A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR

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A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO A PARTIR DA
TEORIA PSICANALÍTICA: UM ESTUDO REALIZADO NA ESCOLA
PEDRO DE FRANÇA REIS
NOGUEIRA, Ruth Kesia Silva1 - UNEAL
BARBOSA, Amanda Magalhães2 - UNEAL
ZACARIAS, Jaqueline da Cruz3 - UNEAL
MEDEIROS, Kesia Natália4 - UNEAL
BALBINO, Elizete Santos5 - UNEAL
Grupo de Trabalho Educação da infância
Agência Financiadora: PIBID/CAPES
Resumo
Na escola contemporânea o professor depara-se frequentemente com o desafio de administrar
várias situações de conflitos que ocorrem na sala de aula. Diante dessas situações presentes no
contexto escolar a psicanálise surge como uma teoria que pode contribuir, através do estudo
da afetividade, para a compreensão das relações que se estabelecem entre professores e
alunos. Nesse sentido, essa pesquisa apresenta a seguinte problemática: Como acontece a
afetividade na relação professor-aluno a partir da teoria psicanalítica? Partindo dessa
problemática, o objetivo da pesquisa em pauta é investigar a afetividade na relação professoraluno segundo os professores de uma escola da rede pública estadual do município de
Arapiraca a partir da teoria psicanalítica. Trata-se de um estudo bibliográfico e de campo,
com uma abordagem de natureza qualitativa, pois possibilita um estudo amplo e peculiar de
todos os sujeitos envolvidos na pesquisa. Como instrumentos de coleta de dados foram
utilizados questionários cujos sujeitos foram três professoras dos anos iniciais do ensino
fundamental da Escola Estadual Professor Pedro de França Reis, localizada na cidade de
1
Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência. E-mail: [email protected]
2
Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência. E-mail: [email protected]
3
Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência E-mail: [email protected]
4
Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência. E-mail: [email protected]
5
Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas. Professora Assistente do Curso de
Pedagogia da Universidade Estadual de Alagoas e da Faculdade de Ensino Regional Alternativa. Coordenadora
Institucional do Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores- LIFE/CAPES. Técnica Pedagógica da
5ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado de Alagoas. E-mail: [email protected]
25047
Arapiraca – AL. Para fundamentar a pesquisa utilizamos os seguintes autores: Almeida
(1997), Andrade (2004), Franco e Albuquerque (2010), Kupfer (1989), Mrech (2003), Muller
(2002), e Saltini (1999) dentre outros. Com os resultados esperamos compreender, a luz da
teoria psicanalítica, as interações afetivas estabelecidas entre professores e alunos e, ainda,
como estas interferem na ação pedagógica, considerando que o fator afetivo é muito
importante para o desenvolvimento e a construção do saber para a criança e que através da
afetividade o aluno se desenvolve, aprende e constrói mais conhecimento, além do saber do
inconsciente que merece uma atenção pedagógica mais aprofundada por parte dos educadores.
Com esse estudo, esperamos também contribuir para uma educação que considere a
afetividade como um elemento importante no processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Afetividade. Professor-Aluno. Psicanálise.
Introdução
Vivemos uma época em que os valores se perdem e o respeito se torna cada vez mais
ausente na sala de aula gerando conflitos preocupantes envolvendo professores e alunos.
Partindo desse princípio, consideramos relevante o estudo sobre os vínculos afetivos que se
estabelecem entre professores e alunos, utilizando como principal referência a teoria
psicanalítica, pois compreende a relação afetiva entre professores e alunos como uma
ferramenta importante quando utilizada no intuito de favorecer o processo de ensinoaprendizagem.
Assim considerando, o objetivo dessa pesquisa é investigar a afetividade na relação
professor-aluno segundo os professores de uma escola da rede pública estadual do município
de Arapiraca a partir da teoria psicanalítica.
Para fundamentar a pesquisa utilizamos os seguintes autores: Almeida (1997),
Andrade (2004), Franco e Albuquerque (2010), Kupfer (1989), Mrech (2003), Muller (2002),
e Saltini (1999), dentre outros.
Para alcançarmos o objetivo proposto, fizemos uso de uma metodologia baseada em
uma pesquisa bibliográfica e de campo, com uma abordagem de natureza qualitativa. Como
instrumentos de coleta de dados utilizamos um questionário que foi aplicado a três
professoras dos anos iniciais do ensino fundamental da Escola Estadual Professor Pedro de
França Reis, localizada na cidade de Arapiraca – AL.
Na organização dessa pesquisa, abordamos inicialmente a transferência na relação
professor–aluno e o desejo inconsciente de aprender; em seguida, a ênfase é sobre o afeto na
relação professor-aluno, uma vez que o afeto é considerado como fio condutor de uma relação
positiva, e, tudo que é dito pelo professor torna-se valioso para a criança. Se for estabelecida
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uma relação afetiva entre eles e, por fim, apresentamos nas considerações finais a importância
da interlocução entre a psicanálise e a aprendizagem escolar.
A transferência na relação professor–aluno e o desejo inconsciente de aprender
A psicanálise criada por Sigmund Freud na transição entre os séculos XIX e XX pode
ser definida como um método de investigação do inconsciente. Para Shirahige e Higa (2004,
p. 13),
A expressão Psicanálise designa uma ciência, uma área de conhecimento, uma
escola psicológica que busca penetrar na dimensão profunda do psiquismo humano
para conhecê-lo. Enquanto ciência possui um método, um conjunto de
procedimentos para o estudo dos fenômenos humanos.
A transferência é um dos conceitos utilizados pelos psicanalistas e que consiste na
atualização de desejos inconscientes originalmente experimentados, nas primeiras relações,
geralmente com pais, e outros membros da família. Além disso, a transferência pode
estabelecer-se em outros contextos intersubjetivos: a relação professor-aluno – por sua
proximidade histórica com as primeiras relações, pela duração do processo de ensinoaprendizagem que vai da infância até a fase adulta e pela função de transmissão do
conhecimento de que são investidos a instituição escolar e os educadores (ANDRADE, 2004).
Com base nisso podemos dizer que a transferência é um termo atualmente utilizado
em muitos campos e mostra uma ideia de transporte. A transferência é também um fenômeno
que pode ocorrer com qualquer pessoa em quase todas as relações humanas e acabou sendo
utilizada na educação, especificamente na relação professor-aluno.
Ao referir-se ao termo transferência Lagache (1990, p.18), afirma que,
Em sentido lato, a transferência, cuja origem é inconsciente, designa o conjunto das
manifestações afetivas da criança, nomeadamente em relação ao docente, sob a
forma afetuosa ou hostil, em outros termos, sob a forma de transferência positiva ou
negativa. Na situação educativa, o aluno transfere para o docente algumas
experiências vividas com os pais e reaviva por intermédio da pessoa destes
sentimentos experimentados anteriormente ou então simultaneamente porque
convém não esquecer o tipo de relação com os pais que a criança conhece ao mesmo
tempo. Por vezes, a transferência traduz a procura de uma satisfação mantidas em
suspenso e que exige ser alcançada.
Já Kupfer (1989, p.88), ao falar da transferência na relação professor-aluno, diz que:
“Freud chega a afirmar que ela está presente também na relação professor–aluno. Para ele,
trata-se de um fenômeno que permeia qualquer relação humana [...]”.
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Sendo assim, a transferência ocorre com todos os sujeitos, partindo do desejo
reprimido à uma lembrança ou experiência vivida no passado. A transferência que ocorre na
relação professor–aluno é despertada por um desejo, é por isso que o aluno atribui ao
professor algo especial, o que determina o seu desejo. O professor é depositário de algo que
foi lhe direcionado pelo desejo do aluno. Nessa relação de transferência Kupfer (1989, p. 92),
afirma,
[...] O analista ou o professor, colhidos pela transferência, não são exteriores ao
inconsciente do sujeito, mas o que quer que digam será executado a partir desse
lugar onde estão colocados. Sua fala deixa de ser inteiramente objetiva, mas que
ocupa no inconsciente do sujeito.
Quando o aluno encontra-se revestido por esta transferência ele é marcado no seu
percurso intelectual por seu professor, não esquecendo que é o próprio desejo que torna o seu
professor excelente. A transferência não é apenas uma repetição do passado, consiste em um
papel dado ao professor pelo aluno onde ele cria um cenário na sua imaginação, é a sua
própria verdade.
É dessa relação que o aluno desperta inúmeras capacidades, desde referentes ao
conhecimento até principalmente potencialidade de vivência como ser social. Almeida (1997
p.131) sustenta que: ‘‘ [...] Feita a transferência, o professor assume, do ponto de vista afetivo,
um poder de influir no seu aluno, [...]”. O aluno encontra no professor o seu amparo, é a partir
daí que a transferência será colocada em prática, a admiração, o desejo, o afeto que o aluno
tem para com o professor se passa através da transferência.
Assim, um professor torna-se a figura a quem serão endereçados os interesses de seu
aluno porque é objeto de uma transferência. E o que transfere são as experiências vividas
primitivamente com os pais (KUPFER, 1989).
Podemos entender que o aluno irá transferir seus sentimentos para o professor, que
além de educador torna-se um refúgio desse aluno, alguém em que ele confia, e espera que o
professor seja capaz de auxiliá-lo, o que onde muitas vezes não será uma tarefa fácil. Franco e
Albuquerque (2010 p.11) esclarecem que: “A capacidade para ensinar, assim como a
capacidade para aprender, é uma situação particular da aptidão para "amar e trabalhar", que
Freud usa como definição de saúde mental”.
A relação educativa é entendida como relação de amor: a criança deseja aprender pelo
seu desejo de ser aceita, recompensada e reconhecida como bom aluno. Desse modo, Andrade
(2004), reconhece que a transformação do saber desejar em desejar saber não se dá sem que
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haja uma sustentação relacional, na qual transitam afetos, imagens, modelos, representações e
que o mais importante processo intersubjetivo que organiza inconscientemente as relações de
ensino–aprendizagem é a transferência.
Entre todos os acontecimentos que fazem parte da relação professor-aluno não
podemos deixar de falar sobre o processo de ensino-aprendizagem, no qual estudos feitos por
Freud mostraram que à medida que a criança aprende a desejar ela começa a querer saber.
Isso acontece quando a mesma percebe as diferenças anatômicas existentes entre os meninos e
as meninas.
Para Andrade (2004), num primeiro momento, então, o desejo de saber é uma extensão
do saber desejar, pois à medida que deseja, a criança quer saber sobre as condições em que
está envolto seu desejo, as origens dele, seu destino. A curiosidade, diretamente atrelada ao
sexual da infância, tanto desperta o complexo de Édipo6 quanto o complexo de castração7.
Seguindo a linha de pensamento de Andrade (2004, p.93) “[...] a curiosidade sexual
[...] torna-se, no final desse processo, curiosidade intelectual: como ler e escrever, como
realizar operações lógico-matemáticas, como apreciar e produzir artes etc”.
E quanto aos professores? O que os impulsionam a querer ensinar? Como se dá a
relação dos alunos, com todos os seus desejos inconscientes, com os professores nesse
processo de aprendizagem? Frente a estas indagações, podemos ainda, a luz das ideias de
Andrade (2004, p.93), acrescentar que,
[...] os educadores são também movidos por seus desejos inconscientes que os
vinculam, desde há muito, aos muitos aspectos do saber que ensinam, assim como
aos alunos – que lhes garantem o lugar daqueles que sabem e que, numa situação
ideal, são objetos do desejo pedagógico de que venham também a saber, pelo
aprendizado. [...] é a aliança entre o desejo de aprender do aluno e o desejo de
ensinar do professor que inconscientemente provê a relação professor-aluno de
impulsos que funcionarão como motivadores da aprendizagem.
6
O nome complexo de Édipo origina-se na tragédia grega Édipo – rei, escrita por Sófocles. Trata-se de uma
relação de amor que tem como objeto o progenitor do sexo oposto – mãe, no caso do menino; pai, no caso da
menina – e impulsos de rivalidade e ciúme do progenitor do mesmo sexo (SHIRAHIGE e HIGA, 2004).
7
No desenvolvimento do Complexo de Édipo, o desejo sexual do menino pela mãe e sua rivalidade com o pai
geram ressentimentos em relação à figura paterna. Dessa situação, origina-se no menino o temor de que,
enciumado, o pai possa puni-lo, castrando-o. Renuncia então aos seus desejos eróticos pela mãe, identificando-se
com o pai, antigo rival. A esse choque afetivo, o temor à castração, denomina-se complexo de castração. Tratase, na realidade, de um sistema inconsciente de emoções relacionadas ao valor simbólico do falo (SHIRAHIGE e
HIGA, 2004).
25051
O afeto na relação professor-aluno
A ênfase no estudo da afetividade é antiga e muitos teóricos da Psicologia reconhecem
a importância do afeto nas relações que são estabelecidas entre os alunos e seus professores,
quando estes são inseridos na prática pedagógica. Essa importância somada à necessidade de
entendermos como o afeto pode contribuir para a aprendizagem escolar nos leva à
necessidade de definirmos a afetividade.
Assim, podemos conceituar a afetividade como um conjunto dos fenômenos psíquicos
que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da
impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria
ou tristeza (DIAS e MARCHELLI, 2008).
Para Kieckhoefe (2011, p.04),
[...] a afetividade pode ser conceituada como algo diretamente ligada ao domínio das
emoções e dos sentimentos que estão envolvidos nestas emoções, e, principalmente,
da maneira como nos relacionamos com estes sentimentos, isto quando se refere ao
convívio humano e a forma como estes se expressam.
O afeto é, portanto, de acordo Mota (2007) parte integrante da nossa constituição
psíquica e não somente a cognição e a consciência devem ser importantes no ato educativo,
mas o afeto e o inconsciente também. O professor tem um papel privilegiado neste cenário e
pode conduzir as emoções tanto para a construção do conhecimento quanto para o seu
bloqueio.
Desta forma, a escola se constitui em um espaço onde se encontram dois sujeitos, o
professor e o aluno, ambos imbuídos, segundo a teoria psicanalítica, de desejos e da
necessidade de afeto que é inerente ao ser humano. Desejo e afeto são elementos que
convergem quando procuramos compreender os sentimentos que perpassam a relação
professor-aluno. Saltini (1999, p. 87), mostra que,
[...] o educador serve de continente para a criança. Poderíamos dizer, portanto, que o
continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde
elas tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim onde elas são acolhidas e
valorizadas [...]. A criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ainda para
que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado. O papel do
professor é específico e diferenciado do das crianças. Ele prepara e organiza o micro
universo onde as crianças buscam e se interessam.
É função do professor observar, pesquisar e comunicar-se bem com sua turma, não é
preciso ter um manual com instruções, é necessário nessa relação, usar conteúdos
25052
educacionais de acordo com a necessidade e o interesse que a criança apresentar, nesta hora
ela encontra-se carente, precisando da singularidade, é o professor quem identifica esse
momento. Franco e Albuquerque (2010 p.11) enfatizam,
A criança identifica-se com o professor nos seus objetivos e necessidades, ao mesmo
tempo em que o professor precisa de se identificar com a criança e com a sua tarefa.
Este é o primeiro passo do ser professor. Os passos seguintes consistem em
transformar o "trabalho para o amor" em "amor pelo trabalho".
O professor deve preparar o caminho para uma relação baseada no respeito e no afeto,
diante disso, cabe ao professor saber lidar com o que a criança espera dele, elogiando e
motivando. O professor com seus conhecimentos e valores torna-se referência para o aluno e é
aí que a relação afetiva se concretiza de forma positiva.
De acordo com Mrech (2003) a criança quando chega à escola não tem o seu
pensamento ainda estabelecido como pode acreditar o professor. Ela traz apenas o
pensamento, o saber através do qual foi olhada no seu meio ambiente originário.
Na perspectiva da psicanálise, a relação professor-aluno vai além dos conteúdos
transmitidos na sala de aula, permeia a área afetiva e envolve o desejo e a curiosidade de
aprender. De modo que: “o aspecto afetividade influi no processo de aprendizagem e o
facilita”. (MÜLLER, 2002, p. 276). A compreensão e a afetividade devem sempre existir,
então o próprio autor reafirma que quando a afetividade permeia essa relação educativa o
aprendizado é mais prazeroso, já que o aluno passa a aprender com vontade, mais rápido e
com êxito.
Nesse processo que envolve situações de ensino e aprendizagem, a relação professor–
aluno implica uma interação humana que não é imóvel, que se movimenta, que continuamente
transforma, na qual as manifestações do aprender e da afetividade são características
constantes e importantes que podem refletir tanto o êxito quanto o fracasso do aluno e
também do professor. Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, da
amizade, do companheirismo e do diálogo estabelecido entre o professor e o aluno, da relação
empática entre ambos (KIECKHOEFE, 2011).
Procedimentos metodológicos
Para realizarmos esse trabalho, foi feito um estudo bibliográfico e de campo. Para
Marconi e Lakatos (2002), o estudo bibliográfico abrange toda bibliografia já tornada pública
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em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc. Assim, representa o reconhecimento
do assunto, a indexação de artigos de periódicos de livros. Já a pesquisa de campo é aquela
utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um
problema para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese que se queira comprovar,
ou ainda descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.
Esta pesquisa foi realizada utilizando uma abordagem de natureza qualitativa e os
dados foram coletados através de um questionário. Na pesquisa qualitativa a análise é dirigida
para os casos concretos em suas peculiaridades locais e temporais, partindo das expressões e
atividades das pessoas em seus contextos locais (FLICK, 2009). Com isso, esperamos
conhecer como ocorre a relação afetiva entre professores e alunos.
Gil (2002, p.128) define o questionário “como a técnica de investigação composta por
um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por
objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações
vivenciadas etc”.
A pesquisa foi realizada na Escola Estadual Professor Pedro de França Reis, localizada
na cidade de Arapiraca-AL. Participaram desse estudo três professoras que lecionam nos anos
iniciais do ensino fundamental da referida Escola.
Após a coleta de dados, buscamos fazer uma análise que ultrapassasse a mera
descrição dos dados, com o objetivo de confrontar os estudos obtidos através da literatura e os
depoimentos dos participantes que apontem para explicações e contribuições sobre
afetividade na relação professor-aluno na perspectiva da teoria psicanalítica de Sigmund
Freud.
Resultados e discussões
Os dados coletados na Escola Estadual Professor Pedro de França Reis, provenientes
do questionário aplicado a três professoras aqui denominadas de Bruna, Carla e Fernanda,
serão analisados e discutidos, com base no objetivo que foi elaborado para esta pesquisa e de
acordo com as seguintes categorias: Concepção dos professores sobre a afetividade na relação
professor-aluno; Como ocorre a afetividade na relação professor aluno; e A contribuição da
afetividade no processo de ensino aprendizagem.
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Quando questionadas a respeito da concepção da afetividade na relação professoraluno, que foi a primeira categoria investigada, os depoimentos foram os seguintes:
A afetividade torna-se importante para estabelecer uma relação de companheirismo
para desempenhar um trabalho considerável para ambas as partes (BRUNA, 2013).
É importante você ter um envolvimento sobre a realidade de cada aluno, tem
professor que às vezes direciona a atenção apenas para um e esquece os demais. Eu
tenho um aluno muito problemático e no primeiro dia de aula eu me aproximei dele
e toquei em seu ombro, [...] ele percebeu que eu tinha afeto por ele e [...] hoje
percebo que ele melhorou um pouco. É importante o professor dar essa segurança ao
aluno (CARLA, 2013).
Nos dias atuais as pessoas vivem num verdadeiro corre-corre, isso faz com que o
contato familiar se torne cada vez mais remoto, muitas vezes os pais só veem seus
filhos dormindo, restando apenas os finais de semana para a troca de afetividade.
Isso faz com que cada vez mai na escola os alunos precisem se sentir seguros e
acolhidos. Cabe ao professor criar um elo de afetividade na perspectiva do respeito e
confiança que venha contribuir para o desenvolvimento integral do aluno
(FERNANDA, 2013).
Com esses depoimentos, percebemos o quanto a afetividade na relação professoraluno é importante no ambiente escolar, principalmente nos dias atuais, em que onde algumas
famílias por uma série de razões deixam de estabelecer relações de afeto com seus filhos.
Desse modo, Mota (2007, p.110) acredita que a teoria psicanalítica pode,
[...] ajudar o professor a descobrir novas formas de escutar o aluno como sujeito,
pois por mais que o aluno seja produto cultural, familiar e institucional, é sujeito,
que deseja e quer ter sua vida nas próprias mãos e ser responsável por ela. Portanto,
o educador precisa acolhê-lo e reconhecê-lo com tal.
A afetividade presente na relação professor–aluno ocorre, segundo as professoras, de
forma natural e às vezes pela carência afetiva que alguns alunos apresentam e que tem sua
origem nas relações familiares. Um depoimento que nos chamou a atenção foi o seguinte:
[...] tive um aluno no 1º ano do ensino fundamental que já na terceira semana de aula
ainda chorava e se negava a entrar na sala de aula, porém nos intervalos eu
observava que ele brincava, dançava e interagia com os colegas normalmente,
resolvi então realizar uma dinâmica, onde juntamente com eles brinquei, pulei,
corri, etc. Nesse mesmo dia, antes de ir para casa, me despedi dele como
ele fazia com os amigos, bati em sua mão e fiz sinal de legal, daí por diante
ganhei um aluno e um amigo (FERNANDA, 2013).
Com a autoestima fortalecida o aluno passa a ter confiança em si mesmo e no outro,
desta forma a criança melhora sua relação com outras pessoas. Na sala de aula, deve haver
interação, pois a criança aprende com o outro, e o educador é o grande responsável para que
25055
isto aconteça. A criança tem admiração pelo professor e a tendência será imitá-lo, o que
aumenta a responsabilidade do educador em suas ações (GOBETI e TAVARES, 2010).
Quando mencionamos a contribuição da afetividade no processo de ensino
aprendizagem, compreendemos, através do que foi relatado pelas professoras, que a
afetividade é um aspecto importante e que esta se estabelece primeiro com a família e
posteriormente com a escola na figura do professor. Vejamos outros relatos:
É essencial que se estabeleça entre o professor e o aluno um vínculo afetivo, pois
por meio da afetividade o aluno vai gostar dos assuntos que serão ministrados,
passando a interagir com o professor e com seus colegas e, consequentemente, a
aprendizagem torna-se mais fácil (CARLA, 2013).
Essa contribuição acontece quando o aluno demonstra sentir prazer em ouvir,
participar e realizar com vontade e interesse as atividades propostas pelo professor.
Por outro lado, quando exercemos a nossa função com amor e prazer a tendência é
que o aluno sinta-se motivado a aprender e é isso que busca os professores
comprometidos com a aprendizagem dos seus alunos (FERNANDA, 2013).
Face ao que foi exposto pelas professoras que participaram dessa pesquisa e com base
na literatura sobre a temática investigada, entendemos que a afetividade entre o professor e o
aluno é imprescindível para que a aprendizagem se concretize. Entendemos, ainda que:
[...] se não se estabelecer nada parecido com a relação de transferência, não se dá a
aprendizagem, pois o aluno aprende por amor, e quando se diz que é sobre a
transferência que se dá o conhecimento, está-se referindo ao que o aluno transfere
para o professor, e, por isso, torna o ato pedagógico possível. Por conseguinte, o
docente, símbolo da autoridade, desperta no aluno as suas reações às figuras
parentais e tudo o que eles representam assim instalando a relação transferencial
entre ambos (MOTA, 2007, p.46).
Considerações finais
O objeto principal dessa pesquisa foi a compreensão da afetividade que se estabelece
na relação professor-aluno a partir dos estudos da teoria psicanalítica de Sigmund Freud, em
que pudemos inferir que a transferência acontece em qualquer relação, e a relação professoraluno é uma delas, considerando que nessa relação o aluno traz vivências, originalmente
experimentadas nas primeiras relações, geralmente com os pais, e as transportam para o
contexto escolar.
Foram constatadas nas falas das professoras que participaram desse estudo que no caso
de alguns alunos a ausência de afeto nas relações familiares pode contribuir para a carência
afetiva que as crianças apresentam, o que faz com que estas procurem no professor carinho e
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proteção. Assim, o professor deve ter cautela para não direcionar sua atenção apenas para um
determinado aluno já que uma turma toda depende dele.
A pesquisa mostrou que o professor precisa investir no afeto e despertar no aluno,
através de aulas criativas, o desejo de aprender e, ainda, que a aproximação entre o desejo de
aprender do aluno e o desejo de ensinar do professor contribui para uma aprendizagem
significativa.
Para tanto, é preciso pensar e investir em um ambiente escolar carregado de
afetividade e de desejos entre seus professores e alunos e que a articulação entre a psicanálise
e a aprendizagem é imprescindível.
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