Prova de Conhecimentos Específicos - Mestrado

Propaganda
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E LÍNGUA
PORTUGUESA
PROCESSO SELETIVO DE INGRESSO AO MESTRADO – 2014-2015
PROVA ESCRITA DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
QUESTÃO 1
i.
['kalu] “calo”
['pulu] “pulo”
[‘vila]
“fila”
['kaɾu] “caro”
['puɾu] “puro”
['viɾa]
“vira”
ii.
iii.
clāvus (latim)  cravo (port.)
blanck (germânico)  branco (port.)
Dados históricos retirados de: CUNHA, A. G. da. Dicionário Etimológico Nova Fronteira da
Língua Portuguesa. 2ª edição revista.; 7ª impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.
Observe as consoantes [l] e [ɾ] nos exemplos acima, retirados da variedade caipira paulista, e
responda:
a) Qual a relação estabelecida entre as consoantes [l] e [ɾ] em (i)? Com base nesses
exemplos, elas podem ser consideradas fonemas distintos da língua portuguesa?
b) Com base no diálogo de (ii), explique quais tipos de fatores podem condicionar o
aparecimento de variantes livres fonológicas.
c) No processo fonológico de rotacismo, ocorre a substituição de uma consoante lateral por
um tepe. Com base nos exemplos em (iii), classifique as consoantes [l] e [ɾ], quanto às
suas propriedades fonéticas, e explique qual traço tem seu valor alterado, no processo de
rotacismo.
QUESTÃO 2
Dadas as palavras preparação e sensibilidade, faça a descrição morfológica da formação
dessas palavras, em constituintes imediatos, até chegar à sua forma primitiva, ou seja, até
não haver mais possibilidade de segmentação morfemática. Se houver casos de alomorfia,
aponte quais são os alomorfes e qual é a forma básica do morfema correspondente a cada
alomorfe.
QUESTÃO 3
Em sua coluna na Folha de São Paulo, Pasquale Cipro Neto escreve, em 01/05/2014:
“Há aspectos sobre os quais não pairam dúvidas. Um deles, por exemplo, diz respeito à
concordância (verbal e nominal): o que é predominante na linguagem oral
(independentemente da classe social do falante) não costuma ocorrer no padrão escrito culto.
Tradução: na oralidade, é comum o verbo não concordar com o sujeito, qualquer que seja a
ordem (“Os manual chegou”; Chegou os manual”); na linguagem culta, a concordância é
regular (“Os manuais chegaram”; “Chegaram os manuais”)”. (disponível no link
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/2014/05/1448099-ate-para-sermalandro.shtml)
Sírio Possenti, em sua coluna no site Terra Magazine, escreve, em 15/04/2012:
“L. F. Pondé, colunista da Ilustrada, escreveu em 27/02/2012: "Só levo a sério um
argumento como este (quem me lê deve ser objeto de minha atenção) se nele estiver em jogo
as leis do mercado, e olhe lá". Pelos manuais, ele deveria ter escrito "estiverem" (as leis do
mercado estiverem). A inversão da ordem sujeito / verbo condiciona concordâncias assim
desde sempre. E não é o caso de dizer que se trata da escrita de um jovem moderno, porque é
fácil ver, por seus textos, que ele é um sujeito do século XVIII.” (disponível em
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5665083-EI8425,00-Outras+notas.html,
acesso em 14/06/2012)
Considerando o fenômeno da concordância no português, discuta, a partir do posicionamento
dos dois autores citados, a correlação entre fala, escrita e mudança linguística.
QUESTÃO 4
Tomando como objeto de análise estes excertos da crônica “Caro Fernando Haddad” (FSP,
10/08/2014), de Antonio Prata, discorra sobre alguns procedimentos enunciativos (projeções
de pessoa, espaço e tempo, relações entre identidade e alteridade, aspas, ironia, entre outros)
que constroem o texto, de acordo com uma teoria do discurso de sua escolha.
“Quem te escreve aqui é Espírito Paulistano. O senhor não me conhece, como deixa
claro a sua rejeição por 47% dos motoristas, quero dizer, dos cidadãos de nossa pujante
metrópole. Não votei no senhor, mas tampouco me apavorei com a sua vitória. Apesar de vir
do PT, o senhor aparenta ser de boa família, tem essa pinta de pai em propaganda do Itaú
Personnalité, chama-se Fernando e traz o sobrenome Haddad, que me remete ao Maluf, ao
Kassab, ao Habib's: três marcas das quais São Paulo pode se orgulhar. Desde que assumiu
a prefeitura e começou com as faixas de ônibus, contudo, percebi que por trás da pinta
Personnalité se escondia um administrador démodé.
(...)
O senhor me acha reacionário. Diz que São Paulo quer uma revolução "desde que
não se mexa em nada". Mentira! Quero uma revolução mexendo no cerne dos nossos
problemas, como fez o Kassab ao criar cupons padronizados para todos os valets da cidade.
Há questão mais séria, numa metrópole, do que os valets?
Senhor prefeito, caso haja algo de Personnalité por trás de todo esse ranço da
FFLCH, escute-me: se vossa excelência continuar a priorizar o transporte público em vez
do individual, se continuar a negociar com movimentos populares e a limitar a atuação das
construtoras, se seguir criando espaço para as bicicletas e empregos para craqueiros,
corremos o sério risco de ver, em alguns anos, uma pequena diminuição na distância entre
ricos e pobres nesta cidade – e tudo o que eu, Espírito Paulistano, menos quero, é pobre
perto de mim.
Sem mais, subscrevo-me,
E.P.”
QUESTÃO 5
Um linguista, estudioso de uma língua indígena brasileira, propôs um projeto em que
falantes de tal língua fossem os responsáveis pela elaboração de seu dicionário. Assim,
obteve resultados do tipo:
Kanapi – estrelas do meu povo. Tem história.
Kurikuri – passarinho de bico torto, que fala e é bicho de criação. O branco chama de
papagaio.
a) pensando-se em microestrutura, o que se pode dizer sobre tais verbetes?
b) pensando-se na relação entre culturas e ciências distintas, como analisar esta proposta
de lexicografia indígena? Como fica a questão do especialista em estudos do léxico?
QUESTÃO 6
De acordo com Leffa (1988), a história do ensino de línguas estrangeiras tem sido
comparada "aos movimentos de um pêndulo, balanceando sempre de um lado a outro”. O
autor justifica a metáfora afirmando que as abordagens de ensino (que originam os métodos),
por serem uma reação ao que existia antes, tendem a ser dogmáticas e sem meio-termo:
“tudo estava errado e agora tudo está certo”. Para ele, as diferentes abordagens pedagógicas,
que deveriam conviver na prática, tornam-se preceitos antagônicos e irredutíveis (exemplos
disso são as noções de indução versus dedução, escrita versus fala, significado versus forma,
aprendizagem versus aquisição, material autêntico versus material adaptado).
Discorra sobre a proposição do autor, conteste-a ou reafirme-a, apoiando-se, para tanto, em
suas leituras teóricas na área.
QUESTÃO 7
Considerando o sistema de sons da língua portuguesa, responda às questões seguintes:
a) Quais são as principais diferenças entre as consoantes e as vogais?
b) Levando em consideração a diversidade de variantes na língua portuguesa falada no
Brasil, mencione alguns exemplos de sons consonantais e vocálicos que apresentem
diferenças de produção e comente seus exemplos.
QUESTÃO 8
Na década de 1980, muitos textos foram produzidos com a finalidade de colocar em xeque a
tradição presente no ensino da gramática no sistema básico de ensino. Destacaremos uma das
práticas que deu lugar a críticas sistemáticas: aquela que reduzia o ensino da gramática à
estrita classificação das categorias morfológicas e sintáticas tal como foram descritas nas
gramáticas pedagógicas que privilegiaram a variante culta.
Com base na propaganda publicada na revista VEJA, de 08/11/1995, nas p. 78-9, identifique
com que intenção de significação a propaganda foi produzida. Em seguida, analise o
enunciado Ter uma parabólica sem TVA é como ter um freezer só para fazer gelo,
levando em conta as categorias léxico-gramaticais e o modo como elas se relacionam no
interior do enunciado, com a finalidade de demonstrar como os sentidos são construídos na
instância da língua.
(Disponível em www.veja.abril.com.br. Acesso em 29/10/2014)
Download