DIVERSIDADE E CURRÍCULO Lenise Caçula Pistóia A DIVERSIDADE EM QUESTÃO • Para a definição de diversidade, envolvemos a natureza das diferenças : intelectuais, de gênero, de idade, de raça, de classe social, motoras, sensoriais, de personalidade, culturais (nacionais ou regionais). • A diversidade significa mais possibilidades de adaptações e, portanto, mais possibilidades de sobrevivência como espécie. • Segundo a OMS, mais de 500 milhões de pessoas (1 a cada dez) no Planeta possuem algum tipo de handicap(deficiência). • A luta pelos direitos humanos implementa uma nova discussão sobre o sentido da justiça, dos direitos das pessoas e os valores sociais em relação aos deficientes o que leva a educação especial a repensar a sua prática, repercutindo no sistema educacional em geral. • Educar na Diversidade pressupõe a adoção de um modelo de currículo que facilite a aprendizagem de todos os alunos e alunas em sua diversidade. • A direção assumida pressupõe uma escola de qualidade para todos os alunos. As mudanças educacionais exigem que se repense a prática pedagógica tendo como eixos a ética, a justiça e os direitos humanos. • Precisamos superar os males da contemporaneidade pela ultrapassagem de barreiras físicas, psicológicas, espaciais, temporais, culturais e , acima de tudo, garantir o acesso irrestrito de todos aos bens e às riquezas de toda sorte, entre eles, o conhecimento. • Que práticas de ensino ajudam os professores a ensinar os alunos de uma mesma turma, atingindo a todos, apesar de suas diferenças? • O que se busca é a conjunção do direito de todos ao saber e à necessidade de se formar uma geração que dê conta das demandas de uma sociedade do conhecimento, cujo perfil é delineado pelas diferenças. • Definimos um ensino de qualidade a partir de condições de trabalho pedagógico que implicam a formação de redes de saberes e de relações que se enredam por caminhos imprevisíveis para chegar ao conhecimento. • A aprendizagem é centrada ora destacando o lógico, o intuitivo, o sensorial, ora os aspectos social e afetivo dos alunos. Em suas práticas predominam a experimentação, a criação, a descoberta, a co-autoria do conhecimento. • Para ensinar a turma toda, parte-se da certeza de que as crianças sempre sabem alguma coisa, de que todo educando pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe são próprios. • O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, atualizar possibilidades e desenvolver predisposições naturais de cada aluno. • Independentemente das diferenças de cada um dos alunos, é preciso passar de um ensino transmissivo para uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, conexional, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional. • Para ensinar a turma toda, deve-se propor atividades abertas, diversificadas, isto é, atividades que possam ser abordadas por diferentes níveis de compreensão e de desempenho dos alunos. Debates, pesquisas, registros escritos, falados, observação e vivências em grupo são alguns processos pedagógicos possíveis nessa perspectiva. • A possibilidade de ensinar a todos os alunos, sem discriminações e sem métodos ou práticas de ensino especializados, deriva de uma reestruturação do projeto pedagógico como um todo e das reformulações que esse projeto exige da escola. A ESCOLA PARA A DIVERSIDADE • A Escola para a Diversidade exige outro modo de viver a escola em que professores e alunos empreendem a tarefa de aprender coletivamente. A construção de ambientes escolares com estruturas organizativas e metodológicas democráticas capazes de respeitar as diferenças de gênero, étnicas, lingüísticas, religiosas, de deficiência,etc. permite aos sujeitos do processo escolar uma nova axiologia aos introduzirmos nos espaços escolares novos objetos de estudo: • o pluralismo cultural, a liberdade, a justiça social, o respeito mútuo, a tolerância e a solidariedade. • A cultura da diversidade é a cultura da cooperação. • Todo esse processo permite às gerações mais jovens adquirir uma cultura diferenciada ao viver as diferenças entre as pessoas como algo valioso, solidário e democrático. • A escola torna-se uma comunidade de aprendizagem em que o processo de ensino e aprendizagem é permeado pelo diálogo e pela qualidade nas relações entre professores e alunos. • (Uma escuela para la integración educativa – Ramón Porras Vallejo) Concepção de Currículo • Entende-se por currículo o relato do conjunto de experiências vividas pelos professores e alunos sob a tutela da escola. Um relato que inclui muito mais que uma lista de conteúdos disciplinares, organizados em programas didáticos, ou repertório de atividades. Um relato que abrange todos os acontecimentos significativos no processo de vivências compartilhadas de experiências culturais, ou seja, um projeto educativo em construção permanente. O currículo se transforma, assim, numa hipótese viva de trabalho, em um espaço social de experimentação dos problemas e valores educacionais que o projeto se propõe a desenvolver. O Projeto Curricular da Escola • O Projeto Curricular da Escola enfocará a diversidade da seguinte forma: • Como um elemento comum e não como diferença de uma parte dos alunos em relação à outra. Suas diretrizes afetarão todos e cada um dos alunos, e não somente aqueles com dificuldades de ritmo, de capacidade, de motivação e de estilos de aprendizagem. • Como denominador comum de toda ação educativa da escola, consciente de que afeta a todos e a cada um dos âmbitos do Projeto Curricular da Escola e que do enfoque apropriado da educação na diversidade, a qualidade do ensino sairá fortalecida. Um currículo para a diversidade • Precisa contemplar as necessidades educativas dos alunos. • Dar atenção à diversidade na aula. • Estimular a heterogeneidade. • Favorecer a individualização e a socialização do ensino • Potencializar processos de colaboração reflexiva entre os profissionais. • Desenvolver intervenções pedagógicas para os alunos com necessidades educativas especiais em uma dimensão mas cognitiva. • Adequar e adaptar o currículo às necessidades educativas dos alunos. • Desenvolver o currículo é “concretizá-lo, isto é, avançar na construção de cada um dos pontos nele contidos (especificar mais os objetivos, completar os conteúdos, incorporar atividades, introduzir ou ampliar atividades de avaliação,etc.) • Desenvolver o currículo quer dizer que se progride desde o esquema básico inicial até alcançar uma estrutura mais ampla e completa, disposta a ser levada à prática. O desenvolvimento curricular no âmbito da resposta à diversidade • O ensino não pode ser reduzido ao planejamento e aplicação de técnicas supostamente eficazes e generalizáveis. Devemos concebê-lo como uma intervenção crítico-reflexiva, que requer um alto nível de compreensão da realidade de cada contexto escolar. Essa compreensão permitirá buscar respostas diferenciadas para a intervenção, e estabelecerá as linhas básicas de uma concepção de ensino como atividade questionadora. • O ponto de partida do desenvolvimento curricular é uma concepção do ensino como atividade complexa praticada em contextos específicos e com um componente decisivo de opções éticas e políticas. Nesse sentido a prática educativa não é neutra. As decisões sobre os conteúdos, os objetivos, a avaliação, etc. são decisões ético-políticas, e não exclusivamente técnicas. A partir dessas posições, podemos deduzir duas necessidades fundamentais no âmbito do currículo: • A necessidade de realizar um projeto curricular aberto e flexível, que permita mudanças e transformações em função de determinados contextos escolares. Dessa maneira, estabelecese uma margem de autonomia para os professores e possibilita-se a concretização de um projeto curricular com identidade própria. • A necessidade de considerar que, tanto no projeto como no desenvolvimento curricular, diversos fatores relacionados a aspectos econômicos, políticos, culturais e de sistemas de valores predominantes intervêm. • Concebe-se o professor como um profissional que reflete, diagnostica, pesquisa e atua com autonomia. • (Atenção à Diversidade – Rosa Alcudia et al. ARTMED) Aprender...sim, mas como? Philippe Meirieu • Centrar a escola no aprender não é esvaziar todas as outras funções que ela pode assumir, tampouco negar a importância das atividades para escolares, dos clubes e dos lares ou pedir que se suspenda toda afetividade na sala de aula, mas é definir o professor como um profissional da aprendizagem e ajudá-lo a construir, neste domínio uma verdadeira identidade. • “Terrível lucidez que nos convida a assumirmos, enfim, a difícil questão da aprendizagem, a deixarmos de lado as soluções miraculosas que viriam de fora para ocuparmo-nos seriamente com o que se passa dentro da sala de aula, no ato de aprender, quando o professor instrui e o aluno se instrui.” • Não se muda a escola por decreto, pela imposição de fórmulas ou instrumentos ou, por outro lado, confiando a inovação a alguns indivíduos cuja influência pessoal desprezam os valores de respeito por outrem, de tolerância e abertura. • Em compensação, mudar-se-á talvez a escola se os problemas forem colocados em termos de competência profissional dos professores, de qualidade do serviço prestado, de eficácia da gestão das aprendizagens. • O professor que deseja ensinar: “é importante que ele seja movido por esse sentimento de despojamento, que faz com que recuse incansavelmente a posição de genitor; convém que, em muitos sentidos, ele se diga apenas “iluminador” e suponha que, se as coisas nascem através dele, não nascem dele. Convém que, tentando ensinar faça descobrir e que assim perca a força de transmissão.” Quando se tenta mostrar que os conhecimentos não são coisas e que a memória não é um sistema de arquivos • Pode-se dizer que uma aprendizagem se realiza quando um indivíduo toma informação em seu meio em função de um projeto pessoal. • Identificação + utilização = significação • A interação entre informações e projeto é uma nova maneira de descrever o que se passa na história de um sujeito entre ele e o mundo, é a própria dinâmica de toda aprendizagem. • A aprendizagem põe frente a frente , em uma interação que nunca é uma simples circulação de informações, um sujeito e o mundo, um aprendiz que já sabe sempre alguma coisa e um saber que só existe porque é reconstruído. • Cabe à Escola introduzir um pouco de rigor naquilo que se passa entre os três parceiros da aprendizagem (educador-educandoobjeto a ser aprendido e a ser ensinado) para que o aprender advenha com um pouco mais de justiça e de eficácia compartilhada. • Enfatizar a função do desejo na aprendizagem não pode significar a subordinação de toda aprendizagem aos desejos já existentes, a não ser sob pena de uma terrível simplificação e por confundirmos o processo e o projeto, o método e o objetivo. • O desejo existente no aluno, na sobreposição com a aprendizagem, pode levar a constituição de um projeto cultural, assim como na dificuldade de integrar os conteúdos para articulá-los a um desejo ou a um interesse imediato do aluno. • O papel do professor é fazer com que nasça o desejo de aprender e, assim, criar o enigma. Cabe a ele fazer do saber um enigma: comentá-lo ou mostrá-lo suficientemente para que se entreveja seu interesse e sua riqueza, mas calar-se a tempo para suscitar a vontade de desvendá-lo. Quando se propõe uma tipologia simples das • • • • operações mentais solicitadas nas aprendizagens, bem como dispositivos correspondentes. 1º tipo de operações mentais: DEDUÇÃO. É o ato intelectual em que o sujeito é levado a inferir uma conseqüência de um fato, princípio ou lei. Único – múltiplo “se...então” 2º tipo de operações mentais: INDUÇÃO. Consiste em fazer hipóteses alcançando uma formalização aceitável por uma alternância de reduções e extensões. A indução permite chegar à abstração. Múltiplo – único. • 3º tipo de operações mentais: DIALÉTICA. É um trabalho sobre as idéias que permite chegar a um sistema e construir modelos. Uso do jogo. • 4º tipo de operações mentais: CRIATIVIDADE • É a mais íntima expressão da pessoa, a qual coloca em jogo sua afetividade e seu imaginário. Está condicionada à divergência porque o sujeito precisa relacionar elementos que, até então, lhe fugiam e de relacioná-los com aquilo que já conhecia. • 5º tipo de operações mentais: DIVERGÊNCIA Quando se recentra a reflexão sobre um princípio essencial. • CONTEÚDO é um conjunto de materiais elaborados mentalmente, evocados e estruturados pelo sujeito. Nenhum conteúdo existe fora do ato que permite pensá-lo , da mesma forma que nenhuma operação mental pode funcionar no vazio. • Das relações entre teoria e prática. • Uma aprendizagem é sempre uma operação mental e conteúdos e exige, ao mesmo tempo, instruções e materiais, cuja interação cria o que já denominamos uma situação-problema. • Para que a situação seja mobilizadora, o aluno deve perceber o seu sentido, enfrentando-a em sua complexidade para que esta não se dilua em exercícios justapostos. As “pedagogias da resposta” e as “pedagogias do problema” • A “pedagogia da resposta” é uma pedagogia do aleatório, pois assegura uma função de seleção social, mas não garante a todos a apropriação do que pretende explicar. • As “pedagogias do problema”(métodos ativos, pedagogia do concreto, do projeto) têm o propósito de colocar o aluno diante de uma tarefa capaz de mobilizá-lo com o objetivo de chegara aprendizagens precisas. Pedagogia das Situações-problema • Busca uma interação entre a “pedagogia da resposta” e a “pedagogia do problema” para que a aprendizagem se realize. • Situação–problema • O aluno é orientado pela tarefa e o educador pelo obstáculo. • A transposição do obstáculo deve representar um patamar no desenvolvimento cognitivo do sujeito. • Para efetuar uma mesma operação mental, cada um deve poder utilizar uma estratégia diferente. • A concepção e a aplicação da situação-problema devem ser regulados por um conjunto de dispositivos de avaliação.