Economia internacional - Banco Central do Brasil

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Relatório de Inflação
Dezembro 2002
4 – Economia internacional
A evolução da economia mundial em 2002 esteve condicionada
pelas incertezas e indefinições que vêm dominando o cenário
internacional. Nesse sentido, assinalem-se a perspectiva de nova
recessão da economia norte-americana, reforçada pelos
escândalos corporativos na primeira metade do ano, a queda nas
principais bolsas de valores mundiais, o desempenho restrito da
economia da zona do euro, a persistência da estagnação japonesa,
a volatilidade dos preços do petróleo diante das incertezas da
situação política no Oriente Médio, e o retorno do movimento de
fuga para qualidade nos mercados financeiros globais, refletindo
o crescimento da aversão ao risco do capital internacional, em
detrimento dos fluxos para as economias emergentes, em especial
para a América Latina.
Esse quadro desfavorável passou a evidenciar, entretanto, novos
contornos nos últimos meses do ano. Assim, apesar de continuar a
evidenciar indicadores contraditórios, a economia dos Estados
Unidos vem se recuperando gradualmente, sustentada basicamente
pela manutenção de patamares elevados do consumo privado,
reforçado pela queda expressiva da taxa real de juros ao longo dos
últimos trimestres, que impulsionou a demanda de bens de consumo
duráveis e de imóveis.
Diferentemente, perdura a estagnação econômica japonesa. Nesse
sentido, apesar de apresentar sinais de recuperação do setor externo
e da produção industrial, o país ainda enfrenta algumas dificuldades,
como a persistente deflação que atinge bens, serviços e ativos
financeiros e a contração do crédito bancário, a despeito de medidas
recentes das autoridades monetárias no sentido de aumentar a
liquidez e de reestruturar o sistema bancário doméstico.
75
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
No que se refere à economia da área do euro, a intensidade da
desaceleração econômica superou as expectativas iniciais. Nesse
contexto, a retomada do crescimento passa a depender, de forma
mais direta, da recuperação da economia norte-americana. Ressaltese que a redução da taxa de juros de curto prazo em 50 pontos-base,
decidida pelo BCE na primeira semana de dezembro, pode estimular
a economia da área e, conseqüentemente, reduzir a dependência da
economia mundial em relação ao desempenho da economia norteamericana. O espaço para a execução de políticas fiscais
expansionistas é restrito.
A conjuntura macroeconômica mundial tem afetado distintamente
as economias emergentes, em função do grau de dependência dos
recursos financeiros externos, que traz elementos de instabilidade
econômica e política, o que aumenta a percepção de risco soberano,
motivando a necessidade de remunerações elevadas de suas dívidas.
Nesse contexto, a aversão ao risco dos investidores internacionais é
mais presente nas economias latino-americanas do que nas economias
emergentes da Ásia e do Leste Europeu. Concomitantemente, o baixo
desempenho econômico da América Latina, ao longo de 2002,
contrasta com o maior dinamismo das economias asiáticas e o
moderado crescimento dos países do Leste Europeu.
4.1 Estados Unidos
O consumo privado, os gastos com a defesa nacional e a recomposição
de estoques continuam sendo os principais fatores de sustentação
da demanda. Além disso, as compras de equipamentos e softwares
também têm dado mostras de reabilitação, em meio ao desempenho
modesto dos demais componentes do investimento privado. Todavia,
o declínio da produção industrial e a alta taxa de desemprego
evidenciam o ritmo lento no qual a economia ainda opera. Assim, na
ausência de pressões nos mercados de bens e de trabalho, e
considerando a deterioração das expectativas de curto prazo, a política
monetária foi mais uma vez utilizada para sustentar a demanda.
Embora esse quadro não forneça ainda indicações claras quanto aos
rumos da economia, os resultados mais recentes afastaram,
76
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
1/
aparentemente, o temor quanto à possibilidade de
efetivação, no curto prazo, do cenário mais
pessimista, que combina recaída em recessão
(double-dip) com deflação de preços. Essa
perspectiva baseia-se, de um lado, no ritmo da
expansão, que embora insuficiente vem-se
mantendo, e de outro lado, na evolução dos preços,
que ainda contida, começa a progredir lentamente.
Demanda agregada - componentes
5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
-4
-5
2,90
0,48
0,58
III
2000
IV
I
2001
II
Consumo
III
IV
I
2002
II
Investimento privado bruto
III
Governo
Fonte: Bureau of Economic Analysis
1/ Contribuição individual para a variação do PIB real. Variação trimestral
anualizada e dessazonalizada.
1/
PIB real e taxa de juros oficial
2/
10
7
8
6
6
2
5
5
4
4
4
2,7
1,3
1,1
3
0
2
-0,6
-2
Out
2000
Jan
2001
Abr
-0,3
-1,6
Jul
Out
1,25
Jan
Abr
2002
PIB real
Taxa de juros
Fonte: Bureau of Economic Analysis e Federal Reserve
1/ Série anualizada e dessazonalizada.
2/ Meta para a taxa anual dos federal funds .
Jul
1
O resultado do PIB, no terceiro trimestre, indicou
crescimento real anualizado de 4%, considerada
a “versão preliminar”. A principal contribuição
para esse resultado adveio, mais uma vez, do
consumo privado, 2,9%, seguido das compras
governamentais, 0,58%, e do investimento
privado, 0,48%, basicamente devido à
acumulação de estoques.
Out
As vendas no varejo desaceleraram nos últimos
meses, influenciadas pela retração nas vendas de
automóveis, um dos principais fatores de
sustentação da demanda no período recente. Assim, houve recuo de
1,5% em setembro e elevação de 0,1% em outubro, na série
dessazonalizada.
As encomendas às fábricas apresentaram crescimento mensal de 1,5%
em outubro, considerada a série dessazonalizada, revertendo, em
parte, os recuos de 2,4% e de 0,4% assinalados em setembro e em
agosto, respectivamente. No mesmo sentido, as encomendas de bens
duráveis expandiram-se 2,8% em outubro, após dois meses
consecutivos de retração.
Os estoques da indústria e do comércio elevaram-se 0,1% em agosto
e 0,5% em setembro, persistindo a trajetória iniciada em maio.
Assinale-se que a relação estoques/vendas ainda não emitiu sinais
consistentes de recuperação, o que sugere a perspectiva de que o
ciclo de estoques se constitua, nos próximos meses, em fator
relevante para a sustentação da demanda.
77
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
1/
Resultado acumulado no ano fiscal
US$ bilhões
250
200
150
100
50
0
-50
-100
-150
-200
-250
236,7
127,0
-159,4
Out
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
2002
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
2001
Set
2000
No que se refere à demanda externa, o déficit
comercial dessazonalizado, exclusivamente em
bens, totalizou US$41,8 bilhões em setembro,
resultado de exportações de US$58,3 bilhões e importações de
US$100,1 bilhões. O aumento do déficit este ano reflete,
principalmente, o maior crescimento das importações, como
resultado da recuperação gradual da atividade doméstica. Desse
modo, as importações acumuladas no ano, até setembro, totalizaram
US$857,6 bilhões, e as exportações, US$508,3 bilhões.
Fonte: Department of the Treasury
1/ Ano fiscal = out-1 - set.
Produção industrial e utilização da capacidade
Variação mensal e utilização da capacidade
85
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
-0,8
-1,0
-1,2
Out
2000
83
81
79
-0,8
77
75
75,2
Abr
Jul
Out
Prod. industrial
Jan
2002
Abr
Jul
Out
Util. capacidade
1/
Taxa de desemprego e emprego não-agrícola
mil
500
400
300
200
100
0
-100
-40
-200
-300
-400
-500
Ago
Nov
6,0
Fev
2001
Mai
Ago
Taxa de desemprego
Fonte: Bureau of Labor Statistics
1/ Série dessazonalizada.
78
A produção industrial vem registrando quedas
sucessivas desde agosto, tendo apresentado, em
setembro e outubro, recuos de 0,2% e 0,8%, nessa
ordem, na série dessazonalizada. Paralelamente,
o nível de utilização da capacidade instalada
decresceu nos últimos três meses, atingindo
75,2% em outubro.
73
Jan
2001
Fonte: Federal Reserve
1/ Série dessazonalizada.
%
6,0
5,8
5,6
5,4
5,2
5,0
4,8
4,6
4,4
4,2
4,0
3,8
Nov
2000
O déficit fiscal atingiu US$159,4 bilhões no ano
fiscal encerrado em setembro, comparativamente
a superávit de US$127 bilhões registrado no ano
fiscal precedente. Esse resultado corrobora a forte
inversão da posição fiscal norte-americana. Em
outubro, o déficit fiscal alcançou US$54 bilhões,
nível acima da média dos últimos anos.
Nov
Fev
Mai
2002
Var. mensal do emprego
De acordo com dados revisados, os ganhos de
produtividade no terceiro trimestre
permaneceram elevados no setor não-agrícola e
no setor manufatureiro, aumentando 5,1% no
primeiro e 5,5% no segundo. O custo unitário do
trabalho, por seu turno, declinou 0,2% no setor
não-agrícola e 1% na manufatura, denotando
relativa folga no mercado de trabalho.
A taxa de desemprego do setor não-agrícola
elevou-se para 6% em novembro, após haver
expandido marginalmente para 5,7% em outubro.
A tendência de recuperação do nível de emprego,
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
iniciada em maio deste ano, durou apenas quatro meses, sendo
parcialmente revertida pela eliminação de 38 mil postos de trabalho
nos últimos três meses. Adicionalmente, as horas trabalhadas
semanais não apresentaram recuperação e os rendimentos reais do
trabalho mantêm tendência declinante.
Indicadores do ISM
65
60
55
50
45
40
35
Nov
2000
Fev
2001
Mai
Ago
PMI
Fonte: Institute for Supply Management
Nov
As expectativas de curto prazo deterioraram-se
rapidamente, a partir de meados do ano, mas há
sinais de recuperação no quarto trimestre. Os
57,4
indicadores de atividade do Institute for Supply
Management
(ISM)
desaceleraram-se
49,2
rapidamente, mas somente o referente ao setor
manufatureiro atingiu valor inferior ao ponto de
nivelamento. O indicador do setor nãoFev
Mai
Ago
Nov
2002
BAI
manufatureiro, por seu turno, iniciou trajetória
expansiva em setembro. No que se refere às
expectativas do consumidor, recuaram
abruptamente ao longo do terceiro trimestre, de acordo com o
Conference Board, voltando a crescer em novembro, mas encontramse em nível bastante deprimido. Os indicadores antecedentes,
diferentemente, declinaram lentamente ao longo do período.
Apesar de reconhecer que a postura acomodativa da política
monetária, combinada com os ganhos de produtividade, já vem
fornecendo suporte para a atividade econômica, o Federal Reserve
(Fed) considerou oportuna nova redução das taxas de juros, em
reunião no dia 6 de novembro, sob a justificativa de que os dados
econômicos recentes sugerem recuperação mais lenta do que a
esperada. Optou-se, assim, em decisão unânime dos membros do
comitê de mercado aberto da instituição, pelo corte da taxa dos fed
funds – a qual vinha sendo mantida no nível de 1,75% a.a. desde
dezembro de 2001 – em cinqüenta pontos-base, para 1,25% a.a.
Embora a inflação venha mantendo-se em patamar contido, no
passado recente, os dados relativos a novembro revelaram que a
tendência de recuperação dos preços observada nos últimos meses
acelerou-se, notadamente no caso dos preços ao produtor. Assim,
incorporada a variação de 1,1% nos preços dos bens finais em
outubro, a taxa de inflação anual ao produtor mostrou-se positiva,
79
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
o que não ocorria desde setembro de 2001. Embora esse repique
esteja associado, sobretudo, a fatores localizados, como a elevação
dos preços da energia, que subiram 4,2% no mês, impulsionados
pela evolução dos preços dos combustíveis, o núcleo do índice
também registrou elevação, aumentando 0,5%.
No que se refere aos preços ao consumidor, a inflação alcançou 0,3%
em outubro e a taxa anual, 2%. O núcleo do índice ao consumidor
aumentou 0,2% no mês, não apresentando sinais de aceleração.
4.2 Japão
O desempenho favorável do setor externo e da produção industrial,
registrado ao longo do corrente ano, estará condicionado, nos
próximos meses, às incertezas quanto à retomada da economia
mundial, em especial da norte-americana, e ao desaquecimento da
demanda em bens intensivos em tecnologia da informação. Em outra
frente, o país caminha a passos lentos nas reformas estruturais para
superação de problemas internos, como deflação, taxas elevadas de
inadimplência e alto comprometimento do capital bancário com ativos
de má qualidade.
Relativamente à demanda, as encomendas às fábricas reagiram
favoravelmente no segundo e terceiro trimestres, refletindo
investimentos corporativos impulsionados pelo setor exportador.
Assim, as encomendas médias efetuadas no período de abril a setembro
superaram em 1,5% aquelas registradas no semestre anterior. Por outro
lado, embora o núcleo de encomendas, que exclui as encomendas
voláteis, tenha crescido 12,7% em setembro, relativamente a agosto,
o governo prevê declínio deste indicador para o quarto trimestre,
refletindo redução nos pedidos do setor privado.
O início de novas construções manteve-se estável ao longo do ano,
mas decresceu 6,2% no terceiro trimestre, comparativamente ao
patamar de igual período do ano precedente. Embora tenha havido
decréscimo de 1,2% na renda disponível, no período, as despesas
das famílias assalariadas, em termos reais, elevaram-se 4,1% em
setembro, relativamente a setembro de 2001, influenciadas pelo
80
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
consumo de telefones celulares, vestuário e mobiliário. O
significado desse aumento, entretanto, deve ser analisado tendo
em vista que os gastos dos consumidores, que respondem por cerca
de 55% do PIB, têm sido prejudicados por cortes de salários e
pela pressão da Agência de Serviços Financeiros sobre os bancos,
para que contabilizem como prejuízo os créditos de má qualidade,
forçando a falência de alguns tomadores.
As exportações têm representado o principal fator
de dinamismo da economia japonesa ao longo do
ano. Nesse sentido, embora em termos mensais
venham apresentando relativa estabilidade, as
vendas externas têm expandido quando
considerado o saldo acumulado em doze meses
ou a comparação do resultado de um mês com o
do período correspondente do ano anterior.
Set Nov Jan Mar Mai Jul Set
2002
Assinale-se que, nessa base de comparação, as
Importações
Saldo
exportações cresceram 14,3% em outubro,
registrando o oitavo período consecutivo de alta.
Esse desempenho favorável vem sendo liderado, a despeito da
apreciação do ien, pelas vendas destinadas a países asiáticos, que,
consideradas as posições de outubro de 2002 e do ano anterior,
elevaram-se 28,1%, resultando em alta de 95% no superávit
comercial, no período.
Balança comercial - Var.acum. 12 meses
%
30
20
10
0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
Set Nov Jan Mar Mai
2000
2001
Exportações
Jul
Fonte: Banco do Japão e Bloomberg
A produção industrial cresceu 2,1% no terceiro
trimestre, em relação ao período anterior,
6
influenciada pelo desempenho da produção de
3
carros e de circuitos integrados, assinalando-se
0
que a estimativa para o resultado no trimestre
-3
subseqüente aponta redução de 1,2%, na mesma
-6
-9
base de análise. Na comparação com igual período
-12
de 2001, o crescimento alcançou 3,1% e,
Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set
2000
2001
2002
considerada a variação acumulada em doze meses,
Fonte: Ministry of Economy, Trade and Industry
a trajetória mostra-se ascendente, porém a taxa
decrescente. A taxa de desemprego, que
permanecia estabilizada no patamar de 5,4% desde maio do corrente
ano, elevou-se para 5,5% em outubro, igualando o recorde alcançado
em dezembro de 2001.
Produção industrial
Variação percentual acumulada em 12 meses
81
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
1/
O produto interno bruto cresceu 0,7% no terceiro
trimestre, ante o registrado no período anterior,
representando taxa de crescimento anualizada de
3%. A principal contribuição originou-se da
demanda interna, em especial do consumo
privado, que apresentou crescimento de 0,8%.
Produto Interno Bruto
%
12
8
4
0
-4
-8
III
IV
I
II
III
IV
I
II
III
1999
2000
2001
Fonte: Economic Planning Agency
1/ Variação sobre trimestre imediatamente anterior, com ajuste
sazonal, anualizada.
IV
I
2002
III
A economia persiste operando em regime de
deflação. Ao longo de 2001 e de 2002, a variação
anual do Índice de Preços ao Consumidor (IPC)
vem-se mantendo sistematicamente abaixo de
zero, tendo registrado -0,9% em outubro. Esse comportamento
demonstra que a utilização de instrumentos de política monetária,
como manutenção da taxa de juros básica próxima a zero e elevada
liquidez proporcionada pelo Banco do Japão (BoJ), não têm
proporcionado o efeito desejado sobre a concessão de créditos, em
parte porque os bancos vêm preferindo adquirir bônus
governamentais. O IPA durante o corrente ano permaneceu negativo,
mas em outubro elevou-se 0,4%.
O novo programa de reestruturação financeira, lançado em 30 de
outubro, embora não evidencie o cronograma de sua implantação,
tem o mérito de reconhecer que os empréstimos bancários devem
ser melhor estruturados para que sofram redução de 50%, até o
final do ano fiscal de 2004. O programa é centrado em três pontos:
(i) maior rigor na classificação de créditos duvidosos; (ii) separação
entre empréstimos de boa e má qualidade, com os primeiros sendo
mantidos na contabilidade dos bancos e os segundos, vendidos à
Resolution and Collection Corporation (RCC); e (iii) redução de
40% para 10% do imposto diferido sobre receitas bancárias, que os
bancos poderão usar como parte integrante do capital de nível 1.
No Japão, é permitido o adiamento dos impostos sobre receitas
bancárias por até cinco anos e aceita-se que estas receitas diferidas
sejam computadas nocapital de nível 1 dos bancos. Assinale-se que
se os bancos japoneses adotassem as regras dos Estados Unidos,
onde é permitido diferimento por um ano, todos os grandes bancos,
exceto o Bank of Tokyo-Mitsubishi e o Sumitomo Trust, ficariam
abaixo do nível de solvência requerido.
82
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
A confiança empresarial melhorou, segundo a pesquisa Tankan
divulgada trimestralmente pelo BoJ. O índice para grandes empresas
manufatureiras registrou -14, quatro pontos acima da leitura de junho.
Esse mesmo índice para as condições de oferta e demanda atingiu
-33, três pontos acima do relativo ao segundo trimestre. Esses
resultados trazem algum alívio para o quadro geral da economia
japonesa, apesar de não sugerirem que as condições de negócio
estejam se revigorando de forma duradoura. O índice de confiança
para pequenas firmas, Shoko Chukin, por sua vez, elevou-se para 45
em novembro, ante 44 em outubro.
4.3 Área do Euro
As perspectivas para a economia da Área do Euro tornaram-se mais
pessimistas nos últimos meses. Nesse sentido, registre-se que a
incerteza experimentada por empresários e consumidores, conforme
indica a evolução de diversos indicadores de confiança, decorre de
questionamentos quanto à recuperação da economia americana, à
possibilidade de conflito armado no Oriente Médio e à instabilidade
no ambiente corporativo, tendendo a manter a demanda interna
desaquecida e a postergar a reativação do nível de atividade
econômica. A necessidade de ajuste fiscal nas três principais
economias da região concorre para compor um quadro desfavorável
para os próximos anos, com reflexo desfavorável sobre as estimativas
de crescimento para a região. Dessa forma, a Comissão Européia
(CE) estima que o PIB da Área do Euro deverá crescer 0,8% em
2002 e 1,8% em 2003. O cenário recessivo é particularmente
acentuado na Alemanha, principal economia da região, país em que
estimativas para o crescimento do PIB apontam taxas de 0,2% para
2002 e de 1% para 2003.
A confirmação de déficit público equivalente a 4,1% do PIB em
Portugal, em 2001, significou a primeira ocorrência de déficit
excessivo por um país da região, desde a criação do euro, em janeiro
de 1999. De acordo com o Pacto de Estabilidade e Crescimento,
firmado entre os países da União Européia em 1997, o déficit não
pode ser superior a 3% do PIB, cabendo a imposição de sanções aos
países que permanecerem acima desse limite. A CE estima que o
83
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
déficit da Alemanha alcançará 3,8% do PIB neste ano e 3,1% em
2003, decrescendo em seguida, em conseqüência do esforço fiscal
já delineado. Adicionalmente, de acordo com a CE, na França e na
Itália, países que têm questionado o Pacto e relutado em determinar
ajuste das contas públicas suficiente para reverter a evolução dos
déficits, esses devem se aproximar do teto de 3% do PIB nos
próximos anos.
Balança comercial
US$ bilhões
19
14
9
4
-1
-6
Jan
2000
Embora o resultado da balança comercial tenha
sofrido decréscimos sucessivos em agosto e
setembro, o setor externo da economia continua
apresentando desempenho favorável, evidenciado
50
pelo saldo acumulado em doze meses, em
40
30
setembro, de US$94,6 bilhões, comparativamente
20
10
a US$77,3 bilhões, em junho. Exportações e
0
importações registraram acentuadas contrações
Mai
Set
Jan
Mai
Set
2002
Acumulado em 12 meses
em agosto, decorrentes de efeitos sazonais, mas
recuperaram o nível anterior em setembro. As
exportações recuaram de US$93,7 bilhões, em
julho, para US$79,4 bilhões, em agosto, aumentando para US$87,6
bilhões, em setembro. Na mesma direção, as importações passaram
de US$79,5, em julho, para US$69,6 bilhões, em agosto, subindo
para US$78,3 bilhões, em setembro. O aumento maior das
importações resultou em redução do saldo comercial para US$9,8
bilhões, em agosto, e US$9,3 bilhões, em setembro, após haver
alcançado US$14,2 bilhões em julho.
US$ bilhões
100
90
80
70
60
Mai
Set
Jan
2001
Saldo mensal
Fonte: Eurostat
Produção industrial
%
8
6
4
2
0
-2
-4
-6
Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set
2000
2001
2002
Variação mensal
Variação anual
Fonte: Eurostat
84
A produção industrial ainda não mostrou
recuperação, tendo registrado declínio de 0,2%
em setembro, após aumento de 0,2% em agosto
e recuo de 0,5% em julho. As variações anuais
vêm registrando retrações desde setembro de
2001, com decréscimos de 1,2% em agosto e de
0,6% em setembro. Em sentido inverso, as vendas
no varejo cresceram 1,7% em julho e 1,5% em
agosto, relativamente ao patamar assinalado nos
meses correspondentes do ano anterior.
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
Vendas ao varejo
A inflação anual aumentou para 2,3% em
outubro, mantendo-se desde agosto em patamar
superior ao valor de referência de 2%, do BCE.
O índice deve situar-se entre 2,2% e 2,3%, em
2002. A preocupação do BCE com a persistência
da inflação tem condicionado a utilização da taxa
de juros básica como instrumento de estímulo à
recuperação econômica. Não obstante, o recuo
da taxa anual de crescimento do agregado
monetário M3, que situou-se em 7% em outubro,
após 7,3% em setembro, contribuiu para que o
BCE reduzisse a taxa de juros de curto prazo
em 50 pontos-base, na primeira semana de
dezembro, medida que deverá estimular a
economia da região.
%
6,0
4,5
3,0
1,5
0,0
-1,5
-3,0
Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago
2000
2001
2002
Variação mensal
Variação anual
Fonte: Eurostat
IPCH
%
4
3
2
1
0
-1
Fev
2000
Jun
Out
Fev
2001
Var. anual
Jun
Out
Fev
Jun
2002
Var. mensal
Out
Fonte: Eurostat
Indicadores de confiança
115
110
105
100
95
90
85
80
Jan
2001
Mar
Mai
Jul
Set
Nov
Jan
2002
Alemanha
Itália
Fonte: IFO, Insee, Isae e Comissão Européia
Mar
Mai
Jul
França
Área do Euro
Set
Nov
De forma geral, os indicadores de confiança do
setor empresarial tendem à estabilização, após
declinarem continuamente desde maio. Na
Alemanha, o índice do Instituto de Pesquisas
Econômicas (IFO), que estima expectativas de
negócios, atingiu 87,3 em novembro, ante 87,7
em outubro e 88,2 em setembro. Na França, o
índice do Institut National de la Statistique et des
Études Économiques (Insee) situou-se em 96, em
novembro, comparativamente a 93 e a 97,
respectivamente, nos dois meses anteriores. Na
Itália, o indicador do Istituto di Studi e Analisi
Economica (Isae) manteve relativa estabilidade
nos últimos meses, alcançando 95,7 em setembro
e 95,2 e 95,4, nos meses subseqüentes.
Os índices relativos às expectativas dos consumidores apresentaram
comportamento distinto. Assim, os indicadores que refletem o
sentimento na França e na Itália apresentaram resultados favoráveis,
registrando-se, por outro lado, recuo no relativo à Alemanha, que
declinou de 95, em setembro, para 89, em outubro. Na Itália, a
trajetória de declínio do indicador do Isae manteve-se até outubro,
quando o índice atingiu 109,4, subindo para 109,8 em novembro,
85
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
enquanto na França, o índice do Insee situou-se em 82, em setembro, seu
patamar mais baixo desde maio, aumentando para 84 no mês seguinte.
4.4 Economias emergentes
4.4.1
Ásia
A evolução das economias dos países asiáticos, em especial daqueles
que apresentam grau de inserção na economia global mais acentuado,
continuou a refletir as dificuldades de recuperação dos centros mais
importantes da economia mundial. Estimativas preliminares quanto
ao crescimento anual do PIB da região apontam desaceleração no
terceiro trimestre, em relação ao assinalado no período anterior.
Apesar de as demandas domésticas terem preservado parcialmente
sua capacidade de recuperação, esse movimento não foi suficiente
para compensar a queda nas exportações líquidas do bloco.
Adicionalmente, o crescimento do número de falências e da
inadimplência dos cartões de crédito na Coréia e a manutenção de
condições desfavoráveis no mercado de trabalho em Taiwan
prejudicaram a retomada dessas economias. Buscando estimular a
capacidade de recuperação, algumas economias, no período mais
recente, reduziram suas taxas básicas de juros, a exemplo de Taiwan
e Tailândia, ambas em 25 pontos-base.
Na Coréia do Sul, o PIB apresentou variação de 5,8% no terceiro
trimestre, em relação ao mesmo período do ano anterior, ante 6,4%,
no segundo trimestre, recuo associado à retração registrada na
agricultura e nas atividades da construção civil. Em outubro, a
produção industrial apresentou crescimento de 12,7%, em doze
meses, comparativamente a 3,4%, em setembro, impulsionado pelo
desempenho favorável das exportações, em especial semicondutores
e automóveis. A taxa de desemprego situou-se em 2,7%, em
novembro, ante 3%, em outubro, enquanto a variação dos preços ao
consumidor no mesmo mês, considerado a variação acumulada em
doze meses, totalizou 2,8%, relativamente a 3,1%, em setembro.
As exportações sul-coreanas totalizaram US$15,2 bilhões, em
outubro, e as importações, US$13,9 bilhões, proporcionando
86
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
superávit comercial de US$1,3 bilhão, ante US$1 bilhão em setembro.
O saldo em transações correntes em outubro atingiu US$1,4 bilhão,
ante US$0,5 bilhão no mês anterior.
A produção industrial tailandesa cresceu 8,8%, no período de doze
meses finalizados em outubro. O declínio de 1 p.p. registrado na
taxa, em relação ao resultado de setembro, reflete a desaceleração
da produção destinada à exportação e a menor absorção interna da
produção de eletrodomésticos. A variação dos preços ao consumidor,
acumulada em doze meses, atingiu 1,4% em outubro,
comparativamente a 0,4%, em setembro. O comércio exterior
registrou exportações de US$6,3 bilhões e importações de US$5,8
bilhões, em outubro, gerando saldo comercial de US$0,5 bilhão, no
mês, comparativamente a US$0,8 bilhão, em setembro.
Na China, maior economia da região, o crescimento do PIB em doze
meses atingiu 8,1%, no terceiro trimestre, ante 8% no trimestre
anterior. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) continuou a
superar a dos demais países, apesar do crescimento em doze meses
da indústria da construção civil ter recuado de 28,1%, em setembro,
para 21%, em outubro. Não obstante, o investimento residencial
aumentou de 26%, em setembro, para 32,5%, em outubro. A
produção industrial, considerado o mesmo critério de apuração,
expandiu-se 14,2% em outubro, ante 13,8%, no mês anterior, e a
variação anual dos preços ao consumidor manteve-se negativa, em
0,8%. No que se refere ao comércio externo, as exportações
alcançaram US$31,2 bilhões, as importações, US$28,7 bilhões, e o
saldo comercial, US$2,5 bilhões, em novembro, comparativamente
a US$4,8 bilhões, no mês anterior.
Em Taiwan, o crescimento em doze meses do PIB atingiu 4,8%,
no terceiro trimestre, ante 4%, no trimestre precedente,
impulsionado pela expansão de 8,8% na FBCF. A produção
industrial, por outro lado, apresentou variação de 7,4% em doze
meses terminados em outubro, assinalando-se que o declínio de
4,3 p.p. registrado na taxa, quando comparada à do mês anterior,
evidencia a desaceleração observada nas exportações e na
atividade da construção. Os preços ao consumidor recuaram 1,7%
no período de doze meses, até outubro, ante 0,8%, até setembro,
87
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
e os preços no atacado aumentaram 2,1% e 0,5%,
respectivamente, nos mesmos períodos. As reservas internacionais
do país somaram US$157,6 bilhões em outubro, patamar
semelhante ao registrado no mês anterior.
Na Índia, a produção industrial registrou crescimento acumulado
em doze meses de 6,2%, em outubro, ante 6,1%, em setembro,
impulsionado pelas exportações, assim como pelo consumo interno
de bens não-duráveis e pela expansão da produção de bens de capital.
Os preços ao consumidor apresentaram crescimento anual de 4,3%,
em setembro, ante 3,9%, em agosto. No que se refere aos preços no
atacado, apresentaram elevação anual de 3,3% em outubro e de 3,5%
em setembro. As exportações totalizaram US$4 bilhões, em
setembro, e as importações, US$5,1 bilhões, determinando expansão
do déficit comercial, de US$0,7 bilhão, em agosto, para US$1,1
bilhão. As reservas internacionais indianas totalizaram US$64 bilhões
em outubro, ante US$62,7 bilhões, em setembro.
4.4.2
Europa do Leste
O cenário de expansão moderada do PIB na zona do euro não
influenciou significativamente o restante do continente, em especial
as economias emergentes do Leste Europeu, que apresentaram
desempenho da atividade econômica menos robusto que o dos países
emergentes da Ásia, mas superior ao dos países da América Latina.
A recomendação da Comissão Européia, braço executivo da União
Européia (UE), de que dez países (Polônia, Hungria, República
Tcheca, Eslováquia, Lituânia, Letônia, Estônia, Eslovênia, Chipre e
Malta) sejam candidatos a ingressarem no bloco em 2004, e outros
dois (Bulgária e Romênia) em 2007, proporcionará substanciais
benefícios econômicos para esses países, quando passarem a
participar de um mercado de 500 milhões de pessoas. Ao mesmo
tempo, esses países deverão adequar-se aos rígidos padrões aos quais
os países membros da UE estão submetidos. À Turquia, décimoterceiro candidato, não foi oferecida uma data para o início das
negociações de ingresso.
88
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
Na Polônia, a indústria apresentou, em outubro, crescimento
acumulado em doze meses de 3,2%, reduzindo seu ritmo de
expansão, que havia sido de 6,6% em setembro, em virtude da
contração observada na construção civil. O desemprego, no mesmo
mês, alcançou 17,5% da força de trabalho, próximo aos 17,6% de
setembro. A taxa de crescimento dos preços ao produtor, acumulada
em doze meses, situou-se em 1,7% em outubro, ante 1,1%, em
setembro. Os preços ao consumidor, por sua vez, apresentaram, no
mesmo mês, variação acumulada em doze meses de 1,1%, ante 1,3%,
em setembro. No que diz respeito ao comércio exterior, as
exportações alcançaram US$3,2 bilhões e as importações, US$4,2
bilhões, em outubro, determinando déficit comercial de US$1 bilhão,
no mês, comparativamente a US$0,9 bilhão, em setembro. As
reservas internacionais declinaram de US$29,3 bilhões, em setembro,
para US$29,2 bilhões, em outubro.
Na Rússia, a produção industrial cresceu 3,9%, no período de doze
meses até outubro, ante 5,5%, em setembro. O menor ritmo de
expansão deveu-se à desaceleração nos segmentos produtores de
bens de capital e de bens de consumo, parcialmente atenuada pela
continuidade no crescimento da produção de bens intermediários.
Os preços ao produtor na indústria acumularam, em doze meses
até outubro, crescimento de 16,7%, ante 14,7%, em setembro, em
razão do aumento nos preços dos combustíveis e dos produtos
ferrosos e não ferrosos de uso metalúrgico. A variação dos preços
ao consumidor, em doze meses, alcançou 15%, em outubro, mesmo
patamar do mês anterior, registrando-se desempenho favorável dos
preços dos alimentos, que compensou a alta assinalada em serviços.
As conta externas revelaram, em setembro, exportações de US$9,9
bilhões e importações de US$5,2 bilhões, desempenhos que
possibilitaram a elevação do superávit comercial de US$0,1 bilhão,
em agosto, para US$4,7 bilhões. As reservas internacionais,
situaram-se em US$50,5 bilhões, em outubro, representando
expansão mensal de US$1,2 bilhão.
Na Turquia, a produção industrial apresentou, em setembro,
crescimento em doze meses de 10,8%, ante 7,3% no mês anterior,
registrando-se desempenho favorável nos segmentos de máquinas,
equipamentos e automóveis. Nesse contexto, a utilização da
89
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
capacidade industrial alcançou 80,6% em outubro, comparativamente
a 79,7%, em setembro. Os preços ao consumidor apresentaram
crescimento de 33,5%, considerados os doze meses encerrados em
outubro, ante 37,1%, em setembro. No âmbito dos preços no atacado,
as variações alcançaram, respectivamente, 36,1% e 40,9%, reflexo,
em parte, da contração nos preços dos combustíveis. No que se refere
à balança comercial, as exportações somaram US$3,1 bilhões e as
importações, US$4,2 bilhões, em setembro, proporcionando recuo
mensal de US$0,3 bilhão no déficit comercial, para US$1,1 bilhão.
As reservas internacionais totalizaram US$36,2 bilhões, patamar
semelhante ao observado no mês anterior.
4.4.3
América Latina
O cenário econômico permanece instável na região, influenciado,
especialmente, pelas incertezas políticas e econômicas que atingem
Argentina, Venezuela e Uruguai, pela desaceleração da atividade
econômica nos países desenvolvidos e pela elevação da aversão ao
risco em âmbito mundial e conseqüente redução dos fluxos de
capitais internacionais.
Nesse contexto, o FMI estima que o PIB da região decline 0,6% em
2002, ante expansão de 0,6% em 2001, respondendo à influência de
contrações de 16% no PIB argentino, de 11 % no PIB uruguaio e de
6% no PIB venezuelano. Concomitantemente, estima-se que as
economias de maior importância relativa na região, México e Brasil,
registrem taxas de crescimento da ordem de 1,5%, induzidas pela
incipiente recuperação da economia norte-americana, responsável
por cerca de 90% das exportações mexicanas, e pela crise de
confiança que atinge a economia brasileira, reduzindo
acentuadamente os ingressos de capitais externos e refletindo-se em
movimento de depreciação do real. O Chile mantém trajetória de
crescimento econômico, ainda que a expansão de 2,2% do PIB
prevista para 2002 esteja abaixo das expansões de 4,4% e 2,8%
registradas, respectivamente, em 2000 e 2001, e os países andinos,
como Colômbia, Equador e Peru também devem apresentar taxas
de crescimento moderadas, de até 3%.
90
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
Taxas de câmbio
Variação percentual anual1/
%
20
0
-20
-40
-60
-80
Jan
2002
Mar
Mai
Argentina
Fonte: Bloomberg
1/ Final de período.
Índice Embi+
Pontos básicos
8000
6000
4000
Jul
Set
Brasil
México
Nov
Enquanto indicadores de demanda doméstica
apontam arrefecimento do consumo, o comércio
exterior vem apresentando resultados favoráveis,
a despeito da contração de 1,5% nas exportações
anuais da região, de acordo com estimativas da
Comissão Econômica para a América Latina e
Caribe (Cepal). À exceção do México, o ambiente
recessivo e a depreciação das moedas locais
determinaram intenso ajuste nas importações,
evidenciado em superávits comerciais que vêm
contribuindo para a redução da vulnerabilidade
externa dos países da região. Nesse sentido, o
déficit em conta corrente, que atingiu 2,8% do
PIB em 2001, deverá alcançar 1,9% do PIB, em
2002, de acordo com o FMI.
2000
0
Jan
2002
Fonte: Bloomberg
Mar
Mai
Argentina
O ajuste externo ocorre em um período de retração
dos investimentos estrangeiros na região, como
Jul
Set
Nov
Brasil
México
seqüela da crise argentina e do crescimento global
da aversão ao risco. As dificuldades de
financiamento externo diminuíram a oferta interna
de dólares, repercutindo em intensas pressões sobre as moedas locais,
que, mesmo tendo se suavizado no quarto trimestre, vêm contribuindo
para a deterioração da percepção de risco associado à região.
Adicionalmente, a depreciação das moedas locais ampliou os
riscos de aceleração inflacionária. Segundo projeções do FMI, a
inflação da região deverá atingir 8,6%, em 2002, após alcançar
6,4% no ano anterior, refletindo o crescimento registrado nas
taxas relativas à Argentina, Brasil, Venezuela e Uruguai. A
aceleração inflacionária levou à utilização de políticas monetárias
restritivas, que contribuíram para dificultar a retomada do nível
de atividade.
4.5 Petróleo
A Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), em reunião
de 19 de setembro, considerou que a evolução da demanda pelo
91
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
produto no quarto trimestre estaria associada, fundamentalmente, a
fatores sazonais, tendo em vista a perspectiva de expansão moderada
da economia mundial. Nesse contexto, objetivando assegurar a
estabilidade do preço do óleo cru, a entidade decidiu manter a meta
de produção em 21,7 milhões de barris por dia (mbd).
Em outubro, face à crescente oferta de petróleo e à diminuição da
produção das refinarias, os preços apresentaram redução de quase
quatro dólares por barril. Esses fatores, associados à redução nas
tensões quanto a um conflito no Oriente Médio, provocaram a
liquidação de posições de papéis especulativos referentes ao mercado
futuro de petróleo, adicionando novo fator determinante para a
contração nos preços do produto. A produção mundial de petróleo
cresceu 1,25 mbd, em outubro, dos quais 0,76 mbd no âmbito da
Opep. Os países não pertencentes à Opep produziram 0,45 mbd a
mais do que no mês anterior, comportamento associado,
principalmente, ao aumento de produção de poços na Noruega, após
a interrupção ocorrida para manutenção, em setembro. A avaliação
do crescimento da demanda global por petróleo, em relação à do
ano anterior, permaneceu constante em outubro, atingindo 190 mil
barris por dia em 2002 e 1.040 mil barris por dia em 2003.
O preço do petróleo tipo Brent no mercado à
vista, em final de período, diminuiu de US$28,90
US$/barril
por barril, em setembro, para US$25,61 por barril,
35
33
em outubro, e para US$24,84 por barril, em
31
29
novembro. A acentuada redução nos preços, no
27
25
trimestre, pode ser atribuída, em parte, ao forte
23
21
aumento da oferta, principalmente por parte da
19
17
Opep, e à menor expectativa atual de um ataque
15
Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out Dez Fev Abr Jun Ago Out
dos Estados Unidos ao Iraque. Opondo-se à
2000
2001
2002
Fonte: Bloomberg
redução dos preços, encontra-se o cenário de
reduzido estoque de óleo cru nos países da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), no início de outubro, e a tendência de aumento da demanda,
vinculada à ocorrência de tempo mais frio do que o normal para a
época no hemisfério norte.
Petróleo tipo Brent
Média no período
92
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
No mercado futuro, as cotações do petróleo tipo Brent mostraram-se
decrescentes para prazos subseqüentes de entregas negociados em
mesma data. Para contratos negociados no final de novembro, os níveis
de preços situaram-se abaixo dos meses anteriores, em parte devido à
redução das tensões no Oriente Médio, com a concordância do Iraque
à resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), de permitir a
visita dos inspetores daquele organismo ao país.
4.6 Conclusão
A evolução dos indicadores disponíveis não é suficiente para
referendar recuperação sustentável da economia mundial, mas
parecem reforçar a hipótese de que o final deste ano e o início do
próximo devam marcar o fim da tendência de desaquecimento
econômico observada ao longo de 2002.
As perdas acumuladas nas bolsas de valores depois da recessão
mundial do ano passado e os efeitos negativos provocados pelos
escândalos contábeis nos Estados Unidos fragilizaram a economia
mundial, tornando a evolução da economia norte-americana variável
chave para determinar sua trajetória. A manutenção do ritmo de
crescimento da economia norte-americana nos próximos meses está
vinculada, entretanto, à continuidade do crescimento dos níveis de
produtividade, que remeteria a novo ciclo de investimentos de forma
a proporcionar uma estrutura mais sólida ao seu crescimento, hoje
dependente, fundamentalmente, do consumo privado.
A retomada da economia americana também irá impactar
positivamente o comércio mundial, dada a dependência do resto do
mundo em relação ao mercado dos Estados Unidos. No entanto,
segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o crescimento
do comércio mundial será relativamente limitado em 2003, inferior
à média dos últimos anos, em função das expectativas de baixo
desempenho econômico no Japão e na zona do euro e de proliferação
de barreiras comerciais, ao longo do ano.
A superação das dificuldades japonesas segue dependendo de reformas
estruturais profundas e abrangentes, bem como nas economias da zona
93
Relatório de Inflação
Dezembro 2002
do euro continuam necessárias a adoção de medidas que proporcionem
geração de ganhos de produtividade e de eficiência.
A consolidação da recuperação da economia norte-americana e a
normalização dos mercados internacionais devem arrefecer o
movimento de fuga para qualidade que voltou a predominar no
mercado nos momentos de maiores incertezas e turbulências. Nesse
contexto, deverá ser gradualmente recomposto o volume de recursos
externos disponibilizado aos países emergentes que persigam políticas
monetária e fiscal sadias.
94
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