EITT/PUCSP – Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia RED ECONOLATIN – UNIVERSIA/Universidad Autónoma de Madrid Conjuntura Econômica do Brasil – Outubro 2010 Profa. Anita Kon No início do terceiro trimestre de 2010 a atividade econômica brasileira mostrou desaceleração, com recuo de 0,2% em julho, resultado que indica que a economia do país continua em trajetória de desaquecimento, que vem ocorrendo desde os dois primeiros trimestres do ano. Por sua vez, na comparação com julho de 2009, período de crise financeira internacional, o indicador de atividade mostrou alta de 6,5%. Esta desaceleração da atividade foi determinada pelo setor industrial, observand0-se a ótica da oferta, com queda de 1,2% no mês e de 0,1% do setor de serviços e apenas o setor agropecuário mostrou crescimento no mês. Do lado da demanda agregada, os investimentos recuaram 1,9%, ao passo que as exportações de bens e serviços decresceram em 1,8%. Os especialistas afirmam que esta desaceleração de julho se deve ao fim dos estímulos fiscais à compra de veículos, ao aperto monetário conduzido pelo Banco Central (BC) e ao maior grau de endividamento dos consumidores, além do enfraquecimento da economia mundial, sobretudo dos países mais desenvolvidos. No segundo trimestre, os investimentos haviam mostrado alta de 26,5%, tendo em vista que este crescimento se deu sobre uma base muito baixa em relação ao mesmo período do ano anterior e ainda se situam abaixo do nível anterior à crise de 2008/09. A formação bruta de capital se mostrou em torno de 18% do Produto Interno Bruto, enquanto que o nível ideal avaliado pelos economistas seria de 25% do PIB, para a economia poder crescer sem inflação e sem rombo nas contas externas. Este déficit vem ocorrendo como causa da necessidade de importar produtos que as empresas brasileiras ainda não conseguem produzir. Porém as expectativas são de que o nível de investimentos deve aumentar pois o consumo das família no segundo trimestre foi de 6,7% em relação ao mesmo período de 2009. Já no final do terceiro trimestre, motivada pelas eleições, foi observada uma retomada, mostrada por Indicadores de vendas de veículos e produção industrial, movimento nas rodovias que possuem pedágios, além de serviços voltados para as campanhas eleitorais. Com isso o crescimento do PIB é estimado em cerca de 7% em 2010. No entanto, para o ano de 2011, as previsões situam-se entre 4% e 4,5%, quando houver passado o período eleitoral e o governo tenderá a diminuir fortemente o ritmo de aumento dos gastos públicos. Os dados do Banco Central (BC) mostram que houve desaceleração na concessão de crédito a pessoas físicas e a empresas nos últimos meses. No entanto a representatividade do crédito em relação ao PIB, atingiu no início do terceiro trimestre, em julho, o maior patamar da série histórica, iniciada em 2001: 45,9%. O bom resultado pode ser atribuído, sobretudo, ao financiamento para os investimentos, via BNDES, e aos empréstimos para a habitação. Nos últimos doze meses até junho, o número de empresas e consumidores que contraíram empréstimos nos bancos brasileiros cresceu 26% e o volume de crédito subiu 24%. O aumento na liberação de empréstimos para consumidores familiares se deu principalmente entre os de menor risco e puxado pela expansão de 26% do crédito imobiliário e de 14% do empréstimo consignado em folha de pagamento, associados ao maior prazo para pagamento das dívidas e à tendência de queda das taxas de juros. Por outro lado, o crédito às pessoas jurídicas, teve aumento mais forte no número de clientes em faixas que caracterizam operações com empresas com mais risco de crédito (micro, pequenas e médias), o que resultou em alta dos juros nos empréstimos a esses clientes bancários. No entanto, a baixa inflação ajudou à manutenção da taxa oficial de juros (Selic), como resultado de menores preços dos alimentos e produtos importados mais baratos. O forte aumento das importações está ajudando a manter a inflação sob controle, apesar da elevada expansão da demanda doméstica. O BC afirmou que a taxa de juros necessária para manter a inflação próxima ao centro da meta é menor hoje do que no passado. Em setembro houve variação de apenas 0,45% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o que leva a um acumulado no ano de 3,60% e nos últimos 12 meses de 4,7%. As expectativas de mercados mostram um crescimento de 5,07% em 2010 e de 4,92 em 2011. O Comitê de Política Monetária do BC considera que a desaceleração da economia internacional terá influência desinflacionária sobre o Brasil e dessa forma, e, setembro manteve a taxa básica de juros em 10,75% ao ano, com um cenário traçado de juros estáveis neste e no próximo ano. No trimestre, as contas públicas ficaram longe de meta estipulada pelo governo para 2010, como resultado de fatores como o aumento no deficit da Previdência, gastos no ano eleitoral e ainda pelo fato de que a carga de juros acumulada da dívida pública bruta em 12 meses está no maior patamar desde novembro de 2009, em 5,4% do PIB. Dados do BC mostram que a dívida bruta cresceu 50% desde 2006, como resultados dos empréstimos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e pelas compras de dólares feitas pelo Banco. Com a crise econômica mundial, houve um alívio temporário no peso de impostos, taxas e contribuições sobre a economia nacional, devido à contração da produção e às medidas de estímulo fiscal adotadas pelo governo. Mesmo assim, o Brasil possui a maior carga tributária entre os países emergentes, que em 2009 situou-se em 35% do PIB. No que se refere à balança comercial brasileira, no mês de setembro houve um saldo 16,5% menor que o registrado em igual mês de 2009 e recuo considerável de 53,1%. Este saldo de setembro foi reflexo do grande crescimento no volume de importações, devido ao fortalecimento do real frente ao dólar, com um crescimento de 41,3% em relação ao de setembro de 2009, enquanto as exportações se expandiram em um ritmo menor (35,9%). No acumulado de 2010, as importações também crescem a um ritmo mais acelerado que as exportações, com altas de 45,1% e 28,9%, respectivamente, frente a igual período do ano passado. É necessário destacar-se a alta de 71,6% registrada nas importações de bens de capital (máquinas e equipamentos) em agosto, o que demonstra que as empresas brasileiras continuam investindo. A produção industrial do país que havia crescido 0,4% em julho após três meses seguidos de queda, mostrou em agosto houve um baque de 0,10%, levado principalmente pelos bens de consumo intermediários, que caíram 1,5%. Em virtude das paralisações ocorridas no setor petrolífero, bem como da atuação negativa no setor de metalurgia básica. A produção do refino de álcool e petróleo reduziu-se 3,6% no mês, enquanto que a metalúrgica básica registrou queda de 5,8%. Os especialistas salientam que esse setor mostra estoques superiores aos níveis planejados e à própria média histórica. No terceiro trimestre, o período pré eleitoral levou a uma queda nos índices de desemprego, e no período as vagas formais avançam em ritmo mais rápido do que o da entrada de trabalhadores no mercado, o que tem contribuído para derrubar a desocupação, e em agosto o emprego com carteira assinada teve aumento de 7,2% em relação a igual período de 2009, principalmente nos setores de educação, saúde e serviços estão entre os setores mais dinâmicos da economia. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial salienta que os dados mostram que os setores que mais sofreram com a crise (metalurgia básica, produtos de metal e máquinas e equipamentos), seja do ponto de vista da produção, seja do emprego, são aqueles que estão abrindo mais postos de trabalho ao longo de todo este ano. EITT/PUCSP – Grupo de Pesquisas em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia Contatos: [email protected] - São Paulo/Brasil. Assistente de pesquisa: Emmanuel Nakamura