Inclusão social dos Surdos na escola: uma visão do professor

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Inclusão social dos Surdos na escola: uma visão do professor
Palavras chaves: Surdo, linguagem, inclusão.
O objetivo do presente trabalho é analisar o relato de experiência de 10 docentes
sobre seus respectivos trabalhos na escola regular inclusiva (de nível médio), em
relação aos seus alunos surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Trata-se de pesquisa qualitativa de caráter exploratório, cujas referências teóricas
estão fundamentalmente ancoradas em BARDIN (2004).
O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição Proponente
por meio da processo nº 177/2008.
Após processo de esclarecimento, em relação às formas de adesão à pesquisa e
assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os professores foram
entrevistados no período de setembro à Outubro de 2008, aceitando gravar as
entrevistas, e a pesquisadora posteriormente transcreveu e analisou as mesmas,
segundo as recomendações do mesmo autor supracitado.
A pesquisa verificou, por meio da percepção dos professores,
discrepâncias e
ambiguidades em relação a atuação das equipes de professores ao que se refere
aos sentimentos desses frente ao contato com os alunos surdos, também a LIBRAS
(como língua de instrução e uso), formas de uso da LOF (Leitura Orofacial) e em
relação às proposições das políticas públicas inclusivas.
A seguir serão apresentados os termos que constituem as categorias analíticas que
foram recorrentes em todos (ou quase todos os discursos), mostrando algumas das
respostas dos professores ligadas a cada termo.
Termos
Respostas de alguns professores
“
1. Dificuldade, difícil
Os
Surdos
superam
as
dificuldades, junto com os colegas ou
perguntando para o próprio professor,
ou com a professora da sala de
“recurso” (professora “auxiliar”). Ela tem
ajudado muito nas dificuldades deles.”
2. LIBRAS
“...os professores estão interessados
em aprender a LIBRAS....é difícil
no começo pra gente, mas alguma
coisa a gente já está pegando”.
3. Leitura Orofacial
“... a dificuldade é se o professor fala
depressa ou estiver de costas para o
aluno quando estiver falando, isso é
uma atenção que o professor tem que
tomar...”
4. Inclusão
“Eu acho que a inclusão está sendo
100%, eles se dão bem inclusive com
os outros alunos”.
Pelos discursos dos professores, pude notar que as dificudades por eles relatadas
podem estar localizadas na falta de uma língua comum entre eles e os alunos, pois,
muitas vezes, questionam o fato de não saberem a língua materna dos Surdos,
precisando de alguém que os auxilie, um colega ou o professor da sala de recursos.
Em relação a LIBRAS, no geral, os docentes parecem saber que essa língua é difícil
de ser aprendida, mas muito deles estão tentando aprender. É sabido, desde a
década de 1960 quando Stokoe demostrou que a língua de sinais é uma língua
completa, com estruturas gramáticais próprias e indepedente da língua oral que
essa é a língua natural dos Surdos .
Sabemos também que a Libras é um dos principais instrumentos para que haja uma
inclusão efetiva desses alunos Surdos. Portanto, é preciso que haja uma integração
de toda a escola junto com esses alunos, viabilizando um espaço em que todos
estejam capacitados e preparados para receber estes Surdos.
Ao identifiar a leitura orofacial (LOF) como um fator importante para os Surdos, os
professores demostram ter o cuidado e preocupação em notar essa questão em sala
de aula, facilitando algumas vezes o entendimento da matéria.
A leitura orofacial pode fazer parte da linguagem oral do Surdo desde que
trabalhada por um fonoaudiólogo, mas esse trabalho é extremamente facilitado
quando é possibilitado ao Surdo a aquisição de Língua de Sinais como primeira
língua, desde que será essa primeira língua que facilitará o desenvolvimento da
segunda língua (a lingua oral) e consequentemente da leitura orofacial . Entretanto,
sabe-se também que a LOF pode ser ambígüa e não oferecer ao Surdo a
possibilidade de compreensão completa dos enunciados feitos pelo professor
(Svarthom, 2008), mas a utilização da mesma sempre seria algo com que o Surdo
poderia aumentar sua possibilidade de participação efetiva na sala de aula.
Sobre a questão da inclusão em sala de aula, os professores deixam claro em suas
respostas que não há exclusão, falam que pelo contrário dão muita enfâse em que o
aluno Surdo se dá muito bem com o aluno ouvinte.
Não podemos saber, baseados apenas no discurso dos professores se a inclusão
real por eles relatada está acontecendo realmente com esses Surdos, para termos
uma
informação
verdadeira
necessitaríamos
de
dados
que
englobassem
observações desses alunos em sala de aula, o que não foi possível nesse trabalho.
Mas, o que podemos verificar é que os professores desejam acreditar que a inclusão
está acontecendo e que se esforçam para que isso aconteça, ainda que não tenham
os instrumentos necessários para tanto (domínio da Libras). Para que haja uma
efetiva inclusão para o real aprendizado do Surdo segundo Lacerda e Góes (2000):
deve-se:
“Examinar os discursos circulantes sobre
surdez; os projetos sócio-educacionais em
que
se
inserem
as
propostas
de
escolarização; a qualidade das interações
sociais; a abordagem da diferença nas
situações
escolares
cotidianas;
as
possibilidades ou limites de funcionamento
dialógico
do
Surdo
no
encontro com
diferentes interlocutores; e as formas de
atuação pedagógica”. (P.7).
A análise dos dados nesse trabalho evidenciam um descompasso entre o desejo e
ansiedade
dos
professores
em
atender
adequadamente
a
esses
jovens
demonstrando a inadequada formação dos professores em oposição às proposições
e exigências das políticas públicas vigentes.
Além disso os dados apontam as contradições presentes no discurso dos
entrevistados, especialmente ao que se refere a avaliação geral sobre se os jovens
estariam ou não incluídos satisfatoriamente.
Precisamos lembrar que a Declaração de Salamanca (op. Cit, 1994) coloca em seus
princípios que:
“Escolas inclusivas devem reconhecer e
responder às necessidades diversas de
seus alunos, acomodando ambos os estilos
e ritmos de aprendizagem e assegurando
uma educação de qualidade à todos através
de
um
currículo
apropriado,
arranjos
organizacionais, estratégias de ensino, uso
de recurso e parceria com as comunidades.
Na
verdade,
continuidade
deveria
de
existir
serviços
e
uma
apoio
proporcional ao contínuo de necessidades
especiais encontradas dentro da escola.”
O sistema educacional necessita responsabilizar-se e investir na formação das
equipes, subsidiando os professores para que uma educação inclusiva de qualidade
possa acontecer. O profissional da Fonoaudiologia configura-se importante agente
social, podendo oferecer consultoria e aporte teórico e prático por dominar conceitos
das diferentes áreas afins: desenvolvimento e uso da língua e linguagem, bem como
da própria fonoaudiologia escolar.
Para que isso possa ocorrer de forma real devemos valorizar os Surdos e os
tratarmos como verdadeiros cidadãos, entendendo sempre que a Língua de Sinais
não é somente mais uma forma de comunicação, mas sim sua língua materna e
verdadeira que deverá estra presente na sua educação. Somente assim a inclusão
social poderá se fazer eficaz para toda a sociedade.
Referências bibliográficas:
Bardin, L. Os conteúdos da consciência do trabalhador exposto ao ruído. Dissertação de
Mestrado apresentado à PUC SP. São Paulo: Análise de Conteúdo Lisboa, Edições 70 In
Linder, MB, 1996.
Góes, MCR. Linguagem, surdez e educação. Campinas: Autores Associados, 1996
Lacerda, C.B.F.; Poletti, J.E. A escola inclusiva para os surdos: a situação singular do
intérprete de língua de sinais. [Internet].
[cited 2008 Dez 04].
Disponível em:
http://74.125.113.104/search?q=cache:a4hRQbrn0HMJ:www.anped.org.br/reunioes/27/gt15/t
151.pdf+Cristina+Lacerda-+interprete&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=7&gl=br&lr=lang_pt
Lacerda, CBF. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos professores e
intérpretes sobre esta experiência. [Internet]. [cited 2008 Ago 05]. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010132622006000200004&lng=pt&nr
m=iso.
Moura, MC. O surdo: Caminhos para uma nova identidade. São Paulo: Revinter , 1996.
Svartholm, K. Educação Bilíngüe para os Surdos na Suécia: Teoria e Prática. Universidade
de Stockholm. Suécia.
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