UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ" Piracicaba, 10 de abril de 2013. POR QUE O PREÇO DO TOMATE SUBIU TANTO? João Paulo Deleo Pesquisador do Cepea - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP [email protected] O tomate, assim como outras hortaliças, é uma cultura que costuma ter variações acentuadas de preços em curto período. O motivo é sempre o aumento ou a redução na oferta, já que a demanda por esses produtos tende a se manter estável, salvo variações acentuadas de preços. No caso do tomate e também de outras hortaliças, variações repentinas e acentuadas na oferta se devem a fatores como: 1. São culturas de ciclo anual, o que significa que o intervalo entre o plantio e a colheita é inferior a um ano. Após a colheita, a planta morre, encerrando seu ciclo. Assim, em poucos meses, é possível grande variação na oferta em função da área cultivada. Já as culturas perenes, como o café e a Laranja, permanecem por muitos anos, e o intervalo de tempo entre o plantio e a primeira colheita é superior a um ano. Assim, no caso dessas culturas, demora mais para que o aumento de área cultivada impacte na oferta. 2. Mesmo quando comparadas a outras culturas de ciclo anual, as hortaliças são culturas perecíveis e de mercado doméstico. Assim, uma hortaliça quando chega ao ponto de colheita, deve ser imediatamente colhida e comercializada, independente dos preços vigentes, uma vez que o armazenamento, além de não ser uma prática comum no Brasil, é caro e muitas vezes inviável. Comparando-se com a soja, por exemplo, embora esta também seja uma cultura de ciclo anual, há possibilidade de armazenamento. Além disso, um sojicultor, antes mesmo de cultivar a soja, tem a possibilidade de vender sua produção, com base em preços futuros. Tal possibilidade reduz os riscos de preços, o que não ocorre no caso das hortaliças. Essa perecibilidade das hortaliças acentua os “ciclos de capitalização e descapitalização do produtor”. Em um ano de preços baixos, o produtor pode ter muito prejuízo, se descapitalizar e ficar sem condições de investir na safra seguinte. Isso, em geral, significa redução da área de cultivo. Como consequência, a oferta diminui e os preços aumentam. Esse é o cenário que observamos na tomaticultura neste momento! No ano passado, a produtividade foi acima da média, os preços caíram, gerando prejuízos aos produtores que responderam plantando cerca de 17% a menos nesta safra. Por isso os preços tão elevados. 3. Mas aí vem a pergunta: Se, normalmente, após um ano ou safra de preços altos, há outro de preços baixos, então seria lógico todos pensarem em produzir nos anos de preços altos? Em primeiro lugar, se todos agissem sob essa racionalidade, o ano que poderia ter preços altos, na verdade, tenderá a ter preços baixos. É preciso observar ainda que, além da área cultivada, outro fator importantíssimo na agricultura é o clima! Mesmo com aumento de área, se o clima prejudicar a produção, a oferta pode ser menor, e os preços atingem patamares elevados. O contrário também pode ocorrer. Assim, esses ciclos podem ocorrer um ano após o outro ou se repetirem a cada dois ou três anos. Esses comentários representam uma panorâmica do setor. Porém, a sua dinâmica engloba processos mais complexos. Apenas para mencionar duas dessas situações: (a) depois de um ano de prejuízo, o CAIXA POSTAL 132 • 13400-970 • PIRACICABA - SP • BRASIL • TEL: 19 3429-8837 • FAX: 19 3429-8829 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ" Piracicaba, 10 de abril de 2013. produtor pode ganhar dinheiro na safra seguinte, mas não ampliar a área na próxima temporada porque precisou do dinheiro para saldar dívidas anteriores; e (b) mesmo capitalizado, o produtor pode cultivar menos devido à baixa disponibilidade de determinados insumos. Mito ou realidade: Tomate vilão da inflação? NÃO, não é. Esse é um MITO que precisa ser descartado. Como foi dito, a oferta e os preços de hortaliças oscilam muito. Se o produtor de tomate está ganhando muito nessa safra – mas nem sempre isso acontece em momentos de preços altos –, é porque perdeu em outra(s). O peso do tomate na composição da inflação é muito pequeno. Apesar disso, não é a primeira vez que este produto bem como outras hortaliças são pegos como “bodes expiatórios” para justificar altas na inflação. No passado, chegou a ser clichê culpar o chuchu por aumento da inflação. Conforme já publicado na revista Hortifruti Brasil/Cepea, na edição n. 28, de setembro de 2004, no ano de 1977, o então ministro da Fazenda, o economista Mario Henrique Simonsen, utilizou a valorização do chuchu para justificar o aumento dos índices de preços daquele ano, originando a chamada “inflação do chuchu”. Na verdade, tratava-se de uma tentativa de mascarar um processo de total descontrole inflacionário que ficaria evidente nos anos seguintes. Naquele período, a inflação já se encontrava na casa dos 40% ao ano e, até 1994, o Brasil apresentou os maiores aumentos de preços praticados no mundo. Na última década, com certa frequência, a mídia vem atacando o tomate, que é seguido de perto pela cebola e pela batata, com “responsável” pela inflação. Um grande equívoco quando se analisam as participações dos diversos grupos de produtos que compõem o índice de inflação oficial (IPCA). Mesmo no grupo dos alimentos, há outros produtos que têm peso mais significativo e, em alguns casos, maior dificuldade de serem substituídos. Por exemplo, o arroz, feijão e proteínas de origem animal. Aí fica a pergunta: Qual o impacto do aumento de preços de uma hortaliça no orçamento dos brasileiros? Qual a parcela do salário gasta mensalmente com determinada hortaliça? Individualmente, cada hortaliça tem peso muito pequeno na composição de qualquer índice de inflação. Além disso, quando estão caras, acabam sendo substituídas. Assim se o preço do tomate está muito alto, o brasileiro reduz o consumo dessa hortaliça, consumindo outra que está com preço mais acessível. O CEPEA observou isso na última semana. De R$ 85,47/cx na semana de 25 a 28/03, o preço do tomate pago ao produtor passou para R$ 70,81/cx na semana seguinte e agora está a R$ 48,75/cx. Essa redução (depois da Páscoa) ocorre porque o consumidor deixou de comprar tomate (efeito substituição), pois a oferta ainda segue baixa. Por que o preço do tomate subiu tanto neste ano? Em primeiro lugar, porque a produção diminuiu. Isso aconteceu porque a área cultivada diminuiu nos dois últimos anos. No ano passado, a redução foi de 3%, mas a produtividade foi muito boa, resultando até mesmo em excesso de oferta que derrubou os preços. O produtor descapitalizado reduziu novamente a área neste CAIXA POSTAL 132 • 13400-970 • PIRACICABA - SP • BRASIL • TEL: 19 3429-8837 • FAX: 19 3429-8829 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ" Piracicaba, 10 de abril de 2013. ano (2013), agora em 17,5% na média das regiões citadas acima. Neste ano, o clima não chegou a atrapalhar (a produtividade esteve na média da maioria dos anos), mas não ajudou como em 2012 (produtividade muito elevada graças ao tempo seco). Portanto, o principal motivo para o aumento é mesmo a redução de área, que resulta em menos tomate. No período de pico de preços (Semana Santa), houve também aumento da demanda. Por que o preço caiu? Porque o consumidor diminuiu as compras. Oferta continua baixa. E daqui para frente? Com os preços em queda ao produtor e no atacado, é de se esperar que o toamte fique mais barato também ao consumidor. A oferta deve aumentar a partir de junho, quando as regiões que produzem na safra de inverno passam a colher com mais força. Outras informações sobre o mercado de hortifrutícolas: http://cepea.esalq.usp.br/hfbrasil e por meio do Laboratório de Informação do Cepea: 19-3429-8837 / 3429 8836 e [email protected] CAIXA POSTAL 132 • 13400-970 • PIRACICABA - SP • BRASIL • TEL: 19 3429-8837 • FAX: 19 3429-8829