A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO A PARTIR DA TEORIA PSICANALÍTICA: UM ESTUDO REALIZADO NA ESCOLA PEDRO DE FRANÇA REIS NOGUEIRA, Ruth Kesia Silva1 - UNEAL BARBOSA, Amanda Magalhães2 - UNEAL ZACARIAS, Jaqueline da Cruz3 - UNEAL MEDEIROS, Kesia Natália4 - UNEAL BALBINO, Elizete Santos5 - UNEAL Grupo de Trabalho Educação da infância Agência Financiadora: PIBID/CAPES Resumo Na escola contemporânea o professor depara-se frequentemente com o desafio de administrar várias situações de conflitos que ocorrem na sala de aula. Diante dessas situações presentes no contexto escolar a psicanálise surge como uma teoria que pode contribuir, através do estudo da afetividade, para a compreensão das relações que se estabelecem entre professores e alunos. Nesse sentido, essa pesquisa apresenta a seguinte problemática: Como acontece a afetividade na relação professor-aluno a partir da teoria psicanalítica? Partindo dessa problemática, o objetivo da pesquisa em pauta é investigar a afetividade na relação professoraluno segundo os professores de uma escola da rede pública estadual do município de Arapiraca a partir da teoria psicanalítica. Trata-se de um estudo bibliográfico e de campo, com uma abordagem de natureza qualitativa, pois possibilita um estudo amplo e peculiar de todos os sujeitos envolvidos na pesquisa. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados questionários cujos sujeitos foram três professoras dos anos iniciais do ensino fundamental da Escola Estadual Professor Pedro de França Reis, localizada na cidade de 1 Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. E-mail: [email protected] 2 Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. E-mail: [email protected] 3 Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência E-mail: [email protected] 4 Graduanda do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual de Alagoas. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. E-mail: [email protected] 5 Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal de Alagoas. Professora Assistente do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Alagoas e da Faculdade de Ensino Regional Alternativa. Coordenadora Institucional do Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores- LIFE/CAPES. Técnica Pedagógica da 5ª Coordenadoria Regional de Educação do Estado de Alagoas. E-mail: [email protected] 25047 Arapiraca – AL. Para fundamentar a pesquisa utilizamos os seguintes autores: Almeida (1997), Andrade (2004), Franco e Albuquerque (2010), Kupfer (1989), Mrech (2003), Muller (2002), e Saltini (1999) dentre outros. Com os resultados esperamos compreender, a luz da teoria psicanalítica, as interações afetivas estabelecidas entre professores e alunos e, ainda, como estas interferem na ação pedagógica, considerando que o fator afetivo é muito importante para o desenvolvimento e a construção do saber para a criança e que através da afetividade o aluno se desenvolve, aprende e constrói mais conhecimento, além do saber do inconsciente que merece uma atenção pedagógica mais aprofundada por parte dos educadores. Com esse estudo, esperamos também contribuir para uma educação que considere a afetividade como um elemento importante no processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Afetividade. Professor-Aluno. Psicanálise. Introdução Vivemos uma época em que os valores se perdem e o respeito se torna cada vez mais ausente na sala de aula gerando conflitos preocupantes envolvendo professores e alunos. Partindo desse princípio, consideramos relevante o estudo sobre os vínculos afetivos que se estabelecem entre professores e alunos, utilizando como principal referência a teoria psicanalítica, pois compreende a relação afetiva entre professores e alunos como uma ferramenta importante quando utilizada no intuito de favorecer o processo de ensinoaprendizagem. Assim considerando, o objetivo dessa pesquisa é investigar a afetividade na relação professor-aluno segundo os professores de uma escola da rede pública estadual do município de Arapiraca a partir da teoria psicanalítica. Para fundamentar a pesquisa utilizamos os seguintes autores: Almeida (1997), Andrade (2004), Franco e Albuquerque (2010), Kupfer (1989), Mrech (2003), Muller (2002), e Saltini (1999), dentre outros. Para alcançarmos o objetivo proposto, fizemos uso de uma metodologia baseada em uma pesquisa bibliográfica e de campo, com uma abordagem de natureza qualitativa. Como instrumentos de coleta de dados utilizamos um questionário que foi aplicado a três professoras dos anos iniciais do ensino fundamental da Escola Estadual Professor Pedro de França Reis, localizada na cidade de Arapiraca – AL. Na organização dessa pesquisa, abordamos inicialmente a transferência na relação professor–aluno e o desejo inconsciente de aprender; em seguida, a ênfase é sobre o afeto na relação professor-aluno, uma vez que o afeto é considerado como fio condutor de uma relação positiva, e, tudo que é dito pelo professor torna-se valioso para a criança. Se for estabelecida 25048 uma relação afetiva entre eles e, por fim, apresentamos nas considerações finais a importância da interlocução entre a psicanálise e a aprendizagem escolar. A transferência na relação professor–aluno e o desejo inconsciente de aprender A psicanálise criada por Sigmund Freud na transição entre os séculos XIX e XX pode ser definida como um método de investigação do inconsciente. Para Shirahige e Higa (2004, p. 13), A expressão Psicanálise designa uma ciência, uma área de conhecimento, uma escola psicológica que busca penetrar na dimensão profunda do psiquismo humano para conhecê-lo. Enquanto ciência possui um método, um conjunto de procedimentos para o estudo dos fenômenos humanos. A transferência é um dos conceitos utilizados pelos psicanalistas e que consiste na atualização de desejos inconscientes originalmente experimentados, nas primeiras relações, geralmente com pais, e outros membros da família. Além disso, a transferência pode estabelecer-se em outros contextos intersubjetivos: a relação professor-aluno – por sua proximidade histórica com as primeiras relações, pela duração do processo de ensinoaprendizagem que vai da infância até a fase adulta e pela função de transmissão do conhecimento de que são investidos a instituição escolar e os educadores (ANDRADE, 2004). Com base nisso podemos dizer que a transferência é um termo atualmente utilizado em muitos campos e mostra uma ideia de transporte. A transferência é também um fenômeno que pode ocorrer com qualquer pessoa em quase todas as relações humanas e acabou sendo utilizada na educação, especificamente na relação professor-aluno. Ao referir-se ao termo transferência Lagache (1990, p.18), afirma que, Em sentido lato, a transferência, cuja origem é inconsciente, designa o conjunto das manifestações afetivas da criança, nomeadamente em relação ao docente, sob a forma afetuosa ou hostil, em outros termos, sob a forma de transferência positiva ou negativa. Na situação educativa, o aluno transfere para o docente algumas experiências vividas com os pais e reaviva por intermédio da pessoa destes sentimentos experimentados anteriormente ou então simultaneamente porque convém não esquecer o tipo de relação com os pais que a criança conhece ao mesmo tempo. Por vezes, a transferência traduz a procura de uma satisfação mantidas em suspenso e que exige ser alcançada. Já Kupfer (1989, p.88), ao falar da transferência na relação professor-aluno, diz que: “Freud chega a afirmar que ela está presente também na relação professor–aluno. Para ele, trata-se de um fenômeno que permeia qualquer relação humana [...]”. 25049 Sendo assim, a transferência ocorre com todos os sujeitos, partindo do desejo reprimido à uma lembrança ou experiência vivida no passado. A transferência que ocorre na relação professor–aluno é despertada por um desejo, é por isso que o aluno atribui ao professor algo especial, o que determina o seu desejo. O professor é depositário de algo que foi lhe direcionado pelo desejo do aluno. Nessa relação de transferência Kupfer (1989, p. 92), afirma, [...] O analista ou o professor, colhidos pela transferência, não são exteriores ao inconsciente do sujeito, mas o que quer que digam será executado a partir desse lugar onde estão colocados. Sua fala deixa de ser inteiramente objetiva, mas que ocupa no inconsciente do sujeito. Quando o aluno encontra-se revestido por esta transferência ele é marcado no seu percurso intelectual por seu professor, não esquecendo que é o próprio desejo que torna o seu professor excelente. A transferência não é apenas uma repetição do passado, consiste em um papel dado ao professor pelo aluno onde ele cria um cenário na sua imaginação, é a sua própria verdade. É dessa relação que o aluno desperta inúmeras capacidades, desde referentes ao conhecimento até principalmente potencialidade de vivência como ser social. Almeida (1997 p.131) sustenta que: ‘‘ [...] Feita a transferência, o professor assume, do ponto de vista afetivo, um poder de influir no seu aluno, [...]”. O aluno encontra no professor o seu amparo, é a partir daí que a transferência será colocada em prática, a admiração, o desejo, o afeto que o aluno tem para com o professor se passa através da transferência. Assim, um professor torna-se a figura a quem serão endereçados os interesses de seu aluno porque é objeto de uma transferência. E o que transfere são as experiências vividas primitivamente com os pais (KUPFER, 1989). Podemos entender que o aluno irá transferir seus sentimentos para o professor, que além de educador torna-se um refúgio desse aluno, alguém em que ele confia, e espera que o professor seja capaz de auxiliá-lo, o que onde muitas vezes não será uma tarefa fácil. Franco e Albuquerque (2010 p.11) esclarecem que: “A capacidade para ensinar, assim como a capacidade para aprender, é uma situação particular da aptidão para "amar e trabalhar", que Freud usa como definição de saúde mental”. A relação educativa é entendida como relação de amor: a criança deseja aprender pelo seu desejo de ser aceita, recompensada e reconhecida como bom aluno. Desse modo, Andrade (2004), reconhece que a transformação do saber desejar em desejar saber não se dá sem que 25050 haja uma sustentação relacional, na qual transitam afetos, imagens, modelos, representações e que o mais importante processo intersubjetivo que organiza inconscientemente as relações de ensino–aprendizagem é a transferência. Entre todos os acontecimentos que fazem parte da relação professor-aluno não podemos deixar de falar sobre o processo de ensino-aprendizagem, no qual estudos feitos por Freud mostraram que à medida que a criança aprende a desejar ela começa a querer saber. Isso acontece quando a mesma percebe as diferenças anatômicas existentes entre os meninos e as meninas. Para Andrade (2004), num primeiro momento, então, o desejo de saber é uma extensão do saber desejar, pois à medida que deseja, a criança quer saber sobre as condições em que está envolto seu desejo, as origens dele, seu destino. A curiosidade, diretamente atrelada ao sexual da infância, tanto desperta o complexo de Édipo6 quanto o complexo de castração7. Seguindo a linha de pensamento de Andrade (2004, p.93) “[...] a curiosidade sexual [...] torna-se, no final desse processo, curiosidade intelectual: como ler e escrever, como realizar operações lógico-matemáticas, como apreciar e produzir artes etc”. E quanto aos professores? O que os impulsionam a querer ensinar? Como se dá a relação dos alunos, com todos os seus desejos inconscientes, com os professores nesse processo de aprendizagem? Frente a estas indagações, podemos ainda, a luz das ideias de Andrade (2004, p.93), acrescentar que, [...] os educadores são também movidos por seus desejos inconscientes que os vinculam, desde há muito, aos muitos aspectos do saber que ensinam, assim como aos alunos – que lhes garantem o lugar daqueles que sabem e que, numa situação ideal, são objetos do desejo pedagógico de que venham também a saber, pelo aprendizado. [...] é a aliança entre o desejo de aprender do aluno e o desejo de ensinar do professor que inconscientemente provê a relação professor-aluno de impulsos que funcionarão como motivadores da aprendizagem. 6 O nome complexo de Édipo origina-se na tragédia grega Édipo – rei, escrita por Sófocles. Trata-se de uma relação de amor que tem como objeto o progenitor do sexo oposto – mãe, no caso do menino; pai, no caso da menina – e impulsos de rivalidade e ciúme do progenitor do mesmo sexo (SHIRAHIGE e HIGA, 2004). 7 No desenvolvimento do Complexo de Édipo, o desejo sexual do menino pela mãe e sua rivalidade com o pai geram ressentimentos em relação à figura paterna. Dessa situação, origina-se no menino o temor de que, enciumado, o pai possa puni-lo, castrando-o. Renuncia então aos seus desejos eróticos pela mãe, identificando-se com o pai, antigo rival. A esse choque afetivo, o temor à castração, denomina-se complexo de castração. Tratase, na realidade, de um sistema inconsciente de emoções relacionadas ao valor simbólico do falo (SHIRAHIGE e HIGA, 2004). 25051 O afeto na relação professor-aluno A ênfase no estudo da afetividade é antiga e muitos teóricos da Psicologia reconhecem a importância do afeto nas relações que são estabelecidas entre os alunos e seus professores, quando estes são inseridos na prática pedagógica. Essa importância somada à necessidade de entendermos como o afeto pode contribuir para a aprendizagem escolar nos leva à necessidade de definirmos a afetividade. Assim, podemos conceituar a afetividade como um conjunto dos fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza (DIAS e MARCHELLI, 2008). Para Kieckhoefe (2011, p.04), [...] a afetividade pode ser conceituada como algo diretamente ligada ao domínio das emoções e dos sentimentos que estão envolvidos nestas emoções, e, principalmente, da maneira como nos relacionamos com estes sentimentos, isto quando se refere ao convívio humano e a forma como estes se expressam. O afeto é, portanto, de acordo Mota (2007) parte integrante da nossa constituição psíquica e não somente a cognição e a consciência devem ser importantes no ato educativo, mas o afeto e o inconsciente também. O professor tem um papel privilegiado neste cenário e pode conduzir as emoções tanto para a construção do conhecimento quanto para o seu bloqueio. Desta forma, a escola se constitui em um espaço onde se encontram dois sujeitos, o professor e o aluno, ambos imbuídos, segundo a teoria psicanalítica, de desejos e da necessidade de afeto que é inerente ao ser humano. Desejo e afeto são elementos que convergem quando procuramos compreender os sentimentos que perpassam a relação professor-aluno. Saltini (1999, p. 87), mostra que, [...] o educador serve de continente para a criança. Poderíamos dizer, portanto, que o continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim onde elas são acolhidas e valorizadas [...]. A criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ainda para que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado. O papel do professor é específico e diferenciado do das crianças. Ele prepara e organiza o micro universo onde as crianças buscam e se interessam. É função do professor observar, pesquisar e comunicar-se bem com sua turma, não é preciso ter um manual com instruções, é necessário nessa relação, usar conteúdos 25052 educacionais de acordo com a necessidade e o interesse que a criança apresentar, nesta hora ela encontra-se carente, precisando da singularidade, é o professor quem identifica esse momento. Franco e Albuquerque (2010 p.11) enfatizam, A criança identifica-se com o professor nos seus objetivos e necessidades, ao mesmo tempo em que o professor precisa de se identificar com a criança e com a sua tarefa. Este é o primeiro passo do ser professor. Os passos seguintes consistem em transformar o "trabalho para o amor" em "amor pelo trabalho". O professor deve preparar o caminho para uma relação baseada no respeito e no afeto, diante disso, cabe ao professor saber lidar com o que a criança espera dele, elogiando e motivando. O professor com seus conhecimentos e valores torna-se referência para o aluno e é aí que a relação afetiva se concretiza de forma positiva. De acordo com Mrech (2003) a criança quando chega à escola não tem o seu pensamento ainda estabelecido como pode acreditar o professor. Ela traz apenas o pensamento, o saber através do qual foi olhada no seu meio ambiente originário. Na perspectiva da psicanálise, a relação professor-aluno vai além dos conteúdos transmitidos na sala de aula, permeia a área afetiva e envolve o desejo e a curiosidade de aprender. De modo que: “o aspecto afetividade influi no processo de aprendizagem e o facilita”. (MÜLLER, 2002, p. 276). A compreensão e a afetividade devem sempre existir, então o próprio autor reafirma que quando a afetividade permeia essa relação educativa o aprendizado é mais prazeroso, já que o aluno passa a aprender com vontade, mais rápido e com êxito. Nesse processo que envolve situações de ensino e aprendizagem, a relação professor– aluno implica uma interação humana que não é imóvel, que se movimenta, que continuamente transforma, na qual as manifestações do aprender e da afetividade são características constantes e importantes que podem refletir tanto o êxito quanto o fracasso do aluno e também do professor. Logo, a relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, da amizade, do companheirismo e do diálogo estabelecido entre o professor e o aluno, da relação empática entre ambos (KIECKHOEFE, 2011). Procedimentos metodológicos Para realizarmos esse trabalho, foi feito um estudo bibliográfico e de campo. Para Marconi e Lakatos (2002), o estudo bibliográfico abrange toda bibliografia já tornada pública 25053 em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc. Assim, representa o reconhecimento do assunto, a indexação de artigos de periódicos de livros. Já a pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese que se queira comprovar, ou ainda descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. Esta pesquisa foi realizada utilizando uma abordagem de natureza qualitativa e os dados foram coletados através de um questionário. Na pesquisa qualitativa a análise é dirigida para os casos concretos em suas peculiaridades locais e temporais, partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais (FLICK, 2009). Com isso, esperamos conhecer como ocorre a relação afetiva entre professores e alunos. Gil (2002, p.128) define o questionário “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc”. A pesquisa foi realizada na Escola Estadual Professor Pedro de França Reis, localizada na cidade de Arapiraca-AL. Participaram desse estudo três professoras que lecionam nos anos iniciais do ensino fundamental da referida Escola. Após a coleta de dados, buscamos fazer uma análise que ultrapassasse a mera descrição dos dados, com o objetivo de confrontar os estudos obtidos através da literatura e os depoimentos dos participantes que apontem para explicações e contribuições sobre afetividade na relação professor-aluno na perspectiva da teoria psicanalítica de Sigmund Freud. Resultados e discussões Os dados coletados na Escola Estadual Professor Pedro de França Reis, provenientes do questionário aplicado a três professoras aqui denominadas de Bruna, Carla e Fernanda, serão analisados e discutidos, com base no objetivo que foi elaborado para esta pesquisa e de acordo com as seguintes categorias: Concepção dos professores sobre a afetividade na relação professor-aluno; Como ocorre a afetividade na relação professor aluno; e A contribuição da afetividade no processo de ensino aprendizagem. 25054 Quando questionadas a respeito da concepção da afetividade na relação professoraluno, que foi a primeira categoria investigada, os depoimentos foram os seguintes: A afetividade torna-se importante para estabelecer uma relação de companheirismo para desempenhar um trabalho considerável para ambas as partes (BRUNA, 2013). É importante você ter um envolvimento sobre a realidade de cada aluno, tem professor que às vezes direciona a atenção apenas para um e esquece os demais. Eu tenho um aluno muito problemático e no primeiro dia de aula eu me aproximei dele e toquei em seu ombro, [...] ele percebeu que eu tinha afeto por ele e [...] hoje percebo que ele melhorou um pouco. É importante o professor dar essa segurança ao aluno (CARLA, 2013). Nos dias atuais as pessoas vivem num verdadeiro corre-corre, isso faz com que o contato familiar se torne cada vez mais remoto, muitas vezes os pais só veem seus filhos dormindo, restando apenas os finais de semana para a troca de afetividade. Isso faz com que cada vez mai na escola os alunos precisem se sentir seguros e acolhidos. Cabe ao professor criar um elo de afetividade na perspectiva do respeito e confiança que venha contribuir para o desenvolvimento integral do aluno (FERNANDA, 2013). Com esses depoimentos, percebemos o quanto a afetividade na relação professoraluno é importante no ambiente escolar, principalmente nos dias atuais, em que onde algumas famílias por uma série de razões deixam de estabelecer relações de afeto com seus filhos. Desse modo, Mota (2007, p.110) acredita que a teoria psicanalítica pode, [...] ajudar o professor a descobrir novas formas de escutar o aluno como sujeito, pois por mais que o aluno seja produto cultural, familiar e institucional, é sujeito, que deseja e quer ter sua vida nas próprias mãos e ser responsável por ela. Portanto, o educador precisa acolhê-lo e reconhecê-lo com tal. A afetividade presente na relação professor–aluno ocorre, segundo as professoras, de forma natural e às vezes pela carência afetiva que alguns alunos apresentam e que tem sua origem nas relações familiares. Um depoimento que nos chamou a atenção foi o seguinte: [...] tive um aluno no 1º ano do ensino fundamental que já na terceira semana de aula ainda chorava e se negava a entrar na sala de aula, porém nos intervalos eu observava que ele brincava, dançava e interagia com os colegas normalmente, resolvi então realizar uma dinâmica, onde juntamente com eles brinquei, pulei, corri, etc. Nesse mesmo dia, antes de ir para casa, me despedi dele como ele fazia com os amigos, bati em sua mão e fiz sinal de legal, daí por diante ganhei um aluno e um amigo (FERNANDA, 2013). Com a autoestima fortalecida o aluno passa a ter confiança em si mesmo e no outro, desta forma a criança melhora sua relação com outras pessoas. Na sala de aula, deve haver interação, pois a criança aprende com o outro, e o educador é o grande responsável para que 25055 isto aconteça. A criança tem admiração pelo professor e a tendência será imitá-lo, o que aumenta a responsabilidade do educador em suas ações (GOBETI e TAVARES, 2010). Quando mencionamos a contribuição da afetividade no processo de ensino aprendizagem, compreendemos, através do que foi relatado pelas professoras, que a afetividade é um aspecto importante e que esta se estabelece primeiro com a família e posteriormente com a escola na figura do professor. Vejamos outros relatos: É essencial que se estabeleça entre o professor e o aluno um vínculo afetivo, pois por meio da afetividade o aluno vai gostar dos assuntos que serão ministrados, passando a interagir com o professor e com seus colegas e, consequentemente, a aprendizagem torna-se mais fácil (CARLA, 2013). Essa contribuição acontece quando o aluno demonstra sentir prazer em ouvir, participar e realizar com vontade e interesse as atividades propostas pelo professor. Por outro lado, quando exercemos a nossa função com amor e prazer a tendência é que o aluno sinta-se motivado a aprender e é isso que busca os professores comprometidos com a aprendizagem dos seus alunos (FERNANDA, 2013). Face ao que foi exposto pelas professoras que participaram dessa pesquisa e com base na literatura sobre a temática investigada, entendemos que a afetividade entre o professor e o aluno é imprescindível para que a aprendizagem se concretize. Entendemos, ainda que: [...] se não se estabelecer nada parecido com a relação de transferência, não se dá a aprendizagem, pois o aluno aprende por amor, e quando se diz que é sobre a transferência que se dá o conhecimento, está-se referindo ao que o aluno transfere para o professor, e, por isso, torna o ato pedagógico possível. Por conseguinte, o docente, símbolo da autoridade, desperta no aluno as suas reações às figuras parentais e tudo o que eles representam assim instalando a relação transferencial entre ambos (MOTA, 2007, p.46). Considerações finais O objeto principal dessa pesquisa foi a compreensão da afetividade que se estabelece na relação professor-aluno a partir dos estudos da teoria psicanalítica de Sigmund Freud, em que pudemos inferir que a transferência acontece em qualquer relação, e a relação professoraluno é uma delas, considerando que nessa relação o aluno traz vivências, originalmente experimentadas nas primeiras relações, geralmente com os pais, e as transportam para o contexto escolar. Foram constatadas nas falas das professoras que participaram desse estudo que no caso de alguns alunos a ausência de afeto nas relações familiares pode contribuir para a carência afetiva que as crianças apresentam, o que faz com que estas procurem no professor carinho e 25056 proteção. Assim, o professor deve ter cautela para não direcionar sua atenção apenas para um determinado aluno já que uma turma toda depende dele. A pesquisa mostrou que o professor precisa investir no afeto e despertar no aluno, através de aulas criativas, o desejo de aprender e, ainda, que a aproximação entre o desejo de aprender do aluno e o desejo de ensinar do professor contribui para uma aprendizagem significativa. Para tanto, é preciso pensar e investir em um ambiente escolar carregado de afetividade e de desejos entre seus professores e alunos e que a articulação entre a psicanálise e a aprendizagem é imprescindível. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Leda Maria de. Cognição e afetividade: elos integráveis na aprendizagem? In: LEITÃO, Heliane de Almeida Lins; ALMEIDA, Leda Maria de. (Orgs.). Piaget e Freud: um encontro possível? O pensamento e a afetividade da criança em discussão. Maceió: Edufpe/Edufal, 1997. p. 87-135. 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