CASO CLÍNICO – PRÁTICA EM SAÚDE DO ADULTO E DO IDOSO I INFECÇÃO URINÁRIA IDENTIFICAÇÃO: feminina, 22 anos, solteira, branca, natural de S. Maria e procedente de P. Alegre, estudante universitária. QUEIXA PRINCIPAL: Ardência miccional. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL A paciente veio ao ProntoSus há 3 dias com queixa de ardência para urinar que iniciou há 2 dias. Foram coletados exames “de sangue e de urina”, solicitado ecografia e receitado solução de hioscina e dipirona 30 gotas VO 4 x / dia, se necessário. Melhorou, mas voltou ao ambulatório acompanhada, hoje, referindo febre, sensação de peso na região supra- púbica e vontade de urinar seguidamente desde ontem. Tem também dor dolente lombar direita, sem irradiação, que não modifica com posição adotada pelo corpo. A urina é turva e mal-cheirosa há dias. Nega secreção vaginal. Já apresentou episódios semelhantes no passado, tendo sido mais seguidos ultimamente. Nega calafrios. Refere cansaço e fadiga. A acompanhante solicita ao médico informações sobre a natureza da doença, seu prognóstico e riscos. REVISÃO DOS SISTEMAS Geral: “mal- estar” indefinido. Gastro-intestinal: inapetência desde ontem. Refere constipação intestinal crônica. Gênito-urinário: menarca aos 12 anos, menstruações regulares 30/3. Usou anticoncepcional oral até há 2 anos e suspendeu. Desde então usa gel espermicida e diafragma. Normalmente urina 4 a 5 x/ dia e não acorda à noite para urinar. Não tem o hábito de urinar após relações sexuais. Músculo-esquelético: caminhava durante 1 hora diariamente até anteontem. HISTÓRIA MÉDICA PREGRESSA Fez todas as vacinas. Nega doenças comuns da infância. Nega cirurgias. Nega infecções urinárias na infância. Nega ingestão habitual de bebidas alcoólicas: uma cerveja eventual no fim- desemana. Nunca fumou. HISTÓRIA FAMILIAR Pai vivo com 53 anos, com saúde Mãe viva com 47 anos, com saúde Tem 1 irmão com 20 anos, com saúde, que apresentou enurese noturna até 8 anos de idade. Nega HAS, DM, Ca, doenças renais, incluindo urolitíase na família . HISTÓRIA PSICO-SOCIAL Mora com os pais em casa própria. Estuda sociologia. Iniciou vida sexual aos 16 anos. Tem namorado. EXAME FÍSICO: Bom estado geral e de nutrição. Lúcida, coerente e orientada. Corada e hidratada. PA deitada 110/60mmHg FV 100 bpm Tax 37.2oC FR 24 mrpm Altura: 170 cm Peso: 60 kg IMC 20.7 Pele, mucosas, anexos e gânglios: sp Cabeça e pescoço: sp Ap. CV: íctus invisível e impalpável. FV 100, BNF RR 2T s/sopros Pulsos periféricos amplos e simétricos Ap. Resp. MsVs normalmente distribuídos Abdômen- inspeção: ndn. Palpação: discreta dor e desconforto à palpação do hipocôndrio e flanco D, bem como do hipogástrio; sem massas palpáveis, sem sinais de irritação peritoneal. Fígado no rebordo costal direito. Baço impalpável. Ruídos hidro- aéreos presentes, normais. Giordano à D +. Sem edema de MsIs. EXAMES COMPLEMENTARES: hemograma: Htc 39%, Hgb 13.5g, Leucócitos 9000 c/ 30% de bastões. Creatinina sérica 0,9 mg/ dL. EQU: prot. 1+, Nitritos +, Estearases leucocitárias +, sedimento urinário: 40 leucócitos/c, 4 hemácias/c, bacteriúria abundante. Urocultura quantitativa com antibiograma: E. coli > 105 UFC/ mL de urina. Ecografia: Rim D mede 12,0 cm e Rim E também. Não há dilatação de cavidades coletoras. Os rins não apresentam alterações parenquimatosas significativas. Bexiga sp. CONTEÚDO PROPOSTO: Pequenos grupos em cada sala discutirão as questões enumeradas a seguir, tentando elaborar uma justificativa para suas respostas. 1. Neste caso apresentado, temos infecção urinária e comprometimento renal? 2. Temos aí uma infecção urinária complicada? O que diferencia infecção urinária complicada de não complicada? 3. A paciente pertence a grupo de risco para infecção urinária? 4. Cistites são causadas apenas por bactérias? 5. Quais os patógenos mais frequentes causadores de infecção urinária? 6. Qual os diagnósticos diferenciais possíveis para Pielonefrite Aguda? 7. Qual a atitude do médico quanto à solicitação da acompanhante? 8. A contagem de germes na urocultura desta paciente poderia caracterizar bacteriúria significativa? 9. Qual a importância de investigar enurese na infância da paciente e familiares? 10. Há relação entre ITU e sexo ou atividade sexual? 11. Deve-se tratar bacteriúria assintomática? 12. Se repetir estes quadros de infecção urinária a paciente poderá chegar à insuficiência renal terminal e diálise? REFERÊNCIAS STAMM, WE. Infecções do trato urinário e pielonefrite, in Harrison Medicina Interna, pág. 17971804, 2006. (Código Biblioteca Famed = 616.026 H322hi v.2) NORRBY, N. Infecções do trato urinário, in Cecil Tratado de Medicina Interna, 22 st Ed, pág. 22282234. (Código Biblioteca Famed = 616.026 C388Cpa v.2) OUTRAS: Nicolle L et al. Uncomplicated urinary tract infection in women. Can Fam Physician 2006;52:612618. Mehnert-Kay SA. Diagnosis and management of uncomplicated urinary tract infections. Am Fam Physician 2005, 72:451-456, 458. Fihn SD. Acute uncomplicated urinary tract infection in women. New Enlg J Med 2003 349:259266.