Relatório de Inflação Dezembro 2002 4 – Economia internacional A evolução da economia mundial em 2002 esteve condicionada pelas incertezas e indefinições que vêm dominando o cenário internacional. Nesse sentido, assinalem-se a perspectiva de nova recessão da economia norte-americana, reforçada pelos escândalos corporativos na primeira metade do ano, a queda nas principais bolsas de valores mundiais, o desempenho restrito da economia da zona do euro, a persistência da estagnação japonesa, a volatilidade dos preços do petróleo diante das incertezas da situação política no Oriente Médio, e o retorno do movimento de fuga para qualidade nos mercados financeiros globais, refletindo o crescimento da aversão ao risco do capital internacional, em detrimento dos fluxos para as economias emergentes, em especial para a América Latina. Esse quadro desfavorável passou a evidenciar, entretanto, novos contornos nos últimos meses do ano. Assim, apesar de continuar a evidenciar indicadores contraditórios, a economia dos Estados Unidos vem se recuperando gradualmente, sustentada basicamente pela manutenção de patamares elevados do consumo privado, reforçado pela queda expressiva da taxa real de juros ao longo dos últimos trimestres, que impulsionou a demanda de bens de consumo duráveis e de imóveis. Diferentemente, perdura a estagnação econômica japonesa. Nesse sentido, apesar de apresentar sinais de recuperação do setor externo e da produção industrial, o país ainda enfrenta algumas dificuldades, como a persistente deflação que atinge bens, serviços e ativos financeiros e a contração do crédito bancário, a despeito de medidas recentes das autoridades monetárias no sentido de aumentar a liquidez e de reestruturar o sistema bancário doméstico. 75 Relatório de Inflação Dezembro 2002 No que se refere à economia da área do euro, a intensidade da desaceleração econômica superou as expectativas iniciais. Nesse contexto, a retomada do crescimento passa a depender, de forma mais direta, da recuperação da economia norte-americana. Ressaltese que a redução da taxa de juros de curto prazo em 50 pontos-base, decidida pelo BCE na primeira semana de dezembro, pode estimular a economia da área e, conseqüentemente, reduzir a dependência da economia mundial em relação ao desempenho da economia norteamericana. O espaço para a execução de políticas fiscais expansionistas é restrito. A conjuntura macroeconômica mundial tem afetado distintamente as economias emergentes, em função do grau de dependência dos recursos financeiros externos, que traz elementos de instabilidade econômica e política, o que aumenta a percepção de risco soberano, motivando a necessidade de remunerações elevadas de suas dívidas. Nesse contexto, a aversão ao risco dos investidores internacionais é mais presente nas economias latino-americanas do que nas economias emergentes da Ásia e do Leste Europeu. Concomitantemente, o baixo desempenho econômico da América Latina, ao longo de 2002, contrasta com o maior dinamismo das economias asiáticas e o moderado crescimento dos países do Leste Europeu. 4.1 Estados Unidos O consumo privado, os gastos com a defesa nacional e a recomposição de estoques continuam sendo os principais fatores de sustentação da demanda. Além disso, as compras de equipamentos e softwares também têm dado mostras de reabilitação, em meio ao desempenho modesto dos demais componentes do investimento privado. Todavia, o declínio da produção industrial e a alta taxa de desemprego evidenciam o ritmo lento no qual a economia ainda opera. Assim, na ausência de pressões nos mercados de bens e de trabalho, e considerando a deterioração das expectativas de curto prazo, a política monetária foi mais uma vez utilizada para sustentar a demanda. Embora esse quadro não forneça ainda indicações claras quanto aos rumos da economia, os resultados mais recentes afastaram, 76 Relatório de Inflação Dezembro 2002 1/ aparentemente, o temor quanto à possibilidade de efetivação, no curto prazo, do cenário mais pessimista, que combina recaída em recessão (double-dip) com deflação de preços. Essa perspectiva baseia-se, de um lado, no ritmo da expansão, que embora insuficiente vem-se mantendo, e de outro lado, na evolução dos preços, que ainda contida, começa a progredir lentamente. Demanda agregada - componentes 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 2,90 0,48 0,58 III 2000 IV I 2001 II Consumo III IV I 2002 II Investimento privado bruto III Governo Fonte: Bureau of Economic Analysis 1/ Contribuição individual para a variação do PIB real. Variação trimestral anualizada e dessazonalizada. 1/ PIB real e taxa de juros oficial 2/ 10 7 8 6 6 2 5 5 4 4 4 2,7 1,3 1,1 3 0 2 -0,6 -2 Out 2000 Jan 2001 Abr -0,3 -1,6 Jul Out 1,25 Jan Abr 2002 PIB real Taxa de juros Fonte: Bureau of Economic Analysis e Federal Reserve 1/ Série anualizada e dessazonalizada. 2/ Meta para a taxa anual dos federal funds . Jul 1 O resultado do PIB, no terceiro trimestre, indicou crescimento real anualizado de 4%, considerada a “versão preliminar”. A principal contribuição para esse resultado adveio, mais uma vez, do consumo privado, 2,9%, seguido das compras governamentais, 0,58%, e do investimento privado, 0,48%, basicamente devido à acumulação de estoques. Out As vendas no varejo desaceleraram nos últimos meses, influenciadas pela retração nas vendas de automóveis, um dos principais fatores de sustentação da demanda no período recente. Assim, houve recuo de 1,5% em setembro e elevação de 0,1% em outubro, na série dessazonalizada. As encomendas às fábricas apresentaram crescimento mensal de 1,5% em outubro, considerada a série dessazonalizada, revertendo, em parte, os recuos de 2,4% e de 0,4% assinalados em setembro e em agosto, respectivamente. No mesmo sentido, as encomendas de bens duráveis expandiram-se 2,8% em outubro, após dois meses consecutivos de retração. Os estoques da indústria e do comércio elevaram-se 0,1% em agosto e 0,5% em setembro, persistindo a trajetória iniciada em maio. Assinale-se que a relação estoques/vendas ainda não emitiu sinais consistentes de recuperação, o que sugere a perspectiva de que o ciclo de estoques se constitua, nos próximos meses, em fator relevante para a sustentação da demanda. 77 Relatório de Inflação Dezembro 2002 1/ Resultado acumulado no ano fiscal US$ bilhões 250 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 -200 -250 236,7 127,0 -159,4 Out Nov Dez Jan Fev Mar 2002 Abr Mai Jun Jul Ago 2001 Set 2000 No que se refere à demanda externa, o déficit comercial dessazonalizado, exclusivamente em bens, totalizou US$41,8 bilhões em setembro, resultado de exportações de US$58,3 bilhões e importações de US$100,1 bilhões. O aumento do déficit este ano reflete, principalmente, o maior crescimento das importações, como resultado da recuperação gradual da atividade doméstica. Desse modo, as importações acumuladas no ano, até setembro, totalizaram US$857,6 bilhões, e as exportações, US$508,3 bilhões. Fonte: Department of the Treasury 1/ Ano fiscal = out-1 - set. Produção industrial e utilização da capacidade Variação mensal e utilização da capacidade 85 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 -0,2 -0,4 -0,6 -0,8 -1,0 -1,2 Out 2000 83 81 79 -0,8 77 75 75,2 Abr Jul Out Prod. industrial Jan 2002 Abr Jul Out Util. capacidade 1/ Taxa de desemprego e emprego não-agrícola mil 500 400 300 200 100 0 -100 -40 -200 -300 -400 -500 Ago Nov 6,0 Fev 2001 Mai Ago Taxa de desemprego Fonte: Bureau of Labor Statistics 1/ Série dessazonalizada. 78 A produção industrial vem registrando quedas sucessivas desde agosto, tendo apresentado, em setembro e outubro, recuos de 0,2% e 0,8%, nessa ordem, na série dessazonalizada. Paralelamente, o nível de utilização da capacidade instalada decresceu nos últimos três meses, atingindo 75,2% em outubro. 73 Jan 2001 Fonte: Federal Reserve 1/ Série dessazonalizada. % 6,0 5,8 5,6 5,4 5,2 5,0 4,8 4,6 4,4 4,2 4,0 3,8 Nov 2000 O déficit fiscal atingiu US$159,4 bilhões no ano fiscal encerrado em setembro, comparativamente a superávit de US$127 bilhões registrado no ano fiscal precedente. Esse resultado corrobora a forte inversão da posição fiscal norte-americana. Em outubro, o déficit fiscal alcançou US$54 bilhões, nível acima da média dos últimos anos. Nov Fev Mai 2002 Var. mensal do emprego De acordo com dados revisados, os ganhos de produtividade no terceiro trimestre permaneceram elevados no setor não-agrícola e no setor manufatureiro, aumentando 5,1% no primeiro e 5,5% no segundo. O custo unitário do trabalho, por seu turno, declinou 0,2% no setor não-agrícola e 1% na manufatura, denotando relativa folga no mercado de trabalho. A taxa de desemprego do setor não-agrícola elevou-se para 6% em novembro, após haver expandido marginalmente para 5,7% em outubro. A tendência de recuperação do nível de emprego, Relatório de Inflação Dezembro 2002 iniciada em maio deste ano, durou apenas quatro meses, sendo parcialmente revertida pela eliminação de 38 mil postos de trabalho nos últimos três meses. Adicionalmente, as horas trabalhadas semanais não apresentaram recuperação e os rendimentos reais do trabalho mantêm tendência declinante. Indicadores do ISM 65 60 55 50 45 40 35 Nov 2000 Fev 2001 Mai Ago PMI Fonte: Institute for Supply Management Nov As expectativas de curto prazo deterioraram-se rapidamente, a partir de meados do ano, mas há sinais de recuperação no quarto trimestre. Os 57,4 indicadores de atividade do Institute for Supply Management (ISM) desaceleraram-se 49,2 rapidamente, mas somente o referente ao setor manufatureiro atingiu valor inferior ao ponto de nivelamento. O indicador do setor nãoFev Mai Ago Nov 2002 BAI manufatureiro, por seu turno, iniciou trajetória expansiva em setembro. No que se refere às expectativas do consumidor, recuaram abruptamente ao longo do terceiro trimestre, de acordo com o Conference Board, voltando a crescer em novembro, mas encontramse em nível bastante deprimido. Os indicadores antecedentes, diferentemente, declinaram lentamente ao longo do período. Apesar de reconhecer que a postura acomodativa da política monetária, combinada com os ganhos de produtividade, já vem fornecendo suporte para a atividade econômica, o Federal Reserve (Fed) considerou oportuna nova redução das taxas de juros, em reunião no dia 6 de novembro, sob a justificativa de que os dados econômicos recentes sugerem recuperação mais lenta do que a esperada. Optou-se, assim, em decisão unânime dos membros do comitê de mercado aberto da instituição, pelo corte da taxa dos fed funds – a qual vinha sendo mantida no nível de 1,75% a.a. desde dezembro de 2001 – em cinqüenta pontos-base, para 1,25% a.a. Embora a inflação venha mantendo-se em patamar contido, no passado recente, os dados relativos a novembro revelaram que a tendência de recuperação dos preços observada nos últimos meses acelerou-se, notadamente no caso dos preços ao produtor. Assim, incorporada a variação de 1,1% nos preços dos bens finais em outubro, a taxa de inflação anual ao produtor mostrou-se positiva, 79 Relatório de Inflação Dezembro 2002 o que não ocorria desde setembro de 2001. Embora esse repique esteja associado, sobretudo, a fatores localizados, como a elevação dos preços da energia, que subiram 4,2% no mês, impulsionados pela evolução dos preços dos combustíveis, o núcleo do índice também registrou elevação, aumentando 0,5%. No que se refere aos preços ao consumidor, a inflação alcançou 0,3% em outubro e a taxa anual, 2%. O núcleo do índice ao consumidor aumentou 0,2% no mês, não apresentando sinais de aceleração. 4.2 Japão O desempenho favorável do setor externo e da produção industrial, registrado ao longo do corrente ano, estará condicionado, nos próximos meses, às incertezas quanto à retomada da economia mundial, em especial da norte-americana, e ao desaquecimento da demanda em bens intensivos em tecnologia da informação. Em outra frente, o país caminha a passos lentos nas reformas estruturais para superação de problemas internos, como deflação, taxas elevadas de inadimplência e alto comprometimento do capital bancário com ativos de má qualidade. Relativamente à demanda, as encomendas às fábricas reagiram favoravelmente no segundo e terceiro trimestres, refletindo investimentos corporativos impulsionados pelo setor exportador. Assim, as encomendas médias efetuadas no período de abril a setembro superaram em 1,5% aquelas registradas no semestre anterior. Por outro lado, embora o núcleo de encomendas, que exclui as encomendas voláteis, tenha crescido 12,7% em setembro, relativamente a agosto, o governo prevê declínio deste indicador para o quarto trimestre, refletindo redução nos pedidos do setor privado. O início de novas construções manteve-se estável ao longo do ano, mas decresceu 6,2% no terceiro trimestre, comparativamente ao patamar de igual período do ano precedente. Embora tenha havido decréscimo de 1,2% na renda disponível, no período, as despesas das famílias assalariadas, em termos reais, elevaram-se 4,1% em setembro, relativamente a setembro de 2001, influenciadas pelo 80 Relatório de Inflação Dezembro 2002 consumo de telefones celulares, vestuário e mobiliário. O significado desse aumento, entretanto, deve ser analisado tendo em vista que os gastos dos consumidores, que respondem por cerca de 55% do PIB, têm sido prejudicados por cortes de salários e pela pressão da Agência de Serviços Financeiros sobre os bancos, para que contabilizem como prejuízo os créditos de má qualidade, forçando a falência de alguns tomadores. As exportações têm representado o principal fator de dinamismo da economia japonesa ao longo do ano. Nesse sentido, embora em termos mensais venham apresentando relativa estabilidade, as vendas externas têm expandido quando considerado o saldo acumulado em doze meses ou a comparação do resultado de um mês com o do período correspondente do ano anterior. Set Nov Jan Mar Mai Jul Set 2002 Assinale-se que, nessa base de comparação, as Importações Saldo exportações cresceram 14,3% em outubro, registrando o oitavo período consecutivo de alta. Esse desempenho favorável vem sendo liderado, a despeito da apreciação do ien, pelas vendas destinadas a países asiáticos, que, consideradas as posições de outubro de 2002 e do ano anterior, elevaram-se 28,1%, resultando em alta de 95% no superávit comercial, no período. Balança comercial - Var.acum. 12 meses % 30 20 10 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 Set Nov Jan Mar Mai 2000 2001 Exportações Jul Fonte: Banco do Japão e Bloomberg A produção industrial cresceu 2,1% no terceiro trimestre, em relação ao período anterior, 6 influenciada pelo desempenho da produção de 3 carros e de circuitos integrados, assinalando-se 0 que a estimativa para o resultado no trimestre -3 subseqüente aponta redução de 1,2%, na mesma -6 -9 base de análise. Na comparação com igual período -12 de 2001, o crescimento alcançou 3,1% e, Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set 2000 2001 2002 considerada a variação acumulada em doze meses, Fonte: Ministry of Economy, Trade and Industry a trajetória mostra-se ascendente, porém a taxa decrescente. A taxa de desemprego, que permanecia estabilizada no patamar de 5,4% desde maio do corrente ano, elevou-se para 5,5% em outubro, igualando o recorde alcançado em dezembro de 2001. Produção industrial Variação percentual acumulada em 12 meses 81 Relatório de Inflação Dezembro 2002 1/ O produto interno bruto cresceu 0,7% no terceiro trimestre, ante o registrado no período anterior, representando taxa de crescimento anualizada de 3%. A principal contribuição originou-se da demanda interna, em especial do consumo privado, que apresentou crescimento de 0,8%. Produto Interno Bruto % 12 8 4 0 -4 -8 III IV I II III IV I II III 1999 2000 2001 Fonte: Economic Planning Agency 1/ Variação sobre trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal, anualizada. IV I 2002 III A economia persiste operando em regime de deflação. Ao longo de 2001 e de 2002, a variação anual do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) vem-se mantendo sistematicamente abaixo de zero, tendo registrado -0,9% em outubro. Esse comportamento demonstra que a utilização de instrumentos de política monetária, como manutenção da taxa de juros básica próxima a zero e elevada liquidez proporcionada pelo Banco do Japão (BoJ), não têm proporcionado o efeito desejado sobre a concessão de créditos, em parte porque os bancos vêm preferindo adquirir bônus governamentais. O IPA durante o corrente ano permaneceu negativo, mas em outubro elevou-se 0,4%. O novo programa de reestruturação financeira, lançado em 30 de outubro, embora não evidencie o cronograma de sua implantação, tem o mérito de reconhecer que os empréstimos bancários devem ser melhor estruturados para que sofram redução de 50%, até o final do ano fiscal de 2004. O programa é centrado em três pontos: (i) maior rigor na classificação de créditos duvidosos; (ii) separação entre empréstimos de boa e má qualidade, com os primeiros sendo mantidos na contabilidade dos bancos e os segundos, vendidos à Resolution and Collection Corporation (RCC); e (iii) redução de 40% para 10% do imposto diferido sobre receitas bancárias, que os bancos poderão usar como parte integrante do capital de nível 1. No Japão, é permitido o adiamento dos impostos sobre receitas bancárias por até cinco anos e aceita-se que estas receitas diferidas sejam computadas nocapital de nível 1 dos bancos. Assinale-se que se os bancos japoneses adotassem as regras dos Estados Unidos, onde é permitido diferimento por um ano, todos os grandes bancos, exceto o Bank of Tokyo-Mitsubishi e o Sumitomo Trust, ficariam abaixo do nível de solvência requerido. 82 Relatório de Inflação Dezembro 2002 A confiança empresarial melhorou, segundo a pesquisa Tankan divulgada trimestralmente pelo BoJ. O índice para grandes empresas manufatureiras registrou -14, quatro pontos acima da leitura de junho. Esse mesmo índice para as condições de oferta e demanda atingiu -33, três pontos acima do relativo ao segundo trimestre. Esses resultados trazem algum alívio para o quadro geral da economia japonesa, apesar de não sugerirem que as condições de negócio estejam se revigorando de forma duradoura. O índice de confiança para pequenas firmas, Shoko Chukin, por sua vez, elevou-se para 45 em novembro, ante 44 em outubro. 4.3 Área do Euro As perspectivas para a economia da Área do Euro tornaram-se mais pessimistas nos últimos meses. Nesse sentido, registre-se que a incerteza experimentada por empresários e consumidores, conforme indica a evolução de diversos indicadores de confiança, decorre de questionamentos quanto à recuperação da economia americana, à possibilidade de conflito armado no Oriente Médio e à instabilidade no ambiente corporativo, tendendo a manter a demanda interna desaquecida e a postergar a reativação do nível de atividade econômica. A necessidade de ajuste fiscal nas três principais economias da região concorre para compor um quadro desfavorável para os próximos anos, com reflexo desfavorável sobre as estimativas de crescimento para a região. Dessa forma, a Comissão Européia (CE) estima que o PIB da Área do Euro deverá crescer 0,8% em 2002 e 1,8% em 2003. O cenário recessivo é particularmente acentuado na Alemanha, principal economia da região, país em que estimativas para o crescimento do PIB apontam taxas de 0,2% para 2002 e de 1% para 2003. A confirmação de déficit público equivalente a 4,1% do PIB em Portugal, em 2001, significou a primeira ocorrência de déficit excessivo por um país da região, desde a criação do euro, em janeiro de 1999. De acordo com o Pacto de Estabilidade e Crescimento, firmado entre os países da União Européia em 1997, o déficit não pode ser superior a 3% do PIB, cabendo a imposição de sanções aos países que permanecerem acima desse limite. A CE estima que o 83 Relatório de Inflação Dezembro 2002 déficit da Alemanha alcançará 3,8% do PIB neste ano e 3,1% em 2003, decrescendo em seguida, em conseqüência do esforço fiscal já delineado. Adicionalmente, de acordo com a CE, na França e na Itália, países que têm questionado o Pacto e relutado em determinar ajuste das contas públicas suficiente para reverter a evolução dos déficits, esses devem se aproximar do teto de 3% do PIB nos próximos anos. Balança comercial US$ bilhões 19 14 9 4 -1 -6 Jan 2000 Embora o resultado da balança comercial tenha sofrido decréscimos sucessivos em agosto e setembro, o setor externo da economia continua apresentando desempenho favorável, evidenciado 50 pelo saldo acumulado em doze meses, em 40 30 setembro, de US$94,6 bilhões, comparativamente 20 10 a US$77,3 bilhões, em junho. Exportações e 0 importações registraram acentuadas contrações Mai Set Jan Mai Set 2002 Acumulado em 12 meses em agosto, decorrentes de efeitos sazonais, mas recuperaram o nível anterior em setembro. As exportações recuaram de US$93,7 bilhões, em julho, para US$79,4 bilhões, em agosto, aumentando para US$87,6 bilhões, em setembro. Na mesma direção, as importações passaram de US$79,5, em julho, para US$69,6 bilhões, em agosto, subindo para US$78,3 bilhões, em setembro. O aumento maior das importações resultou em redução do saldo comercial para US$9,8 bilhões, em agosto, e US$9,3 bilhões, em setembro, após haver alcançado US$14,2 bilhões em julho. US$ bilhões 100 90 80 70 60 Mai Set Jan 2001 Saldo mensal Fonte: Eurostat Produção industrial % 8 6 4 2 0 -2 -4 -6 Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set 2000 2001 2002 Variação mensal Variação anual Fonte: Eurostat 84 A produção industrial ainda não mostrou recuperação, tendo registrado declínio de 0,2% em setembro, após aumento de 0,2% em agosto e recuo de 0,5% em julho. As variações anuais vêm registrando retrações desde setembro de 2001, com decréscimos de 1,2% em agosto e de 0,6% em setembro. Em sentido inverso, as vendas no varejo cresceram 1,7% em julho e 1,5% em agosto, relativamente ao patamar assinalado nos meses correspondentes do ano anterior. Relatório de Inflação Dezembro 2002 Vendas ao varejo A inflação anual aumentou para 2,3% em outubro, mantendo-se desde agosto em patamar superior ao valor de referência de 2%, do BCE. O índice deve situar-se entre 2,2% e 2,3%, em 2002. A preocupação do BCE com a persistência da inflação tem condicionado a utilização da taxa de juros básica como instrumento de estímulo à recuperação econômica. Não obstante, o recuo da taxa anual de crescimento do agregado monetário M3, que situou-se em 7% em outubro, após 7,3% em setembro, contribuiu para que o BCE reduzisse a taxa de juros de curto prazo em 50 pontos-base, na primeira semana de dezembro, medida que deverá estimular a economia da região. % 6,0 4,5 3,0 1,5 0,0 -1,5 -3,0 Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago 2000 2001 2002 Variação mensal Variação anual Fonte: Eurostat IPCH % 4 3 2 1 0 -1 Fev 2000 Jun Out Fev 2001 Var. anual Jun Out Fev Jun 2002 Var. mensal Out Fonte: Eurostat Indicadores de confiança 115 110 105 100 95 90 85 80 Jan 2001 Mar Mai Jul Set Nov Jan 2002 Alemanha Itália Fonte: IFO, Insee, Isae e Comissão Européia Mar Mai Jul França Área do Euro Set Nov De forma geral, os indicadores de confiança do setor empresarial tendem à estabilização, após declinarem continuamente desde maio. Na Alemanha, o índice do Instituto de Pesquisas Econômicas (IFO), que estima expectativas de negócios, atingiu 87,3 em novembro, ante 87,7 em outubro e 88,2 em setembro. Na França, o índice do Institut National de la Statistique et des Études Économiques (Insee) situou-se em 96, em novembro, comparativamente a 93 e a 97, respectivamente, nos dois meses anteriores. Na Itália, o indicador do Istituto di Studi e Analisi Economica (Isae) manteve relativa estabilidade nos últimos meses, alcançando 95,7 em setembro e 95,2 e 95,4, nos meses subseqüentes. Os índices relativos às expectativas dos consumidores apresentaram comportamento distinto. Assim, os indicadores que refletem o sentimento na França e na Itália apresentaram resultados favoráveis, registrando-se, por outro lado, recuo no relativo à Alemanha, que declinou de 95, em setembro, para 89, em outubro. Na Itália, a trajetória de declínio do indicador do Isae manteve-se até outubro, quando o índice atingiu 109,4, subindo para 109,8 em novembro, 85 Relatório de Inflação Dezembro 2002 enquanto na França, o índice do Insee situou-se em 82, em setembro, seu patamar mais baixo desde maio, aumentando para 84 no mês seguinte. 4.4 Economias emergentes 4.4.1 Ásia A evolução das economias dos países asiáticos, em especial daqueles que apresentam grau de inserção na economia global mais acentuado, continuou a refletir as dificuldades de recuperação dos centros mais importantes da economia mundial. Estimativas preliminares quanto ao crescimento anual do PIB da região apontam desaceleração no terceiro trimestre, em relação ao assinalado no período anterior. Apesar de as demandas domésticas terem preservado parcialmente sua capacidade de recuperação, esse movimento não foi suficiente para compensar a queda nas exportações líquidas do bloco. Adicionalmente, o crescimento do número de falências e da inadimplência dos cartões de crédito na Coréia e a manutenção de condições desfavoráveis no mercado de trabalho em Taiwan prejudicaram a retomada dessas economias. Buscando estimular a capacidade de recuperação, algumas economias, no período mais recente, reduziram suas taxas básicas de juros, a exemplo de Taiwan e Tailândia, ambas em 25 pontos-base. Na Coréia do Sul, o PIB apresentou variação de 5,8% no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano anterior, ante 6,4%, no segundo trimestre, recuo associado à retração registrada na agricultura e nas atividades da construção civil. Em outubro, a produção industrial apresentou crescimento de 12,7%, em doze meses, comparativamente a 3,4%, em setembro, impulsionado pelo desempenho favorável das exportações, em especial semicondutores e automóveis. A taxa de desemprego situou-se em 2,7%, em novembro, ante 3%, em outubro, enquanto a variação dos preços ao consumidor no mesmo mês, considerado a variação acumulada em doze meses, totalizou 2,8%, relativamente a 3,1%, em setembro. As exportações sul-coreanas totalizaram US$15,2 bilhões, em outubro, e as importações, US$13,9 bilhões, proporcionando 86 Relatório de Inflação Dezembro 2002 superávit comercial de US$1,3 bilhão, ante US$1 bilhão em setembro. O saldo em transações correntes em outubro atingiu US$1,4 bilhão, ante US$0,5 bilhão no mês anterior. A produção industrial tailandesa cresceu 8,8%, no período de doze meses finalizados em outubro. O declínio de 1 p.p. registrado na taxa, em relação ao resultado de setembro, reflete a desaceleração da produção destinada à exportação e a menor absorção interna da produção de eletrodomésticos. A variação dos preços ao consumidor, acumulada em doze meses, atingiu 1,4% em outubro, comparativamente a 0,4%, em setembro. O comércio exterior registrou exportações de US$6,3 bilhões e importações de US$5,8 bilhões, em outubro, gerando saldo comercial de US$0,5 bilhão, no mês, comparativamente a US$0,8 bilhão, em setembro. Na China, maior economia da região, o crescimento do PIB em doze meses atingiu 8,1%, no terceiro trimestre, ante 8% no trimestre anterior. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) continuou a superar a dos demais países, apesar do crescimento em doze meses da indústria da construção civil ter recuado de 28,1%, em setembro, para 21%, em outubro. Não obstante, o investimento residencial aumentou de 26%, em setembro, para 32,5%, em outubro. A produção industrial, considerado o mesmo critério de apuração, expandiu-se 14,2% em outubro, ante 13,8%, no mês anterior, e a variação anual dos preços ao consumidor manteve-se negativa, em 0,8%. No que se refere ao comércio externo, as exportações alcançaram US$31,2 bilhões, as importações, US$28,7 bilhões, e o saldo comercial, US$2,5 bilhões, em novembro, comparativamente a US$4,8 bilhões, no mês anterior. Em Taiwan, o crescimento em doze meses do PIB atingiu 4,8%, no terceiro trimestre, ante 4%, no trimestre precedente, impulsionado pela expansão de 8,8% na FBCF. A produção industrial, por outro lado, apresentou variação de 7,4% em doze meses terminados em outubro, assinalando-se que o declínio de 4,3 p.p. registrado na taxa, quando comparada à do mês anterior, evidencia a desaceleração observada nas exportações e na atividade da construção. Os preços ao consumidor recuaram 1,7% no período de doze meses, até outubro, ante 0,8%, até setembro, 87 Relatório de Inflação Dezembro 2002 e os preços no atacado aumentaram 2,1% e 0,5%, respectivamente, nos mesmos períodos. As reservas internacionais do país somaram US$157,6 bilhões em outubro, patamar semelhante ao registrado no mês anterior. Na Índia, a produção industrial registrou crescimento acumulado em doze meses de 6,2%, em outubro, ante 6,1%, em setembro, impulsionado pelas exportações, assim como pelo consumo interno de bens não-duráveis e pela expansão da produção de bens de capital. Os preços ao consumidor apresentaram crescimento anual de 4,3%, em setembro, ante 3,9%, em agosto. No que se refere aos preços no atacado, apresentaram elevação anual de 3,3% em outubro e de 3,5% em setembro. As exportações totalizaram US$4 bilhões, em setembro, e as importações, US$5,1 bilhões, determinando expansão do déficit comercial, de US$0,7 bilhão, em agosto, para US$1,1 bilhão. As reservas internacionais indianas totalizaram US$64 bilhões em outubro, ante US$62,7 bilhões, em setembro. 4.4.2 Europa do Leste O cenário de expansão moderada do PIB na zona do euro não influenciou significativamente o restante do continente, em especial as economias emergentes do Leste Europeu, que apresentaram desempenho da atividade econômica menos robusto que o dos países emergentes da Ásia, mas superior ao dos países da América Latina. A recomendação da Comissão Européia, braço executivo da União Européia (UE), de que dez países (Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Lituânia, Letônia, Estônia, Eslovênia, Chipre e Malta) sejam candidatos a ingressarem no bloco em 2004, e outros dois (Bulgária e Romênia) em 2007, proporcionará substanciais benefícios econômicos para esses países, quando passarem a participar de um mercado de 500 milhões de pessoas. Ao mesmo tempo, esses países deverão adequar-se aos rígidos padrões aos quais os países membros da UE estão submetidos. À Turquia, décimoterceiro candidato, não foi oferecida uma data para o início das negociações de ingresso. 88 Relatório de Inflação Dezembro 2002 Na Polônia, a indústria apresentou, em outubro, crescimento acumulado em doze meses de 3,2%, reduzindo seu ritmo de expansão, que havia sido de 6,6% em setembro, em virtude da contração observada na construção civil. O desemprego, no mesmo mês, alcançou 17,5% da força de trabalho, próximo aos 17,6% de setembro. A taxa de crescimento dos preços ao produtor, acumulada em doze meses, situou-se em 1,7% em outubro, ante 1,1%, em setembro. Os preços ao consumidor, por sua vez, apresentaram, no mesmo mês, variação acumulada em doze meses de 1,1%, ante 1,3%, em setembro. No que diz respeito ao comércio exterior, as exportações alcançaram US$3,2 bilhões e as importações, US$4,2 bilhões, em outubro, determinando déficit comercial de US$1 bilhão, no mês, comparativamente a US$0,9 bilhão, em setembro. As reservas internacionais declinaram de US$29,3 bilhões, em setembro, para US$29,2 bilhões, em outubro. Na Rússia, a produção industrial cresceu 3,9%, no período de doze meses até outubro, ante 5,5%, em setembro. O menor ritmo de expansão deveu-se à desaceleração nos segmentos produtores de bens de capital e de bens de consumo, parcialmente atenuada pela continuidade no crescimento da produção de bens intermediários. Os preços ao produtor na indústria acumularam, em doze meses até outubro, crescimento de 16,7%, ante 14,7%, em setembro, em razão do aumento nos preços dos combustíveis e dos produtos ferrosos e não ferrosos de uso metalúrgico. A variação dos preços ao consumidor, em doze meses, alcançou 15%, em outubro, mesmo patamar do mês anterior, registrando-se desempenho favorável dos preços dos alimentos, que compensou a alta assinalada em serviços. As conta externas revelaram, em setembro, exportações de US$9,9 bilhões e importações de US$5,2 bilhões, desempenhos que possibilitaram a elevação do superávit comercial de US$0,1 bilhão, em agosto, para US$4,7 bilhões. As reservas internacionais, situaram-se em US$50,5 bilhões, em outubro, representando expansão mensal de US$1,2 bilhão. Na Turquia, a produção industrial apresentou, em setembro, crescimento em doze meses de 10,8%, ante 7,3% no mês anterior, registrando-se desempenho favorável nos segmentos de máquinas, equipamentos e automóveis. Nesse contexto, a utilização da 89 Relatório de Inflação Dezembro 2002 capacidade industrial alcançou 80,6% em outubro, comparativamente a 79,7%, em setembro. Os preços ao consumidor apresentaram crescimento de 33,5%, considerados os doze meses encerrados em outubro, ante 37,1%, em setembro. No âmbito dos preços no atacado, as variações alcançaram, respectivamente, 36,1% e 40,9%, reflexo, em parte, da contração nos preços dos combustíveis. No que se refere à balança comercial, as exportações somaram US$3,1 bilhões e as importações, US$4,2 bilhões, em setembro, proporcionando recuo mensal de US$0,3 bilhão no déficit comercial, para US$1,1 bilhão. As reservas internacionais totalizaram US$36,2 bilhões, patamar semelhante ao observado no mês anterior. 4.4.3 América Latina O cenário econômico permanece instável na região, influenciado, especialmente, pelas incertezas políticas e econômicas que atingem Argentina, Venezuela e Uruguai, pela desaceleração da atividade econômica nos países desenvolvidos e pela elevação da aversão ao risco em âmbito mundial e conseqüente redução dos fluxos de capitais internacionais. Nesse contexto, o FMI estima que o PIB da região decline 0,6% em 2002, ante expansão de 0,6% em 2001, respondendo à influência de contrações de 16% no PIB argentino, de 11 % no PIB uruguaio e de 6% no PIB venezuelano. Concomitantemente, estima-se que as economias de maior importância relativa na região, México e Brasil, registrem taxas de crescimento da ordem de 1,5%, induzidas pela incipiente recuperação da economia norte-americana, responsável por cerca de 90% das exportações mexicanas, e pela crise de confiança que atinge a economia brasileira, reduzindo acentuadamente os ingressos de capitais externos e refletindo-se em movimento de depreciação do real. O Chile mantém trajetória de crescimento econômico, ainda que a expansão de 2,2% do PIB prevista para 2002 esteja abaixo das expansões de 4,4% e 2,8% registradas, respectivamente, em 2000 e 2001, e os países andinos, como Colômbia, Equador e Peru também devem apresentar taxas de crescimento moderadas, de até 3%. 90 Relatório de Inflação Dezembro 2002 Taxas de câmbio Variação percentual anual1/ % 20 0 -20 -40 -60 -80 Jan 2002 Mar Mai Argentina Fonte: Bloomberg 1/ Final de período. Índice Embi+ Pontos básicos 8000 6000 4000 Jul Set Brasil México Nov Enquanto indicadores de demanda doméstica apontam arrefecimento do consumo, o comércio exterior vem apresentando resultados favoráveis, a despeito da contração de 1,5% nas exportações anuais da região, de acordo com estimativas da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). À exceção do México, o ambiente recessivo e a depreciação das moedas locais determinaram intenso ajuste nas importações, evidenciado em superávits comerciais que vêm contribuindo para a redução da vulnerabilidade externa dos países da região. Nesse sentido, o déficit em conta corrente, que atingiu 2,8% do PIB em 2001, deverá alcançar 1,9% do PIB, em 2002, de acordo com o FMI. 2000 0 Jan 2002 Fonte: Bloomberg Mar Mai Argentina O ajuste externo ocorre em um período de retração dos investimentos estrangeiros na região, como Jul Set Nov Brasil México seqüela da crise argentina e do crescimento global da aversão ao risco. As dificuldades de financiamento externo diminuíram a oferta interna de dólares, repercutindo em intensas pressões sobre as moedas locais, que, mesmo tendo se suavizado no quarto trimestre, vêm contribuindo para a deterioração da percepção de risco associado à região. Adicionalmente, a depreciação das moedas locais ampliou os riscos de aceleração inflacionária. Segundo projeções do FMI, a inflação da região deverá atingir 8,6%, em 2002, após alcançar 6,4% no ano anterior, refletindo o crescimento registrado nas taxas relativas à Argentina, Brasil, Venezuela e Uruguai. A aceleração inflacionária levou à utilização de políticas monetárias restritivas, que contribuíram para dificultar a retomada do nível de atividade. 4.5 Petróleo A Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), em reunião de 19 de setembro, considerou que a evolução da demanda pelo 91 Relatório de Inflação Dezembro 2002 produto no quarto trimestre estaria associada, fundamentalmente, a fatores sazonais, tendo em vista a perspectiva de expansão moderada da economia mundial. Nesse contexto, objetivando assegurar a estabilidade do preço do óleo cru, a entidade decidiu manter a meta de produção em 21,7 milhões de barris por dia (mbd). Em outubro, face à crescente oferta de petróleo e à diminuição da produção das refinarias, os preços apresentaram redução de quase quatro dólares por barril. Esses fatores, associados à redução nas tensões quanto a um conflito no Oriente Médio, provocaram a liquidação de posições de papéis especulativos referentes ao mercado futuro de petróleo, adicionando novo fator determinante para a contração nos preços do produto. A produção mundial de petróleo cresceu 1,25 mbd, em outubro, dos quais 0,76 mbd no âmbito da Opep. Os países não pertencentes à Opep produziram 0,45 mbd a mais do que no mês anterior, comportamento associado, principalmente, ao aumento de produção de poços na Noruega, após a interrupção ocorrida para manutenção, em setembro. A avaliação do crescimento da demanda global por petróleo, em relação à do ano anterior, permaneceu constante em outubro, atingindo 190 mil barris por dia em 2002 e 1.040 mil barris por dia em 2003. O preço do petróleo tipo Brent no mercado à vista, em final de período, diminuiu de US$28,90 US$/barril por barril, em setembro, para US$25,61 por barril, 35 33 em outubro, e para US$24,84 por barril, em 31 29 novembro. A acentuada redução nos preços, no 27 25 trimestre, pode ser atribuída, em parte, ao forte 23 21 aumento da oferta, principalmente por parte da 19 17 Opep, e à menor expectativa atual de um ataque 15 Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out dos Estados Unidos ao Iraque. Opondo-se à 2000 2001 2002 Fonte: Bloomberg redução dos preços, encontra-se o cenário de reduzido estoque de óleo cru nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no início de outubro, e a tendência de aumento da demanda, vinculada à ocorrência de tempo mais frio do que o normal para a época no hemisfério norte. Petróleo tipo Brent Média no período 92 Relatório de Inflação Dezembro 2002 No mercado futuro, as cotações do petróleo tipo Brent mostraram-se decrescentes para prazos subseqüentes de entregas negociados em mesma data. Para contratos negociados no final de novembro, os níveis de preços situaram-se abaixo dos meses anteriores, em parte devido à redução das tensões no Oriente Médio, com a concordância do Iraque à resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), de permitir a visita dos inspetores daquele organismo ao país. 4.6 Conclusão A evolução dos indicadores disponíveis não é suficiente para referendar recuperação sustentável da economia mundial, mas parecem reforçar a hipótese de que o final deste ano e o início do próximo devam marcar o fim da tendência de desaquecimento econômico observada ao longo de 2002. As perdas acumuladas nas bolsas de valores depois da recessão mundial do ano passado e os efeitos negativos provocados pelos escândalos contábeis nos Estados Unidos fragilizaram a economia mundial, tornando a evolução da economia norte-americana variável chave para determinar sua trajetória. A manutenção do ritmo de crescimento da economia norte-americana nos próximos meses está vinculada, entretanto, à continuidade do crescimento dos níveis de produtividade, que remeteria a novo ciclo de investimentos de forma a proporcionar uma estrutura mais sólida ao seu crescimento, hoje dependente, fundamentalmente, do consumo privado. A retomada da economia americana também irá impactar positivamente o comércio mundial, dada a dependência do resto do mundo em relação ao mercado dos Estados Unidos. No entanto, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o crescimento do comércio mundial será relativamente limitado em 2003, inferior à média dos últimos anos, em função das expectativas de baixo desempenho econômico no Japão e na zona do euro e de proliferação de barreiras comerciais, ao longo do ano. A superação das dificuldades japonesas segue dependendo de reformas estruturais profundas e abrangentes, bem como nas economias da zona 93 Relatório de Inflação Dezembro 2002 do euro continuam necessárias a adoção de medidas que proporcionem geração de ganhos de produtividade e de eficiência. A consolidação da recuperação da economia norte-americana e a normalização dos mercados internacionais devem arrefecer o movimento de fuga para qualidade que voltou a predominar no mercado nos momentos de maiores incertezas e turbulências. Nesse contexto, deverá ser gradualmente recomposto o volume de recursos externos disponibilizado aos países emergentes que persigam políticas monetária e fiscal sadias. 94