Fotos Débora Bastos Informativo da Rede MPS Brasil REDE NEWS Doenças raras agora têm atendimento pelo SUS V ários centros de saúde do Brasil estão em processo de credenciamento desde o ano passado para atender à Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras. Estabelecida pela Portaria 199/2014 do Ministério da Saúde, a política prevê que pessoas acometidas por doenças menos frequentes na população tenham cuidado especializado no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Como ‘doenças raras’, a previsão legal entende ‘aquelas que afetam 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos, ou seja, 1,3 pessoas para cada 2 mil indivíduos’. Neste grupo, constam enfermidades como fibrose cística, Síndrome de Williams e distrofia muscular de Duchenne, além das mucopolissacaridoses, cuja frequência é de, aproximadamente, um caso para cada 22.500 nascidos. Na prática, a política trazida pela portaria torna gratuito o diagnóstico e acompanhamento de enfermidades pouco comuns, que até agora não tinham sua avaliação e acompanhamento previstos pelo SUS. “Sabemos que ainda há uma grande jornada até que a política esteja de fato implantada e em funcionamento” INFORMATIVO DA REDE MPS BRASIL Ano 1/nº 2 Fevereiro/Abril 2015 Ainda que a detecção e a supervisão médica e de profissionais da saúde estejam entre as ações previstas, a provisão de medicamentos não é abordada pela Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras. “Esta seria uma segunda etapa do projeto”, acredita a médica geneticista Carolina Fischinger Moura de Souza. Segundo a especialista, no momento as unidades de saúde que deverão servir de centros ainda estão se adequando estruturalmente e em termos de recursos humanos. “Sabemos que ainda há uma grande jornada até que a política esteja de fato implantada e em funcionamento, mas esperamos que em 2015 possamos agilizar ao máximo esta implementação”, diz. No Brasil, estima-se que em torno de 13 milhões de pessoas sofram com algum tipo de doença rara. Mais de 90% das doenças consideradas atípicas não têm cura. Assim, os cuidados paliativos são fundamentais para garantir melhor qualidade de vida aos pacientes. REDE NEWS CAIU NA REDE • 02 Anvisa aprova o primeiro medicamento específico para tratar a Síndrome de Morquio A (MPS IV A) namento das células nos diversos órgãos e sistemas do corpo. “O uso regular do Vimizim melhora a saúde e a qualidade de vida do paciente com MPS IV A, diminui a dificuldade respiratória e, consequentemente, melhora a qualidade do sono e incrementa a habilidade de andar”, explica a geneticista. “Embora o Vimizim não “Embora o Vimizim não tenha a capacidade de regredir as sequelas já causadas pela doença, representa a possibilidade de mudar o curso de uma vida” tenha a capacidade de regredir as sequelas já causadas pela doença, representa a possibilidade de mudar o curso de uma vida”, diz. Ainda de acordo com Dra. Paula, o anúncio da aprovação do Vimizim pela ANVISA permite sonhar com a situação ideal de início do tratamento logo após o nascimento, o que poderia proporcionar aos pacientes com MPS IV A uma intervenção possivelmente ainda mais eficaz. O Vimizim, comenta a médica, “é a única enzima específica existente para tratamento de pacientes com MPS IV A”. “É o que se denomina de droga órfã e, como tal, tem preço muito elevado em função do pequeno número de pacientes afetados”, registra. “Infelizmente a medicação ainda não faz parte da lista de medicamentos disponibilizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), levando os pacientes a buscar o tratamento por solicitação judicial”, explica. Para a especialista, tal situação deveria ser revista, já que a provisão do medicamento via judicial “demanda muito tempo de espera, o que é muito prejudicial à saúde do paciente”. Serviço de Genética Médica/HCPA U ma notícia divulgada em dezembro de 2014 animou pacientes com MPS IV A e seus familiares: a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a comercialização do Vimizim no Brasil. A droga é considerada a terapia mais eficaz desenvolvida até então para o tratamento de pacientes com MPS IV A. O processo de análise do medicamento pela ANVISA estava em andamento desde 2012, quando a primeira etapa do estudo de fase III foi concluída. Segundo a geneticista e responsável pela terapia de reposição enzimática (TRE) no Hospital Universitário Alcides “O uso regular do Vimizim melhora a saúde e a qualidade de vida do paciente com MPS IV A, diminui a dificuldade respiratória e, consequentemente, melhora a qualidade do sono e incrementa a habilidade de andar” Carneiro, da Universidade Federal de Campina Grande/PB, Paula Frassinetti Vasconcelos de Medeiros, o aval da ANVISA deve mesmo ser motivo de comemoração. Conforme a especialista, o Vimizim é o nome comercial da enzima elosulfase alfa, substitui a enzima N-acetilgalactosamina 6-sulfatase humana, que é fundamental para o metabolismo dos glicosaminoglicanos e não é produzida ou é produzida em quantidade insuficiente pelos pacientes com MPS IV A. A TRE com o Vimizim vai restabelecer o bom funcio- 03 REDE NEWS • CAIU NA REDE Simpósio MPS integra pacientes e profissionais para discutir avanços do entendemos a gravidade da doença, percebemos que tínhamos de ficar mais próximos de onde estão as pesquisas, então viemos para o Brasil”, conta Mario, que hoje vive em Santa Catarina. Também estrangeiros, Araceli, 44, e Giovani., 43, vieram do Peru para o simpósio. Eles têm dois filhos: Gabriel, 11, e Joaquim, 8 anos. Ambos têm MPS II. “Sempre que podemos, participamos dos eventos, sobretudo para buscar grupos de pesquisa aos quais nossos filhos se enquadrem”, comenta Araceli. A próxima edição do evento deve ocorrer na segunda quinzena de novembro deste ano. O evento custeia a vinda e hospedagem dos pacientes da região Sul do Brasil, mas todos os pacientes interessados em participar são muito bem-vindos! Para mais informações, contate [email protected] Fotos Carla de Cássia Cascaes Batista U m momento para pacientes e familiares se sentirem amparados, uma ocasião para informar sobre progressos científicos na área e para trocar experiências. Assim o chefe do Serviço de Genética Médica (SGM) do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Roberto Giugliani, definiu o Simpósio MPS Sul 2014, realizado de 21 a 23 de novembro, na capital do Rio Grande do Sul. Na ocasião, pesquisadores dedicados à descoberta de novos tratamentos para a mucopolissacaridose (MPS), doença rara que afeta progressivamente diversos órgãos e sistemas, divulgaram seus últimos achados. Dentre os temas discutidos consta o andamento de pesquisas focadas à qualidade de vida dos pacientes. As MPSs ainda não têm cura, mas os cientistas têm se empenhado em desenvolver medicações que amenizem os sintomas e maneiras de diagnosticar a doença mais precocemente – leia artigo na contracapa. Movidos pelas novas perspectivas apontadas pelos pesquisadores, pessoas de diversas localidades do Brasil estiveram no evento. É o caso de Camila, 22 anos. Diagnosticada com MPS IV A, ela veio de Criciúma/SC especialmente para o simpósio. “Não temos muitas oportunidades para nos reunirmos. Acho que juntar as pessoas que têm MPS em um evento é uma forma de colaborar à ajuda mútua”, diz. Mesma opinião têm Angélico, 29, e sua esposa Janete, 28. Pais de Luis, 2 anos, que teve MPS II recentemente confirmada, eles vieram de Casca/RS, para saber mais sobre a doença. “É tudo muito novo para nós. Queremos aprender a lidar com doença”, diz Angélico. Os trabalhos de investigação sobre mucopolissacaridoses liderados pelo SGM do HCPA, divisão organizadora do evento, são referência mundial. O boliviano Mario, 39, que também esteve no simpósio, por exemplo, não hesitou quando soube que seu filho Carlos, hoje com 11 anos, tinha MPS II e mudou-se com sua família de La Paz para Porto Alegre para participar de um ensaio clínico para tratamento da doença. “Quan- “Um momento para pacientes e familiares se sentirem amparados, uma ocasião para informar sobre progressos científicos” INFORMATIVO DA REDE MPS BRASIL DIRETO DA BANCADA CAIU NA REDE • Triagem neonatal para MPS VI no sertão da Bahia Por Fernanda Bender, Bióloga e Aluna de Doutorado A síndrome de Maroteaux-Lamy ou Mucopolissacaridose tipo VI (MPS VI) tem seu diagnóstico usualmente confirmado pela verificação da deficiência na atividade da enzima N-acetilgalactosamina-4-sulfatase (arilsulfatase B – ARSB) em leucócitos. No pequeno município de Monte Santo, localizado no interior da Bahia, tem sido diagnosticadas diversas doenças genéticas (autossômicas recessivas, dominantes, defeitos congênitos e distúrbios multifatoriais) que estão sendo amplamente estudadas expediente Caiu na Rede - informativo trimestral da Rede MPS Brasil, Serviço de Genética Médica/ Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Edição 02 Fevereiro-Abril 2015 em seus variados aspectos num projeto chamado “Genética no Sertão”, liderado pela Dra. Angelina Xavier Acosta, da Universidade Federal da Bahia. A MPS VI foi diagnosticada em 13 pacientes dessa região, todos apresentando a mutação p.H178L. Como a condição é razoavelmente frequente nessa região, e como evidências recentes têm indicado que o tratamento precoce modifica para melhor o prognóstico da doença, a Rede MPS Brasil procurou adaptar técnicas bioquímicas e moleculares para permitir a triagem neonatal para MPS VI nessa localidade específica. Assim, um projeto foi estabelecido para padronizar e Coordenação geral: Roberto Giugliani Supervisão: Andressa Federhen Consultor administrativo: Célio Luiz Rafaelli Planejamento gráfico e diagramação: CD Vaz INFORMATIVO DA REDE MPS BRASIL validar o método bioquímico e molecular para identificação da atividade enzimática de ARSB e da mutação específica, aplicando as técnicas nas amostras de sangue total impregnado em papel-filtro (STIPF), utilizando a mesma amostra coletada para o “Teste do Pezinho”. Esse estudo foi desenvolvido nos laboratórios de Erros Inatos do Metabolismo e de Genética Molecular do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. As análises envolvendo amostras de Monte Santo começaram em janeiro de 2011. Até janeiro de 2015 haviam sido avaliados 2.300 neonatos. Nas análises moleculares foram encontrados 37 (1,6%) neonatos heterozigotos para a mutação p.H178L. Nenhum homozigoto para a mutação foi ainda detectado pela triagem neonatal. A identificação dos heterozigotos permite identificar famílias cuja mutação está presente, as quais podem se beneficiar de estudos focados na identificação de mais portadores e do aconselhamento genético a partir das informações disponíveis. O trabalho mostrou que as amostras de STIPF podem ser usadas para detectar pacientes com MPS VI, como um método que poderia ser facilmente incorporado aos protocolos dos laboratórios de referência, possibilitando uma rápida identificação de pacientes afetados, especialmente quando se tem o conhecimento prévio da mutação recorrente na família ou em determinada região geográfica. Jornalista responsável: Sabrina Auler - MTb 13.799 Colaboraram nesta edição: Carolina Fischinger Moura de Souza, Deise Zanin, Fernanda Bender, Gisele Cristina da Conceição, Paula Frassinetti Vasconcelos de Medeiros, Carla de Cássia Cascaes Batista, Débora Bastos e Tais Bauer Auler 04 rede poesia A importância dos detalhes Depois de tanto caminhar... Depois de quase desistir... Os mesmos pés cansados voltam pra você... Nunca desista dos seus sonhos... persista neles... o caminho pode ser longo... mas a vitória chega logo. Você vai encontrar barreiras e pedras neste caminho... mas tenha certeza que você não estará sozinho nesta luta e missão... você tem um Deus que vai te acompanhar, lutar junto contigo até o fim! Devemos ser gratos a Deus pelos pequenos detalhes, Pois nos detalhes descobrimos valores de uma realidade onde tudo faz a diferença! Gisele Cristina da Conceição, paciente MPS IV-A