A mensagem que ficou STEINBRUCH , Benjamin. “A mensagem que ficou”. Folha de São Paulo. São Paulo, 16 de março de 2010. À MEDIDA que as estatísticas finais sobre 2009 vão sendo divulgadas, os brasileiros em geral, de trabalhadores a empresários, vão absorvendo uma mensagem que nunca mais devem esquecer: o Brasil tem um robusto mercado interno, que precisa ser cada vez mais cultivado. A variação do PIB (Produto Interno Bruto) de 2009, conhecida oficialmente na semana passada, foi ligeiramente negativa, de -0,2%. Em condições normais, seria um resultado desastroso. Mas, para o pior ano da economia global desde a década de 1930, o saldo foi bom, porque o Brasil escapou da recessão feroz que assolou os grandes países do mundo. E isso se deu graças ao mercado interno aquecido. A força do consumo local teve reflexo direto nos balanços das empresas. Companhias de segmentos como alimentos, varejo, têxtil e material de construção, bastante voltadas para o consumidor, praticamente ignoraram a crise. Tanto seu faturamento quanto o resultado foram satisfatórios, muitas com crescimento de vendas de dois dígitos. Já as empresas dependentes de exportações apresentaram números menos favoráveis. E qual é a receita para cultivar o mercado interno? Nada muito complicado, como se viu no ano passado: estímulo a investimentos produtivos para aumentar a oferta de produtos, crédito amplo ao consumidor e juros baixos. Não foi por acaso que o consumo interno reagiu em plena crise. Embora os juros reais continuem sendo os mais altos do mundo, a taxa básica nominal foi reduzida para o nível mais baixo da história recente do país. Isso estimulou ao mesmo tempo vendas e investimentos. Paralelamente, houve algumas inéditas renúncias fiscais, tanto no âmbito federal como nos Estados, que havia muito tempo eram reivindicadas pela sociedade e nunca concedidas. A primeira, aliás, bem antes da crise, foi a derrubada da CPMF, a partir de janeiro de 2008. Em 2009, foi reduzido o IPI sobre veículos novos, eletrodomésticos, computadores e material de construção. Estados cortaram ICMS de alguns produtos essenciais. Ao mesmo tempo, os bancos oficiais foram instigados a elevar o crédito para a compra de imóveis, o que acabou movimentando todo o setor. Aplicaram-se, também, reajustes reais no salário mínimo (12% em 2009 e mais 9,6% a partir de janeiro de 2010). E colocou-se renda na mão da população menos favorecida, por meio dos programas sociais. A economia respondeu. 2009 teve ainda crescimento zero, mas no último trimestre do ano a expansão já estava em um ritmo anual de 8,2%, nível que aparentemente se mantém neste primeiro trimestre. Apesar da estagnação estatística do PIB, foram criados 995 mil empregos com carteira assinada, principalmente porque o comércio e os serviços absorveram mão de obra para atender à demanda interna. Deu certo, portanto, e é preciso acreditar nesse modelo aplicado durante a crise. Durante longos anos, por exemplo, houve uma verdadeira displicência oficial na área do financiamento habitacional. Nunca se estimulou o crédito geral e nunca se acreditou nas desonerações tributárias. Com a divulgação dos dados do PIB, o retrato de 2009 está concluído e constitui a prova de que esses mecanismos funcionam. Passou o tempo em que o temor da volta da inflação impedia qualquer movimento mais audacioso para expandir o mercado interno e buscar o crescimento econômico.