BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E

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BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS E CIBERESPAÇO: OLHARES SOBRE
UMA RELAÇÃO EM CONSTRUÇÃO
Alberto Calil Junior1
1
Professor Doutor, UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ
Resumo
A partir da reflexão sobre os conceitos de web 2.0 e de biblioteca 2.0 apresenta os
resultados preliminares de mapeamento realizado nas páginas web das bibliotecas
universitárias das universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro, como parte de um de
um projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido na UNIRIO que tem como objetivo
investigar a noção de Biblioteca 2.0, bem como as apropriações que todos aqueles ligados
ao universo das bibliotecas vêm fazendo das ferramentas web 2.0. Discute alguns dos
desafios para as bibliotecas universitárias provenientes do surgimento e da utilização
dessas novas tecnologias.
Palavras-Chave: Biblioteca 2.0; Web 2.0; Ciberespaço.
Abstract
This paper presents the preliminary results from the mapping of the University Libraries
websites based on the discussions about web 2.0 and library 2.0. The study is part of the
research project that is being developed in UNIRIO that aims to investigate the notion of
library 2.0 and the appropriations that all those connected to the universe of libraries have
been doing of web 2.0 tools. It also discusses some of the challenges for university libraries
from the emergence and utilization of these new technologies.
Keywords: Library 2.0; Web 2.0; Cyberspace.
1 Introdução
Em setembro de 2005, Michael Casey (2005) postou em seu blog, intitulado
Library Crunch, uma mensagem ou “post” em que é veiculado pela primeira vez um
termo que nos anos seguintes viria, paulatinamente, se tornar conhecido e ser
bastante utilizado por aqueles que de alguma forma se relacionam com o universo
das bibliotecas.
Casey foi o primeiro a falar em Biblioteca 2.0 e seu “post”
ultrapassou os limites da biblioblogoesfera, passando a ser objeto dos debates
acadêmicos, de artigos e livros da área de biblioteconomia, mas também do
universo de funcionários e usuários de bibliotecas.
Segundo Elizabeth Black (2007) o termo foi criado para permitir a aplicação
das noções e conseqüentes modificações promovidas pela web 2.0 ao universo das
bibliotecas. Desde então, o que se tem observado é a crescente presença tanto das
bibliotecas no ciberespaço, quanto da utilização das ferramentas da web 2.0 por
parte destas bibliotecas. É no interior deste quadro que essa investigação se coloca.
Admitindo-se que a internet e as tecnologias a ela relacionadas vêm impressionando
de maneira significativa o nosso cotidiano, urge refletir sobre os possíveis impactos
destas sobre o universo das bibliotecas. Nesta perspectiva, o questionamento em
torno da relação que as bibliotecas universitárias, os bibliotecários que nelas atuam
e todos aqueles que de alguma forma estão a elas ligados, vêm estabelecendo com
o ciberespaço e com as referidas ferramentas, se apresenta como importante campo
de investigação.
2 Web 2.0 e Biblioteca 2.0: a conformação de novos horizontes?
Uma análise das primeiras definições que surgiram do termo nos leva a
corroborar as afirmações de Black (2007). Casey e Savastinuk (2006), por exemplo,
entendem a biblioteca 2.0 como “um modelo para os serviços de bibliotecas que
incentiva mudanças constantes e intencionais e que convida o usuário a colaborar
ativamente com a biblioteca (...)” (CASEY; SAVASTINUK, 2006). Ken Chad e Paul
Miller (2005), autores que também estão entre os primeiros a refletir sobre a
Biblioteca 2.0, vão estabelecer quatro princípios na tentativa de compreender a
questão, a saber:
1) – A Biblioteca 2.0 está em todos os lugares, ou seja, pode ser acessada de
qualquer lugar do planeta;
2) – A Biblioteca 2.0 não possui fronteiras. Para os autores a biblioteca deve
estar no centro dos processos de democratização da informação, possibilitando o
livre acesso;
3) – A Biblioteca 2.0 possibilita a criação de uma cultura da participação, é
essencialmente colaborativa;
4 ) – A Biblioteca 2.0 estabelece novas formas de relação entre as bibliotecas
e seus parceiros, no que se refere ao uso das tecnologias.
Em geral relacionado diretamente a noção de web 2.0 ou web social, o debate
sobre a biblioteca 2.0 e sua realidade para aqueles que orbitam em torno das
bibliotecas - quer sejam usuários, bibliotecários, staff de bibliotecas, professores e
estudantes dos cursos de graduação em biblioteconomia, e pesquisadores da área tem ganhado espaço entre pesquisadores do campo da biblioteconomia desde a
formulação de Michael Casey, particularmente em pesquisas realizadas na América
do Norte e na Europa Ocidental. De acordo com Maness (2007), a partir do post de
Casey, a biblioblogoesfera foi tomada por “uma exploração conceitual do que
Biblioteca 2.0 pode significar” (MANESS, 2007), instalando-se então, uma
controvérsia em torno da definição e da importância do tema.
A aproximação entre bibliotecas e as novas tecnologias da informação e da
comunicação (TICS), em particular aquelas reunidas na internet, não se constitui em
uma singularidade das primeiras. Na teoria social contemporânea é possível
encontrar a afirmação de que atualmente estaríamos testemunhando e participando
de um momento de grandes transformações societárias, cuja principal característica
seria a introdução, em larga escala, das TICS no cotidiano, com destaque para
aquelas relacionadas à comunicação mediada por computadores, em particular a
internet. Manuell Castells (1999), por exemplo, afirma que estamos diante de uma
nova estrutura social fortemente marcada pela presença e pelo funcionamento de
um sistema de redes interligadas e que tais redes estão relacionadas a um novo
modelo de desenvolvimento surgido a partir de uma reestruturação do sistema
capitalista e cuja principal característica seria o compartilhamento de informações
processadas através da linguagem digital (CASTELLS, 1999). Argumentando no
mesmo diapasão, Hubert Dreyfus assinala que a internet é mais do que uma
inovação tecnológica, ela se constitui em um novo tipo de tecnologia, aquela que
nos leva a digitalizar e conectar toda a realidade que estiver ao nosso alcance
(DREYFUS, 2001).
Produto da segunda metade do século XX, a internet surge para o grande
público em finais da década de 1980. De acordo com Pierre Levy (2000), foi por
essa época que as grandes metrópoles e os campi americanos viram nascer "um
movimento sócio-cultural" que espontânea e imprevisivelmente "impôs um novo
curso ao desenvolvimento técnico-econômico" configurando a "infra-estrutura do
ciberespaço, novo espaço de sociabilidade, de organização, de transação, mas
também novo mercado da informação e do conhecimento" (LEVY, 2000, p.32). Nesta
perspectiva, a internet tem sido considerada como o grande marco da última
revolução assistida pela humanidade, a “revolução da informação” e para muitos
vem se constituindo como “o tecido de nossas vidas” (CASTELLS, 2003).
Comparada, em sua magnitude, as transformações operadas pela Revolução
Industrial, a revolução propiciada pela disseminação dos computadores pessoais e
da internet vem, de acordo com uma leitura quase que consensual, produzindo
profundas modificações que perpassam todas as esferas da vida do homem, indo
desde a organização política e econômica à organização do dia-a-dia e da
subjetividade. (ZAREMBA, 2006; NICOLACI-DA-COSTA, 1998, 2006)
A partir de meados da atual década surge uma nova categoria para assinalar
as mudanças que a internet traz para a vida social, a chamada web 2.0. De acordo
com Maness (2007), a noção “foi primeiro comunicada, conceitualizada e tornada
popular por Tim O’Reilley e Dale Dougherty (...) para descrever as tendências e
modelos de negócios que sobreviveram ao ‘crash’ do setor de tecnologia dos anos
90” (MANESS, 2007) e que tinham por característica comum o fato de serem
colaborativas. Surgem então as ferramentas da web 2.0 e a noção da web como
plataforma. Estas ferramentas facilitam a colaboração e a comunicação entre os
usuários, estimulam a participação e a criação de conteúdos, e possibilitam o
surgimento e a disseminação das redes sociais. Tais ferramentas vêm sendo
fortemente utilizadas por bibliotecários e por bibliotecas, particularmente as
bibliotecas e bibliotecários da América do Norte e da Europa Ocidental. Entretanto,
ao voltarmos o nosso olhar para as bibliotecas brasileiras, e no caso desta
comunicação, para as bibliotecas universitárias brasileiras, percebe-se uma tentativa
inicial de aproximação e de utilização destas ferramentas. É com o intuito de analisar
as formas através das quais as bibliotecas universitárias brasileiras vêm se
apropriando da chamada web 2.0 que esta pesquisa se realiza.
2.1 A web como plataforma
Em
um
dos
raros
artigos
encontrado
em
revistas
científicas
da
biblioteconomia brasileira que fazem menção à web 2.0 e à biblioteca 2.0, Ursula
Blattmann e Fabiano Silva (2007) afirmam que “a existência de uma organização
social denominada Sociedade da Informação coloca a Internet como um ambiente
para acessarmos, obtermos, organizarmos e usarmos dados e informações para
entender,
compartilhar,
produzir
e
disseminar
conhecimentos
e
saberes”
(BLATTMANN; SILVA, 2007). Nesta perspectiva, o ciberespaço surge não somente
como um “novo espaço de sociabilidade”, mas também como um dos principais
lócus para a busca e recuperação da informação, bem como para a construção do
conhecimento.
Um dos índices desta transformação é o lugar ocupado pelo “Google” em
nossa sociedade. Fazer uma pergunta ao “Google” quando temos uma necessidade
de informação, sendo ela de qualquer natureza, já se tornou uma prática comum
entre muitos daqueles que tem acesso à internet. De tal forma que na língua inglesa
se criou um novo “verbo” – googlar, que significaria procurar algo no Google. Dentre
tantos exemplos da utilização desse neologismo e da penetração dele entre
determinada parcela da sociedade é possível citar a cena de um filme que começou
a ser exibido nos cinemas cariocas em abril de 2009. Na referida cena – do filme
“Delírios de consumo de Becky Bloom” - uma das personagens ao ser perguntada
como havia conseguido uma determinada informação responde a seu interlocutor:
“Yes, I googled”, para afirmar que havia procurado o significado do termo no famoso
mecanismo de busca.
Situações como essa, com maior ou menor intensidade, acabam por afetar o
cotidiano das bibliotecas. Em um artigo em que reflete sobre a interação dos
usuários com o catálogo on-line do Pergamum, Carla Cristina Vieira de Oliveira
(2008) assinala que a partir das entrevistas que realizou com usuários do catálogo
on-line da UFMG foi possível constatar que mecanismos de buscas como o Google
e o Google acadêmico são constantemente utilizados por esses usuários quando
necessitam de alguma informação. Na mesma perspectiva, Michael Casey (2007),
inicia um artigo em que também se propõe a analisar o uso dos OPACs, assinalando
que ao invés de ter como home-page inicial de seu browser a página de alguma
biblioteca, ele prefere o Google. Segundo o autor,
Google é a minha homepage. Toda vez que eu inicio meu browser é
a página do Google que eu vejo. Isto não significa que toda a vez
que eu navego na internet eu faço uma busca no Google, em geral
não faço. Mas o Google tem feito algumas pequenas coisas que me
fazem sentir confortável em tê-lo como minha homepage inicial. Em
primeiro lugar, a pesquisa do Google é excelente (...). Além disso, a
página do Google é leve (...) ela carrega muito rápido e está sempre
on-line (...) . Infelizmente, eu não posso dizer o mesmo sobre muitas
(...) home-pages de bibliotecas que eu seriamente consideraria em
tê-las como minha página inicial (CASEY, 2007, p. 15).
A referência ao caso do Google aqui é utilizada no intuito de chamar a
atenção para o fato de que nos dias atuais, parte da vida social é construída e
acontece no interior e através do ciberespaço. E, em se tratando das práticas nas
quais as bibliotecas e bibliotecários estiveram envolvidos historicamente, a situação
não é diferente. Usuários buscando informações, bibliotecas construindo sítios na
web, Catálogos on-line, Blogs, Serviço de Referência Digital, Disseminação Seletiva
da Informação, enfim as bibliotecas, os bibliotecários e os usuários, potenciais ou
reais, destas bibliotecas têm feito diversas apropriações da web e de suas
ferramentas quanto às práticas de tratamento, organização, busca e recuperação da
informação.
Muitas destas apropriações e usos são qualificadas como sendo parte da web
2.0. Web 2.0 é o termo que vem sendo utilizado para conceituar e apontar as
profundas mudanças que a web traz para a vida social (BLACK, 2007). Conforme já
vimos, ao falar de web 2.0, a referência é menos aos possíveis aprimoramentos
tecnológicos, do que a uma atitude. Realiza-se uma espécie de bricolage de alguns
dispositivos tecnológicos com uma postura de colaboração e participação. Elizabeth
Black (2007) assinala que Tim O’Reilly vai descrever a “web 2.0 como um conjunto
de sete princípios ou práticas que funcionam como um núcleo gravitacional (BLACK,
2007, p.2)” Blattmann e Silva (2007) analisando os sete princípios de O’Reilly dão
destaque a três destes, que recupero aqui, pois sinalizam na direção de algumas
das principais transformações operadas pela mudança de mentalidade nas formas
de apropriação e uso da web:
a) - A internet como plataforma para processar, produzir ou consumir
informação, onde um computador conectado a ela é ferramenta
básica e principal de trabalho. b) Permite que usuários comuns, que
até então não possuíam conhecimentos necessários para publicar
conteúdo na Internet – pela ausência de ferramentas de uso
simplificado - publicassem e consumissem informação de forma
rápida e constante. Notadamente têm-se os blogs e wikis como
expoentes desta massificação. c) Valorização do conteúdo
colaborativo e da inteligência coletiva: o conteúdo deve ser produzido
e consumido por qualquer um, de forma simples e direta
(BLATTMANN; SIlVA, 2007, p.200).
Os mesmos autores também assinalam que:
A web 2.0 pode ser considerada uma nova concepção, pois passa
agora a ser descentralizada e na qual o sujeito torna-se um ser ativo
e participante sobre a criação, seleção e troca de conteúdo postado
em um determinado site por meio de plataformas abertas. Nesses
ambientes, os arquivos ficam disponíveis on-line, e podem ser
acessados em qualquer lugar e momento, ou seja, não existe a
necessidade de gravar em um determinado computador os registros
de uma produção ou alteração na estrutura de um texto. As
alterações são realizadas automaticamente na própria web
(BLATTMANN; SILVA, 2007, p.198).
No interior deste quadro é possível identificar o surgimento de um conjunto de
ferramentas que favorecem a utilização da web como plataforma. Estas ferramentas
facilitam a colaboração e a comunicação entre os usuários, estimulam a participação
e a criação de conteúdos, e possibilitam o surgimento e a disseminação das redes
sociais. Tais ferramentas vêm sendo paulatinamente utilizadas por bibliotecários e
por bibliotecas, particularmente as bibliotecas e bibliotecários da América do Norte e
da Europa Ocidental. Autores como os já citados Elizabeth Black, Michael Casey e
Jack Maness não somente vêm realizando estudos no âmbito da literatura técnicocientífica da biblioteconomia, como também atuam na biblioblogoesfera. Em muitos
destes estudos ou postagens, estes autores investigam a utilização das referidas
ferramentas por parte das bibliotecas. Blogs, Wikis, programas de chats, aplicativos
multimídias, são algumas destas ferramentas.
Entretanto, ao voltarmos o nosso olhar para as bibliotecas brasileiras e para
os diversos atores a ela relacionados, a situação se apresenta de forma distinta,
apesar da suposta desterritorialização e quebra de fronteiras promovidas pela
internet. No que diz respeito a produção acadêmica sobre o tema, se estabelecemos
uma comparação com a produção científica em língua inglesa, poucos são os
trabalhos encontrados. O mesmo ocorre quanto à presença das bibliotecas
brasileiras na web. A noção da web como plataforma e as ferramentas da web 2.0
têm surgido, nos últimos três anos, como a grande novidade para bibliotecas e
bibliotecários que, aos poucos, se aproximam e se apropriam destas ferramentas.
Nesta perspectiva, a pergunta sobre como tem sido a apropriação que as bibliotecas
universitárias no Brasil vêm fazendo destas ferramentas surge como um índice
importante para pensar a relação entre estas, seus usuários e as tecnologias.
4 Bibliotecas Universitárias: é possível falar em uma Biblioteca 2.0?
Conforme já colocado, a web 2.0 e suas ferramentas são temas relativamente
novos, e em se tratando do uso e apropriação dessas ferramentas por parte das
bibliotecas, as reflexões ainda são escassas, particularmente na literatura brasileira.
Assim, para efeitos da análise aqui realizada, a opção foi tomar por base um texto
de autoria de Jack Maness, publicado originalmente em língua inglesa no ano de
2005 e traduzido para o português em 2007. (MANESS, 2007). No referido texto, o
autor arrola algumas das ferramentas e/ou tecnologias chamadas de web 2.0,
descrevendo possíveis usos pelas bibliotecas e outras unidades de informação. Para
Mannes, tais ferramentas são reunidas em sete grupos, a saber: mensagens
síncronas, streaming media, blogs e wikis, redes sociais, tagging, Rss/feeds e
Mashups. Desses, utilizaremos os quatro primeiros.
Como primeira etapa do movimento de aproximação com o objeto de estudo,
antes de iniciarmos uma reflexão sobre as formas de apropriação das referidas
ferramentas por parte das bibliotecas universitárias, faz-se necessário um
mapeamento desses usos. As bibliotecas universitárias brasileiras vêm utilizando
tais ferramentas? Que bibliotecas as utilizam? Quais ferramentas são utilizadas?
São as primeiras questões que foram aqui formuladas.
No Brasil, conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Anísio Teixeira (INEP) (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS
ANÍSIO TEIXEIRA, 2009) relativos ao ano de 2008, temos um total de 183
universidades, sendo 97 instituições públicas e 86 de caráter privado. Apesar de o
Censo da Educação Superior incluir faculdades, centros de universitários e institutos
tecnológicos(i) em sua análise, optamos por investigar as bibliotecas das
universidades.
Os dados do Censo estão subdivididos por região geográfica. Dessa forma, o
mapa das universidades brasileiras aponta: Região Norte, 13 universidades; Região
Nordeste, 35 universidades; Sudeste, 80 universidades; Sul, 41 universidades;
Centro-oeste, 14 universidades. Não é objetivo desta comunicação a análise sobre a
distribuição das oportunidades educacionais no país, mas a simples visada nos
dados apresentados pelo Censo mostra um desequilíbrio quanto ao número de
universidades por região, confirmando que as regiões sudeste e sul são aquelas que
concentram o maior número de universidades. Assim, nesse primeiro momento da
investigação concentramos nossa atenção nas bibliotecas das universidades
localizadas na região sudeste, iniciando pelas universidades públicas situadas no
Estado do Rio de Janeiro, no total de seis. A escolha metodológica se deu em
virtude da necessidade de realização de um recorte, dessa forma a opção foi seguir
a classificação elaborada pelo MEC no já citado Censo (ii).
4.1 Bibliotecas universitárias e ferramentas web 2.0: um passeio nas
universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro
Atualmente o Estado do Rio de Janeiro possui seis universidades públicas,
sendo quatro federais e duas estaduais. Das seis, três delas estão localizadas na
capital – a UFRJ, a UNIRIO e a UERJ e outras três, no interior do estado – UFRRJ,
UFF e UENF. As seis universidades se fazem presentes no ciberespaço, mantendo
ambientes (portais, home-pages, blogs) que em geral, tem por objetivo a
comunicação
com
a
sociedade
mais
ampla,
veiculando
as
informações
institucionais. Nas seis universidades foi possível encontrar algum espaço relativo às
bibliotecas na página principal da universidade. Antes de apresentarmos o resultado
do mapeamento realizado, é importante fazer um breve relato sobre os ambientes
virtuais de cada uma das bibliotecas universitárias aqui analisadas:
- UFRJ – A partir da página inicial da universidade é possível encontrar
informações sobre o Sistema de Bibliotecas e Informação SIBI/UFRJ e também um
link para a página do SIBI. Ainda na página inicial encontramos a informação de que
o SIBI/UFRJ é composto por quarenta e três bibliotecas, entretanto a partir da
página do SIBI/UFRJ só é possível chegar até 27 dessas bibliotecas, incluindo a
página principal do SIBI/UFRJ. No caso da Bibliotecas da UFRJ, o SIBI possui uma
página, que remete para as páginas das bibliotecas que fazem parte do sistema.
- UERJ – Na página inicial da universidade encontra-se um link para a página
da Rede Sirius de Bibliotecas, onde encontramos a informação de que a Rede é
composta por vinte e uma bibliotecas. Diferente do que ocorre na UFRJ, na página
inicial da Rede Sírius encontramos apenas informações sobre as referidas
bibliotecas setoriais, sem nenhum link ou informação sobre possíveis páginas
próprias das bibliotecas setoriais.
- UNIRIO – Também é possível chegar, a partir da página inicial da
universidade, à página da biblioteca. Nesta encontramos a informação de que o
Sistema de Bibliotecas da UNIRIO é composto de uma Biblioteca Central e de oito
bibliotecas setoriais. Na página temos apenas as informações sobre as referidas
setoriais, também sem nenhum link ou informação sobre possíveis páginas próprias
das bibliotecas setoriais.
- UFF – Na página principal há um link para bibliotecas, que remete para a
página do NDC – Núcleo de Documentação. Nesta, encontramos informações sobre
as bibliotecas que compõem o sistema, entretanto não constam informações sobre o
número total de bibliotecas que fazem parte do NDC. Na referida página temos
informações sobre 22 bibliotecas
- UFRRJ – Na página inicial da Universidade há um link que nos leva para a
página da Biblioteca Central. Pelas informações constantes da referida página, não
existem outras bibliotecas na universidade.
- UENF – Na página inicial há um link – Bibliotecas – que leva o usuário para
a página de consulta on-line das bibliotecas. Nesta, constam informações sobre as
sete bibliotecas da UENF, sendo que em algumas (cinco) consta um link para a
página da biblioteca.
A partir do referido mapeamento constata-se que em relação às seis
universidades públicas localizadas no Estado do Rio de Janeiro é possível encontrar
presentes
no ciberespaço, de alguma forma,
oitenta
e
nove bibliotecas
universitárias. Vejamos então, de que forma essas bibliotecas universitárias marcam
a sua presença no ciberespaço e principalmente, se estão utilizando as ferramentas
da web 2.0. Para tal, conforme já colocado, utilizaremos na análise a classificação
elaborada por Maness (2007).
4.1.1 Mensagens Síncronas
De acordo com Maness (2007, p. 45),
Esta tecnologia já tem sido abraçada bem rapidamente pela
comunidade da biblioteca. Mais amplamente conhecida como
mensagens instantâneas (MI), ela permite comunicação textual em
tempo real entre indivíduos. As bibliotecas começam a empregá-la
para prover serviços de “referência por chat”, onde os usuários
podem se comunicar sincronamente com bibliotecários assim como
eles fariam em um contexto de referência face-a-face.
Em 2007 (MANESS, 2007), o autor já assinalava que a utilização de
programas de chats e de mensagens instantâneas (MSN, GtalK) se apresentavam
como uma realidade para as bibliotecas norte-americanas e européias. Porém, para
o caso do universo aqui investigado, o quadro parece ter algumas nuances.
Vejamos:
- De todas as páginas das bibliotecas visitadas em apenas duas foi possível
encontrar a utilização desse tipo de serviço: A página da Biblioteca do Centro de
Tecnologia da UFRJ e a do NDC da UFF.
- A Biblioteca do Centro de Tecnologia da UFRJ disponibiliza um serviço
intitulado de “Fale com a Bibliotecária”, em que é possível, através de um chat entrar
em contato com a equipe da biblioteca.
- Ambas fazem uso de programas de mensagens instantâneas – Gtalk e/ou
MSN.
4.1.2 – Streaming Media
O Streaming Media é a utilização de aplicativos de áudio e vídeo na página da
biblioteca. Conforme colocado por Maness (2007), muitas bibliotecas têm utilizado
tal tecnologia para disponibilização de tutorias em seus ambientes virtuais. Para o
caso do mapeamento aqui realizado:
- Das páginas visitadas, quatro utilizam vídeos – SIBI/UFRJ, Biblioteca do
Centro de Informações Européias – UFRJ, Biblioteca do CTC/UFRJ, Biblioteca do
Fórum de Ciência e Cultura/UFRJ.
- Duas delas possuem apresentação de fotos - Biblioteca do Fórum de
Ciência e Cultura/UFRJ e Rede Sírius de bibliotecas (UERJ).
- Uma biblioteca - Biblioteca do CTC/UFRJ – disponibiliza tutoriais.
4.1.3 Blogs e Wikis.
Dentre as ferramentas web 2.0 Maness (2007) destaca os blogs e as wikis
como sendo “fundamentalmente web 2.0”. Para o autor a proliferação global destes
tem grandes implicações para as bibliotecas. No caso das bibliotecas aqui em
análise, os blogs e wikis parecem ainda não fazer parte do cotidiano destas. Nas
páginas das bibliotecas visitadas encontramos links para blogs das referidas
bibliotecas em apenas duas: Biblioteca da Faculdade de Direito da UFRJ e Rede
Sírius de Bibliotecas (UERJ).
4.1.4 Redes Sociais na Internet
Para o autor, “redes sociais são talvez a mais promissora e amigável
tecnologia discutida”(MANESS, 2007) em seu texto, pois permitem a utilização
várias das ferramentas 2.0, como “mensagens instantâneas, blogs, streaming media,
e tags” (MANESS, 2007). Dentre tais redes é possível citar: Orkut, Facebook, Flickr,
Delicious, twitter, Librarything, dentre outras. Para o caso aqui em análise, uma vez
mais constatamos a pouca utilização destas ferramentas pelas bibliotecas. Em
apenas duas é possível encontrar links para redes sociais – Facebook e twitter,
Biblioteca do Centro de Tecnologia da UFRJ e Twitter, Biblioteca da Escola Nacional
de Química da UFRJ.
5 Conclusão
A comunicação aqui apresentada se constitui de uma análise preliminar das
primeiras atividades ligadas a um projeto de pesquisa que teve início em abril do
corrente ano sobre os usos e apropriações que bibliotecas vêm fazendo da chamada
web 2.0. Vale ressaltar que o objetivo foi o de promover uma aproximação com o
“campo” a ser estudado e que a partir do mapeamento aqui realizado novas tarefas
se colocam. Em primeiro lugar, a realização de um aprofundamento da reflexão em
torno do quadro oriundo do referido mapeamento. Pelo quadro apresentado, a web
2.0 ainda parece ser um “objeto distante” da grande maioria das bibliotecas aqui
analisadas, o que nos faz colocar algumas questões: Por quê? Por que será que em
um país cuja aderência as redes sociais on-line, como por exemplo, twitter e Orkut, é
altíssima, as bibliotecas universitárias não se fazem presentes? Responder a tais
questionamentos requer um aprofundamento, tendo em vista que o “desenho”
parece não ser tão simples. Em alguns casos, foi possível encontrar blogs ou twitter
de algumas das bibliotecas que aqui foram analisadas, entretanto, a informação
sobre tais ferramentas não constavam das páginas oficiais das referidas bibliotecas
ou dos Sistemas do qual fazem parte. Estas e outras questões se colocam como
estímulos para a continuidade do debate.
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informação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2006. p. 209-228.
i
No relatório do INEP são arroladas também os centros universitários, as faculdades e os institutos federais de
educação tecnológica, totalizando 2252 instituições de ensino superior no país.
ii
Em momento posterior da investigação serão analisadas também as bibliotecas das universidades particulares,
bem como, as das outras regiões do país.
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