"a atividade atencional no indivíduo portador de depressão".

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A ATIVIDADE ATENCIONAL NO INDIVÍDUO PORTADOR DE
DEPRESSÃO
Viviani da Paz Cavalcanti Pereira¹
José Waldo Saraiva Câmara Filho²
RESUMO
Introdução: Dentre as queixas de dificuldades cognitivas comuns em pessoas com depressão
destaca-se a atenção. Tal problemática interfere nas habilidades resultando em inúmeros
sintomas que repercutem nas atividades diárias dessas pessoas. Objetivo: Descrever
alterações da atividade atencional na depressão e suas correlações com estudos de
neuropsicologia. Método: Foi realizada revisão da literatura por meio da consulta aos bancos
de dados: Medline, Scielo e Lilacs, utilizando as palavras-chave: Depressão, avaliação,
cognição, neuropsicologia, atenção. Além disso, procedeu-se a uma busca manual a partir das
referências bibliográficas listadas pelos artigos selecionados e capítulos de livros na área de
estudo. Resultados: Observou-se que os déficits atencionais de um modo geral estão
presentes na doença, interferem em outros aspectos da cognição e da aptidão motora, e que
seriam tão intensos quanto mais grave a doença se apresentasse. Testes neuropsicológicos
específicos para atenção aplicados evidenciam alterações nesse domínio nos aspectos de
seletividade, atenção concentrada, atenção alternada e atenção dividida. Na área de estudo em
questão, os resultados podem ser contraditórios diante de diferenças na metodologia aplicada,
versões dos testes utilizadas e controle de variáveis. Conclusão: Os estudos revisados
constataram a presença de déficits cognitivos em indivíduos com depressão. Destaca-se a
relevância da neuropsicologia no estudo das desordens psiquiátricas possibilitando discussões
quanto programas de prevenção e intervenção mais diretivas para os déficits observados.
Palavras-chave: Depressão. Avaliação. Cognição. Neuropsicologia. Atenção.
ATTENTIONAL ACTIVITY IN INDIVIDUAL DEPRESSION
ABSTRACT
Introduction: Among the common complaints of cognitive difficulties of people with
depression, attention is highlighted. This problem interferes with the skills and results in
significant limitation in all aspects of their lives: self-care, work, leisure, social relationships.
Objective: to describe changes in attentional activity found in depression and their correlation
with neuropsychological studies. Method: Literature review was conducted consulting the
databases: Medline, Scielo and Lilacs, using the keywords: Depression, evaluation, cognition,
neuropsychology, attention. Furthermore, a manual search was proceeded from the references
listed by selected articles and book chapters in the area. Results: It was observed that the
attentional deficits in general are present in the illness, interferes with other aspects of
cognition and motor skills, and can be as intense as the more severe is the depression. Specific
neuropsychological tests show changes in selectivity, focused attention, alternating attention
and divided attention. Otherwise, the results can be contradictory in the face of differences in
methodology, test versions used and control variables. Conclusion: The studies reviewed
_____________________________
¹ Terapeuta Ocupacional graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Endereço: Rua Deão Faria, 247, 402,
Imbiribeira, Recife- PE.Telefone: 81. 8716 1286. Email: [email protected]
²Psiquiatra, mestre em Neuropsiquiatria, docente do curso de Psicologia da UNICAP. Telefone: 81 9633 2881 E-mail:
[email protected]
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found that cognitive deficits are present in individuals with depression. There was also the
relevance of neuropsychology to the study of psychiatric disorders enabling discussions about
prevention programs and intervention policies for the deficits observed.
Keywords: Depression. Evaluation. Cognition. Neuropsychology. Attention.
Introdução
A depressão tem sido considerada um dos maiores problemas de saúde pública no
mundo, e no Brasil os dados epidemiológicos refletem o mesmo, haja vista o alto índice de
incapacitação para o trabalho provocado pela doença (TENG; YANO; 2009).
Segundo Ustun et al. (2004) na atualidade, o transtorno é a quarta causa de
incapacidade no mundo e, de acordo com estimativas, em 2020 a doença será a segunda maior
causa mundial de inabilidade para o trabalho. Nas Américas, o Transtorno Depressivo Maior
(TDM) já constitui a primeira causa de incapacidade.
A depressão é um transtorno grave que pode levar ao suicídio. Cerca de 20% da
população sofrerá algum episódio depressivo em suas vidas, e 5% será afetada todos os anos
(BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).
Desde a Antiguidade, os gregos já partilhavam a ideia moderna de que as doenças da
mente estariam relacionadas à alguma disfunção corporal. Tal época marca a substituição da
mitologia pela biologia através da adoção de um modelo de observação clínica que descrevia
o temperamento como consequência dos quatro fluidos corporais: fleuma, bile amarela,
sangue e bile negra, ou a teoria dos quatro humores, que norteava a prática médica
(GONÇALVES; MACHADO, 2007).
Melancolia é o termo mais antigo para a patologia dos humores tristes. Foi Hipócrates
(460- 377 a.C.), considerado o pai da medicina, quem atribuiu origem ao termo melancolia, o
qual é definido “como um estado de tristeza e medo de longa duração”, e é por meio da
“teoria dos humores” que ele explica tal patologia. A bílis negra representava o outono e,
como a terra, era fria e seca, e podendo ocasionar a melancolia, uma doença resultante de seu
acúmulo no baço. A concepção dessa teoria vem a transpor os séculos nos escritos de diversos
pensadores, embora com variações (TEIXEIRA, 2005).
O termo “depressão” entrou em uso na psiquiatria europeia por volta do século XVIII,
vindo do francês a partir do latim – de-premere – que significa pressionar para baixo, seu uso foi
introduzido em associação ao termo “melancolia”. A substituição do termo “melancolia” por
“depressão” ocorreu durante o século XIX, por Adolf Meyer, haja vista que o primeiro conceito
3
remetia a um estado do romantismo da literatura, tido como inadequado diante do contexto de
progresso científico que marcou essa fase (DELOUYA, 2002).
Na psiquiatria atual, o termo depressão, nomeia os vários tipos de transtorno do humor
com polarização para a tristeza, originados do conceito de melancolia. Em geral está
relacionado a episódio depressivo conforme definição do Código Internacional de doenças 10ª
versão (CID -10- OMS, 2003), ou à Depressão Maior do Manual Diagnóstico e Estatístico das
doenças Mentais 4ª versão (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM-IVTR) da Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2003). Estes manuais de classificações
psiquiátricas primam pela observação e pela descrição dos fenômenos que são diagnosticados a
partir de determinados sintomas que se manifestam, levando em conta sua duração, frequência e
intensidade (MOREIRA, 2002; TENG; YANO, 2009).
Parece provável que a ocorrência da depressão seja o resultado de uma interação entre
distintos fatores. Seu início e evolução estariam relacionados à associação de variáveis
biológicas, históricas, ambientais e psicológicas (PORTO; HERMOLIM; VENTURA, 2002).
O quadro de episódio depressivo é caracterizado pela presença de ao menos quatro
sintomas depressivos – humor depressivo, anedonia, fatigabilidade, diminuição da atenção, da
concentração e da auto-estima, ideias de culpa e inutilidade, ideias ou atos auto lesivos ou
suicídio, distúrbios do sono e do apetite – por pelo menos duas semanas, e não mais que dois
anos de forma ininterrupta. É obrigatória a presença de pelo menos três sintomas típicos que
são: humor depressivo, anedonia e fatigabilidade (DALGALARRONDO, 2008b; TENG;
YANO, 2009).
De acordo com a CID-10 o episódio depressivo é classificado em leve, moderado ou
grave, de acordo com o número, a intensidade e a importância clínica dos sintomas. O termo
Transtorno Depressivo Recorrente designa a ocorrência de mais de um episódio depressivo ao
decorrer da vida, sem que seja intercalado por episódios maníacos ou hipomaníacos
(DALGALARRONDO, 2008). Outros quadros crônicos, porém persistentes, descritos na
CID-10 são a Ciclotimia, onde ocorrem numerosos períodos depressivos e elações leves por
pelo menos dois anos, e a Distimia caracterizada por sintomas depressivos a maior parte do
tempo, por pelo menos dois anos (TENG; YANO, 2009).
No que diz respeito ao gênero, Kornstein (1997 apud BAPTISTA et al. 2006 ) destaca
que as mulheres, além de apresentarem uma incidência aproximadamente duas vezes maior de
prevalência de sintomas depressivos que os homens, desenvolvem episódios de depressão
mais longos e crônicos, são mais sensíveis aos eventos de vida como desencadeantes de
4
episódios depressivos, e são mais suscetíveis a tais episódios em função das alterações
hormonais constantes.
Quanto à idade de início da doença, a população idosa tende estar mais propensa à
depressão devido à redução de perspectivas sociais; declínio da saúde; perdas freqüentes;
alterações biológicas, vasculares, estruturais e funcionais; além de disfunção neuroendócrina e
neuroquímica que ocorrem no cérebro durante o envelhecimento (FORLENZA, 2000). É
comum que a depressão nos idosos ocorra acompanhada por déficits cognitivos. Ambas
podem coexistir em diversos casos, assim como casos depressivos podem evoluir para
quadros demenciais, todavia, não há evidências relevantes de uma associação causal clara
entre as patologias (ÁVILA; BOTTINO, 2006; NAKATA; TENG, 2009).
Quanto à depressão de início precoce, Barbosa (2004), em revisão bibliográfica,
constatou que a depressão em adolescentes aumenta os afastamentos da escola, atrasos,
problemas de comportamento e conduta, isolamento social, risco de suicídio, abuso de
substâncias, redução do interesse, da motivação e participação em atividades, redução dos
processos cognitivos, da atenção e concentração e do desempenho escolar geral.
Diante dos múltiplos fatores etiológicos nos transtornos depressivos, é imprescindível
identificar possíveis eventos psicossociais desencadeantes e descartar alterações clínicas tais
como uso de medicamentos que possam causar sintomas depressivos, como drogas de ação
central, betabloqueadores, benzodiazepínicos, drogas de abuso e álcool, assim como
abstinência dessas substâncias; distúrbios endocrinológicos; doenças infecciosas; doenças
reumatológicas, distúrbios nutricionais, neoplasias e doenças neurológicas (NAKATA; TENG,
2009).
A sintomatologia da depressão engloba desde alterações no sono, apetite e mudanças
comportamentais. Destacam-se também as alterações cognitivas e motoras, referindo-se à
capacidade de atenção, de raciocínio e ao nível de atividade comprometidos (WARD, 2002).
A cognição pode ser designada como a capacidade da pessoa de adquirir e usar
informações para se adaptar ao ambiente. Ela consiste em inúmeros processos cognitivos que
englobam a percepção, a atenção, a memória, o raciocínio, o pensamento e a linguagem
(TENG; YANO, 2009).
Dentre os processos cognitivos, a atenção apresenta papel primordial em nosso
cotidiano, uma vez que nossas atividades mentais ocorrem em meio a estímulos que se
sucedem ininterruptamente. É a atenção que permite o indivíduo selecionar, filtrar e organizar
tais estímulos em unidades controláveis e significativas (DALGALARRONDO, 2008a;
COUTINHO; MATTOS; ABREU, 2010).
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Pode-se, assim, definir atenção como a capacidade de o indivíduo responder os
estímulos que lhe são significativos em detrimento de outros. Para tanto, o sistema nervoso é
capaz de manter um contato seletivo com as informações que chegam através dos órgãos
sensoriais dirigindo a atenção aos que são relevantes e garantindo uma interação eficaz com o
meio (BRANDÃO, 1995).
De um modo geral a atenção envolve os aspectos de alerta e de atenção propriamente
dita. O alerta refere-se à sensibilização geral dos órgãos sensoriais para a recepção dos
estímulos, podendo ser de mecanismo tônico, que é de controle interno e inclui o ciclo sonovigília, nível de vigilância e capacidade de focalizar, e de mecanismo fásico, que dirige a
atenção para qualquer ponto dos campos interno ou externo. Já a atenção propriamente dita
envolve a focalização do alerta sobre determinados processos mentais e neurobiológicos
(LENT, 2002; COUTINHO; MATTOS; ABREU, 2010).
Devido ao caráter multifatorial da atenção, os autores costumam dividi-la sob
diferentes pontos de vista. Quanto a sua natureza/origem, a atenção pode ser dividida em
voluntária e involuntária. Na voluntária exprime concentração e intenção da atenção em uma
determinada tarefa, estando diretamente ligada as motivações, interesses e expectativas do
indivíduo, enquanto que na atenção involuntária o indivíduo não é agente de escolha de sua
atenção, ocorrendo diante de eventos inesperados no ambiente que despertam a atenção desse
indivíduo como intensidade, tamanho, cor, novidade, movimento, incongruência e a repetição
(DALGALARRONDO, 2008a).
De acordo com a operacionalização, os aspectos básicos em que a atenção é
subdividida são:
1.
Seletividade: permite a seleção de estímulos relevantes para o sujeito e seu
processamento cerebral, fazendo com que estímulos irrelevantes sejam ignorados.
2.
Atenção constante ou sustentada: corresponde à manutenção do foco de atenção
durante período de tempo para desempenho de uma tarefa. Alguns autores consideram-na
sinônimo de atenção concentrada.
3.
Alternada: capacidade de alternar o foco atencional, ou seja, que mude de um tipo de
tarefa para outra sucessivamente.
4.
Dividida: favorece capacidade de foco para o desempenho de duas tarefas
simultaneamente (LIMA, 2005; DALGALARRONDO, 2008a).
Estudos utilizando imagens de encéfalos humanos e registros de neurônios individuais
mostram que a atividade cortical é significativamente alterada pela atenção que exercemos.
6
Os efeitos da atenção podem ser observados em numerosas áreas sensoriais, estendendo-se
desde a área v1 até as áreas corticais visuais, nos lobos parietal e temporal (BEAR;
CONNORS; PARADISO, 2008).
As principais estruturas do sistema nervoso relacionadas à atenção são:
Ao nível subcortical: Sistema Reticular Ativador Ascendente (SRAA) no tronco cerebral, o
tálamo e o corpo estriado.
Ao nível cortical: o córtex parietal posterior direito, o córtex pré-frontal, o giro do cíngulo
anterior (região frontal) e lobo temporal medial.
No que diz respeito à neurofisiologia da atenção, existem três importantes circuitos. O
primeiro é a Rede de Vigilância, responsável pela manutenção do alerta, envolvendo os lobos
frontal e parietal direitos. São as projeções do SRAA que favorecem a ativação cortical, a
manutenção da vigilância e as escolhas das respostas comportamentais necessária a atividade
atencional. O segundo circuito refere-se à Rede de Atenção Visual, assimétrica (com
dominância a direita), que envolve o lobo parietal direito, ativado independente do local do
estímulo no campo visual, os colículos superiores e o núcleo pulvinar do tálamo, este último
funciona como núcleo transmissor (amplificador) das aferências ao córtex. O terceiro circuito é
a Rede Executiva e envolve o giro do cíngulo, que atua diante da mudança do foco de
atenção, bem como está vinculado à motivação (COUTINHO, MATTOS; ABREU, 2010).
Coutinho, Mattos e Abreu (2010) referem que há uma dependência significativa de
outras funções cognitivas em relação à atenção, principalmente a memória, assim
comprometimentos da atenção implicam em inúmeros sintomas e aspectos das atividades
diárias.
Para Ávila e Bottino (2008) a avaliação da atenção é central, haja vista a dependência
de todas as demais funções cognitivas de seu funcionamento adequado, seja na aquisição de
uma nova informação como no planejamento e execução de uma ação futura.
Os testes mais frequentemente utilizados para avaliar a atenção são: Stroop
(seletividade da atenção), TAVIS- 3 (aspectos da seletividade separadamente, da alternância de
conceitos e da sustentação da atenção), CPT-II (sustentação da atenção), Teste de Atenção
Concentrada (AC), Teste de trilhas (atenção dividida) (ÁVILA e BOTTINO, 2008;
COUTINHO; MATTOS; ABREU, 2010).
Diante disso, analisando-se as conseqüências cognitivas, sociais e ocupacionais das
pessoas atingidas por esse tipo de transtorno do humor, este artigo objetiva realizar estudo
sobre a depressão primária, não-bipolar, descrever alterações da atividade atencional dessa
7
doença e suas correlações com estudos de neuropsicologia, visando colaborar para uma
melhor compreensão da doença.
MATERIAL E MÉTODO
Foram consultados artigos científicos resultado de busca nos bancos de dados
MEDLINE, Scielo e Lilacs, utilizando as palavras-chave: depressão, avaliação, cognição,
neuropsicologia, atenção. Foram obtidos 109 estudos, dentre os quais foram excluídos os que
abordaram temas como depressão bipolar, depressão associada à reabilitação, a
psicofármacos, a outras doenças psiquiátricas, neurológicas entre outros. Foram selecionados
apenas estudos brasileiros realizados no período de 2002 a 2011 que fizessem associação
entre a depressão unipolar e alterações cognitivas, nos quais foram utilizados os testes
neuropsicológicos para a atenção em específico. Dessa forma foram utilizados efetivamente
11 artigos para o presente estudo.
Além disso, procedeu-se a uma busca manual a partir das referências bibliográficas
listadas pelos artigos selecionados e capítulos de livros na área de estudo.
DISCUSSÃO
As dificuldades cognitivas são queixas comuns em casos de pessoas com transtornos
psiquiátricos. Tais dificuldades interferem nas habilidades e, consequentemente, resultam em
limitação significativa em todos os aspectos da vida dessas pessoas: auto cuidado, trabalho,
lazer, relações sociais (GOLISZ; TOGLIA, 2002).
Faz-se relevante destacar que são poucas as pesquisas no cenário brasileiro que se
propuseram a investigar a relação entre os construtos estudados neste trabalho, isto é, a
depressão e atenção. Porto, Hermolin e Ventura (2002) referem que investigações clínicas têm
explorado a função neuropsicológica de pacientes deprimidos há pelo menos duas décadas.
No entanto, pouco se sabe sobre a especificidade dos distúrbios cognitivos nesses quadros.
Frequentemente, os comprometimentos da cognição apresentados por depressivos,
submetidos à avaliação neuropsicológica, são: lentidão para responder aos estímulos,
pensamento prejudicado – diminuição da flexibilidade cognitiva, atenção e memória
reduzidas, redução do raciocínio lógico, dificuldade para solucionar problemas e tomar
decisões (TENG; YANO, 2009). Entretanto, Porto, Hermolim e Ventura (2002) ressaltam que
nem todos os pacientes deprimidos apresentam estes déficits, pois a disfunção
8
neuropsicológica associada ao Transtorno Depressivo Maior (TDM) parece depender de
diferenças individuais.
Variáveis clínicas como gravidade da depressão, medicação, idade, história de
hospitalizações, comorbidades, diminuição da fluência verbal e dificuldade para compreender
os relatos ou as histórias, devem ser considerados na avaliação do comprometimento
cognitivo (TENG; YANO, 2009).
Na depressão, as disfunções cognitivas costumam ser detectadas por avaliação
psiquiátrica ou por avaliação neuropsicológica. Esta última pretende ser mais precisa,
oferecendo a oportunidade de se conhecer as possíveis áreas prejudicadas e, assim, proceder
na busca de um tratamento mais eficiente (TENG; YANO, 2002).
A atenção é uma das principais funções da cognição estudadas nos processos
depressivos, talvez pela facilidade com que é avaliada sua alteração que pode ser observada
mesmo ao exame clínico superficial (PORTO; HERMOLIM; VENTURA, 2002).
De acordo com Coutinho, Mattos e Abreu (2010) avaliação da atenção é obrigatória
em qualquer exame neuropsicológico, devendo preceder a das demais funções.
Dificuldades de concentração e atenção constante são comuns em indivíduos com
transtorno de humor; nos quadros depressivos observamos diminuição geral da atenção
(hipoprosexia), e em casos mais graves, ocorre a fixação da atenção em temas depressivos,
com conteúdos de fracasso, doença, culpa, ruína, que, por sua vez acabam por limitar a
capacidade de mudança de foco de atenção (hipovigilância) (DALGALARRONDO, 2008b).
Segundo Eysenck e Keane (1994), os indivíduos depressivos concentram seus recursos
de processamento voltados para preocupações consigo mesmo, e consequentemente,
apresentam déficit na seletividade atencional, com foco atencional disperso e reduzido, sendo
pouco atentos para mudanças ocorridas no ambiente. Assim, o desempenho em tarefas de
atenção constante estará tanto prejudicado quanto mais grave a depressão for apresentada
(DALGALARRONDO, 2008b).
Estudos descrevem, em pacientes deprimidos unipolares, comprometimento da
capacidade de sustentar a atividade cognitiva e motora, e de alternar o foco de atenção
(ROZENTHAL; LAKS; ENGELHARDT, 2004). Parece haver uma consonância nos estudos
quanto à hipótese de que quanto mais grave a depressão, maior o comprometimento cognitivo
e funcional dos pacientes (ÁVILA; BOTTINO, 2006).
Quanto à depressão de início tardio, a população de idosos com depressão pode
apresentar desempenho rebaixado em testes de memória, contudo estudos neuropsicológicos
vem comprovando que o maior comprometimento é observado em componentes das funções
9
executivas, seguidos por dificuldades atencionais e lentificação na velocidade de
processamento (ÁVILA; BOTTINO, 2006; ROZENTHAL; LAKS; ENGELHARDT, 2004).
Rinaldi et al. (2011) desenvolveu estudo onde
apresentou o desempenho
neuropsicológico de mulheres idosas com sintomas de depressão, além da freqüência de
déficits neuropsicológicos. Constatou-se através dos resultados que as participantes
apresentaram dificuldades na atenção e na memória de trabalho, sendo menos salientes os
problemas de memória em comparação com as queixas mnemônicas mais frequentes.
Estudo realizado por Rapp et al. (2005 apud ÁVILA; BOTTINO, 2006) no qual foram
avaliados 40 pacientes com depressão maior (19 depressão de início tardio e 21 recorrente) e
76 pacientes sem depressão (39 sem e 37 com história de depressão maior). Os idosos com
depressão tardia apresentaram déficits de atenção e função executiva quando comparados aos
que tiveram início mais precoce. Por outro lado, os pacientes com depressão recorrente
apresentaram déficits de memória episódica.
Estudos a fim de avaliar a atenção seletiva e sustentada foram desenvolvidos em
pacientes deprimidos (com e sem sintomatologia psicótica) comparando-os a um grupo de
pacientes com esquizofrenia e a controles saudáveis. Os pesquisadores evidenciaram que os
três grupos clínicos apresentavam dificuldade na tarefa que requeriam funções atencionais,
sendo mais acentuadas no grupo com sintomatologia psicótica. Os pacientes sem sintomas
psicóticos tiveram dificuldade para manter a seletividade da atenção, mas conseguiram
sustentá-la durante a execução das atividades. Os resultados da pesquisa reforçam que, de um
modo geral, dificuldades atencionais estão presentes na depressão (POLITIS et al. 2004 apud
ROCCA; MONTEIRO; FUENTES, 2009).
Em testes de atenção dividida, verificou-se que os indivíduos depressivos tendem a
apresentar aumento significativo do tempo de reação, sugerindo falha na distribuição dos
recursos mentais e na regulação da atenção (THOMAS; ROUSSEAUX, 1998, apud
BAPTISTA et al, 2006).
Recentemente, Machado et al. (2009) realizaram pesquisa com intuito de avaliar a
aptidão motora e a atenção em pacientes com TDM. Participaram do estudo pacientes do sexo
feminino, com diagnóstico clínico de transtorno depressivo, que se encontravam em
tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), entre o 4º e o 10º dia de internação na ala
feminina de um hospital psiquiátrico da cidade de São José, Santa Catarina. As pacientes
responderam a uma entrevista sociodemográfica e clínica e foram avaliadas através do Teste
de Trilhas e Escala Motora para Terceira Idade (EMTI). Verificou-se a existência de
disfunções e influência da idade no nível da atenção, e ainda a existência de relação entre os
10
déficits atencional e motor, ou seja, quanto mais baixo o nível de atenção, pior e a aptidão
motora (MACHADO et al. 2009).
A fim de verificar as relações entre as variáveis entre a atenção e o desempenho
escolar, Baptista et al. 2006 realizaram estudo do qual participaram 62 estudantes do Ensino
Médio de uma escola do interior paulista. A idade média geral foi de 17,1, sendo 26
participantes do sexo masculino (42 %) e 36 do sexo feminino (58%), foram obtidas as notas
escolares e aplicados o Teste de Atenção Concentrada e o Inventário de Depressão de Beck.
No estudo, 33,8% dos participantes apresentaram sintomatologia depressiva, distribuídos
entre os níveis leve a grave. A comparação entre grupos com e sem sintomas de depressão
revelaram que o primeiro apresentou desempenho escolar pior e déficit da atenção. Desse
modo, a severidade de sintomatologia depressiva mostrou-se negativamente correlacionada
tanto com o desempenho escolar quanto com a qualidade da atenção.
Quando comparados com indivíduos normais, pacientes unipolares apresentariam
alterações na capacidade de atenção. Tais alterações estariam presentes também nas fases
assintomáticas, sendo que pacientes do sexo masculino com quadros crônicos teriam maior
chance de permanecer com este perfil de déficits (ROZENTHAL; LAKS; ENGELHARDT,
2004).
Existe um consenso de que alguns déficits cognitivos da depressão persistiriam após a
remissão clínica. Para tanto, estudos neuropsicológicos e neurobiológicos da depressão vêm
se centrando em algumas regiões anatômicas onde há maior consistência de achados e
correlação com as manifestações psicopatológicas do transtorno (ROZENTHAL; LAKS;
ENGELHARDT, 2004).
A avaliação da atenção é uma atividade complexa e que requer cautela, para tanto
Coutinho, Mattos e Abreu (2010) apontam fatores que podem interferir no exame como, por
exemplo, cansaço, sonolência, uso de substâncias psicoativas e álcool. Deve-se considerar
também que os níveis atencionais variam no decorrer dos dias, e no decorrer de um mesmo
dia, além do mais, a atenção requer interesse e necessidade em relação à tarefa a ser realizada
para que possa manter o foco do indivíduo (COUTINHO; MATTOS; ABREU, 2010).
Entre outros fatores que podem influenciar negativamente no processo atencional,
destacam-se a desmotivação, o sentimento de vulnerabilidade ao fracasso e o estado
emocional. Especificamente em relação à depressão, essa interferência pode ser interpretada
como uma dificuldade dos indivíduos com sintomas depressivos em selecionar estímulos e
manter o foco atencional na tarefa desempenhada, dadas as evidências de baixo escore de
qualidade da atenção (GOMES; BAPTISTA, 2010).
11
Gomes e Baptista (2010) realizaram estudo com o objetivo de verificar a relação entre
a Escala de Depressão (EDEP) e os Testes de Atenção Dividida e Sustentada, buscando
evidência de validade baseada na relação com outras variáveis, para o primeiro instrumento.
Participaram 213 estudantes de uma universidade federal de Minas Gerais, entre 18 e 52 anos,
predominantemente mulheres. Não foram encontradas correlações significativas entre os
instrumentos. Os resultados de tais correlações demonstraram que as associações entre as
variáveis pesquisadas não corroboraram os resultados da bibliografia consultada, não tendo
sido encontrados valores significativos talvez por terem sido gerados escores muito altos nos
testes de atenção pelos participantes, isto é, por se tratar de uma amostra considerada
diferenciada, composta por universitários com índice elevado de atenção. Além disso, poucos
relataram diagnóstico de depressão.
Baptista et al. (2006) citam alguns estudos com resultados contraditórios a respeito da
presença do déficit atencional em indivíduos depressivos, como exemplo, dentre 16 estudos
revisados por Ottowitz, Dougherty e Savage (2002) que avaliavam a atenção. Destes, menos
da metade (44%) indicaram a presença de um déficit nos indivíduos depressivos. Baptista et al
(2006) ainda citam uma pesquisa realizada por Lautenbacher, Spernal e Christiankrieg (2002),
onde o prejuízo em indivíduos depressivos quando comparados a indivíduos com transtorno
de pânico era apenas em paradigmas de atenção dividida, mas não na atenção seletiva.
Contudo, diante da complexidade da avaliação da atenção, contradições nos resultados
de exames realizados não devem ser descartadas, para Baptista et al. (2006) tais contradições
podem estar atreladas a questões como as diferenças na administração dos testes, descrições,
versões dos testes utilizadas e controle de variáveis. Além disso, diversas variáveis interferem
no estudo das relações entre depressão e funções neuropsicológicas, pois ambos são
fenômenos heterogêneos, e para identificar se os componentes da atenção podem ou não estar
afetados, seriam necessários testes designados para a avaliação do componente específico que
está prejudicado (BAPTISTA et al. 2006).
Coutinho, Mattos e Abreu (2010) ressaltam ainda que a utilização de testes curtos de
atenção (como por exemplo, o teste de Atenção Concentrada e as distintas versões do Teste
Stroop) pode dificultar a identificação de alguns déficits atencionais, uma vez que estes
seriam mais evidentes em testes mais prolongados.
12
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Data da antiguidade relatos acerca da patologia do humor triste. Dados
epidemiológicos atuais apontam alta incidência da depressão na população, bem como alto
índice de inabilidade para o trabalho provocado pela doença.
Nesta
revisão
evidenciou-se
a
relação
entre
sintomatologia
depressiva
e
comprometimento da atenção, visto que diversos estudos realizados têm revelado desempenho
rebaixado de indivíduos com depressão em testes neuropsicológicos. Nos testes específicos
para a atenção foram constatados comprometimentos nos aspectos de seletividade, atenção
concentrada, atenção alternada e atenção dividida.
Ressalta-se que comprometimentos da atenção acarretam em inúmeros sintomas e
aspectos das atividades diárias devido à dependência significativa de outras funções
cognitivas em relação a esse domínio.
Pesquisas nessa área de estudo ainda são recentes e tornam-se complexas devido às
inúmeras variáveis que interferem nas relações entre depressão e funções neuropsicológicas,
pois ambos são fenômenos heterogêneos.
Nesse contexto, a neuropsicologia tem sido considerada como um importante
instrumento de estudo nas desordens psiquiátricas. A partir da avaliação neuropsicológica,
podem ser detectados perfis neuropsicológicos distintos, possibilitando discussões quanto à
forma de tratamento e quanto à necessidade de programas de prevenção e intervenção mais
diretivas para os déficits observados.
REFERÊNCIAS
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FUENTES, D., MALLOY-DINIZ, L. F., CAMARGO, C.H.P., COSENZA, R., organizadores.
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ÁVILA, R., BOTTINO, C. M. Atualização sobre alterações cognitivas em idosos com
síndrome depressiva. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v.28, n. 4, p. 316- 320,
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AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a Deus, aos meus pais e aos meus irmãos que são a
minha base, meu forte apoio. As minhas amigas Emanuella, Karlena e Roberta pela
companhia, apoio e por terem tornado mais agradáveis os momentos difíceis pelos quais
passei no decorrer do curso. Aos professores e orientador deste trabalho pelos ensinamentos.
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