CHUVA DE GRANIZO EM MINAS GERAIS (MG) Entre os dias 14 e 17 de setembro de 2008, várias localidades do sul, Zona da Mata e Região Metropolitana de MG, e algumas do sul do ES foram atingidas por temporais severos, acompanhados de rajadas de vento, descargas elétricas e granizo. Nas cidades de Itatiba e Brejetuba, no sul do ES, a chuva de granizo causou vários estragos, destelhando casas e deixando famílias desabrigadas. Em MG, uma das cidades mais atingidas pelo temporal foi Carandaí, a 151 km à sul de Belo Horizonte. A chuva de granizo, que durou cerca de 30 minutos, danificou 80% das edificações da cidade, e cerca de 80% dos habitantes ficaram sem energia elétrica, sem água e sem telefone, além de aproximadamente 200 pessoas feridas, que foram atingidas por estilhaços de vidro, de telhas e pelo próprio granizo. Além de Carandaí, tem-se relato de queda de granizo em Visconde do Rio Branco, Fervedouro, Araponga, Ponte Nova, Viçosa, Santos Dumont, João Monlevade, Varginha, Campanha, Santo Antônio do Amparo, Betim, Contagem e Belo Horizonte. Neste caso significativo analisaremos a causa da precipitação de granizo que ocorreu no dia 17/09/2008 em Belo Horizonte e Região Metropolitana. A tempestade começou próximo das 15:30 horas da tarde, acompanhada de descargas elétricas, rajadas de vento de até 50km/h e granizo. O impacto disso foi milhares de casas e centenas de automóveis danificadas, milhares de pessoas ficaram desabrigadas e sem energia elétrica, alagamentos, deslizamento de terra, árvores arrancados e vários feridos. Pelo menos duas pessoas morreram devido à enxurrada em Belo Horizonte. A Figura 1 apresenta imagens de satélite 10 GOES IR (realçada), representando a evolução da convecção sobre a Região de BH, entre às 18:30 e às 19:30 UTC, onde foi possível observar nuvens convectivas de alto desenvolvimento vertical, com topos de até -50ºC. A Figura 2 apresenta as descargas elétricas acumulada para o dia 17/09/2008. Observa-se que sobre a Região de BH o maior acúmulo de descargas elétricas ocorreu entre as 16:00 e 18:00 UTC, representado pela cor amarela/laranja. Figura 1 – Imagens de satélite GOES 10 IR realçada, entre às 18:30 e 19:30UTC. Figura 2 – Descargas elétricas acumuladas durante o dia 17/09/2008. Na Figura 3 mostra a carta sinótica de superfície das 00z elaborada pelo Grupo de Previsão do Tempo (GPT). Observamos o sistema frontal que se deslocou pela Região Sudeste entre os dias 15 e 16/09 já afastada do continente, na altura do ES. Este sistema não foi determinante para a ocorrência do granizo em BH, mas contribuiu para a convergência de umidade. Na Figura 4 observamos valores de umidade relativa em torno de 90% na camada 850/700 hPa sobre a Região de BH. Figura 3 – Carta sinótica de superfície das 18z do dia 17/09/2008 Figura 4 – Umidade Relativa na camada 850/700 MB (sombreado) e LIFTED (linhas) das 18z do dia 17/09/2008 A Figura 5 mostra a carta do nível de 500hPa, e como podemos observar, um intenso cavado atuava entre o sul da Região Sudeste, estendendo-se pelo Atlântico. Em seu núcleo e sobre o Atlântico esse sistema apresentava isotermas de -24ºC, e no sul de MG os valores chegavam a -12ºC. No nível de 250 hPa, representado pela Figura 6, também é possível observar este cavado, com o Jato Subtropical contornando sua borda superior e atuando sobre o estado de MG. Figura 5 – Carta sinótico de 500 hPa das 18z do dia 17/09/2008 Figura 6 – Carta sinótico de 500 hPa das 18z do dia 17/09/2008 O cavado citado no parágrafo acima foi determinante para incursionar o ar frio observado em níveis médios, e criar a condição de instabilidade atmosférica que provocou a formação e queda de granizo sobre a área em questão. Toda essa instabilidade pode ser confirmada através da análise da componente termodinâmica, onde se notam valores de índices de instabilidade típicos de tormentas severas. Na Figura 4 observamos valores de LIFTED de -2 sobre parte do centro-sul de MG, incluindo a Região da capital. Na Figura 7 (a, b e c), temos valores do índice K (linhas) e SWEAT (sombreado) (7a), Total-Total (TT) (7b, tracejado), Vertical Total (VT)(7b, sombreado) e CAPE (7c, sombreado). O índice K era de 35 sobre a área em estudo, e alcançou valores de até 40 sobre a área central de MG, e valores de SWEAT de até 270. Observaram-se valores de TT acima de 45, VT acima de 30 e CAPE de até 1000. a) b) c) Figura 7 – Índices de instabilidade observados em 17/09/2008 às 18z. a) índice K (linhas) e SWEAT (sombreado), b) Total-Total (tracejado) e c) CAPE (sombreado) Analisando o perfil vertical da atmosfera em BH, notamos que no horário das 00z (Figura 8a), a atmosfera estava muito instável, com valores muito elevados de LIFT (-6,11), SWEAT (285,1), VT(32), TT (55,2) e CAPE (787,4). Na figura 8b, referente ao horário das 12z (mais próximo da ocorrência da queda de granizo em BH), observa-se que os valores dos índices não estavam tão elevados, porém todos ainda davam condição para ocorrência deste fenômeno. Nesta figura observamos também, através das barbelas de vento, um cisalhamento de 90 graus entre a superfície e o nível de 500 hPa, indicativo de tendência de tempestades severas. Um fator determinante foi a presença de ar frio na troposfera media, representado pelo índice VT que mede o gradiente vertical de temperatura entre 850 hPa e 500 hPa. Na sondagem das 00Z, registrou-se um valor de VT de 32, indicando que o ar frio em 500 hPa era muito significativo (13C). a) b) Figura 8 – Perfil vertical da atmosfera em Belo Horizonte – MG, no dia 17/09/2008, às 00z (8a) e 12z (8b) Outro ingrediente importante para ocorrência de tempestades severas, e conseqüentemente (ou provavelmente) granizo, é a existência de uma camada de ar seco em níveis acima de 700 hPa, e isso também é observado na figura 8b, através do distanciamento entre as linhas de temperatura (T) e de temperatura do ponto de orvalho (Td), indicando uma camada de ar seco em 540 hPa, aproximadamente. Segue abaixo algumas fotos registradas durante o dia o evento.