Intensa Onda Frontal no início da primavera causa neve e chuva intensa fora de epoca. Entre os dias 25 e 27 de setembro de 2012 uma rápida e pronunciada amplificação de uma onda atmosférica em escala sinótica favoreceu uma forte incursão de ar frio no continente sulamericano até latitudes tropicais. As características dessa propagação favoreceram uma trajetória bastante meridional e rápida sobre a costa sul-americana. Esse padrão favoreceu a chegada de ar muito frio e também úmido sobre as Regiões Sul de Sudeste do Brasil. O resultado dessa combinação foi a ocorrência atípica para o final de setembro de neve nas serras gaúcha e catarinense e de chuva extremamente volumosa no Estado do Rio de Janeiro. Além disso, foram também registrados temporais com significativa queda de granizo em Santa Catarina, no Paraná e em São Paulo. A frente fria associada à intensa onda frontal chegou ao Brasil na noite do dia 24 (Figura 1b). O sistema avançou rapidamente até o sul da Bahia em apenas 3 dias (Figuras 1a-d). a b c d Figura 1: Analise sinótica de superfície sobre a América do Sul para o horário das 00Z dos dias 24 (a), 25(b), 26(c) e (27) de setembro de 2012. Destaca-se que a alta pós-frontal apresentava grande extensão meridional, característica essa que favoreceu o transporte do ar frio desde latitudes muito altas. Tempo Severo Houve forte queda de granizo na cidade de Joinville-SC, onde 8 casas e duas escolas ficaram danificadas segundo a Defesa Civil Estadual. Choveu granizo também em Rio Grande-RS, onde provocou estragos na lavoura de morango. O fenômeno também foi registrado nas seguintes cidades: Mafra-SC, Mandirituba-PR, Sandovalina-SP, Emilianópolis-SP. Na cidade de Pedregulho-SP o granizo detruiu plantações de café. Na Figura 2 (a), que se refere ao horário das 18Z do dia 24, nota-se forte instabilidade em parte do RS, inclusive sobre a região de Rio Grande-RS, onde houve a queda de granizo. Com relação ao evento de Joinvile-SC nota-se na Figura 2 (c), elevados índices sobre o nordeste de SC, inclusive com sombreado cor de rosa no litoral norte catarinense. Esses índices estavam associados a significativo levantamento atmosférico em 500 hPa, da ordem de -5.10-3 pa/s. a b c d Figura 2: Análises da instabilidade atmosférica (sombreado) e levantamento em 500 hPa (contorno) para os horários das 18Z do dia 24 (a), 00Z (b), 06Z (c) e 12Z (d) do dia 25. Os sombreados resultam da combinação de índices de intabilidade como K, CAPE, TT, VT e LIFTED para limiares pré-definidos de forma que a cor rosa indica maiores condições de severidade, inclusive de granizo. Episódio de Neve Os episódios de neve ocorreram entre a noite do dia 26 e a manhã do dia 27. Em Santa Catarina a neve atingiu pontos de São Joaquim, Bom Jardim da Serra e Painel. No Morro da Igreja, município de Urupema, foi observada a formação de sincelo, o qual se caraqcteriza pela sublimação da umidade sobre as superfícies, especialmente sobre a vegetação, semelhante a neve ou à uma geada forte. No Estado do Rio Grande do Sul houve registro de neve na manhã da quarta-feira em Bom Jesus, São José dos Ausentes e em São Francisco de Paula. Não houve registro de acúmulo em nenhum município. Essa neve foi causada primeiramente pelo sistema frontal (Figura 3(a)) e em seguida por um cavado secundário que pode ser visto na Figura 1(c) sobre o sul do Uruguai e que na manhã do dia 27 estava entre o leste do Rio Grande do Sul e leste de Santa Catarina. a b c d Figura 3: Análises do dia 26/09/2012 para os horários das 00Z (a), 06Z (b), 12Z (c) e 18Z (d), para as seguintes variáveis: umidade relativa média na camada 700-850 hPa (sombreado); temperatura em 700 hPa, 850 hPa e camada limite (contornos ciano, vermelho e amarelo). Extremo de Chuva no Rio de Janeiro Na cidade do Rio de Janeiro este evento causou muita chuva. A precipitação média na rede de pluviômetros do AlertaRio ficou em torno de 60 a 80 mm em 24 horas, mas houve acumulado muito maior como no Alto da Boa Vista onde foram registrados cerca de 150 mm/24h. Houve registro de alagamentos na Região Serrana do Rio de Janeiro, em Petrópolis e em Teresópolis. Segundo relatório do AlertaRio (Prefeitura do Rio de Janeiro) entre o final da tarde do dia 25 de setembro até a manhã do dia 27 de setembro de 2012 ocorreram chuvas moderadas no Município do Rio de Janeiro. As precipitações significativas (>5mm/h) foram registradas em todas as macrobacias de drenagem do município e apresentaram durações mínima de 18h30min na Bacia Zona Sul e máxima de 42h15min na Bacia da Baía de Guanabara. Os maiores acumulados significativos ocorreram nas estações telepluviométricas Alto da Boa Vista (148,2mm), Laranjeiras (93,4mm) e Est. Grajaú/Jacarepaguá (91,4mm). As maiores intensidades horárias foram registradas no Alto da Boa Vista (21,0mm), na Av. Brasil/Mendanha (16,0mm) e em Laranjeiras (15,6mm). a b c d Figura 4: Imagens de Satélite no Canal Infravermelho para os seguintes horário durante o evento chuvoso: 25/09/2012 – 19h00min Hora Local (a); 25/09/2012 – 23h00min Hora Local (b); 26/09/2012 – 02h15min Hora Local (c); 26/09/2012 – 04h00min Hora Local (d). Na figura 5 (a) notam-se acumulados acima de 50 mm/24h no Estado do Rio de Janeiro sobre a região metropolitana e região serrana. A análise do dia 26 às 00Z (Figura 5(b) ) nota-se que a água precipitável no sul do Estado do Rio de Janeiro se encontrava com valores acima de 50 mm, ou seja, muito elevados. Ao longo do dia 26 (Figuras 5(c) e 5(d) ) percebe-se o deslocamento da faixa com máximos de água precipitável e o aparecimento de significativos valores de levantamento (contornos) no norte de SP às 06Z e depois sobre o RJ às 12Z, acompanhado de uma pista de ventos também significativos de quadrante sul. Essa dinâmica está associada ao deslocamento da frente fria e foi nesse intervalo em que aconteceram os maiores acumulados de chuva. a b c d Figura 5: A figura (a) mostra o acumulado de precipitação em 24 horas sobre a Região Sudeste do Brasil; Nas figuras (b) a (d) tem-se análises de água precipitável (sombreado), movimento vertical em 850 hPa (contorno) e vento em 850 hPa acima de 23 kts (barbela). Método para Detecção de Padrões Atmosféricos (MeDPAt) Recentemente foi desenvolvida uma ferramenta objetiva para a detecção de padrões atmosféricos (MeDPAt) para chuvas acima de 50 mm/24h média na rede de 32 pluviômetros da GeoRio no município do Rio de Janeiro. Essa ferramenta conseguiu detectar o padrão do evento considerado neste estudo com 9 dias de antecedência como pode ser visto na Figura 6(a). Naquele momento (rodada das 00Z do dia 17 de setembro) o método encontrou semelhança entre o evento que estava sendo previsto para o dia 26 de setembro (figura da esquerda) com o evento do dia 07 de abril de 2010, que foi um evento acima de 50 mm/24h. Nas rodadas dos dias seguintes novas semelhanças (chamadas de ressonâncias) em diferentes membros do ETA40-Ensemble foram encontradas. Por fim a análise do dia 26 Às 12Z (Figura 7 – esquerda) ressonou com o campo das 00Z do dia 26 de agosto de 2003, confirmando a existência de um padrã atmosférico associsado a um evento extremo de chuva segundo a definição dada acima. Figura 6: À direita tem-se o campo previsão do modelo ETA40-Ensemble da rodada das 00Z do dia 17 de setembro de 2012, para o prazo de 222h, ou seja, para as 06Z dia 26 de setembro. A figura da direita é uma análise das 06Z do dia 07 de abril de 2010. Nas duas figuras as variáveis são: vento meridional a 10 metros com módulo maior que 5 m/s com direção de sul (de norte) sombreado em azul (vermelho). Figura 7: À direita tem-se o campo de análise do modelo ETA40-Ensemble das 12Z do dia 26 de setembro de 2012. A figura da direita é uma análise das 00Z do dia 26 de agosto de 2003. Nas duas figuras as variáveis são: vento meridional a 10 metros com módulo maior que 5 m/s com direção de sul (de norte) sombreado em azul (vermelho). Para mais informações sobre o método pode-se consultar a literatura nos seguintes links: http://urlib.net/8JMKD3MGP7W/3BKDM7E http://dx.doi.org/10.1002/asl.385 Estrutura vertical da propagação da Onda Frontal A análise da estrutura vertical (Figura 8) da onda aqui estudada mostra a camada de ar frio com profundidade indo da superfície até cerca de 700 hPa tanto em Porto Alegre como em São Paulo e no Rio de Janeiro. Isso mostra que o ar frio conseguiu avançar para norte com poucas mudanças nas suas características, pelo menos pelo leste das Regiões Sul e Sudeste. Nota-se também que os indices de instabilidade sofreram significativa alteração com a passagem do sistema, em especial os índices LIFT e K (KINX na figura 8). Outra característica importante de ser notada nas sondagens é a virada do vento nos baixos níveis. Os ventos que estavam de oeste/noroeste viram para sul/sudeste indicando a advecção de ar frio com o vento girando no sentido horário com a altura. A B C D E F Figura 8: Sondagens atmosféricas (SkewT-LogP) de Porto Alegre (a-b), São Paulo (c-d) e Rio de Janeiro (e-f), antes (dias 24, 25 e 25) e depois da passagem da frente fria (dia 26, 27 e 27) para as 12:00Z. Elaborado pelo Meteorologista Dr. Giovanni Dolif