ead, videojogos e estilos de aprendizagem: uma relação

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XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
EAD, VIDEOJOGOS E ESTILOS DE APRENDIZAGEM: UMA RELAÇÃO
POSSÍVEL
Filomena Maria G. da S. Cordeiro Moita
Universidade Estadual da Paraíba
Resumo
A evolução das tecnologias digitais e sua utilização vêm permeando, de forma sutil,
todos os campos da nossa vida, seja ela pública ou privada. Desde objetos pequenos,
como o telefone celular, dos mais simples aos sofisticados - companheiros de todas as
horas - até as viagens espaciais, que custam 200 mil reais, para se dar uma volta no
espaço por duas horas. E a escola? Nessa corrida de acompanhar o que há de mais
moderno, em termos de tecnologia, a educação não pode ficar de fora. Assim, as
tecnologias digitais vêm criando novas possibilidades de expressão e comunicação e
novas ferramentas que facilitam o processo de ensino e aprendizagem. Com essa
evolução, surgem diferentes videojogos, capazes de ajudar nas várias atividades do
cotidiano escolar, nas modalidades presencial ou a distância. No caso da modalidade a
distância, esses artefatos podem ser disponibilizados através do Moodle, tanto na
possibilidade e-learning quanto na b-learning, em que ele é um espaço destinado ao
desenvolvimento de atividades on-line, para cujo desenvolvimento se utilizam
diferentes tipos de interfaces, com as quais os estudantes podem desenvolver o processo
de aprendizagem, mediados pelo professor. Em combinação com o uso dos artefatos
tecnológicos, neste caso, o videojogo, é preciso atentar para os estilos de aprendizagem
dos alunos, a fim de que tenhamos pleno sucesso. Com o objetivo de investigar a
relação possível entre a educação a distância, os videojogos e os estilos de
aprendizagem, vimos desenvolvendo uma pesquisa numa modalidade b-learning, no
Curso de Mestrado Profissional Ensino de Ciências e Educação Matemática da UEPB,
com alunos que jogam com frequência e como relacionam os jogos eletrônicos e os
estilos de aprendizagem. Uma pesquisa exploratória descritiva adaptou, aplicou e
analisou um questionário validado que relaciona estilos de aprendizagem com a
utilização de recursos tecnológicos. Os dados coletados e a discussão a seu respeito
confirmam que a população investigada - alunos de pós-graduação que são professores
em escolas públicas do ensino médio e superior em formação continuada - interagem de
forma diferenciada com os videojogos. A referida pesquisa, mesmo que isolada, revela,
em seus resultados, a importância da investigação, pois demonstra que intervenções
pedagógicas diversificadas com metodologias diferenciadas é uma necessidade que se
faz presente visando um ensino público de qualidade numa sociedade plural.
Palavras-chave: EAD. Videojogos. Estilos de aprendizagem.
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1 Introdução
A evolução das tecnologias digitais e sua utilização vêm permeando nossa vida,
invadindo todos os espaços públicos ou privados. Nessa corrida de acompanhar o que
há de mais moderno, em termos de tecnologia, a educação não pode ficar de fora.
Assim, as tecnologias digitais vêm criando novas possibilidades de expressão e
comunicação e novas ferramentas que facilitam o processo de ensino e aprendizagem.
Entre essas ferramentas de apoio a atividades de formação e treinamentos antes
tradicionalmente presenciais, diversos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)
vêm sendo continuamente desenvolvidos, testados e aplicados t a n t o em cursos
p r e s e n c i a i s q u a n t o a distância, q u e p o s s i b i l i t a m o e - l e a r n i n g e o
b - l e a r n i n g d e f o r m a envolvente e motivadora. Além disso, oferece um conjunto
de ferramentas para a realização das mais diversas atividades que, combinadas ou
isoladas, promovem uma aprendizagem colaborativa de discentes e docentes que
quebram os obstáculos do distanciamento físico e temporal.
Os AVA oportunizam o uso de outras ferramentas virtuais, entre as quais,
podemos citar os simuladores e os videojogos, que vêm sendo uma alternativa para o
processo de ensinar e aprender e reduzem custos, pois o custo de se utilizar um
simulador é inferior ao necessário para montar um laboratório. Nesse sentido, alguns
laboratórios virtuais e remotos vêm sendo aprimorados a cada dia, apresentando
resultados cada vez mais satisfatórios.
Pesquisas que realizamos em 2011 revelaram que os estudantes que utilizam
videojogos para seu entretenimento têm estilos de aprendizagem próprios. Após essa
investigação, um questionamento permaneceu: e se os videojogos forem utilizados na
modalidade a distância como recurso pedagógico, influenciarão os estilos de
aprendizagem?
Sabemos que, no contexto do ensino a distância, os videojogos e/ou simuladores
são artefatos que, mesmo na impossibilidade de ser incorporados a algumas
plataformas, podem facilitar o processo de ensino e aprendizagem, ainda que, para isso,
seja preciso capacitar os usuários, visando habilitá-los para o uso das aplicações
computacionais, e redesenhar algumas ferramentas para atender às especificidades de
determinados cursos.
A teoria dos estilos de aprendizagem vem contribuindo para a construção do
processo de ensinar e aprender, na perspectiva de que as TIC sejam utilizadas e
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apropriadas. Essa teoria considera as diferenças individuais de cada estudante, é flexível
e conduz à estruturação de estratégias metodológicas apoiadas pelas tecnologias e
adequadas às diferentes especificidades.
Nesse sentido, este texto tem como objetivo investigar a relação possível entre a
educação a distância, os videojogos e os estilos de aprendizagem.
2 Educação a Distância – EAD
A Educação a Distância vem-se alastrando de forma vertiginosa, principalmente
devido ao surgimento e ao crescimento das tecnologias interativas que, cada vez mais,
conquistam espaço e o público pelo fato principal de permitir ver, falar e ouvir tudo em
tempo real.
Voltando um pouco na história, é possível observar que, a partir do Século XX, a
EAD começou a realizar várias experiências, em busca de novas metodologias de
ensino, mediante a utilização do rádio e, posteriormente, da televisão, até o emprego de
artefatos computacionais. Assim, desde o uso dos correios, como meio de comunicação
(usando-se as mídias do tipo cartas), e das fitas-cassete, as formas de comunicação
foram evoluindo e, com o advento da internet e de todas as ferramentas que esse meio
disponibiliza (fórum, chat, hipertexto, e-mail, sites etc.), a educação a distância cresceu
em oferta de cursos que vão desde a graduação até a pós-graduação.
Uma das causas desse aumento e diversidade de oferta de cursos foi o advento
da internet, quando surgiram novos recursos, como, por exemplo, as videoconferências,
produzidas para serem transmitidas via web - palestras ou simulações de uma situação
ou experiências que ajudam os discentes para que possam assistir, interagir em tempo
real e discutir entre si opiniões e ideias, mesmo estando em locais totalmente diferentes
e distantes, realizando, portanto, uma interação de muitos para muitos.
Todos esses avanços levaram ao crescimento das universidades abertas, e com a
criação das universidades virtuais, muitas pessoas passaram a estudar, a fazer seus
cursos superiores com os quais tanto tinham sonhado devido à flexibilidade de tempo
que a EAD oferece (PETTERS, 2003).
Essa flexibilidade de tempo e de espaço possibilita um processo de ensino e
aprendizagem diferenciado, que tem características específicas e leva o discente a
desenvolver os próprios conceitos, a ser sujeito da sua própria aprendizagem. Uma
aprendizagem mediada pela interface do computador e pelas ferramentas que ele
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oportuniza. Isso significa, de modo essencial, substituir a proposta de assistência regular
à aula por uma nova proposta, na qual os docentes ensinam, e os discentes aprendem,
mediante situações não convencionais, ou seja, em espaços e tempos que não
compartilham, o que favorece flexibilidade de tempo e promove a oportunidade para
muitos que não podem estudar em um ambiente presencial.
Essas propostas educacionais só se tornaram possíveis e cada vez mais
facilitadas por causa do uso das tecnologias que avançam de modo acelerado no
cotidiano e impulsionam o homem a assumir uma postura que o coloque em atuação
frente a essa nova realidade. Hoje, é difícil imaginar a realização de determinadas
atividades sem a utilização dessas tecnologias, e o acesso a elas está cada vez mais fácil.
A utilização das tecnologias digitais afeta todos os campos educacionais, em que
a educação a distância se destaca, através das várias metodologias empregadas nos
cursos, com a finalidade de promover a formação do processo de aprendizagem e de
autoaprendizagem dos alunos. Novas interfaces diminuem a distância entre o aluno, o
professor e entre ambos, ao mesmo tempo em que facilitam o processo de
interatividade, que é fundamental para o desenvolvimento de uma aprendizagem
colaborativa.
As TIC foram sendo apropriadas pela EAD e adequadas à realidade de cada
curso (MACHADO, 2003). Elas têm um forte impacto, no que diz respeito ao acesso, e
exigem a capacitação por parte dos professores para que se adéquem às metodologias, à
produção e ao uso de materiais didáticos, assim como o aprendizado de formas
diferentes de comunicação.
Kolb (1984) nos ajuda a entender as experiências desses sujeitos, sejam eles
adultos e/ou jovens adultos, quando fala de sua relação de aprendizagem e os
ambientes virtuais de aprendizagem c o m s u a teoria da aprendizagem experiencial.
Para o autor, o adulto aprende em decorrência de um processo de transformação pela
experiência, que resulta na construção do conhecimento. E l e apresenta duas fases
do processo de aprendizagem do adulto, que denomina de especialização e integração.
Na fase da especialização, o adulto vive e cede aos apelos do ambiente, fruto das
escolhas pessoais e profissionais realizadas. Esse comportamento, de acordo com o
autor, pode significar a-criticidade, na medida em que o adulto se sujeita ao que lhe é
apresentado por conformismo, sem visualizar outras alternativas de mudança e de
escolha. Já na fase de integração, o adulto se conscientiza dos significados de suas
escolhas, percebe suas reais necessidades e compreende profundamente suas
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experiências. Sua atitude frente ao meio passa a ser uma imersão social ativa e crítica, e
não mais uma atitude ingénua.
Essas atitudes do adulto frente ao meio, apresentadas por Kolb, apontam para a
necessidade de delinear novas formas de ensinar e aprender quando a plataforma de
ensino é um ambiente virtual de aprendizagem - tanto a modalidade de ensino elearning quanto a b-learning.
Com a mediação do computador, é oferecida uma variedade de outras interfaces,
como é o caso dos videojogos, que favorecem experiências para o docente e para o
discente, as quais têm permeado nossas pesquisas, impulsionadas por este
questionamento: Qual o papel dessas experiências com os videojogos, no que diz
respeito aos estilos de aprendizagem?
3 VIDEOJOGOS
Os videojogos são uma das consequências do avanço tecnológico e da
convergência dos recursos midiáticos para as telecomunicações, porquanto transformam
o computador em poderosa máquina de comunicação e informação. Nas últimas
décadas, crianças, em todo o mundo, ficam fascinadas com videojogos e passam mais
horas em frente às telas de computador do que a maioria dos seus pais, avós e
professores gostariam. No entanto, esses artefatos estão influenciando a geração digital
na sua forma de aprender. Para Gee (2004), jogar videojogos é ser alfabetizado de uma
nova forma.
Podemos afirmar, então, que, além de serem híbridos, pois, para a sua
elaboração, envolvem-se programação, roteiro de navegação, design de interface,
técnicas de animação e usabilidade, os videojogos são poli e metamórficos, visto que se
transformam em uma velocidade surpreendente e não se deixam agarrar em categorias e
classificações fixas (MOITA, 2007). A interação entre o jovem e/ou o adulto e o
artefato eletrônico ocorre de modo direto no espaço e no tempo, proporcionando
interatividade e motivação, condições indispensáveis para se apreender a atenção para
suas imagens-som.
Paul Gee (2004) concebe os videojogos como uma forma de dotar os usuários
com experiências incorporadoras de princípios cruciais para o desenvolvimento
cognitivo humano e como ferramenta com capacidades efetivas e positivas para
promover educação, já que, de acordo com suas afirmações, aqueles artefatos
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incrementam um potencial de aprendizagem ativo e crítico. No entanto, para que essas
aprendizagens possam ser aproveitadas, os jovens e/ou os adultos têm que aprender a
experimentar o mundo de um modo novo. Sobre isso, Gee (2004, p. 23) afirma:
Quando nós aprendemos a vivenciar o mundo de modo mais ativo,
três princípios estão em jogo: nós aprendemos a experimentar (vendo,
sentindo, mexendo em algo) o mundo de um novo modo;
normalmente esse conhecimento é compartilhado por grupos de
pessoas que carregam histórias de vida e práticas sociais distintas, o
que nos leva a ganhar conhecimento ao nos filiarmos a esse grupo
social e finalmente nós ganhamos recursos que nos preparam para
futuras aprendizagens e resolução de problemas.
Assim, e possível dizer que, numa aprendizagem ativa, estão envolvidas três
ações: experimentar o mundo de formas novas, formar afiliações novas e preparar
aprendizagens futuras. Gee (2004) refere que não basta ser ativo, é necessário ser crítico
e, para isso, entender e produzir significados, ser criativo.
As pesquisas de Gee (2004), Moita (2007) e de outros pesquisadores alertam-nos
para a necessidade de se promover uma mudança nos espaços e nos processos de
educação, na concepção e no desenvolvimento de novas abordagens e novas
metodologias e apropriação de recursos disponíveis para a facilitação de aprendizagens,
nesse caso, on-line.
3.1 Os videojogos na EAD
Uma das aplicações que vislumbram a inserção de jogos no processo de
aprendizagem é a Educação a distância, que ainda não é muito comum, e o jogos,
comumente, acabam sendo utilizados, tanto nos cursos presenciais quanto na EAD,
apenas como forma de reforçar ou testar o conhecimento dos alunos em simples
atividades lúdicas, sem se considerar a importância pedagógica e colaborativa
permitida pelos videojogos.
Não raras vezes, simuladores e jogos de simulação não são projetados levando
em consideração aspectos de colaboração e percepção, questões importantes para que
os alunos e o grupo possam identificar inconsistências em seu raciocínio e interagir de
maneira a trocar informações e referências para auxiliar na resolução de problemas.
Nessa perspectiva, a necessidade de, antes de usar essas ferramentas, os educadores
fazerem uma reflexão de forma a identificar os aspectos lúdicos, os pedagógicos e os
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que viabilizem a colaboração entre os seus usuários.
A incorporação de videojogos e o pensamento de gamification (aplicação de
mecânicas existentes em games em ambientes não games) na EAD é um recurso de
grande importância, porquanto possibilita simular diferentes situações, planejar e
antecipar ações, criar estratégias para a resolução dos problemas e desenvolver a
autonomia e os estilos próprios de aprendizagem.
Para aplicar os videojogos d e f o r m a m a i s a d e q u a d a , como ferramenta
integrada ao processo de ensino e aprendizagem
em
cursos à
distância,
é
importante que os ambientes virtuais de aprendizagem deem suporte à integração
desses artefatos, o que, geralmente, não é uma tarefa fácil, pois envolve aspectos
técnicos e de design instrucional para a construção e a utilização desses artefatos no
processo de desenvolvimento de um curso.
Algumas plataformas possibilitam a incorporação de videojogos, como
comprovou a pesquisa desenvolvida por Rodrigues (2012) com a plataforma
AMADEUS, e outras, como é o caso do Moodle, por meio do qual é possível colocar
links, e os usuários jogam fora do ambiente.
Utilizar os recursos que os videojogos oferecem é prover informações que
estimulem a cooperação e levam a uma aprendizagem ou reforço de aprendizagem de
forma lúdica, crítica e colaborativa. Para isso, cada um desenvolve ou aprimora
estilos próprios de aprendizagem.
Por isso, é pertinente que se compreenda, empiricamente, se aqueles que têm a
oportunidade de interagir com essas interfaces têm estilos de aprendizagem
diferenciados. Não que estejamos procurando um estilo específico, mas quais os estilos
de aprendizagem.
4 Estilos de aprendizagem
Esse conceito, já com algumas décadas de existência, surgiu como uma forma de
combinar conhecimentos sobre os processos cognitivos e emocionais de um indivíduo
(MONREAL, 2000).
Frequentemente, são confundidos vocábulos como estilos cognitivos, estilos de
aprendizagem e inteligência. Os estilos cognitivos, de acordo com Lopez (apud
BARROS, 2001), são caracterizados como consistências no processamento de
informação, maneiras típicas de perceber, recordar, pensar e resolver problemas.
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A inteligência refere-se à capacidade, e os estilos de aprendizagem são maneiras
pessoais de processar informação, sentimentos e comportamentos em situações de
aprendizagem, ou seja, são maneiras preferidas de se empregarem as capacidades.
Alonso e Gallego (2002), com base nos estudos de Keefe (1988), definem os estilos de
aprendizagem como traços cognitivos, afetivos e fisiológicos, que servem como
indicadores relativamente estáveis de como os alunos percebem, interagem e respondem
aos seus ambientes de aprendizagem.
Há diversos modelos que explicam os estilos de aprendizagem, um dos mais
conhecidos é o modelo de Gardner (1993), que os classifica de acordo com os tipos de
inteligência. Esse modelo é fundamentado na teoria das inteligências múltiplas (lógicomatemático, linguístico-verbal, corporal-sinestésico, espacial, musical, interpessoal,
intrapessoal e naturalista).
Para Myers e Briggs (1967), podem-se observar as preferências dos estudantes
de acordo com a sua personalidade. Felder e Silverman (1988) afirmam que essa
preferência pode ser vista de acordo com a categoria bipolar (ativo/reflexivo,
sensorial/intuitivo, visual/verbal e sequencial/global).
A teoria da aprendizagem desenvolvida por Kolb (1976) salienta quatro estilos o acomodador, o divergente, o assimilador e o convergente - com base no modo de
processar a informação, os quais são baseados em um círculo de aprendizagem de
quatro estágios (o que poderia também ser interpretado como um círculo de
treinamento).
Honey e Munford (1986) fazem uma adaptação das ideias e das análises de Kolb
(1981 apud Alonso, Honey e Gallego, 2002), diferenciando-se dele em dois aspectos: as
descrições dos estilos são mais detalhadas e se baseiam na ação dos diretivos.
Em 1991, na Espanha, Catalina Alonso Garcia (BARROS, 2009) trouxe para o
campo da educação as teorias de Honey e Mumford, que foram desenvolvidas na
perspectiva da Psicologia e da área empresarial, e não, especificamente, na educação.
Barros et al (2007) alargam a teoria dos estilos de aprendizagem para o âmbito do
espaço virtual, desenvolvendo um instrumento de identificação dos estilos de uso da
internet. Eles asseveram que os elementos e as características do espaço virtual
possibilitam o processo de ensino e aprendizagem como novas formas de apreender as
informações e de desenvolver as competências e habilidades do indivíduo. A
aprendizagem no espaço virtual envolve uma série de elementos que passam pelo
conceito e pelas características do virtual. As variáveis de construção se estabeleceram
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considerando-se as divisões dos estilos de aprendizagem, e as características dos
espaços virtuais, em particular, os jogos eletrônicos, convertidos em verbos de ação.
Sobre o estilo de aprendizagem ativo, é possível identificar o modo como os
jogos eletrônicos são utilizados, através de ações diretamente relacionadas à avaliação, à
abstração pela visualização de imagens, à generalização, à atenção e aos aspectos
relacionados à Biologia. Portanto, as ações de uso de espaço se caracterizam por buscar,
participar, subir, encontrar e localizar.
Para o estilo de aprendizagem reflexivo, destacamos que é possível identificar o
uso dos jogos eletrônicos, através de ações diretamente relacionadas à cognição, ao
pensamento, aos conceitos abstratos, à teoria e aos aspectos psicológicos. Então, as
ações de uso da virtualidade têm a função de investigar, analisar, observar, interpretar e
adquirir.
No que diz respeito ao estilo de aprendizagem teórico, os estilos de uso
cognitivos da virtualidade podem ser identificados através de ações relativas ao
planejamento, às estratégias, aos projetos e aos aspectos sociais. Portanto, no uso da
virtualidade, destacam-se as seguintes ações: planejar, estruturar, construir, organizar e
selecionar.
Quanto ao estilo de aprendizagem pragmático, podem-se evidenciar os estilos de
aprendizagem do uso dos jogos eletrônicos por meio de ações que envolvem
experimentos, práticas, objetividade, eficácia e realismo. Então, a virtualidade é
articulada por meio de ações como: usar, realizar, elaborar, praticar e experimentar.
Fundamentada nesses elementos norteadores e com a teoria dos estilos de
aprendizagem, Barros (2009) desenvolveu o instrumento de identificação do estilo de
uso do espaço virtual e, com os resultados da investigação, delineou o perfil do usuário.
Esses estilos são assim denominados: estilo de uso participativo, estilo de busca e
pesquisa, estilo de estruturação e estilo concreto e de produção.
Tomando-se os jogos eletrônicos como um espaço virtual, adaptamos o
instrumento de modo a contemplar essa especificidade, utilizando a classificação já
estabelecida por Alonso e Gallego (2002), de acordo com as preferências do uso dos
jogos eletrônicos.
Apresentamos, a seguir, em síntese, suas principais características:
A. Estilo ativo - Predomina em pessoas que gostam de novas experiências,
buscam novos jogos com frequência e entusiasmam-se com desafios, por serem
improvisadoras, descobridoras e aventureiras. Como gostam de liderar, estão sempre
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jogando em grupo, são voluntariosas e se envolvem com os assuntos dos outros,
portanto, são solucionadoras de problemas.
B. Estilo reflexivo: Essa é uma característica das pessoas que procuram mais de
uma fonte de informação para analisar a qualidade de seu jogo. Por serem observadoras
e prudentes, preferem jogos indicados por terceiros e os analisam e selecionam com
cuidado para outro momento.
C. Estilo teórico: São mais dotadas desse estilo as pessoas que tendem a ser
perfeccionistas e sempre seguem uma ordem lógica das etapas. Analisam criticamente
os jogos, sempre um por vez, e generalizam suas convicções pessoais, também para os
jogos, e os publicam na web.
D. Estilo pragmático: Englobam-se nesse estilo os pragmáticos que gostam de
novos jogos e aproveitam a primeira oportunidade para experimentá-los. Não utilizam
as comunidades para teorizar seus procedimentos; são rápidos nas tomadas de decisão,
sempre realistas e práticos. Por serem indivíduos organizados, planejam o tempo gasto
com os jogos.
Entre os estudos que têm sido desenvolvidos sobre os estilos de aprendizagem,
podemos destacar os de Curry (1983), que fez uma revisão da literatura existente e
constatou que, entre 47 estudos, a maioria apresenta resultados positivos em relação à
melhoria no desenvolvimento escolar, quando são utilizadas estratégias condizentes
com a teoria dos estilos de aprendizagem. Os resultados positivos indicam, geralmente,
que o aprendizado do estudante pode melhorar, adaptando-se a modalidade educativa a
cada estilo de aprendizagem.
Nesse sentido, consideramos sobremaneira importante esta investigação, no
sentido de procurar saber se existe relação possível entre esses estilos de aprendizagem
e a utilização dos videojogos utilizados por alunos na modalidade de educação a
distância.
5 Metodologia: coleta e análise dos dados
Pesquisa em andamento, de caráter exploratório e descritivo, cujo objetivo foi
investigar a relação entre EAD, videojogos e estilos de aprendizagem, buscando
encontrar quais estilos predominam nos indivíduos que jogam com frequência, com a
finalidade de servirem como referência para futuras aplicações e utilizações desse
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espaço, visando ao desenvolvimento de novos procedimentos metodológicos para o
processo de ensino-aprendizagem na modalidade de ensino a distância.
A investigação vem sendo desenvolvida na modalidade b-learning, no Curso de
Mestrado Profissional de Ensino de Ciências e Educação Matemática da UEPB, com
cinco sujeitos (quatro do sexo masculino e um do sexo feminino), com idades entre 32 e
25 anos, que moram na Paraíba e são ex-alunos do Curso de Licenciatura em
Matemática na modalidade a distância.
Foi realizada em três etapas: na primeira, foi realizado o levantamento do perfil
dos entrevistados, por meio das seguintes questões: Você gosta de jogar? Você joga
como entretenimento ou também para estudar? Tem algum videojogo que você
destacaria como útil para aprender matemática? Já utilizou os videojogos em alguma
disciplina durante o curso na modalidade EAD? Após essa aplicação, foram
selecionados cinco alunos, partindo-se do critério “gostar de jogar videojogos e de jogar
com frequência, seja para se entreter, seja para estudar. Com o apoio do sistema moodle,
colocamos no fórum de discussão o link do videojogo o angrybirds e solicitamos que
analisassem o videojogo e suas contribuições para a aprendizagem de matemática.
Partimos, então, para a segunda, que consistiu na aplicação do questionário:
Estilo de uso do jogo eletrônico como espaço virtual (questionário já aplicado em
pesquisa anterior só com jogadores sem a especificidade de EAD). O instrumento
elaborado está dividido em 40 questões, que classificam em estilo de uso do videojogo
como espaço virtual.
Na terceira etapa, analisamos os dados já coletados. A pesquisa ainda está em
andamento, mas já aponta algumas peculiaridades dos sujeitos, quais sejam: a
preocupação em planejar estratégias pessoais para obtenção dos objetivos como também
a boa memorização dos caminhos já traçados nos jogos. Para Gee (2004), a interação
com os videojogos vai refletir no aluno quando planeja as etapas de pesquisa, pois, tal
como aquela, eles ajudam no traçado de objetivos, no levantamento e no teste de
hipóteses e oportunizam a realização das ações e de seus resultados. Ou seja, a
simulação oportunizada pelos videojogos permite prever ações futuras além de reflexão,
observação e prudência, o que aponta para uma característica do estilo reflexivo.
Outra característica evidenciada é o estilo ativo, pois, como estudantes da
modalidade EAD, desenvolvem várias atividades e, ao mesmo tempo em que jogam,
falam no fórum, realizam atividades solicitadas no sistema, falam no MSN para realizar
as atividades num sistema colaborativo de aprendizagem etc.. O videogame permite a
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ação e a interação. O jogador age, e o jogo reage, e isso leva o jogador a atuar
novamente. Nos bons jogos, os jogadores têm o sentimento de que suas ações e suas
decisões – e não somente as do criador – participam da cocriação do mundo em que se
encontram e das experiências que vão vivendo (GEE, 2007).
Nessa perspectiva, os dados coletados revelam que os cinco sujeitos da pesquisa
contemplam os estilos ativos e reflexivos. Suas preferências se caracterizam por
investigar, analisar, observar, interpretar e adquirir. Consideramos esses resultados de
suma importância para uma reflexão, no que diz respeito ao desenvolvimento de
material didático e metodologias para a EAD.
6 Algumas reflexões
Embora se trate de um estudo que ainda está em andamento e, portanto, com
uma amostragem pequena, não podemos generalizar os dados. Mesmo assim, os
resultados obtidos confirmam que temos que pensar que nossa sala de aula – tanto a
presencial quanto na modalidade a distância - é composta por um grupo heterogêneo o
que aponta para a necessidade de repensar nossas práticas e elaborar metodologias
diferenciadas.
Os dados coletados e a discussão a seu respeito confirmam que a população
investigada - alunos de pós-graduação que são professores em escolas públicas do
ensino médio e superior em formação continuada - interagem com os videojogos e
desenvolvem estratégias próprias de aprendizagem. A referida pesquisa, mesmo que
isolada, revela, em seus resultados, a importância da investigação, pois demonstra que é
preciso promover intervenções pedagógicas diversificadas, com metodologias
diferenciadas, visando a um ensino público de qualidade, numa sociedade plural.
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Junqueira&Marin Editores
Livro 2 - p.000401
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