MUCOLIPIDOSE TIPO III α/β: ASPECTOS CLÍNICOS, BIOQUÍMICOS E GENÉTICOS DE UM PACIENTE ADULTO. ARTIGALÁS, Osvaldo1,2; CURY, Gabriela3; ALEGRA, Taciane1; NETTO, Cristina4; BRAULKE, Thomas5; REGO, Marisa5; MATTE, Ursula3; SCHWARTZ, Ida1,4. (1) Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular –UFRGS; (2) Hospital da Criança Conceição – GHC; (3) Centro de Terapia Gênica – HCPA; (4) Serviço de Genética Médica – HCPA; (5) Department of Biochemistry - University Medical Center Hamburg-Eppendorf, Alemanha. . RESUMO Introdução: Mucolipidoses II/III (ML) são doenças monogênicas raras causadas pela atividade deficiente da enzima UDP-N-acetil-glicosamina-1-fosfotransferase, uma das enzimas responsáveis pela adição de resíduos manose 6-fosfato às hidrolases lisossômicas, e que é codificada pelos genes GNPTAB (frações α/β) e GNPTG (fração γ). Mutações em GNPTAB estão associadas às ML II (grave) ou III (atenuada), enquanto que mutações em GNPTG estão associadas à ML III. As ML provavelmente são subdiagnosticadas, seja pela semelhança do seu quadro clínico com as mucopolissacaridoses (MPS), seja pela complexidade do seu diagnóstico bioquímico e molecular. Caso clínico: Paciente masculino, 37 anos, encaminhado para avaliação por suspeita de MPS. Sem atraso cognitivo, filho de casal não-consanguíneo, com alterações esqueléticas desde os 10 anos. História familial positiva (irmão mais novo com quadro clínico semelhante). Ao exame físico apresenta face grosseira, 59,9kg e 149cm de altura, sem opacificação corneana e presença de contraturas articulares. A investigação complementar evidenciou: radiografias com disostose múltipla, osteoporose lombar e displasia bilateral de quadril; espirometria com distúrbio ventilatório combinado grave; polissonografia normal; ecocardiograma com leve insuficiência das valvas mitral, aórtica e tricúspide. Encontrou-se redução da atividade enzimática em fibroblastos de alfa-iduronidase, arilsulfatase A, iduronatosulfatase, neuraminidase, esfingomielinase, beta-galactosidase, alfa-fucosidase e betaglicuronidase; e elevação, em plasma, das atividades das enzimas alfa-iduronidase, alfa-Nacetilglicosaminidase, alfa-manosidase, arilsulfatase A, hexosaminidase A e B. A análise de fosforilação de resíduos de manose (por Western-blot) mostrou diminuição significativa, enquanto o RT-PCR mostrou redução dos produtos de GNTPAB e GNPTG. O seqüenciamento de GNPTG não mostrou alterações, mas o seqüenciamento de GNPTAB identificou as mutações patogênicas c.1514G>A (p.C505Y) no éxon XII e c.1759C>T (p.R587X) no éxon XIII, sendo confirmado o diagnóstico de ML IIIα/β. Conclusão: Esse caso clínico ilustra a complexidade do diagnóstico clínico-bioquímico-genético das ML II/III, e sugere que exista relação entre a expressão de GNPTG e GNPTAB. Apoio: Rede MPS Brasil, CNPq. Palavras-chave: Mucolipidose. GNPTAB. Descrição clínica. Doença lisossômica.