UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA INTEGRADO DE DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL MODELO HIERÁRQUICO DE FOBIAS INFANTO-JUVENIS: TESTAGEM E RELAÇÃO COM OS ESTILOS MATERNOS Tese de Doutorado Adriana de Andrade Gaião e Barbosa João Pessoa, Fevereiro de 2009 UNIVERSIDADE FEDERA DA PARAÍBA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA INTEGRADO DE DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL MODELO HIERÁRQUICO DE FOBIAS INFANTO-JUVENIS: TESTAGEM E RELAÇÃO COM OS ESTILOS MATERNOS Adriana de Andrade Gaião e Barbosa Tese elaborada sob a orientação do Prof. Dr. Valdiney V. Gouveia, apresentada ao Programa Integrado de Doutorado em Psicologia Social (UFPB/UFRN) como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Psicologia Social. João Pessoa, Fevereiro de 2009 II MODELO HIERÁRQUICO DE FOBIAS INFANTO-JUVENIS: TESTAGEM E RELAÇÃO COM OS ESTILOS MATERNOS Adriana de Andrade Gaião e Barbosa Banca Examinadora ________________________________________________ Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia, UFPB (Orientador) ________________________________________________ Profª. Dra. Cristina Maria de Souza Brito Dias, UNICAP (Membro Externo) ________________________________________________ Profª. Dra. Virgínia Ângela M. Lucena e Carvalho, UFPB (Membro Interno) ________________________________________________ Profª. Dra. Carla Alexandra Moita Minervino, UEPB (Membro Externo) _________________________________________________ Profª. Dra. Patrícia Nunes da Fonsêca, UNIPÊ (Membro Externo) III DEDICATÓRIA À Meu grande amor: Genário, Às minhas melhores obras: Cecília de Fátima e Letícia de Fátima, e à minha inesquecível mãeinha: Nevinha. IV V AGRADECIMENTOS Quatro anos se passaram e através destes pude conhecer novos amigos, compreeender e explicar melhor alguns dos fenômenos que fazem parte da natureza humana, como também partilhar com os demais o conhecimento e o entendimento da necessidade de acreditar e confiar na dor do outro. E, com a apresentação desta tese, quero expressar a minha gratidão a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, participaram, colaboraram e acreditaram de modo desinteressado na sua realização. À Deus, razão maior de minha existência, fonte inesgotável de amor e refúgio nas aflições. A mola mestra que guia os meus passos e me faz entender a importância de amar e respeitar o outro. À Nossa Senhora de Fátima, Mãe celestial que sempre me atendeu em minhas orações, conduzindo-me por caminhos pedregosos e nos momentos mais difíceis me carregava em seus carinhosos e aconchegantes braços. Ao Prof. Dr. Valdiney Veloso Gouveia, meu orientador, que durante o período da minha formação acadêmica me enveredou pelos caminhos da pesquisa e agora, neste doutorado, com toda a sua sapiência, competência, disponibilidade e humor me conduziu na realização de mais esta etapa de minha vida profissional. Meu muito obrigada pela confiança depositada e pelas numerosas e valiosas orientações que fizeram de mim uma pesquisadora consciente e capacitada para trabalhar e entender os números, como um dos meios para explicar e entender os fenômenos psíquicos. Meu eterno agradecimento. Aos professores que se fizeram presentes na minha banca, que prontamente receberam o convite para participarem e darem contribuições importantes, fazendo das suas leituras momentos de reflexão e de grande aprendizado para mim; minha eterna gratidão. Ao Prof. Dr. Genário Alves Barbosa, que no decorrer de minha formação acadêmica, quando ainda uma iniciante, acreditou no meu potencial e me adentrou pelos caminhos da psicopatologia infantil, onde juntos, muito pesquisamos e publicamos, fazendo parte de minha pós-graduação, quando prontamente me orientou na dissertação e hoje faz parte da minha vida como uma pessoa indispensável para minha sobrevivência, autor principal das minhas duas melhores obras: nossas filhas. À minha família, que sempre esteve presente em minha vida, torcendo, acreditando e incentivando-me pelos caminhos tortuosos da pesquisa. Em especial à minha mãeinha, que acreditou nas minhas escolhas e que, por meio de suas orações, nos momentos de fraqueza, fez com que eu visse a necessidade de continuar, mesmo diante dos obstáculos. Ensinando-me com amor, zelo e dedicação as normas da vida e a arte de ser mãe. À senhora o meu grande agradecimento, respeito, admiração e eterno amor. VI Aos meus irmãos: Luiz, Walkiria e Ana Maria, que na árdua luta pela sobrevivência, sempre estiveram comigo, apoiando, incentivando e vibrando com as minhas conguistas, e quando nos momentos de desânimo, faziam-me compreender a importância de tê-los e acreditar na minha capacidade. Amo todos vocês. Um agradecimento em especial à Ana Maria, que durante estes últimos quatro anos acompanhou de perto todo o meu trabalho de coleta, de busca e de leitura, ajudando-me na confecção e organização dos instrumentos, como também emprestando-me seu ombro amigo para me acalentar nos momentos de fraquezas e angústias, diante do estresse e de minhas fragilidades. À Cecília de Fátima e Letícia de Fátima, que mesmo no pouco entendimento que possam ter, espero que, no futuro, compreendam os meus momentos de “ausência” e falta de paciência, pois todo o meu sacrifício foi pensando em poder dar uma qualidade de vida melhor a vocês. Saibam que vocês me deram o maior título que alguém possa ter: o de mãe, permitindo-me desempenhar o meu melhor papel. À Iany, coordenadora do curso de Psicologia, e à Iva, coordenadora responsável pela ClínicaEscola de Psicologia (UNIPÊ). Ambas, no decorrer desta caminhada, ajudaram-me muito, torcendo por mim e acreditando no meu trabalho, fazendo-se presentes ante as minhas “ausências” nas reuniões, projetos que necessitavam de minha presença. Às minhas eternas alunas, Mary Ellen, Shirley, Vanina, Juliana e Fernanda, que muito contribuíram na coleta de dados, onde cada uma, de acordo com sua disponibilidade, foi comigo às escolas e juntas construímos um elo de amizade e respeito. Às Irmãs Lourdinas, que permitiram e compreenderam as minhas faltas nos momentos que necessitei me ausentar do trabalho e da eterna confiança no meu papel de psicóloga junto aos seus alunos. Aos professores do doutorado, Leoncio Camino, Natanael, Maria da Penha, Nádia, Joca, pelos ensinamentos e orientações no decorrer das disciplinas cursadas. Obrigada pelo respeito. Aos meus colegas do curso e/ou núcleo de pesquisa Bases Normativas do Comportamento Social (BNCS): Ana Karla, Artur, Diógenes, Fátima, Josélia, Kátia, Luana, Patrícia, Poliana, Ridlésia, Thiago, Tiago e Walberto. Durante os anos de doutorado pude desfrutar de boa convivência, tendo oportunidade de trocar conhecimentos científicos, pautado sempre no respeito uns para os outros, colocando em prática a real necessidade que sentimos de aprender, trabalhando juntos em prol da melhoria nas relações interpessoais. Obrigada pelo companheirismo, respeito, disponibilidade e pelos momentos de descontração! VII À minha turma de doutorado, Fabíola e Thiago, que aprendemos a caminhar juntos, confiar e dividir tarefas, estreitando laços de amizade e que nos momentos de tensão ajudaram-me a superar as adversidades da vida estudantil. Às mães e/ou responsáveis das crianças e dos adolescentes pela confiança depositada em meu trabalho, confiando-me o que de mais precioso possuem: seus “filhos”; como também aos diretores e professores que se disponibilizaram para a realização das pesquisas, mostrando-se acessíveis e confiantes em participar na elucidação de formas de combatermos este grande mal: o medo, que muito pode abrandar-se mediante a participação dos pais na vida dos seus filhos, favorecendo um desenvolvimento harmonioso e saudável aos pequenos infantes. Aos infantes e adolescentes que fizeram parte das pesquisas, os quais prontamente responderam os questionários e colocaram-se à disposição. Meu eterno agradecimento a todos, pois sem vocês nada disso teria sentido. Vocês contribuíram, assim, para a elucidação de novos conhecimentos na área das fobias e na forma de compreender as práticas educativas de suas mães. E, por fim, a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram nesta minha formação. VIII MODELO HIERÁRQUICO DE FOBIAS INFANTO-JUVENIS: TESTAGEM E RELAÇÃO COM OS ESTILOS MATERNOS RESUMO – Partindo-se do interesse que os transtornos ansiosos e fóbicos suscitam na atualidade, sobretudo em grupos de crianças e adolescentes, bem como em razão da escassez de medidas a respeito no contexto brasileiro, decidiu-se realizar a presente tese. Esta teve como objetivo principal elaborar e testar um modelo hierárquico de fobias, considerando seis fatores de primeira ordem e um fator geral de neuroticismo. Tomando em conta este objetivo, realizaram-se três estudos empíricos. O Estudo 1 pretndeu elaborar uma lista de estímulos fóbicos, checando a validade semântica dos itens da versão preliminar do Inventário de Fobias Infantis (IFI). Participaram 30 crianças com idades entre 6 e 10 anos (m = 8,7; dp = 0,79), a maioria do sexo feminino (90%) e cursando a terceira série (4º ano) do ensino fundamental (60%) de uma escola privada de João Pessoa (PB). Levando em conta o conjunto de 24 itens reunidos, observou-se consistência interna (Alfa de Cronbach) de 0,89; a homogeneidade (correlação média corrigida item-total, ri.t) foi de 0,49 (t = 2,97, n = 30, p < 0,01). O Estudo 2 teve como objetivo conhecer evidências de validade fatorial e consistência interna do IFI. Compuseram a pesquisa 441 estudantes de uma escola pública de Cabedelo (60,1%) e uma privada de João Pessoa (39,9%), ambas integrando a grande João Pessoa (PB). Os participantes eram de segunda (3º ano) à sexta (7º ano) séries do ensino fundamental, com idades variando de 7 a 14 anos (m = 9,8; dp = 1,55), a maioria do sexo feminino (67,8%). Realizadas as análises empíricas dos itens, checaram-se evidências da validade fatorial dos fatores de fobia, tendo todos se mostrado unifatoriais, como era previsto; seus Alfas de Cronbach variaram de 0,42 (estímulos situacionais) a 0,79 (estímulos animais), com valor médio de 0,57, que atende aos propósitos de pesquisa. O Estudo 3 teve três objetivos principais: (1) conhecer os parâmetros psicométricos do IFI (validade fatorial e consistência interna), assim como avaliar se sua estrutura fatorial seria invariante em razão do sexo, (2) testar um modelo hierárquico com seis tipos de fobias e um fator de personalidade (neuroticismo) e (3) conhecer em que medida os estilos de socialização materna se correlaciona com as pontuações nos fatores de fobia. Os participantes deste estudo foram 399 crianças e adolescents com idades entre 8 e 15 anos (m = 11,0; dp = 1,47; 70,9% se situaram entre os 10 e 12 anos), a maioria do sexo feminino (53,1%). Estes eram da terceira (4º ano) a sexta (7º ano) séries do ensino fundamental, distribuídos de forma quase eqüitativa em razão do tipo de escola: privada (n = 207; 51,9%) e pública (n = 192; 48,1%). Os resultados indicaram que a estrutura fatorial proposta é adequada e invariante através do sexo dos participantes, tendo os Alfas de Cronbach valores aceitáveis para fins de pesquisa, variando de 0,49 (dois fatores: estímulos sociais e situacionais) a 0,80 (estímulos animais), com valor médio de 0,61. O modelo hierárquico das fobias, considerando o neuroticismo como sua fonte, mostrou-se adequado. Observou-se ainda que os estilos maternos percebidos se correlacionaram com as pontuações em fobia. Especificamente, os jovens com maior pontuação em negligente foram menos medrosos (fóbicos), enquanto que aqueles que pontuaram mais em autoritário apresentaram maior medo (fobia). Estes resultados são discutidos com base na literatura, ressaltando a importância de contar com uma medida de fobias que seja específica para crianças e adolescentes. Estudos futuros são também sugeridos. Palavras-chave: Medo, fobia, personalidade, neuroticismo, infantes, estilos parentais. IX HIERARCHICAL MODEL OF INFANT PHOBIAS: TESTING THE RELATIONSHIP WITH MATERNAL STYLES ABSTRACT – This dissertation arouse out of the interest that anxiety and phobias currently evoke, especially among adolescents and children, as well as the reason that there is a scarcity of empirical measures in the Brazilian context. The primary objective of this dissertation is to elaborate and test a hierarchical model of phobias, consisting of six first-order factors and a general neuroticism factor. Three studies were conducted. The first study aimed to develop a list of phobia stimuli and to check the semantic validity of items of a preliminary Inventory of Infant Phobias (IIP). Thirty children between the ages of 6 and 10 years (m = 8.7; sd = 0.79), the majority female (90%) and attending the third grade (4th year) of primary school (60%) of a private school in João Pessoa (PB). Considering the 24 items assembled, the internal consistency of (Cronbach’s Alpha) was 0.89; the homogeneity (corrected average item-total correlation, ri.t) was 0.49 (t = 2.97, n = 30, p < 0.01). The objective of the second study was to examine the factorial validity and internal consistency of the instrument. A total of 441 students at a public school in Cabedelo (60.1%) and a private school in João Pessoa (39.9%) participated, both located in the greater João Pessoa region (PB). Participants were studying at the second (3rd year) to the sixth (7th year) grade of primary school, with ages varying between 7 and 14 years (m = 9,8; sd = 1,55) and the majority being female (67.8%). Item analysis indicated signs of factorial validity of the phobia scale, since all factors were unidimensional as predicted; Cronbach’s alpha varied between 0.42 (situational stimuli) and 0.79 (animal stimuli), with a mean value of 0.57. Study 3 had three main objectives: (1) establishment of the psychometric parameters of the IIP (factorial validity and internal consistency), including an examination whether the factor structure is invariant across genders, (2) test the proposed hierarchical model with six phobia factors and one personality factor (neuroticism) and (3) to explore whether maternal socialization styles correlated with the measurements of the phobia factors. The participants were 399 children and adolescents (53.1% females) with ages between 8 and 15 years (m = 11.0; sd = 1.47; 70.9% were between 10 and 12 years). They attended between the third (4th year) and sixth (7th year) grade of primary school, distributed nearly perfectly between private (n = 207; 51.9%) and public schools (n = 192; 48.1%). Results demonstrate that the proposed structure is adequate and invariant across gender. Cronbach’s alpha were acceptable for research purposes, ranging from 0.49 (two factors: social and situational stimuli) and 0.80 (animal stimuli), with a mean value of 0.61. The hierarchical model of phobias with neuroticism as its base was also found to be adequate. It was also observed that maternal socialization stiles correlated with phobias. Specifically, children that perceived their mother as more negligent were less anxious (phobic) compared with those that perceived their mother as having an authoritary style of socialization. These later were more anxious (phobic) compared with the former ones. These results are discussed in relation to the literature, reaffirming the importance of a measurement of phobias that is specific for children and adolescents. Future studies are also suggested. Keywords: anxiety, phobia, personality, neuroticism, infants, parental styles. X MODELO JERÁRQUICO DE FOBIAS INFANTO-JUVENILES: COMPROBACIÓN Y CORRELACIÓN CON ESTILOS MATERNOS RESUMEN – Teniendo en cuenta el interés que los trastornos ansiosos y fóbicos producen en la actualidad, sobre todo en grupos de niños y adolescentes, así como en razón de la escasez de medidas al respecto en el contexto brasileño, se realizó la presente tesis. Ésta tuvo como objetivo principal elaborar y comprobar un modelo jerárquico de fobias, considerando seis factores de primer orden y un factor general de neuroticismo. A partir de este objetivo, tres estudios empíricos han sido realizados. El Estudio 1 pretendió elaborar una lista de estímulos fóbicos, conociendo la validez semántica de los ítems de la primera versión del Inventario de Fobias Infantiles (IFI). Participaron en este 30 niños con edades de 6 a 10 años (m = 8.7; dt = 0.79), la mayoría mujeres (90%), cursando el cuarto año de la ensenãnza básica (60%) de una escuela privada de João Pessoa (PB). Teniendo en cuenta el conjunto de 24 ítems, se observó fiabilidad (Alfa de Cronbach) de 0.89; la homogeneidad (correlación promedia corregida ítemtotal, ri.t) fue de 0.49 (t = 2.97, n = 30, p < 0.01). El Estudio 2 objetivó conocer evidencias de validez factorial y fiabilidad del IFI. Formaron la muestra 441 estudiantes de una escuela pública de Cabedelo (60.1%) y una privada de João Pessoa (39.9%), las dos haciendo parte de la región metropolitana de João Pessoa (PB). Los participantes cursaban del tercer al septimo años de la enseãnza básica, con edades en el rango de 7 a 14 años (m = 9.8; dt = 1.55), la mayoría mujeres (67.8%). Realizados los análisis empíricos de los ítems, se han comprobdo evidencias de validez factorial de los estímulos fobicos; en el caso, todos los tipos se han mostrado unifactoriales, como previsto; sus Alfas de Cronbach variaron de 0.42 (estímulos situacionales) a 0.79 (estímulos animales), con valor promedio de 0.57, que cumple los propósitos de investigación. El Estudio 3 presento tres objetivos principales: (1) conocer los parámetros psicométricos del IFI (validez factorial y fiabilidad), como también evaluar si su estructura factorial sería invariante según el sexo, (2) comprobar un modelo jerarquico con seis tipos de fobias y un factor de personalidad (neuroticismo) y (3) conocer en qué medida los estilos de socialización materna se correlaciona con las puntuaciones en los factores de fobia. Los participantes de este estudio han sido 399 niños y adolescents con edades de 8 a 15 años (m = 11.0; dp = 1.47; 70.9% se situaron en el rango de 10 a 12 años), la mayoría mujeres (53.1%). Ellos cursaban del cuarto al septimo años de la enseñanza básica, distribuídos casi que igualmente por el tipo de escuela: privada (n = 207; 51.9%) y pública (n = 192; 48.1%). Los resultados indicaron que la estructura factorial propuesta es adecuada e invariante a través del sexo de los participantes, teniendo Alfas de Cronbach aceptables para fines de investigación, variando de 0.49 (dos factores: estímulos sociales y situacionales) a 0.80 (estímulos animales), con valor promedio de 0.61. El modelo jerárquico de las fobias, considerando el neuroticismo como su fuente, se mostró adecuado. Se comprovó aún que los estilos maternos percibidos se correlacionaron con las puntuaciones en fobia. Específicamente, los jóvenes con mayor puntuación en negligente fueron los menos miedrosos (fóbicos), mientras que aquellos que puntuaron más en autoritario presentaron miedo mais intenso (fobia). Estos hallazgos son discutidos según na literatura, poniendo énfasis en la importancia de contar con una medida de fobias que sea específica para niños y adolescentes. Estudios futuros son también sugeridos. Palabras-clave: Miedo, fobia, personalidad, neuroticismo, infantes, estilos parentales. XI ÍNDICE RESUMO..... .................................................................................................................................vii ABSTRACT...... ...........................................................................................................................viii RESUMEN.. ................................................................................................................................... ix LISTA DE TABELAS ................................................................................................................. xiv LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... xv INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 16 PARTE I – Marco Teórico.......................................................................................................... 25 Capítulo I – Ansiedade, Medos e Fobias ................................................................................... 26 1.1. Definições ............................................................................................................................... 33 1.2. Etapas Evolutivas ................................................................................................................... 35 1.3. Classificação Diagnóstica dos Transtornos Fóbico-ansiosos ............................................ 40 1.4. Características Capítulo II – Práticas Educativas ............................................................................................. 78 3.1. Práticas Educativas ................................................................................................................. 83 3.2. Estilos Parentais ...................................................................................................................... 85 3.3. Mensuração de Estilos Parentais ........................................................................................... 89 3.4. Correlatos de Estilos Parentais .............................................................................................. 90 Capítulo III – Tipos de Escalas utilizadas ................................................................................ 45 2.1. Conceitos ................................................................................................................................ 48 2.2. Classificação ........................................................................................................................... 49 2.3. Características ......................................................................................................................... 51 PARTE II: PESQUISAS EMPÍRICAS ................................................................................... 124 5. ESTUDO 1: Elaboração do Inventário de Fobias Infantis ............................................... 125 5.1. Introdução ............................................................................................................................. 125 5.2. Método.. ................................................................................................................................ 128 XII 5.2.1. Amostra ............................................................................................................................. 128 5.2.2. Instrumento ........................................................................................................................ 128 5.2.3. Procedimento ..................................................................................................................... 130 5.2.4. Aspectos Éticos ................................................................................................................. 131 5.2.5. Análise dos dados .............................................................................................................. 131 5.3. Resultados............................................................................................................................. 132 5.4. Discussão .............................................................................................................................. 144 6. ESTUDO 2: Inventário de Fobias Infantis: Versão Experimental ................................... 148 6.1. Introdução ............................................................................................................................. 148 6.2. Método.. ................................................................................................................................ 149 6.2.1. Amostra ............................................................................................................................. 149 6.2.2. Instrumento ........................................................................................................................ 150 6.2.3. Procedimento ..................................................................................................................... 150 6.2.4. Aspectos Éticos ................................................................................................................. 131 6.2.5. Análise dos dados .............................................................................................................. 151 6.3. Resultados............................................................................................................................. 152 6.4. Discussão .............................................................................................................................. 158 7. ESTUDO 3: Inventário de Fobias Infantis: Parâmetros Psicométricos ........................... 161 7.1. Introdução ............................................................................................................................. 161 7.2. Método.. ................................................................................................................................ 162 7.2.1. Delineamento e Hipóteses ............................................................................................... 162 7.2.2. Amostra ............................................................................................................................. 164 7.2.3. Instrumentos ...................................................................................................................... 165 7.2.4. Procedimento ..................................................................................................................... 168 7.2.. Aspectos Éticos ................................................................................................................... 131 7.2.6. Análise dos dados .............................................................................................................. 169 7.3. Resultados............................................................................................................................. 169 7.4. Discussão .............................................................................................................................. 170 7.5. Correlatos dos Estilos Parentais ........................................................................................... 173 7.6. Modelo Explicativo dos Estilos Parentais ............................................................................ 174 XIII 7.7. Discussão .............................................................................................................................. 176 PARTE III: DISCUSSÃO GERAL ......................................................................................... 195 8. Compreendendo os resultados e seu contexto ..................................................................... 196 8. 1. Limitações da Pesquisa........................................................................................................ 197 8. 2. Principais Contribuições ...................................................................................................... 199 8. 3. Aplicabilidade...................................................................................................................... 202 8. 4. Possibilidades de Pesquisas Futuras .................................................................................... 204 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 207 XIV ANEXOS Anexo I. Inventário de Fobias Infantis – 1ª versão....................................................................231 Anexo II. Inventário de Fobias Infantis – 2ª versão..................................................................231 Anexo III. Termo de Compromisso Livre e Esclarecido ...........................................................231 Anexo IV. Instruções.......................................................................................................................231 Anexo V. Escala de Estilo Parental Materno...................................................................................231 Anexo VI. Invemtário de Fobias Infantis.........................................................................................231 Anexo VII. Escala de Traços de Personalidade para Criança.....................................................231 Anexo VIII. Inventário dos Cinco Grandes................................................................................231 Anexo X. ...........................................................................................231 XV LISTA DE TABELAS Tabela 1. Estrutura Fatorial da Escala de Percepção da Escola como Comunidade..........136 XVI LISTA DE FIGURAS Figura 1. Distribuição Gráfica dos Valores Próprios da EPEC........................................134 XVII Introdução XVIII O comportamento infantil e suas conseqüências se distanciam muito em relação aos dos adultos. No que se refere à psicopatologia infanto-juvenil e os seus processos de diagnóstico e intervenção, ainda são escassamente estudados, uma vez que tais pesquisas, em princípio, são de difíceis realizações. Nestas são identificadas diversas áreas de estudo que garantem novos conhecimentos, como, por exemplo, a relação das fobias, estilos parentais, ansiedade etc. Na própria psicologia infantil tais estudos em infantes e adolescentes ainda são raros, embora tenham sua importância ao permitirem conhecer o desenvolvimento infanto-juvenil e os problemas correlatos (Barbosa, Gaião e Barbosa & Gouveia, 2002; Doménech & Ascaso, 1995). Igualmente faltam programas de estratégias de prevenção e instrumentos de medidas de comportamentos desses indivíduos, o que permitiria dar suporte para um programa adequado de saúde mental infanto-juvenil. Vale salientar que a escassez de estudos na área infantil dá-se, entre outras coisas, pela dificuldade em obter informação da própria criança, sendo, na maioria das vezes, seus pais, professores e familiares os informantes. A presente tese é um grão de areia no amplo e pouco conhecido campo do comportamento social infanto-juvenil e de sua relação com determinadas características, notadamente as de caráter psicopatológico e de compreensão da forma de educação materna como um fator de determinação condutual satisfatória ao seu desenvolvimento bio-psicoacadêmico e social. Assim, esta tese está direcionada para o estudo de fobias infantis, considerando como seu elemento propiciador ou sua base de formação o traço de personalidade denominado neuroticismo, procurando ainda levar em conta o estilo da prática educativa materna como variável que pode potencializar as fobias. Para Gutiérrez (2005) a ansiedade é um dos conceitos centrais da psicologia, onde se tem relacionado com a percepção, a execução, a aprendizagem, a memória, a cognição e a capacidade de resposta sexual. Este atributo psicológico pode ser evidente frente a objetos 19 irreais, mas também ser suscitado diante de eventos ou situações observadas ou sentidas. Neste caso, fala-se em medo. Este compreende um sintoma normal que faz parte do desenvolvimento infanto-juvenil, que no decorrer do processo se caracteriza como uma das etapas evolutivas e, com o passar dos anos, tende a desaparecer; caso contrário, persistindo, prejudica e interfere de forma substancial o desenvolvimento psico-afetivo-social e acadêmico do indivíduo. Os medos são episódios freqüentes e comuns na vida de crianças e adolescentes, embora possam ser distintos de acordo com sua etapa evolutiva, caracterizando-se, ademais, de forma diferenciada dos medos dos adultos. Quando um medo persiste ou começa a interferir na vida diária do infante, diz-se que é fobia; esta se refere a medos, justificáveis ou não, de um objeto ou uma situação, contato com o qual determina uma intensa angústia, onde muitas vezes impossibilita o infante de executar atividades que antes realizava sem problema algum. O medo, apesar do que anteriormente se comentou, ainda pode ser entendido como uma emoção útil e necessária, pois consiste em preparar o indivíduo diante de uma situação de perigo, permitindo-lhe organizar-se e defender-se. Por outro lado, a fobia tem uma natureza eminentemente negativa, paralisante, que obstacula a vida cotidiana e origina reações excessivas e inadequadas, finalizando na evitação de todos os contatos com o objeto que cria a ânsia. Neste contexto, o medo pode ser entendido como normal, enquanto que a fobia compreende sua manutenção e intensificação (Méndez, 2005). Sabe-se que é normal sentir medos, muito embora a maioria desses não apresente uma razão lógica de sua existência. Em se tratando de crianças, por exemplo, é comum os pais não darem a devida atenção aos temores que seus filhos apresentam, achando que se trata de algo passageiro ou simplesmente um mero capricho para chamar sua atenção. Quando da falta do devido conhecimento por parte dos pais, frente a situações estressoras que causam temores em 20 razão da recusa por parte dos infantes, tanto eles como os professores dos jovens tendem a não aceitar as manifestações que apresentam, a exemplo de irritabilidade, desânimo, déficit acadêmico, sudorese, choro ou taquicardia. Há que se destacar que quando tais condutas não são observadas e identificadas precocemente, poderá acarretar em danos para o desenvolvimento dos indivíduos. Partindo da necessidade de se conhecer melhor as estruturas e dimensões do medo infanto-juvenil, a presente tese tem como objetivo principal elaborar e comprovar um modelo hierárquico das fobias, partindo daqueles propostos por Taylor (1998) e Cox, McWilliams, Clara e Stein (2003). Neste sentido, procura primeiramente elaborar uma lista de estímulos fóbicos que permita conhecer melhor suas dimensões mais prevalentes na população de infantes. Partindo desta lista, procura propor um instrumento de screening que possibilite identificar a intensidade dos medos ou a fobia vivenciada pelos indivíduos. Posteriormente, é avaliada a estrutura e invariância fatorial desta medida, que é correlacionada com medidas de neuroticismo e estilo parental materno. Finalmente, comprova-se o modelo hierárquico, que identifica seis fatores de primeira ordem de fobias, tendo como fator geral, determinante, o neuroticismo. A tese é estruturada em duas partes principais. A primeira parte, Marco Teórico, está formada por dois capítulos principais. O Capítulo 1 se intitula “Do medo à ansiedade”, abordando aspectos como os conceitos de ansiedade, medo e fobia, e as etapas evolutivas do medo, prevalência e classificação diagnóstica dos transtornos, os fatores desencadeantes e a classificação desses transtornos, assim como descreve os principais instrumentos psicométricos que têm sido usados neste âmbito. No Capítulo 2, cujo título é “Família, Estilos Parentais e Personalidade”, são discutidos a família como fonte de socialização, primando-se pela importância dos estilos parentais e seus correlatos, e enfocando a personalidade, com 21 destaque para o modelo dos cinco grandes fatores. Na segunda parte, Estudos Empíricos, são apresentados três estudos que procuram contemplar os objetivos desta tese, detalhando o método, os resultados e uma discussão parcial. O Estudo 1 propõe a elaboração do Inventário de Fobias Infantis (IFI), primando, sobretudo, pela reunião de itens, quer escrevendo-os a partir de práticas clínicas ou considerando a literatura sobre a temática. No Estudo 2 procurase avaliar características psicométricas do IFI, conhecendo a qualidade dos itens e a estrutura fatorial dos diversos tipos de fobias. Finalmente, o Estudo 3 pode ser considerado o foco principal da tese, procurando comprovar a estrutura e invariância fatorial dos seis fatores de primeira ordem das fobias, que também considera um fator antecedente de personalidade denominado como neuroticismo; além disso, relacionam-se os tipos de fobia com o estilo parental materno. Continuando nesta parte, apresenta-se uma discussão geral, oportunidade em que são resgatados e discutidos os principais resultados, bem como são pensadas as limitações potenciais do estudo, sua aplicabilidade e uma agenda de pesquisas futuras. Considerando este esquema geral em mente, apresentam-se a seguir o marco teórico e os estudos empíricos que dão sentido a presente tese. Como se apreciará, suas contribuições vão em três direções principais, correspondendo a capítulos específicos: (1) propor um modelo teórico de fobias infanto-juvenis, (2) apresentar uma medida que cobre uma lacuna importante no contexto brasileiro, carente de medidas destes distúrbios na infância e (3) situa alguns correlatos das fobias, a exemplo do estilo parental materno, sugerindo a natureza também social deste construto. Portanto, confia-se que tenham sido apresentados argumentos suficientes que justifiquem a adequação e originalidade do presente empreendimento. 22 PARTE I: Marco Teórico 23 Capítulo 1 - Do Medo à Ansiedade 1.1 - Distinções Conceituais de Ansiedade, Medo e Fobia As crianças sofrem com freqüência medo e ansiedade, mas descobrir os mecanismos pelos quais estas respostas normais se convertem em autênticos transtornos é um desafio para a psicologia e áreas afins. Assim, para uma melhor compreensão, a respeito se faz necessário definir esses termos, possibilitando, desta forma, o conhecimento de um transtorno maior que é denominado como fóbico. A ansiedade é uma emoção difícil de ser descrita. Em termos gerais, compreende uma sensação de intranqüilidade e temor com relação a uma ameaça não-definida, sendo, por sua vez, empregada para descrever sentimentos ou sensações que só se aproximam de fato. Define uma experiência interna do indivíduo, gerando muitas vezes confusões no seu real entendimento do que sente, produzindo um sentimento vago e desagradável que se acompanha de uma premonição de que vai ocorrer algo. Em Gutiérrez (2005) fica evidente a definição da ansiedade como um padrão ou conjunto complexo e variável de condutas, caracterizado por sentimentos subjetivos de temor e tensão, acompanhados de ou associados com uma ativação fisiológica intensa, que tem lugar em resposta a determinados estímulos, tanto internos (cognitivos e/ou somáticos) como externos (ambientais). Após uma revisão extensa das definições clássicas e atuais da ansiedade, Lewis (1970) desenvolveu a seguinte lista de características comuns deste transtorno: 1) é um estado emocional que inclui temor subjetivamente experimentado ou uma emoção intimamente relacionada; 2) a emoção é desagradável; 24 3) se dirige face o futuro; 4) ou bem não existe uma ameaça clara ou bem a ameaça cai dentro de padrões razoáveis, muito distinto a proporção da emoção que parece provocar; 5) produz moléstias corporais subjetivas durante o período da ansiedade; e 6) causa perturbações corporais manifestas. Na psicopatologia se tem procurado identificar a ansiedade como um estado emocional mais ou menos específico, ou seja, uma conduta emocional/fisiológica, um traço psicológico da personalidade, ou simplesmente como uma causa ou explicação da conduta. Segundo Spielberger (1972) existem dois tipos de ansiedade. Por um lado, a ansiedade – estado, compreendida como uma reação emocional que consiste em sensações desagradáveis, percebidas conscientemente, de tensão e apreensão junto com uma ativação associada do sistema nervoso autônomo. Por outro, ele descreve a ansiedade – traço, concebida como uma medida das diferenças na predisposição à ansiedade entre indivíduos referentes a probabilidade de que se manifestem estados de ansiedade sob circunstâcia que implicam distintos graus de estresse (ver também Gutiérrez, 2005). Todavia, é difícil traçar uma linha divisória entre a ansiedade normal e a clínica. A definição de ansiedade clínica é operacional, determinada principalmente pelo modo em que a ansiedade afeta o paciente, enquanto a normal pode ser concebida com uma sensação de alerta, inquietante e algumas vezes desagradável, mas possível de ser controlada e identificada (Caffo, 2003). Rodríguez-Sacristán (1995) considera que a diferenciação de ansiedade normal e patológica na infancia é uma tarefa difícil, pois a graduação de seus níveis não é um critério diagnóstico suficiente. Segundo este autor, a ansiedade normal seria um estado emocional de tensão que pode ter sua origem em um estilo “positivo ou negativo”, que a ser superado dá a 25 criança uma maior segurança em si mesma e a ensina a adaptar-se ao meio em que se desenvolve sua existência como pessoa; ainda que estas reações sejam graves, não haverá repercussões para o futuro de sua organização e seu amadurecimento emocional. Já a ansiedade patológica seria um estado emocional com desproporção entre a resposta emotiva e uma situação externa determinada, onde a criança e / ou o adolescente sente uma mistura de inquietude, falta de ação, desgosto, temor difuso, sensação intensa de perigo ou sentimento de insegurança, nem sempre correspondendo a ciscustâncias reais. Esta é vivenciada de uma forma psíquica intensa, acompanhada de sensações físicas de opressão, mal-estar, dor, instabilidade e somatizações. O medo é identificado como um estado de diversa intensidade emotiva que vai de uma polaridade fisiológica, como o temor, a apreensão, a preocupação, a inquietude ou hesitação, a uma polaridade patológica que pode ser caracterizada pela ânsia, o terror, a fobia ou o pânico (Caffo, 2003). Este mesmo autor indica que o medo exprime uma emoção atual e prevista no futuro, na qual as pessoas não conseguem fazer a distinção do medo real ou imaginário, sobretudo entre infantes. Estes percebem o medo como se referindo a algo real, levando-as, muitas vezes, ao estado de paralisia, chegando a comprometer o desenvolvimento de atividades que antes faziam sem qualquer problema, como, por exemplo, permanecer sozinha em algum lugar, ir à escola e adentrar-se em lugares escuros. Pode-se ainda entender o medo como uma emoção que envolve o organismo em sua globalidade, que vem ativado por um estímulo circunscrito. Este medo apresenta um estado de tensão somática e agitação, aumento do ritmo cardíaco, sudorese excessiva, piloereções etc., além de dificuldade propriamente psicológica caracterizada por uma desorganização cognitiva-emotiva (Caffo, 2003). Entretanto, cabe ressaltar, o medo tem uma função positiva, pois funciona como um sinal de emergência e alarme, preparando a mente e o corpo para 26 desencadear uma reação manifesta que necessita de ajuda e socorro. Como ocorre com a ansiedade, com o medo também é difícil de diferenciar um estado patológico de outro normal, segundo Rodríguez-Sacristán (1995), pois em ambos se verifica a presença de muitos sintomas comuns. A experiência sugestiva do fenômeno medo é representada por um evitamento intenso e confronto com um objeto ou uma situação que provoque tal medo. Neste caso, a tensão pode chegar à imobilidade (paralisia do medo) e o foco da consciência do medo não guarda somente o campo perceptivo externo, imediato; o aspecto da experiência mais subjetiva é também afetado, isto é, para vivenciar o medo não é estritamente necessário o estímulo que o produz. O fato simples de pensar acerca de tal estímulo é capaz de produzir um estado estático, que pode perseverar. Rodríguez-Sacristán (1995) lembra que o medo pode ser inato ou adquirido; o fator fundamental para o seu desencadeamento resulta da percepção e da valorização que se faz do estímulo, quer fisicamente presente ou apenas imaginado. Entretanto, independente do tipo de medo, suas conseqüências na vida psico-afetiva e acadêmica de crianças e mesmo adolescentes podem ser notadamente nocivas e preocupantes, principalmente quando se apresentam com intensidade severa. O medo se caracteriza tanto como uma variável independente, compreendendo situações onde o estímulo pode suscitar diversas categorias de resposta, ou variável dependente, que diz respeito aos comportamentos que sofrem influência da situação (estímulo → Resposta). Este nem sempre é provocado por uma situação bem definida; contrariamente, muitas vezes a ansiedade correlata é uma sensação desagradável crescente quando a situaação do estímulo é mais claramente definida. 27 Para uma melhor compreensão acerca de como a ansiedade pode se distinguir do medo, pode-se apontar que o primeiro é um processo emocional, enquanto que o segundo compreende um processo cognitivo. Portanto, segundo Gutiérrez (2005), o medo implica na avaliação intelectual de um estímulo ameaçante, enquanto que a ansiedade implica na resposta a essa avaliação. Quando uma pessoa diz que tem medo de algo, está se referindo a um conjunto de circunstâncias que podem até não estarem presentes, mas que têm o potencial de ocorrer em algum momento no futuro. Por outro lado, quando uma pessoa tem ansiedade experimenta um estado emocional desagradável e subjetivo, caracterizado por sentimentos como tensão ou nervosismo, e por sintomas fisiológicos como palpitações, temor, náuseas e desmaios, sempre pautado em um por vir, uma premunição, uma antecipação de algo que ainda não ocorreu. Contrariamente, o medo se ativa quando uma pessoa se expõe, física ou psicologicamente, a situação estímulo que se considera ameaçante. O medo constitui um sistema primitivo de alarme que ajuda a criança a evitar situações potencialmente perigosas. É uma emoção que se experimenta ao longo da vida, ainda que as situações temidas possam variar consideravelmente com a idade (por exemplo, os medos imaginários podem ser mais típicos da infância, enquanto que aqueles de falar em público talvez caracterizem mais os adolescentes). Portanto, o desenvolvimento biológico, psicológico e social, próprio das diferentes etapas evolutivas (infância, adolescência etc.), explica a remissão de uns medos e a aparição de outros novos para adaptar-se às mudanças demandadas (Pelechano, 1981). Os medos são muito freqüentes durante a infância, de modo que praticamente todas as crianças se referem ao menos a um temor importante (Sandín, 1997). Todavia, o medo pode chegar a constituir um transtorno fóbico, gerando mal-estar clinicamente significativo e repercutindo negativamente nas áreas pessoal, familiar, escolar e / ou social, como mostra a Figura 1. 28 Figura 1. Esquema de compreensão do medo infantil De acordo com esta figura, se o medo for ativado, o infante poderá vir a sentir ou experimentar ansiedade. O medo é, então, a valoração do perigo; a ansiedade correpsonde ao estado emocional desagradável provocado quando se estimula o medo. O medo intenso pode ser entendido como uma fobia que cursa com a preocupação e a ansiedade, ativada pelo sistema nervoso autônomo, parasimpático, com alterações da pressão sangüínea, da temperatura corpórea, diminuição dos batimentos cardíacos e da tensão muscular, sudorese excessiva e dilatação da pupila, resultando em uma incapacidade de reagir de maneira ativa, optando pela fuga ou simplesmente se sentindo oprimido. Esta reação parasimpática pode 29 conduzir à morte por colapso cardio-circulatório. Mas, um processo algo diferente está por trás do medo menos intenso; este é ativado pelo sistema nervoso simpático, com maior afluência sangüínea e tensão muscular, como também aumento dos batimentos cardíacos (Caffo, 2003). Independente de o medo ser transitório em uma criança ou adolescentes, ou mesmo que se mantenha até a idade adulta, sua existência pode desencadear problemas em diversos âmbitos, como o pessoal e familiar, com repercussões imediatas e também a longo prazo. Por exemplo, como qualquer fobia específica, a fobia ao escuro pode interferir de modo significativo nos âmbitos afetivo, social e acadêmico da vida infanto-juvenil, evitando que se esponha a contextos onde há pouca ou escassa iluminação; o mesmo pode ser dito sobre a fobia de falar em público, que pode levar o jovem a se isolar, tornando-se pouco sociável e, inclusive, fazendo com que perca oportunidades importantes na sua vida pessoa e escolar. É importante salientar que os transtornos infantis afetam tanto as crianças como seus pais, podendo ser também um antecedente para o aparecimento ou a intensificação de outros problemas na adolescência e na vida adulta, como, por exemplo, o transtorno de ansiedade e a depressão (Rodríguez-Sacristán, 1995). Fobia, palavra que se deriva do grego phobos (φόβος), significa "medo, temor", que por sua vez provém de um deus grego (Phobos), que era capaz de provocar medo e pânico em seus inimigos (Gutiérrez, 2005). Em linguagem comum, é o temor ou a aversão exagerada ante situações, objetos, animais ou lugares a que se chama de fobia. Sob o ponto de vista clínico, no âmbito da psicopatologia, as fobias fazem parte do espectro das doenças de ansiedade com a característica especial de só se manifestarem em situações particulares (Rodríguez-Sacristán, 1995). Referem-se, ainda, segundo este autor, a uma classe específica de medo e se definem como um “medo exagerado e incapacitante”; uma fobia se caracteriza também por um desejo 30 intenso de evitar uma situação temida, que provoca ansiedade quando o indivíduo se expõe a esta. A fobia se refere a um “objeto” específico de medo. Inicialmente uma pessoa tem medo de um tipo específico de situação ou acontecimento. Quando está na situação em questão, ela tem um medo agudo das conseqüências, mesmo que sejam pequenas; contudo, geralmente não é capaz de julgá-la para poder se controlar ou compreendê-la. Se ativada uma fobia ou um medo, a reação do indivíduo pode ir desde uma ligeira ansiedade até o pânico. Neste contexto, a qualidade principal de uma fobia é que implica na valoração de um grau elevado de risco em uma situação que é relativamente segura (Rodríguez-Sacristán, 1995). O pânico é um estado de ansiedade intenso, agudo, associado com outros sintomas fisiológicos, motores e cognitivos. Os correlatos fisiológicos do pânico são uma versão intensificada dos da ansiedade, ou seja, pulso rápido, sensação de desmaios, sudorese abundante, tremores, frio e medo da morte (tanatofobia). De acordo com a psicopatologia geral, o pânico após instalado ultrapassa a ansiedade para um grau de maior comprometimento, correspondendo a uma angústia vital (Spitz & Nissen, 1983). De acordo com Caffo (2003), é possível distinguir dois grandes grupos de fobia: a específica e a social. A fobia específica corresponde a medos muitos intensos de objetos ou situações específicas, como, por exemplo, o escuro, algum meio de transporte público, atravessar uma ponte, subir em elevador, viajar de avião etc. Esta, em sua maioria, tem origem na infância e caracteriza-se por temor a objetos, animais ou situações circunscritas e bem definidas. Por outro lado, a fobia social entende-se como a exposição a certas situações ou perturbações sociais, como falar, comer, tocar em público, isto é, quando o indivíduo se encontra frente a um núcleo social e depara-se com pessoas que não são de seu círculo de amizade. Estas são típicas da adolescência, por volta dos 11 aos 18 anos de idade. 31 Brazelton (1994) afirma que, entre os três e seis anos de idade as crianças são propensas a sentir vários tipos de medos, como, por exemplo, escuro, pessoas fantasiadas e barulho intenso. Porém, à medida que vão crescendo e tomando consciência dos próprios sentimentos, elas começam a temer a agressão por parte de outras pessoas e de situações que a remetem ao medo. Neste ponto, é oportuno relembrar que a distinção entre medos e fobias é difícil às vezes, pois deve-se considerar o estágio de desenvolvimento do indivíduo, sua experiência de vida e educação. A fobia se instala quando o medo supera a capacidade adaptativa e evolutiva da criança. Portanto, a evolução do medo depende, também, do desenvolvimento da criança, da resposta fornecida pelos adultos e dos eventos externos com os quais se depara. No momento da crise ou do stress, em casa ou na escola (por exemplo, mudança de escola, nascimento de um irmão, transferência para outra cidade), os medos podem intensificar-se ou ritualizar-se. Falar do medo implica em tratar de sentimentos que, na maioria das vezes, não têm explicação; apenas existem e se manifestam de diversas formas, e à medida que vão se intensificando, provocam prejuízos em diversas áreas que constitui o ser humano. Assim, em relação ao modo de ser do indivíduo, pode-se entender a origem do medo em função de duas vertentes: o medo inato e o adquirido (Barbosa & Gaião e Barbosa, 2001). O medo inato caracteriza-se por estímulo físico muito intenso, como, por exemplo, dor, eventos ou pessoas desconhecidas, das quais o indivíduo não pode se aproximar ou eventualmente contactá-las; situação de perigo de sobrevivência do indivíduo; ou situações onde há a necessidade de interagir com pessoas ou animais agressivos. Destaca-se, por exemplo, o medo de estranhos, de escuro, a certos animais (sapo, serpente), medo de aves ou parte de um membro amputado. Spitz (1979) indica que a partir do oitavo mês o bebê sente 32 não somente a ausência da mãe, mas também apresenta medo às pessoas estranhas, e por esse motivo exigindo sempre a presença da genitora. Este fenômeno é conhecidode como ansiedade de separação. Frize-se que a separação materna já desperta o medo no bebê nesse período de desenvolvimento. Em relação ao medo adquirido, este se constitui pela variedade de estímulos originando uma experiência direta que resulta em situações penosas e perigosas, onde há o condicionamento, transformando estímulo neutro em estímulo fóbico (o típico condicionamento clássico pavloviano). O medo é um tipo de emoção que faz parte da vida de todo ser humano, muito embora algumas pessoas são acometidas deste com maior intensidade do que outras, e, se não tomada uma devida providência, esta situação provocará danos e repercutirá na vida adulta do indivíduo. Portanto, de acordo com Pelechano (1984), o medo não desaparece necessariamente com o passar do tempo nem com o incremento da experiência; a capacidade adquirida de resolver situações apenas diminui alguns medos, mas outros não. Ademais, com o passar dos anos é provável que apareçam uns medos que antes não existiam. Dito em outras palavras, os resultados de pesquisas têm demonstrado que a quantidade total de medos que identificam um ser humano tende a manter-se constante ao longo de todo o seu ciclo vital, observando-se uma mudança de uns medos para outros (Caffo, 2003). Estes aspectos demandam compreender algo mais acerca do como o medo evolui, aspecto que se contempla a seguir. 1.1.2 – Etapas Evolutivas do Medo O desenvolvimento da expressão emocional é um processo gradual que começa na infância e continua na adolescência. As mudanças na felicidade, no enfado, na tristeza e no 33 medo refletem as capacidades cognitivas evolutivas, dando lugar às emoções autoconscientes. As reações de medo são escassas no princípio da infância, provavelmente por razões adaptativas (Cantwell & Carlson, 1987). As crianças pequenas não têm as habiliades motoras para proteger-se de situações perigosas, dependendo das pessoas de seu convívio para obter a satisfação de suas necessidades e seus cuidados básicos. Justifica-se, portanto, o fato de a ansiedade de separação, descrita por Spitz (1979) ser provavelmente um fator precusor do medo. Com o passar do tempo, o medo aumenta durante a segunda metade do primeiro ano, sendo os mais comuns os de estranhos, sons muito altos e abismo visual. No entanto, a expressão de medo mais freqüente é ante adultos desconhecidos. Com efeito, os fatores situacionais de ansiedade frente a estranhos ajudam a compreender a transcedência de um medo maior aos oito meses. O medo diminui quando a criança vai adquirindo uma série ampla de estratégias para afrontá-lo. Deste modo, as primeiras reações de medo são o resultado combinado de vários fatores interatuantes, como a adaptabiliade de responder ao medo, o contexto situacional e as capacidades cognitivas que se estão desenvolvendo nas crianças (Berk, 2001). Brazelton (1994) descreve a hierarquia do medo na infância, período este que a criança é assediada por medos constantes, os quais ocorrem em estágios previsíveis do desenvolvimento infanto-juvenil. O medo de cair é inato em todos os bebês, manifestando-se sob a forma de um complexo movimento ao qual se dá o nome de reflexo de Moro. Por volta dos cinco, oito e doze meses de idade, a criança demonstra o medo de estranhos, período em que representa um aumento da consciência das ações dos outros e de sua própria capacidade de reagir, onde o bebê chora intensamente. Ao longo de todo o segundo ano de vida, à medida que for 34 conhecendo o novo e vasto mundo que se apresenta, quando começa a andar, a criança poderá valorizar o quanto temer essa nova independência. Por volta do segundo e terceiro anos de vida, as crianças precisam aprender a conviver com grupos de amigos; neste contexto o que se evidencia é o medo que sentirão ao entrarem em grupos de crianças desconhecidas e barulhentas, situações estas onde a criança se comporta agarrando-se aos pais e evitando ficar longe dos mesmos. A partir dos três anos de idade, ela apresenta outros medos mais específicos, como aqueles de animais, barulhos estranhos, monstros, bruxas, fantasmas, altura, morte de um dos pais, escuro e seu próprio fracasso (Brazelton, 1994). De acordo com Caffo (2003), as etapas do medo podem ser assim definidas, segundo o desenvolvimento infanto-juvenil: 1) No 1º ano de vida – período onde os medos são difíceis de ser reconhecidos; 2) Entre o 2 e 3 anos de idade – o medo corresponde à percepção das trocas do ambiente, como, por exemplo, gritar, movimentos bruscos, luz intensa e barulhos; 3) Na idade pré-escolar - problemas de separação dos genitores. Nesta etapa os medos são reprovadores, de caráter negativo, como, por exemplo, o medo de lobo que comia o menino; do urso que rasga a bola; o boi da cara preta que pega a criança que não quer dormir; ou o bicho papão que engole o menino que não quer comer; 4) Na idade escolar – surgem os medos de fantasmas, monstros, besta fera, saci, bruxas, enfim, medos que podem agredir ou ferir. Por volta dos 8 anos de idade, dependendo do desenvolvimento cognitiva e social dos infantes, pode surgir o medo da morte, com temores de doenças e acidentes. Aproximadamente aos 9 anos de idade surgem os medos mais sociais (por exemplo, falar em público, estar em espaços com muita gente). 35 5) Adolescência – aumenta a intensidade do medo neste período. Tem lugar o temor do insucesso pessoal e/ou escolar, medo de ser rejeitado, de gravidez e experiências afetivas e de grupos sociais. Papalia e Olds (1997) questionam-se por que as crianças sentem tanto medo por volta dos dois aos seis anos de idade. As autoras defendem que as crianças sentem tanto medo por encontrarem-se na fantasia intensa que caracteriza seu desenvolvimento e na incapacidade das mesmas para distinguir o “irreal” da realidade. Algumas vezes a imaginação da criança a faz sentir atacada por um leão ou abandonada. Todavia, alguns destes medos provêm da evolução de perigos reais, como, por exemplo, ser mordidas por um cachorro ou vivenciar eventos traumáticos. No entanto, à medida que as crianças crescem, estas conseguem perceber e identificar a fonte específica do menos, isto é, se é de fato real ou provém do seu imaginário. Neste momento, os medos vão dando espaço para a maturação e, assim, os infantes vão cumprindo as etapas evolutivas constitutivas de seu desenvolvimento. De acordo com estas pesquisadoras, os temores podem ser descritos segundo a faixa etária da criança, como é possível observar na Tabela 1 a seguir. 36 Tabela 1. Temores da Infância, segundo Papalia e Olds (1997) Temores da Infância Idade Temores 0 – 6 meses Perda de apóio, ruídos. 7 - 12 meses Estranhos; altura; aparição repentina de objetos ameaçantes. 1 ano Separação dos pais; lesões; estranhos. 2 anos Uma grande quantidade de estímulos, incluindo os ruídos (aspiradores, sirenes e alarmes, caminhões e trovões), animais, quartos escuros, separação dos pais, objetos ou máquinas grandes, mudanças no ambiente pessoal, companheiros estranhos. 3 anos Máscaras, escuridão, animais, separação dos pais. 4 anos Separação dos pais, animais, escuridão, ruídos (incluindo os ruídos noturnos). 5 anos Animais, “pessoas más”, escuridão, separação dos pais, dano corporal. 6 anos Seres sobrenaturais (por exemplo, fantasmas e bruxas), lesões corporais, relâmpagos e trovões, escuridão, dormir ou ficar sozinho, separação dos pais. 7 – 8 anos Seres sobrenaturais, escuridão, notícias do meio de comunicação (por exemplo, informações sobre ameaça de uma guerra nuclear, seqüestro de uma criança), permanecer sozinho, lesões corporais. 9 – 12 anos Provas e exames escolares, rendimento escolar, lesões corporais, aparência física, relâmpagos e trovões, morte, escuridão. Adolescência Desempenho social, sexualidade. O estudo sobre o medo não é algo novo, mas pouco se tem conhecido sobre os malefícios que este causa ao seu portador, e, apesar das tentativas que têm sido feitas (Caffo 2003; Papalia & Olds, 1997), mais difícil ainda é tentar relacioná-lo com a idade, uma vez que o medo normal se agrega ao medo patológico, originando uma relação intrínseca entre ambos. Além disso, alguns tipos de medo não são tão específicos de uma idade, mas característicos de 37 determinada fase do desenvolvimento (por exemplo, medo de fracasso escolar, melhor de gravidez). Ao longo do desenvolvimento a natureza acrescentou novos estratos sobre o “novo cérebro”, deixando a região emocional arcaica em seu lugar. Hoje, portanto, capacidades reguladoras do medo residem nas partes mais recentes da anatomia: o córtex cerebral, onde as reações de medo resultam dos intercâmbios entre os dois cérebros e derivam da síntese entre a emoção de medo e sua regulação (André, 2007). Ao indivíduo reagir de forma exarcebada aos contratempos e dificuldades do cotidiano, o medo deixa de ter função protetora e se converte em uma ameaça para a mente, dando origem aos transtornos de ansiedade (Silva, 2006). Na Figura 2 é possível perceber uma descrição do cérebro, situando os centros neurais do medo. Figura 2. Centros neurais do medo 38 São diversos os fatores que predispõem uma pessoa aos transtornos fóbico-ansiosos. Em relação à neuroquímica, diversos hormônios (adrenalina e cortisol), neurotransmissores (dopamina, serotonina, noradrenalina), bem como estruturas do sistema nervoso central (amígdala, hipocampo, lócus ceruleus) estão implicados nas bases biológicas desses transtronos. O nível de ansiedade que pode ser suportado por cada indivíduo tem relação direta com sua personalidade e história. Mesmo diante de situações de perigo, alguns conseguem manter atitudes tranqüilas, outras, porém, exasperam-se ao menor sinal de ameaça, configurando-se modos diferents de reagir aos mesmos estímulos (Silva, 2006). O hipocampo e amígdala estão repletos de receptores de cortisol e fazem parte da alça de retroalimentação que regula o estresse e a ansiedade causados pelo medo. A maioria das pesquisas sobre as bases biológicas do medo e da ansiedade foi realizada com animais de laboratório, mas recentemente, com o advento das técnicas de imagem cerebral, é possível mapear o cérebro humano em sua estrutura física, medir seu fluxo sanguíneo e o nível de atividade de diversas regiões e os circuitos do medo e da ansiedade in vivo (Silva, 2006). Processo esse que viabiliza o tratamento das psicopatologias e favorece ao indivíduo uma vida melhor e o traz de volta ao mundo. Falar, compreender e quantificar o medo não é uma tarefa fácil, tendo em vista que este é um sintoma, um sentimento e uma reação ao mesmo tempo, diferenciando-se apenas pelo momento ou acontecimento que o antecede. É na tentativa de explicar e demonstrar o medo que Brazelton (1994) procura descrever sua evolução no decorrer dos primeiros anos de vida da criança, como retratado na Tabela 2 a seguir. 39 Tabela 2. Quadro evolutivo dos medos universais, segundo Brazelton (1994) Quadro Evolutivo dos Medos Universais Medo de cães e outros animais que mordem Medo de barulhos altos Medo do escuro e de monstros, bruxas e fantasmas Medo de altura Medo da morte dos pais Medo de fracassar Quando a criança aprende a lidar com os seus próprios instintos, um dos quais consistia em morder sempre que se sentia tensa, é possível que comece a ter medo de tudo que lhe dê a impressão de morder. Por exemplo, uma situação nova ou incomum pode fazer com que sinta medo de ser mordida por um cachorro ou outro animal. Caminhões, ambulâncias, buzinas, sons estridentes e portas que batem de repente estão entre as coisas que despertam reações violentas e aterradoras numa criança. Elas podem trazer-lhe à lembrança a sua súbita perda de controle, fazendo com que se sinta de algum modo envolvida quando esses sons se repetirem. Os medos afloram à noite. Os predadores com os quais se sonhou transformam-se em terríveis imagens projetadas na escuridão. Isso acontece numa época em que a criança está avançando rapidamente rumo à independência e está tomando consciência de ser dependente em relação aos pais, e entrando em conflito por esse motivo. O medo de se jogar de peças do mobiliário ou de janelas (as fantasias de Peter Pan) pode surgir nessa época e permanecer para sempre. Mesmo os adultos têm medo de altura e do sentimento de que podem se atirar no vazio. Os medos de que o pai ou a mãe possa morrer se refletem nas fobias associadas à escola, ou no medo de sair de casa para fazer visitas ou ir a festas. Em parte, esses medos resultam da timidez e do temor natural de ver-se indefeso frente a uma situação esmagadora. Todas as crianças têm medo de fracassar, o que é natural em todos os seres humanos. Esse medo pode ser utilizado para conduzi-las ao sucesso e à perfeição, mas também pode ser destrutivo. Em resumo, estudar o medo implica primeiro na compreensão das etapas do desenvolvimento infantil, permitindo, desta forma, distinguir entre o medo normal do patológico, possibilitando aos infantes um melhor ajustamento para a sua vida futura. Dentre os medos já citados, Brazelton (1994) destaca os mais freqüentemente encontrados nesta população: 40 1) O medo do escuro é o mais freqüente na infância e pode manifestar-se com o medo de dormir. A criança chora quando se apaga a luz, fazendo com que a mãe acenda uma luz mais tênue que seja. O escuro pode levá-la “ao medo do medo”. 2) Na infância é comum o medo de animais (por exemplo, ratos, cobras, gatos, cachorros), já o medo de animais grandes, como o cavalo, o boi e a vaca, dá-se entre os 3-5 anos de idade. A criança imagina ser agredida por estes animais. 3) Outros medos infantis encontrados são de ambiente natural, como, por exemplo, lâmpadas, ventos e escuro; e de pessoas, como o medo de estranhos que acontece por volta do oitavo mês. 4) Aos 8 anos de idade, em situação de luto na família ou morte de um animal doméstico, pode acarretar na criança o medo da morte e de doença, que pode acompanhar de medo do médico. Encontram-se, ainda, o medo da escola no início do período escolar: choro no momento da separação do genitor, depois na própria escola, inclusive não participando das atividades escolares, e de movimentar-se dentro da própria escola. É importante, também conhecer a psicopatologia infanto-juvenil para entender a extensão do medo, área já definida como fóbica. Os sintomas emocionais são a miúdo os mais dramáticos nos transtornos de ansiedade e são os responsáveis por dar a esta síndrome o seu nome, e estes variam segundo a natureza do problema. Tem se dado tanta importância a tais sintomas que se tem construído teorias e levado a cabo novos estudos acerca da ansiedade (Barbosa, 2000). Esta entidade nosológica caracterizada por medos e fobias na infância leva a uma outra entidade nosográfica que determina o potencial psicopatológico do medo / ansiedade. De fato, a psicanálise e a terapia cognitivo-comportamental atribuem um grau de importância a ansiedade na gênesis dos transtornos psicológicos, corroborando, assim, os 41 achados psicopatológicos para este transtorno de ansiedade de ocorrência na infância (Gaião e Barbosa & Barbosa, 1999). Méndez, Olivares e Bermejo (2001) consideram um medo infantil como fóbico se requerem duas condições fundamentais: 1) que resulte desproporcional às demandas da situação. Os objetos temidos não constituem qualquer ameaça objetiva para o bem-estar biopsicossocial da criança, de modo que o medo é irracional, como, por exemplo, o medo de barata. Noutro caso, existe a probabilidade, ainda que remota, de receber estimulação aversiva, pelo que a maioria das crianças experimenta certo grau de mal-estar, como na visita a um dentista; todavia, a resposta excessiva se julga fóbica, como o fenômeno do “esquecimento, deu o branco” por parte de um aluno inteligente e estudioso com ansiedade ante às provas escolares. 2) que a sua intensidade elavada o converta em um comportamento desadaptativo. A criança sofre enormemente na situação temida, como, por exemplo, breve separação dos pais, e se produz um deterioro em sua adaptação familiar, escolar ou social, como os casos de falta de assistência escolar devido ao temor intenso que se experimenta na escola. Méndez (2005) afirma que as crianças experimentam medos muito variados ao longo de seu desenvolvimento, nos quais a maioria é passageira, de pouca intensidade e própia de uma determinada idade. O medo a estranhos aparece poucos meses depois ao nascimento, revelando que o bebê já é capaz de identificar rostos conhecidos. Estes medos são saudáveis, porque brindam a oportunidade de aprender a enfrentar situações difíceis e estressantes, com as quais a criança, inevitavelmente, se depará em sua vida futura. No entanto, uma pequena proporção de medos infantis é persistente, continuando na vida adulta, e de intensidade 42 elevada. Estes temores se convertem em um problema, porque interferem no funcionamento diário da criança e de sua família, nos mais diversos contextos, sejam escolar, social ou afetivo, razão para denominá-los de fobias. Chorar de tristeza, rir de alegria, enrijecer de raiva ou palidecer de medo são respostas emocionais comuns às crianças. Estas respostas evidenciam sensações e emoções que cumprem uma função adaptativa. Na infância, a distinção entre medo e fobia é mais complexa, com já vem sendo apontado, pois muitos temores infantis desaparecem por eles mesmos, sem tratamento, com o transcorrer do tempo, o que permite a criança amadurecer e aprender a superá-los. Assim, para discriminar as fobias dos medos transitórios se faz necessário a permanência deste em um período de, no mínimo, seis meses, como determinam alguns manuais de classificação de doenças mentais (APA, 1994; OMS, 1993). Contudo, não é recomendável esperar tanto tempo para se tomar providências necessárias para identificar tal malefício na vida da criança e de seus familiares, que poderá repercutir de forma negativa em seu desenvolvimento, sendo recorrendo em outros estágios de desenvolvimento. Destaca-se, ainda, que muitas vezes os medos estão mascarados, daí a dificuldade de caracterizá-los. Para a identificação de tais sintomas, podem-se perceber a nível psicológico três sistemas de resposta para o medo: cognitivo, pensamentos e imagens negativas sobre a situação temida; psicofisiológico, mudanças corporais que originam sensações de mal-estar; e motor, ações na situação temida ou para impedir sua ocorrência (Méndez, 2005). Em geral, os medos podem ser descritos como fenômenos normais e, associados com a idade, tendem a ser considerados transitórios e de curta duração. Todavia, em uma proporção de crianças e adolescentes os medos podem se converter em crônicos, necessitando uma observação de tais comportamentos que permitam diferenciar os distintos medos “normais” dos clínicos. Sendo, portanto, alguns dos objetivos da presente tese são identificar e classificar os medos, contribuindo com a 43 elaboração de uma medida específica a respeito, procurando subsidiar os profissionais que lidam diretamente com os infantes na identificação de problemas que estejam acarretando danos à sua saúde. Antes, entratanto, procura-se mapear a prevalência dos transtornos correlatos, aspecto que é aborado a continuação. 1.1.3 – Prevalência dos Transtornos Fóbicos-Ansiosos Infanto-juvenis Os medos infantis fazem parte do desenvolvimento da criança. Aristóteles dizia que o “coração é a fonte dos nervos e do acento da alma”; já Galeno, no século II, opinava que os pensamentos circulam pelos ventrículos cerebrais e as emoções pelo sistema vascular (ver Mardomingo Sanz, 1994). A associação entre as emoções e o coração se mantem até o século XIX. A partir dos trabalhos de Cannon (1929) e Bard (1928), contudo, demonstra-se que as emoções são de cunho cerebral. Assim, pode-se verificar que o interesse pelos medos e as fobias na criança são de idade remota e continuam tendo severas repercurssões e importância nos dias atuais. Como ocorre em outros transtornos psíquicos, também os conteúdos do medo estão sujeitos a uma metamorfose que depende da idade e do desenvolvimento da criança, como mostra o estudo realizado na Alemanha por Schwarzer, em 1981 (citado por Nissen, 1991). Os resultados são sumariamente descritos na Tabela 3. 44 Tabela 3. Avaliação por parte das crianças de eventos que dão medo Sucesso Nascimento de uma criança Ler algo diante de sua sala Visita ao dentista Perder no jogo Ser eleito o último em uma equipe Não poder terminar todos os deveres Um pesadelo Mudança de colégio Ser objeto de riso em sala Perder-se Submeter-se a um procedimento cirúrgico Ser chamado pelo diretor da escola Uma anotação em sua agenda escolar Ser suspeito de estar mentindo Ser surpreendido roubando Brigas entre os pais Urinar-se na sala de aula Ser suspenso Ficar cego Morte de um dos pais Grau da Escala Participação Experimental % 1,27 2,58 2,73 3,16 3,30 3,75 4,08 4,60 5,28 5,49 5,51 5,75 6,23 6,53 6,63 6,71 6,74 6,82 6,86 6,90 25,6 68,1 77,7 81,2 49,6 83,1 76,6 42,8 46,9 56,1 30,5 42,0 46,0 82,3 12,3 64,0 6,0 10,9 4,1 20,2 Os resultados acima descrevem vários eventos que desencadeiam o medo, onde a própria criança relata, por meio da utilização de uma escala gradativa de rsposta, o grau de comprometimento que este lhe causa no decorrer de sua vida, destacando-se os três maiores graus de medo: morte de um dos pais, ficar cego e ser suspenso; os três menores foram os seguintes: nascimento de uma criança, ler algo diante de sua sala e visita ao dentista. Por outro lado, quando se analisa a participação em percentagem, aparecem como os três maiores fontes de medo não poder terminar todos os deveres (83,1%), ser suspeito de estar mentindo (82,3%) e perder no jogo (81,2%). Já os três itens com menores percentuais foram: ficar cego (4,1%), urinar-se na sala de aula (6,0%) e ser surpreendido roubando (10,9%). Destaca-se 45 que o mais importante e coerente neste estudo realizado é o grau do medo indicado pela criança. Segundo Nissen (1991), a metamorfose do medo se estende desde os medos da primeira infância do lactante, passando pelos medos diante da separação e da perda na criança pequena (transtorno do ritmo do sono-vigília, pavor noturno) até o medo da creche e da escola, finalizando este com a chegada da puberdade. Em situações de temor no lactante e na criança pequena, as reações frente ao medo são as mais variadas e não podem passar despercebidas, como: choro, gritos ou chamar pela mãe, a qual desvia seu medo e mesmo o neutraliza, diminuindo seu caráter ameaçador em razão da simbiose estabelecida entre a mãe e a criança, como bem descreve Spitz (1979). Os medos desproporcionais e desadaptativos são menos freqüentes que aqueles ditos normais e quotidianos, aceitando que o índice de fobias na infância não sobrepasse a taxa de 8% (King, Hamilton & Ollendick, 1994). Contudo, não se pode negar que esta taxa seja bastante preocupante, comprometendo aproximadamente uma em cada dez crianças. A opinião generalizada de que os transtornos fóbicos-ansiosos na infância eram pouco freqüentes e que tinham um caráter inócuo e transitório, segundo os estudos de Lapouse e Monk (1959), fizeram com que Orvaschel e Weissmann, em 1986, realizassem uma pesquisa epidemiológica com critérios metodológicos rígidos, despertando, assim, interesse no âmbito da Psiquiatria Infantil. A importância deste estudo, afora a prevalência detectada, refere-se também aos sintomas de ansieadade que são freqüentes na infância com escassa variação da idade e que afetam mais meninas que meninos, assim como as classes sociais menos favorecidas. Na adolescência, segundo estes autores, a ansiedade também é mais freqüente no sexo feminino e está associada com queixas somáticas, abuso sexual, drogas e baixo rendimento escolar. 46 No contexto paraibano, Barbosa, Gaião e Barbosa e Gouveia (2002) realizaram um estudo que contempla transtornos de afetividade. Especificamente, encontraram uma taxa de prevalência de 2,2% para a ansiedade. Saliente-se que este estudo buscou o diagnóstico da ansiedade como doença e não como sintoma, categoria em que poderiam ser enquadrados os medos infantis. Obviamente, na ansiedade enquanto doença vão prevalecer não somente os sintomas do medo como também aqueles fóbicos. Segundo Carrillo, Amorós e Alcázar (2005), em se tratando de crianças, o medo mais freqüente é o de escuro; conforme a criança vai crescendo, em torno dos 4 aos 6 anos, o este tipo de medo se constitui em um dos principais, que pode gerar temor a outros estímulos correlatos, como ladrões, fantasmas, animais etc. A partir dos 9 anos de idade tal medo começa a diminuir. Porém, se persistir passa a ser considerado uma fobia, cuja prevalência na população de crianças situa-se em torno de 2,3%; ainda segundo estes autores, de acordo com sua revisão da literatura, os estudos de Fredrikson, Annas, Fischer e Wik (1996) comprovaram taxas entre 6,2% e 15,5% de pessoas que indicaram ter ao menos um tipo de fobia, com prevalência maior entre as mulheres e pessoas mais velhas (média de idade de 53 anos). Contudo, King, Eleonora e Ollendick (1998) comentam que a fobia é o distúrbio de ansiedade mais comumente diagnosticado entre crianças, apresentando uma taxa de prevalência de 5%. Mais recentemente, Ollendick, King e Muris (2002) indicam que, em amostras da população geral, o quantitativo de crianças com distúrbios de ansiedade, incluindo fobias específicas, situa-se entre 5,7% e 17,7%. Estas cifras são cerca de quatro vezes superiores em amostras de crianças psiquiátricas, segundo estes mesmos autores. Portanto, estudar as fobias em crianças é plenamente justificável, demandando-se, entretanto, contar com tipologias e medidas adequadas a respeito, como se indicou na Introdução. 47 Os medos e a timidez são formas habituais de respostas em crianças, mas não significa que sempre sejam normais. A propósito, em alguns trabalhos (Eme & Schmitd, 1978; Richman, Stevenson & Graham, 1982; Rutter, Tizard & Whitmore, 1970) se tem observado, por exemplo, que os medos por volta dos três anos se correlacionam com o desenvolvimento de transtornos neuróticos cinco anos mais tarde, e que as crianças com transtorno de ansiedade aos onze anos padecem de transtornos psiquiátricos na adolescência com proporções duas vezes mais que os seus companheiros (ver também Mardomingo Sanz, 1994). Não está claro o que transforma um medo em uma fobia real. Um estudo comparando crianças com transtornos de ansiedade (TA), aquelas com ansiedade para realizar testes e as normais mostrou que as primeiras tinham menor autoconfiança e flexibilidade emocional (Messer & Beidel, 1994). No entanto, para considerar o diagnóstico de fobia, além de manifestações evidentes de ansiedade, faz-se necessário um prejuízo em alguma das áreas do desenvolvimento. De acordo com Mercadante e Manasia (2003), a ansiedade de separação em crianças pequenas apresenta uma prevalência estimada entre 3% e 5%, sendo mais freqüente em naquelas entre 7 e 9 anos. Além disso, 50% destas crianças apresentam co-morbidade com algum outro transtorno psiquiátrico, sendo mais freqüente com os de ansiedade e depressão. A prevalência dos transtornos fóbicos-ansiosos variam não só em função do sexo e da classe social, mas também em função da idade e do tipo de transtorno. Kashani e Orvaschel (1990) realizaram um estudo comunitário com crianças e adolescentes, constatando que a ansiedade de separação afeta de forma crucial as crianças pequenas, diminuindo na puberdade, porém voltando a aumentar na adolescência; neste momento, costuma ser cerca de cinco vezes mais freqüente nas meninas quando comparadas com os meninos. Já a ansiedade excessiva, as fobias simples e a fobia social, aumentam progressivamente com a idade. 48 Os transtornos fóbicos-ansiosos constituem o primeiro diagnóstico psiquiátrico na população infantil, onde a ansiedade de separação e a ansiedade excessiva afetam 12% de crianças entre 8 e 17 anos, enquanto as fobias o fazem em 4,3%. Estas cifras dão a idéia da importância do tema e da necessidade de um diagnóstico adequado para os infantes. Mas, ainda nos dias atuais, encontram-se dificuldades em reconhecer e diagnosticar tais transtornos em razão da ausência de instrumentos psicométricos adequados que possibilitem o seu conhecimento e, desta forma, ofereça ao profissional subsídios no emprego de critérios objetivos de diagnóstico. Como parece claro, este é um dos motes principais da presente tese. É importante lembrar que as taxas de prevalência variam também em função da fonte de informação empregada no estudo, de tal forma que, quando informam as próprias crianças os transtornos fóbicos-ansiosos, constata-se que próximo a 10% delas são afetadas, quantitativo que é claramente superior aos 5,6% registrados quando os informantes são os pais dessas crianças. Todavia, com o passar dos anos, é notória a preocupação dos estudiosos nesta área, tendo em vista que os estudos vêm demonstrando taxas bastante elevadas, como mostra a Tabela 4 (Mardomingo Sanz, 1994). Tabela 4. Taxas de prevalência dos transtornos fóbicos-ansiosos em função do diagnóstico e da fonte de informação. Classificação Fobia simples Ansiedade de separação Agorafobia Fobia social Transtorno de evitação Ansiedade excessiva Um ou mais transtornos de ansiedade Dois ou mais transtornos de ansiedade Pais % Crianças % Ambos % 3,0 0,4 0,0 0,0 1,0 3,0 6,6 0,4 6,7 6,1 1,2 1,0 0,6 2,0 10,5 2,6 9,1 4,1 1,2 1,0 1,6 4,6 15,4 3,4 49 Os transtornos fóbicos-ansiosos na criança e no adolescente são os que apresentam maior importância em termos de prevalência dentro da psicopatologia infantil, afetando cerca de 10% das crianças, segundo observaram alguns autores em estudos epidemiológicos (Anderson, 1994; Bell-Dollan & Brazeal, 1993; Bernstein & Brochardt, 1991). De acordo com estes autores, os transtornos acima citados se constituem na patologia de maior incidência das enfermidades infanto-juvenis. Em estudo realizado com crianças hospitalizadas e idades compreendidas entre 6 e 12 anos, observou-se que 20% delas padeciam de transtorno de ansiedade severo e 17% de transtorno de separação (Kashani & Orvaschel, 1990). Resultados similares foram encontrados por Livingston, Taylor e Crawford (1988). Birmaher, Khetarpai e Nremt (1997) constataram em seu estudo, considerando uma amostra de 341 crianças, que 70 respondentes apresentavam transtorno de ansiedade generalizada, 14 tinham fobia social, 19 fobia escolar e 10 síndrome de pânico; além disso, comprovaram que 138 desse total apresentavam depressão. Em um estudo realizado em João Pessoa por Barbosa, Gaião e Barbosa e Gouveia (2002), tomando em conta uma amostra de 538 escolares do sexo feminino, com idades compreendidas entre 7 e 11 anos, de uma escola da rede privada, e com 452 dos pais delas, utilizando o instrumento SCARED (Screen for Child Anxiety Related Emotional Disorders), constataram-se prevalências de transtornos gerais de ansiedade (presença de sintomas que descrevem nosograficamente o pânico, a ansiedade geral, a ansiedade de separação, a fobia social e a fobia escolar) na ordem de 3,5% e 2,2%, segundo os informantes tenham sido seus pais e elas mesmas, respectivamente. É importante lembrar que o transtorno de ansiedade social (TAS), mais conhecido como fobia social, compreende propriamente um transtorno de ansiedade caracterizado e explicado pelo medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, nas 50 quais o indivíduo é exposto a pessoas estranhas ou ao possível escrutínio por parte de outras pessoas. Neste caso, o indivíduo teme agir de um modo que lhe seja humilhante ou embaraçoso e as situações fóbicas são evitadas ou enfrentadas com ansiedade e sofrimento intensos (APA, 2000). Isolan, Pheula e Manfro (2007) descrevem que o TAS surgiu primeiramente como uma entidade diagnóstica no DSM-III (APA, 1980), com critérios semelhantes aos encontrados no DSM-IV-TR. Todavia, este não tendo sido restrito à população de adultos, sabendo-se que as crianças e os adolescentes são passíveis também deste mal, muito embora tenham sido classificados pelo DSM-III-R (APA, 1987) como possuidoras do transtorno de evitação (TE), que se caracteriza, principamente, por medo e evitação com relação a pessoas estranhas. Tendo em vista que os sintomas, tanto do TE como do TAS, se sobrepõem e que as pesquisas não evidenciam uma diferenciação específica entre esses dois transtornos (Francis, Last & Strauss, 1992; Last, Perrin & Hersen, 1992), decidiu-se, a partir do DSM-IV (APA, 1994), excluir o TE como entidade diagnóstica e as crianças e os adolescentes com este quadro passaram a ser diagnosticados como tendo TAS. Utilizando os critérios de diagnóstico do DSM-IV para o TAS, estudos epidemiológicos realizados na Alemanha têm verificado prevalências de 0,5% em crianças e de 2% a 4% em adolescentes (Essau, Conradt & Peterman, 1999; Wittchen, Stein & Kessler, 1999). Dados de um grande estudo epidemiológico e de seguimento de transtornos psiquiátricos na infância e adolescência que incluiu os critérios diagnósticos do DSM-III-R e do DSM-IV evidenciam a prevalência deste transtorno na casa de 0,8% para a faixa etária entre 9 e 12 anos e de 1,7% para a faixa etária entre 13 e 17 anos (Costello, Angold & Keeler, 1996). Isolan e cols. (2007) salientam que o TAS é um quadro psiquiátrico comum na infância e adolescência, com algumas características peculiares nessa faixa etária, e tem sido associado com importantes 51 prejuízos sociais, ocupacionais e familiares, além de predispor ao uso de drogas e ao desenvolvimento de depressão e de outros transtornos de ansiedade. Em suma, os estudos epidemiológicos têm demonstrado que os maiores índices de prevalência dos transtornos fóbicos-ansiosos predominam mais para a população de adolescentes e jovens do sexo feminino. Entretanto, embrora estas taxas no meio infantil não sejam evidentemente altas, são preocupantes; a falta de atenção com esta parcela da população apenas promove o adiamento de problemas que podem ter repercussões catastróficas em momentos posteriores de seu desenvolvimento; os malefícios causados são tantos que, na maoria das vezes, deixam seqüelas irreparáveis de difícil remissão e de pior prognóstico. Neste sentido, conhecer adequadamente tais transtornos em termos diagósticos pode significar um passo importante para mudar esta situação, demandando a seguir tratar mais detalhadamente este aspecto. 1.1.4 – Classificação Diagnóstica dos Transtornos Fóbico-Ansiosos Com a finalidade de suprir a escassez de estudos que viabilizem conhecimentos psicopatológicos suficientemente necessários para o correto diagnóstico dos transtornos infanto-juvenis, muitos estudiosos têm procurado responder questões pertinentes aos critérios utilizados na hora de se chegar a um diagnóstico. A propósito, fruto também destas preocupações, tiveram lugar dois manuais de classificação de doenças mentais, os quais seguem linhas de pensamentos diferentes entre si, isto é, a CID-10 (OMS, 1993), que se pauta na corrente mais européia, e o DSM-IV, com ênfase estadunidense. Na presente tese ambas as classificações são tidas em conta, razão que leva a trata-las a seguir. 52 De acordo com a CID-10 (OMS, 1993), os transtornos neuróticos, relacionados com o estresse e as situações psicossomáticas, foram classificados em um grande grupo global devido a sua associação histórica com o conceito de neurose e uma substancial proporção desses transtornos de causas psicológicas. A co-participação de alguns sintomas é comum, como também a coexistência de depressão e ansiedade na população infanto-juvenil. Portanto, apresenta-se a seguinte classificação: Transtornos Fóbico-ansiosos (F40). Neste grupo de transtornos a ansiedade é evocada isoladamente ou predominantemente por certas situações ou objetos bem definidos, os quais não são corretamente perigosos, onde a ansiedade fóbica é subjetiva, psicológica e comportamentalmente indistinguível de outros tipos de ansiedade e pode variar em gravidade desde leve desconforto até terror. A situação não é aliviada pelo fato de o reconhecimento de que outras pessoas não consideram o evento perigoso ou ameaçador, tendo em vista que a mera perspectiva de entrar na situação fóbica usualmente gera ansiedade antecipatória. Seguem os tipos específicos desse quadro sintomatológico: F40.0 Agorafobia. Termo utilizado com um sentido mais amplo do que quando originalmente introduzido. Este inclui medos não apenas de espaços abertos, mas também de aspectos relacionados, tais como a presença de multidões e a dificuldade de um escape fácil e imediato para um local seguro. Embora a gravidade da ansiedade e a extensão do comportamento de evitação sejam variáveis, esse é o mais incapacitante dos transtornos fóbicos, levando muitos pacientes a se confinarem em seus lares, sendo muitos aterrorizados por pensamentos de terem um colapso e serem deixados sem socorro em público. Sintomas depressivos, obsessivos e fobias sociais podem estar presentes, mas não 53 dominam o quadro clínico. Sua prevalência é maior no sexo feminino e o início é usualmente no começo da vida adulta. F40.1 Fobias Sociais. Freqüentemente se iniciam na adolescência e estão centradas em torno de um medo de expor-se a outras pessoas em grupos comparativamente pequenos, levando à evitação de situações sociais. Elas podem ser delimitadas ou difusas, envolvendo quase todas as situações sociais do círculo familiar. Estas estão usualmente associadas com baixa auto-estima e medo de críticas, podendo ainda apresentar-se como uma queixa de rubor, tremores das mãos, náuseas ou urgência miccional. É importante salientar que os sintomas podem progredir para ataques de pânico e a evitação marcante em casos extremos pode resultar em isolamento social quase completo. Diferentemente da maioria das outras fobias, estas são igualmente comuns em homens e mulheres. F40.2 Fobias Específicas (isoladas). Estas são restritas a situações altamente específicas, tais como proximidade a determinados animais, altura, trovão, escuridão, voar, espaços fechados, visão de sangue ou ferimentos, a medo de exposição a doenças específicas. Embora a situação desencadeante seja delimitada, o contato com ela pode evocar pânico como na agorafobia ou nas fobias sociais. Usualmente surgem na infância ou cedo na vida adulta e podem persistir por décadas se permanecerem sem tratamento. Nesta classificação é possível identificar ainda o F40.8 Outros Transtornos FóbicoAnsiosos e o F40.9 Transtorno Fóbico-Ansioso, não especificado. Há uma série de tipos 54 distintos de síndromes de ansiedade que podem ser identificados na prática clínica. Estas não têm que considerar necessariamente transtornos, um termo que se reserva para as síndromes que satisfazem os critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), da Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2000). As síndromes mais comuns são: 1) Medo – o medo ou a ansiedade aguda ocorre em resposta a um estímulo imaginário ou real. Às vezes se pode diagnosticar como fobias específicas. 2) Ansiedade generalizada (também conhecida como ansiedade crônica) – caracterizada por níveis elevados de ativação presentes na maior parte do tempo; uma vez que os indivíduos estão nervosos constantemente, preocupam-se continuamente e padecem de outros sintomas. 3) Ataques de ansidedade intensos, intermitentes - caractaerizados por um começo rápido e sintomas múltiplos (ataques de pânico). Estes ataques podem ser espontâneos, não tendo uma causa identificada ou situacionais, que ocorrem em situações prevezíveis. 4) Ansiedade por antecipação - relacionada com acontecimentos ameaçantes internos ou externos, reais ou imaginários. A maioria das pessoas experimenta níves pequenos de ansiedade por antecipação que são bastante freqüentes. 5) Ansiedade intermitente leve – ocorre por razões difíceis de identificar, uma vez que a ansiedade é um fenômeno comum para o paciente em um determinado processo de intervenção. 6) Ansiedade leve e Depressão leve – chamada às vezes de angústia. Este é provavelmente o transtorno de ansiedade mais comum. 55 7) Ansiedade relacionada com situações específicas sociais, familiares ou laborais – nesta a ansiedade é normalmente suportável e se percebe como algo secundário ao problema principal. Algumas vezes satisfazem os critérios de fobia social. 8) Ansiedade que segue a acontecimentos traumáticos – esta pode satisfazer aos critérios do DSM-IV-TR para a síndrome do estresse pós-traumático. Todos estes tipos de ansiedade existem sobre uma distribuição normal de intensidade, freqüência e sintomatologia. Todavia, estas síndromes, quando são graves, a miúdo satisfazem os critérios para os transtornos de ansiedade do DSM-IV-TR. 1.2 – Os Transtornos de Ansiedade As crianças sofrem com freqüência de medo e ansiedade, porém, descobrir os mecanismos pelos quais as respostas normais se convertem em transtornos autênticos é uma das principais metas da psiquiatria da infância e adolescência, como também da psicologia. Em se tratando dos infantes, é importante salientar que, em pleno século XXI, não é possível encontrar no âmbito da classificação de transtornos mentais critérios de diagnóstico diferencial para esta população, onde na maioria das vezes é preciso adaptá-los no momento de diagnóstico. Por exemplo, os diagnósticos de ansiedade são baseados em critérios de sintomatologia dos adultos, o que dificulta, na maioria das vezes, realizá-los em crianças. No caso específico desta tese, onde são estudadas as fobias de crianças e adolescentes, os critérios de diagnóstico são relativamentes palpáveis a estas populações. O continuum entre a ansiedade infantil e a do adulto ainda não está bem delimitado, apesar de a ansiedade de separação ser considerada como um possível antecedente da agorafobia no adulto, constituindo-se, assim, em uma hipótese de que se trata da mesma 56 entidade (Barbosa & Gaião e Barbosa, 2001). Isso pode ser explicado baseado na psicologia e psicopatologia do desenvolvimento, em que em determinada etapa da vida da criança os medos podem ser considerados normais. A palavra ansiedade vem do latim “anxietas”, derivado de “angere”, que significa estreitamento e se refere a um mal-estar físico muito intenso que se manifesta principalmente por respiração ofegante. Esta se apresenta ante estímulos que a pessoa percebe como potencialmente perigosos e inclui sintomas neurovegetativos, condutuais, cognitivos e vivenciais. As respostas de ansiedade e medo têm desempenhado um papel importante na evolução da espécie humana, principalmente como mecanismo de defesa e de alerta frente aos perigos ambientais. Sendo patológica, caracteriza-se por ser desproporcionada frente à realidade ou por se apresentar sem que exista qualquer fator ambiental que a justifique. Por outro lado, ela também pode ser uma experiência humana normal que pode fazer parte de outros quadros pediátricos e de transtornos psiquiátricos infanto-juvenis. Segundo Cardoze e Rodríguez-Sacristán (1985), a ansiedade deve ser definida como uma emoção desagradável característica, induzida pela antecipação de um perigo ou uma frustração e que ameaça a segurança, a homeostase ou a vida do indivíduo ou do grupo biopsicossocial a que pertence. Para tais autores, existe, ainda, um estado de ansiedade subclínica, mais ou menos permanente, constitucional e que faz parte do temperamento e modo de vida da criança. Por outro lado, os estados de ansiedade francamente patológicos podem se apresentar em forma de crises agudas ou de situações anormais mais duradouras, que podem se concretizar em estados de caráter fóbico, obsessivo-compulsivo ou psicossomático (Chess, 1973). Os transtornos de ansiedade (TA) constituem um capítulo da psiquiatria da infância e adolescência, sendo a ansiedade, como sintoma, parte de um quadro clínico variado no 57 decorrer da infância. Destaca-se, ainda, a patologia ansiosa tem sido pouca estudada devido a dificuldade em sistematizá-la. A respeito, há que se enfatizar que a pesquisa sobre os transtornos de ansiedade na infância e adolescência é relativamente recente, apesar de apresentar taxas elevadas de prevalência e ocupar um lugar de destaque na compreensão da psicopatologia infanto-juvenil (Mardomingo Sanz, 1994). Em termos psicopatológicos, existe uma dificuldade para distinguir a ansiedade normal da patológica, e no caso da criança, esta dificuldade cresce devido aos aspectos desenvolvimentistas. Por exemplo, destacam-se os medos na infância, considerados normais e que tendem a desaparecer na puberdade; caso contrário, tornam-se patológicos, isto é, anormais. No que diz respeito à etiopatogenia dos TA, pode-se concluir que se trata de uma conduta de inadaptação caracterizada por reações ou condutas inadequadas a situações, em um indivíduo ou uma criança, predispostos por fatores de ordem ambiental (familiar) e biológica (hereditário-constitucional). Beidel e Turner (1997) chamam a atenção para o incremento de riscos dos TA nas crianças que apresentam sintomatologia ansiosa, pois estes transtornos são de base biológica. Por outro lado, os estudos de Kendler e cols. (1992) sugerem a importância que têm os fatores genéticos nestes transtornos e que, no caso especificamente das fobias, os fatores ambientais desenvolvem um papel predominante em relação aos biológicos. 1.2.1 – Fatores Desencadeantes do Transtorno de Ansiedade Qualquer trauma ou situação tensional pode desencadear um estado emocional na criança e no adolescente, como, por exemplo, o abandono de um dos pais, um acidente, a morte de um ente querido, amigo ou até mesmo de um animal de estimação, exames escolares, repreensão da professora ou de outra pessoa, de médico e paramédico, de uma enfermeira, o 58 contexto de hospitalização, situações de medo e de perigo (reais ou imaginários). Segundo Cardoze e Rodríguez-Sacristán (1985), os fatores estressantes são, também, importantes na hora do diagnóstico. De acordo com estes autores, os fatores abaixo descritos são os mais freqüentes como causadores de transtornos ansiosos: a) ausência de situações patológicas físicas que justifiquem certos sintomas presentes nas crianças e nos adolescentes; b) conhecimento prévio do comportamento da criança e de seus hábitos de vida; c) conhecimento do ambiente e possibilidade de fatores ansiógenos; d) valorização do elemento psíquico no quadro atual; e) situações familiares anômalas; f) conflitos matrimoniais em casa; g) alcoolismo entre os pais; h) pais inflexíveis ou autoritários; i) divórcio, separação ou ausência dos pais; j) código moral rígido; l) presença de fobia em um dos pais; e m) pais depressivos, hiperativos e ansiosos. Os autores anteriormente referidos acentuam que um dos fatores predisponentes de suma importância são os maus tratos infantis, que correspondem, em geral, às crianças de pais separados, divorciados ou com conflitos conjugais. Uma discussão profunda ou ruptura familiar pode perturbar os filhos e ser a causa da ansiedade que se projetará neles. É preciso ser consciente de que a ansiedade é um problema de uma grande complexidade, apresentando dificuldades de detecção em quaisquer de suas etapas, podendo ser devida à fragilidade da criança e à imposição dos agressores em termos de negação. A 59 estatística tem mostrado, em países que vêm abordando desde há muito este tema, que os maus tratos infantis vêm aumentando ano a ano (Ochotorena, 1991). Todavia, isso demanda pensar que cada vez há mais casos de maus tratos, mas que é preciso levar em consideração que nestes países foram desenvolvidos sistemas capazes de detectá-los, sendo mais denunciados e diagnosticados. O fato de em alguns países as estatísticas serem mais amenas não significa que não existam maus tratos; é possível que os sistemas de registro nesses países, incluindo o Brasil, ainda não são satisfatórios. Há que se ressaltar que os fatores desencadeantes acometerão as crianças e os adolescentes uma sintomatologia extensa, que inclui (RodríguezSacristán, 1995): a) sintomas cardíacos, como a dor pré-cordial, taquicardia, palpitações; b) sintomas respiratórios, como falta de ar, taquipnéia ou respiração irregular; c) digestivos, através de diarréia, prisão de ventre, gastralgias, anorexia ou bulimia; d) circulatórios, como hipotensão arterial, rubor; e) urinários: polaciúria, enurese e disúria; f) medos; g) hiperestesias e parestesias; h) tonturas, tremores e sudorese; i) onicofagia; j) agitação, gritos, loquacidade, tartamudez, mutismo, agressividade e hiperatividade; l) insônia, pesadelos e terrores noturnos; e m) tensão muscular, tiques, movimentos estereotipados, falta de concentração, sensação de morte, espasmos musculares, midríase e encoprese. Campbell e Rapee (1994) sugerem que existe um subtipo de TA quando o foco ou sintoma central é o medo. Este medo seria caracterizado como causador de um mal físico onde 60 são encontradas experiências múltiplas frente a estímulos determinados de fobias, tais como tempestades, cães, insetos, dentistas, médicos ou sangue. Segundo Barbosa e Lucena (1995), o caráter autoritário e/ou permissivo dos pais parece ter importância na incidência do TA. Os filhos de pais autoritários manifestam, em ordem de importância decrescente, os seguintes sintomas: perplexidade, ansiedade, brigas, variações do estado de ânimo, agressividade e cefaléias. Por outro lado, os filhos depressivos de pais permissivos apenas se diferenciam dos autoritários nos sintomas psíquicos; são, porém, iguais no somático, entre os quais, os mais presentes são: onicofagia, choros imotivados, obesidade, estereotipias motoras e manipulação de genitais. Finalmente, um fator desencadeante e estressante para o TA é a escola. Este deveria ser um local de distração ou um centro de interesse onde a criança e o adolescente se encontram com seus companheiros, mas também pode transformar-se em situações caóticas, em um local de competitividade, onde facilmente surge o estresse. Nesta situação, podem aparecer alterações psicopatológicas que talvez desapareçam quando ela se encontrar em seu ambiente familiar, que geralmente, tem menos exigência. 1.2.2 – Classificação Os critérios atuais de diagnóstico subdividem a ansiedade em subcategorias, como: Síndrome de Pânico, Fobias, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Ansiedade Generalizada, Síndrome do Estresse Pós-traumático e Estresse Agudo. Por outro lado, a ansiedade de separação é especificada como sendo um problema relevante para a criança e o adolescente. As críticas feitas ao DSM-IV estão na valorização da classificação de sintomas considerados como “internalizing”, enfocando a ansiedade de per si, negligenciando os 61 sintomas e problemas “externalizing”, tais como Transtorno de Conduta, Transtornos Hipercinéticos e Transtorno de Conduta Desafiante (Loeber, Lahey & Thjomas, 1991). A CID-10 justifica a diferenciação entre Transtornos Emocionais da vida adulta e Transtornos Emocionais da Infância e Adolescência por quatro razões, segundo Mardomingo Sanz (1994): a) A maioria das crianças que sofrem transtornos de ansiedade é normal na vida adulta e somente uma minoria padece de transtornos neuróticos; b) Muitos transtornos emocionais referidos na infância podem considerar-se um exagero de respostas normais de crianças e não uma perturbação qualitativa das mesmas; c) Defende-se que os mecanismos etiopatogênicos sejam diferentes na infância e na vida adulta; e d) Os transtornos emocionais das crianças se diferenciam com menos claridade que os do adulto em termos de entidades nosológicas específicas. Os critérios diagnósticos da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1993) em vigor, isto é, a CID-10, classifica os Transtornos Emocionais da Infância e Adolescência nos seguintes subtipos: ansiedade de separação, ansiedade fóbica, hipersensibilidade social e rivalidade com os irmãos. Utilizando os critérios diagnósticos do DSM-IV, Birmaher e cols. (1997) destacam a importância de seus estudos, uma vez que, dos cinco fatores encontrados em uma escala por eles elaborada para quantificar a ansiedade e seus correlatos mais freqüentes na psicopatologia infanto-juvenil, quatro corresponderam a tais critérios diagnósticos; um fator encontrado por estes autores, constituído pela fobia social, compreendeu uma entidade clínica específica e que apresentou relação intrínseca com a ansiedade. 62 Em determinadas ocasiões, a sintomatologia ansiosa é palpável e observável, como, por exemplo, na recusa de ir à escola em crianças ou adolescentes com pânico ou agorafobia, enquanto outros sintomas são referidos de forma introspectiva pelas crianças (self-report). A fobia escolar que já fora considerada como sendo uma das conseqüências da ansiedade de separação, apresenta um pico de freqüência entre os 11 e 1 4 anos. Portanto, também neste caso a idade se constitui como um fator importante para o diagnóstico, notadamente, quando persiste o quadro na adolescência (Lida-Pulik & cols., 1996). Este tipo de fobia apresenta, ainda, instalação insidiosa com sintomatologia polimorfa, com elementos depressivos. No caso de adolescentes, encontram-se sintomas depressivos, isolamento familiar e do ambiente, ansiedade, sentimentos de culpa, oposição ao meio familiar, condutas desafiantes e comportamentos auto-agressivos. A fobia escolar representa um transtorno psíquico complexo, que se caracteriza por uma simbiose extrema entre mãe e filho, como sugerido previamente. As fobias se caracterizam por uma repressão do mundo exterior, que assumem, assim, os conteúdos de medo dos objetos suplantados. A criança com fobia escolar a coloca no lugar de um medo reprimido, a rigor não articulado, evidenciado em idéias como ser abandonado pela mãe e ser separado dela; o temor à escola, na maioria das vezes, incapacita a criança a lidar com estas situações, tornado-a prisioneira do seu prórpio medo e incapaz de reverter tal situação (Nissen, 1991). Segundo San Gregório, Marin, Jiménez, Franco e Picabia (1991), a ansiedade tem ocupado um lugar de destaque nas pesquisas de numerosos especialistas em Psicologia e Psiquiatria. Todavia, a falta de consenso generalizado com respeito à terminologia a empregar tem feito com que parte da própria dificuldade que o construto ansiedade apresenta para ser definido se complique mais ainda pela carência de unificação de critérios. Neste sentido, comprova-se a existência de uma quantidade grande de termos que, de forma habitual, se vem 63 utilizando como sinônimos de ansiedade, favorecendo a ambigüidade e confusão. Assim, por exemplo, encontram-se como equivalentes conceitos do tipo ameaça, medo, frustração, impulso generalizado, estresse, depressão reativa, neurose experimental ou tensão. Bermúdez e Luna (1985) defendem que, em ocasiões, se chega a querer explicar praticamente a quase totalidade do comportamento hmano apelando a variáveis que, com distintos nomes, fazem referência ao mesmo construto, podendo ser entendida então a ansiedade como um exemplo característico desse tipo de variáveis. Da mesma forma, e para aumentar mais a confusão, tem que levar em consideração o feito de que cada um dos termos anteriores contém um significado distindo, dependendo do enfoque em que se pauta, das diferentes escolas, teorias e, inclusive, dos distintos autores que promulgam as definições. As dificuldades que em termos conceituais se julgam, encontram seu fundamento na similitude de correlatos biológicos, comportamentais e cognitivos que caracterizam por igual o medo, a fobia, a ansiedade e a angústia. A patologia da ansiedade versa em um plano descritivo, em anomalias na proporção, intensidade e duração da mesma e explicativamente em sua índole psicológica ou biológica. Na clínica infantil, assim como na do adulto, a ansiedade aparece em numerosas situações entre as quais se destacam, conforme San Gregório, Marín, Jiménez, Franco e Picabia (1991), as seguintes: • nos quadros depresssivos, os transtornos de ansiedade surgem quase invariavelmente; • nas enfermidades somáticas, a ansiedade é um concomitante reativo habitual dado que supõe a presença de um perigo; • a ansiedade pode aparecer como sintoma de numerosas enfermidades somáticas, que atuam como causas diretas delas, às vezes como único sintoma evidente; 64 • a ingestão de determinados psicofármacos produzem em ocasiões manifestações de ansiedade bastante bruscas; e • os transtornos de ansiedade infantil têm sido diagnosticados e tratados desde o tempo de Freud, todavia, suas descrições diagnósticas são incorretas, suas causas são desconhecidas ou duvidosas e os tratamentos são moderadamente efetivos. Notadamente, o termo ansiedade tem uma significação distinta, segundo as culturas, os pacientes e, inclusive, entre os próprios profissionais. É de difícil delimitação, apesar dos intentos do DSM-III-R (APA, 1988) por estabelecer critérios para seu diagnóstico que, indubidavelmente, têm contribuído a centrar melhor o problema. Assim, não se pode fazer uma nítida distinção entre depressão, ansiedade e fobias infanto-juvenis, baseado em efeitos do ajustamento psicossocial. É necessário recorrer a psicopatologia e verificar a preponderância dos sintomas apresentados pela criança, priorizálos e partir para um diagnóstico. Neste sentido, Last e cols. (1997) realizaram um estudo retrospectivo para verificar se a presença dos TA na infância repercutiam negativamente na área afetiva e no funcionamento psicossocial do adulto jovem. Propuseram, ainda, neste estudo, examinar o impacto da comorbidade da depressão infantil no adulto com alterações do funcionamento psicossocial e com ansiedade. Encontraram resultados onde os adultos ansiosos com história de comorbidade depressiva tinham um funcionamento similar ou normal em relação ao grupo controle na área social. Entretanto, adultos com história de comorbidade ansiosa e depressiva foram vistos como apresentando comprometimento na área afetiva. É da década de 1990 a subdivisão vigente no DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) que aborda as fobias em três grupos: agorafobia, fobia social e fobias específicas (King, Eleonora & Ollendick, 1998; Lipsitz, Barlow, Mannuzza, Hoffmann & Fyer, 2002; Ollendick, King & Muris, 2002; Stravynski, Basoglu, Marks, Sengun & Marks, 65 1995). Desde então, diversos instrumentos de medida foram propostos para operacionalizar esta classificação (por exemplo, Beck, Carmin & Henninger, 1998; Bouldin & Pratt, 1998; Mellon, 2000). A maioria dos estudos que procurou checar esta estrutura a tem respaldado. Por exemplo, Cox, McWilliams, Clara e Stein (2003) indicam que mais de 40 estudos com análises fatoriais exploratórias foram realizados, identificando-se fatores que correspondem, aproximadamente, às divisões previamente estabelecidas. Contudo, estes autores advertem que são escassos os estudos com análise fatorial confirmatória, permitindo checar o ajuste deste modelo de classificação (ver também Taylor, 1998). Dois estudos ilustram bem o antes comentado. Fredrikson, Annas, Fischer e Wik (1996), considerando uma amostra de 1.000 suecos (idades variando de 18 a 70 anos), igualmente distribuídos em função do sexo, efetuaram uma análise de Componentes Principais (rotação varimax), considerando um conjunto de dez estímulos causadores de fobia (por exemplo, espaços fechados, voar, aranha, dentista), tendo encontrado três fatores de fobia (situacional, animal e mutilação / injúria). Stravynski e cols. (1995), em uma amostra de 140 pacientes fóbicos canadenses, com idade média, aproximadamente, de 30 anos, a maioria mulher (73%), realizaram uma análise discriminante com um conjunto de 89 estímulos que potencialmente produzem fobia, tendo identificado duas funções principais: a função 1 reuniu os itens de agorafobia, com alguns de fobia social e específica; e a função 2 reuniu principalmente os itens de fobia social. Claramente, estas duas abordagens são intuitivas e especulativas. É de grande relavância, nesta tese, mostrar o continuum e o entrelaçamento entre os transtornos de ansiedade e as fobias, uma vez que, se tratando dos infantes, estas patologias comungam da mesma sintomatologia, assim como dos critérios para o diagnóstico e, não esquecendo, das conseqüências dos danos irreversíveis na vida social das crianças e dos adolescentes, como de seus familiares. Motivos estes que compreendem o núcleo central desta 66 tese, onde se busca elaborar um instrumento de screening e a partir da sintomatologia apresentada nesta população, explicar a estrutura das fobias. Taylor (1998) propôs um modelo teórico bem fundamentado para explicar a estrutura das fobias. Revendo os resultados de diversos estudos em que foram realizadas análises fatoriais de estímulos que produzem fobia, este autor delineou um modelo hierárquico a respeito. A propósito, considerou cinco níveis ou ordens fatoriais das fobias: Nível 1: (ordem superior): traço de neuroticismo; Nível 2: quatro subtipos de fobia (animal, social, situacional e injúria); Nível 3: medo de espaço abertos e claustrofobia; Nível 4: claustrofobia subdividida em restrição e asfixia; e Nível 5: fobia de asfixia representada por estímulos específicos (por exemplo, medo de estar em uma sauna). De acordo com Taylor (1998), seu modelo de estrutura hierárquica do medo pode ser adequadamente representado por meio da Figura 3 a seguir. Note-se que os diversos tipos de medos / fobias são hierarquicamente estruturados, tento como origem ou fator propiciador o traço de personalidade neuroticismo. 67 Neuroticismo Nível 1: Nível 2: Medo de animais Medo situacional Medo de restrição física Medo de asfixia Nível 4: Medo de ficar preso na sauna Medo de injúrias Medo de espaços abertos Claustrofobia Nível 3: Nível 5: Medo social Medo de sufocamento Figura 3. Hierarquia do Medo, segundo Taylor (1998). Este é, sem dúvida, um modelo bastante heurístico. Contudo, não foram encontrados quaisquer dados apresentados por este autor acerca de sua adequação. Entretanto, ele faz a recomendação de que este modelo passe a ser objeto de pesquisas futuras, empregando-se análises fatoriais confirmatórias para testá-lo. Coerente com a recomendação anterior e com base no modelo apresentado, Cox e cols. (2003) construíram um outro modelo hierárquico das fobias, testando-o em uma amostra representativa de 8.098 estadunidenses da população geral. Este previa a seguinte estrutura: um fator de ordem superior, definido como fobia geral; dois fatores de segunda ordem, 68 identificados como fobia social e fobias específicas; e cinco fatores de primeira ordem, dois sendo explicados pela fobia social (medo de ser observado e medo de falar em público), dois representando as fobias específicas (medo de altura ou água e medo de fatores ameaçadores) e o quinto correspondendo à agorafobia. 69 Falar em público Falar para o grupo Medos de falar Falar com outros Medos sociais Comer em público Banheiro público Medos de ser observado Escrever Medo geral Voar Altura Atravessar ponte Medos de altura e água Água / Lago / Piscina Medos específicos Sangue / Injeção Trovão / Relâmpago Cobras / Animais Medos de coisas ameaçadoras Estar só Lugares fechados Lugares Públicos Multidão / Fila Agorafobia Longe de casa Carro /Trem /Ônibus Figura 4. Estrutura Hierárquica Proposta do Medo Situacional (Cox & cols., 2003). 70 Segundo Cox e cols. (2003), a classificação e organização das fobias é importante por várias razões, incluindo a compreensão que pode ser obtida acerca de sua origem. O modelo teórico destes autores, fundamentado na proposta de Taylor (1998), é um ponto importante de partida. Tem a vantagem de ser mais inclusivo do que os previamente propostos, os quais consideram unicamente fatores de primeira ordem das fobias (Beck, Carmin & Henninger, 1998; Fredrikson, Annas, Fischer & Wik, 1996; Muris, Schmidt & Merckelbach, 1999; Stravynski, Basoglu, Marks, Sengun & Marks, 1995), podendo ter implicações para a classificação futura das desordens fóbicas. Por exemplo, pode ser útil em esclarecer os limites destas e delinear possíveis subtipos, baseado na natureza do estímulo fóbico, tanto em relação às fobias sociais como àquelas específicas. O modelo de Cox e cols. (2003) parte de uma lista de 19 itens / estímulos fóbicos empregados no National Comorbidity Survey. Este é realizado com uma amostra ampla e representativa da população civil e não-institucionalizada dos Estados Unidos, considerando pessoas de 15 a 54 anos. Este parece bastante heurístico, contudo, demanda ser testado com amostras de outras faixas etárias, contextos culturais e condições de vida / saúde. Embora se possa supor que os fatores de primeira ordem da fobia são relativamente estáveis através destes grupos e / ou condições, como afirma Taylor (1998), nenhuma pesquisa empírica foi encontrada a respeito desta proposta. Assevera-se que, em relação a este último, o modelo de Cox e cols. (2003) não pressupõe o neuroticismo como base das fobias. Frente ao exposto, tendo em conta que não foi encontrada qualquer pesquisa no contexto brasileiro em relação à estrutura das fobias, nem muito menos com amostras de crianças, justifica-se o intento de se proceder à elaboração de uma medida específica de fobias, comprovando sua estrutura fatorial. Neste sentido, parte-se dos dois modelos previamente 71 descritos (Cox & cols., 2003; Taylor, 1998). Na oportunidade, consideram-se crianças e adolescentes do contexto paraibano da população geral escolar (amostra não-clínica). O empreendimento ora sugerido favorecerá um cabedal teórico e uma ferramenta útil que se espera que contribua para diagnósticos mais esclarecedores e precisos quanto à natureza e aos tipos de fobias que eventualmente apresentem os infantes do contexto brasileiro, especificamente do paraibano. A lista de estímulos fóbicos empregada pode ainda servir para realizar levantamentos junto à população geral, conhecendo a prevalência de determinadas fobias. Neste sentido, não cabe dúvida de que esta tese se justifica por produzir conhecimentos científicos, favorecer o entendimento da realidade local e permitir a aplicabilidade dos resultados obtidos. Antes de descrever os estudos empíricos que permitem compreender a elaboração e reconhecer evidências de validade e precisão da medida correspondente, parece oportuno uma aproximação ao tema das medidas psicométricas, com destaque especial para aquelas que enfocam a ansiedade e, especificamente, os medos e as fobias. 1.3 –Uso de Instrumentos Psicométricos e Avaliação de Fobias Os instrumentos aqui descritos podem ser de grande valor não somente como screening, mas também na atividade clínica, como meio facilitador de agrupar a sintomatologia e permitir um diagnóstico preciso, no qual caberá ao profissional fazer uma avaliação mais apurada para situar os mais diversos transtornos que acometem a população de infantes dentro do seu real contexto. Para a realização de estudo desta espécie, isto é, de screening, devem-se utilizar instrumentos específicos para cada patologia, por exemplo, um para se avaliar os transtornos fóbicos-ansiosos, um outro para os transtornos de personalidade e assim por diante. 72 Na psicologia e em outras áreas das ciências do comportamento, é comum a construção de escalas para medir variáveis, conceitos ou construtos teóricos não diretamente observáveis, como, por exemplo, inteligência, depressão, ansiedade, traços de personalidade etc. O objetivo ao construir essas escalas ou inventários é que tais medidas sejam as mais precisas possíveis e que meçam realmente o que se deseja medir, isto é, apresentem validade (Cunha, 2003). Segundo Alchieri e Cruz (2003), os instrumentos psicométricos estão basicamente fundamentados em valores estatísticos que indicam sua sensibilidade (ou adaptabilidade do teste ao grupo examinado), sua precisão (fidedignidade nos valores quanto à confiabilidade e estabilidade dos resultados) e validade (segurança de que o instrumento mede o que se deja medir). Pasquali (2001) costuma definir a validade de um instrumento dizendo que ele é válido se, de fato, mede o que supostamente deve medir, o que representa uma verificação direta quanto a satisfazer sua função; o termo precisão é definido por este autor com o sentido da psicometria clássica, significando estabilidade ou consistência das pontuações da medida. O termo fidedignidade, de acordo com o anteriormente comentado, sugere confiabilidade. Quando decisões de qualquer tipo devem ser tomadas, no todo ou em parte, com base em pontuações de instrumentos, seus usuários precisam ter certeza de que tais pontuações são razoavelmente confiáveis. Desse modo, a fidedignidade na mensuração implica consistência e precisão; a falta desta implica inconsistência e imprecisão, as quais resultam em erros de mensuração (Urbina, 2007). Embora nenhuma data seja suficientemente delimitadora de um evento ou iniciativa científica, é possível situar a década de 1970 como o marco da psiquiatria infantil. Foi principalmente nesse período que esta área do conhecimento começou a despertar o interesse de pesquisadores em todo o mundo, e quando tiveram início os estudos epidemiológicos com crianças, utilizando as escalas de avaliação psiquiátrica / psicológica. Desde então, o campo 73 tem crescido, sendo observados saltos substanciais no desenvolvimento de técnicas de coleta de informações e procedimentos de análises estatísticas (Barbosa, Gouveia & Gaião e Barbosa, 2003). De acordo com Cunha, Gouveia, Alegre e Salvador (2004), a avaliação e o diagnóstico no domínio da psicopatologia infanto-juvenil devem assentar num conjunto de estratégias diversificadas e com base em múltiplos informadores, como, por exemplo, as próprias crianças, seus pais e professores. Entretanto, destaca-se que as medidas de auto-avaliação têm vindo a desempenhar nos últimos anos um papel cada vez mais importante neste processo, no qual o seu contributo é particularmente relevante, ou mesmo indispensável, para a compreensão dos transornos emocionais que, por definição, têm um importante componente subjetivo dificilmente acessível à observação direta dos adultos. É importante ressaltar também que a avaliação comportamental da criança é geralmente muito mais difícil do que aquela que se faz com o adulto. Na clínica infantil, alguns transtornos podem apresentar grande complexidade, sendo mesmo por vezes difícil de quantificá-los. Faz-se mister frisar que seria igualmente um erro pretender chegar a um diagnóstico por meio do uso exclusivo de instrumentos psicométricos; contudo, ninguém pode duvidar que seu uso em muito tem contribuído para a elucidação de alguns transtornos mentais. As escalas são importantes, permitindo um rastreamento fácil da sintomatologia de determinadas patologias, e assim, viabiliza, em termos de diagnóstico, como complemento, podendo ainda ser utilizadas como meio de se avaliar o proceso de intervenção empregada (Barbosa, Gouveia & Gaião e Barbosa, 2003). Para realizar avaliações do comportamento / conduta das crianças é possível encontrar alguns instrumentos que têm sido bastante divulgados e trabalhados. As escalas de ansiedade têm sido usadas mais para rastrear os vários sintomas ansiosos na criança e no adolescente, 74 destacando-se, dentre elas, o Revised Children’s Manifest Anxiety Scale (RCMAS), de Reynolds e Richmond (1978). Este parece ter sido a primeira escala elaborada especificamente para avaliar a ansiedade. A equipe de Psiquiatria Infantil da Universidade de Pittsburg, tendo à frente o pesquisador Boris Birmaher, elaborou e validou uma escala também destinada a medida a ansiedade, denominada de forma abreviada como SCARED (Screen for Child Anxiety Related Emotional Disorders; Birmaher & cols., 1997). Esta escala apresenta duas formas, sendo uma para pais e outra para as crianças, de ambos os sexos, aplicadas entre 7 a 17 anos, buscando avaliar os seguintes sintomas: transtornos de ansiedade generalizada, ansiedade de separação, pânico, fobia social e fobia escolar, utilizando como base a sintomatologia descrita nos critérios diagnóstico do DSM-IV. Este instrumento se caracteriza por ser o mais abrangente possível, tendo como finalidade principal levantar o máximo de informações acerca da sintomatologia dos transtornos fóbicos-ansiosos. Sua validação para o contexto brasileiro foi realizada por Barbosa, Gaião e Barbosa e Gouveia (2002). É importante lembrar que são necessários instrumentos específicos segundo a faixa etária da população estudada, uma vez que para estudos epidemiológicos infantis não se podem utilizar, como querem os pesquisadores de adultos, escalas para todas as idades. Além disso, deve-se respeitar e conhecer a psicopatologia da infância e adolescência, favorecendo que estas escalas enfatizem a sintomatologia específica do transtorno estudado, de acordo com o que define a psicopatologia do desenvolvimento. Certamente, chegará o dia que os critérios nosográficos admitirão transtornos fóbicos como uma entidade sindrômica, como de fato ocorre na atualidade com os transtornos de ansiedade. 75 Pela própria dificuldade em conhecer e reconhecer a sintomatologia de alguns transtornos infanto-juvenis, é oportuno o uso de escalas que possibilitem coletar / agrupar itens que muito os descrevem e possibilite, desta forma, a compreensão e o correto diagnóstico, fazendo uso de tais escalas como um meio de levantamento e rastreamento sintomatológico. Abaixo seguem algumas escalas de tipo lápis-e-papel, de auto-relato, descritas por Mardomingo Sanz (1994): 1) Revised Children´s Manifest Anxiety Scale (RCMAS; Escala Revisada de Ansiedade Manifesta para Crianças). Esta foi idealizada por Reynolds e Richmond (1978), propondo avaliar o estado geral da ansiedade na criança. Ela compreede uma escala de fácil manuseio, na qual a própria criança assinala as respostas sim ou não, conforme suas vivências e o que indica cada item. 2) State-Trait Anxiety Inventory for Children (STAIC; Inventário de Ansiedade Traço -Estado para Crianças). Elaborada por Spielberger (1973), compreende, de fato, duas subescalas independentes de vinte itens cada uma, medindo a ansiedade generalizada (ansiedade de estado), de forma semelhante à RCMAS, e a ansiedade transitória (ansiedade de traço). 3) Visual Analogue Scale for Anxiety-Revised (VASA-R; Escala Revisada de Analogia Visual para a Ansiedade). Esta foi originalmente proposta por Garfinkel e cols. (1984 citado por Bernstein, 1990), pretendendo detectar e identificar em crianças e adolescentes a ansiedade potencial associada com situações de estresse. No Brasil, uma das maiores críticas feitas ao uso de instrumentos de avaliação em geral diz respeito à falta de estudos de adaptações para a população brasileira e / ou grupos regionais. Muitos instrumentos disponíveis no mercado são originários de outros países, predominantemente Estados Unidos, e utilizados sem adaptações, não passando de meras 76 traduções semânticas. Em um levantamento realizado com o uso de testes psicológicos na literatura brasileira, foi constatado que o número de pesquisadores na área é muito pequeno, repercutindo de forma negativa e levando a desconfiança dos profissionais frente aos instrumentos, o que faz com que eles passem a desprezar e desvalorizar tais medidas como técnicas adequadas no processo de avaliação psicológica (Silva & Figueiredo, 2005). No caso específico da perturbação da ansiedade social, apesar da importância clínica desta durante os últimos anos da infância e adolescência, apenas dois instrumentos foram desenvolvidos especificamente para este fim: o Social Phobia Anxiety Inventory for Children (Beidel, Turner & Morris, 1995) e a Social Anxiety Scale for Children (SAS-C) e Adolescents (SAS-A) (La Greca & Lopez, 1998; La Greca & Stone, 1993). Deve-se enfatizar neste contexto que, há muitos anos atrás os estudos de avaliação de uma determinada patologia se davam por meio de observações clínicas, entrevistas com as crianças ou seus familiares e / ou fazendo uso de instrumentos projetivos. Embora estes recursos contribuam no processo de avaliação, a maioria é pouco objetiva, favorecendo debates e questionamentos infindáveis. Neste sentido, o apelo aos instrumentos psicométricos tem sido promissor, refletindo uma opção mais objetiva, que prima por parâmetros psicométrico (Pasquali, 2003). Os anos recentes têm precisado passos largos neste intento de favorecer a objetividade. Contudo, apesar do seu passado recente, a avaliação nesses termos tem uma história mais longa. Um dos estudos pioneiros publicados sobre a avaliação da ansiedade infantil foi realizado com um questionário, onde as mães respondiam sobre os medos específicos de seus filhos na faixa etária entre 2 e 6 anos de vida (Méndez, 2005). No entanto, foi na Europa que as pesquisas sobre a ansiedade infantil surgiram, abordando o medo, a insegurança e os 77 problemas de comportamento entre as crianças que perderam e / ou se separaram de seus pais devido à Segunda Guerra Mundial (Silva & Figueiredo, 2005). Conforme a Tabela 5, observase que foi na década de 1950 que surgiram os primeiros instrumentos psicométricos para avaliação da ansiedade em crianças. Tabela 5. Surgimento das Escalas de Ansiedade Infantil por década Escala Década Sarason`s General Anxiety Scale for Children (SGASC) 1950 Children`s Manifest Anxiety Scale (CMAS) 1950 Test Anxiety Scale for Children (TASC) 1960 Fear Survey Schedule for Children-Revised (FSSC-R) 1960 Revised-Children`s Manifest Anxiety Scale (R-CMAS) 1970 State-Trait Anxiety Inventory for Children (STAI-C) 1970 Child Behavior Checklist (CBCL) 1980 Piers-Harris Children`s Self Concept Scale (PHCSCS) 1980 Social Anxiety Scale for Children-Revised (SASC-R) 1980 Conner`s Teacher Rating Scale (CTRS) 1980 Segundo Méndez (2005), a avaliação dos medos infantis é o processo mediante o qual se detectam as situações que atemorizam a criança. O medo possui uma dimensão subjetiva, pensamentos e sentimentos, como: preocupação, insegurança, apreensão, mal-estar, e outra objetiva, que são os sintomas e as condutas, como: taquicardia, palidez, birras e atitudes perigosas. O componente subjetivo se avalia perguntando diretamente a criança, por meio de uma escala, por exemplo, onde ela responde oralmente ou escreve que coisas lhe dão medo e quanto medo estas lhe dão. Já o componente objetivo se avalia mediante duas técnicas principais: observação da conduta que manifesta a criança e registros psicofisiológicos das 78 mudanças corporais que se produzem em situações aterrorizantes, nas quais se podem observar as reações de medo em diversos lugares, como na escola, na rua, em casa (em situações naturais) ou elaborar instrumentos específicos para conhecer o grau de valentia da criança (provas de aproximação condutual e de tolerância). Alguns desses instrumentos estão descritos na Tabela 6 a seguir (Méndez, 2005). Tabela 6. Técnicas e instrumentos de avaliação dos medos infantis Autoinformes Entrevistas - a criança Medómetros - numéricos - gráficos - materiais - gestuais Observação Registros psicofisiológicos Observação em situações naturais Registros cardiovasculares - em casa - pulso - na escola - pressão arterial - na rua - em outros lugares Entrevistas a outras pessoas - aos pais - aos professores - provas de aproximação - inventários gerais condutual de medo - provas de - inventários tolerância específicos de Testes Registros eletrodermes - índice de sudorese palmar medos É importante salientar que o emprego dessas escalas de avaliação necessita, por parte do aplicador, conhecimento da teoria e bom manejo das técnicas, pois, caso contrário, os dados poderão não ser adequados. Uma dificuldade / problema que se apresenta frente a utilização destes instrumentos diz respeito às respostas que as crianças falseam, às vezes motivadas por desabilidade social ou com o propósito de conseguir vantagens, levando-as a omitir o seu 79 medo frente a um animal, por exemplo, para não mostrar-se fraco diante do aplicador. Uma segunda didiculdade ou obstáculo encontrado é a capacidade que as crianças têm para avaliarem a gravidade de seu medo, que pode ser reduzida e suas respostas, conseqüentemente, resultarem menos confiáveis. Neste ponto há que esclarecer que hoje em dia é bastante comum o uso de instrumentos / inventários para a avaliação compreensiva de medos e traços de personalidade (García-López, Olivares & Vera-Villarroel, 2003). No entanto, faz-se necessário também o conhecimento da psicopatologia e das técnicas do correto manuseio para a aplicação e correção destes instrumentos, que juntos à clínica, fornecerão subsídios para o correto diagnóstico, intervenção e tratamento. Não é o propósito desta tese, entretanto, aludir a estes aspectos. Como anteriormente se tratou de evidenciar, o interesse último é elaborar uma medida específica de fobias, própria para crianças e adolescentes, avaliando seus parâmetros psicométricos e seus correlatos. A este propósito, no seguinte capítulo é dado destaque a algumas variáveis com as quais os medos e as fobias podem estar associados. 80 Capítulo II – Família, Estilos Parentais e Personalidade 2.1 – A Família e o Processo de Socialização A família é o primeiro e mais duradouro contexto social para o desenvolvimento das relações do ser humano e, como tal, é a partir deste que são dados os primeiros passos na formação da personalidade de cada um, por meio dos vínculos vividos e a reciprocidade do aconchego dos pais ante as necessidades básicas da criança. Teixeira, Bardagi e Gomes (2004) afirmam ser a família o lugar privilegiado em que as crianças aprendem a interpretar a realidade e a construir sua identidade, e que os legados mais significativos seriam os padrões de relacionamento, positivo ou negativo, desenvolvidos no dia-a-dia, que os pais deixam para seus filhos. É na família que a criança experencia os primeiros conflitos sociais, as angústias e as separações, mas é também a família que propicia, por meio dos vínculos de apego, um estreito canal de comunicação, de disciplina que favorece a criança perceber e entender o ponto de vista do outro, aprendendo a negociar e colaborar por meio de práticas disciplinares morais e sociais (Brazelton & Sparrow, 2003). A importância dos pais na vida da criança é universalmente reconhecida. O caminhar lento para a maturidade requer anos de aprendizagem e suporte para a vida, independente do que cada um deseja; é nas relações entre pais e filhos que estes desenvolvem os laços de afetividade, que se iniciam desde as tenras idades por meio das possibilidades de explorar o mundo que os pais oferecem em jogos e brincadeiras para estimular o desenvolvimento cognitivo, lingüístico e social na criança. Os contextos sociais modelam, influenciam e 81 estruturam o seu desenvolvimento, porém não com a mesma intensidade e o impacto que o da família (Berk, 2001). A socialização é o processo de assimilar as atitudes, os valores / normas e costumes de uma sociedade. Indica os modos em que as pressões de pais, professores, companheiros, outros adultos e os meios de comunicação incitam a um comportamento aceitável e desalenta a conduta indesejável nas crianças (Schneider, 2001). Como resultado dessas pressões, as crianças aprendem a comportar-se de forma socialmente aprovada, seguindo, ao menos, os valores, ideais e motivações principalmente dos grupos em que se encontram. Sendo a família, talvez, o maior agente influenciador no processo de socialização da criança, desenvolve essa um dos seus múltiplos papéis na construção de identidade dos infantes. De acordo com Hoffman, Paris e Hall (1995), os pais contribuem no processo de socialização de seus filhos, desenvolvendo pelo menos os seguintes papéis: 1) oferecem amor e cuidados; 2) servem como figuras de identificação; 3) atuam, às vezes, deliberadamente, como agentes de socialização ativos; e 4) participam do desenvolvimento do conceito de eu nas crianças. É importante lembrar que, durante o primeiro ano de vida da criança, as principais responsabilidades dos pais são satisfazer suas necessidades básicas e oferecer-lhe seu carinho. Ao longo da infância este papel continua, mas a ênfaze da relação recai à medida que outras funções começam a ser mais importantes. Este aspecto da relação entre pais e filhos tem três influências importantes na criança. Primeiro, desenvolver a confiança básica que reflete no modo de agir no seu mundo social a posteriori, segundo a teoria do desenvolvimento da personalidade de Erik Erikson (1963), permitindo a esta aventurar-se nos campos de novas experiências, na qual a primeira tarefa da criança é resolver o conflito entre confiança e desconfiança com respeito aos demais e seus cuidadores. Segundo, esta relação pode proporcionar ao pequeno a capacidade de iniciar 82 relações emocionais (Bowlby, 1951). E, por último, ao desempenharem o papel de cuidadores amorosos, os pais educam a criança para futuras socializações. Uma vez que as crianças são facilmente influenciadas pelas pessoas as quais amam, especialmente se dependem delas para satisfazer suas necessidades, fica evidente a importância que têm seus pais na sua vida. A criança ao nascer e começar a vida extra-uterina é um ser extremamente incompleto biológico e maturativamente, que o impossibilita de sobreviver sozinho; mas, logra fazeê-lo em razão de todas as posibilidades de crescer e ser amparado por outros humanos que serão encarregados de complementá-lo. Habitualmente estas pessoas estão intensamente ligadas a ela, que, por sua vez, as considera muito importantes. Conforme é possível ler em Chattás (2004), saído do útero, o bebê cai em uma nova matriz, agora extra-uterina: o grupo familiar. Deste modo, o vínculo metaboliza e modifica a vivência destrutiva, convertendo-a em uma vivência de satisfação que aumenta as “tendências amorosas” e a capacidade de apego. Durante muitos anos a socialização no contexto familiar foi vista como um processo unilateral, no qual as crianças eram consideradas como produtos das técnicas socializadoras impostas pelos pais. Hoje, entretanto, muitos estudos têm demonstrado a preocupação de como se estabelecem e funcionam as interações sociais no contexto familiar, repercutindo este na formação da criança e, também, na extensão que a qualidade das relações familiares afeta no seu desenvolvimento (Richaud de Minzi, 2005). Neste contexto, a abordagem dos estilos parentais tornou-se uma das mais empregadas como meio de pesquisar acerca das interações socializadoras na família e sua influência sobre os filhos ao longo do tempo. Isso porque os estudos apontam que o pai e a mãe costumam exercer diferentes papéis e ter impactos diferentes sobre seus filhos e suas filhas. Estes, por sua vez, descrevem a mãe como uma referência de responsividade, compreensão e aceitação, 83 ao passo que, geralmente, percebem e descrevem o pai como mais julgador e menos disponível à discussão de sentimentos, dúvidas e problemas (Teixeira, Bardagi & Gomes, 2004). Este é um aspecto que se trata mais detidamente no próximo tópico. As mudaças nas relações entre pais e filhos decorrentes das transformações pelas quais as famílias vêm passando têm levado a um crescente questionamento sobre o real papel dos pais na educação de seus filhos. A propósito, Chattás (2004) descreve, a partir do esquema abaixo (Figura 5), o conteúdo dos estilos de criação. CONTEXTO CULTURAL Família Funções Estilos de criação Indulgente Autoritário Práticas de criação Democrático Negligente Intervenção Figura 5. Esquema de Conteúdos dos Estilos de Criação 84 Barbosa (2000) afirma ser crescente o interesse em conhecer a importância do papel da família para o desenvolvimento das crianças nos mais diversos aspectos. Vários pesquisadores do assunto vêm debruçando-se na confirmação do papel materno como principal agente neste processo, pois, na maioria das vezes, cabe a ela os cuidados nos primieros dias de vida da criança, aspectos que se perpetua até a adolescência (Fonsêca, 2008; Schneider, 2001). Efetivamente, existe a partir desta concepção uma complexa relação mãe/filho que se desenvolve durante a gravidez até o parto, na qual podem ser incluídos os aspectos físicos e emocionais. Segundo Moreno, Párraga & Rodríguez (1987), nascida a criança, esta relação fica mais complexa, porque entram em jogo, além de características do bebê, as da mãe e, ainda, as de situações próximas, a exemplo da moradia, convivência com outros membros da família e suas características. O engajamento / envolvimento dos pais na educação dos filhos tem sido amplamente reconhecido como potencializador do desenvolvimento sócioemocional e da competência acadêmica das crianças. Caso contrário, a negligência e outras práticas possibilitam prejuízos no âmbito acadêmico e sócioemocional (D´Avila-Bacarji, Marturano & Elias, 2005). Portanto, as atividades educativas dos pais são variadas e têm sido referidas na literatura sob denominações abrangentes como práticas e estilos parentais, buscando resumir as principais estratégias utilizadas pelos pais na promoção da educação e desenvolviamento dos filhos (Cia, Pereira, Del Prette & Del Prette, 2007). Na presente tese interessam, principalmente, os estilos parentais, compreendidos, em termos gerais, como formas ou atitudes que os pais apresentam para se relacionarem com seus filhos e tratarem de suas demandas afetivas e disciplinares (Fonsêca, 2008; Santos, 2008). Esta conceituação pode ficar mais clara a continuação. 85 2.2 – Estilos Parentais O estudo do relacionamento entre pais e filhos pode ser realizado por meio de estilos parentais, o que é interessante por evitar o risco de intrepretações erradas a respeito de associações entre aspectos isolados da conduta dos pais e características de seus filhos. Para uma melhor compreensão, faz-se necessário, inicialmente, diferenciar estilo e prática parentais. O estilo se refere a um padrão de comportamento parental expresso dentro de um clima emocional criado pelo conjunto das atitudes dos pais, o qual inclui as práticas parentais e também engloba outros aspectos da interação pais-filhos. Os estilos são manifestações dos pais em direção a seus filhos que caracterizam a natureza da interação entre esses. Por outro lado, as práticas parentais correspondem a comportamentos com conteúdos específicos e objetivos de socialização, isto é, são estratégias com o objetivo de suprimir comportamentos considerados inadequados ou de incentivar a ocorrência de comportamentos adequados (Weber, Brandenburg & Viezzer, 2003). Duas perguntas têm sido feitas há muitos anos atrás e também, nos dias atuais, as quais ainda, não podem ser respondidas com tamanha precisão: “Qual a melhor forma de educar os filhos?” e “Quais são as conseqüências que podem ser provocadas no desenvolvimento das crianças educadas por diferentes modelos de pais?” Estas perguntas têm intrigado cientistas desde a década de 1930, que se preocupam com as possíveis conseqüências danosas dos estilos de socialização parental para o desenvolvimento da personalidade infantil (Weber, Prado, Viezzer & Brandenburg, 2004). O tema estilos parentais tem despertado muita atenção por parte dos pesquisadores da área, preocupados com a repercução nas formas como os pais lidam com as questões de poder, hierarquia e apoio emocional em suas relações com seus filhos. Os estudos demonstram que o 86 estilo parental tem influência significativa em diversas áreas do desenvolvimento psicossocial de jovens, como o ajustamento social, psicopatológico e o desempenho escolar (Vallejo Casarín & López Uriarte, 2004). O estilo parental é definido como o conjunto de práticas educativas parentais ou atitudes parentais utilizadas pelos cuidadores com o objetivo de educar, socializar e controlar o comportamento de seus filhos. As práticas educativas são definidas como estratégias específicas utilizadas pelos pais em diferentes contextos. Significa dizer que o estilo parental é o resultado da confluência de forças das práticas educativas parentais, isto é, em um estilo parental positivo, as práticas educativas positivas são prevalentes às negativas e, por outro lado, se o estilo parental for negativo, as práticas negativas se sobrepõem àquelas positivas (Gomide, 2006). As práticas educativas estão relacionadas com a auto-estima e a afetividade da criança. Uma vez que as crianças e os adolescentes cujos pais são carinhosos e atuantes em sua vida escolar apresentam interesses com relação aos seus sentimentos e ações, isso proporciona aos infantes um desenvolvimento harmonioso e saudável, o que implica em um bom ajustamento social. Os estilos parentais podem ser compreendidos como um conjunto de atitudes dos pais para com a criança, criando um clima psico-emocional em que se expressam os comportamentos dos pais, incluindo suas práticas parentais (por exemplo, elogios, gritos, punições, diálogos), como também outros aspectos da interação entre pais e filhos (por exemplo, tom de voz, linguagem corporal, descuido, atenção, mudanças de humor). O conceito de estilo parental vai além das práticas parentais propriamente ditas. O estilo é, na verdade, o contexto dentro do qual operam os esforços dos pais para socializar os seus filhos de acordo com suas crenças e seus valores. Isto é, o estilo parental pode ser entendido como o 87 clima emocional que perpasssa as atitudes dos pais, com o intuito de alterar a eficácia de práticas disciplinares específicas, influenciando a abertura ou predisposição dos filhos para a socialização (Costa, Teixeira & Gomes, 2000). Não obstante, certas características educativas tendem a associar-se com algumas qualidades das crianças, ainda que não se sabe com certeza até que ponto podem chegar a ser afetadas. A conexão entre os estilos dos pais e as personalidades das crianças aparece em uma pesquisa longitudinal de Baumrind (1967, 1986), que contemplou a relação entre pais e filhos em termos de quanto exigem os pais de seus filhos, incluindo o grau de controle exercido e até que ponto são receptivos aos interesses e necessidades destes. No decorrer de seus estudos, Baumrind recopilou informações dos pais por meio de entrevistas, testes padronizados e observações de olho clínico. Observou as crianças na creche e falou com seus professores e pais. Ao completarem 8 e 9 anos, as crianças voltaram a ser observadas para ver se as características antes constadas na creche continuavam. Encontraram-se quatro padrões principais de educação: autoritário, permissivo, democrático e negligente / abandono. Baumrind (1966), em razão de seus estudos, propôs um modelo de classificação dos pais com três protótipos de controle moral: autoritativo, autoritário e permissivo. Entende-se por pais autoritativos aqueles que tentam direcionar as atividades de sua criança de maneira racional e orientada; incentivam o diálogo, compartilhando com a criança o raciocínio por detrás da forma como eles agem, solicitando suas objeções quando ela se recusa a concordar; exercendo ainda firme controle nos pontos de divergência, colocando sua perspectiva de adulto, sem restringir a criança, reconhecendo que esta possui interesse próprio e maneira particular de agir e pensar. Já em relação aos pais autoritários, caracterizam-se pela falta de receptividade e pelo grau elevado de exigência, os quais vêem a obediência como uma virtude, 88 onde o respeito, a autoridade e a conservação da ordem são importantes; os pais modelam, controlam e avaliam o comportamento da criança de acordo com regras de condutas estabelecidas e normalmente absolutas; são a favor de medidas punitivas quando a criança entra em conflito com os seus pensamentos, pois esperam que ela aceite tudo sem questionar. Finalmente, o modelo de pais permissivos indica que estes tendem a se comportar de maneira não-punitiva e receptiva diante dos anseios e ações da criança; apresentam-se diante dela como um agente de realização de seus desejos e não como um modelo responsável para moldar ou direcionar seu comportamento. As crianças regulam suas próprias atividades e não são forçadas a obedecer as regras impostas pelos outros. Os pais exigentes exercem um firme controle sobre seus filhos; os pais que não exigem nada lhes deixam fazer o que querem; já os pais receptivos tendem a aceitar e antepor as necessidades de seus filhos às próprias; e os pais que não são receptivos só abandonam as necessidades de seus filhos para antepor às suas como mostra a Tabela 7 a seguir (Maccoby & Martin, 1983). Tabela 7. Estilos de educação parental, segundo Maccoby e Martin (1983) Estilos Receptivo Não Receptivo Exigente, controlador Pais democráticos. Pais autoritários. Estilo de disciplina: basicamente Estilo de discplina: basicamente indutiva, algum uso de força. o poder da força. Não exigentes, pouco controle Pais permissivos. Estilo de disciplina: indutivo. Pais que abandona ou são negligentes. Estilo de disciplina: poder da força. 89 Todas as dimensões de variações entre os estilos educativos que as famílias empregam para exercer na forma de criação de seus filhos têm um efeito perceptível que se aprende no decorrer do processo evolutivo da criança. Assim, foi a partir das observações que Baumrind (1972) examinou e propôs combinações de quatro aspectos das dimensões: 1) carinho ou cuidado; 2) nível de expectativas, que descreve em termos de “exigências de maturidade”; 3) a clareza e consistência das regras; e 4) comunicação entre pais e filhos. Sintetizados estes em três tipos de estilos parentais: permissivo – inclui muito cuidado, mas poucas exigências de maturidade, controle e comunicação; autoritário – inclui muito controle e exigências de maturidade, mas pouco cuidado e comunicação; e, por fim, o estilo competente – que inclui níveis elevados das quatro dimensões acima citadas (Bee, 1996). Eleanor Maccoby e John Martin (1983) propuseram uma variação no sistema de categorias de Baumrind, enfatizando duas dimensões: o grau de exigência ou controle e a quantidade de aceitação / rejeição ou responsividade. A intersecção das duas dimensões cria um outro estilo que compuseram aos tipos já existentes, conhecidos como autoritário, autoritativo e permissivo. O quarto tipo de Maccoby e Martin, o tipo negligente ou nãoenvolvido, não foi identificado por Baumrind em seu trabalho inicial, embora pesquisas recentes deixem claro que este é um importante grupo a se pesquisar. É importante salientar que, na maioria das vezes, os termos estilos parentais e estilo de criação são empregados como sinônimos, muito embora não se refiram a criação tanto no seio da família nuclear como da família extendida. A literatura na área de estilos parentais é muito rica, na qual os pesquisadores selecionam diferentes dimensões dos estilos para aprofundar os estudos e apontar os caminhos que levariam os pais a desenvolver um relacionamento 90 harmonioso e efetivo com seus filhos e as práticas parentais que produzem comportamentos anti-sociais. Estudos como o de Maccoby e Martin (1983) demonstram que os primeiros trabalhos realizados sobre os estilos parentais tiveram lugar a partir de procedimentos de análise fatorial, onde sugeriam a existência de duas dimensões fundamentais: uma relacionada com atitudes coercitivas, como as punições física e gritos, e outra ligada a atitudes afetivas, mostrar desapontamento, orgulho e dar afeto contingente às situações. Os autores acima citados propõem uma tipologia de estilos parentais definida a partir destas duas dimensões. Pais com elevada responsividade e exigência são classificados como autoritativos; aqueles que apresentam baixa responsividade e exigência são tidos como negligentes; os muito responsivos, mas pouco exigentes são categorizados como indulgentes; e, finalmente, os pais que são muito exigentes e pouco responsivos são tidos como autoritários (Costa, Teixeira & Gomes, 2000). Existe evidência consistente de que as crianças que percebem um alto nível de apóio por parte de seus pais são mais adaptativas e que o apóio dos pais reduz os efeitos negativos, nocivos e estressores sobre a saúde mental delas. Portanto, a percepção por parte das crianças do apóio recebido pelos pais aumenta sua auto-estima, sua integração social, a percepção de controle e a efetividade de seus afrontamentos (Richaud de Minzi, 2005). Um dos maiores recursos de que dispõe a criança é a percepção de uma relação protetora e carinhosa por parte de seus pais. Daí a importância do desenvolvimento de um adequado estilo de relação parental e de que este seja percebido como tal por ela. Esta autora ainda destaca que as primeiras relações familiares atuam com as disposições da criança pequena, na qual a qualidade destas relações interpessoais se relaciona com a habilidade das crianças para se confrontar com as 91 ameaças e, também, propiciar um maior intercâmbio verbal. Caso contrário, quando as relações caracterizadas pelo controle patológico de ambos os pais e a baixa aceitação (família com um controle agressivo ou ansiógeno) se relaciona com afrontamentos desadaptativos nas crianças, como a evitação cognitiva, a busca por alternativas e inibição generalizada. Com relação às emoções associadas com os afrontamentos desadaptativos, isto é, aqueles que não têm êxito em fazer desaparecer a ameaça, fundamentalmente o interesse do pai e o controle patológico da mãe se relacionam com todos os aspectos da depressão em crianças, como, por exemplo, sentir-se culpado por tudo que acontece, apresentar baixa auto-estima, falta de energia e forte sentimento de tristeza (Richaud de Minzi & Sacchi, 1997). Richaud de Minzi (2005) salienta que quase todas as teorias de socialização na família enfatizam a necessidade de considerar, conjuntamente e em interação, o efeito de diferentes dimensões do comportamento parental. Seja como for, ninguém duvida da importância desses estilos. Nesta tese eles são tidos em conta como um potencial correlato dos medos vivenciados pelas crianças. Entretanto, considerando a importância que têm as mães na socialização de crianças e adolescentes (Fonsêca, 2008; Schneider, 2001; Moreno, Párraga & Rodríguez, 1987), a ênfase recairá nela, avaliando a implicação ou o correlato que tem a forma como seus filhos a percebem e como vivenciam ou enfrentam estímulos diversos, potencialmente propiciadores de medos e fobias nestas faixas-etárias. Contudo, os estilos parentais são apenas um fator específico; certamente características pessoas dos infantes, a exemplo de traços de personalidade, podem explicar o medo e a fobia que manifestam diante de alguns estímulos. Neste sentido, passa-se a seguir a considerar os traços de personalidade, com ênfase especial no modelo dos cinco grandes fatores. 92 2.3 – Personalidade e Big Five A personalidade é um dos temas centrais da Psicologia, chegando mesmo a confundir-se com a história desta área (Pervin, 1978). Além disso, parece haver suficiente evidência de que seja um fator preponderante na experiência de medo vivenciada pelos indivíduos (Loo, 1984). Portanto, com o propósito de atender os objetivos desta tese, tem-se em conta o presente tema Pretende-se, particularmente, correlacionar traços de personalidade, isto é, os cinco grandes fatores, com destaque para o neuroticismo, com as fobias expressas por crianças e adolescentes. Apesar de o campo da personalidade ser cheio de questões que dividem os estudiosos em relação às suas teorias, pode-se entendê-la, entretanto, como um processo de desenvolvimento do indivíduo que resulta de interações contínuas entre os genes, o meio social e as características pessoais de cada ser. Não há dúvida de que um dos mais presunçosos termos usados na psicologia moderna corresponda à personalidade, sendo seu emprego central neste âmbito, evidenciando-se o mesmo na psicologia do desenvolvimento. Contudo, na realidade, o conceito é cientificamente inacessível e só tem significação como esquematização sucinta (Sandström, 1975). De acordo com este autor, a personalidade implica em todas as qualidades físicas e mentais de um indivíduo postas em conjunto; assim, a natureza de uma personalidade, como produto do meio e da hereditariedade, é sempre única, sendo decisiva para o comportamento em qualquer situação. Neste contexto, não é de estranhar que, enquanto palavra, a personalidade seja demasiada ampla, abarcando significados diversos, podendo ser tão vagos que praticamente todo psicólogo a entende de um modo particular (Pasquali, 2003). Coerente com esta apreciação, destaca-se que há quase oitenta anos atrás Gordon Allport já tinha encontrado mais de 50 diferentes definições para personalidade (Pervin & John, 2004). 93 O ser humano interage com o meio ambiente físico e social e responde enquanto totalidade integrada. Este organismo psico-social, ao se comportar nas mais diversas situações, tende a agir de uma maneira determinada que o caracteriza. A abordagem da personalidade almeja circunscrever estas características ou diferenças individuais, mais ou menos estáveis, que refletem na identidade de um indivíduo, distinguindo-o dos demais (Pacheco & Sisto, 2003). López (1988) afirma que a criança possui uma grande capacidade de aprendizagem e sente-se atraída pelos estímulos de origem social, os quais permitem iniciar o processo de socialização (compreendendo este como um processo na formação da personalidade) ou assimilação de valores, normas e formas de agir que o grupo social tentará transmitir. Como ficou evidente previamente, no decorrer do processo de desenvolvimento a família irá transmistir culturalmente seus valores, normas, costumes, atribuição de papéis, ensino da liguagem, habilidades e conteúdos escolares, bem como tudo aquilo que cada grupo social foi acumulando ao longo da história (Coll, Palacios & Marchesi, 1995). O processo de socialização é, pois, uma interação entre a criança e seu meio, sendo que o resultado depende das características da própria criança e da forma de agir dos agentes socializadores, compreendendo seus pais nos primeiros anos de vida. Neste ponto, entenda-se por a socialização um processo interativo, necessário à criança e ao grupo social onde nasce, por meio do qual ela satisfaz suas necessidades e assimila a cultura, ao mesmo tempo que a sociedade se perpetua e desenvolve (López, 1988). Historicamente, as áreas da personalidade, psicometria e psicologia diferencial da personalidade se constituem a imagem e semelhança da área de inteligência e psicologia das diferenças na capacidade intelectual. Mas, nada de novo! Provavelmente isso reflita apenas um fazer comum, empiricamente fundamentado, primando por instrumentos, sobretudo, objetivos 94 de medida, com ênfase psicometrista (Urbina, 2007). Segundo Fierro (1983), a psicologia científica introduziu categorias de personalidade, subsistemas que integram o que eles entendem por personalidade: a) o fenômeno diferencial – onde na mesma situação indivíduos distintos reagem e se comportam de maneira diferente; e b) o fenômeno complementar ao anterior, ou seja, em momentos distintos e em situações diversas, as pessoas manifestam algum tipo de estabilidade ou regularidade em seu modo de conduzir-se. Por meio deste conceito de personalidade, pode-se entender que a fobia pode ser explicada em crianças a partir de medos que elas relatam possuir, mesmo quando o fator ansiógeno não está presente, caracterizando, também, um “traço da personalidade”, um padrão coerente e consistente de resposta, persistente através de situações (Herman, 1990). A idéia de traço ocupa uma posição central na moderna psicologia da personalidade. Pode-se mesmo afirmar que constitui uma alternativa ou um esquema referencial mais moderno de descrição do que as tentativas realizadas para classificar os seres humanos de acordo com tipos (Sandström, 1975). Numa ótica psicopatológica, o traço pode ser exemplificado a partir de estilos de personalidade, como é o caso do neuroticismo, que permite descrever crianças e adolescentes em termos da magnitude com que apresentam este traço de instabilidade emocional. Portanto, pode-se entender o termo traço como dizendo respeito a unidades funcionais dentro dos padrões mais vastos que constituem a personalidade, tais como honesto, simpático, amável, caridoso, sensível etc. Levando em conta que não é tarefa fácil quantificar / conhecer a multitude de traços de personalidade, têm sido elaborados inventários ou questionários objetivos e sistemáticos que procuram apreendê-los. Tais instrumentos são quase sempre organizados de maneira que o indivíduo possa classificar a si próprio, ao passo que as escalas de classificação são destinadas ao julgamento de uma pessoa por outras, método esse introduzido na psicologia infantil por Stanley Hall (Sandström, 1975). 95 A personalidade de uma pessoa pode ser conhecida por meio da observação do seu comportamento, notando-se que existe uma parte variável e outra constante. A esta parte constante do comportamento se denomina traço, esclarecendo-se que nenhum ato em si mesmo é produto de apenas um traço. Por sua vez, os traços não são imutáveis; são antes tendências amplas que podem ir mudando. Todavia, apesar da mudança, pode-se reconhecer uma tendência, uma constância considerável no modo de comportamento de uma pessoa, afirmando-se a presença de traços ou propriamente tendências da personalidade (Pacheco & Sisto, 2003). Há que destacar a importância de outro construto para conhecer melhor os traços que compõem a personalidade de um indivíduo: o temperamento. Segundo Guardiola (1995), este poder ser definido como um estilo individual de pronta aparência na criança, que influencia a sua conduta e, por tanto, a experiência, podendo sobressair o desenvolvimento da sua personalidade. Nos anos 1930, segundo Sandström (1975), fez-se um esforço por reunir palavras no idioma inglês que permitissem descrever traços de personalidade. Desta forma, chegou-se a uma lista com 17.953 destas palavras. Por suposto, esta não é exatamente uma lista parcimoniosa, carecendo de refinamentos; posteriormente foi-se reduzindo esta e outras listas, resultando em instrumentos que primaram pela idéia de fatores, unidade ou dimensão que congrega múltiplos traços específicos. Esta tradição de mensurar diferenças individuais é tipicamente psicometrista, pautada na técnica de análise fatorial como ferramenta para desenvolver e testar estruturas de personalidade desde a perspectiva dos traços (Andrade, 2008). Estava firmando-se, à época, uma tradição específica dos estudos da personalidade: o enfoque léxico, partindo de uma análise da linguagem natural com o fim de facilitar a compreensão da personalidade (John, Angleitner & Osttendorf, 1988). 96 Quanto às principais abordagens teóricas que têm procurado tratar o tema da personalidade, na Tabela 8 a seguir é apresentada uma revisão sumária, resgatada por Andrade (2008). Tabela 8. Teorias e características principais da personalidade Teoria Psicanalítica Neo-analítica/ego Biológica Behaviorista Cognitiva Traço Humanística Interacionista Características Principais Observação das influências inconscientes; importância dos impulsos sexuais mesmo em esferas não sexuais. Ênfase no self em sua luta para lidar com emoções e impulsos no mundo interior e as exigências de outras pessoas no mundo exterior. Enfoque nas tendências e nos limites impostos pela herança biológica; pode ser facilmente associada com a maioria das outras abordagens. Análise mais científica das experiências de aprendizagem que modelam a personalidade. Captura a natureza ativa do pensamento humano; emprega o conhecimento da psicologia cognitiva. Técnicas objetivas de avaliação do indivíduo. Valoriza a natureza espiritual da pessoa; enfatiza a luta pela autosatisfação. Reconhece a existência de diferentes personalidades (selves) em diferentes circunstâncias. Como se depreende da tabela anteriormente apresentada, não são recentes os estudos acerca da personalidade, tendo sido desde então elaboradas diversas teorias para explicar como se origina, estrutura e funciona (Pervin, 1978). Entretanto, ao estudar a personalidade nos seus primórdios, a psicologia atuava de forma meramente especulativa, com pouco ou sem qualquer rigor científico, baseada mais na intuição do que na observação (Andrade, 2008). Neste marco, é comum indicar que o estudo da personalidade teve início a partir das observações clínicas, como, por exemplo, aquelas empreendidas por Freud ao estudar as pulsões sexuais. Em seguida, os teóricos da gestalt impressionaram-se com a unidade do 97 comportamento e convenceram-se de que o estudo fragmentado do comportamento não seria de grande valor. Também as aportações da psicologia experimental e teroria da aprendizagem foram decisivas, preocupando-se com o rigor, concentrando nos comportamentos manifestos e não em necessidades, traços, impulsos ou mecanismos de defesa. Portanto, o interesse pela personalidade humana tem um passado longo e uma pluralidade de enfoques, sendo também bastante estudada pela psicometria (e suas antecessoras, isto é, a psicoestatística e psicologia diferencial; Pasquali, 2003), que busca mensurar e estudar as diferenças individuais. Esta última perspectiva é tida em conta na presente tese. Muitos teóricos e pesquisadores consideraram a personalidade em termos de variações de uma série de dimensões, como agressividade, dependência, timidez, gregarismo, apego seguro e insegurança. No entanto, é possível pensar a personalidade de um indivíduo como sendo descrita como uma constelação ou perfil dessas dimensões-chave (Bee, 1996). Isso sugere a adoção de modelos axiomatizados, permitindo estudar os traços específicos (os fatores, as dimensões) ao invés de examinar separadamente os milhares de traços particulares que tornam o ser humano individual e único. Nos últimos 40 anos é considerável o número de conceitos relacionados com a personalidade, bem como têm proliferado os instrumentos para medi-la (Pervin & John, 2004). Encontrar uma forma de organizar todos os diferentes tipos de traços de personalidade em uma estrutura coerente não foi uma tarefa fácil, mas se constituiu em uma preocupação notória dos estudiosos durante as décadas de 1980 e 1990. Nesta conjuntura, teve lugar, a partir de técnicas de análise fatorial, um consenso entre os pesquisadores acerca de como organizar os traços de acordo com cinco dimensões amplas da personalidade (Pervin & John, 2004). Portanto, tiveram início os estudos os cinco grandes fatores da personalidade, estrutura mundialmente conhecida como big five. 98 Originado a partir de técnicas de análises fatoriais e teorias de traços de personalidade, os big five se constituem um modelo robusto (Benet-Martínez & John, 1998). Esta abordagem teve começo a partir da tradição da teoria do traço e análise léxica da personalidade, da década de 1930, como anteriormente referidas. Desde então, passou-se a admitir que a personalidade poderia ser adequadamente representada por meio de cinco (grandes) fatores independentes: intelecto, caráter, temperamento, disposição e humor (John, Angleitner & Osttendorf, 1988). A viabilidade deste modelo foi empiricamente demonstrada por Louis Leon Thrustone, partirindo de uma análise fatorial de 60 descritores de traços para definir a personalidade em termos de cinco fatores (Nunes & Hurtz, 2005). O modelo dos cinco fatores é considerado por muitos teóricos como a base para uma representação adequada da estrutura da personalidade, supondo um intento de unificação entre os distintos pontos de vista existentes até o momento quanto à descrição da personalidade. Não se advoga que existam apenas cinco dimensões de personalidade, mas que estas são as principais ou mesmo as que deveriam surgir a partir das análises de intercorrelações de fatores de primeira ordem. Neste modelo convergem duas tradições diferentes de pesquisas que, no transcorrer dos anos, procuraram descrever as dimensões básicas da personalidade: a tradição lexicográfica ou psicoléxica. Esta se baseia nas hipóteses da sedimentação lingüística de Cattell, na qual as diferenças individuais mais sobressalentes e socialmente relevantes estão codificadas na linguagem do cotidiano e examina a emergência dos cinco fatores por meio de adjetivos extraídos do vocabulário que utilizam os indivíduos para descrever a si próprios e aos demais; e a tradição fatorial. Procura examinar a emergência dos mesmos fatores, mas por meio de análises de frases descritivas contidas em questionários de personalidade (Edo, Moya, Lores, Luelmo, Ibáñez & Ortet, 2004). O modelo dos cinco fatores parece configurar-se como 99 uma estrutura adequada e integradora para a descrição da personalidade na linguagem natural, mas também naquele em que se destacam os inventários de personalidade. Goldberg (1990) realizou um levantamento de trabalhos e, juntamente com os seus achados, ficou impressionado com a consistência dos resultados, tendo sugerido que qualquer modelo para estruturar diferenças individuais deverá conter, em algum nível, algo semelhante aos cinco grandes fatores ou dimensões. Desta concepção surge a idéia das Cinco Grandes Dimensões da Personalidade. A palavra grande se refere à descoberta de que cada fator abrange numerosos traços mais específicos, sendo as dimensões grandes de uma ordem mais elevada, quase tão abstratas e amplas na hierarquia da personalidade quanto os superfatores de Hans Eysenck. Com o fim de facilitar a compreensão do leitor, procura-se, na Tabela 8, indicar os cinco grandes fatores, como hoje têm sido rotulados, referindo-se ao significado de cada um, segundo Pervin & John (2004). Como é possível perceber na Tabela 8, para cada grande fator de personalidade são listadas as principais características dos indivíduos que o apresenta em maior magnitude. Além disso, é indicado o que eles significam e são listados alguns dos atributos ou itens específicos que podem servir para caracterizá-los. É igualmente importante lembrar que alguns dos nomes dos fatores têm mudado na literatura, a exemplo de neuroticismo e amabilidade, que podem ser também identificados como instabilidade emocional e sociabilidade, respectivamente (Andrade, 2008; Nunes & Hurtz, 2005). 100 Tabela 8. Os cinco grandes fatores de traços de personalidade e escalas ilustrativas Características do indivíduo que apresenta um resultado alto Escalas de traços Características do indivíduo que apresenta um resultado baixo Preocupado, nervoso, emotivo, inseguro, inadequado, hipocondríaco. Neuroticismo (N) Avalia ajustamento versus instabilidade emocional, identifica indivíduos propensos a perturbações psicológicas, idéias irrealistas, necessidades ou ânsias excessivas e respostas mal adaptativas. Calmo, descontraído, não emotivo, forte, seguro, autosatisfeito. Extroversão (E) Sociável, ativo, falante, orientado para as pessoas, otimista, divertido, afetuoso. Avalia a quantidade e intensidade de interações interpessoais; nível de atividade; necessidade de estimulação; e capacidade de alegrar-se. Reservado, sóbrio, contraído, indiferente, orientado para tarefas, desinteressado, quieto Curioso, interesses amplos, criativo, original, imaginativo, não-tradicional. Abertura (O) Avalia a atividade proativa e a apreciação da experiência por si só; tolerância e exploração do que não é familiar. Convencional, sensato, interesses limitados, nãoartístico, não-analítico. Generoso, bondoso, confiante, prestativo, clemente, crédulo, honesto. Amabilidade (A) Avalia a qualidade da orientação interpessoal do indivíduo ao longo de um contínuo da compaixão ao antagonismo em pensamentos, sentimentos e ações. Cínico, rude, desconfiado, não-cooperador, vingativo, inescrupuloso, irritável, manipulador. Consciência (C) Avalia o grau de organização, Organizado, confiável, persistência, e motivação do trabalhador, autodisciplinado, indivíduo no comportamento pontual, escrupuloso, dirigido para os objetivos. asseado, ambicioso, Compara pessoas confiáveis perseverante. e obstinadas com aquelas que são apáticas e descuidadas. Sem objetivos, não confiável, preguiçoso, descuidado, negligente, relaxado, fraco, hedonístico. 101 Como o interesse na presente tese é, sobretudo, com o fator de neuroticismo (instabilidade emocional), vale a pena comentar algo a respeito. Como parece claro na literatura (Andrade, 2008; Benet-Martínez & John, 1998; Nunes & Hurtz, 2005; Pervin & John, 2004), este avalia a instabilidade emocional do indivíduo em oposição ao seu ajustamento, procurando identificar aquels que apresentam algum grau de perturbação psicológica, inconstância e, em certo sentido, ânsia diante de situações quotidianas. Tipicamente, aquele que é descrito como apresentando nível acentuado de neuroticismo costuma ser descrito com alguém constantemente preocupado, nervoso, emotivo, explosivo, intempestivo e inseguro. Como pareceu evidente no modelo teórico de Taylor (1998), este traço de personalidade pode ser a base dos medos e das fobias (ver também Longley, Watson, Noyes & Yoder, 2006; Mann, Birks, Hall, Torgerson & Watt, 2006). Há que se dizer que existem diversos instrumentos de auto-informe que permitem avaliar os cinco grandes fatores da personalidade em adultos (Benet-Martínez & John, 1998; Nunes & Hurtz, 2005). Não obstante, poucos são aqueles disponíveis com relação às crianças e aos adolescentes; algumas exceções também podem ser encontradas (Edo & cols., 2004): Inventário Hierárquico da Personalidade para crianças (IHPC), Inventário de Personalidade NEO Revisado (IP-NEO--R) e Questionário Big Five (QBF). Entretanto, a situação é ainda mais precária no contexto brasileiro quando se trata de avaliar os cinco grandes fatores com estes grupos amostrais. A propósito, um único instrumento construíduo e validado no Brasil foi encontrado: Escala de Traços de Personalidade para Criança, que aborda jovens de 5 a 10 anos de idade (Sisto, 2007). Não obstante, um instrumento recente, de tipo lápis e papel, breve e com instruções e itens fáceis tem sido avaliado neste contexto cultural: Inventário dos Cinco Grandes, originalmente elaborado nos Estados Unidos (Benet-Martínez & John, 1998), porém com dados acerca da população brasileira de adolescentes e adultos jovens (Andrade, 2008; 102 Schmitt & cols., 2007). Neste sentido, ambos são objeto de interesse nesse estudo, sendo devidamente descritos e incluídos no Estudo 3. Em resumo, o objetivo principal da presente tese é elaborar um modelo e uma medida específica de fobias que possa ser adequadamente empregada com crianças e adolescentes. Neste sentido, parte-se das tipologias de Taylor (1998) e Cox e cols. (2003). Neste marco, considera-se como fundamental o construto de personalidade denominado como neuroticismo, que se supõe ser a base ou origem das fobias, e é tomada como central a concepção de que os estilos maternos de socialização podem afetar as experiências de fobias dos jovens. Com o propósito de enfocar o objetivo geral desta tese, descrevem-se a seguir três estudos empíricos que consideraram diferentes amostras do contexto paraibano, procurando em cada um indicar os objetivos, o método, os principais achados e as discussões mais pertinentes. Este empreendimento ocupa a segunda parte desta obra, como a seguir ficará evidente. 103 PARTE II: Pesquisas Empíricas 104 Capítulo 3. Estudo 1. Elaboração do Inventário de Fobias Infantis 3.1. Introdução Como previamente mencionado, as fobias compreendem queixas freqüentes nos âmbitos escolar e doméstico. Crianças e adolescentes experimentam medos de diversas ordens, que podem comprometer áreas importantes de suas vidas, como a acadêmica, a afetiva e a social. Apesar desta evidência, não se constatou na realidade brasileira qualquer instrumento específico para avaliar fobia nestas faixas-etárias. Por exemplo, entre os 99 instrumentos psicológicos aprovados e divulgados pelo Conselho Federal de Psicologia (2008), não foi encontrado ao menos um cujo propósito principal fosse avaliar fobias em crianças e adolescentes. Além do anteriormente comentado, constata-se que a literatura relativa aos transtornos fóbicos em crianças e adolescentes ainda é escassa, e só mais recentemente dados consistentes vêm surgindo. Os argumentos anteriormente apresentados parecem justificar a realização do presente estudo, que teve como objetivo principal elaborar um instrumento para medir este construto psicológico, checando sua validade semântica. Pretendeu-se justamente contribuir com a elaboração de um instrumento que viabilize a identificação de sinais / sintomas de fobias, os quais permitirão categorizá-las e, por meio de critérios específicos de diagnóstico, mapeá-las e realizar os procedimentos necessários de intervenção. Neste momento, entretando, buscou-se conhecer se todos os itens eram claros para os participantes e se eles poderiam responder de acordo com as instruções a escala de resposta apresentadas. 105 3.2. Método 3.2.1. Amostra Participaram deste estudo preliminar 30 crianças com idades entre 6 e 10 anos (M = 8,7; DP = 0,79), a maioria do sexo feminino (90%) e cursando a terceira série / 4º ano do ensino fundamental (60%) de uma escola privada do município de João Pessoa, PB. Tratou-se de uma amostra de conveniência (não-probabilística), tendo participado as crianças que, obtida a autorização da escola e a permissão da professora, concordaram em fazer parte do estudo. 3.2.2. Instrumento Todas as crianças responderam o Inventário de Fobias Infantis. Este foi composto por 24 itens / estímulos fóbicos (Anexo III), elaborados a partir das categorias descritas na literatura (Cox & cols., 2003; Taylor, 1998), tendo em conta o DSM-IV-TR (APA, 2000; OMS, 1993) e o que têm sido considerados medos / fobias típicos na infância e adolescência (Brazelton, 1994; Papalha & Olds, 1997). Portanto, tais itens cobriam seis dimensões, tipos ou fatores específicos de fobia, a saber: medo imaginário (por exemplo, tenho medo de bruxas malvadas; tenho medo de fantasmas), medo de injúrias / doenças (por exemplo, tenho medo de injeção; tenho medo de dentista), medo situacional (por exemplo, tenho medo de altura, de estar em lugar alto; tenho medo de andar / subir em escala rolante), medo social (por exemplo, evito estar com pessoas que não conheço; tenho medo de utilizar banheiro público), medo natural (por exemplo, tenho medo de lugares escuros, o barulho do trovão me assusta) e medo de animais (por exemplo, tenho medo de rato; tenho medo de sapo). Com o fim de respondê-los, as crianças deveriam indicar em que medida o que cada um descreve / acontece no seu dia-a-dia, empregando uma escala de cinco pontos, variando de 1 = Não a 5 = Sempre. Além deste instrumento, os participantes responderam quatro perguntas de natureza 106 demográfica: nome (foi suprimido, não figurando no banco de dados; empregou-se para derivar o sexo do respondente), idade, série e escola. 3.2.3. Procedimento Inicialmente, contatou-se a direção da escola com o fim de pedir a permissão para realizar a pesquisa. Uma vez obtida tal autorização, passou-se a contatar as professoras das turmas, que foram informadas sobre os propósitos da pesquisa. Estando todas de acordo, a pesquisadora se apresentou em sala de aula, acompanhada da professora, solicitando que as crianças presentes colaborassem, respondendo um questionário. Neste caso, deram-se as orientações de como proceder, indicando que havia uma lista de “coisas / fatos” que poderiam ou não acontecer na sua vida quotidiana. A partir de então, estas foram instruídas a responder individualmente, embora em ambiente coletivo de sala de aula, todos os itens / estímulos fóbicos. Foi informado que não existiam respostas certas ou erradas e que, se houvesse alguma palavra ou frase que não entendessem, assinalassem. A pesquisadora permaneceu na sala de aula para eventuais explicações. Aproximadamente 30 minutos, em média, foram suficientes para concluir esta atividade. 3.2.4. Análise dos Dados Os dados foram tabulados e analisados por meio do programa SPSS (versão 15). Nesta oportunidade, as análises foram estritamente descritivas, calculando-se médias e desvios padrões, além de efetuar distribuição de freqüência e realizar teste t de Student. Neste caso, não compreendeu o uso corrente que é feito deste teste, quando busca comparar a média entre dois grupos; seu uso foi para checar se um coeficiente de correlação difere estatisticamente de zero. 107 3.2.5. Aspectos Éticos O presente estudo e os que se descrevem a continuação seguiram as recomendações relacionadas à pesquisa com seres humanos, conforme os princípios éticos da Declaração de Helsinque, contidos na Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196/95 e aprovada pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Parecer nº 581/2000). Em se tratando de infantes, o(a) diretor(a) da escola visitada assinou o termo de consentimento livre e esclarecido, concordando com a participação dos infantes na pesquisa (Anexo II). Na oportunidade, seguindo recomendação do Ministério da Saúde, submeteu-se o projeto de pesquisa ao Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde (João Pessoa), o qual concedeu a autorização provisória para sua execução (Anexo I). 3.3. Resultados Os dados descritivos para o conjunto dos itens do IFI são apresentados na Tabela 9 a seguir. Como é possível observar nesta tabela, aproximadamente um terço dos itens foi respondido por todos os participantes; dez itens deixaram de ser respondidos por 3,3% deles; e cinco itens não foram respondidos por 6,7% das crianças. No geral, o estímulo que menos medo produziu, em termos da porcentagem dos que responderam não, foi subir em elevador (86,2%); os seguintes estímulos apareceram logo em seguida, indicados por 83,3% dos participantes: pessoas fantasiadas, barulho do vento e dinossauros. 108 Tabela 9. Descrição dos Itens / Estímulos Fóbicos % Escolha da Opção % Item em Branco 1 Ler em voz alta 3,3 Ser esquecido 3,3 Subir em elevador M DP 0,0 1,34 0,721 13,8 2,28 1,412 0,0 1,24 0,689 0,0 6,7 2,03 1,129 0,0 0,0 14,3 0,0 2,07 1,30 1,438 0,702 33,3 3,3 10,0 2,33 1,295 3,4 10,3 3,4 1,66 1,173 13,8 3,4 10,3 3,4 1,59 0,983 31,0 31,0 24,1 0,0 13,8 2,34 1,317 0,0 53,3 20,0 16,7 6,7 3,3 1,87 1,137 3,3 51,7 27,6 13,8 0,0 6,9 1,83 1,136 Banheiro público 6,7 57,1 14,3 21,4 0,0 7,1 1,86 1,208 Barulho do vento 0,0 83,3 0,0 13,3 0,0 3,3 1,40 0,968 Cachorro 3,3 55,2 20,7 17,2 0,0 6,9 1,83 1,167 Bruxas e monstros 3,3 58,6 6,9 20,7 6,9 6,9 1,97 1,322 Injeção 6,7 39,3 25,0 14,3 0,0 21,4 2,39 1,548 Fazer algo sozinho 0,0 70,0 16,7 13,3 0,0 0,0 1,43 0,728 Dinossauros 0,0 83,3 3,3 6,7 0,0 6,7 1,43 1,104 Lugares escuros 6,7 42,9 21,4 21,4 3,6 10,7 2,18 1,335 Provas escolares 6,7 35,7 28,6 21,4 0,0 14,3 2,29 1,357 Aranhas, morcegos 3,3 34,5 34,5 10,3 3,4 17,2 2,34 1,446 Sangue 0,0 43,3 20,0 20,0 6,7 10,0 2,20 1,349 Pouca iluminação 0,0 63,3 13,3 13,3 0,0 10,0 1,80 1,297 Estímulos Fóbicos 2 3 4 79,3 6,9 13,8 0,0 41,4 20,7 20,7 3,4 3,3 86,2 6,9 3,4 3,4 Espaço fechado 0,0 40,0 30,0 23,3 Barulho de trovão Pessoas fantasiadas 6,7 0,0 53,6 83,3 14,3 3,3 17,9 13,3 Dormir sozinho 0,0 36,7 16,7 Andar de avião 3,3 69,0 13,8 Multidão 3,3 69,0 Pessoas estranhas 3,3 Trovão assustador Sapo 5 Opção de resposta: 1 = Não; 2 = Sim; 3 = Às vezes; 4 = Quase Sempre; 5 = Sempre Os estímulos que evocaram maior quantitativo (porcentagem de escolha da opção sempre) de crianças indicando que sentiam medo, foram: injeção (21,4%), aranhas, morcegos e lagartos (17,2%); barulho do trovão e provas escolares apareceram logo em seguida, com quantitativo similar (14,3%). Como é possível comprovar na Tabela 9, as crianças utilizaram freqüentemente três ou quatro pontos da escala de resposta proposta; a opção 4 (Quase sempre), por exemplo, não foi escolhida por 46,7% dos respondentes potenciais; a opção 3 (Ás vezes), entre as alternativas oferecidas, foi também pouco mencionada, sendo a mais escolhida para o estímulo dormir sozinho (33,3%). 109 Finalmente, levando em conta o conjunto de itens, observou-se um índice de consistência interna de 0,89 (Alfa de Cronbach). A homogeneidade, considerando a correlação média corrigida item-total (ri.t), foi de 0,49 (t = 2,97, N = 30, p < 0,01). 3.4. Discussão Parcial Como foi previamente indicado, um dos objetivos principais deste estudo foi conhecer a adequação dos estímulos fóbicos, bem como a análise semântica dos itens e instruções (validação semântica). Neste sentido, os participantes foram solicitados a indicar aqueles que lhes pareciam repetitivos, incompreensíveis, desconhecidos ou confusos. Os itens 5 (O barulho do trovão me assusta) e 11 (O barulho do trovão é assustador) foram considerados idênticos, sugerindo-se que um deles fosse eliminado. Dois itens se mostraram particularmente “confusos”: Item 8 (Andar de avião me dá calafrios) e Item 2 (O sapo é um aninal que me amedronta). No caso do Item 8, algumas crianças indicaram que nunca andaram de avião, e outras informaram não conhecer a palavra calafrios; e, em se tratando do Item 12, alguns desconheciam a palavra amedronta. Além destes itens, o de número 22 (Tenho medo de aranhas, morcegos e lagartos) gerou alguma dúvida. Particularmente, incluiu três “bichos” e, como sugerido pelas próprias crianças, poderiam ter medo de um deles, mas não de outro(s). No caso do lagarto, não é da vivência da maioria delas. A pesquisadora, ao indagar as crianças acerca da escala de resposta proposta, percebeu a dificuldade de algumas delas, sobretudo das mais jovens, isto é, com 9 anos ou menos. As instruções referentes ao preenchimento do instrumento foram breves, ocupando tão somente quatro linhas. Nelas foram apresentadas as alternativas de resposta, indicando que o participante deveria se pautar nela para responder cada item / estímulo. Entretanto, algumas crianças tiveram dúvidas em relação a forma de responder o questionário, achando um pouco 110 confusas as alternativas oferecidas por não saberem quantificar a presença ou ausência do medo frente aos estímulos oferecidos e, também, por não terem vivenciado algumas situações, como anteriormente especificadas. Contudo, após a leitura das questões e a explicação do seu significado, as dúvidas pareceram ser minoradas. É importante lembrar que muito tem sido pesquisado e avanços significativos têm sido feitos nas áreas de diagnóstico, epidemiologia e tratamento dos transtornos emocionais na população de adultos (D´El Rey, Pacini & Chavira, 2005; Gauer, Zogbi, Beidel & Rodríguez, 2006; Méndez, Inglês, Hidalgo, García-Fernández & Quiles, 1997), porém a realidade é diferente em relação às crianças. Reitera-se aqui que os estímulos que mais chamaram a atenção, no sentido de evitação por parte dos infantes, foram aranhas, morcegos, lagartos, barulho do trovão e provas escolares. Neste contexto vale a pena resgatar o estudo de Roazzi, Federicci e Wilson (2001). Cabe, preliminarmente, lembrar que estes autores trabalharam as fobias em termos de regiões espaciais, algo diferente da presente abordagem, que as considerou como estímulos específicos. Concretamente, Roazzi e cols. (2001) procuraram compreender a estrutura primitiva da representação social do medo em dois grupos de crianças, as quais se expressavam de maneira livre o que se passava em suas mentes quando evocada a palavraestímulo medo. Seus resultados apontaram claramente três regiões em volta do item medo, localizado no centro, os quais foram facilmente identificáveis e relacionadas entre si: Região Animais: rato, barata, mocrego e sanguessuga, Região – Vida Real: doença, morte, assaltante, revólver e prova e, finalmente, Região – Seres Imaginários: vampiro, papafigo, monstro, fantasma, bruxa e diabo. Das três regiões, a Animais foi a que apresentou características mais parecidas entre os dois grupos de crianças, com correlações altas entre os itens que a compõem. Portanto, os estímulos / fóbicos considerados neste primeiro estudo da tese 111 corroboram com aqueles específicos descritos por Roazzi e cols. (2001), embora nesse estudo tenham sido incluídos outros mais (por exemplo, provas escolares, aranhas e morcegos), que têm sido mencionados em outros estudos (Kessler, Stein & Berglund, 1998; Las Heras, 2000; Atienza, 2001; Westenberg, Drewes, Goedhart, Siebelink & Treffers, 2004; Carrillo, Amorós & Alcázar, 2005). Há que destacar que o conjunto de estímulos reunidos no presente estudo são comprovados também na clínica infanto-juvenil, razão que reforça parte importante das queixas levadas aos consultórios psicológico e psiquiátrico (Barbosa & cols., 2002). Isso justifica que essa população procure tratamento em razão do grau elevado de ansiedade inerente à experiência de medo / fobia, gerando comprometimentos de diversas ordens, como insônia, apego materno-filial exacerbado e dificuldades de aprendizagem (Carrillo, Amorós & Alcázar, 2005, Méndez, 2005, Gutiérrez, 2005, Ferreira & Marturano, 2002). Uma fobia específica se estabelece quando se têm desenvolvido reações de alarme aprendidas diante de determinados objetos ou situações, ou mesmo quando se desenvolve uma sensação de apreensão ansiosa ante a possibilidade de outro alarme (ou de um acontecimento traumático). Esta apreensão ansiosa é a que ocasiona uma ampla e intensa vigilância ou atenção que se focaliza nos potenciais contatos futuros com situações ou objetos fóbicos. Barlow (1988) chega a defender, inclusive, que se pode dar o caso de que não necessita ocorrer nunca um alarme. Se a ansiedade provocada pela informação errônea é o suficientemente intensa como causar evitação e vigilância contínuas das situações potencialmente fóbicas, uma fobia pode desenvolver-se sem que tenha lugar um alarme. Finalmente, embora não tenha sido o objetivo específico deste estudo comprovar os parâmetros psicométricos do Inventário de Fobias Infantis, parecem existir evidências de que o conjunto de itens trata de um construto bastante coeso. Reppold (2005) em seu estudo 112 evidenciou uma avaliação do conteúdo das descrições de seus medos em que os adolescentes entre 12 e 13 anos tenderam a descrever com maior freqüência reações vegetativas (como por exemplo, tremores e choros) e situações concretas de perigo como o medo do escuro. Por exemplo, mesmo que a amostra tenha sido pequena (N = 30), observou-se um índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) acima do ponto de corte que tem sido sugerido na literatura, isto é, 0,70 (Nunnally, 1991; Pasquali, 2003); a homogeneidade calculada reforça este parâmetro, com um valor superior ao 0,20 ou 0,30 que vem sendo advogado (Clark & Watson, 1995). Em resumo, deram-se os primeiros passos nesta oportunidade para elaborar o Inventário de Fobias Infantis. Sua primeira versão, composta por 24 itens e apresentando uma escala de resposta de cinco pontos, foi avaliada em termos da semântica dos itens, das instruções e da escala de resposta apresentadas. Não obstante, foram identificados alguns problemas que precisam ser resolvidos, como itens ambíguos e repetidos, bem como escala de resposta com mais opções do que as necessárias. Estes aspectos motivaram um segundo estudo, que é detalhado a seguir. 113 Capítulo 4. Estudo 2. Inventário de Fobias Infantis: Versão Experimental 4.1. Introdução Contando com um conjunto de itens que deu origem à versão premilinar do instrumento de fobias infantis, é oportuno conhecer em que medida este reúne evidências de validade fatorial e consistência interna. Neste sentido, pensou-se na realização do presente estudo. Seu objetivo principal foi, a partir de refinamentos sugeridos em razão do Estudo 1, apresentar uma versão experimental do Inventário de Fobias Infantis, selecionando os melhores itens e, posteriormente, checando seus parâmetros psicométricos. Esta é uma etapa prévia, porém essencial nesta tese; contando com uma medida adequada de fobias na faixa etária objeto de interesse, pode-se testar o modelo que procura explicar como estes transtornos fóbicos se apresentam nas crianças e nos adolescentes. Estes aspectos orientam o estudo que ora se descreve. 4.2. Método 4.2.1. Amostra Participaram desta pesquisa 441 estudantes provenientes de uma escola pública municipal de Cabedelo (60,1%) e uma privada de João Pessoa (39,9%), ambas as cidades integrando a Grande João Pessoa (Paraíba). Consideraram-se jovens da segunda à sexta séries do ensino fundamental, isto é, 3º a 7º anos, respectivamente, como seguem: 3º (15,9%), 4º (27,4%), 5º (37,4%), 6º (15,2%) e 7º (4,1%). Estes tinham idades entre 7 e 14 anos, com média de 9,8 (DP = 1,55), sendo a maioria do sexo feminino (67,8%). Esta foi uma amostra de conveniência (não-probabilística), tendo participado os estudantes que, presentes em sala de aula, concordaram em colaborar com o estudo. 114 4.2.2. Instrumentos A versão ora apresentada foi elaborada de acordo com o observado no Estudo 1. Na oportunidade, o Inventário de Fobias Infantis (IFI) era formado por 24 itens, porém, em razão das análises previamente descritas, elaborou-se uma versão mais ampliada, formada por 30 itens / fobias específicas, representando os seis tipos de fobia previamente identificados, lembrando: medo de imaginário, medo de doenças, medo situacional, medo social, medo natural e medo de animais. Diante de cada item / descrição do medo (fobia), os infantes deveriam indicar sua reação quotidiana. Nesta oportunidade, adotou-se um formato diferente da escala de respostas, combinando números, conceitos e imagens, como se especifica (Anexo IV): 0 = Nunca = 1 = Às vezes = 2 = Sempre = Finalmente, com o propósito de caracterizar os participantes do estudo, incluíram-se três perguntas de natureza demográfica: nome, idade e escolaridade da criança. A escola, tanto o seu nome como a modalidade (pública ou privada), e o sexo do infante compreenderam informações complementares resgatadas pela pesquisadora. 4.2.3. Procedimento 115 De início foi mantido o contato com as escolas que participaram do estudo, selecionadas aleatoriamente. Na ocasião ressaltou-se a importância da pesquisa, bem como foram esclarecidas as dúvidas quanto à participação dos estudantes e ao sigilo de sua colaboração. No caso, seu nome foi excluído do banco de dados, servindo apenas para, eventualmente, realizar um segundo estudo com o fim de conhecer a precisão (teste-reteste) da medida. Estabelecida a concordância da direção da escola, com a devida autorização e conseqüente assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, passou-se à coleta de dados. A aplicação dos questionários foi realizada em ambiente coletivo de sala de aula, apesar de as respostas serem individuais. A todos foi informado que se tratava de um estudo cuja participação seria voluntária, sendo assegurado o sigilo das respostas, tratadas coletiva e estatisticamente. Indicou-se também que não existiam respostas certas ou erradas, sendo importante que todos respondessem de forma sincera e honesta. No final desta atividade a pesquisadora agradeceu aos participantes e responsáveis pela escola, indicando um endereço em que poderiam obter informações adicionais sobre a pesquisa ou esclarecer dúvidas. A participação destes infantes durou, em geral, entre 10 e 20 minutos. 4.2.4. Análise dos Dados Para a tabulação e as análises estatísticas dos dados foi utilizado o Pacote Estatístico para as Ciências Sociais (SPSS, versão 15). Foram calculadas estatísticas descritivas (freqüências, medidas de tendência central e dispersão), efetuadas as análises de Componentes Principais (CP), análise paralela e, por fim, realizada a análise de consistência interna (Alfa de Cronbach) dos fatores resultantes. 116 4.2.5. Aspectos Éticos De acordo com o previamente informado, este estudo cumpriu as recomendações relacionadas à pesquisa com seres humanos, conforme os princípios éticos da Declaração de Helsinque, contidos na Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196/95 e aprovada pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Parecer nº 581/2000). A propósito, o projeto correspondente foi submetido ao Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde (João Pessoa), tendo recebido autorização para sua execução (Anexo III). 4.3. Resultados Como dito previamente, o interesse principal nesta oportunidade foi refinar a medida de fobia infantil, selecionando os melhores itens ao tempo em que se assegurassem parâmetros psicométricos aceitáveis. Neste momento são apresentados os principais resultados a respeito, tendo em conta cada um dos seis tipos específicos de fobia, como previamente listados, segundo o estímulo eliciador: animal, imaginário, doença, natural, situacional e social. Cabe ressaltar que dois itens foram eliminados antecipadamente, considerando que um foi avaliado como demasiado específico (Item 2. Tenho medo que meus pais me esqueçam na escola) e outro por produzir incompreensão por parte dos infantes pesquisados (Item 18. Sinto dores de barriga quando tenho que fazer algo sozinho). Portanto, restaram 28 itens que foram submetidos a duas análises principais em relação a cada tipo de fobia: (1) estatísticas descritivas dos itens individualmente e (2) evidências de validade fatorial e consistência interna da subescala. Procurou-se reter os itens que produzissem maior variabilidade de 117 resposta, maior reação de medo nos infantes e saturassem satisfatoriamente no fator teórico de pertença. Fobia de Estímulos Animais Esta fobia diz respeito a animais, bichos ou insetos que podem produzir medo em crianças e infantes. Obviamente, não se esgotam todas as possibilidades. Contudo, procurou-se representar aqueles “bichos” que são comumente citados. Inicialmente, descreveu-se cada item / estímulo em termos de sua variância (σ σ²) e das porcentagens dos que indicaram nunca ter medo diante do estímulo e aqueles que mencionaram sempre ter medo. Posteriormente, realizou-se uma análise de componentes principais (CP) com o conjunto de estímulos desta categoria. Os resultados correspondentes são apresentados na Tabela 10 a seguir. Tabela 10. Estatísticas Descritivas e Estrutura Fatorial de Fobias Animais Estímulo Rato Sapo Morcegos Aranha Barata Cachorro Número de itens Valor Próprio % Variância total Alfa de Cronbach σ² 0,80 0,75 0,74 0,73 0,67 0,54 Porcentagem Nunca Sempre 43,8 36,5 50,6 28,8 40,6 33,3 43,1 31,1 56,7 22,0 54,6 14,7 Saturação 0,80 0,78 0,76 0,68 0,79 0,30 6 2,99 49,8 0,79 Como é possível perceber nesta tabela, a maior variância (σ σ²) correspondeu ao estímulo rato, em que menos de 50% indicaram nunca ter medo, enquanto acima de 1/3 informou sempre ter medo. Contrariamente, cachorro apresentou a menor variância de 118 resposta, compreendendo um dos dois “bichos” (juntamente com barata) que os jovens indicaram nunca ter medo; menos de 5% delas afirmaram sempre ter medo de cachorro. No que se refere à análise de componentes principais (CP), inicialmente comprovou-se a pertinência de empregar esta técnica estatística para analisar a matriz de correlações entre os estímulos animais. Os indicadores foram bastante farováveis: KMO = 0,84 e Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (15) = 742,76, p < 0,001. Decidiu-se fixar a extração de um único componente, coerente com o que seria esperado. Claramente, foi identificado o referido componente, que apresentou valor próprio (eigenvalue) superior a 1, explicando próximo de 50% da variância total, conforme se observa na Tabela 10. Calculou-se então a consistência interna deste fator, que apresentou Alfa de Cronbach de 0,79, podendo chegar a 0,82 com a exclusão do estímulo cachorro. A homogeneidade dos itens, calculada em razão da correlação média inter-itens, foi de 0,37, coeficiente que diferente estatisticamente de zero [t (339) = 8,34, p < 0,001]. Fobia de Estímulos Imaginários As fobias listadas nesta categoria contemplam estímulos como bruxas, fantasmas e filmes de dinossauros, que correspondem a alguns dos mais comumente mencionados na literatura e prática psicológica. A menor variância (σ σ²) correspondeu ao estímulo pessoas fantasiadas, que reuniu o maior quantitativo de infantes que indicaram nunca ter medo e, coerentemente, o menor montante daqueles que afirmaram sempre ter medo de pessoas nestas condições. O medo de fantasmas produziu a maior variância, abarcando acima de ¼ dos infantes que indicaram sempre ter medo. Estes resultados podem ser melhor visualizados na 119 Tabela 11 a seguir, que também apresenta informações acerca da estrutura fatorial deste conjunto de estímulos fóbicos. Tabela 11. Estatísticas Descritivas e Estrutura Fatorial de Fobia Imaginária Estímulo Fantasmas Bruxas Filmes de Dinossauros Pessoas Fantasiadas σ² 0,74 0,72 0,28 0,21 Número de itens Valor Próprio % Variância total Alfa de Cronbach Porcentagem Nunca Sempre 55,1 27,0 55,6 25,6 79,1 4,5 86,2 3,4 Saturação 0,82 0,83 0,55 0,40 4 1,82 45,6 0,60 Em razão da adequação meritória de se realizar uma análise fatorial da matriz de correlação entre os quatros estímulos considerados [KMO = 0,58, Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (6) = 253,65, p < 0,001], optou-se por realizar uma CP para extração de um único componente. Os resultados constam na Tabela 11 anteriormente apresentada. De acordo com esta tabela, todos os quatro itens apresentaram saturações iguais ou superiores a 0,40, resultando em valor próprio de 1,82, que respondeu pela explicação de 45,7% da variância total. Este componente apresentou Alfa de Cronbach de 0,60, podendo chegar a 0,64 com a eliminação do estímulo pessoas fantasiadas. A homegeneidade deste componente, isto é, a correlação média inter-itens, foi 0,26. Este valor é estatisticamente diferente de zero [t (339) = 5,64, p < 0,001]. Fobia de Estímulos de Doença 120 Foram considerados três estímulos: injeção, dentista e sangue. Tantos os resultados descritivos como a análise CP destes estímulos são apresentados na Tabela 12. Como é possível constatar, a menor variância (σ σ²) correspondeu ao estímulo dentista, que reuniu o maior quantitativo de infantes que indicaram nunca ter medo e, coerentemente, o menor montante daqueles que afirmaram sempre ter medo de destista. O medo de sangue produziu maior variância, sendo o estímulo frente ao qual os infantes mais comumente relataram que sempre sentiam medo. 121 Tabela 12. Estatísticas Descritivas e Estrutura Fatorial de Fobia à Doença Estímulo Injeção Dentista Sangue σ² 0,64 0,52 0,68 Número de itens Valor Próprio % Variância total Alfa de Cronbach Porcentagem Nunca Sempre 48,5 22,2 63,0 13,6 43,3 27,4 Saturação 0,80 0,75 0,61 3 1,58 52,5 0,54 Procurou-se realizar nesta oportunidade uma análise CP, checando previamente a adequação de se proceder a dita análise com respeito à matriz de correlações entre os itens deste tipo de fobia, encontrando valores que podem, no conjunto, apoiar tal procedimento estatístico [KMO = 0,59, Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (3) = 110,22, p < 0,001]. Segundo se observa nesta tabela, os três itens que compreendem a fobia de sangue apresentaram saturações superiores a 0,60, tendo tal componente um valor próprio de 1,58, explicando 52,5% da variância total. Este componente apresentou Alfa de Cronbach de 0,54, subindo para 0,57 se o estímulo sangue fosse eliminado. Sua homegeneidade foi 0,28, coeficiente estatisticamente diferente de zero [t (339) = 6,11, p < 0,001]. Fobia de Estímulos Naturais Tiveram-se em conta quatro estímulos: trovão, vento, pouca iluminação e lugares escuros. Na Tabela 13 a seguir são apresentados os resultados descritivos e da análise CP. Com diferença, a menor variância (σ σ²) correspondeu ao estímulo vento, cujo montante de infantes que indicaram nunca ter medo foi o mais elevado; por outro lado, lugares escuros foi 122 o estímulo que os jovens indicaram mais freqüentemente terem medo, sendo que este apresentou a maior variância. Tabela 13. Estatísticas Descritivas e Estrutura Fatorial de Fobia Natural Estímulo Lugares escuros Trovão Pouca iluminação Vento σ² 0,64 0,60 0,63 0,29 Porcentagem Nunca Sempre 37,9 27,4 45,1 20,4 45,6 22,9 78,7 4,8 Número de itens Valor Próprio % Variância total Alfa de Cronbach Saturação 0,73 0,73 0,61 0,53 4 1,72 43,0 0,56 Com o propósito de realizar uma análise CP, checou-se inicialmente a pertinência de se considerar a matriz de correlações entre os itens deste tipo de fobia. Os valores observados apóiam esta análise estatística [KMO = 0,66, Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (6) = 135,12, p < 0,001]. De acordo com esta tabela, todos os quatro itens empregados para representar tal fobia apresentaram saturações superiores a 0,50, resultando um valor próprio de 1,72, responsável pela explicação de 43% da variância total. Sua consistência interna (Alfa de Cronbach) foi 0,56, com homegeneidade de 0,34, que compreende um coeficiente diferente estatisticamente de zero [t (339) = 7,57, p < 0,001]. Fobia de Estímulos Situacionais Quatro foram os estímulos empregados para representar este tipo de fobia: elevador, espaço fechado, provas e altura. Tanto as estatísticas descritivas com os resultados da análise 123 CP são mostrados na Tabela 14 a seguir. Observou-se que a menor variância (σ σ²) correspondeu ao estímulo elevador, que foi indicado pela maioria dos infantes como nunca produzindo medo; o que mais medo produziu nestes jovens foi a altura, que apresentou a maior variância. Tabela 14. Estatísticas Descritivas e Estrutura Fatorial de Fobia Situacional Estímulo Provas Altura Espaço fechado Elevador σ² 0,67 0,73 0,64 0,37 Porcentagem Nunca Sempre 39,5 29,0 39,9 33,3 41,3 25,4 73,5 7,3 Número de itens Valor Próprio % Variância total Alfa de Cronbach Saturação 0,73 0,65 0,51 0,51 4 1,47 36,8 0,42 Prévia a realização da análise CP, comprovou-se sua pertinência, tendo sido observados favores que avaliam este tipo de análise [KMO = 0,60, Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (6) = 64,16, p < 0,001]. Segundo é possível observar nesta tabela, os quatro itens que representam este tipo de fobia apresentaram saturações superiores a 0,50, tendo o fator correspondente um valor próprio de 1,47, que permitiu explicar 36,8% da variância total. Seu Alfa de Cronbach foi 0,42, apresentando homegeneidade de 0,24, que é estatisticamente diferente de zero [t (339) = 5,18, p < 0,001]. 124 Fobia de Estímulos Sociais Este tipo de fobia foi representado por sete estímulos, como seguem: pessoas estranhas, desconhecidos, banheiros públicos, dormir sozinho, multidão, falar em voz alta e ser esquecido pelos pais. Na Tabela 15 a seguir são mostrados os resultados das estatísticas e análise CP. Claramente, inclusive bastante diferente dos demais estímulos, o que apresentou a menor variância foi falar em voz alta, sendo igualmente aquele cujos 3/4 dos infantes indicaram revelar nunca sentir medo; o estímulo que gerou medo na maior parte destes participantes foi desconhecidos. Tabela 15. Estatísticas Descritivas e Estrutura Fatorial de Fobia Social Porcentagem Estímulo Pessoas estranhas Desconhecidos Banheiros públicos Dormir sozinho Multidão Falar em voz alta Esquecido pelos pais Número de itens Valor Próprio % Variância total Alfa de Cronbach σ² 0,63 0,69 0,64 0,57 0,48 0,26 0,69 Nunca 26,3 24,7 44,4 61,7 62,1 75,3 32,7 Sempre 38,5 51,0 23,8 16,1 11,3 2,9 36,7 Saturação 0,69 0,64 0,54 0,51 0,51 0,30 0,23 7 1,83 26,2 0,52 A realização da análise CP, segundo os indicadores de pertinência da matriz de correlação entre os estímulos, foi plenamente justificada [KMO = 0,65, Teste de Esfericidade de Bartlett, χ² (21) = 1183,71, p < 0,001]. As saturações foram bastante variadas, estando no intervalo de 0,23 (ser esquecido pelos pais) a 0,69 (pessoas estranhas), com um valor médio 125 de 0,49. Esta componente apresentou valor próprio de 1,83, explicando 26,2% da variância total. Em termos de consistência interna (Alfa de Cronbach), esta foi de 0,52, podendo chegar a 0,53 se o estímulo ser esquecido pelos pais fosse eliminado; a homegeneidade deste componente foi de 0,25, um coeficiente diferente estatisticamente de zero [t (339) = 5,41, p < 0,001]. Em resumo, realizaram-se as primeiras análises empíricas do conjunto de itens do Inventário de Fobias Infantis, reunindo também evidências acerca da validade fatorial e consistência interna de suas seis subescalas. Portanto, esta primeira versão permitiu subsidiar a elaboração definitiva deste instrumento, que se constitui um dos objetivos principais do Estudo 3 desta tese. Resta, nesta oportunidade, discutir os principais resultados observados no presente estudo. 4.4. Discussão Parcial Conhecer os medos normais é importante para a compreensão dos medos que requerem atenção especializada. Uma série de estudos em populações gerais indica que as crianças manifestam uma quantidade de medos surpreendentemente elevada (Méndez, 2005; Méndez, Inglês, Hidalgo, García-Fernández & Quiles, 1997). Os temores são companheiros constantes das crianças, e sua freqüência pode oscilar tanto em número de medos como em sua intensidade, variando de pessoa para pessoa. No entanto, distinguir o medo provocado por algum perigo real de uma ameaça imaginária é crucial para abordar o tema. Mas a diferenciação nem sempre é fácil, já que a expressão do medo pode apresentar níveis muito variáveis de intensidade, sendo, em alguns casos, irreprimível. 126 O medo, na maioria das vezes, funciona como um sinal de alerta, tendo como principal função proteger e chamar a atenção para um risco iminente. Esta reação, o medo, é inerente ao ser humano – esperada e últil em determinadas situações –, sendo ativada quando há um bom motivo, isto é, diante de um perigo real, potencial ou imaginário. Sua intensidade, o temor, costuma ser proporcional ao risco, permitindo que o indivíduo haja de maneira adaptada à situação: recuando, evitando ou paralizando frente a este, e pode haver ainda um alarme falso no sistema, o qual permite a vivência de situações / emoções desagradáveis e desnecessárias. Quem nunca teve medo ou pavor de algo na infância, ou já sofreu emoções desagradáveis, palpitações e anseios frente um estímulo desagradável? Os temores são companheiros constantes das crianças. Quem não se lembra de ter ficado paralisado, refém das próprias fantasias? André (2007) descreve que os temores só surgem quando a criança começa a ter necessidade deles, para fazer com que evite correr riscos, cabendo a educação, em sentido amplo, formação do indivíduo, propiciar que supere o caráter absoluto desses medos e possa assim equilibrar sua reação. Com o tempo, a maioria dos medos da infância desaparece, embora os excessivos em certos casos evoluam para casos de fobia. Rodríguez-Sacristán (2002) define os medos infantis como sentimentos penosos ou desagradáveis, respostas a situações reais ou imaginárias que a criança vive como perigosa ou que podem causar danos. Estes podem ser normais ou patológicos e ocorrerem em todas as crianças e todas as idades, ainda que os objetos e as situações que geraradores de medo podem variar de acordo com sua idade. Desta forma, a elaboração / validação da lista de estímulos fóbicos do IFI tentou cobrir, por meio dos seus seis fatores fóbicos, a gama de situações e objetos que causam o medo (Brazelton, 1994; Méndez, 2005; Papalia & Olds, 1997), que após sua identificação com base nas respostas dos infantes, permite mapear sua presença, em menor ou maior freqüência, na amostra estudada. 127 Apesar de ser pensado um modelo multifatorial das fobias, reunindo seis fatores, o foco principal deste segundo estudo foi cada tipo específico de fobia, avaliando seus itens individualmente e logo o conjunto deles. Concretamente, procurou-se checar o quanto os itens de cada fobia suscitavam variabilidade de respostas entre os participantes, bem como se era possível pensar cada tipo de fobia como uma dimensão legítima. Com relação aos itens, constatou-se que alguns precisam ser removidos, quer por redução da subescala correspondente à fobia ou por produzir ruído, isto é, comprometer o parâmetro de consistência interna do fator. Portanto, para as seguintes fobias se decidiu retirar ao menos um item: animal, imaginária e social. No primeiro caso, o item cachorro foi eliminado. Claramente, no conjunto de fobias animais este é o que produz menor variabilidade de resposta, deixando de causar medo na maioria das crianças. Isso parece consistente, pois trata-se de um dos animais mais presentes nos lares, compartilhando o dia a dia com as crianças (Mannucci, Setembro, 2005). Em se tratando da fobia imaginária, o item pessoas fantasiadas foi eliminado por apresentar variância escassa e afetar negativamente o Alfa de Cronbach. Certamente o fato de fantasiar-se é comum em diversos momentos do ano (por exemplo, carnaval, São João, hallowen), o que pode fazer o estímulo correspondente menos ameaçador para as crianças que passam a se familiarizarem com tais personagens. Por fim, no caso da fobia social, foram eliminados dois itens: multidão e falar em voz alta. Talvez, por residirem em cidades de porte pequeno (Cabedelo) e médio (João Pessoa), a multidão não se apresenta como um estímulo ameaçador para estes infantes. Por outro lado, o falar em voz alta, embora possa produzir medo em infantes de dois e três anos de idade (Brazelton, 1994; Caffo, 2003), quiçá não seja ameaçador para aqueles na faixa etária das que 128 fizeram parte deste estudo. Contrariamente, o mais típico em crianças por volta dos 10 anos é o alvoroço, a gritaria (Hanna & Todorov, 2002). Neste contexto cabe destacar que dois itens que poderiam afetar negativamente o Alfa de Cronbach foram passíveis de serem retidos: medo de sangue e medo de ser esquecido pelos pais. Comumente, o primeiro é citado na literatura (Campbell & Rapee, 1994; OMS, 1993), enquanto o segundo parece acompanhar os infantes, embora, em idades mais avançadas, com reações investidas de raiva, queixas (Caffo, 2003; Méndez, 2005). Portanto, decidiu-se manter ambos os estímulos. No que diz respeito às seis subescalas de fobia, estas se mostraram claramente identificáveis. Por meio de análise de componentes principais foi possível comprovar que emergiu um único componente para descrever cada fobia, explicando mais de ¼ da variância total de respostas dos infantes (variância explicada se situou no intervalo de 26,2% a 52,5%; média de 43,3%). Pôde-se também constatar que as saturações dos itens no fator respectivo foram predominantemente acima de 0,50 (85,7%), valor que é plenamente satisfatório de acordo com os critérios que têm sido definidos na literatura (Gorsuch, 1983; Pasquali, 2003); a menor saturação foi do item ser esquecido pelos pais em algum lugar (0,26), que pode ser considerado estatisticamente diferente de zero [t (399) = 5,64, p < 0,001]. Além disso, considerando o número de itens que compôs cada subescala, variando de 3 a 7, os índices de consistência interna observados podem ser considerados satisfatórios. Por exemplo, considerese a subescala de fobias situacionais, que apresentou o menor Alfa (0,42), reunindo quatro itens; este coeficiente poderia chegar a 0,64 se fosse formado por dez itens (Nunnally, 1991, p. 267), número que na prática tem sido indicado para definir uma escala ou um fator (Pasquali, 2003). Os valores de homogeneidade reforçam esta qualidade métrica das subescalas do IFI, 129 pois estes apresentaram um valor médio de 0,29, variando de 0,24 (fobia situacional) a 0,37 (fobia de animais), que atendem ao que tem sido recomendado (Clark & Watson, 1995). Em resumo, o conjunto de itens / estímulos fóbicos se mostrou bastante apropriado, suscitando variabilidade considerável de respostas por parte dos infantes. Além disso, consideradas separadamente, as fobias se agruparam adequadamente nas subescales ou tipos correspondentes. Os resultados reforçam evidências de validade fatorial e consistência interna de todas as subescalas, que poderão ser empregadas em pesquisas ou como instrumentos de triagem de fobias em crianças a partir dos 7 ou 8 anos de idade. Contudo, cabe ressaltar, não foi testado o modelo teórico com todos os seis tipos de fobias, aspecto que demanda um novo estudo, tratado a continuação. Capítulo 5. Estudo 3. Inventário de Fobias Infantis: Parâmetros Psicométricos 5.1. Introdução Este terceiro estudo representa o núcleo principal da presente tese. Uma vez elaborado o Inventário de Fobias Infantis, resta conhecer seus parâmetros psicométricos. Entretanto, este é apenas um dos objetivos que orientaram o estudo ora descrito. Interessa, igualmente, conhecer se a estrutura fatorial identificada é invariante quando analisados os participantes dos sexos masculino e feminino, bem como testar o modelo hierárquico de fobias. Este, como anteriormente descrito, foi tratado no Marco Teórico; considera como base das fobias o traço de personalidade denominado como neuroticismo. Portanto, sem contar com uma medida a respeito na cultura paraibana, especialmente para avaliar crianças, procura-se também nesta oportunidade conhecer evidências de validade fatorial e consistência interna de duas medidas 130 de personalidade. Finalmente, objetiva-se ainda conhecer em que medida as pontuações nos fatores de fobia se relacionam com os estilos parentais maternos percebidos. 5.2. Método 5.2.1. Amostra Os participantes deste estudo foram 399 infantes com idades entre 8 e 15 anos (M = 11,0; DP = 1,47; 70,9% se situaram entre os 10 e 12 anos), sendo a maioria do sexo feminino (53,1%). Estes estavam matriculados em diferentes séries do ensino fundamental, como seguem: 3ª (12,3%), 4ª (27,1), 5ª (35,6%) e 6ª (25,1%), distribuídos de forma quase eqüitativa entre escolas das redes privada (n = 207; 51,9%) e pública (n = 192; 48,1%) de ensino. Esta compreendeu uma amostra de conveniência, isto é, não-probabilística, tendo participado os infantes que, presentes nas salas de aula visitadas pela pesquisadora, concordaram em fazer parte no estudo. 5.2.2. Instrumentos Os participantes receberam um livreto composto pelas seguintes partes (Anexo V): Introdução. Inicialmente, procurou-se resumir os propósitos do estudo, identificados como pretendendo conhecer como os infantes pensam e se comportam no seu dia-a-dia, e dar algumas instruções básicas de como responder. Finalmente, os pesquisadores se identificavam, indicando um endereço de referência onde se poderiam obter informações sobre a pesquisa. A continuação, foram apresentadas as medidas: Estilo Parental Materno. Este instrumento foi originalmente proposto como Questionário de Percepção dos Pais (Pasquali & Araújo, 1986). Entretanto, a versão ora empregada compreende uma adaptação realizada por Schneider (2001). Compreende um 131 conjunto de 20 itens igualmente distribuídos em duas dimensões específicas: responsividade / afeto (por exemplo, Fica feliz em me ver quando volto da escola ou de um passeio; Consolame quando estou com medo) e autoridade (por exemplo, Castiga-me severamente; Acha que deve me castigar para me corrigir e melhorar). Para responder aos itens, o infante deve pensar em que medida cada um descreve ou é aplicável à sua mãe. Neste sentido, emprega-se uma escala de sete pontos, variando de 1 = Nada aplicável a 7 = Totalmente aplicável. Existem evidências da adequação psicométrica desta medida, que apresentou uma estrutura fatorial compatível com o esperado, com seus fatores obtendo consistência interna (Alfa de Cronbach) superior a 0,70 (Fonseca, 2008; Schneider, 2001). Inventário de Fobias Infantis. A versão que ora se apresenta é composta por 30 itens / estímulos fóbios, sendo cinco para cada uma das seis categorias (fatores) presumíveis de fobia: fobia social (por exemplo, Evito estar com pessoas que não conheço; Tenho medo de utilizar banheiro público), fobia situacional (por exemplo, No período das provas escolares minhas mãos ficam geladas; Tenho medo de altura, de estar em lugar alto), fobia natural (por exemplo, O barulho do trovão me assusta; Evito ficar em ambientes com pouca iluminação), fobia imaginária (por exemplo, As histórias de terror me assustam; Tenho medo de bruxas malvadas), fobia de doença (por exemplo, Tenho medo de injeção; Tenho medo de hospital) e fobia animal (por exemplo, Tenho medo de rato; Tenho medo de morcego). Os participantes precisam escolher uma entre três alternativas de resposta (0 = Nunca, 1 = Às vezes e 2 = Sempre), indicando como melhor pode ser descrita sua reação ao se deparar com determinado estímulo. Este foi resultado do Estudo 2, tendo sido elaborados novos itens para representar cada uma das dimensões de fobia. Resta conhecer seus parâmetros psicométricos. Escala de Traços de Personalidade para Criança. Este instrumento é composto de 30 itens, os quais avaliam, presumivelmente, quatro fatores: psicoticismo (11 itens; por exemplo, 132 Você gosta de fazer piada que incomoda outra pessoa? Você gostaria que outros meninos tivessem medo de você?), extrovesão (10 itens; por exemplo, Você é muito alegre e divertido? Você gostaria de visitar um casarão abandonado?), neuroticismo (7 itens; por exemplo, Algumas vezes você se sente triste sem saber porque? Você pensa que a vida é muito triste?) e sociabilidade (6 itens; por exemplo, Você já fingiu que não ouvia alguém que estava chamando você? Você diz palavrão ou xinga?). Todos os itens são respondidos em uma escala dicotômica, com as opções 0 = Sim e 1 = Não. Seu autor realizou ao menos dois estudos no estado de São Paulo em que comprovou a estrutura fatorial presumida, verificando também índices de consistência interna superiores a 0,70 (Sisto, 2005). Ambiel (2005) comenta, entretanto, que o neuroticismo é o que menos psicometricamente adequado dos fatores desta medida, provavelmente em razão da natureza do construto que avalia (instabilidade emocional). Inventário dos Cinco Grandes. Originalmente, este instrumento se compõe de 44 itens que avaliam cinco grandes fatores de personalidade (Benet-Martínez & John, 1998). Não obstante, a versão utilizada ficou formada por 20 itens, quatro para cada uma das seguintes dimensões: neuroticismo (por exemplo, É temperamental, muda de humor facilmente; Fica tenso com freqüência), abertura à mudança (por exemplo, É original, tem sempre novas idéias; tem uma imaginação fértil), extroversão (por exemplo, É conversador, comunicativo; É sociável, extrovertido), sociabilidade (por exemplo, Gosta de cooperar com os outros; É prestativo e ajuda os outros) e conscienciosidade (por exemplo, É minucioso, detalhista no trabalho, no que faz; Faz as coisas com eficiência). Para cada item o participante precisa indicar o quanto ele expressa sua opinião sobre si mesmo, empregando uma escala de cinco pontos, variando 1 = Discordo totalmente a 5 = Concordo totalmente. Existem evidências sobre a adequação da medida original na amostra de brasileiros adultos (Schmitt, Allik, 133 McCrae & Benet-Martínez, 2007), porém será preciso conhecer em que medida pode ser adequada esta versão abreviada quando respondida pelos infantes. Informações demográficas. No final do livreto os participantes foram solicitados a responder cinco perguntas de natureza demográfica, como seguem: idade, sexo, série, tipo de escola (pública ou privada) e nome da escola. 5.2.3. Procedimento É importante ressaltar que os instrumentos foram distribuídos aos infantes em contexto coletivo de sala de aula, porém as respostas foram dadas individualmente. Uma vez que a pesquisadora obteve a permissão dos diretores das escolas para realizar o estudo, apresentouse em sala de aula solicitando a participação voluntária dos estudantes presentes. Uma vez tendo concordado em participar, estes receberam os questionários organizados em formato de um livro, o qual continha todas as informações necessárias para o seu preenchimento. Enfatizou-se que não havia respostas certas ou erradas, pois as situações descritas no decorrer dos questionários dependeriam da experiência pessoal de cada um. Destacou-se ainda o caráter anônimo e confidencial da participação de todos, indicando que suas respostas apenas seriam tratadas no conjunto, de forma estatística. Finalmente, uma vez respondidos e devolvidos os questionários, digiriram-se os agradecimentos à turma. Um tempo médio de 25 a 40 minutos foi suficiente para concluir a participação dos infantes. 5.2.4. Análise dos Dados A tabulação e análise dos dados foram realizadas inicialmente com o programa SPSS (versão 15). Calcularam-se estatísticas descritivas (distribuição de freqüência, medidas de 134 tendência central e dispersão), bem como foram realizadas análises fatoriais exploratórias e calculados os índices de consistência interna (Alfa de Cronbach) das medidas empregadas. O pacote estatístico AMOS (versão 7) foi empregado para comprovar as estruturas fatoriais teorizadas, testar diferentes modelos alternativos e checar a adequação do modelo explicativo das fobias. No caso, empregou-se o estimador ML (Máxima Verossimilhança), considerando como entrada a matriz de variância-covariância entre os itens das medidas tratadas. Este tipo de análise apresenta os seguintes indicadores de ajuste (Byrne, 2001; Garson, 2003; Hu & Bentler, 1999; MacCallum, Browne & Sugawara, 1996): • A razão χ²/g.l. (graus de liberdade). Esta é considerada uma qualidade subjetiva de ajuste. Um valor entre 2 e 3 é recomendável, sendo aceitos valores de até 5 como indicando a adequação do modelo teórico para descrever os dados. • O Goodness-of-Fit Index (GFI) e o Adjusted Goodness-of-Fit Index (AGFI), este ponderado em função dos graus de liberdade do modelo com respeito ao número de variáveis consideradas. São recomendados valores de GFI e AGFI na casa de 0,90 ou mais. • O Comparative Fit Index (CFI), que é um índice comparativo, adicional, de ajuste ao modelo, com valores mais próximos de 1 indicando melhor ajuste. Costumam-se admitir valores próximos a 0,90 como expressando um ajuste adequado. • O RMSEA (Root Mean Square Error of Approximation), com seu intervalo de confiança de 90% (IC90%), é um indicador de “maldade” de ajuste, isto é, valores altos indicam um modelo não ajustado; assume-se como ideal que o RMSEA se situe entre 0,05 e 0,08, aceitando-se valores de até 0,10. • Para comparar os modelos alternativos, os seguintes indicadores de ajuste foram tidos em conta: a diferença de χ2 e os respectivos graus de liberdade, o expected cross-validation index 135 (ECVI) e o consistent Akaike information criterion (CAIC). Uma diferença significativa do teste χ2, penalizando o modelo com maior valor, e valores de ECVI e CAIC mais baixos indicam melhor ajuste do modelo analisado. 5.2.5. Aspectos Éticos O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa (Paraíba), o qual recebeu autorização para sua execução, conforme Anexo III. Portanto, cumpriu-se com as recomendações relacionadas à pesquisa com seres humanos, conforme os princípios éticos da Declaração de Helsinque, contidos na Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196/95 e aprovada pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Parecer nº 581/2000). 5.3. Resultados Considerando os objetivos anteriormente descritos, optou-se por estruturar os resultados em quatro tópicos principais. Inicialmente, consideram-se as duas medidas dos cinco grandes fatores de personalidade, avaliando sua estrutura fatorial e consistência interna dos fatores específicos. Passo seguinte, fez-se uma análise fatorial com o conjunto de itens da medida de fobias, checando a invariância fatorial da estrutura resultante em relação ao sexo dos participantes. No próximo passo o propósito foi saber como os fatores de fobia se correlacionariam com os traços de personalidade e os estilos parentais maternos. Finalmente, testou-se a estrutura hierárquica de fobias, que, teoricamente, tem como elemento de origem o traço neuroticismo. Portanto, a seguir estes tópicos são tratados separadamente. 136 5.3.1. Evidências Psicométricas das Medidas de Personalidade Embora não sejam recentes os estudos sobre os grandes fatores de personalidade [por exemplo, neuroticismo (instabilidade emocional), agradabilidade (sociabilidade), extroversão, abertura à mudança, psicoticismo e conscienciosidade], pouco ainda é conhecido no Brasil sobre a adequação de medidas destinadas a crianças e adolescentes. Uma exceção compreende o instrumento proposto por Sisto (2003), denominado Escala de Traços de Personalidade para Crianças, que avalia quatro fatores: psicoticismo, extroversão, neuroticismo e sociabilidade; porém, nos estudos para sua elaboração e validação foram consideradas unicamente amostras de um estado (São Paulo, cidades de Campinas, Valhinhos e Americana). Neste sentido, procurou-se contar também com uma medida alternativa, no caso, uma versão reduzida do Inventário dos Cinco Grandes Fatores (Benet-Martínez & John, 1998), somente empregado neste país com estudantes universitários de Brasília (Schmitt & cols., 2007). Deste modo, decidiu-se checar a adequação destas duas medidas para crianças e adolescentes do contexto paraibano, sendo os resultados apresentados a seguir. 5.3.1.1. Escala de Traços de Personalidade para Crianças (ETPC) Como anteriormente indicado, existem evidências de validade fatorial e consistência interna desta medida no contexto brasileiro, mas nenhuma informação específica foi encontrada com participantes da Paraíba. Além disso, sugere-se seu emprego com crianças de 5 a 10 anos, e o interesse nesta tese é incluir aquelas entre 8 e 15 anos. Portanto, demandou conhecer como tal medida funciona neste contexto. Especificamente, procurou-se checar sua estrutura fatorial teorizada e calcular a consistência interna dos fatores correspondentes. 137 Dediciu-se realizar uma análise fatorial confirmatória, assumindo a estrutura teórica com quatro fatores de primeira ordem (Modelo 1). Não obstante, testou-se ainda um modelo alternativo, unifatorial, em que todos os 30 itens deste instrumento foram definidos como saturando em um único fator (Modelo 2). Os resultados destas análises são mostrados na Tabela 16. Tabela 16. Comparação dos modelos fatoriais da ETPC χ² g.l. χ²/g.l GFI AGFI CFI RMSEA (IC90%) ECVI CAIC Modelo 1 795,74 395 2,02 0,88 0,85 0,66 0,050 (0,045-0,056) 2,35 1.284,97 Modelo 2 969,06 405 2,39 0,84 0,82 0,52 0,059 (0,054-0,064) 2,74 1.388,40 De acordo com esta tabela, são mais adequados os diversos indicadores de ajuste para o Modelo 1, isto é, aquele proposto para esta medida, composto por quatro fatores de primeira ordem (psicoticismo, extroversão, neuroticismo e sociabilidade). Embora não sejam extraordinários, em alguns casos se situando abaixo do ponto de corte geralmente estipulado (observem-se o AGFI e o CFI, por exemplo), no geral, parece defensável. A propósito, a razão qui-quadrado por graus de liberdade e o RMSEA estão dentro dos valores que se esperariam. No caso do Pclose, unicamente aquele do primeiro modelo não foi significativo (p = 0,430); o segundo apresentou um valor que sugere que o RMSEA difere estatisticamente de 0,05 (p = 0,001). A maioria das saturações foi estatisticamente diferente de zero (z > 1,96, p < 0,05), porém as seguintes não atenderam este critério: itens 8 e 11 do fator neuroticismo, itens 3, 18, 20, 26 e 14 de extroversão e item 3 de psicoticismo. Quando comparados os dois modelos diretamente, percebe-se que o primeiro reúne menores valores de ECVI e CAIC do que o Modelo 2, sugerindo a maior adequação daquele. 138 Corroborando este resultado, a comparação dos qui-quadrados e respectivos graus de liberdade de ambos os modelos releva um valor significativamente inferior para o Modelo 1, apoiando sua adequação [∆χ²(10) = 173,32, p < 0,001]. Portanto, pode-se assumir como adequada a concepção da ETPC como uma medida multifatorial dos traços de personalidade, representando os quatro fatores teorizados. Resta, entretanto, conhecer a consistência interna de cada um, como se providencia a seguir na Tabela 17. Tabela 17. Indicadores de consistência interna dos fatores da ETPC ÍNDICES DE CONSISTÊNCIA INTERNA α de Cronbach FATOR Psicoticismo Neuroticismo Extroversão Sociabilidade 0,69 0,47 0,35 0,61 Spearman-Brown 0,67 0,45 0,27 0,63 Guttman 0,66 0,45 0,27 0,63 Homogeneidade 0,37 (0,15-0,50) 0,22 (0,09-0,33) 0,13 (0,03-0,25) 0,34 (0,30-0,44) Apesar de, no geral, este instrumento reunir evidências de validade fatorial, quando considerandos seus fatores específicos, observa-se que todos apresentaram, na amostra considerada, consistência interna abaixo de 0,70. Dois fatores podem ser destacados como mais adequados, com valores de consistência acima de 0,60 e homogeneidade que supera 0,30: psicoticismo e sociabilidade. Embora isso não apóie seu uso com fins diagnóstico, é claramente justificável empregá-los no contexto de pesquisas. Por outro lado, dois fatores (neuroticismo e extroversão) apresentaram índices baixos de consistência interna, requerendo alguma precaução no seu uso. Há que se frisar que a homogeneidade destes fatores foi baixa, com valor médio inferior a 0,20 para extroversão, além de a menor correlação item-total ser bastante baixa (r = 0,03, p > 0,05); para neuroticismo, embora o valor supere este ponto de 139 corte, constatou-se que a menor correlação item-total não foi estatisticamente diferente de zero [r = 0,09; t (397) = 1,80, p = 0,07]. Em resumo, a ETPC compreende um instrumento que permite claramente cobrir diferentes dimensões da personalidade infantil (e juvenil, no presente estudo). Não obstante, seu uso demanda ter em conta a pouca consistência interna dos fatores de extroversão e neuroticismo. Deste modo, como este último construto é de interesse na presente tese, considerando a carência da precisão deste fator, decidiu-se checar a possibilidade de contar com uma medida alternativa, cuja decisão de incluí-la se deu justamente por não existir informações de como funcionaria a ETPC . No caso, apresentam-se a seguir os resultados que contemplam um instrumento diferente dos traços da personalidade, enfocando os cinco grandes fatores, entre eles o neuroticismo, isto é, a instabilidade emocional. 5.3.1.2. Inventário dos Cinco Grandes Nesta oportunidade, procura-se conhecer evidências de validade fatorial e consistência interna da medida abreviada dos cinco grandes fatores da personalidade (ICG). No caso específico, uma vez que se conhecia a teoria subjacente, decidiu-se realizar análises fatoriais confirmatórias (ML), confrontando dois modelos: Modelo 1. Este é o modelo original, compreendendo os cinco fatores postulados, e Modelo 2. Refere-se a um modelo alternativo, admitindo que todos os itens da medida saturam em um único fator. Os resultados destas análises são mostrados na Tabela 18 a seguir. Tabela 18. Comparação dos modelos fatoriais do ICG χ² g.l. χ²/g.l GFI AGFI CFI RMSEA (IC90%) ECVI CAIC Modelo 1 325,21 160 2,03 0,93 0,90 0,86 0,051 (0,043-0,059) 1,07 674,66 140 Modelo 2 411,36 170 2,42 0,90 0,88 0,80 0,060 (0,052-0,067) 1,24 690,92 De acordo com esta tabela, sugere-se que o Modelo 1 seja mais adequado. Excetuando o CFI, cujo valor foi algo abaixo do ponto de corte recomendado, isto é, 0,90, todos os demais indicadores de ajuste do modelo são favoráveis. É importante frisar que todos os itens apresentaram saturações no seu fator correspondente que foram estatisticamente diferentes de zero (z > 1,96, p < 0,05). Os residuais proporcionados por este modelo não parecem ter se diferenciado significativamente de 0,05 (RMSEA), conforme demonstra o teste Pclose = 0,41. Resta, entretanto, conhecer em que medida este modelo é mais adequado que o Modelo 2. Neste sentido, os indicadores ECVI e CAIC parecem apoiar tal conclusão, embora tenha sido averiguada esta possibilidade também por meio de teste mais criterioso, como o ∆χ². Especificamente, quando comparados os qui-quadrados e os respectivos graus de liberdades dos dois modelos, observou-se o seguinte resultado: ∆ χ² (10) = 86,15, p < 0,001. Portanto, o Modelo 1, que apresentou menor χ², é claramente superior ao modelo alternativo, reunindo evidências de que a medida em questão apresenta validade fatorial. Procurou-se igualmente conhecer em que medida cada um dos cinco fatores do ICG apresentava evidências de precisão, isto é, consistência interna e homogeneidade. No caso, como ocorreu com a medida anteriror, procedeu-se a diversos testes. Os resultados destas análises são mostrados na Tabela 19. 141 Tabela 19. Indicadores de consistência interna dos fatores do ICG ÍNDICES DE CONSISTÊNCIA INTERNA α de Cronbach Spearman-Brown Guttman FATOR Neuroticismo Abertura à Mudança Sociabilidade Extroversão Conscienciosidade 0,45 0,61 0,66 0,51 0,60 0,44 0,61 0,66 0,50 0,59 0,43 0,61 0,66 0,50 0,58 Homogeneidade 0,26 (0,13-0,32) 0,39 (0,33-0,45) 0,44 (0,39-0,48) 0,30 (0,23-0,35) 0,38 (0,33-0,42) Conforme se observa nesta tabela, três dos cinco fatores do Inventário dos Cinco Grandes (abertura à mudança, sociabilidade e conscienciosidade) apresentaram índices de precisão (consistência interna) que permitem justificar seu uso com fins de pesquisa, isto é, igual ou superiores a 0,60. Entretanto, dois deles foram algo abaixo deste valor (neuroticismo e extroversão). É preciso ponderar que cada fator esteve formado por apenas quatro itens, o que pode afetar negativamente este parâmetro psicométrico. A propósito, é necessário ter em conta que, no geral, todos os fatores mostraram homogeneidade, indicador este que não é afetado pelo número de itens do instrumento; a correlação mínima item-total foi de 0,13, que é estatísticamente diferente de zero [t (397) = 2,61, p < 0,01], sendo o menor valor médio por fator (neuroticismo) 0,26 [t (397) = 5,36, p < 0,001]. Deste modo, assegura-se, razoavelmente, este parâmetro dos fatores desta medida. Em resumo, o ICG compreende um instrumento curto, formado por 20 itens, que avalia as cinco dimensões principais de personalidade: abertura à mudança, agradabilidade (sociabilidade), conscienciosidade, extroversão e neuroticismo (instabilidade emocional). Embora inicialmente elaborado para uso em população de adolescentes e adultos, seguramente em razão de contar com itens ou frases curtas, pareceu razoável também empregá-lo para 142 conhecer a personaldidade de crianças. O modelo de cinco fatores reuniu evidências de ser mais adequado do que aquele unifatorial, e cada um dos fatores, no geral, apresentou indicadores de consistência interna e homogeneidade que podem ser considerados razoáveis para fins de pesquisa, sobretudo se for tido em conta o número reduzido de itens por fator. 5.3.1.3. Validade Convergente dos Fatores de Personalidade Inicialmente, procurou-se representar espacialmente as pontuações dos fatores de personalidade da ETPC e do ICG, objetivando checar se as correlações entre estes não poderiam ser devidas às escalas de resposta e conteúdos específicos de ambos os instrumentos. No caso, decidiu-se realizar um escalonamento multidimensional (algorítimo ALSCAL), fixando uma configuração bi-dimensional. Previamente, padronizaram-se as medidas (pontuações z) dentro de cada instrumento. A solução encontrada foi satisfatória (S-stress = 0,09 e RSQ = 0,95), sendo os resultados apresentados na Figura 6 a seguir. 143 Dimensão 2 - Estrutura dos Traços de Personalidade 2 ETPC_Extroversão ICG_Neuroticismo 1 ETPC_Neuroticismo ICG_Extroversão 0 ICG_Conscienciosidade ETPC_Sociabilidade ICG_Agradabilidade ICG_Abertura -1 ETPC_Psicoticismo -2 -2 -1 0 1 2 Dimensão 1 - Medida de Personalidade Figura 6. Configuração Espacial das Medidas de Personalidade Como é possível observar na Figura 6, claramente existe o efeito do instrumento de medida empregado (Dimensão 1). Os fatores do ICG se reúnem no lado direito, enquanto aqueles da ETPC aparecem do lado esquerdo. Além disso, os fatores de extroversão e neuroticismo aparecem mais claramente nos quadrantes superiores, revelando, talvez, algo de específico em seu conteúdo ou mesmo alguma dependência de fases de desenvolvimento em que se encontram os participantes do estudo. Esta será uma questão que precisará ser melhor discutida e avaliada em estudos futuros. Mas, desde logo, espera-se que os fatores do ICG 144 estejam mais correlacionados entre si, o mesmo ocorrendo para aqueles da ETPC. Os resultados das correlações são mostrados na Tabela 20 a seguir. Tabela 20. Correlações entre os Fatores de Personalidade do ICG e da ETPC 1 = ICG – Neuroticismo 2 = ETPC – Neuroticismo 0,19*** 3 = ICG – Extroversão 0,25*** 4 = ETPC – Extroversão -0,02 0,04 0,16** 5 = ICG – Agradabilidade 0,19*** -0,01 0,38*** 6 = ETPC – Sociabilidade 0,12** 0,13* 7 = ICG – Conscienciosidade 0,21*** 0,03 8 = ETPC – Psicoticismo 0,13* 0,04 9 = ICG – Abertura á mudança 0,23*** 1 0,10* 2 0,02 -0,06 0,36*** -0,06 0,45*** 3 0,07 -0,05 0,10* 0,06 0,48*** 0,27*** -0,15** 0,19*** 0,43*** 0,11* 0,16** 4 0,43*** 5 0,11* 6 -0,45*** 7 -0,03 8 Notas. * p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001 (teste unicaudal; eliminação por pares de casos omissos). Procurando facilitar a compreensão do leitor, colocou-se em negrito todo coeficiente de correlação que seria esperado. Portanto, confirma-se, sobretudo, a correlação entre os fatores de neuroticismo das duas medidas utilizadas (r = 0,19, p < 0,001), indicando haver validade convergente destes fatores. Não obstante, os demais fatores também apresentaram coeficientes de correlação positivos entre eles, sendo estatisticamente significativos (p < 0,05). Em resumo, demonstrou-se que o fator de neuroticismo, mesmo sem apresentar consistência interna muito elevada, pode ser considerado aceitável. Respaldando sua adequação, comprovou-se que suas pontuações estiveram mais fortemente correlacionadas nos instrumentos tidos em conta. Portanto, justifica-se, nesta tese, assumir o fator neuroticismo como psicometricamente adequado, permitindo que seja tomado em conta como base para as fobias, de acordo com o Marco Teórico previamente descrito. Antes de comprovar isso, porém, demanda-se conhecer a estrutura do IFI. 145 5.3.2. Estrutura e Invariância Fatorial do Inventário de Fobias Infantis Inicialmente, procurou-se testar o modelo que foi construído nos Estudos 1 e 2, isto é, considerando a possibilidade de extrair seis fatores de primeira ordem de fobia infanto-juvenil, denominados como seguem: social, situacional, natural, imaginário, doença e animal. Neste sentido, dediciu-se realizar uma análise fatorial confirmatória (estimador ML) para comprovar esta estrutura fatorial, confrontando-a com uma alternativa, em que todos os itens saturariam em um único fator. Os resultados dos indicadores de ajuste destas análises são resumidos na Tabela 21 a seguir. Tabela 21. Comparação dos modelos fatoriais do IFI χ² g.l. χ²/g.l GFI AGFI CFI RMSEA (IC90%) ECVI CAIC Modelo 1 662,91 390 1,70 0,90 0,88 0,89 0,042 (0,036-0,047) 2,04 1.187,08 Modelo 2 939,99 405 2,32 0,85 0,83 0,78 0,058 (0,053-0,062) 2,66 1.359,33 Como é possível perceber, o modelo com seis fatores de primeira ordem (Modelo 1) se mostrou mais adequado, apresentando GFI, AGFI e CFI maiores do que os observados para o modelo unifatorial (Modelo 2). Corroborando estes dados, um padrão contrário se observa para os demais indicadores: a razão χ²/g.l, o RMSEA, o ECVI e o CAIC. Visando dirimir dúvidas, compararam-se os qui-quadrados e seus respectivos graus de liberdade entre cada um destes modelos, resultando em um valor que apóia a adequação daquele que apresentou o menor qui-quadrado, ou seja, o Modelo 1 [∆χ² (15) = 277,08, p < 0,001]. Há que se ressaltar que as saturações de todos os itens nos seus fatores respectivos foram estatisticamente 146 diferentes de zero (z > 1,96, p < 0,05); a menor saturação ficou por conta do item 1 no fator social (λ = 0,13, p = 0,02). O passo seguinte foi conhecer a consistência interna (Alfa de Cronbach; α) e homogeneidade (correlação média item-toral corrigida; ritem-total) de cada um dos seis fatores da medida de fobia. No caso, tomaram-se como referência os cinco itens que descreviam cada um destes fatores; os coeficientes foram como seguem: social (α = 0,49; ritem-total = 0,27, variando de 0,15 a 0,35; o item 1 teve menor coeficiente), situacional (α = 0,49; ritem-total = 0,27, variando de 0,19 a 0,33; o item 12 teve menor coeficiente), natural (α = 0,55; ritem-total = 0,31, variando de 0,17 a 0,39; o item 16 teve menor coeficiente), imaginário (α = 0,71; ritemtotal = 0,47, variando de 0,39 a 0,57; o item 9 teve menor coeficiente), doença (α = 0,59; ritem- total = 0,35, variando de 0,33 a 0,39; o item 21 teve menor coeficiente) e animal (α = 0,80; ritem- total = 0,59, variando de 0,52 a 0,67; o item 17 teve menor coeficiente). O conjunto dos 30 itens apresentou Alfa de Cronbach de 0,88. Finalmente, decidiu-se comprovar a invariância fatorial do Inventário de Fobias Infantis, considerando a variável sexo do respondente. Os resultados desta análise são apresentados na Tabela 22 a seguir. Realizaram-se análises por separado com os grupos de meninos e meninas e, logo, testando os seguintes níveis de invariância fatorial: configural (a mesma estrutura fatorial nos grupos; modelo sem imposição de restrição), métrica (restrição ou invariância das saturações), invariância das covariâncias entre os fatores (restrição das covariâncias ou associações entre os fatores) e escalar (restrição ou invariância dos residuais, erros de medida). 147 Tabela 22. Evidências de invariância fatorial do IFI χ² Masculino Feminino Sem restrição Saturação Covariância Residual g.l. χ²/g.l GFI AGFI CFI RMSEA (IC90%) ∆CFI ∆RMSEA 646,07 390 1,66 0,82 0,78 0,78 0,059 (0,051-0,067) 549,26 390 1,41 0,86 0,84 0,80 0,044 (0,035-0,052) 1.195,38 1.218,11 1.283,61 1.738,91 780 804 825 855 1,53 1,51 1,56 2,03 0,84 0,84 0,83 0,79 0,81 0,81 0,81 0,78 0,79 0,79 0,76 0,54 0,037 (0,032-0,041) 0,036 (0,032-0,040) 0,00 0,037 (0,033-0,041) 0,03 0,051 (0,048-0,054) 0,22 0,001 0,001 -0,014 Segundo se constata nesta tabela, a invariância configural parece assegurada. Embora os indicadores de ajuste de ambos os modelos (para homens e mulheres) não sejam excelentes, no geral, estão dentro do que poderia ser considerado aceitável. Destacam-se, particularmente, os valores da razão χ² / gl e do RMSEA, que estão dentro do que tem sido preconizado na literatura. Neste sentido, procedeu-se aos testes de invariância fatorial do Inventário de Fobias Infantis. Tomando com linha de base o modelo sem restrição, testaram-se os diversos modelos, aumentando-se o nível de restrição. Testou-se primeiramente a invariância métrica, cujo quiquadrado e seu respectivo grau de liberdade não diferiu significativamente do modelo linha de base [∆χ²(24) = 22,73, p > 0,05]. Na seqüência, restringiram-se as covariâncias entre os fatores. Neste caso, evidenciou-se uma diferença entre o qui-quadrado deste modelo e do anterior (saturação) [∆χ²(21) = 65,50, p < 0,001], sugerindo, provavelmente, que as covariâncias não são invariantes em razão do sexo dos participantes. Finalmente, restringiramse os erros de medida (residuais), tendo sido observado que este parâmetro de invariância não se confirmou [∆χ²(30) = 455,60, p < 0,001]. Os valores de ∆CFI e ∆RMSEA ajudam a dirimir as dúvidas; valores de diferença superiores a 0,01 indicam a não invariância do modelo. 148 Portanto, as invariâncias métrica e convariância entre os fatores parecem receber apóio razoável; porém, a invariância escalar não é satisfeita. Apesar de ter sido demonstrado o cumprimento dos critérios de invariância fatorial em razão do sexo dos participantes, isso não significa que homens e mulheres têm pontuações idênticas nos fatores do IFI. Procurando checar em que medida os jovens diferem nos fatores de fobias em razão do seu sexo, decidiu-se realizar uma MANOVA, considerando como variáveis dependentes as pontuações nos seis tipos específicos de fobia e no fator geral, e como variável independente (antecedente) o sexo dos infantes. Os resultados indicaram um efeito principal desta variável [Lambda de Wilks = 0,59; F (6, 392) = 46,41, p < 0,001]. Realizaram-se ainda testes univariados, cujos resultados são detalhados na Tabela 23 a seguir. Tabela 23. Evidências de invariância fatorial do IFI Sexo dos Participantes Fobias Social Situacional Natural Imaginário Doença Animal Geral Feminino Masculino M 1,1 0,8 0,8 0,6 0,9 1,1 0,9 M 0,8 0,6 0,5 0,3 0,5 0,3 0,5 DP 0,44 0,39 0,41 0,48 0,44 0,53 0,29 DP 0,39 0,39 0,35 0,38 0,45 0,39 0,29 Contraste F 54,68 26,45 54,70 47,53 50,98 268,46 155,95 p< 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 0,001 Como é possível perceber na Tabela 23, consistentemente os participantes do sexo feminino se mostraram mais “medrosos”, reagiram mais negativamente aos estímulos fóbicos do que o fizeram aqueles do sexo masculino. Este achado foi constatado tanto para os fatores específicos como o geral de fobias. Destaca-se que o fator que mais diferenciou os dois grupos correspondeu aos estímulos fóbicos animais (por exemplo, rato, barata, sapo), enquanto que 149 eles diferiram menos em relação aos estímulos do fator situacional (por exemplo, provas escolares, altura, espaço fechado). Em resumo, o Inventário de Fobias Infantis reuniu evidências de que pode ser adequadamente empregado com fins de pesquisa. Sua estrutura fatorial é confirmada, tendo seus fatores apresentado razoável consistência interna e homogeneidade satisfatória. Além disso, demonstrou-se que três formas básicas de invariância fatorial foram cumpridas (configural, métrica e covariância entre fatores), e que, como esperado, os participantes do sexo feminino mostraram experimentar maior grau de fobia do que o fizeram os do sexo masculino. Portanto, justifica-se empregar este instrumento, o que motivou conhecer seus correlatos em termos de fatores de personalidade e estilos parentais, como a seguir apresentados. 5.3.3. Fobias e seus Correlatos de Personalidade e Estilos Parentais Cabe destacar que, embora o foco de interesse nos traços de personalidade seja o fator neuroticismo, decidiu-se considerar todos os demais, correlacionando-os com os fatores de fobia infanto-juvenil. Isso permite ao leitor ter uma visão sobre a adequação do neuroticismo como atributo central da personalidade que pode eliciar ou dar origem as fobias. No caso, consideraram-se todos os fatores das duas medidas de personalidade (ICG e ETPC). Além destes instrumentos, teve-se em conta também os fatores de estilos parentais. Os resultados das correlações podem ser observados na Tabela 24 a seguir. 150 Tabela 24. Correlatos de Traços de Personalidade e Estilos Parentais dos Tipos de Fobias Tipos de Fobia Social Situacional Natural Imaginária Doença Animal Abertura à mudança 0,04 0,10* 0,01 0,03 0,01 0,01 0,04 Extroversão -0,03 0,07 -0,06 -0,06 -0,07 -0,03 -0,01 Conscienciosidade 0,08 0,18*** 0,05 0,03 0,05 0,02 0,02 Neuroticismo 0,16** 0,08 0,14** 0,17** 0,09* 0,16** 0,08* Agradabilidade 0,06 0,16** -0,02 0,01 0,02 0,04 0,05 Psicoticismo -0,05 -0,05 -0,03 -0,02 0,01 0,01 -0,11* Extroversão -0,02 0,06 -0,07 0,05 -0,05 -0,04 -0,05 Neuroticismo 0,33*** 0,32*** 0,23*** 0,27*** 0,20*** 0,27*** 0,19*** Sociabilidade 0,01 0,02 0,01 0,02 -0,09* 0,03 -0,03 Negligente -0,17** -0,17** -0,14* -0,15* -0,09 -0,15* -0,08 Permissivo 0,09 0,04 0,04 0,11 -0,02 0,04 0,18** Autoritário 0,17** 0,17** 0,14* 0,15* 0,09 0,15* 0,08 Autoritativo -0,09 -0,04 -0,04 -0,11 0,02 -0,04 -0,18** ESTILOS PARENTAIS ETPC ICG Geral TRAÇOS DE PERSONALIDADE Traços de Personalidade e Estilos Parentais Notas. * p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001 (teste unicaudal; eliminação por pares de casos omissos). De acordo com esta tabela, parece evidente a correlação do traço neuroticismo com os fatores de fobia. Neste sentido, observa-se que, com independência do instrumento de personalidade, esse fator se correlacionou diretamente com a pontuação geral de fobia (somatório das pontuações nos seis fatores específicos). Unicamente o fator fobia social não se correlacionou significativamente com o neuroticismo para o Inventário dos Cinco Grandes (ICG), embora o nível de significância correspondente (p = 0,06) foi próximo ao valor comumente aceito (p < 0,05). Destaca-se, igualmente, que as correlações dos fatores de fobia com o neuroticismo foram mais fortes para a medida ETPC (rmédio = 0,25, p < 0,001) do que para o ICG (rmédio = 0,12, p < 0,05), embora a diferença entre estes coeficientes não tenha sido estatisticamente significativa [t (396) = 1,74, p = 0,083]. Finalmente, os quatro fatores de estilos parentais maternos percebidos foram correlacionados com as pontuações nos seis tipos de fobias. Como parece evidente, dois tipos 151 de estilos se correlacionaram de forma mais forte e sistemática com as fobias, a saber: negligente e autoriátio. Especificamente, os infantes que percebem suas mães como mais negligentes são menos propensos a apresentarem os diversos tipos de fobia, enquanto que aqueles que percebem suas mães como mais autoritárias têm maior tendência em apresentar fobias. Em resumo, as fobias se mostraram correlacionadas com o traço de personalidade neuroticismo e com os estilos parentais maternos percebidos como negligente e autoritário. Portanto, ter em conta o estilo parental pode ser preponderante no momento de compreender a fobia experimentada pelos infantes. Entretanto, neste momento, considerando um dos objetivos desta tese, passa-se a testar o modelo explicativo das fobias, tendo como base ou origem o traço neuroticismo. Este empreendimento é descrito a seguir. 5.3.4. Modelo Hierárquico de Fobias Infantis A hipótese desta pesquisa (a principal) tem em conta um modelo explicativo das fobias, desenvolvido a partir daqueles descritos na literatura. O referido modelo foi teórica e empiricamente derivado, considerando dois estudos prévios. A estrutura hipotetizada previa seis fatores específicos de fobia, explicados por um fator geral, que, por sua vez, tomava por base as pontuações no fator de personalidade denominado de neuroticismo ou instabilidade emocional. Este modelo foi especificado, sendo testado por meio de modelagem por equações estruturais. Os resultados desta análise parecem promissores. Concretamente, observaram-se os seguintes indicadores de qualidade de ajuste deste modelo: χ² (428) = 710,94, p < 0,001, χ² / g.l. = 1,66, GFI = 0,90, AGFI = 0,88, CFI = 0,88, RMSEA = 0,041 (IC90% = 0,035-0,046) e Pclose = 0,99. A representação gráfica deste modelo é mostrada na Figura 7 a continuação. 152 E1 IFIJ1 E2 IFIJ4 E3 IFIJ7 E4 IFIJ20 E5 IFIJ26 E6 IFIJ2 E7 IFIJ12 E8 IFIJ15 E9 IFIJ27 E10 IFIJ30 E11 IFIJ3 E12 IFIJ8 E13 IFIJ13 E14 IFIJ16 E15 IFIJ23 E16 IFIJ5 E17 IFIJ9 E18 IFIJ10 E19 IFIJ25 E20 IFIJ28 E21 IFIJ14 E22 IFIJ18 E23 IFIJ21 E24 IFIJ22 E25 IFIJ29 E26 IFIJ6 E27 IFIJ11 E28 IFIJ17 E29 IFIJ19 E30 IFIJ24 D1 ,13 ,50 ,46 Social ,46 ,43 D2 ,38 ,28 ,34 ,54 ,46 Situacional ,93 D3 ,54 ,56 ,47 ,92 D7 Natural ,31 ,41 ,99 D4 ,58 ,50 ,83 Fobia Geral -,37 Neuroticismo Imaginária ,65 ,65 ,55 ,84 D5 ,48 ,69 ,53 ,53 Doença ,38 ,43 D6 ,63 ,69 ,59 ,76 ,69 Animal Figura 7. Modelo Hierárquico para Explicar as Fobias Infanto-Juvenis. 153 De acordo com a Figura 7 e tendo em conta os indicadores de ajuste, no geral, o modelo se adequa satisfatoriamente aos dados. Ressalta-se que todas as saturações, isto é, os lambdas (λ) foram estatisticamente diferentes de zero (λ ≠ 0; z > 1,96, p < 0,05); a menor saturação (λ = 0,27, z = 2,21, p < 0,05) correspondeu ao item 1 do IFI (Evito estar com pessoas que eu não conheço). Em resumo, como era teoricamente esperado, é possível pensar nos seis fatores específicos de fobia e em um fator geral, reunindo esses fatores. Esta estrutura de fobias se ancora ou encontra respaldo na dimensão de personalidade que evidencia uma instabilidade emocional (neuroticismo) por parte dos infantes. 5.4. Discussão Parcial Este último estudo da presente tese reuniu ao menos quatro contribuições principais: (1) permitiu conhecer a estrutura fatorial e consistência interna de medidas de personalidade, (2) possibilitou checar evidências complementares acerca dos parâmetros psicométricos da medida de fobias infanto-juvenis, (3) possibilitou testar um modelo hierárquico para a explicação das fobias, tomando como base o traço de personalidade denominado de neuroticismo e (4) conhecer os correlatos das fobias em termos de sexo dos participantes e estilos de socialização maternos percebidos. Resgatam-se, nesta oportunidade, os principais resultados, procurando tratá-los à luz da literatura. 5.4.1. Parâmetros Psicométricos das Medidas 5.4.1.1. Medidas de Personalidade 154 É remota a idéia de que as pessoas, de forma geral, são individualizadas e diferentes uma das outras, atribuindo a cada uma um papel diferente na forma de ser e pensar, ainda que vivendo sob as influências educacionais e culturais semelhantes. O termo personalidade é bastante utilizado em vários segmentos da sociedade, uma vez que muito se conversa, de forma natural, a respeito do modo de ser das pessoas, atribuindo-lhes muitas características, como coerente, incoerente, estável, instável, de caráter forte ou dominador, possuidor de crenças, hábitos, atitudes, ideais, autoconceito, dentre outras, que podem ser denominadas produto de sua aprendizagem, embora não exclusivamente, uma vez que fatores genéticos também têm um papel importante neste contexto. No entanto, é possível perceber certas tendências estáveis na personalidade, mesmo com suas modificações e reorganizações durante o ciclo vital, tendências essas que diferenciam um indivíduo do outro (Sisto, 2005). Fedeli (1997) refere-se à personalidade como uma organização de necessidades e capacidades, que são mais ou menos diferenciadas e integradas. Isso compreende o estilo de vida como um produto comportamental, gerado pela cultura e impressa no indivíduo, juntamente com a subjetividade, unicidade e singularidade de cada ser. No texto Personality: A psychological interpretation, de Allport (1937), estabeleceram-se os pontos de partida para o estudo da individualidade, tomando como base a teoria dos traços de personalidade. Com vistas a englobar a complexidade do comportamento humano, preservou a unidade do indivíduo e considerou a personalidade como um processo contínuo de crescimento e desenvolvimento, inserido no meio social e físico (Sisto, 2005). Eysenck e Eysenck (1987) assinalam que o trabalho de Allport (1937), ao reunir os diferentes conceitos de personalidade, evidencia sua definição em termos de uma organização mais ou menos estável e duradoura do caráter, temperamento, intelecto e físico de uma pessoa, que determina sua adaptação única ao ambiente. No entanto, foi por meio de uma 155 técnica estatística (a análise fatorial), desenvolvida por Spearman em 1904, que foi possível encontrar os fatores que dessem a coerência aos comportamentos observados. Sua proposta teórica defendia uma organização hierárquica dos comportamentos, que iria da resposta específica, passando pela habitual e o traço, que seria uma coerência observada das tendências de ação, até o tipo, formado por uma constelação de traços. Nessa proposta teórica, a personalidade seria observada com base nas condutas de uma pessoa e analisada valendo-se do pressuposto de que existe um núcleo constante e outro variável. Este núcleo, denominado como traço, expressa uma tendência, definida em termos contínuos, passível de alguma modificação (Sisto, 2005). O fato de os traços de personalidade serem considerados uma tendência, com possibilidades de mudanças, sem perderem, porém, suas características principais, não foi defendido unicamente por Eysenck; o próprio Freud (1976) tratou de defender a concepção de que os traços de personalidade se fixariam no início da infância, em torno dos sete anos de idade. Portanto, parece evidente que a personalidade, mesmo variando, apresenta algo de estabilidade, estando formada a partir dos 7 ou 8 anos de idade. Isso, portanto, justifica que tenham sido empregados os instrumentos para avaliar este construto psicológico. Não obstante, também não se podem fechar os olhos para o fato de que, entre os mais jovens, responder instrumentos tipo lápis-e-papel resulta em maior dificuldade, potencialmente produzindo um viés que tende a levar a estruturas fatoriais menos evidentes quando não são padronizados os itens (Soto, John, Gosling & Potter, 2008). Com relação aos dois instrumentos para avaliar os traços principais de personalidade, a ETPC foi construída originalmente para crianças (Sisto, 2005), mas não o ICG (John & Martinez, 1998). Entretanto, recentemente têm sido coletados dados para esta última escala em amostras a partir dos 10 anos de idade, evidenciando que este instrumento também pode 156 funcionar com tais infantes, embora as dificuldades em compreender as palavras indicadas se revelem mais acentuadas do que no grupo de adultos (Soto & cols., 2008). No presente estudo, entretanto, tratou-se de considerar uma versão abreviada do ICG, com menos da metade dos itens daquela original. Os resultados para ambos os instrumentos foram satisfatórios, revelando parâmetros psicométricos que atendem às recomendações da literatura (Pasquali, 2003). Entretanto, estes foram menos promissores que aqueles relatados para outros contextos culturais e grupos amostrais. Por exemplo, os fatores da ETPC não alcançaram os valores de Alfa de Cronbach relatados por Sisto (2003) para o contexto paulista, nem aqueles do ICG reproduzem os índices de consistência encontrados em Brasília (Schmitt & cols., 2007). Ressalta-se, não obstante, que os participantes da pesquisa são crianças e adolescentes, que podem produzir resultados menos estáveis (Ambiel, 2005). Apesar disso, consistentemente se confirmaram as estruturas multi-fatoriais da ETPC e do ICG, com indicadores de ajuste que apoiaram tais conclusões (Byrne, 2001; Garson, 2003), bem como foi constatada a validade convergente entre os fatores correspondentes de ambas as medidas. Além disso, os parâmetros menos favoráveis corresponderam invariavelmente ao fator neuroticismo de cada uma delas, o que poderia ser esperado. Ehrler e Evans (1999) checaram a adequação de serem identificados cada um dos cinco grandes fatores de uma medida de personalidade, encontrando os piores indicadores de ajuste precisamente para este fator. Além disso, como ocorreu no presente estudo, tal fator apresentou o menor Alfa de Cronbach, resultado que foi relatado por outros pesquisadores (Asendorpf & van Aken, 2003). O neuroticismo é uma das variáveis do funcionamento negativo da personalidade que vem sendo mais estudada na literatura psicológica, quer seja no âmbito clínico, social ou educacional (Ambiel, 205; Cerón & Cruz, 2002; Oliveira, 2002). As “perturbações neuróticas” 157 abrangem um leque vasto de sofrimento psíquico, com diversas conotações cognitivo-afetivas e inadaptações diversas, como: ansiedade, timidez, angústia, manifestações fóbicas e obsessivo-compulsivas e irritabilidades (Oliveira, 2002). Costa e McCrae (1987) definem o neuroticismo como uma dimensão ampla de diferenças individuais, cujas pessoas que o experimentam tendem a vivenciar emoções desagradáveis e aflitivas, que se refletem também em traços cognitivos e comportamentais. Talvez uma explicação para a baixa consistência deste fator se deva, portanto, à sua própria natureza, indicada pela instabilidade que pode ser refletida em respostas variáveis para os múltiplos estímulos. Não se descarta, também, a possibilidade de este traço apenas se consolidar em época mais tardia do desenvolvimento, quando os jovens se deparam com algumas situações que podem causar-lhes conflito (por exemplo, questões sexuais, acadêmicas, profissionais). 5.4.1.2. Medida de Fobias Os medos de crianças e adolescentes têm sido estudados extensivamente e, em geral, encontra-se que sua freqüência e intensidade declinam entre a infância e adolescência. O crescente interesse pelas dificuldades de adaptação social das crianças e dos adolescentes se tem visto incrementado pela importância que as relações sociais têm comprovadamente no desenvolvimento evolutivo e o funcionamento psicológico, social e acadêmico desses jovens, assim como pelo número elevado de crianças que, sendo etiquetadas socialmente como “tímidas”, mostram um grau elevado de ansiedade social, evitação e retraimento social (Olivares, Rosa, Piqueras, Sánchez-Meca, Méndez & García-López, 2002). Como ficou evidente no Marco Teórico, a criança sofre várias modificações na sua estrutura psíquica à medida que vai desenvolvendo, tendo lugar aquisições e aprendizagens novas. Constata-se que dos 6-8 anos de vida predominam as reações de medo frente a pessoas 158 ou seres imaginários (por exemplo, monstros, bruxas, fantasmas), o que poderia dever-se à falta de capacidade para distinguir o real do imaginário (Wenar, 1990). Na etapa que compreende de 9-12 anos, começam a dominar as formas de medos mais reais e esta já é capaz de antecipar situações perigosas que se encontram ao seu redor, havendo uma queda em relação aos medos de seres imaginários ou sobrenaturais. Dos 13-18 anos é onde adquirem uma grande importância os temores sociais e aqueles relacionados com o aspecto físico e a imagem do jovem. Há que indicar que, apesar dessa seqüência, é normal que os medos de uma etapa se façam presentes em etapas subseqüentes, pois, a exemplo dos medos de animais e morte, podem ser temores que se manifestam ao longo de toda a vida (Méndez, 1999). Estes aspectos justificam a necessidade de se contar com uma medida adequada de fobias, permitindo acompanhar o desenvolvimento dos infantes. Tomando-se como referência os pontos de corte para os indicadores de ajuste quando se emprega modelagem por equações estruturais (Bryne, 2001; Hu & Bentler, 1999; MacCallum, Browne & Sugawara, 1996), constatou-se que o Inventário de Fobias Infantis pode ser adequadamente representado por uma estrutura multi-fatorial, formado pelos seis fatores de fobias hipotetizados: animal, doença, imaginária, natural, situacional e social. Com relação à consistência interna dos fatores de fobias, tomando em conta o teste para comparar Alfas de Cronbach de amostras independentes (van der Vijver & Leung, 1997, p. 60), verificou-se que a média observada dos coeficientes Alfas neste estudo (α = 0,61) não diferiu estatisticamente daquela encontrada no Estudo 2 (α = 0,57) [∆F (398, 440) = 1,07, p = 0,244]. Entretanto, quando tidos em conta os pares de Alfas de Cronbach para cada fator de fobias, observou-se que unicamente para fobias imaginárias a diferença foi significativa [∆F (398, 440) = 1,37, p = 0,001]. Dos coeficientes encontrados para os fatores no estudo ora 159 descrito, dois (fobias animais e imaginárias) superaram o ponto de corte de 0,70 (Nunnally, 1991). Isso pode mesmo ser considerado como bastante promissor, pois o mais típico é que, por dificuldade de expressarem o que sentem, as crianças costumem ter pontuações mais flutuantes, dificultado identificar estruturas fatoriais claras (Schmitt & cols., 2007) e índices elevados de consistência interna (Amabiel, 2005). O IFI também reuniu evidências de que apresenta invariância fatorial em relação ao sexo dos participantes, uma variável que é preponderante para explicar em que medida os jovens se diferenciam em termos dos diversos fatores de fobia (Kashani & Orvaschel, 1990). Deste modo, pode ser pensado como adequado em amostras tanto de meninos / rapazes como meninas / moças, permitindo comparé-los e estimar em que medida apresentam prevalências diferentes na população geral. 5.4.2. Modelo Hierárquico das Fobias, Sexo e Estilo Parental Nesta oportunidade discutem-se os resultados acerca do modelo hierárquico das fobias, um dos objetos principais da presente tese, e são tratadas as variáveis sexo, compreendida como potencial diferenciador da magnitude das fobias vivenciadas pelos infantes, e estilo de socialização materna, cujos tipos específicos podem ter um impacto ou ao menos estarem correlacionados com tais transtornos fóbicos. Com o fim didático, procura-se a seguir contemplar estes dois aspectos. 5.4.2.1. Modelo Hierárquico das Fobias A idéia de uma estrutura hierárquica das fobias não é recente. É possível identificar na literatura ao menos duas abordagens a respeito. Taylor (1998) propõe que as fobias podem ser organizadas de forma hierárquica, tomando como referência principal o traço de personalidade 160 neuroticismo. Contudo, não apresenta qualquer pesquisa empírica que suporte sua proposta. Por outro lado, Cox e cols. (2003) levam a cabo a elaboração de um modelo, partindo da proposta de Taylor (1998), porém deixa de fora o neuroticismo. Considerando estas duas propostas, decidiu-se pensar em um novo modelo, que tem por base o neuroticismo como fundamento ou fonte das fobias, que são organizadas em um fator geral e seis fatores de primeira ordem. Diferentemente daqueles autores que elaboraram suas propostas tendo como referência pessoas adultas, a presente proposta também se diferencia por enfatizar as fobias entre crianças e adolescentes. De modo consistente, observou-se que as fobias, todas, em menor ou maior magnitude, se correlacionam diretamente com o grau de fobia relatado pelos participantes do estudo. Isso poderia ser esperado, de acordo com os estudos previamente realizados acerca destes dois construtos (Longley & cols., 2006; Mann & cols., 2006). Porém, este é apenas um elemento do modelo. O propósito não era avaliar o neuroticismo como correlato das fobias, mas como produzindo maior disposição a tais transtornos psicológicos. Neste sentido, havendo previamente demonstrado (Estudo 2) a pertinência de contar com seis fatores de fobia, decidiu-se checar a adequação do modelo hierárquico previamente indicado. Este modelo se mostrou bastante satisfatório, com indicadores de ajuste coerentes com aqueles recomendados na literatura (por exemplo, Byrne, 2001). Portanto, existem evidências favoráveis a adequação deste modelo teórico-explicativo. 5.4.2.2. Sexo e Estilo Parental como Correlatos das Fobias Diversas pesquisas têm demonstrado que as meninas pontuam mais que os meninos nos inventários que pretendem avaliar medo e fobias (Méndez & cols., 2003; Ollendick, 1983). Por exemplo, Ollendick (1983) encontrou que a média de medos excessivos foi de 13 161 para as meninas e nove para os meninos. Méndez e cols. (2003) constaratam igualmente diferenças no tipo de estímulo temido, já que as meninas temiam mais aos animais e a separação dos pais, enquanto que os meninos o fizeram, principalmente, em relação ao contato físico e a avaliação do rendimento. Na presente tese, corroborando tais resultados, comprovouse também que as meninas pontuaram claramente acima dos meninos no que se refere aos estímulos fóbicos animais. Entretanto, o medo ao contato físico, que é mais característico dos meninos, talvez por ser modulado pelo meio social que desempenham cada sexo mais que pela condição sexual em si mesma (Bragado, 1994), não corroborou estudos prévios (Essau, Conradt & Petermann, 1999; Schneier, Johnson, Horning, Leibowitz & Weissman, 1992). Resta ponderar, não obstante, que o estímulo específico de “contato físico” não foi diretamente avaliado nesta oportunidade. Apesar de existirem versões para pais e mães da Escala de Estilo Parental, neste estudo foi solicitado que os participantes respondessem unicamente a versão para mães. Percebe-se que, mesmo na sociedade contemporânea, as mães ainda são as principais responsáveis pela educação de seus filhos, sendo estas quem oferecem maior suporte afetivo e participação diária em suas vidas, mas também, as que mais exigem, expressando maior autoridade (Delgado & cols., 2007; Fonsêca, 2008). Como esperado, as mães percebidas como apresentando um estilo mais negligente, potencialmente, inibem a fobia experimentada por seus filhos; isso é possível em razão de permitirem que desenvolvam maior confiança em si mesmos, uma vez que precisarão lidar com as adversidades do dia a dia sem o controle materno e mesmo o apoio afetivo. Por outro lado, aquelas percebidas como tendo um estilo autoritário, em razão da ênfase dada ao controle dos filhos, podem torná-los mais inseguros, pouco confiantes, sendo mais proponsos a relatarem episódios de medos e fobias (Fonsêca, 2008; Santos, 2008). 162 Em resumo, os três estudos anteriormente apresentados favorecem pensar que os objetivos desta tese foram alcançados. Especificamente, elaborarou-se e reuniram-se evidências de validade fatorial e consistência interna de uma medida de fobias para crianças e adolescentes; mostrou-se a adequação do modelo hierárquico destas fobias, tomando como referência o traço de personalidade d neuroticismo; e constararam-se as correlações das fobias com o sexo dos participantes e os estilos de socialização percebidos como de suas mães. Portanto, estas compreendem aportações à literatura sobre o tema das fobias, oferecendo ainda um instrumento específico destes transfornos psicológicos, contemplando diferentes tipos de estímulos fóbicos, suprindo uma carência na literatura nacional como evidenciada na Introdução. Apesar destes aspectos, é importante ponderar os resultados, contextualiza-los e pensar em aplicações potenciais e pesquisas futuras que poderão contribuir com esta linha de estudo. Estes aspectos são contemplados no capítulo apresentado a seguir. 163 Capítulo 6. Discussão Geral A presente tese teve por objetivo principal propor um modelo hierárquico e explicativo das fobias infanto-juvenis. Especificamente, pretendeu-se conhecer evidências de validade fatorial e consistência interna do Inventário de Fobias Infantis, checando se este apresenta invariância fatorial. Procurou-se testar o modelo hierárquico das fobias, composto por neuroticismo, um fator geral e seis fatores específicos (de primeira ordem) de fobia, estes como medidos pelo IFI. Finalmente, pretendeu-se conhecer a relação das pontuações nos fatores específicos de fobia com o sexo dos participantes e os estilos parentais que percebem nas suas mães respectivas. Os três estudos previament descritos suportam afirmar que estes objetivos foram plenamente atendidos. Não obstantes, não se descartam suas limitações potenciais. Portanto, principia-se este capítulo com tais limitações, procurando posteriormente indicar os principais achados, as possibilidades de aplicação dos resultados e, por fim, estabelecer uma agenda para pesquisas futuras. 6.1. Limitações Potenciais dos Estudos A presente tese representa um esforço no sentido de considerar múltiplas amostras de crianças e adolescentes, procurando desenvolver estudos empíricos teoricamente pautados. Apesar disso, não é possível fechar os olhos para as particularidades de tais amostras. Embora possam até ser consideradas numericamente satisfatórias (Estudos 1 e 2), superando o mínimo geralmente recomendado de 200 participantes (Watkins, 1989), não pode ser dita representativa da população brasileira, mesmo da paraibana ou pessoense. As amostras foram de conveniência, não sendo aleatória, e isso se percebe em razão do predomínio daqueles do sexo feminino. Certamente isso pode ser uma restrição no sentido de generalizar os resultados 164 previamente descritos. Porém, ressalta-se, o propósito não foi realizar um estudo epidemiológico, mais necessitado deste tipo de amostra; o propósito foi desenvolver e testar um modelo teórico e sua medida respectiva. Desde modo, confia-se que este problema, embora não possa ser ignorado, é menos complicado na conjuntura em que se desenvolveram as pesquisas. Talvez ainda outra limitação tenha sido ampliar a faixa-etária para inclusão dos participantes no estudo. Apesar de Sisto (2003, 2007) indicar que seu instrumento de personalidade, que é de auto-relato, ter sido aplicado a crianças a partir dos cinco até os dez anos de idade, não pareceu muito adequado considerar crianças menores. Efetivamente, a pesquisa de campo revelou que abaixo dos oito anos de idade foram observadas incompreensões diversas, demandando o apóio constante da pesquisadora. A propósito, não se descarta que, por este motivo, alguns dos Alfas de Cronbach dos fatores tenham sido abaixo do 0,70 recomendado na literatura (Nunnally, 1991). 6.2. Achados Principais Não se trata, nesta oportunidade, de insistir com os resultados previamente descritos, mas apresentar um resumo integrador, que favoreça a compreensão do leitor. Deste modo, procura-se a seguir ser bastante esquemático, pontuando cada elemento que pode ser pensado como contribuição ou corroboração oferecida por esta tese: • Medidas de Personalidade Procurou-se conhecer a adequação de duas medidas de personalidade: ETPC e ICG. Os resultados foram unânimes em demonstrar que ambas as medidas podem ser aceitáveis, sendo mais prudente pensar em fatores específicos da personalidade do que em um fator geral. Além 165 disso, ficou claro que os problemas com neutoricismo independe da medida; a própria natureza deste construto produz inconsistência nos resultados, uma vez que enfatiza a instabilidade emocional, a mudança de humor. Isso precisa ser levado em consideração em estudos futuros. • Medida de Fobia As fobias são, provalemtente, infindiáveis. Existirão tantas fobias quanto podem ser detectados estímulos fóbicos. Aliás, há que se considerar que o que é fóbico para uma pessoa pode não ser para outra, como se viu no Estudo 1. Objetos que, em princípio não produziriam medo, podem paralisar pessoas; são alguns dos exemplos pássaros, gatos e bichos de pelúcia. Portanto, como ocorre com os atributos de personalidade que podem ser centenas, ocorre o mesmo com as fobias. Neste sentido, é impossível descrever uma pessoa a partir de tantos atributos, estímulos; o propósito do IFI é precisamente o de parcimônia, reunindo os estímulos fóbicos em categoriais ou fatores, tornando-os unidades congruentes, úteis para descrever crianças e adolescentes. Tal instrumento, embora não reflita parâmetros excelentes, reúne evidências favoráveis de que poderá ser adequadamente empregado, independente do sexo dos participantes. • Correlatos das Fobias Como adiante dicará claro, a lista de correlatos das fobias pode ser bastante ampla. É impossível considerar todos em um único estudo. Nesta oportunidade, consideraram-se dois que, de acordo com a literatura, poderia ser preponderantes: sexo dos participantes e tipo de estilo parental. Efetivamente, as mulheres e as pessoas criadas (ou que se percebem como tais) sob um estilo mais autoritário tendem a ser mais fóbicas. Contrariamente, os homens e jovens mais negligenciados costumam ser menos propensos a apresentar fobia. Ressalta-se que este 166 último padrão é bastante consistente com o que se espera do homem: alguém mais autônomo, frente ao qual os pais podem evitar expressar sentimentos. Este aspecto pode sugerir uma hipótese a ser comprovada no futuro, procurando comprovar a interação entre sexo e estilo parental para explicar as pontuações em fobias. 6.3. Possibilidades de Aplicações Como parece evidente, parte importante desta tese tem uma ênfase psicometrista, dirigida a construir um instrumento e conhecer seus parâmetros psicométricos. Portanto, como todo empreendimento nesta área que tem um foco bastante aplicado, atendendo a uma demanda (Pasquali, 2003), este não é diferente. Neste sentido, a aplicação mais direta da presente tese resulta do instrumento para valiar fobia. Este poderá servir para estudos de triagem (screening), permitindo, por exemplo, estimar o quantitativo de crianças e adolescentes nas escolas que podem apresentar medos excessivos (fobias), indicando, ademais, a que estímulos específicos. Contudo, não se restringe a esta prática. Considerando uma entrevista psicológica e/ou psiquiátrica adequadament realizada, poderá auxiliar na prática clínica, dando pistas de como a criança ou o adolescente reage a estímulos potencialmente fóbicos do seu dia a dia. O problema da fobia, seguramente, é bastante recorrente no contexto escolar. A prática profissional da doutoranda revela queixas constantes de pais e educadores acerca dos medos generalizados que suas crianças e seus adolescentes apresentam. Neste sentido, o profissional que atua no âmbito escolar poderá se beneficiar deste instrumento para medir fobias, além de contar com a evidência de que o problema pode ser mais estrutural, mais básico, centrado no traço de instabilidade emocional (neuroticismo). Este fundamento teórica e a medida 167 apresentada poderá contribuir, então, para minimizar o impacto negativo que as fobias podem ter em relação ao convívio dos alunos e também do seu rendimento acadêmico. 6.4. Agenda de Pesquisas Futuras Como foi possível apreender do marco teórico, pouco tem sido produzido na literatura brasileira acerca das fobias infanto-juvenis, e isso, seguramente, dificulta estimar o alcance e a pertinência dos resultados encontrados neste país. A julgar pelos achados que têm sido produzidos em outros contextos, entretanto, avalia-se que os resultados ora apresentando convergem para a concepção de ser a fobia um construto mutifatorial, que tem origem ou pode ser potencializada a partir do traço de neuroticismo. Porém, muito ainda resta por conhecer. Neste sentido, quiçá um passo preliminar, mas não menos crucial, seja replicar o Estudo 3, foco central desta tese. Isso pode ser feito em diferentes direções, como as três são propostas a seguir: • Evidências dos parâmetros psicométricos. Checar a validade fatorial e a consistência interna são aspectos importantes e básicos de qualquer procedimento que vise aferir a qualidade de uma medida (Pasquali, 2003; Urbina, 2007). Porém, existem outros aspectos que poderão merecer atenção. Por exemplo, caberia conhecer a estabilidade temporal (testereteste) do IFI, avaliar sua validade convergente e discriminante, tendo em conta, respectivamente, medidas de fobias e ansiedade, além de daquela de desejabilidade social que pode ser comum nessas faixas-etárias (Soto & cols., 2008). Também poderia ser interessante avaliar o poder preditiva (validade preditiva) deste instrumento, vendo em que medida consegue diferenciar jovens diagnosticas como “fóbicos” daqueles “normais”. Finalmente, uma análise mais pormenorizada dos itens, considerando, por exemplo, modelos de TRI 168 (Teoria de Resposta ao Item; Pasquali, 2003), também seria oportuna. A propósito, poder-se-ia checar o poder discriminativo dos itens dentro de cada dimensão ou fator de fobia. • Correlatos das fobias. Nesta oportunidade foram considerados o sexo e os estilos parentais como potenciais correlatos das fobias. Entretanto, muito resta ainda por conhecer, avaliando tanto os antecedentes (por exemplo, idade, ordem de nascimento, religiosidade) como os conseqüentes das pontuações nos diversos fatores do IFI (por exemplo, mobilidade social, impossibilidade de sair de casa). A separação dos pais ou os eventos estressores no ambiente familiar têm sido mencionados (Domenèch, 1995; Rodriguez-Sacritán, 1995) e poderia ser efetivamente avaliados, conhecendo em que extensão poderiam produz fobias – e de que tipo, frente a que estímulos – nas crianças e nos adolescentes. Mas, um aspecto cada dia mais comum na vida dos jovens é o bullying (Carvalhosa, Lima & Matos, 2001; Lopes Neto, 2005). Em que medida este pode produzir fobias? • Contexto de socialização. Provavelmente decorrente de grandes avanços da tecnologia e dos benefícios que esta proporciona, as crianças do final do século passado e início deste são as mais privilegiadas. No entanto, ainda nos dias atuais muitos pais entram na paternidade sem ter ao menos a idéia do que significa ser, criar e educar um filho. A propósito, são notórios os resultados de estudos que mostram vínculos importantes entre estilos parentais e o desenvolvimento social das crianças (Richaud de Minzi, 2005; Justicia & cols., 2006). Porém, o que dizer das expectativas de ter um filho, de como educá-lo, que coisas priorizar na sua vida? Existem muitas perguntas que variam em especificidade e natureza. Não obstante, parece evidente a necessidade de seguir estudando o tema da socialização. 169 Em resumo, os pontos anteriormente tratados reforçam o cumprimento dos objetivos que foram pensados para esta tese, conforme são apreciados na Introdução e nos três estudos descritos previamente. Neste sentido, confia-se ter dado uma contribuição à temática das fobias entre crianças e adolescentes, aspecto que ainda carece de muitas pesquisas no Brasil. Reconhece-se, a propósito, que este empreendimento é apenas o começo de uma provável linha de pesquisa, tendo as propostas acima como algumas das possíveis diretrizes que direcionarão o trabalho futuro da doutoranda. 170 171 Capítulo 7. Referências Alchieri, J.C. & Cruz, R.M. (2003). Avaliação Psicológica: Conceito, métodos e instrumentos. São Paulo: Casa do Psicólogo. Ambiel, R. A. M. (2005). Escala de traços de personalidade para crianças (ETPC). Avaliação Psicológica, 4, 83-85. American Psychiatric Association (APA). (1980). Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 3ª edição. Washington, DC: American Psychiatric Association. American Psychiatric Association (APA). (1987). Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 3ª edição revisada. Washington, DC: American Psychiatric Association. American Psychiatric Association (APA). (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-IV). 4ª edição. Washington, DC: American Psychiatric Association. American Psychiatric Association (APA). (2000). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-IV-TR). 4ª edição. Washington, DC: American Psychiatric Association. Anderson, J. C. (1994). Epidemiological issues. Em T.H. Ollendick, N.J. King & W. Yule (Eds.). International Handbook of phobic and anxiety disorders in children and adolescents (pp. 43-65). New York, NY: Plenum. Andrade, J. M. (2008). Evidências de validade do inventário dos cinco grandes fatores de personalidade para o Brasil. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade de Brasília, Brasília. André, C. (2007). Psicologia do medo: Como lidar com temores, fobias, angústias e pânicos. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. Arrindell, W. A., Pickersgill, M. J., Merchelbach, H., Ardon, A. M. & Cornet, F. C. (1991). Phobic dimensions: III. Factor analytic approaches to the study of common phobic fears; 172 an update review of findingsobtained with adult subjects. Advances in Behaviour Research and Therapy, 13, 73-130. Asendorpf, J. B. & van Aken, M. A. G. (2003). Validity of big five personality julgments in childhood: A 9 year longitudinal study. European Journal of Personality, 17, 1-17. Atienza, D. (2001). Mutismo selectivo: Fobia frente a negativismo. Revista Psiquiatria y de Psicologia del Niño y del Adolescente, 1, 1-6. Barbosa, G. A. & Gaião e Barbosa, A. A. (2001). Apontamentos em psicopatologia infantil. João Pessoa, PB: Idéia. Barbosa, G. A. & Gaião, A. A. (1996). Depressão infantil: Um estudo de prevalência com o CDI. Infanto – Revista de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência, 4, 36-40. Barbosa, G. A. & Lucena, A. (1995). Depressão infantil. Infanto – Revista de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência, 3, 23-30. Barbosa, G. A. (2000). Estimulação precoce: Fundamentos e aspectos psicossociais. João Pessoa, PB: Editora Unimed. Barbosa, G. A., Gaião e Barbosa, A. A. & Gouveia, V. V. (2002). Transtorno de ansiedade na infância e adolescência: Um estudo de prevalência e validação de um instrumento (SCARED) de triagem. Infanto – Revista de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência, 10, 34-47. Barbosa, G. A., Gouveia, V. V. & Gaião e Babrosa, A. A. (2003). Escalas de avaliação em psiqiatria da infância e da adolescência. Em F.B. Assumpção Jr. & E. Kuczynski (Eds.), Tratado de psiquiatria da infância e adolescência (121-129). São Paulo, SP: Atheneu. Bard, P. (1928). A diencephalic mechanism for the expression of rage with special reference to the sympathetic nervous system. American Journal Physiol, 84, 490-551. Barlow, D. H. (1988). Anxiety and its disorders. Nova York, NY: Guilford. 173 Baumrind, D. (1966). Effects of authoritative control on child behavior. Child Development, 37, 887-907. Beck, J. G., Carmin, C. N. & Henninger, N. J. (1998). The utility of the Fear Survey ScheduleIII: An extended replication. Journal of Anxiety Disorders, 12, 177-182. Bee, H. (1996). A criança em desenvolvimento. 7ª edição. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. Beidel, D., Turner, S. & Morris, T. (1995). A new inventory to assess childhood social anxiety and phobia: The social phobia and anxiety inventory for children. Psychological Assessment, 7, 73-79. Beidel, D. C. & Turner, S. M. (1997). At risk for anxiety: 1 - Psychopathology in the offspring of anxious parents. Journal of American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 36, 918-924. Bell-Dollan, D. J. & Brazeal, T. J. (1993). Separation anxiety disorder, overanxious disorder, and school refusal. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North American, 2, 563580. Bell-Dollan, D. J., Last, C. G. & Strauss, C. C. (1990). Symptoms of anxiety disorders in normal children. Journal of American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 29, 759-765. Benet-Martínez, V. & John, O. P. (1998). Los cinco grandes across cultures and ethnic groups: Multitrait multimethod analyses of the big five in Spainish and English. Journal of Personality and Social Psychology, 75, 729-750. Bernstein, G. A. & Borchardt, C. M. (1991). Anxiety disorders of childhood and adolescence: a clinical review. Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 30, 519532. 174 Bierderman, J., Farone, S. & Mick, E. (1995). Psychiatric comorbidity among referred juveniles with major depression: fact of artifact? Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 34, 579-590. Bierderman, J., Rosenbaum, J. F., Bolduc-Murphy, E. A., Faraone, S.V., Chaloff, J., Hirshfeld, D. R. & Kagan, J. (1993). A 3-year follow-up of children with and without behavioral inhibition. Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 32, 814-821. Birmaher, B., Khetarpai, S., Nremt, D., Cully, M. Balach, L. Kaufman, J. & Neer, S. M. (1997). The screen for child anxiety related emotional disorders (SCARED): scale construction and psychometric characteristics. Journal of American Academy of Child Adolescent. Psychiatry, 36, 545-553. Bouldin, P. & Pratt, C. (1998). Utilizing parent report of investigate young children's fears: A modification of the Fear Survey Schedule for Children-II: A research note. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 39, 271-277. Bowlby, J. (1951). Maternal care and mental health. Geneva: World Health Organization. Bragado, C. (1994). Terapia de conducta en la infancia: Trastornos de ansiedad. Madri: Fundación Universidad-Empresa. Brazelton, T. B. & Sparrow, J. D. (2003). Três a seis anos: Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Artmed. Brazelton, T. B. (1994). Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. São Paulo, SP: Martins Fontes. Caffo, E. (2003). Bambini e adolescenti di fronte alle paure. Nº4, Melzo, Itália: Telefono Azzurro. 175 Campbell, M. A. & Rapee, R. M. (1994). The nature of feared outcome representation in children. Journal of Abnormal Child Psychology, 22, 99-111. Cannon, W. B. (1929). Bodily changes in pain, hunger, fear and rage: An account of recent researches into the functions of emocional excitement. New York, D Appleton. Cantwell, D. P. & Carlson, G. A. (1987). Trastornos afectivos en la infancia y la adolescencia. Barcelona: Martínez Roca. Cardoze, D. & Rodríguez-Sacristán, J. (1985). Temas de psiquiatría y psicologia del niño. Panamá: Ediciones Tema de Seguridad Social. Carrillo, X. M., Amorós, M. O. & Alcázar, A. I .R. (2005). Los tratamientos psicológicos en la fobia a la oscuridad: Una revisión cuantitativa, 21, 73-82. Carvalhosa, S. F., Lima, L. & Matos, M. G. (2001). Bullying – A provocação/vitimização entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, 4, 523-537. Cerón, I. R. & Cruz, J. A. G. (2002). Impacto psicológico de la negligencia familiar (leve versus grave) en un grupo de niños y niñas. Anales de Psicología, 18, 261-272. Chattás, A. J. (2004). Estilos de crianza. Buenos Aires: Sociedad Argentina de Pediatría. Chess, S. (1973). Introducción a la psiquiatría infantil. Buenos Aires: Ed. Paidós. Cia, F., Pereira, C. S., Del Prette, Z. A. P & Del Prette, A. (2007). Habilidades sociais das mães e envolvimento com os filhos: Um estudo correlacional. Estudos de Psicologia, 24, 3-11 Clark, L. A. & Watson, D. (1995). Constructing validity: Basic issues in objective scale development. Psychological Assessment, 7, 309-319. Coll, C., Palacios, J. & Marchesi, A. (1995). Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas. 176 Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2008). Lista de testes com parecer favorável. Retirado dia 06 de agosto de 2008 da http://www.pol.org.br/satepsi/sistema/admin.cfm?lista1=sim. Costa, F. T., Teixeira, M. A. P. & Gomes, W. B. (2000). Responsividade e exigência: Duas escalas para avaliar estilos parentais. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13, 465-473. Costa, P. & McCrae, R. (1987). Neuroticism, somatic complaints and disease: Is the bark worse than the bite? Journal of Personality, 55, 299-316. Costello, E. J., Angold, A. & Keeler, G. P. (1996). The great smoky mountains study of youth: Goals, desing, methods, and the prevalence of DSM-III-R disorders. Archive General of Psychiatry, 53, 1129-1136. Cox, B. J., McWilliams, L. A., Clara, I. P. & Stein, M. B. (2003). The structure of feared situations in a nationally representative sample. Journal of Anxiety Disorders, 17, 89-101. Cunha, J.A. (2003). Psicodiagnóstico-V. 5ª ed. Revisada e ampliada. Porto Alegre, RS: Artmed. Cunha, M., Gouveia, J. P., Alegre, S. & Salvador, M. C. (2004). Avaliação da ansiedade social na adolescência: a versão portuguesa da SAS-A. Psychologica, 35, 249-263. D´Avila-Bacarji, K. M. G., Marturano, E. M. & Elias, L. C. S. (2005). Suporte parental: Um estudo sobre crianças com queixas escolares. Psicologia em Estudo, 10, 107-115. D´El Rey, G. J. F., Pacini, C.A. & Chavira, D. J. F. (2005). Fobia social em uma amostra de adolescentes. Estudos de Psicología, 11, 111-114. Domenéch, E. & Ascaso, L. E.(1995). Las clasificaciones en psicopatología infantil. Em J. Rodríguez-Sacristán (Ed.), Psicopatología del nino y del adolescente (121-143). Sevilha, Espanha: Universidade de Sevilha. 177 Domènech, E. (1993). Concepto y prevalencia de la depresión infantil. J. L. G. Riviera y Revuelta, F. Rodríguez-Pulido & A. Sierra (Eds.), El método epidemiológico en salud mental. Barcelona: Ed. Científica y Técnicas. Edo, S., Moya, J., Lores, J., Luelmo, V., Ibáñez, M. I. & Ortet, G. (2004). Estudio psicométrico de la versión española del cuestionario de los cinco grandes para niños (BFQ-N). Jornades de Forment de la Investigación. Universitat Jaume-I. Ehrler, D. J. & Evans, G. (1999). Extending big-five into childhood: A preliminary investigation into the relationship between big-five personality traits and behavior problems in children. Psychology in the School, 36, 451-458. Erikson, E. H. (1983). The life cycle completed. New York, NY: Norton. Essau, C. A., Conradt, J. & Peterman, F. (1999). Frequency and comorbidity of social phobia and social fears in adolescents. Behaviour Research Therapy, 37, 831-843. Essau, C. A., Conradt, J. & Petermann, F. (1999). Frecuency and comorbidity of social phobia and social fears in adolescents. Behavior Research and Therapy, 37, 831-843. Eysenck, H. J. & Eysenck, M. W. (1987). Personalidad y diferencias individuales. Madri: Ediciones Pirámides. Fedeli, M. (1997). Temperamento, caráter, personalidade: ponto de vista médico e psicológico. São Paulo, SP: Paulus. Ferrari, M. (1986). Fears and phobias in children: Some clinical and developmental considerations. Child Psychiatry and Human Development, 17, 75-88. Ferreira, M. de C. T. & Marturano, E. M. (2002). Ambiente familiar e os problemas do comportamento apresentados por crianças com baixo desempenho escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15, 35-44. 178 Fierro, A. (1983). Elementos cognitivos y otros en el sistema de la personalidad. Estudios de Psicología, 16, 85-106. Fonsêca, P. N. (2008). Desempenho acadêmico de adolescentes: Proposta de um modelo explicativo. Tese de Doutorado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Francis, G., Last, C. G. & Strauss, C. C. (1992). Avoidant disorder and social phobia in children and adolescents. Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 31, 1086-1089. Fredrikson, M., Annas, P., Fischer, H. & Wik, G. (1996). Gender and age differences in the prevalence of specific fears and phobias. Behaviour Research Therapy, 34, 33-39. Freud, S. (1976). Três ensaios sobre a sexualidade. Em Obras psicológicas compeltas. Vol. 7. Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Imago. Gaião e Barbosa, A. A. & Barbosa, G. A. (1999). Ansiedade e depressão na infância e adolescência : Uma revisão epidemiológica e o uso de instrumentos. Revista de Neurobiologia, 62, 35-41. García-López, L. J., Olivares, J. & Vera-Villarroel, P. E. (2003). Fobia social: Revisión de los instrumentos de evaluación validados para población de lengua española. Revista Latinoamericana de psicología, 35, 151-160. Gauer, G. J. C., Zogbi, H., Beidel, D. C. & Rodríguez J. O. (2006). Fobia social na infância e adolescência: Aspectos clínicos e de avaliação psicométrica. Psico-PUCRS, 37, 263-269. Goldberg, L. R (1990). An alternative description of personality: The big-five factor structure. Journal of Personality and Social Psychology, 59, 1216-1229. Gomide, P. I. C. (2006). Inventário de Estilos Parentais – IEP: Modelo teórico, manual de aplicação, apuração e interpretação. Petrópolis, RJ: Vozes. 179 Gorin, V., Marcelli, D. & Ingrand, P. (1996). Angoisse de séparation. Études épidemiologique sur 1206 enfants entre 2 et 7 ans. Neurpsychiatrie Enfance Adolescent, 44, 411-422. Gorsuch, R. L. (1983). Factor analysis. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum. Guardiola, M. G. T. (1995). Acerca del temperamento infantil. Actualizaciones en psicopatología infantil, 45-59. Gutiérrez, S. G. (2005). Miedos infantiles y estilo de educación: Diferencias y similitudes entre España y Costa Rica. Tese de Doutorado, Universidade de Granada, Espanha. Hanna, E. S. & Todorov, J. C. (2002). Modelos de autocontrole na análise experimental do comportamento: Utilidade crítica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18, 337-343. Herman, W. E. (1990). Fear of failure as a distinctive personality trait measure of test anxiety. Journal of Research and Development in Education, 23, 180-185. Hoffman, L., Paris, S. & Hall, E. (1995). Psicología del desarrollo hoy. 6ª edição, Vol. I. Madri: McGraw-Hill. Isolan, L., Pheula, G. & Manfro, G. G. (2007). Tratamento do transtorno de ansiedade social em crianças e adolescentes. Revista de Psiquiatria Clínica, 34, 125-132. John, O. P., Angleitner, A. & Osttendorf, F. (1988). The lexical approach to personality: A historical review of trait taxonomic research. European Journal of Personality, 2, 171203. Justicia, F., Benítez, J. L., Pichardo, M. C., Fernández, E., García, T. & Fernández, M. (2006). Aproximación a un nuevo modelo explicativo del comportamiento antisocial. Revista Electrónica de Investigación Psicoeducativa, 9, 131-150. Kagan, J. (1994). Gaben’s prophecy. New York, NY: Basic books. Kashani, J. H. & Orvaschel, H. (1990). A community study of anxiety in children and adolescents. American Journal Psychiatry, 147, 313-318. 180 Keller, M. B., Lavori, P. W., Wunder, J., Beardslee, W. R., Schwartz, C. E. & Roth, J. (1992). Chronic course of anxiety disorders in children and adolescents. Journal American of Academy of Child Adolescent Psychiatry, 31, 595-599. Kendler, K. S., Neale, M. C., Kessler, R. C., Heath, A. C. & Eaves, L. J.. (1992). The genetic epidemiology of phobias in women: the interrelationship of agoraphobia, social phobia, situational phobia, and simple phobia. Arcjive of General Psychiatry, 49, 273-281. Kessler, R. C., Stein, M. B. & Berglund, P. (1998). Social phobia subtypes in the national comorbidity survey. American Journal Psychiatry, 155, 613-619. King, N. J., Eleonora, G. & Ollendick, T. H. (1998). Etiology of childhood phobias: Current status of Rachman's three pathways theory. Behaviour Research and Therapy, 36, 297309. King, N. J., Hamilton, D. I. & Ollendick, T. H. (1994). Children’s phobias: A behavioural perspective. New York, NY: Wiley. Kovacs, M. & Beck, A. T. (1977). An empirical-clinical approach toward a definition of childhood depression. Em J. G. Schultebrandt & A. Tarkin (Eds.), Depression in childhood: Diagnosis, treatment and conceptual models (pp. 1-25). New York, NY: Raven Press. La Greca, A. & Stone, W. (1993). Social anxiety scale for children-revised: Factor structure and concurrent validity. Journal of Clinical Child Psychology, 22, 17-27. La Greca, A. M. & Lopez, N. (1998). Social anxiety among adolescents: Linkages with peer relations and friendships. Journal Abnorm Child Psychology, 26, 83-94. Lapouse, R. & Monk, M. (1959). Fears and worries in a representative sample of children. American Journal Orthosysh, 29, 803-818. 181 Las Heras, J. (2000). Trastorno de ansiedad por separación y absentismo escolar. Revista Complutense de Educación, 11, 57-69. Last, C. G., Cheri Hansen, M. S. & Franco, N. (1997). Anxious children in adulthood: A prospective study of adjustment. Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 36, 645-652. Last, C. G., Perrin, S. & Hersen, M. (1992). DSM-III-R anxiety disorders in children: Sociodemographic and clinical characteristics. Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 31, 1070-1076. Lewis, Sir A. J. (1970). The ambiguous word “anxiety”. International journal of Psychiatry, 9, 62-79. Lida-Pulik, H., Colin, B. & Basquin, M. (1996). La phobie scolaire a l’adolescence. Neuropsychiatry Enfance Adolescent, 44, 211-214. Lipitz, J. D., Barlow, D. H., Mannuzza, S., Hoffmann, S. & Fyer, A. J. (2002). Clinical features of four DSM-IV-Specific phobia subtypes. Journal of Nervous and Medical Disease, 190, 471-478. Livingston, R., Taylor, J. L. & Crawford, S. L. (1988). A study of somatic compplains and psychiatric diagnosis in children. Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 27, 185-187. Loeber, R., Lahey, B. B. & Thjomas, C. (1991). The diagnostic conundrum of oppositional defiant disorder and conduct disorder. Journal of Abnormal Child Psychology, 100, 379390. Longley, S. L., Watson, D., Noyes, R. & Yoder, K. (2006). Panic and phobic anxiety: Associations among neuroticism, physiological hyperarousal, anxiety sensitivity, and three phobias. Journal of Anxiety Disorders, 20, 718-739. 182 Loo, R. (1984). Personality correlates of the fear of death and dying scale. Journal of Clinical Psychology, 40, 120-122. Lopes Neto, A. A. (2005). Bullying – comportamento agressivo entre adolescents. Jornal de Pediatria, 81, 174-182. López, F, (1988). Vínculos afectivos y salud. Em Asociación Española de Neuropsiquiatría. Gravedad psíquica en la infancia. Madri: Ministerio de Sanidad y Consumo. Maccoby, E. E. & Martin, J. A. (1983). Socialization in the context of the family: Parent-child interaction. Em E.M. Hetherington (Org.), Handbook of child psychology (Vol. 4, pp. 1102). New York, NY: Wiley. Mann, R., Birks, Y., Hall, J., Torgerson, D. & Watt, I. (2006). Exploring the relationship between fear of falling and neuroticism: A cross-sectional study in community-dwelling women over 70. Age and Ageing, 35, 143-147. Mannucci, A. (Setembro, 2005). No Brasil, zooterapia ainda é incipiente. Mente e Cérebro, 152. Mardomingo-Sanz, M. J. (1994). Psiquiatría del niño y del adolescente. Madri: Días de Santos. Mellon, R. (2000). A Greek-language Inventoy of Fear: Psychometric propierties and factor structure of self-reports of fears on the Helenic Fear Survey Schedule. Journal of Psychopathology and Behavioral Assessment, 22, 123-140. Méndez, F. X. (2005). Miedos y temores en la infancia: ayudar a los niños a superarlos. Madri: Pirámide. Méndez, F. X., Inglés, C. J., Hidalgo, M. D., García-Fernández, J. M. & Quiles, M. J. (1997). Los miedos en la infancia y la adolescencia: Un estudio descriptivo. Revista Electrónica de Motivación y Emoción, 6 (http://reme.uji.es/articulos/amxndf4650710102/texto.html). 183 Méndez, F. X., Olivares, J. & Bermejo, R. M. (2001). Características clínicas y tratamiento de los miedos, fobias y ansiedades específicas. Em V.E. Caballo & M. A. Simón (Orgs.), Psicología clínica infantil y del adolescente: Trastornos específicos (pp. 9-21). Madri: Pirámide. Mercadante, M. T. & Manasia, J. H. (2003). Transtornos Ansiosos. Em F.B. Assumpção Jr. & E. Kuczynski (Eds.), Tratado de psiquiatria da infância e adolescência (361-367). São Paulo, SP: Atheneu. Messer, S. C. & Beidel, D. C. (1994). Psychosocial correlates of childhood anxiety disorders. Journal of American Academy of Child Adolescent Psychiatry, 33, 975-983. Moreno, I., Párraga, J. & Rodríguez, L. (1987). Miedos infantiles: Un estudio sobre la población sevillana. Análisis y Modificación de Conducta, 13, 471-492. Muris, P., Schmidt, H. & Merckelbach, H. (1999). The structure of specific phobia symptoms among children and adolescents. Behaviour Research and Therapy, 37, 863-868. Nissen, G. (1983). Depresiones en la infancia y la adolescencia. Triangulo, 21, 77-83. Nissen, G. (1991). Trastornos psíquicos en la infancia y juventud: Compendio de psiquiatría infantil y juvenil. Barcelona: Editorial Herder. Nunes, C. H. S. S. & Hurtz, C. S. (2005). O modelo dos cinco grandes fatores de personalidade. Em Ricardo Primi (org.). Temas em avaliação psicológica. São Paulo: casa do Psicólogo. Nunnally, J. C. (1991). Teoría psicométrica. México, DF: Trillas. Ochotorena, J. P. (1991). Malos tratos, negligencia, abandono y otros riesgos psicosociales. Algunas cuestiones básicas para la intervención preventiva. XXX Reunión de la Sociedad Española de Psiquiatría Infanto-juvenil. Gijon, Espanha. 184 Olivares, J., Rosa, A. I., Piqueras, J. A., Sánchez-Meca, J., Méndez, F. X. & García-López, L. J. (2002). Timidez y fobia social en niños y adolescentes: Un campo emergente. Psicología Conductual, 10, 523-542. Oliveira, E. A., Marin, A. H., Pires, F. B., Frizzo, G. B., Ravanello, T. & Rossato, C. (2002). Estilos parentais autoritário e democrático-recíproco intergeracionais, conflito conjugal e comportamentos de externalização e internalização. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15, 111. Oliveira, J. H. B. (2002). Neuroticismo: Algumas variáveis diferenciais. Análise Psicológica, 4, 647-655. Ollendick, T. H. (1983). Reliability and validity of the revised fear survey schedule for children (FSSC-R). Behavior Research and Therapy, 21, 685-692. Ollendick, T. H., King, N. J. & Muris, P. (2002). Fears and phobias in children: Phenomenology, epidemiology, and aetiology. Child and Adolescent Mental Health, 7, 98-106. Organização Mundial da Saúde (OMS). (1993). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. Orvaschel, H. & Weissmann, M. M. (1986). Epidemiology of anxiety disorders in children: A review. Em R. Gittelman (Ed.), Anxiety disorders of childhood (pp. 58-72). New York, NY: Guilford Press. Pacheco, L. & Sisto, F. F. (2003). Aprendizagem por interação e traços de personalidade. Psicologia Escolar e Educacional, 7, 69-76. Papalia, D. E. & Olds, S. W. (1997). Desarrollo humano: Con apontaciones para Iberoamérica. 6ª ed. Colombia: McGraw-Hill. 185 Papazian, B., Manzano, J. & Palacio, F. (1992). Les syndromes dépressies chez l’enfant. Neuropsychiatrie de l’Enfance, 40, 01-12. Pasquali, L. (Org.). (2001). Técnicas de exame psicológico – TEP. Manual (Vol. I). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo / CFP. Pasquali, L. & Araújo, J. M. A. (1986). Questionário de Percepção dos Pais (QPP). Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2, 56-72. Pasquali, L. (2003). Psicometria: Teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. Pelechano, V. (1981). Miedos infantiles y terapia familiar-natural. Valencia: Alfaplús. Pelechano, V. (1984). Programas de intervención psicológica en la infancia: Miedos. Análisis y Modificación de Conducta, 10(23-24). Pervin, L. A. & John, O. P. (2004). Personalidade: Teoria e pesquisa. 8ª edição. Porto Alegre, RS: Artmed. Pervin, L. A. (1978). Personalidade: Teoria, avaliação e pesquisa. São Paulo, SP: Editora Pedagógica e Universitária. Puig-Antich, J. (1980). Affective disorders in childhood: A review and perspective. Psychiatry Journal North Amererican, 3, 3-8. Reppold, C. T. (2005). Construção, validação e normatização de uma bateria de cinco escalas para avaliação de ajustamento psicológico em adolescentes. Tese de Doutorado em Psicologia do Desenvolvimento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS. Reynolds, C. R. & Richmond, B. O. (1978). What i think and feel: A revised measure of the children´s manifest anxiety scale. Journal of Abnormal Child Psychology, 6, 271-280. 186 Richaud de Minzi, M. C. & Sacchi, C. (1997). Interacciones con padres y pares y su relación con el afrontamiento de la amenaza. XXVI Congresso Interamericano de Psicologia, São Paulo. Richaud de Minzi, M. C. (2005). Estilos parentales y estrategias de afrontamiento en niños. Revista Latinoamericana de Psicología, 37, 47-58. Rie, H. E. (1966). Depression childhood: A survey of some pertinent contributions. Journal of American Academy of Child Psychiatry, 5, 653-685. Roazzi, A., Federicci, F. C. & Wilson, M. (2001). A estrutura primitiva da representação social do medo. Psicologia: Reflexão e Crítica, 14, 57-72. Rodríguez-Sacristán, J. & Andaluz, R. C. (1990). Depresión en la infancia y la adolescencia. Madri: Fundación Valgrande. Rodríguez-Sacristán, J. (1995). Psicopatología del niño y del adolescente. La ansiedad en la infancia. La experiencia de la angustía en los niños (Vol. 1). Sevilha: Universidade de Sevilha. Rodríguez-Sacristán, J. (2002). Psicopatología infantil básica: Teoría y casos clínicos. Madri: Edicione Pirámide. Rutter, M. (1966). Children of sick parents: An environmental and psychiatric study. London: Oxford University Press. San Gregorio, M. A. P., Marín, M. R. L., Jiménez, M. L. R., Franco, L. R. & Picabia, A. B. (1991). Breve exposición sobre las diferentes manifestaciones ansiosas descritas en la infancia. Anales de Psicología, 7, 45-55. Sandín, B. (1997). Ansiedad, miedos y fobias en niños y adolescentes. Madri: Dykinson. Sandström, C. I. (1975). A psicologia da infância e da adolescência. Álvaro Cabral (Tradução). 5ª edição. Rio de Janeiro: Zahar. 187 Santos, W. S. (2008). Explicando comportamentos socialmente desviantes: Uma análise do compromisso convencional e afiliação social. Tese de Doutorado. Departamento de Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Schmitt, D. P., Allik, J., McCrae, R. R. & Benet-Martínez, V. (2007). The geographic distribution of big five personality traits: Patterns and profiles of human self-description across 56 nations. Journal of Cross-Cultural Psychology, 38, 173-212. Schmitt, D., Allik, J., McCrae, R. R. Benet-Martínez, V. & cols. (2007). The geographical distribution of big five personality traits: Patterns and profiles of human self-description across 56 nations. Journal of Cross-Cultural Psychology, 38, 173-212. Schneider, J. O. (2001). Transmissão de valores de pais para filhos: Dimensões do desejável e do perceptivel. Dissertação de Mestrado. Departamento de Psicología, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Schneier, F. R., Johnson, J., Horning, C. D., Liebowitz, M. R. & Weissman, M. M. (1992). Social phobia: Comorbidity and morbidity in an epidemiology sample. Archives of General Psychiatry, 49, 282-288. Silva, A. B. B. (2006). Mentes com medo: Da compreensão à superação. São Paulo, SP: Integrare. Silva, W. V. & Figueiredo, V. L. M. (2002). Panorama das escalas de ansiedade em crianças no período de 1887 a 2002. Trabalho apresentando na 32ª Reunião Anual de Psiclogia, Florianópolis, SC. Silva, W. V. & Figueiredo, V. L. M. (2005). Ansiedade infantil e instrumentos de avaliação: Uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Psiquiatria, 27, 329-335. Silverman W. K., Lagreca, A. M. & Wassertein, S. (1995). What do children worry about? Worries and their relation to anxiety. Child Development, 66, 671-686. 188 Sisto, F. F. (2005). Escala de traços de personalidade para crianças (ETPC). Avaliação Psicológica, 4, 83-85. Soto, C. J., John, O. P., Gosling, S. D. & Potter, J. (2008). The developmental psychometrics of big five self-reports: Acquiescence, factor structure, coherence, and differentiation from 10 to 20. Journal of Personality and Social Psychology, 94, 718-737. Spitz, R. A. & Nissen, G. (1983). Depresiones en la infancia y adolescencia. Triangulo, 21, 73-87. Spitz, R. A. (1979). El primer año de la vida del niño. Madri: Editora Aguillar. Stravynski, A., Basoglu, M., Marks, M., Sengun, S. & Marks, I. M. (1995). The distintiveness of phobias: A discriminant analysis of fears. Journal of Anxiety Disorders, 9, 89-101. Taylor, S. (1998). The hierarchic structure of fears. Behaviour Research and Therapy, 36, 205-214. Teixeira, M. A. P., Bardagi, M. P. & Gomes, W. B. (2004). Refinamento de um instrumento para avaliar responsividade e exigência parental percebidas na adolescência. Avaliação Psicológica, 3, 1-12. Urbina, S. (2007). Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre, RS: Artmed. Vallejo Casarín, A. & López Uriarte, F. X. (2004). Estilos parentales y bienestar psicológico durante la niñez. Revista de Educación y Desarrollo, 2, 83-86. Van der Vijver, F. & Leung, K. (1997). Methods and data analysis for cross-cultural research. Thousand Oaks, CA: Sage Publications. Watkins, D. (1989). The role of confirmatory factor analysis in cross-cultural research. International Journal of Psychology, 24, 685-701. Weber, L. N. D., Brandenburg, O. J. & Viezzer, A. P. (2003). A relação entre o estilo parental e o otimismo da criança. Psico-USF, 8, 71-79. 189 Weber, L. N. D., Prado, P. M., Viezzer, A. P. & Brandenburg, O. J. (2004). Identificação de estilos parentais: O ponto de vista dos pais e dos filhos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 17, pp. 323-331. Wenar, C. (1990). Developmental psychopathology: From infancy through adolescence. 2ª edição. Nova York, NY: McGraw-Hill. Westenberg, P. M., Drewes, M. J., Goedhart, A.W., Siebelink, B. M. & Treffers, P. D. A. (2004). A developmental analysis of self-reported fears in late childhood through midadolescent: Social-evaluative fears on the rise? Journal of Child Psychology and Psychiatry, 45, 481-495. Wittchen, H. U., Stein, M. B. & Kessler, R. C. (1999). Social fears and social phobia in a community sample of adolescents and young adults: Prevalence, risk factors and comorbidity. Psycholological Medicine, 29, 309-323. 190 Anexo I: Declaração do Comitê de Ética 191 Anexo II: Termo de Compromisso Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA Departamento de Psicologia Doutorado em Psicologia Social Título do Projeto: ”Modelo Hierárquico de Fobias Infanto-Juvenis: Testagem e Relação com os Estilos Parentais” Pesquisador Responsável: Adriana de Andrade Gaião e Barbosa TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado(a) Senhor(a) Sou psicóloga, professora/pesquisadora e estou realizando um estudo com o objetivo de conhecer melhor as estruturas e dimensões do medo na população de infantes do município de João Pessoa, bem como identificar em que medida o estilo parental se correlaciona com o medo infantil. Esta pesquisa contribuirá no sentido de conhecer e identificar situações fóbicas/medos que possam dificultar a realização de determinadas tarefas e prevenir futuros transtornos na área emocional e acadêmica das crianças. O estudo será realizado através da aplicação de questionários que avaliam o objeto da pesquisa. A amostra será composta de 200 sujeitos de ambos os sexos, com idade compreendida entre 07 a 14 anos, que estejam devidamente matriculados e cursando na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. José Novais do município de João Pessoa. Informo que esta pesquisa não oferecerá nenhum tipo de risco para a saúde do participante. Esclareço que será garantido o sigilo do nome do mesmo e que sua participação é voluntária, não sendo prejudicado de forma alguma, caso não queira participar do estudo, sendo também garantido ao participante o direito de desistir da pesquisa, em qualquer tempo, sem que esta decisão o prejudique. Espero contar com seu apóio, desde já agradeço a sua colaboração. 192 Atenciosamente, A Coordenadora da Pesquisa. Assinatura do Responsável 1 Contato com a pesquisadora responsável: 1 Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor ligar para: Adriana de Andrade Gaião e Barbosa. Telefone: 3247-3705 / 9982-1302. Endereço: Rua José Augusto Trindade, Nº 250/101 - Tambáu. E-mail: [email protected] 193 Anexo III: Inventário de Fobias Infantis (IFI) – 1ª versão Nome: Idade: Série: Escola: ( 1 ) Privada anos ( 2 ) Pública Caro aluno, este questionário é composto por uma relação de estímulos que podem acontecer no seu dia-a-dia. Portanto, solicito a sua gentileza em responder as questões abaixo, utilizando a seguinte nomenclatura: [ 1 ] = Não; [ 2 ] = Sim; [ 3 ] = Ás vezes; [ 4 ] = Quase sempre; [ 5 ] = Sempre. É IMPORTANTE LEMBRAR QUE NÃO EXISTE RESPOSTA CERTA OU ERRADA. Preste bastante atenção e procure não deixar nenhuma resposta em branco. Questões 1 2 3 4 5 1) Quando tenho que ler em voz alta sinto dor de barriga. 2) Tenho medo que meus pais me esqueçam na escola. 3) Minhas mãos suam quando tenho que subir em elevador. 4) Espaços fechado e/ou apertados me sufocam. 5) O barulho do trovão me assusta. 6) Minhas pernas tremem ao ver palhaço ou pessoas fantasiadas. 7) Tenho medo de dormir sozinho. 8) Andar de avião me dar calafrios. 9) Sinto que vou desmaiar quando estou no meio da multidão. 10) Fico assustado quando pessoas estranhas se aproximam. 11) O barulho do trovão é assustador. 12) O sapo é um animal que me amedronta. 13) Tenho calafrios quando preciso utilizar banheiro público. 14) O barulho do vento me incomoda. 15) Minhas pernas paralisam diante de um cachorro. 16) Tenho medo de bruxas, fantasmas e monstros. 17) Sofro quando tenho que tomar uma injeção. 18) Sinto dores de barriga quando tenho que fazer algo sozinho. 19) Desenhos e livros de dinossauros me assustam. 194 20) Costumo evitar lugares escuros. 21) No período das provas escolares minhas mãos ficam geladas. 22) Tenho medo de aranhas, morcegos e lagartos. 23) Sinto arrepios só em ver sangue ou alguém machucado. 24) Evito ficar em ambientes de pouca iluminação. Obrigada!!! 195 Anexo IV: Inventário de Fobias Infantis (IFI) – 2ª versão Sempre 01. Quando tenho que ler em voz alta sinto dor de barriga. 02. Tenho medo que meus pais me esqueçam na escola. 03. Minhas mãos suam quando tenho que subir em elevador. 04. Espaços fechado e/ou apertados me sufocam. 05. O barulho do trovão me assusta. 06. Minhas pernas tremem ao ver palhaço ou pessoas fantasiadas. 07. Tenho medo de dormir sozinho. 08. Tenho medo de rato. 09. Sinto que vou desmaiar quando estou no meio da multidão. 10. Fico assustado quando pessoas estranhas se aproximam. 11. Tenho medo de barata. 12. Tenho medo de sapo. 13. Tenho medo de utilizar banheiro público. 14. O barulho do vento me assusta. 15. Fico paralisada diante de um cachorro. 16. Tenho medo de bruxas e monstros. 17. Tenho medo de injeção. 18. Sinto dores de barriga quando tenho que fazer algo sozinho. 19. Desenhos, filmes e livros de dinossauros me assustam. 20. Tenho medo de lugares escuros. 21. No período das provas escolares minhas mãos ficam geladas. 22. Tenho medo de aranhas. 23. Sinto arrepios só em ver sangue ou alguém machucado. 24. Evito ficar em ambientes com pouca iluminação. 25. Tenho medo de morcegos. 26. Tenho medo de fantasmas. 27. Tenho medo de altura (exemplo: lugar alto). As vezes SITUAÇÕES Nunca INSTRUÇÕES. Este questionário apresenta situações com as quais você pode se deparar no seu dia-a-dia, convivendo ou pensando nelas. Por favor, leia cada afirmação abaixo e marque um número ao lado que melhor descreve sua reação diante da situação. LEMBRAMOS QUE NÃO EXISTE RESPOSTA CERTA OU ERRADA. Preste bastante atenção e procure responder tudo. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 196 28. Evito está com pessoas que não conheço. 29. Tenho medo que meus pais me esqueçam em algum lugar. 30. Tenho medo de dentista. 0 0 0 1 1 1 2 2 2 Nome: Idade: anos Série: 197 Anexo V: Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes Departamento de Psicologia Doutorado em Psicologia Social IMPORTANTE: O presente estudo procura conhecer como os jovens sentem, se comportam ou pensam no seu dia-a-dia. Neste sentido, a seguir são perguntadas algumas coisas, as quais não são certas ou erradas; elas simplesmente indicam possíveis modos de as pessoas serem. Pedimos, por favor, que responda todo o questionário, não deixando nenhum item sem resposta; O faça o mais sincera e honestamente possível. O sigilo das suas respostas será mantido, não sendo necessário que escreva seu nome em nenhuma parte do questionário. Portanto, os dados serão tratados estatisticamente e publicado sem a identificação da população em estudo como também das escolas participantes. Para tanto, contamos com sua contribuição para responder os questionários que seguem em anexo. Desde já, agradecemos muito sua atenção e colaboração nesta pesquisa. Cordialmente, Prof. Valdiney Veloso Gouveia, Orientador Profa. Adriana Gaião e Barbosa, Doutorando Núcleo Bases Normativas do Comportamento Social 198 INSTRUÇÕES: Considere por um momento a lista de frases a seguir. Todas se referem a sua Mãe (ou responsável). Utilizando a escala de respostas abaixo, indique o quanto cada uma é aplicável a ela ou pode descrever-lhe adequadamente. Por favor, responda a todas as frases da forma mais sincera possível; saiba que não existem respostas certas ou erradas. Todas as informações prestadas serão tratadas em seu conjunto de forma estatística e confidencial. 1 2 3 4 5 6 7 Nada Aplicávell Pouco Aplicável Algo Aplicável Mais ou Menos Aplicável Bastante Aplicável Muito Aplicável Totalmente Aplicável 01._______Fica feliz de me ver quando volto da escola ou de um passeio. 02._______Passa muito tempo comigo. 03._______Fica sempre me lembrando das coisas que não posso fazer. 04._______Tenta ser minha “amiga” ao invés de uma “chefe”. 05._______Gostaria que eu ficasse mais em casa onde ela pode cuidar de mim. 06._______Quando estou fora de casa quer saber realmente onde estou e o que estou fazendo. 07._______Consola-me quando estou com medo. 08._______Quer saber realmente como penso sobre certos acontecimentos. 09._______Castiga-me severamente. 10._______Acha que deve me castigar para me corrigir e melhorar. 11._______Não parece notar muito se me comporto bem em casa ou me saio bem na escola. 12._______Gosta de falar comigo a respeito do que lê. 13._______Procura me animar quando estou triste. 14._______É fácil de se conversar com ela. 15._______Castiga-me quando eu não a obedeço. 16._______Está sempre me dizendo como devo me comportar. 17._______Se eu quebro uma promessa fica por algum tempo sem confiar em mim. 18._______Gosta de discutir os assuntos e conversar comigo. 19._______Acredita que todos os meus comportamentos maus devem ser castigados de alguma forma. 20._______É muito interessada naquilo que aprendo na escola. 199 Nunca Às vezes Sempre INSTRUÇÕES. Este questionário apresenta situações com as quais você pode se deparar no seu dia-a-dia, convivendo ou pensando nelas. Por favor, leia cada afirmação abaixo e marque um número ao lado que melhor descreve sua reação diante da situação. LEMBRAMOS QUE NÃO EXISTE RESPOSTA CERTA OU ERRADA. Preste bastante atenção e procure responder tudo. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 SITUAÇÕES 01- Evito estar com pessoas que não conheço. 02- Minhas mãos suam quando tenho que subir em elevador. 03- O barulho do trovão me assusta.. 04- Tenho medo de dormir sozinho. 05- Tenho medo de fantasmas. 06- Tenho medo de barata. 07- Fico assustado quando pessoas estranhas se aproximam. 08- Tenho medo de lugares escuros. 09- Filmes de dinossauros me assustam. 10- Monstros me assustam. 11- Tenho medo de sapo. 12- Tenho medo de andar/subir em escala rolante. 13- Tenho medo quando começa a chover sem parar. 14- Tenho medo de injeção. 15- No período das provas escolares minhas mãos ficam geladas. 16- Evito ficar em ambientes com pouca iluminação. 17- Tenho medo de aranha. 18- Tenho medo de ver sangue. 19- Tenho medo de rato. 20- Tenho medo que meus pais me esqueçam em algum lugar. 21- Sinto arrepios em ver alguém acidentado (machucado). 22- Tenho medo de ir ao hospital. 23- O barulho do vento me assusta.. 24- Tenho medo de morcego. 25- Tenho medo de bruxas malvadas. 200 26- Tenho medo de utilizar banheiro público. 27- Tenho medo de altura, de estar em lugar alto. 28- As histórias de terror me assustam. 29- Tenho medo de dentista. 30- Espaços fechados e/ou apertados me sufocam. 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 201 INSTRUÇÕES. A seguir você encontrará 30 afirmações, as quais podem ou não se referirem a você. Por favor, leia com atenção cada uma delas e diga se diz ou não respeito a você. Faça isso circulando uma das opções ao lado de cada afirmação. 1- Você gosta de fazer piada que incomoda outra pessoa? 2- Você gostaria que outros meninos tivessem medo de você? 3- Você é muito alegre e divertido(a)? 4- Algumas vezes você se sente triste sem saber por quê? 5- De vez em quando você gosta de fazer os animais ficarem bravos? 6- Você já fingiu que não ouvia alguém que estava chamando você? 7- Você gostaria de visitar um casarão abandonado? 8- Você pensa que a vida é muito triste? 9- Você é mais briguento (a) que as outras crianças? 10- Você gostaria de ser ator em uma peça de teatro organizada na escola? 11- Você se chateia quando dizem que você está errado (a)? 12- Você acha que deve ser muito divertido patinar no gelo? 13- Você se sente cansado sem saber por quê? 14- Você gosta de incomodar os outros? 15- Você toma iniciativa para fazer novos amigos? 16- Você acha que entra em mais brigas que as outras crianças? 17- Você diz palavrão ou xinga? 18- Você gosta de contar piadas? 19- Em sala de aula, você se mete em mais confusões que seus colegas? 20- Você se diverte de muitas maneiras diferentes? 21- Algumas coisas chateiam e deixam você triste com mais facilidade? 22- Você gosta de fazer piadas com os outros? 23- Você acha divertido ver uma turma assustar um menino menor? 24- Você fica muito tempo preocupado(a) quando pensa que fez uma bobagem? 25- Você já foi muito desobediente com seus pais? 26- Você gosta de espirrar água nos outros? 27- Alguma vez você sentiu vontade de não ir para a escola? 28- Você já roubou num jogo? 29- Você fica alegre e triste, sem saber por quê? 30- Quando não tem uma lata de lixo perto, você joga os papéis no chão? SIM 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 NÃO 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 202 INSTRUÇÕES. A seguir encontram-se algumas características (afirmações) que podem ou não lhe dizer respeito. Por favor, escolha um dos números na escala abaixo que melhor expresse sua opinião em relação a você mesmo e anote no espaço ao lado de cada afirmação. Vales ressaltar que não existem respostas certas ou erradas. Utilize a seguinte escala de resposta: 1 2 Discordo totalmente Discordo 3 Nem concordo nem discordo 4 5 Concordo Concordo Totalmente Eu me vejo como alguém que.... 01.____É conversador, comunicativo. 02.____É minucioso, detalhista no trabalho, no que faz. 03.____Insiste até concluir a tarefa ou o trabalho. 04.____Gosta de cooperar com os outros. 05.____É original, tem sempre novas idéias. 06.____É temperamental, muda de humor facilmente. 07.____É inventivo, criativo. 08.____É prestativo e ajuda os outros. 09.____É amável, tem consideração pelos outros. 10.____Faz as coisas com eficiência. 11.____É sociável, extrovertido. 12.____É cheio de energia. 13.____É um trabalhador de confiança. 14.____Tem uma imaginação fértil. 15.____Fica tenso com freqüência. 16.____Fica nervoso facilmente. 17.____Gera muito entusiasmo. 18.____Gosta de refletir, brincar com as idéias. 19.____Tem capacidade de perdoar, perdoa fácil. 20.____Preocupa-se muito com tudo. 203 Idade: Série: anos Sexo: Feminino Masculino Escola: Pública Privada Muito obrigada pela sua colaboração!!! 204