Ler artigo - Golden Assets

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ID: 30962663
09-07-2010
Tiragem: 18000
Pág: 39
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 28,42 x 19,47 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 1
Correlações
O
mercado cambial é composto por
um conjunto de moedas que dão
“pistas” interessantes sobre diferentes classes de activos que compõem a
globalidade dos mercados financeiros.
Assim, temos o exemplo da coroa sueca (SEK): a moeda do país de Nobel
tem uma correlação bastante alta com o
ciclo económico. Geralmente, uma subida dos mercados accionistas implica
uma valorização da coroa sueca face, por
exemplo, ao euro. Nos últimos 10 anos
tivemos o EUR/SEK a valer 8 (em ciclos
expansionistas) e 11 (em ciclos recessivos). Analisemos também a sua vizinha
da Noruega: a coroa norueguesa (NOK)
está muito correlacionada com a evolução do preço do petróleo. Nesse sentido,
valorizou-se bastante até Junho de 2008
(pico do preço do crude – 140 dólares
por barril), perdendo depois valor face à
abrupta descida do “ouro negro”. Outro
exemplo é o do dólar australiano (AUD).
A moeda “Down Under” segue bastante
a evolução dos preços dos metais preciosos e industriais. A forte apreciação destes
nos últimos anos motivou uma apreciação considerável do AUD. Nos últimos
tempos, dúvidas sobre a sustentabilidade
do crescimento económico à escala mundial e da China (principal importador de
“commodities”), em particular, afectaram
a valorização do dólar australiano. Esta
correlação do NOK com o petróleo e do
AUD com os metais advém obviamente
do facto de, no caso nórdico, a Noruega
ser o 2º maior exportador europeu de crude (atrás da Rússia) e, no caso australiano,
de os “Wallabies” serem um país com um
solo riquíssimo em minério.
À semelhança do dólar australiano,
também o rand sul-africano (ZAR) apresenta esta correlação. No entanto, muitas
vezes este último acaba por ser influenciado pela instabilidade social, económica e
política própria do continente africano,
pelo que a correlação não é tão óbvia.
Há, no entanto, um outro conjunto de
moedas cujo comportamento não deriva
tanto das riquezas naturais, mas sim da
psicologia dos investidores. Analisemos o
caso japonês.
O Japão vive em deflação desde os anos
80. Ao contrário de outros países, que
aproveitaram crises passadas para ajustar
a sua economia, o país do Sol Nascente viu-se enredado numa teia em que as
empresas, aparentando à superfície boa
saúde financeira, tinham depois graves
problemas por baixo, num esquema piramidal de subsidiárias onde gravitavam
avultadas perdas. Este “icebergue” faz
com que desde os anos 80 a economia
japonesa (con)viva com uma fraca capacidade de impor subida de preços e com taxas de juro à volta de 0%. Por causa disso,
nos últimos 10 anos, o iene japonês (JPY)
tornou-se uma moeda vulnerável, chegan-
Pedro Azevedo
Administrador Golden
Assets
do a atingir níveis de 178 ienes contra o
euro, por exemplo. Pós-crise do segundo
semestre de 2008, o iene apreciou-se bastante, estando neste momento a níveis de
109 ienes por euro (!).
Observemos o caso: durante o período
expansionista, que se iniciou pós-“bolha tecnológica de 2000-2003”, as taxas
de juro perto de zero, inerentes ao iene,
fizeram com que muitos investidores pedissem crédito na moeda nipónica, vendendo-a depois, comprando concomitantemente euros, dólares, etc. O diferencial
de taxas de juro entre a moeda comprada e
o iene vendido fazia com que, caso o cambio não se alterasse, o ganho fosse muito
interessante. É o que se convencionou
chamar de “carry trade” . Nos últimos 2
anos, a descida acentuada dos juros, em
especial nos EUA (Fed Funds, de 5,25%
para 0,25%), fez com que a a tractibilidade deste negócio se perdesse, devido à
descida acentuada do spread destas moedas face ao iene. Acresce que muitos destes
financiamentos em ienes eram feitos com
recurso a crédito, no sentido de alavancar
o negócio das empresas/particulares, e que
a recessão económica veio criar problemas
de liquidez a todos, diminuindo bastante
o crédito concedido pela banca. Assim, a
desalavancagem do sistema constituiu o
fim do “carry trade”…
Esta situação criou na população de
investidores a ideia (na nossa opinião,
errada) de que o iene é uma boa moeda
de refúgio em momentos de instabilidade
económica/financeira. Muitos desses analistas baseiam-se no comportamento dos
preços nos últimos dois anos.
No entanto, a economia japonesa tem
graves problemas para resolver, dificilmente podendo ser considerada um “safe
haven”, um reduto de protecção. Devido
à forte apreciação da sua moeda, os japoneses apresentam crescimentos muito lentos
do PIB e os exportadores perdem competitividade. Foi o caso da Sony, é o caso do
sector automóvel e electrónico em geral.
Assim, pensamos que o movimento do
iene poderá ser invertido brevemente. Na
nossa análise, as moedas que mais facilmente
beneficiarão desta situação serão a coroa norueguesa e o dólar australiano. E porquê?
O crescimento chinês continuará a fazer
subir os preços das mercadorias. Independentemente do ciclo económico, a China,
em 1,4 mil milhões de habitantes, apenas
tem 70 milhões de consumidores de bom
porte. A elevação do seu poder de compra
e os investimentos infra-estruturais pesarão definitivamente sobre estes bens. Para
além disso, estes países (Noruega e Austrália) foram os primeiros a fazer subir as
suas taxas de juro directoras pós-recessão,
movimento ainda não acompanhado pelos grandes blocos (EUA, Inglaterra, Europa em geral).
“Food for thought?” Bons negócios!
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