanas e placebo pelo mesmo período de tempo, respondendo ao Diário Sexual no final de cada semana de uso. Os sujeitos da pesquisa apresentaram idade média de 67,8±4,7 anos, tendo sido a idade mínima de 60 anos e a idade máxima de 82 anos. Durante a intervenção medicamentosa, separaram-se os 30 pacientes em dois grupos. O grupo G1 (n = 15) foi constituído pelos pacientes que utilizaram o fármaco e o grupo G2 (n = 15) recebeu placebo durante três semanas. Foi possível observar que os idosos do grupo G1 aderiram 100,0% à terapia recomendada para tadalafila, enquanto para o grupo G2 observou-se 60,0% de adesão ao placebo, correspondendo a 9 dos 15 idosos. Em um segundo momento, os idosos do grupo G1 passaram a utilizar o placebo, apresentando adesão de 73,3%, e os indivíduos do grupo G2 passaram a utilizar a tadalafila, com 93,3% de adesão, todos por um período de três semanas. 46 Os resultados relatados por Eardley et al. (2005) demonstraram adesão à terapia com tadalafila de 93,7%, bastante semelhante à encontrada neste estudo. Os dados apontam para uma boa aceitação dessa terapia medicamentosa, independentemente da faixa etária, uma vez que no estudo de Eardley et al. (2005) foram investigados homens de diferentes idades, a grande maioria sendo de adultos jovens. O Diário Sexual foi preenchido por todos os indivíduos participantes do estudo. O acompanhamento da adesão à terapia foi realizado por meio do controle da contagem de comprimidos distribuídos semanalmente ao paciente para efetivar o tratamento. O placebo constituiu-se de amido, com apresentação idêntica à da tadalafila. Durante a pesquisa, cada idoso ingeriu seis comprimidos de 20 mg, sendo dois comprimidos por semana, em dias diferentes, de tadalafila ou placebo, 30 minutos antes da relação sexual. Como cada idoso utilizou dois comprimidos por semana de placebo ou fármaco durante três semanas, foi efetivado o uso da tadalafila por 89 vezes, já que um participante apresentou sintomas gástricos e deixou de tomar um comprimido. Nesse caso específico, foi introduzido omeprazol 20 mg, duas vezes ao dia, com boa evolução. Conforme a Tabela 1, nota-se que, dos 30 participantes, 83,3% (n = 25) obtiveram ereção plena todas as vezes em que fizeram uso de tadalafila, 6,7% deles (n = 2) obtiveram ereção plena em cinco das seis vezes que usaram a droga e 6,7% (n = 2) atingiram essa condição em quatro das seis vezes que fizeram uso dela. Para apenas um dos idosos (3,3%), o medicamento não se apresentou eficaz, pois ele não obteve ereção plena em nenhuma das vezes que fez uso do fármaco. 47 Nenhum participante referiu ereção parcial. Cabe ressaltar que entre aqueles que não obtiveram ereção plena após o uso do fármaco (n = 5), isso se verificou justamente no início do tratamento com a droga, após utilização do placebo por três semanas. Tabela 1. Distribuição de homens acima de 60 anos com disfunção erétil quanto ao número de vezes em que tiveram ereção plena nas seis vezes em que fizeram uso da tadalafila em três semanas. Ereção plena (nº) Usando tadalafila Usando placebo1 (n) (%) (n) (%) 6 25 83,3 – – 5 2 6,7 – – 4 2 6,7 – – 3 – – – – 2 – – 1 3,45 1 – – 1 3,45 0 1 3,3 27 93,1 Total 30 100,0 29 100,0 1 Houve ocorrência de falta de resposta de um participante. Z = 4,915 ; p < 0,001 (Teste de Wilcoxon). No presente trabalho, 96,7% dos participantes obtiveram ereção plena em pelo menos quatro das seis vezes em que fizeram uso do fármaco, resultado que 48 difere do obtido no trabalho de Carson et al. (2004), no qual 68% dos pacientes que tomaram o medicamento tiveram ereção plena. Embora na literatura haja relatos apontando que a tadalafila é útil no tratamento de DE de etiologias variadas, incluindo a psicogênica, a orgânica ou a combinação de ambas, nesta pesquisa verificou-se que esse fármaco não se mostrou 100% eficaz. Esse fato sugere que a droga não trata todas as causas psicogênicas ou orgânicas que levam à DE, podendo, assim, existir fatores etiológicos ou condições associadas para as quais a terapia com tadalafila não é eficaz, considerando o esquema posológico proposto. Em relação ao placebo, neste estudo 27 indivíduos (93,1%) não conseguiram ter ereção, ou seja, apenas 6,9% dos participantes obtiveram essa condição, o que difere bastante dos resultados encontrados na pesquisa de Carson et al. (2004), em que 31% daqueles que receberam placebo conseguiram ter ereção. Embora todos os participantes daquele estudo também tivessem diagnóstico de DE, essa discrepância pode ser decorrente da diferença entre a casuística empregada por aqueles pesquisadores, pois a faixa etária por eles avaliada abrangeu idades entre 22 anos e 81 anos e apenas 23% dos participantes tinham mais de 65 anos. Observa-se na Tabela 2 que 24 participantes (80%) relataram satisfação plena nas seis vezes em que usaram o medicamento, e na Tabela 3 verifica-se que todos esses indivíduos obtiveram ereção plena. Entretanto, um dos sujeitos que obteve ereção plena nas seis vezes em que fez uso do fármaco declarou estar insatisfeito, posto que a ereção não resultou em ejaculação. Três indivíduos declararam estar satisfeitos em cinco das seis vezes que fizeram uso da droga; destes, dois atingiram ereção plena por cinco vezes e um, por seis vezes. 49 Tabela 2. Distribuição de homens acima de 60 anos com disfunção erétil quanto ao número de vezes em que obtiveram satisfação plena entre as seis vezes em análise. Satisfação plena (nº) Usando tadalafila Usando placebo (n) (%) (n) (%) 6 24 80,0 – – 5 3 10,0 – – 4 2 6,7 – – 3 – 0,0 – – 2 – 0,0 1 3,3 1 – 0,0 1 3,3 0 1 3,3 28 93,4 Total 30 100,0 30 100,0 Z = 4,969; p < 0,001 (Teste de Wilcoxon). Durante a pesquisa foram avaliados o grau de satisfação e o tipo de ereção conforme a ordem de uso do medicamento e do placebo. A tadalafila foi usada em 178 ocasiões, tendo sido 90 delas no início do estudo e 88 após um período de três semanas de uso de placebo. A Tabela 3 mostra que quando a tadalafila foi usada antes do placebo, o grau de satisfação dos participantes foi de 97,8%, e quando usada após o placebo, de 89,8% (p = 0,022). As ereções plenas foram alcançadas em 97,8% das vezes em que os idosos usaram a tadalafila antes do placebo e em apenas 88,9% (p = 0,017) quando usada após o placebo. 50 Tabela 3. Grau de satisfação e tipo de ereção em homens acima de 60 anos com disfunção erétil conforme a ordem de uso da tadalafila. Característica avaliada Uso da tadalafila Antes do placebo (n) (%) p* Após o placebo (n) (%) 0,022 SATISFAÇÃO Insatisfeito – 0,0 8 9,1 Satisfação parcial 2 2,2 1 1,1 Satisfação plena 88 97,8 79 89,8 90 100,0 88 100,0 Total 0,017 TIPO DE EREÇÃO Não teve ereção – 0,0 5 5,6 Ereção parcial 2 2,2 5 5,6 Ereção plena 88 97,8 80 88,9 90 100,0 90 100,0 Total 0,118 TER OUTRA EREÇÃO Não 84 94,4 79 89,8 Sim 5 5,6 9 10,2 89 100,0 88 100,0 Total *Teste Exato de Fisher. 51 Não foram observadas diferenças em relação à insatisfação considerando-se a ordem de uso do placebo (p = 0,252) (Tabela 4). Já em relação ao tipo de ereção, constatou-se diferença estatisticamente significativa entre os dois momentos de uso do placebo. Nesse sentido, é possível identificar que mais homens que utilizaram o placebo após um período de uso de tadalafila passaram a ter algum grau de ereção (p = 0,002). Quando o idoso passa a vislumbrar um tratamento efetivo para o problema da DE, experimenta melhora nos parâmetros de qualidade de vida, principalmente naqueles relacionados à sexualidade e à saúde mental, o que talvez explique a maior ocorrência de ereções com placebo verificada neste estudo. Assim, é possível pensar que, após ter experimentado um período de sucesso com o uso de tadalafila, esses idosos se sentiram psicologicamente mais confiantes a ponto de, apesar do uso de placebo, conseguir obter mais ereções, mesmo que não tenham sido plenas. Esses dados também são encontrados em vários estudos multicêntricos, duplocegos, placebo-controlados (GIULIANO, 2001). A Tabela 5 mostra as reações adversas relatadas pelos participantes quando em uso da tadalafila. Avaliou-se um total de 180 vezes de uso do fármaco, correspondendo aos seis comprimidos que cada um dos 30 participantes usou. Em 63,3% das oportunidades avaliadas, não houve manifestação de nenhuma reação adversa. Nas ocasiões restantes, a reação adversa mais freqüente foi a cefaléia, com 23 episódios (12,8%), equiparando-se aos dados da pesquisa de Saenz et al. (2002); a epigastralgia apareceu em segundo lugar, com 18 episódios (10%); outras reações também observadas, porém com menor ocorrência, foram mialgia (5%), rubor facial (3,9%), dispepsia (2,2%), hipotensão (2,2%) e náuseas (0,6%). As reações adversas cardiovasculares sérias, como angina e infarto agudo do 52 miocárdio, não foram observadas, mesmo em se tratando de um grupo de indivíduos com maior risco de doenças cardiovasculares por causa de sua faixa etária. Tabela 4. Grau de satisfação e tipo de ereção em homens acima de 60 anos com disfunção erétil conforme a ordem de uso do placebo. Característica avaliada Uso do placebo Antes da tadalafila (n) (%) p* Após a tadalafila (n) (%) 0,252 SATISFAÇÃO Insatisfeito 77 93,9 78 95,1 Satisfação parcial 2 2,4 4 4,9 Satisfação plena 3 3,7 – 0,0 82 100,0 82 100,0 Total 0,002 TIPO DE EREÇÃO Não teve ereção 76 92,7 62 75,6 Ereção parcial 3 3,7 20 24,4 Ereção plena 3 3,7 – 0,0 82 100,0 82 100,0 Total 0,783 TER OUTRA EREÇÃO Não 82 98,8 23 100,0 Sim 1 1,2 – 0,0 83 100,0 23 100,0 Total *Teste Exato de Fisher. 53 Tabela 5. Reações adversas relatadas com o uso de tadalafila. Tipo de reação adversa Casos (n) (%) Nenhuma 114 63,3 Cefaléia 23 12,8 Epigastralgia 22 12,2 Mialgia 9 5,0 Rubor facial 7 3,9 Hipotensão 4 2,2 Náuseas 1 0,6 180 100,0 Total 54 6 CONCLUSÕES Como se encontra fortemente arraigada em nossa sociedade a crença de que a idade e o declínio da atividade sexual estão diretamente relacionados, há uma tendência a que não se preste atenção a um aspecto fundamentalmente ligado à qualidade de vida dos idosos: a sexualidade. As características psicológicas, sociais e culturais influem significativamente na função sexual e as variações individuais, durante o envelhecimento, indicam as mudanças na atividade sexual do idoso. Com o avanço da idade, há diminuição progressiva da atividade sexual. A dificuldade para conseguir as ereções pode produzir ansiedade e, principalmente, constrangimento nos idosos. Em decorrência de desconhecimento e pressão cultural, os idosos convivem com sentimentos de culpa e vergonha, pois neles ainda há intenso desejo sexual. A presente pesquisa mostrou que a tadalafila foi eficaz para que idosos alcançassem ereção plena com satisfação e sucesso na maioria das relações sexuais, sem causar grande freqüência de reações adversas por um período de 3 meses. De acordo com os participantes deste estudo, o prazer de conseguir realizar o ato sexual foi extremamente gratificante, o que contraria a idéia popular de que os idosos na sexta, sétima e oitava décadas de vida não se preocupam com essa prática e que o conformismo com a DE deva ser natural. Nota-se que, com o avanço da idade, a quantidade de relações sexuais não é tão importante e sim a naturalidade de poder exercer o seu desejo sexual sem constrangimento e sem sentimento de culpa ou medo. A tadalafila é uma nova arma a favor dos idosos para a luta contra a disfunção sexual erétil. 55 REFERÊNCIAS ABDO, C.; COSTA, M. Impacto social, qualidade de vida, dependência psicológica e uso recreacional das drogas orais para disfunção erétil. International Brazilian Journal of Urology, Rio de Janeiro, v. 31, Suppl. 1, p. 1-10, May-June 2005. BENET, A. E.; MELMAN, A. The epidemiology of erectile dysfunction. Urologic Clinics of North America, v. 22, n. 4, p. 699-709, 1995. BERTERO, E. 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(0) Sem atividade sexual (5) Quase sempre ou sempre (4) A maioria das vezes (muito mais que a metade das vezes) (3) Algumas vezes (aproximadamente a metade das vezes) (2) Poucas vezes (muito menos que a metade das vezes) (1) Quase nunca ou nunca 66 3. Nas últimas 4 semanas, quando você tentou ter relação sexual, com que freqüência você foi capaz de penetrar (entrar) sua parceira? (0) Não tentei ter relação sexual (5) Quase sempre ou sempre (4) A maioria das vezes (muito mais que a metade das vezes) (3) Algumas vezes (aproximadamente a metade das vezes) (2) Poucas vezes (muito menos que a metade das vezes) (1) Quase nunca ou nunca 4. Nas últimas 4 semanas, durante a relação sexual, com que freqüência você foi capaz de manter sua ereção depois de ter penetrado (entrado) sua parceira? (0) Não tentei ter relação sexual (5) Quase sempre ou sempre (4) A maioria das vezes (muito mais que a metade das vezes) (3) Algumas vezes (aproximadamente a metade das vezes) (2) Poucas vezes (muito menos que a metade das vezes) 5. Nas últimas 4 semanas, durante a relação sexual, quão difícil foi para você manter sua ereção até o fim da relação? (0) Não tentei ter relação sexual (1) Extremamente difícil (2) Muito difícil (3) Difícil 67 (4) Pouco difícil (5) Sem dificuldade 6. Nas últimas 4 semanas, como você consideraria a sua confiança em conseguir ter e manter uma ereção? (5) Muito alta (4) Alta (3) Moderada (2) Baixa (1) Muito baixa ** Valor igual ou inferior a 16 indica disfunção erétil 68 APÊNDICE D TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA - MESTRADO EM GERONTOLOGIA Pesquisa: EFICÁCIA DA TADALAFILA EM IDOSOS PORTADORES DE DISFUNÇÃO ERÉTIL. Pesquisador: Sérgio Maurício Pereira Márquez. Médico, CRM-6999-GO, Mestrando em Gerontologia. Por meio deste termo de consentimento livre e esclarecido manifesto ser de minha vontade participar da pesquisa intitulada “Eficácia da tadalafila em idosos portadores de disfunção erétil”. Estou ciente da justificativa e dos objetivos da referida pesquisa, dos procedimentos que serão utilizados e de seus propósitos, incluindo a identificação dos procedimentos que são experimentais, desconfortos e riscos esperados, benefícios que poderão ser obtidos e procedimentos alternativos que possam ser vantajosos para a minha pessoa. Estou ciente que a qualquer tempo terei acesso às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas. Tenho liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência. Tenho salva-guardados a confidencialidade, o sigilo e a privacidade. O mestrando-pesquisador e o Hospital Monte Sinai disponibilizam seus 69 serviços de assistência para eventuais danos à saúde decorrentes da presente pesquisa. Serei informado sobre nomes, endereços e telefones dos responsáveis pelo acompanhamento da pesquisa para contato em caso de intercorrências clínicas e reações adversas. Estou ciente de que responderei a um questionário que será avaliado pelo pesquisador. O conteúdo dos questionários constará do relatório final, contendo citações anônimas e estará disponível a todos quando o estudo for concluído, inclusive para apresentação em encontros e publicação em eventos e periódicos científicos. Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e de ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar da pesquisa. Nome do participante: Assinatura: Data: 70 APÊNDICE E DIÁRIO SEXUAL Nome: ____________________ Data/dia da semana Hora da tomada do medicamento Duração do efeito do medicamento Idade: _________________ Satisfação da relação* *Satisfação: plena, parcial, nenhuma. **Tipo de ereção: plena, parcial, nenhuma. Tipo de ereção** Tempo necessário para outra relação Efeito colateral