FILOSOFIA PARA CRIANÇAS: EDUCAR PARA O PENSAR Fernando Felipe Duarte – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Orientador: Professor Doutor Miguel Angel de Barrenechea OBJETIVO: O objetivo deste trabalho, Filosofia para crianças: Educar para o pensar, é analisar a proposta pioneira do filósofo norte-americano Matthew Lipman que visa iniciar as crianças no estudo da filosofia ainda no ensino fundamental. Pretende-se discutir neste trabalho os desdobramentos da proposta de filosofia para crianças deste autor e oferecer subsídios para o trabalho em sala de aula dos professores que optarem por esta proposta educativa, assim como para outros profissionais que atuam na área da educação. SOBRE O AUTOR: Matthew Lipman foi professor de lógica e teoria do conhecimento; nas suas aulas, percebeu que os alunos tinham dificuldades de raciocínio. Lipman atribuiu essas dificuldades à metodologia, empregada nos ensinos fundamental e médio, de pouco questionamento, repetição de opiniões, memorização e ausência de opinião crítica. Lipman chegou à conclusão que estes alunos não conseguiam dar significado aos conceitos estudados. ALGUNS PENSADORES QUE INFLUENCIARAM A PROPOSTA DE LIPMAN: Sócrates e a proposta de um diálogo filosófico, em que os alunos possam procurar as suas próprias respostas às questões levantadas; Charles Peirce e a proposta da Comunidade de Investigação, associado a estudos científicos; John Dewey e a sua proposta de que as crianças se formem num âmbito democrático, com práticas igualitárias e de respeito mútuo; Lev Vygotsky e a importância de que as crianças, através da interação social, da incorporação da linguagem, (re)construam os seus próprios conceitos e avaliações. A FILOSOFIA E SUAS QUESTÕES: Matthew Lipman sustenta que quanto mais cedo as crianças entrarem em contato com a filosofia, terão mais condições para pensarem e refletirem sobre conceitos e valores, desenvolvendo o seu espírito crítico. Na ótica deste autor, é desta forma que as crianças serão instigadas a pensar e a tentar encontrar suas próprias respostas para problemas e questões fundamentais, em áreas do conhecimento como a arte, a educação, a ciência, a política e a religião. UMA GENUÍNA COMUNIDADE: Ampliando a proposta inicial de Charles Peirce, Matthew Lipman idealizou que a sala de aula seja transformada numa verdadeira Comunidade de Questionamento e Investigação, onde os alunos, muito além de adotarem teorias já elaboradas e prontas, realizem um verdadeiro trabalho comunitário de pesquisa, refletindo e questionando sobre determinados problemas sugeridos pelo professor. Para que esta Comunidade vigore, é essencial que o professor adote uma postura democrática e dialógica, de pesquisa e crítica, em que as crianças possam discutir abertamente, apresentando suas próprias respostas a diversas questões. Nessa proposta, o professor deve ocupar o lugar de mediador entre os alunos e os temas em discussão. MATERIAL DIDÁTICO: Matthew Lipman produziu um material didático para viabilizar a sua proposta de filosofia para crianças. Lipman elaborou novelas e romances que pudessem suscitar e estimular o diálogo filosófico entre os alunos, apresentando, através dos diálogos e peripécias dos personagens, diversos problemas da filosofia. Na cena, os diversos protagonistas teriam diversas características e sustentariam diversas posturas – analítica, cética, empirista, intuitiva etc. –, que suscitariam discussões sobre ética, estética, metafísica, epistemologia etc., vinculada à vida cotidiana. Rebeca, Issao e Guga, Pimpa, A descoberta de Ari dos Telles são alguns dos textos que Lipman produziu para estimular o debate filosófico em sala de aula. UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA DA PROPOSTA DE MATTHEW LIPMAN: Walter Kohan é um autor que realiza críticas à filosofia para crianças proposta por Matthew Lipman. Para Kohan, o professor, ao se limitar, em FpC, a ser um mediador das discussões entre alunos, torna-se um pastor filosófico, que limita sua criatividade em prol da criação dos alunos. O pensar não pode ser entendido como “asubjetivo”, universal ou geral, não é dado, mas depende sempre de uma subjetividade, é imprevisto e impensado. Em FpC há filósofos e professores: os filósofos seriam criadores, os professores só aplicadores, esta lógica, deturpa o sentido do “diálogo” filosófico em sala de aula. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A filosofia para crianças é uma proposta que deve ser repensada, reformulada e que pode ser muito útil para o desenvolvimento do raciocínio e a formação geral das crianças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: KOHAN, Walter Omar. Infância. Entre educação e filosofia de Matthew Lipman. Petrópolis, Belo Horizonte: Autêntica, 2003. KOHAN, Walter Omar e WUENSCH, Ann Mirian (Orgs.). Filosofia para crianças. A tentativa pioneira de Matthew Lipman. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. 3° ed. São Paulo, SP: Summus, 1990. LIPMAN, Matthew. Filosofia na sala de aula. São Paulo, SP: Nova Alexandria, 2001. LIPMAN, Matthew. O Pensar na Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.