INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS MISSÃO Desenvolver e promover informações científicas sobre o manejo responsável dos nutrientes de plantas para o benefício da família humana N0 122 JUNHO/2008 SIMPÓSIO DISCUTE COMO UTILIZAR INSUMOS E RECURSOS PARA OTIMIZAR A PRODUTIVIDADE DO MILHO Silvia Regina Stipp e Abdalla1 Luís Ignácio Prochnow2 Antonio Luis Fancelli3 C omo utilizar os insumos e recursos relacionados à adequada nutrição das plantas para otimizar a produtividade do milho – esta foi a tônica do Simpósio sobre Nutrição e Adubação do Milho ocorrido em abril último na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, sob a coordenação dos professores Antonio Luis Fancelli e Durval Dourado Neto, do Departamento de Produção Vegetal. O evento teve como objetivos a atualização de informações e a apresentação das principais inovações tecnológicas relacionadas à nutrição e adubação da cultura. Palestras, debates e apresentação de novos produtos fertilizantes integraram as atividades do programa. Uma visão geral dos dez temas discutidos é apresentada a seguir. Veja também neste número: IPNI em Destaque ............................................... 25 Gesso na agricultura .......................................... 26 Divulgando a Pesquisa ...................................... 28 Painel Agronômico ............................................ 29 Cursos, Simpósios e outros eventos ................. 30 Publicações Recentes ........................................ 31 Ponto de Vista .................................................... 32 DINÂMICA E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES E NOVAS TENDÊNCIAS DA NUTRIÇÃO DE PLANTAS – Godofredo Cesar Vitti, ESALQ/USP; Pedro Henrique de Cerqueira Luz, FZEA/USP; André Luís do Amaral Alfonsi, ESALQ/USP; email: [email protected] Nos climas tropicais, a produtividade das culturas está diretamente relacionada à fertilidade e à água disponível do solo, sendo a fertilidade possível de ser modificada pelo emprego da correção do solo e da adubação e a quantidade de água disponível por intermédio da irrigação e do sistema de manejo. Entre os fatores de produção de milho, a adubação é responsável por grande parte dos custos totais, e isto é motivo de preocupação quando se considera que o aumento no preço médio dos fertilizantes no último ano praticamente duplicou. Segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), o preço médio da tonelada de fertilizante NPK na fábrica passou de cerca de US$ 300,00, em março de 2007, para US$ 520,00, em março de 2008, totalizando aumento médio de 73%. Abreviações: ANDA = Associação Nacional para Difusão de Adubos; CTC = capacidade de troca de cátions, CTA = capacidade de troca de ânions, M.O. = matéria orgânica, IBDU = isobutilidene diuréia, SCU = uréia recoberta com enxofre, CDU = crotonilidene diuréia, DCD = dicianodiamida, DMPP = fosfato de 3,4 dimetil pirazole, PPD = fenil-fosforodiamidato, NBPT = tiofosfato de N-n-butiltriamida; MPMFs = melhores práticas de manejo de fertilizantes 1 Engenheira Agrônoma, M.S., IPNI; e-mail: [email protected] Engenheiro Agrônomo, Doutor, diretor do IPNI Brasil; e-mail: [email protected] 3 Engenheiro Agrônomo, Doutor, Docente do Departamento de Produção Vegetal, ESALQ/USP; e-mail: [email protected] 2 INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE - BRASIL Rua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - Website: www.ipni.net - E-mail: [email protected] 13416-901 Piracicaba-SP, Brasil INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 1 Este aumento de preços no mercado mundial deve-se basicamente ao aumento da demanda de fertilizantes para produção de alimentos, principalmente pela China e pela Índia, e para produção de biocombustíveis, com destaque para a cultura de milho nos Estados Unidos. Aliado ao aumento no consumo de fertilizantes no mundo, outros fatores contribuíram para o aumento nos preços, como: menor oferta do produto no mercado; aumento no preço das matérias-primas, como enxofre e petróleo; aumento no custo do frete, tanto de navios quanto rodoviários e ferroviários, e demora para descarga dos produtos nos portos, gerando grande despesa com a taxa de demurrage. Diante deste cenário, é fundamental que o manejo da adubação e nutrição de plantas vise a máxima eficiência na utilização de fertilizantes para reduzir os custos e tornar o sistema sustentável. Assim, deve-se utilizar fontes corretas de fertilizantes, na dose certa, no local correto e na época adequada. Além disso, é imprescindível o conhecimento da dinâmica dos nutrientes no solo e a adoção de práticas complementares, como correção do solo, práticas conservacionistas, plantio direto, entre outras. No diagrama abaixo é apresentado um esquema simplificado do equilíbrio dos elementos no solo: b) Capacidade de troca de ânions (CTA): influenciada por natureza dos colóides do solo, pH do solo, concentração da solução de equilíbrio, valência dos ânions, cátions associados; c) Adsorção química (fixação): ocorre tanto para ânions (H2PO4- e H4SiO4) como para cátions (Zn2+, Cu2+, Fe2+, Mn2+ e Ca2+) e é influenciada por pH, textura do solo (teores de argila e matéria orgânica) e ordem de retenção dos elementos (força dos elementos na superfície dos colóides). d) Reações de precipitação e solubilização; e) Reações de oxi-redução. As raízes absorvem da solução do solo os elementos que entram em contato direto com as suas superfícies por meio de três mecanismos: interceptação radicular, fluxo de massa e difusão. Dados obtidos com a cultura do milho em solo fértil indicam que apenas as necessidades de Ca poderiam ser completamente supridas por interceptação radicular, embora parte significativa das necessidades da planta em Mg, Mn e Zn possam também ser providas por este mecanismo. O esquema abaixo apresenta os elementos que são absorvidos por fluxo de massa e por difusão: Fluxo de massa Ânions: Cátions: Cl > H3BO3 > NO3- > SO42- > MoO42Na+ > K+ > NH4+ > Mg2+ > Ca2+ - Difusão H2PO4- > Cu2+ > Mn2+ > Zn2+ > Fe2+ Analisando esses dados, juntamente com os dados apresentados na Tabela 1, podem ser inferidas informações importantes para o manejo adequado dos fertilizantes, quais sejam: M = nutriente C = Capacidade Q = Quantidade Poder tampão = Q/I I = Intensidade Os elementos estão presentes no solo em sua quase totalidade na fase sólida, adsorvidos ou fazendo parte do complexo coloidal (matéria orgânica + fração argila). Da fase sólida, uma diminuta proporção é liberada para a solução do solo, originando-se, então, um equilíbrio, geralmente complexo, entre M-sólido e M-solução. Na solução do solo os elementos movimentam-se em direção à superfície das raízes (ou vice-versa), onde são transportados para o interior da planta. Analisando-se o esquema acima observa-se que quando um fertilizante é aplicado no solo ele pode ter diferentes destinos: a) Permanecer na solução do solo (fator Intensidade = I), sendo posteriormente absorvido pelas raízes das plantas (M-raiz) e daí transportado para a parte aérea (M-parte áerea); b) Ser adsorvido pela fração coloidal, constituída pela matéria orgânica e argila (M-sólido), caracterizando o fator Quantidade; c) Ser lixiviado (M-lixiviação). As relações mantidas entre os elementos na fase sólida e na solução do solo, regidas pelas leis de equilíbrio químico, são afetadas pelos seguintes fatores do solo: a) Capacidade de troca de cátions (CTC): influenciada por tipos e teores dos materiais coloidais, valência dos cátions, grau de hidratação, efeito de diluição, pH do meio e adsorção específica de ânions; 2 • Os nutrientes que entram em contato com as raízes por fluxo de massa exigem mais cuidado na adubação pois podem provocar toxidez (absorção de luxo) ou ser perdidos por lixiviação (contaminação do lençol freático), como Cl- (adicionado através do KCl), NO3-, H3BO3, SO42- e particularmente K+, em solos arenosos, com baixo poder tampão em K. Para esses elementos, parte da adubação pode ser aplicada em cobertura. • Os nutrientes que entram em contato com as raízes por difusão apresentam também efeito residual no solo, principalmente o H2PO4- e os micronutrientes metálicos (Zn, Cu, Mn e Fe), devendo ser aplicados de forma localizada no sulco de semeadura; • No caso do K, que apresenta alto índice salino, recomenda-se, em culturas anuais, a aplicação de no máximo 60 kg ha-1 de K2O no sulco de plantio. Para doses superiores a esta, aplicar parte em pré-plantio, quando em solos argilosos (CTC > 6,0 cmolc dm-3), e parte em pós-plantio, em cobertura, quando em solos arenosos. • Em culturas perenes já instaladas e em culturas anuais que apresentam fases de maior exigência, os micronutrientes metálicos Zn, Mn e Cu devem preferencialmente ser aplicados via foliar, devido à alta reatividade com o solo. No caso de cana-de-açúcar e mandioca, estes micronutrientes podem ser aplicados via tolete ou maniva, respectivamente. • Em leguminosas, Mo e Co podem ser aplicados via semente, tendo em vista as baixas doses utilizadas desses elementos (20 g ha-1 de Mo e 2 a 5 g ha-1 de Co). No sistema convencional de plantio, pode ser baixo o aproveitamento dos adubos aplicados no solo, variando de 50%-70% INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Tabela 1. Relação entre processo de contato e localização dos fertilizantes. Processo de contato Elemento Interceptação Fluxo de massa Difusão Localização dos fertilizantes - - - - - - - - - - - - - - - - (%) do total) - - - - - - - - - - - - - - - N 1 99 0 Distante, em cobertura (parte) P 2 4 94 Próximo das raízes K 3 25 72 Próximo das raízes, em cobertura Ca 27 73 0 A lanço Mg 13 87 0 A lanço S 5 95 0 Distante, em cobertura (parte) B 5 95 0 Distante, em cobertura (parte) Cu 15 5 80 Próximo das raízes Fe 40 10 50 Próximo das raízes Mn 15 5 80 Próximo das raízes Mo 5 95 0 A lanço Zn 20 20 60 Próximo das raízes Fonte: Modificada de MALAVOLTA et al. (1997). para N, 20%-30% para P2O5 e 60%-70% para K2O, pois os nutrientes são perdidos mais facilmente por erosão, lixiviação, volatilização e fixação no sistema solo-planta-atmosfera. Na prática da adubação eficiente e racional o programa inicia-se com a amostragem e a análise de solo, continua com as práticas corretivas (principalmente calagem, gessagem e fosfatagem), com a adoção do sistema de plantio direto e da integração lavourapecuária, e termina com a utilização de fertilizante mineral. A prática da calagem é a primeira medida a ser adotada no manejo químico de solos tropicais ácidos. Deve ser realizada visando manter o pH da solução ao redor de 5,5 a 6,5 (em água), no qual há equilíbrio na disponibilidade dos nutrientes. A calagem de solos ácidos aumenta a disponibilidade de N para as plantas devido à maior mineralização do N orgânico e/ou maior fixação do N do ar por bactérias fixadoras livres ou simbióticas. Além do N, a disponibilidade de S, e até certo ponto do B, é estreitamente ligada à decomposição microbiana da matéria orgânica (M.O.). Em pH baixo, o fósforo da solução do solo precipita com Al, Fe e Mn, porém, quando o pH é corrigido, esses elementos se precipitam e o fósforo fica mais disponível. Em um dado pH, a adsorção química dos micronutrientes metálicos é tanto maior quanto maior o teor de óxidos e hidróxidos de Fe e Al, de argilas 1:1 e de M.O. (esta apenas para os cátions metálicos) do solo devido ao maior número de sítios de adsorção. Em conseqüência, após a adição de fertilizantes, a concentração dos elementos na solução será maior nos solos de textura leve. Contudo, com a absorção pelas plantas, nestes solos há maior decréscimo na concentração dos elementos na solução (baixo poder tampão) do que nos solos de textura mais argilosa e com maior teor de matéria orgânica (alto poder tampão). Assim, solos com alto poder tampão necessitam, em geral, de adubações mais pesadas; porém, estes não se esgotam tão rapidamente quanto os solos de baixo poder tampão. Para um mesmo efeito na nutrição das plantas, os micronutrientes metálicos (Zn, Cu, Fe, Mn e Co), e mesmo o boro, devem ser adicionados em doses maiores em solos potencial- INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 mente mais férteis, como os argilosos, em relação aos solos arenosos, menos férteis. É importante ressaltar que os micronutrientes metálicos devem ser aplicados no solo de forma localizada, no sulco de plantio. Em culturas perenes já instaladas, a aplicação mais eficiente é via foliar. Os solos de clima temperado, por conterem, de modo geral, maiores teores de M.O. e de argilas 2:1, apresentam maior CTC, maior fertilidade e menor lixiviação de cátions quando comparados aos solos tropicais, com menores teores de M.O. e predominância de argilas 1:1 e de óxidos de Fe e Al. Logo, a adoção do plantio direto e/ou cultivo mínimo é fundamental em climas tropicais para aumentar o equilíbrio do sistema por meio de: menores perdas por erosão e lixiviação, maior reciclagem de nutrientes, redução na fixação de H2PO4-, menor nitrificação do amônio e formação de complexos com cátions. Em média, a contribuição da M.O. na CTC do solo tropical é de 74% para os horizontes superficiais. A produção de matéria seca e sua longevidade no solo variam de acordo com o sistema de produção empregado, as espécies anuais exploradas e o clima de cada região. Na integração lavoura-pecuária, o Sistema Santa Fé tem sido um dos sistemas preferidos por produzir palhada de alta qualidade para o plantio direto. A partir do consórcio de culturas anuais – milho, sorgo, milheto, arroz de terras altas – com forrageiras, principalmente braquiárias, este sistema proporciona palhada para o sistema de plantio direto ou a produção de forragens para a entressafra, podendo abrigar parte representativa do rebanho bovino no período da seca (Figura 1). Em áreas de primeiro cultivo, ou áreas de baixa fertilidade com pastagens degradadas, onde a pluviosidade não é favorável para o cultivo de safrinha, pode-se cultivar soja ou arroz na abertura, seguida de sorgo ou milheto antes do cultivo do milho + braquiária. Dentre as espécies de braquiária empregadas, a Brachiaria brizantha é a mais aconselhável, pois produz mais matéria seca e proporciona maior reciclagem de nutrientes, como mostram os dados da Tabela 2. 3 anos, a tendência é de aumento não só na área de plantio como também no uso de insumos, entre eles o de N. Diante deste cenário, é urgente a busca de novas tecnologias para diminuir o custo de produção de alimentos. Figura 1. Integração lavoura-pecuária – Sistema Santa Fé. Tabela 2. Reciclagem de nutrientes por braquiárias com alta produção de matéria seca. Nutriente B. brizantha 17 t ha-1 ano-1 B. decumbens 10 t ha-1 ano-1 B. ruziziensis 9 t ha-1 ano-1 Nitrogênio 289 170 153 Fósforo 34 20 18 Potássio 340 200 180 Cálcio 85 50 45 Magnésio 51 30 27 Enxofre 17 10 9 De acordo com a Tabela 2, o cultivo de B. brizantha tem grande importância na reciclagem de N e K, principalmente. Além disso, a elevada relação C/N desta gramínea possibilita que a palhada permaneça mais tempo no solo. Em certos casos, recomendase a aplicação antecipada do N para evitar a imobilização do mesmo pelos microrganismos decompositores da palha. Considerando o aumento do aproveitamento dos nutrientes no perfil do solo, principalmente pelo aumento no volume do sistema radicular das plantas, com a adoção das recomendações e práticas citadas, a tendência é de que as doses da adubação de manutenção possam ser reduzidas. REALIDADE E PERSPECTIVAS PARA O USO DE AZOSPIRILLUM NA CULTURA DO MILHO – Solon C. de Araujo, Sócio-Diretor da SCA, Consultor da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes; email: [email protected] A Revolução Verde, ocorrida nas décadas de 60 e 70, proporcionou grande incremento na produtividade das culturas e na oferta de alimentos, reduzindo significativamente o índice de fome nos países em desenvolvimento. Atualmente, as condições para a produção agrícola estão críticas, os custos dos insumos aumentaram sem o correspondente aumento na renda dos produtores e alguns países do mundo encontram-se no limiar da fome. Tomando-se como base a área cultivada com milho no Brasil, que é da ordem de 14 milhões de hectares (duas safras ao ano), e um consumo de 50 kg ha-1 de N – média entre lavouras com alto, médio e baixo uso de tecnologia – tem-se um consumo médio anual de 700 mil toneladas de N. Com os preços das commodities agrícolas em alta, o que parece ser um fato a ser mantido por alguns 4 O Brasil se destaca no mundo por utilizar o melhor sistema de inoculação da soja – fixação biológica de nitrogênio – em programa integrado entre melhoristas e microbiologistas. O uso de Rhizobium como insumo agrícola se firmou de tal maneira, com excelentes trabalhos de pesquisa, que já se pode colher acima de 4 t ha-1 de soja usando-se como fonte de N exclusivamente a fixação biológica de nitrogênio. Já se vislumbra muito claramente a possibilidade do uso da fixação biológica de N para maior aporte deste elemento também na cultura de milho, bem como em outas culturas. Caso não seja possível a substituição da totalidade do N, pode-se diminuir substancialmente o uso do elemento e, conseqüentemente, reduzir os custos da lavoura e de energia não renovável no país, pois, para que ocorra a reação básica de transformação do N em amônia (N2 + 3H2 = 2NH3), em laboratório ou na indústria de fertilizantes nitrogenados, é necessário um elevado gasto de energia (500oC e 200 atm de pressão). No ambiente natural, a reação ocorre à temperatura ambiente nas bactérias ou nos nódulos devido à presença da enzima nitrogenase, que cataliza a reação e faz com que o processo ocorra a níveis bem menores de energia. A bactéria consome energia da planta (açúcares) mas esta é compensada pelo aporte de N fornecido ao sistema. Os organismos envolvidos na fixação de N, definidos de acordo com seu sistema de relacionamento com as plantas, podem ser: • Fixadores simbióticos: Rhizobium, Bradyrhizobium, Sinorhizobium. Já estão incorporadas ao sistema produtivo e já fazem parte da rotina de um grande número de agricultores, principalmente os produtores de soja. • Fixadores assimbióticos não associativos: Azotobacter, Derxia, Beijerinckia, Clostridium. Vivem em vida livre no solo, fixam o N e o incorporam ao solo. A quantidade de N trazida por estas bactérias para o sistema solo é muito variável, estimando-se em 10 a 15 kg ha-1, dependendo do solo, da temperatura e de outros fatores. • Fixadores assimbióticos associativos: Azospirillum, Azotobacter, Glucanoacetobacter, Herbaspirillum, Burkholderia. Formam um sistema associativo com as plantas, mas sem a complexidade da formação de nódulos. O gênero Azospirillum está dividido em seis espécies: Az. lipoferum, Az. brasilense, Az. amazonense, Az. irakense, Az. halopraeferans, Az. largimobile, Az. dobereinerae. As espécies mais estudadas para uso em inoculantes são a Azospirillum lipoferum e a Azospirillum brasilense. Além da divisão em espécies, estas são subdivididas em estirpes, selecionadas de acordo com a sua capacidade de fixar N, produzir fitohormônios e compatibilidade com diferentes espécies vegetais e cultivares. O Azospirillum é bactéria aeróbica, fixadora de N, gram negativa, espiralada, móvel, com flagelo polar e cílios laterais, que realiza todas as fases do ciclo do N, exceto a nitrificação, e transfere apenas 20% do N fixado para a planta. Esta última característica é um dos fatores limitantes para o desenvolvimento de produtos, embora não anule a utilidade da tecnologia. As características benéficas do Azospirillum como inoculante são: a bactéria é endofítica, ou seja, penetra na raiz das plantas; apresenta antagonismo a agentes patogênicos; associa-se com INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 várias gramíneas (milho, trigo, sorgo, arroz, e outras) e com nãogramíneas (morango, tabaco, café e outras); produz fitohormônios; não é muito sensível às variações de temperatura e ocorre em todos os tipos de solo e clima. Um dos fatores que se deve levar em consideração na seleção de estirpes para inoculação é a sua capacidade de competir com aquelas já existentes no solo, pois, embora seja uma vantagem o fato da bactéria ser pouco exigente em relação às condições de solo para fixar N, isso torna mais difícil a introdução de estirpes de bactérias com maior capacidade de fixação, devido à competição. Comenta-se muito sobre a inconsistência dos dados até agora obtidos com inoculantes à base de Azospirillum em milho. Entretanto, este mesmo argumento ocorria há anos, quandos os ensaios experimentais com a inoculação da soja ainda apresentavam poucos resultados no cerrado, e atualmente, a soja já pode ser cultivada exclusivamente com um bom inoculante para suprir N, sem a necessidade de adubos nitrogenados. Dados levantados por Okon e Labandera em 20 anos de experimentação com A. brasiliense e A. lipoferum em diversas culturas no mundo mostraram que em 60% a 70% dos ensaios os resultados foram positivos, com incrementos de 5% a 30% na produtividade. Em geral, o uso do inoculante proprociona redução de 40% a 50% no uso de fertilizantes nitrogenados. Embora o estudo desta bactéria tenha sido iniciado no Brasil, outros países se adiantaram no seu uso agrícola, como Israel, África do Sul, México e, mais recentemente, Argentina. Na África do Sul a bactéria é utilizada em 150.000 ha de milho e 12.000 ha de trigo e no México é usada em 100.000 ha de milho, promovendo um ganho de produtividade da ordem de 30%. No Brasil, os trabalhos de pesquisa com a bactéria se concentraram principalmente na Embrapa Agrobiologia, a partir dos trabalhos iniciais da Dra. Johanna Dobereiner, como também na Embrapa Soja e na Embrapa Cerrados. Embora ainda não comercializados no Brasil, os produtos desenvolvidos por indústrias, em geral em cooperação com entidades de pesquisa, são em forma de pó, com base em turfa, e na forma líquida, com protetores celulares que mantém a viabilidade das bactérias ao longo de vários meses. Atualmente, já existe um volume expressivo de dados que permitem que se recomende, com grande margem de segurança, o desenvolvimento de pesquisas tanto em relação à eficiência agro- (A) nômica como em relação à tecnologia de produção dos inoculantes à base de Azospirillum para milho e trigo. A Figura 2 ilustra os benefícios do uso de Azospirillum em milho, em pesquisa realizada pela Embrapa no cerrado. Nota-se que a bactéria promoveu acréscimo substancial na produtividade do milho quando se aplicou a dose recomendada de N, de 100 kg ha-1, resultando um aumento de 20% na produtividade. Figura 2. Benefícios do uso de Azospirillum em milho. Fonte: adaptada de Reis Júnior e outros (1998). Trabalho realizado na Argentina ilustra o aumento significativo na altura da planta e no crescimento do sistema radicular de milho inoculado com Azospirillum (Figura 3). Considerando os inúmeros trabalhos existentes comprovando a eficácia da fixação de N pelo Azospirillum, é necessário vencer os desafios que existem para o desenvolvimento da tecnologia, relacionados à genética, ao produto, à pesquisa agronômica e ao consumidor, quais sejam: • Fatores genéticos: seleção de estirpes mais competitivas com as bactérias existentes no solo, com maior poder de fixação de N, menos sensíveis a fatores do solo causadores de estresses e com baixa taxa de mutação espontânea. • Fatores relacionados ao produto: concentração e dose de inoculantes, meio de cultura adequado, parâmetros de fermentação, embalagem, tempo de prateleira, condições de armazenamento. (B) Não inoculado Inoculado Inoculado Não inoculado Figura 3. Efeito do Azospirillum braziliense no crescimento de raízes (A) e no desenvolvimento de plantas de milho (B). INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 5 • Fatores agronômicos: melhoramento do milho levando em consideração a fixação biológica do nitrogênio; competitividade de estirpes do inoculante em relação às estirpes do solo; uso de inoculante em conjunto com outros produtos utilizados na semente; influência de outros nutrientes, em especial Mo e Co no processo de fixação; condições de solo que afetam o processo de fixação de N; número ideal de bactérias por semente. • Fatores relacionado ao agricultor: conhecimento e confiança na técnica; aplicação correta do produto. Ainda não existe produto à base de Azospirillum registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA e, para tal, são exigidos testes de eficiência agronômica, dentro do protocolo da Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interessa Agrícola–RELARE. Mesmo com estes desafios, ainda vale a pena investigar a tecnologia, pois: • Existem fortes indicadores de sua viabilidade. Tabela 3. Interpretação de teores de micronutrientes de acordo com o extrator. Teores H2O quente < 0,2 <4 < 1,2 < 0,5 0,3–0,8 5–12 1,3–5,0 0,6–1,2 > 0,60 > 0,8 > 12 > 5,0 >1,2 Alto H2O quente 2 - - - - - - - - - - MEHLICH - - - - - - - - - - Baixo < 0,5 < 0,3 Médio 0,5–1,0 > 1,0 Alto H2O quente - < 2,5 < 2,0 0,3–0,6 - 2,5–5,0 2,0–4,0 > 0,6 - > 5,0 > 4,0 3 - - - - - - - - - - MEHLICH - - - - - - - - - - Baixo < 0,20 < 0,4 - < 1,9 < 1,0 Médio 0,3 – 0,5 0,5–0,8 - 2,0–5,0 1,1–1,6 > 0,8 - > 5,0 > 1,6 Alto > 0,5 H2O quente 0,16–0,35 Médio 0,36–0,60 • Há apelo ecológico para o uso de produtos biológicos na agricultura. Bom 0,61–0,90 Alto > 0,90 O uso racional de micronutrientes na cultura de milho depende do conhecimento dos teores dos elementos disponíveis no solo, das condições físico-químicas que afetam a sua solubilidade e do estado nutricional das plantas, avaliado pela análise foliar. Para a interpretação adequada dos resultados da análise química do solo é fundamental o uso de extratores eficientes. No Brasil, ainda não existe uma padronização oficial para extratores de micronutrientes e nem um consenso sobre os critérios para separação dos resultados em classes, ocorrendo, por isso, variações dos teores dentro de uma mesma classe e extrator (Tabela 3). Dependendo da região, têm sido utilizados a água quente, para a determinação de boro, e o Mehlich ou duplo ácido e o DTPA, para a extração dos micronutrientes catiônicos. - - - - - - - - - - - - DTPA1 - - - - - - - - - - - < 0,20 Baixo José Laércio Favarin, Tiago Tezotto, Carlos Francisco Ragassi, ESALQ/USP; email: [email protected] Zinco 0,20–0,60 • Há urgência na redução de custos de produção sem comprometimento da produtividade. USO RACIONAL DE MICRONUTRIENTES NA CULTURA DE MILHO – Manganês Médio Muito baixo Portanto, é necessário identificar e resolver os gargalos ainda existentes na pesquisa para desenvolver esta tecnologia altamente inovadora, que trará enormes benefícios financeiros e ambientais para a agricultura brasileira e aumentará a competitividade internacional do agronegócio brasileiro. No caminho atualmente trilhado, com as pesquisas isoladas dentro de alguns núcleos de pesquisa e de empresas, os resultados certamente serão alcançados, mas a longo prazo. O caminho para chegar mais rapidamente à consolidação da tecnologia seria um programa nacional, englobando a pesquisa de milho e a pesquisa com Azospirillum como um todo, ou seja, não “testar o Azospirillum em milho” mas sim “pesquisar o milho com Azospirillum”. Ferro Baixo • Existem exemplos de sucesso, como no caso da soja. • Muitas empresas privadas estão desenvolvendo o produto, o que assegura que o Azospirillum chegará às mãos do agricultor. Cobre - - - - - - - - - - - - - - (mg dm-3) - - - - - - - - - - - - - - - - - - • O Brasil possui tradição em pesquisa nesta área. 6 Boro < 0,15 - - - - - - - - - - MEHLICH4 - - - - - - - - - < 0,3 <8 <2 < 0,4 0,4–0,7 9–18 3–5 0,5–0,9 0,8–1,2 19–30 6–8 1,0–1,5 1,3–1,8 31–45 9–12 1,6–2,2 > 1,8 > 45 > 12 > 2,2 Fonte: 1 Raij et al. (1996); 2 Thung e Oliveira (1998); 3 Lopes (1999); 4 Ribeiro et al. (1999). A análise foliar é uma ferramenta auxiliar no diagnóstico do estado nutricional do milho e serve como orientação para a adubação da cultura no próximo ano agrícola. Porém, há dificuldade em encontrar boas correlações entre a concentração dos nutrientes no solo e aquela determinada na planta. Para que a amostragem de tecido vegetal possa ser comparável e confiável, deve-se levar em consideração a época de coleta da folha, o tipo de folha e o número mínimo de folhas por gleba homogênea. Os teores de nutrientes nas folhas relacionam-se diretamente com o desenvolvimento da planta. Assim, as tabelas para interpretação dos teores adequados de micronutrientes devem ser utilizadas com muito critério (Tabela 4) devido à impossibilidade de se refazer as pesquisas a cada alteração que ocorre no sistema de produção, considerando a interação solo-planta-clima. As deficiências de micronutrientes são freqüentemente corrigidas pela aplicação de fertilizantes no solo. Porém, a pequena dose utilizada, de 1 a 10 kg ha-1, conforme o nutriente, prejudica a uniformidade de distribuição, em se tratando de mistura de grânulos. As principais fontes de micronutrientes são: • Óxidos: são insolúveis em água, por isso devem ser aplicados na forma de pó, para aumentar a superfície específica de contato com o solo. • Sulfatos, cloretos e nitratos: são solúveis água, por isso indicados quando são necessários efeitos rápidos, na forma de grânulos, aplicados em sulcos ou via foliar. • Oxissulfatos: têm solubilidade variável, dependendo da quantidade de ácido sulfúrico utilizada na solubilização do óxido. São comercializados sob a forma de pó ou granular, em geral são fontes mais baratas por unidade de micronutriente, mas nem sempre são eficientes para a aplicação no solo, pois dependem de que pelo menos 30% do teor total seja solúvel em água. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Tabela 4. Faixas de teores adequados de micronutrientes em folhas de milho. Boro Cobre Ferro Manganês Molibdênio Zinco - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (mg kg-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1 10–25 6–20 30–250 20–200 0,1–0,2 2 15–20 6–20 50–250 50–150 0,15–0,2 15–50 10–25 4 4–20 6–20 6–20 30–250 20–250 20–200 20–150 0,1–0,2 0,2 15–100 20–70 3 Fonte: 1 Raij et al. (1996); 4 Ribeiro et al. (1999). 2 Malavolta et al. (1997); 3 15–100 Oliveira (2002); Figura 4. Teores de cobre e manganês nos grãos de milho em função de doses de nitrogênio na forma de sulfato de amônio. • Quelatos: são muito solúveis, mas dissociam-se pouco em água, por isso não são afetados pelo pH da solução do solo ou da calda e podem ser misturados com fertilizantes fluidos sem risco de reação com os nutrientes presentes. Tais produtos são até cinco vezes mais eficientes por unidade de micronutrientes, entretanto, muito mais caros, o que inviabiliza o seu uso. • “Fritas”– FTE: por serem produtos de muito baixa solubilidade em água, são eficientes quando aplicados na forma de pó fino, a lanço e, em particular, quando incorporados ao solo. • Nanopartículas de óxidos: suspensão concentrada (flowable) de óxidos que proporciona economia na aplicação de nutrientes. Devido ao diminuto tamanho das partículas, os elementos são absorvidos pelas folhas e, em função do pH da célula, os cátions (Zn2+, Cu2+ e Mn2+) são liberados. Os fatores abióticos que influenciam a fisiologia da raiz e, por conseqüência, o crescimento das culturas podem ser classificados, quanto à sua natureza, em físicos e físico-hídricos (oxigenação, temperatura, umidade, textura, densidade e porosidade). Assim, se houver restrição física ao crescimento das raízes por compactação do solo, por exemplo, a planta esgota rapidamente os nutrientes presentes no espaço limitado à sua disposição, levando à deficiência nutricional. A falta de oxigênio no solo, causada por adensamento ou por excesso de umidade, também afeta o crescimento radicular e, por conseguinte, a absorção de nutrientes. Impedimentos de ordem química, como pH alto e interação entre íons (Tabela 5), interferem na disponibilidade e na absorção de micronutrientes. Tabela 5. Interações entre macro e micronutrientes1. Nutriente N P Ca B Cu – – Mn Mo Zn + – – – – +/– – – S 1 – – – = interação negativa, + = interação positiva. Sistemas de produção que empregam altas doses de N necessitam de maior cuidado nas aplicações de micronutrientes. Pesquisa realizada por Ferreira et al. (2001) mostrou que houve maior absorção de Cu e Mn, estimada pelo aumento linear na concentração foliar, com o aumento das doses de N (Figura 4). Este comportamento pode estar associado ao maior volume radicular proporcionado pelo N bem como à acidificação da rizosfera, provocada INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Fonte: Ferreira et al. (2001). pela nitrificação ou absorção do íon amônio. Este fato também explicaria a absorção de Zn, cujo teor foliar apresentou tendência quadrática, com a máxima concentração na dose de 200 kg ha-1 de N. Do exposto, pode-se afirmar que há uma interação entre adubação nitrogenada e necessidade de Cu, Mn e Zn na cultura do milho. A decomposição da matéria orgânica presente no solo desempenha papel crucial no ciclo de micronutrientes do solo, pela variedade de compostos orgânicos formados, como ácido húmico e ácido fúlvico, que complexam os cátions que seriam precipitados, mantendo-os em solução. As quantidades de micronutrientes requeridas pelas plantas de milho são muito pequenas. Entretanto, a deficiência ou excesso podem desorganizar os processos metabólicos, tais como crescimento, fotossíntese e respiração. Em se tratando de adubação equilibrada e do uso racional de micronutrientes para altas produtividades de milho, é necessário conhecer suas principais funções no metabolismo da planta bem como as características e quantidades dos adubos a serem aplicados, as quais são descritas de forma resumida a seguir: • Zinco: ativador enzimático de diversos processos metabólicos, como o da produção do aminoácido triptofano, precursor do AIA (ácido indol acético), responsável pelo crescimento de tecidos vegetais. O milho é uma das plantas que mais responde à aplicação de Zn no solo, proporcionando ganhos de matéria seca e de grãos. A maioria das pesquisas apontam para a aplicação de Zn no solo, entretanto, há resposta também para aplicação via foliar e no tratamento de sementes. Para aplicação no solo, preferir as fontes com, no mínimo, 60% a 70% do teor total de zinco solúvel em água. Observase que quanto maior o teor de Zn solúvel no fertilizante, menor será a dose necessária para obter a produção máxima. A Figura 5 mostra que o aumento de 10% na solubilidade da fonte de zinco em água elevou em 5% o ganho em matéria seca. De maneira geral, pode-se adotar as seguintes doses: no solo – 4 a 6 kg ha-1; tratamento de sementes – 0,8 a 1,0 kg ha-1; aplicação foliar – 600 a 800 g ha-1. • Boro: participa de vários processos fisiológicos na planta, como metabolismo de carboidratos, síntese de RNA e AIA, metabolismo dos compostos fenólicos, síntese da parede celular e integridade da membrana celular. É essencial para a germinação do grão de pólen e formação do tubo polínico, por isso, espigas de plantas deficientes em boro são tipicamente encurvadas, uma vez que a uniformidade de seu crescimento está ligada à formação dos grãos (Figura 6). Outro sintoma típico de deficiência de boro em milho é o crescimento anormal da folha-bandeira, que permanece enrolada, conhecido como “pendão sufocado” (Figura 7). Devido à mobilida- 7 Figura 5. Porcentagem de Zn solúvel na produção de matéria seca em três doses do nutriente. Fonte: Westfall et al. (1999). (A) (B) (C) Figura 6. Espigas de milho normal (A) e deficientes (B, C) em boro. Fonte: original de Hasime Tokeshi, Fundação Mokiti Okada. de do B no solo, recomenda-se o uso de fontes menos solúveis – 2,0 a 3,0 kg ha-1 a lanço – e, em casos extremos, de fontes mais solúveis – 0,5 a 1,0 kg ha-1 B no sulco. • Cobre: ativador enzimático de vital importância nos processos de fotossíntese, respiração, metabolismo de carboidratos, redução e fixação de N, metabolismo de proteínas e formação da parede celular. A deficiência severa inibe a reprodução das plantas. Como o milho não é uma planta que produz grande quantidade de proteínas nos grãos, pode-se afirmar que somente em situação desfavorável de cobre e em lavouras com elevado input de N poderia haver resposta ao seu fornecimento. Neste caso, devido às interações que ocorrem com o Cu no solo, fixação por óxidos de ferro e alumínio e formação de complexo estável com a matéria orgânica, o mesmo deve, preferencialmente, ser aplicado via foliar – 150 a 300 g ha-1. • Manganês: atua como importante cofator para várias enzimas-chave na síntese de metabólitos secundários associados ao ciclo do ácido chiquímico, incluindo os aminoácidos aromáticos, como triptofano, fenilalanina e tirosina. Os problemas de toxidez de Mn nos solos brasileiros são mais comuns que os de deficiência, por isso, o conhecimento da disponibilidade no solo tem importância fundamental para seu manejo. A tendência da aplicação superficial de calcário, como ocorre em plantio direto, tem provocado a deficiência de Mn sobretudo nas culturas de soja e milho. A deficiência é comum em milho cultivado após soja sem aplicação de Mn. Se necessário, recomenda-se fazer duas aplicações de 600 g ha-1, via foliar. • Molibdênio: interfere no crescimento, desenvolvimento e produção de grãos, visto que é componente da enzima redutase do nitrato, responsável pela redução de nitrato a nitrito e posteriormente a amônia (NH3). Sua deficiência é observada em milho desenvolvido em solos minerais com grande quantidade de óxidos hidratados de ferro reativos e, portanto, com alta capacidade para adsorver íons molibdato, como ocorre nos trópicos. Em geral, aplica-se 50 a 110 g ha-1 de Mo, via foliar, 15 a 30 dias após a emergência. Inúmeros trabalhos de pesquisa evidenciam que o milho responde às aplicações de micronutrientes, principalmente Zn, B, Mn e Mo, embora haja probabilidade de obter resposta ao Cu em áreas de plantio direto. Nestas áreas, com a possibilidade do cultivo de milho resistente ao glifosato, é imprescindível o uso freqüente de micronutrientes, como Mn, Cu, Fe e Zn, devido à forte natureza metal-quelante do herbicida, a qual diminui a absorção e translocação dos micronutrientes na planta. Como a natureza do problema está relacionada com as alterações provocadas no solo, por parte do glifosato, haverá necessidade de aplicações foliares para suprir a demanda por esses nutrientes. USO RACIONAL DE FÕSFORO NA AGRICULTURA COM ÊNFASE NA CULTURA DO MILHO A B Figura 7. À esquerda, planta de milho deficiente em boro, mostrando o crescimento anormal e o enrolamento da folha bandeira; à direita, planta normal. No detalhe, folha deficiente (A) e folha normal (B). Fonte: original de Hasime Tokeshi, Fundação Mokiti Okada. 8 Silvia Regina Stipp e Abdalla; Luís Ignácio Prochnow, IPNI Brasil, email: [email protected] O fósforo (P) é um macronutriente pouco exigido pelas culturas, quando comparado aos outros macronutrientes. Desempenha papel importante na transferência de energia da célula, na respiração e na fotossíntese. É também componente estrutural dos ácidos nucléicos de genes e cromossomos, assim como de muitas coenzimas, fosfoproteínas e fosfolipídeos. Promove o crescimento inicial e o desenvolvimento da raiz, aumenta a resistência da planta ao frio, melhora a qualidade da colheita e ajuda a suprimir doenças das plantas, geralmente diminuindo seu efeito prejudicial. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Os solos brasileiros são, em sua grande maioria, originalmente deficientes em P e a recuperação do elemento pelas plantas normalmente é pequena. A quantidade média de P no solo é de cerca de 400 kg ha-1 e, embora as quantidades requeridas pelas culturas sejam muito menores, como 45 kg ha-1 de P para o milho, as doses aplicadas são de cerca de 100 kg ha-1 de P2O5. Em geral, esse paradoxo é explicado quando se analisa os mecanismos que governam as transformações de P no solo, que incluem reações de adsorção e precipitação (Figura 8), dinâmica esta bem distinta da observada para N e K. No solo, o P encontra-se associado à matéria orgânica ou fazendo parte de composto inorgânicos. A fração inorgânica do P no solo encontra-se presente em duas fases, sólida e líquida, as quais estão em equilíbrio entre si. Desta forma, o P solúvel adicionado aos solos como fertilizante tende a passar rapidamente para formas menos solúveis, com conseqüente redução da disponibilidade às plantas, ficando precipitado ou adsorvido. Para que a absorção pelas plantas seja contínua, o P deve liberar-se da fase sólida e movimentar-se, por difusão, até a superfície das raízes. E esta movimentação depende não somente dos teores de P em solução (P-solução), como também do poder tampão do P-lábil e da umidade do solo. Outro fator de grande influência sobre os mecanismos de fixação de fosfatos é o pH do solo. A elevação do pH promove diminuição na retenção de P devido à liberação de hidroxilas que competem com os íons fosfatos pelos sítios de adsorção. Observa-se também que a presença de cátions como Fe3+, Al3+ e Ca2+ favorece a retenção de P nos solos, pois esses cátios reagem com os fosfatos, formando compostos de baixa solubilidade, como fosfatos de ferro, de alumínio e de cálcio, que se precipitam na solução. A intensidade das reações de retenção do P “solúvel” é proporcional ao volume de solo com o qual o fertilizante reage; assim, características dos solos e dos fertilizantes que propiciem maior contato entre os fosfatos e o solo favorecem a fixação de P. Figura 8. Formas de fósforo no sistema solo-planta. Fonte: NOVAES e SMYTH (1999). INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Solos mais argilosos, com argilas do tipo 1:1, retém mais P, comparadas às argilas 2:1, o que provavelmente se deve à maior quantidade de óxidos de Fe e Al associadas a elas. As formas de óxidos de ferro e alumínio de baixa cristalinidade apresentam maior área superficial específica, o que determina sua maior reatividade química com os fosfatos. É importante lembrar que os produtos das reações dos fertilizantes com o solo permanecem por muito tempo na forma lábil, podendo retornar para a solução por dissolução ou dessorção. Porém, com o tempo, parte do P-lábil é convertido em formas mais estáveis de difícil solubilização, tornando o elemento não disponível ou dificilmente disponível. Como conseqüência destes fatos, observa-se que há grande diminuição da concentração de P na solução do solo para as plantas, embora exista muito P no solo, mas em forma indisponível. Em termos mundiais, mais de 99% dos fertilizantes fosfatados são produzidos a partir de reservas de rochas fosfáticas e apenas uma quantidade muito pequena é fornecida na forma de escórias básicas, um subproduto da indústria de aço. Uma das preocupações em relação aos recursos mundiais de rochas fosfáticas referese à possível longevidade de exploração das jazidas para fazer face à crescente demanda desse recurso natural. O Brasil participou com 4,0% na produção mundial de fosfato em 2006, cerca de 5,8 milhões de toneladas, ocupando a 7ª colocação. As culturas que mais consumiram fertilizantes fosfatados no Brasil, em 2006, foram: soja, com 7,1 milhões de toneladas (34%); milho, com 3,7 milhões de toneladas (17%) e cana-de-açúcar, com 3,1 milhões de toneladas (15%). A análise química do solo constitui-se no marco inicial de um bom programa de manejo químico do solo, pois ela mostra se o ele poderá prover as exigências da planta de forma a se obter produtividades economicamente viáveis diante dos investimentos realizados e possibilita as definições das doses de calcário, gesso agrícola e fertilizantes. A maior parte dos métodos de análise de solo, inclusive os usados no Brasil, avalia o fator quantidade, mas há dificuldade em isolar o fosfato lábil do fosfato nãolábil, ou mesmo de resíduos de adubos não dissolvidos no solo, quando são empregados extratores que têm ação específica sobre determinadas formas de P no solo. No Brasil, há dois métodos utilizados amplamente para a diagnose de P no solo: o Mehlich 1, o mais antigo, e o da resina trocadora de íons, o mais recente. Outros métodos são utilizados em menor escala. Para se chegar a uma recomendação adequada de fósforo para uma determinada região, os resultados da análise de solo são divididos em classes de teores, sendo seus limites determinados em estudos de correlação, de calibração e de curva de resposta à aplicação de P. Assim, existem diversas tabelas para interpretação dos teores de P no solo para diversas regiões, diversas culturas, algumas considerando o teor de argila, outras o teor de fósforo remanescente. A Tabela 6 apresenta os limites de teores mais comumente utilizados nas interpretações dos teores de P do solo no estado de São Paulo, com o uso da resina trocadora de íons. 9 Tabela 6. Limites de interpretação de teores de fósforo do solo. P resina Teor Produção relativa (%) Muito baixo Florestais Perenes Anuais Hortaliças -3 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (mg dm ) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 0-70 0-2 0-5 0-6 0-10 Baixo 71-90 3-5 6-12 7-15 11-25 Médio 91-100 6-8 13-30 16-40 26-60 Alto > 100 9-16 31-60 41-80 61-120 Muito alto > 100 > 16 > 60 > 80 > 120 Fonte: RAIJ et al. (1996). Embora a análise de solo seja a base sobre a qual a recomendação de P é elaborada, fornecendo uma medida de P no reservatório do solo que normalmente está disponível para o crescimento vegetal, ela deve ser coordenada com outras práticas importantes de manejo, como a avaliação do estado nutricional utilizando a diagnose foliar. As exigências nutricionais mudam com a fase de desenvolvimento da planta e com o nível de produção, e esta variação deve ser considerada para a definição da época correta de amostragem da planta. Recomenda-se a amostragem por ocasião do aparecimento da inflorescência feminina (embonecamento), de folha abaixo e oposta à espiga (30 folhas por área uniforme de 1-50 hectares). A interpretação dos dados da análise foliar deve estar relacionada com padrões locais que permitam comparações. Para a cultura do milho, essas referências podem ser fornecidas pelo nível crítico do nutriente na folha ou pelo Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS). Embora possam ocorrer variações em função da fertilidade do solo, da cultivar e, principalmente, da época de amostragem, a faixa de suficiência para a concentração de P nas folhas de milho é de 0,25 a 0,35 dag kg-1 de matéria seca (Figura 9). em água, em citrato neutro de amônio (CNA) e em ácido cítrico (AC) a 2%, e são divididos em: a) Fosfatos totalmente acidulados: ácido fosfórico, superfosfato simples (SSP), superfosfato triplo (TSP), fosfato monoamônico (MAP) e fosfato diamônico (DAP). Além desses produtos, denominados tradicionais, outras opções de fosfatos totalmente acidulados são importantes em regiões e situações específicas, como: ortofosfatos de potássio, polifosfatos de amônio, nitrofosfatos e polifosfatos de amônio-uréia. b) Fosfatos naturais: Patos de Minas, Catalão, Abaeté, Alvorada, Tapira, Gafsa, entre outros. c) Termofosfatos e fosfatos alternativos. Normalmente, utiliza-se água para avaliar o P prontamente disponível, o CNA + água para os fosfatos totalmente acidulados e o AC para os fosfatos naturais e os termosfatos. A melhor alternativa na escolha da fonte de P deve associar boa eficiência em suprir as necessidades das plantas e menor custo do fertilizante. A eficiência agronômica de fosfatos pode ser avaliada por intermédio de diversos índices, dentre os quais se destacam a solubilidade nos extratores descritos, o índice de eficiência agronômica (IEA) e o equivalente em superfosfato triplo (EqST), cuja eficiência agronômica é aferida por meio de índices estabelecidos pela comparação com um fosfato padrão (Tabela 7). Tabela 7. Índices de eficiência comparativa média, tendo o superfosfato triplo como fonte de referência (EqST), na cultura do milho, nas doses de 100 e 200 kg ha-1 de P2O5 (P resina = 5 mg dm-3). EqST (%) Fontes de fósforo Superfosfato triplo Termofosfato magnesiano Fosfato de Gafsa granulado Fosfato de Patos de Minas Primeiro ano Segundo ano 100 106 58 1 100 103 92 6 Fonte: COUTINHO et al. (1991). Figura 9. Relação entre a produção relativa de grãos e a concentração de fósforo na folha de milho. Fonte: Modificada de COELHO (2000). Nos adubos fosfatados, o P pode estar em diferentes formas, ou seja, prontamente disponível, medianamente disponível ou indisponível. Os principais tipos de adubos fosfatados disponíveis no mercado são classificados principalmente quanto à solubilidade 10 Resultados de inúmeros trabalhos que estudaram a eficiência dos fertilizantes fosfatados mostram que, nas condições agrícolas usuais, as formas de P solúveis em água – fosfato monocálcico e fosfatos de amônio – são, em geral, bastante eficientes. Algumas formas insolúveis em água podem apresentar também boa eficiência: fosfato bicálcico e silíco-fosfato de cálcio e magnésio. Com eficiência geralmente baixa encontram-se o fosfato INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 tricálcico e os fosfatos de ferro e alumínio, também insolúveis em água mas estes últimos, em certas situações particulares, podem se comportar eficientemente. Quanto ao grupo das apatitas, as presentes nas rochas sedimentares são, normalmente, mais eficientes do que as encontradas nas rochas metamórficas e ígneas; por isso, os fosfatos naturais de rochas sedimentares são conhecidos como reativos. Os fatores que afetam a eficiência da adubação fosfatada são muito numerosos e estão relacionados às reação do fósforo no sistema adubo-solo-planta. Assim, a eficiência agronômica inclui os processos de absorção do fósforo da solução do solo após a adição do adubo, sua translocação na planta (incorporação) e respectiva transformação em biomassa vegetal. Nessa condição, estão envolvidos os fatores relacionados a: • Fertilizante: tipo, composição, solubilidade, granulometria, efeito residual e outros; • Solo: químicos – salinidade, acidez, disponibilidade e toxidez de nutrientes/elementos, capacidade de fixação de nutrientes, lixiviação e perdas gasosas e outros – e físicos – textura, camadas compactadas, selamento e encrostamento superficiais, condutividade hidráulica, capacidade de retenção de água, alagamento e outros; • Modificações na rizosfera – mudanças de pH, concentração de íons, potencial redox, atividade microbiana, presença de micorrizas e densidade e umidade do solo – provocadas pelas próprias raízes, que envolvem absorção seletiva de íons e de água e liberação de exudatos; • Manejo do solo – doses de P e de outros nutrientes, forma de aplicação, efeito residual – e manejo de culturas – seqüência/ rotação; • Planta: fisiológicos, morfológicos e bioquímicos; • Ambiente: luminosidade, radiação, temperatura, umidade e outros. Uma outra alternativa seria a adubação anual (suco de plantio) com a correção ao longo dos anos, monitorada através da análise de solo. Existem várias tabelas para a definição das doses de P a aplicar, tanto para adubação de manutenção quanto para adubação corretiva, as quais variam de acordo com a região do país. A Tabela 8 apresenta a adubação mineral de plantio para a cultura de milho (grãos e silagem) para o Estado de São Paulo, de acordo com a análise de solo e a produtividade esperada. Além da adubação NPK, recomenda-se aplicar 20 kg ha-1 de S para metas de produtividade de até 6 t ha-1 de grãos e 40 kg ha-1 de S para produtividades maiores. Utilizar também 4 kg ha-1 de Zn em solos com teores de Zn (DTPA) inferiores a 0,6 mg dm-3 e 2 kg ha-1 de Zn quando os teores estiverem entre 0,6 e 1,2 mg dm-3. Os adubos devem ser aplicados no sulco de plantio, 5 cm ao lado e abaixo das sementes. Assim, em função do teor de P no solo, da cultura, da produtividade almejada, da tabela de adubação e de estudos regionais, chega-se à dose de P2O5 a aplicar. E com a dose e a porcentagem de P2O5 no fertilizante define-se a quantidade de adubo a ser utilizada. Finalmente, deve-se considerar que, para aumentar a eficiência da adubação fosfatada, é necessário adotar um sistema de produção diversificado, proporcionado pela rotação de culturas e pelo plantio direto, os quais resultam em maior reciclagem de nutrientes, menor incidência de pragas e doenças e maior proteção ambiental (Figura 10). As diferentes estratégias de manejo do solo quanto à nutrição de plantas com P envolvem: a) Aplicações anuais ou de manutenção, com o objetivo de nutrir as plantas no ano específico, com quantidades da ordem de kg ha-1 de P2O5; b) Aplicação corretiva, com o objetivo de corrigir e elevar o teor de P no solo, com quantidades da ordem de t ha-1 de P2O5 (custo mais elevado). Figura 10. Algumas das práticas de manejo que aumentam a eficiência da adubação. Tabela 8. Adubação mineral de plantio para milho de acordo com a análise de solo e a produtividade esperada. P resina (mg dm-3) K+ trocável (mmolc dm-3) Produtividade esperada N (t ha-1) (kg ha-1) 2-4 10 60 40 30 20 50 40 30 0 4-6 20 80 60 40 30 50 50 40 20 6-8 20 90 70 50 30 50 50 50 30 8-10 30 (1) 90 60 40 50 50 50 4 10-12 30 (1) 100 70 50 50 50 50 50 0-6 7-15 16-40 > 40 - - - - - - - - - - - P2O5 (kg ha-1) - - - - - - - - - - - 0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 > 3,0 - - - - - - - - - - - K2O (kg ha-1)(2) - - - - - - - - - - - (1) É improvável a obtenção de alta produtividade de milho em solos com teores muito baixos de P, independentemente da dose de adubo empregada. Para evitar excesso de sais, no sulco de plantio, a adubação potássica para doses maiores que 50 kg ha-1 de K2O está parcelada, prevendo-se a aplicação em cobertura. (2) Fonte: RAIJ et al. (1996). INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 11 No plantio direto, a manutenção dos resíduos e seu acúmulo no solo provocam uma redistribuição do fósforo em formas orgânicas mais ou menos estáveis (Po), com relevante papel da biomassa microbiana na disponibilidade de P à plantas. O não revolvimento diminui a superfície de contato entre os íons fosfato e as partículas do solo, diminuindo a ação dos mecanismos de fixação pelos constituintes minerais do solo. As alterações na disposição das partículas e a manutenção da umidade no solo favorecem o mecanismo de difusão do nutriente até a superfície das raízes. Além disso, os ânions orgânicos produzidos durante a oxidação bioquímica e microbiológica dos resíduos competem com os íons fosfato pelos sítios de ligação na superfície dos sesquióxidos de Fe e Al, diminuindo a fixação de fósforo. Resultados de experimentos demonstram que, dos macronutrientes, o fósforo é o elemento que apresenta os maiores acréscimos na camada de 0-5 cm, com relatos da ordem de 4 a 7 vezes o seu conteúdo no plantio direto em relação ao preparo convencional. Outro fato importante a salientar é o aumento da porcentagem de P-orgânico em relação ao P-total na subsuperfície dos solos sob longo período em plantio direto, com a redistribuição de formas orgânicas de P após a decomposição do sistema radicular das culturas, onde normalmente o fósforo inorgânico tem a sua disponibilidade muito reduzida. Resumindo, as sugestões gerais para o manejo adequado do fósforo incluem os seguintes itens: • Avaliação e monitoramento constante da fertilidade do solo. • Observação cuidadosa do mercado – preço do fertilizante. • Práticas específicas de manejo do fertilizante fosfatado. • Aplicação das melhores práticas de manejo de fertilizantes (MPMFs), considerando o produto certo, aplicado no local correto e na dose e época adequadas. • Diversificação dos sistemas de cultivo. FONTES ALTERNATIVAS DE NITROGÊNIO PARA A CULTURA DO MILHO – Heitor Cantarella; Rafael Marcelino; Instituto Agronômico, Campinas, SP; email: [email protected] O N e o K são os elementos absorvidos em maiores quantidades pela cultura do milho. Porém, o manejo da adubação nitrogenada exige mais cuidados devido às inúmeras reações e ao complexo ciclo desse nutriente no solo, aliado ao fato de ser, geralmente, o elemento mais caro no sistema de produção da cultura. Em solos bem arejados predomina o N na forma nítrica (NO3-). O N amoniacal, tanto o proveniente da mineralização da matéria orgânica do solo quanto o de fertilizantes amídicos ou amoniacais, é convertido a nitrato por microrganismos do solo. Esse processo, conhecido como nitrificação, é favorecido por condições aeróbias, altas temperaturas e pH próximo da neutralidade, entre outros fatores. Os fertilizantes nitrogenados, quando utilizados em quantidades excessivas ou em situações desfavoráveis, podem ser perdidos e, eventualmente, converterem-se em poluentes ambientais. As perdas ocorrem por: • Lixiviação: A predominância de cargas negativas na camada superficial do solo e a baixa interação química do NO3- com os minerais do solo fazem com que esse ânion esteja sujeito a perdas por lixiviação, acompanhando o movimento descendente da água que percola no perfil do solo. 12 • Desnitrificação: em diferentes etapas das inúmeras reações do N no solo ocorrem perdas gasosas – N2 e N2O – em condições anaeróbias totais (solos inundados) ou parciais (sítios anaeróbios em um solo predominantemente aeróbio). • Volatilização da amônia (NH3): o íon amônio (NH4+) predomina em condições de pH ácido e a forma gasosa, NH3, em condições de pH alcalino. Portanto, esse tipo de perda não é importante nos solos ácidos do Brasil, exceto quando se usa uréia. A reação de hidrólise desse fertilizante na superfície dos solos gera NH3 e CO2, independentemente do pH do solo. As perdas, que podem chegar a 60%, dependem das condições ambientais (umidade, características do solo) e são maiores em sistemas manejados com resíduos na superfície do solo, principalmente em sistema plantio direto, pois a atividade da urease é maior em plantas e resíduos vegetais do que em solo. • Imobilização no solo: o N pode se tornar temporariamente indisponível para as plantas por meio de reações de imobilização em formas orgânicas do solo, promovidas por microrganismos, quando a relação C/N do meio for elevada, como ocorre em áreas com aporte de grandes quantidades de palha. Tanto as condições favoráveis à nitrificação quanto à lixiviação de NO3- estão presentes na maioria dos solos brasileiros durante o período de cultivo do milho de primavera-verão. No Brasil, existem relativamente poucos trabalhos em que perdas de NO3- por lixiviação tenham sido avaliadas em sistemas agrícolas. Para milho, de modo geral, as perdas relatadas são baixas, e as explicações mais prováveis são o uso de doses de N relativamente baixas, a textura argilosa da maioria dos locais, o parcelamento da adubação nitrogenada, na qual a maior parte do N é aplicada no período de ativa absorção de N pelas plantas, e a imobilização pela microbiota do solo, que também colabora para reduzir esse tipo de perda. A lixiviação pode ser problema em áreas de cultivo intensivo, onde se aplicam altas doses de N, em áreas com cultivo de hortaliças, em solos arenosos e em condições de chuvas intensas. Com tantas reações que dificultam ou impedem a absorção do N pelas plantas, a eficiência de uso do N fertilizante pelas culturas varia de 40 a 60%, como mostram os dados de dezenas de experimentos. A maior parte dos fertilizantes nitrogenados comumente utilizados na agricultura brasileira para a cultura do milho é solúvel em água (uréia, sulfato de amônio, nitrato de amônio) e libera rapidamente no solo as formas de N prontamente assimiláveis pelas plantas – nitrato (NO3-) e amônio (NH4+) – que também são as formas de N mais suscetíveis a perdas do sistema agrícola. A estratégia mais comum para minimizar as perdas é adequar a aplicação do fertilizante nitrogenado às necessidades da cultura, levando em conta as características do produto usado. Em relação à lixiviação, recomenda-se o parcelamento da adubação de forma que o N seja fornecido nos períodos que antecedem a maior demanda e quando as plantas já tenham um sistema radicular desenvolvido o suficiente para absorver o nutriente. Para evitar as perdas por volatilização de NH3, o meio mais eficiente é incorporar o fertilizante ao solo, a uma profundidade mínima de 3 a 5 cm, por meio mecânico ou irrigação. Outras alternativas para aumentar a eficiência de uso do N pelas culturas estão relacionadas ao uso de fertilizantes com maior eficiência (enhanced-efficiency fertilizers), que podem ser classificados em fertilizantes de liberação lenta ou controlada e fertilizantes estabilizados, que são descritos a seguir: INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 1) Fertilizantes de liberação lenta ou controlada, com baixa solubilidade em relação a uma fonte solúvel de referência. São classificados basicamente em dois grupos: • Compostos de condensação de uréia e uréia-aldeídos: ureaformaldeído (38% de N), isobutilidene diuréia (IBDU, 31% de N), crotonilidene diuréia (CDU, 32% de N), e • Produtos encapsulados ou recobertos, ou de liberação controlada: uréia recoberta com enxofre (SCU) e uréia recoberta com polímeros (Osmocote, Meister, Nutricote e outros). 2) Fertilizantes estabilizados, que contêm aditivos para aumentar o tempo de disponibilidade no solo: • Inibidores de nitrificação: nitrapirina [2-cloro-6-(triclorometil) piridina] (NP), dicianodiamida (DCD), DMPP (fosfato de 3,4 dimetil pirazole) e outros. • Inibidores de urease: fenil-fosforodiamidato (PPD) e tiofosfato de N-n-butiltriamida (NBPT) são os compostos de maior sucesso até o momento, entre milhares de misturas. De forma geral, os fertilizantes estabilizados possuem maior importância no mercado de fertilizantes usados na cultura do milho do que os de liberação lenta ou controlada, devido ao alto custo de produção destes últimos (três a dez vezes maior, comparado ao dos fertilizantes convencionais), que restringe seu uso a nichos de mercado de alto valor agregado, tais como viveiros de mudas, campos e jardinagem. Porém, há grande esforço da indústria mundial de fertilizantes para desenvolver produtos desta família com preço competitivo. O efeito positivo da adição de inibidores de nitrificação depende da ocorrência de condições que levem a perdas por lixiviação com o uso de fontes ou métodos convencionais de aplicação de fertilizantes. Não parecem ser substitutos para bom manejo, mas oferecem flexibilidade para alternativas de manejo (antecipação de aplicação, redução de parcelamentos). Os resultados favoráveis observados na Europa não foram reproduzidos no Brasil. O uso de nitrapirina (NP) tem se restringido aos Estados Unidos, sendo utilizado primordialmente para fertilizantes nitrogenados amoniacais, tais como amônia anidra, uréia, sulfato de amônio, uran, nitrato de amônio e estercos animais. Sua taxa de aplicação é relativamente baixa, variando de 0,4 a 1,4 kg ha-1 do ingrediente ativo e seu efeito inibidor se manifesta geralmente por seis a oito semanas. Uma desvantagem da NP é a sua pressão de vapor relativamente alta, com tendência à volatilização, o que tem levado o fabricante a recomendar a incorporação do produto ao solo logo após a aplicação. A DCD apresenta poder de inibição relativamente menor que o da NP, sendo necessária a aplicação de doses maiores para se obter boas taxas de inibição. Tem a vantagem de ser também um fertilizante nitrogenado de liberação lenta, solúvel em água, pouco volátil, podendo ser armazenada indefinidamente em condições secas. Essas características a tornam apta para ser utilizada junto a fertilizantes amoniacais sólidos, tais como uréia e sulfato de amônio, e fluidos, como uran. Vários experimentos conduzidos nos Estados Unidos comparando o uso de DCD e de NP em relação ao adubo nitrogenado mostraram que as maiores respostas ao uso de inibidores de nitrificação podem ser obtidas em solos arenosos. Geralmente, a eficiência de DCD na inibição da nitrificação foi superior à da NP quando se usou uréia e uran (Tabela 9). O DMPP é um inibidor de nitrificação desenvolvido recentemente, compatível fisicamente com fertilizantes granulados, sendo bastante eficiente para inibir a nitrificação, mesmo quando aplicado em doses baixas. Geralmente é recomendado na dose de 1% em relação à quantidade de N-NH4+ ou N-amida dos fertilizantes. Além disso, ele tem baixa toxidez e é bem tolerado pelas plantas. Na Europa, a adição de DMPP à adubação nitrogenada na cultura de milho proporcionou incremento de produção de grãos, sem prejuízo às demais variáveis analisadas (Tabela 10). Entre as opções de fertilizantes estabilizados não convencionais para culturas extensivas, os contendo inibidores de urease têm sido os de maior expressão comercial, inclusive no Brasil. Os inibidores de urease representam uma opção de manejo na cultura do milho que pode ser revertida em incrementos de produção, especialmente em áreas onde a cultura é conduzida no sistema de plantio direto e se realizam adubações com uréia em superfície, condições favoráveis para a ocorrência de perdas de N por volatilização de amônia. O PPD mostrou resultados inconsistentes em testes de campo, além de se decompor rapidamente no solo, conduzindo à perda da capacidade inibidora em intervalos relativamente curtos. Já o NBPT vem mostrando os melhores resultados entre os inibidores de urease, sendo eficiente em baixas concentrações (cerca de 500 a 1.000 mg NBPT por kg de uréia). Além disso, sua aplicação não tem mostrado efeito sobre as propriedades bio- Tabela 9. Eficiência relativa de dicianodiamida (DCD) e nitrapirina (NP) em estudo com várias aplicações e fontes de nitrogênio na produção de milho em solos arenosos nos Estados Unidos1. Época e forma de aplicação Número de comparações Fonte de N DCD Número de resposta significativas favoráveis2 NP DCD NP Porcentagem média dos incrementos relativos DCD NP Outono Uréia 6 - 3 - 4,9 - Pré-plantio/primavera Uréia 20 20 9 10 27,1 16,1 11,4 Pré-plantio/primavera Uran 6 6 4 2 28,9 Pré-plantio/primavera Amônia anidra 12 6 8 3 20,6 8,2 Cobertura/parcelado Uréia 15 15 4 5 5,1 4,1 Cobertura/parcelado Uran 6 6 2 2 1,5 1,0 1 2 Dados referentes às doses de N ideais ou próximas disso, para cada um dos experimentos nos 13 anos de estudo. Significativo ao nível de 90% de probabilidade. Fonte: Adaptada de Malzer et al. (1989). INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 13 Tabela 10. Efeito da aplicação de adubo nitrogenado com DMPP nos componentes de produção de milho1. Resultados médios de 14 ensaios, 140 kg ha-1 N. Fertilizante Dose de N Produção de grãos kg grãos kg-1 N Proteína bruta N removido - Grãos (kg ha-1) (t ha-1) (kg ha-1) (%) (kg ha-1) Controle - 6,69 a - 8,4 a 76,4 a SNA2 - 9,10 b 17,21 9,6 b 116,8 b 140 9,34 c 18,93 9,4 b 118,0 b SNA + DMPP3 1 Valores na mesma coluna seguidos da mesma letra não diferem estatisticamente (Duncan, 5%). SNA: sulfonitrato de amônio (18,5% N-NH4+ e 7,5% N-NO3-), aplicado no plantio. 3 Dose de DMPP: 1% N-NH4+ do fertilizante. 2 Fonte: Pasda et al. (2001). lógicas do solo, o que contribuiu para tornar seu uso viável. Estudos desenvolvidos no Brasil e no exterior mostram que o NBPT não é capaz de controlar completamente as perdas de NH3 que acontecem quando a uréia é aplicada na superfície de solos, tendo em vista que sua ação depende de condições ambientais e das características físico-químicas do solo. Sua estabilidade é de 3 a 15 dias, dependendo da temperatura e da umidade do solo. A ocorrência de chuvas suficientes para incorporar a uréia ao solo em um intervalo de 3 a 7 dias após a adubação é a condição que mais favorece a eficiência do NBPT em reduzir as perdas por volatilização de NH3. Porém, mesmo na ausência de chuvas, alguma redução na volatilização tem sido observada. No Brasil, perdas de N por volatilização de NH3 foram avaliadas nos últimos anos em mais de uma dezena de ensaios de campo, comparando a uréia tradicional com a uréia tratada com 1.050 mg ou 530 mg de NBPT por kg de uréia, com os fertilizantes aplicados na superfície sem incorporação e em solo coberto com palha (SPD para milho) ou restos de plantas (pastagens). As perdas de N por volatilização nas parcelas adubadas com uréia variaram de 18% a 65% do N aplicado, ao passo que essas perdas foram reduzidas em média em 60% quando a uréia foi tratada com NBPT (Tabela 11), dependendo da temperatura e da umidade inicial do solo e do período e intensidade das chuvas que aconteceram nos dias subseqüentes à adubação. No ensaio de milho em Ribeirão Preto, chuvas intensas no quarto dia (42 mm) contribuíram para reduzir as perdas de NH3 do tratamento com NBPT, mas, para a uréia não tratada, a volatilização nesse intervalo já havia sido apreciável. Tabela 11. Perdas de N por volatilização de NH3 medidas em ensaios de campo conduzidos no Brasil. Local Volatilização de NH3 (percentagem de redução comparado à uréia) Uréia Uréia-NBPT - - - - - - - (% do N aplicado) - - - - - - Milho em Mococa Milho em Ribeirão Preto Milho em Mococa Milho em Pindorama 45 37 64 48 24 (47) 5 (85) 22 (65) 34 (29) Pastagem 1 Pastagem 2 Pastagem 3 Pastagem 4 18 51 18 18 6 (69) 22 (56) 3 (83) 2 (89) Média 37 15 (60) 14 Em Mococa, não houve chuva por 14 dias depois da adubação e, mesmo nas parcelas que receberam uréia com o inibidor, as perdas atingiram 22% do N aplicado. É pouco provável que a uréia venha a ser substituída por outro fertilizante a curto prazo, se é que o será no futuro. Assim, o NBPT, embora venha apresentando eficiência apenas relativa para reduzir o principal problema associado ao emprego da uréia, é uma alternativa para quando a incorporação da uréia, por meio mecânico ou com irrigação, não for viável. MERCADO DE FERTILIZANTES: PRESENTE E FUTURO Eduardo Daher – ANDA, São Paulo, SP, email: [email protected] Sob o ponto de vista de mercado, o fertilizante é um produto homogêneo, complementar, é bem de compra comparada e apresenta sazonalidade e riscos, advindos do clima e do crédito rural. Por isso, o produto está sujeito à disputa de preços e à baixa fidelidade do consumidor à marca comercial e a sua compra passou a ser feita com antecipação. O mercado de fertilizantes é livre e competitivo e a venda sofre influência da múltipla segmentação do mercado, ou seja, independente do aspecto agronômico, a venda é ditada por segmentos relacionados a cultura, região, grau de tecnologia, área, etnia e outros. É produto de mercado que exige globalização, sendo oligopolizado em alguns segmentos (por exemplo, KCl), comoditizado em algumas situações (por exemplo, DAP) e não apresenta inovação tecnológica marcante. O consumo global de fertilizantes aumentou como resultado, principalmente, da expansão da demanda nos países emergentes, como China e Índia. Inicialmente, grande parte do aumento da produção de fertilizantes destinava-se a grãos da dieta básica, como trigo e arroz. No entanto, recentemente, o crescimento econômico mundial e o conseqüente aumento na renda das famílias, juntamente com a produção acelerada de biocombustíveis, como o etanol feito com milho, impôs uma nova pressão sobre as reservas de grãos. Esses fatores geraram uma demanda crescente por fertilizantes e preços mais altos por estes produtos. Nos Estados Unidos, a maior demanda por fertilizantes foi impulsionada pela maior produção de milho em detrimento da soja, e o milho consome duas vezes mais fertilizantes que a soja. Outros fatores de influência foram: reduções da capacidade de produção em países exportadores e a expressiva alta nos fretes oceânicos. O movimento de alta de preços dos fertilizantes no Brasil reflete o panorama do mercado internacional, provocando escassez do produto no país. A demanda crescente por alimentos e biocombustíveis estimulou o aumento do plantio em todas as regiões e, INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 como conseqüência, fornecedores de fertilizantes do mundo não conseguiram acompanhar o ritmo de crescimento da demanda por adubos. O consumo de fertilizantes no Brasil representa menos de 6% do total mundial, ocupando o quarto lugar no ranking do mercado internacional, depois da China, Índia e Estados Unidos. Diferente do Brasil, na China e na Índia os fertilizantes são subsidiados, a logística é privilegiada e a segurança alimentar é definida como segurança nacional. No Brasil, as importações representam 74% do suprimento de fertilizantes (Figura 11), ou seja, o país encontra-se altamente dependente do mercado internacional e, em função disso, a indústria nacional adota preços comparáveis ao do mercado internacional (price taker). Assim, caso não haja expansão na capacidade de produção agrícola, a necessidade por importações tenderá a aumentar (Figura 12). Nota: “Produção de fósforo” inclui produção com matérias-primas internacionais. Figura 11. Consumo brasileiro de nitrogênio, fósforo e potássio e quantidades supridas por produção nacional e por importação em 2007, em milhões de toneladas (Mt). Fonte: ANDA, SIACESP. Figura 13. Entregas de produtos e nutrientes ao consumidor final. Dados de 2008 correspondem ao primeiro trimestre. Fonte: ANDA, SIACESP. Para melhorar este cenário e reduzir os custos dos produtos vendidos aos agricultores é necessária uma política específica para regular o mercado, ampliar a produção brasileira e diminuir os impostos nas importações de adubos. Entre os desafios a serem enfrentados, podem ser citados: alta taxa de juros (a maior do mundo: 11,75% ao ano); aumento da inadimplência e renegociações de dívidas; falta de subsídios; barreiras internacionais; déficit logístico e de infra-estrutura; desbalanço no consumo de N, P e K; inconsistência no consumo de calcário; dívida de R$ 131 bilhões (US$ 73 bilhões) oriundas de diferentes programas de crédito rural (bancos, tradings, fornecedores de insumos); ausência de seguro agrícola/climático. Além disso, a capacidade de escoamento do mercado brasileiro é rudimentar, prejudicando principalmente os produtores distantes do mercado consumidor ou dos portos, e a capacidade de armazenamento é deficiente, forçando o agricultor a vender seu produto em momentos muitas vezes inadequados, por não ter onde armazená-lo. Por outro lado, as oportunidades do mercado agrícola são imensas e o setor de fertilizantes revela-se estratégico, tendo em vista a vocação do Brasil como potência agrícola em alimentos e bioenergia. Portanto, é preciso buscar, com urgência, maior autosuficiência nacional neste insumo. BIORREGULADORES, AMINOÁCIDOS E EXTRATOS DE ALGAS: VERDADES E MITOS João Domingos Rodrigues, UNESP, Botucatu, SP, email: mingo@ibb. unesp.br Notas: • Produção = amônia, rocha fosfática e KCl. • Necessidade de importação: consumo menos importação. • Produção em 2012 considera projetos em implementação. Figura 12. Demanda e oferta de fertilizantes no Brasil, em milhões de toneladas (Mt). Fonte: Dados de 2002: ANDA e IFA; 2007 a 2012, dados estimados. A maior venda de adubos realizada no país no primeiro trimestre de 2008 (Figura 13), a despeito do aumento dos preços, é explicada pelo plantio de milho safrinha. Também está havendo antecipação da safra de verão e compra antecipada de safras. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 O milho ocupa importante papel na alimentação humana e, com o advento do etanol, a demanda por este cereal tem aumentado muito nos Estados Unidos. No Brasil, a média de produtividade do milho está em torno de 3 t ha-1, muito abaixo daquela alcançada em áreas com adoção de alta tecnologia, como nos Estados Unidos, que é de cerca de 9 t ha-1 de milho, muito aquém ainda do seu potencial genético produtivo, que é de cerca de 38 t ha-1. Desta forma, torna-se estratégico o emprego de novas tecnologias que proporcionem aumentos de produtividade, melhorem o aproveitamento dos recursos disponíveis, visando sustentabilidade dos sistema agrícolas, e evitem prejuízos ao ambiente. Os componentes da produtividade do milho, tais como número de plantas por unidade de área, número de fileiras por espiga, número de grãos por fileira e massa de grãos, são determinados por processos fenológicos como germinação, desenvolvimento vegetativo, florescimento, granação e maturação. Apesar de o milho apresentar elevado potencial produtivo, fatores bióticos e abióticos influenciam sua capacidade de produção. Dentre estes fatores, os 15 hormônios vegetais desempenham função importante. Estes são compostos orgânicos, não nutrientes, de ocorrência natural, produzidos nas plantas em baixas concentrações (10-4 M), que promovem, inibem ou modificam processos fisiológicos e morfológicos dos vegetais, podendo uniformizar a germinação, controlar o desenvolvimento vegetativo, promover florescimento, auxiliar no processo de enchimento de grãos e antecipar ou atrasar a maturação (Figura 14). Até recentemente, apenas seis tipos de hormônios eram considerados: auxinas, giberelinas, citocininas, retardadores, inibidores e etileno. Contudo, hoje, outras moléculas com efeitos similares têm sido descobertas, tais como, brassinosteróides, ácido jasmônico (jasmonatos), ácido salicílico (salicilatos) e poliaminas. Para que haja resposta, promoção, inibição ou alteração metabólica do vegetal a um determinado hormônio, este deve: a) estar em quantidade suficiente nas células adequadas, b) ser reconhe- cido e capturado por receptores específicos localizados na membrana plasmática de células vegetais e c) ter seus efeitos amplificados por mensageiros secundários (geralmente um mineral, normalmente Ca ou P) (Figura 15). Assim, diferentes respostas fisiológicas, como floração, germinação, crescimento, alongamento, acontecem em função das diferentes enzimas formadas por cada um dos reguladores que são aplicados. Por isso, é importante sempre manter na planta, primeiro, o equilíbrio nutricional, e depois o hormonal. Com os inúmeros benefícios obtidos a partir da aplicação de reguladores vegetais sobre as plantas cultivadas, combinações desses produtos têm sido estudadas. Além disso, raramente os hormônios vegetais agem sozinhos, mesmo quando uma resposta no vegetal é atribuída à aplicação de um único regulador vegetal, o tecido que recebeu a aplicação contém hormônios endógenos que contribuem para as respostas obtidas. As inter-relações no desenvolvimento vegetal resultam da combinação de muitos sinais, da ação conjunta de muitas dessas substâncias. As sementes constituem o principal veículo de multiplicação de espécies cultivadas. Além disso, a população de plantas, um dos componentes da produtividade, em uma determinada área cultivada, é determinada, entre outros fatores, pela germinação de sementes, que começa com a absorção de água e termina com o alongamento do eixo embrionário. Práticas de manejo que permitam maximizar o potencial fisiológico das sementes após a semeadura são de grande importância para a obtenção de elevadas produtividades. A principal razão para o uso de reguladores vegetais em milho tem sido promover melhor germinação de sementes, visando reduzir falhas no estande e melhorar o desenvolvimento do sistema radicular, pois como os recursos de solos, água e nutrientes estão irregularmente distribuídos, quanto maior a habilidade das plantas em distribuir seu sistema radicular no solo, melhor sua capacidade em explorar eficientemente estes recursos. As raízes das plantas terrestres estão envolvidas na aquisição de água e nutrientes disponíveis no solo, sustentação da planta, síntese de hormônios vegetais e funções de armazenamento. A B Nos últimos anos, os biorreguladores, os aminoácidos e os extratos de algas têm estado em evidência e despertado o interesse dos produtores pelo potencial em promover aumentos de produtividade. • Biorreguladores Os biorreguladores ou reguladores vegetais são compostos orgânicos, naturais ou sintéticos que, em pequenas quantidades, promovem ações similares aos grupos de hormônios vegetais conhecidos. Essas substâncias podem ser aplicadas diretamente nas plantas (folhas, frutos, sementes), provocando alterações nos processos vitais e estruturais com a finalidade de incrementar a produção, melhorar a qualidade e facilitar a colheita, mesmo sob condições ambientais adversas. O único regulador de crescimento vegetal do grupo químico citocinina + giberelina + ácido indolbutírico registrado para a cultura do milho no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o Stimulate®, da Stoller do Brasil, contendo em sua formulação 90 mg L-1 de cinetina (citocinina), 50 mg L-1 de ácido indolbutírico (auxina) e 50 mg L-1 de ácido giberélico (giberelina). Figura 14. Funções dos hormônios vegetais no crescimento vegetativo (A) e no crescimento reprodutivo e na senescência (B). Legenda: AX = auxina, CK = citocinina, GA = giberelina, BR = brassinosteróide, ABA = ácido abscísico, ET = etileno, JA = ácido jasmônico. 16 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Entre os fatores que regulam o processo germinativo, a presença de hormônios e o equilíbrio entre eles, promotores e inibidores, exercem papel fundamental (Figura 15). O desenvolvimento do eixo embrionário é mediado por auxinas e citocininas e o aumento tanto no número como no tamanho das células é decorrente da síntese protéica realizada pelo embrião. De maneira geral, as giberelinas estão envolvidas na transcrição genética, as citocininas na tradução e as auxinas na permeabilidade das membranas. O ácido giberélico, por regular a expressão do gene da α-amilase, a qual hidrolisa o amido, tem a função de regulação na mobilização de reservas do endosperma durante o desenvolvimento de plântulas. Quanto à produção de grãos, a relação fonte/dreno tem sido a principal determinante. Neste caso, sabe-se do papel das citocininas na promoção do movimento de nutrientes. Inúmeros trabalhos mostram que os nutrientes são preferencialmente transportados e acumulados em tecidos tratados com citocininas, havendo uma provável alteração na relação fonte-dreno. Experimento com aplicação de Stimulate® em tratamento de sementes, na concentração de 10 ml kg-1, mostrou-se eficiente na promoção de melhor desempenho das sementes no processo germinativo, proporcionando maior número de plântulas normais. Também registrou-se melhor resposta dos sistemas radiculares das plantas originadas de sementes pré-tratadas com o biorregulador, aumentando significativamente o crescimento das raízes (Figura 16). A fotossíntese também depende dos hormônios, assim como dos nutrientes, os quais, na forma iônica, ativam as enzimas. O principal hormônio que atua na fotossíntese é a citocinina, que age na diferenciação do cloroplasto, na síntese da enzima rubisco – responsável pela transformação do carbono inorgânico em orgânico – , na síntese de clorofila, na expansão foliar e na inibição da degradação da clorofila (inibe a senescência). A giberelina inibe ou retarda a degradação da clorofila. A auxina regula a abertura das folhas e é responsável pela partição e movimento de assimilados no floema. • Aminoácidos São metabólitos primários das plantas, constituintes das proteínas. Para a síntese de proteínas, aminoácidos individuais são acoplados por ligações peptídicas. Figura 16. Efeito de Stimulate® na germinação de sementes, no número de plântulas normais e no comprimento de raízes de milho. Fonte: VIEIRA e CASTRO (2000). Figura 15. Mecanismos de ação dos hormônios e reguladores na planta. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Embora as plantas possam conter mais de 300 aminoácidos diferentes, apenas 20 são necessários para a síntese de proteína, quais sejam: fenilalanina, tirosina, triptofano, hidroxiprolina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, ornitina, valina, alanina, arginina, aspartato, asparagina, cisteína, glutamato, glutamina, glicina, prolina e serina. A importância dos aminoácidos para as plantas está ligada aos metabolismos primário e secundário. Há aminoácidos que são preponderantes na composição das proteínas vegetais, como metionina, lisina, glicina e ácido glutâmico. Há, também, funções particulares, em que aminoácidos específicos estão presentes, como, por 17 exemplo, a glicina está presente na formação da clorofila, o ácido glutâmico é um aminoácido-chave no crescimento e funcionamento dos meristemas e na frutificação, a prolina e a hidroxiprolina são responsáveis pela fertilidade do grão de pólen e pela consistência das paredes celulares, a asparagina e o glutamato promovem a conexão entre o ciclo do carbono e o do nitrogênio nas plantas, influenciando a síntese de açúcares e de proteínas, entre outros. Os aminoácidos são considerados aditivos pelo MAPA e têm seu uso aprovado em fertilizantes, em geral como estabilizantes da formulação. O uso destes produtos em pulverizações foliares está se tornando cada vez mais freqüente, embora haja controvérsias quanto à absorção pelas plantas, pois os resultados apresentados na literatura científica existente não são consistentes, talvez em função do reduzido número de trabalhos publicados. No entanto, há citações de que as plantas podem absorver aminoácidos pelas raízes e pelas folhas. Os aminoácidos podem formar complexos com cátios como Zn, Cu, Mn e Fe, protegendo-os e aumentando sua disponibilidade para as plantas. • Extratos de algas Produtos comerciais à base de Ascophyllum nodosum, por exibirem ação semelhante aos hormônios vegetais, tem sido usados para aplicações foliares ou no solo, inclusive na agricultura orgânica. Esta alga é encontrada exclusivamente em águas temperadas do hemisfério norte. Por ter se adaptado a condições de sobrevivência bastante adversas – águas com temperaturas extremamente baixas no inverno, imersão total na água salgada na maré alta e intensa exposição ao solo na maré baixa – acredita-se que desenvolveu estratégias de sobrevivência, como a síntese de compostos anti-estresse. Assim como os aminoácidos, o extrato de alga é considerado aditivo pelo MAPA e tem seu uso aprovado em fertilizantes, em geral como estabilizante da formulação. Auxinas e citocininas podem ser identificadas e quantificadas em extratos de algas, porém, há controvérsias na pesquisa sobre a possibilidade de haver uma relação direta entre os níveis de citocinina de extratos de algas e os níveis deste hormônio no tecido das plantas que receberam a aplicação do extrato. As respostas parecem depender da espécie de planta e da composição das substâncias húmicas e extratos de algas presentes nos produtos. Assim, há necessidade de mais estudos para elucidar o mecanismo de ação e os efeitos dessas substâncias bem como a de padronização do extrato de alga em relação à concentração dos hormônios. PLANTAS DE COBERTURA E ROTAÇÃO DE CULTURAS NO SISTEMA PLANTIO DIRETO Ademir Calegari, Instituto Agronômico do Paraná-IAPAR, Londrina, PR, email: [email protected] O declínio dos níveis de fertilidade natural dos solos geralmente está relacionado com o uso intensivo e inadequado das áreas exploradas, o que, por sua vez, não permite às plantas manifestarem todo seu potencial genético. Este manejo inadequado tem contribuído para o processo de degradação da matéria orgânica, causando desequilíbrio nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, acelerando a erosão e diminuindo a produtividade das culturas. Normalmente, as áreas mantidas sem cobertura verde ou morta são as mais predispostas aos efeitos desfavoráveis das 18 precipitações excessivas e, certamente, às perdas de solo e nutrientes por erosão e lixiviação. Com as evidências marcantes do efeito estufa, as mudanças climáticas provocarão alterações nas distribuições e níveis de precipitação, incorrendo em maiores riscos de perdas de solo e nutrientes. Dessa forma, é fundamental que o solo seja mantido coberto com resíduos vegetais, que o preparo seja mínimo (plantio direto) e que o perfil do solo apresente condições favoráveis à infiltração de água, práticas estas que devem ser integradas a outras de conservação do solo e da água, como uso de terraços, curvas de nível, cultivos em faixas, rotação de culturas, canal escoadouro e outras. Atualmente, a tendência é o manejo dos agrossistemas de forma a serem produtivos, competitivos e sustentáveis a longo prazo. Assim, são priorizados os sistemas que integram e contribuem para maior biodiversidade; equilíbrio no uso, reciclagem, e aproveitamento de nutrientes e manutenção e/ou recuperação das características químicas, físicas e biológicas do solo, como, por exemplo, o plantio direto, a adubação verde e a rotação de culturas. Com a redução do revolvimento do solo e a adição de matéria orgânica há um balanço positivo de carbono no solo, conduzindo a um sistema sustentável de produção. No planejamento do cultivo de plantas a serem usadas como cobertura do solo ou adubação verde é de fundamental importância conhecer com profundidade a espécie a ser utilizada, o histórico da área a ser cultivada, as condições edafoclimáticas específicas, o sistema de produção em curso, onde será implantada a planta de cobertura, bem como as finalidades propostas (suprimento de N, descompactação, aumento de C orgânico do solo, diminuição de pragas e doenças, controle de invasora, e outras). Diversos trabalhos de pesquisa com diferentes espécies de adubos verdes de primavera/verão e outono/inverno no sistema de plantio direto, realizados em diferentes condições agroecológicas do Paraná, têm mostrado a eficiência destes sistemas no equilíbrio e melhoria das características do solo. Entre as espécies testadas, destacam-se: aveia preta (Avena strigosa), tremoço (Lupinus sp.), ervilhaca peluda e comum (Vicia villosa e V. sativa), nabo forrageiro (Raphanus sativus), ervilha (Pisum sativum), mucuna (Mucuna pruriens), crotalária (Crotalaria juncea), guandu (Cajanus cajan), capim Moha-IAPAR (Setaria italica), caupi (Vigna unguiculata), milheto (Penissetum americanum), calopogonio (Calopogonium mucunoides), amendoim forrageiro (Arachis pintoi), entre outras. As plantas de cobertura poderão ser plantadas em cultivo singular ou em associações. Pode-se fazer uso do consórcio de gramíneas e leguminosas (Figura 17) ou, ainda, misturar duas, três ou mais espécies (Figura 18). Além de apresentarem importante efeito melhorador das propriedades físicas do solo (agregação, estruturação), produzem resíduos de relação C/N intermediária que favorece a mineralização de N e promovem maior equilíbrio e acúmulo de C no perfil do solo ao longo dos anos. No caso de cultivos singulares, a decomposição das leguminosas resultará em maiores riscos de perdas de N (mineralização, lixiviação), quando comparada à das gramíneas. Quando os resíduos de gramíneas são mesclados com resíduos de leguminosas normalmente não há problemas com imobilização de N, e a mineralização paulatina favorecerá a disponibilidade e a absorção dos nutrientes pelas plantas. Os nutrientes deixados pelas plantas de cobertura às culturas posteriores podem ser aproveitados em quantidades variáveis, de acordo com os seguintes fatores: INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 processo de decomposição dos resíduos no solo. A Figura 19 mostra que os maiores rendimentos de milho foram obtidos quando as leguminosas (tremoço e ervilhaca) e o nabo foram manejados 10 dias após a semeadura. Por outro lado, as gramíneas (aveia e azevém), com maior relação C/N, proporcionaram maiores rendimentos de milho após 20 dias do manejo. Figura 17. Consórcio aveia preta- ervilhaca comum. Figura 19. Rendimento de milho em resposta a três épocas de manejo de diferentes plantas de cobertura de inverno. DAS = dias antes da semeadura do milho. Fonte: RUEDELL (1995). • Temperatura, umidade e oxigênio no solo: temperaturas elevadas, disponibilidade de água e arejamento facilitam o aumento da população de microrganismos no solo os quais, conseqüentemente, aceleram o processo de decomposição dos resíduos no solo. • Manejo do solo: o revolvimento do solo por arados, grades e outros implementos promove a mistura dos resíduos na camada superficial, acelerando o processo de decomposição. Figura 18. Consórcio milheto + nabo + aveia + Brachiaria ruziziensis + Crotalaria juncea. • Espécie de planta de cobertura utilizada: plantas mais fibrosas, com maior quantidade de carbono, demoram mais para se decompor no solo, enquanto plantas com maiores teores de N se decompõem mais rapidamente. A relação C/N, bem como a quantidade de lignina no tecido vegetal, irão governar grande parte do Com a utilização das diferentes plantas de cobertura é possível quantificar o montante de um determinado nutriente reciclado e/ou fixado biologicamente pelas leguminosas, considerando a biomassa produzida e os nutrientes contidos no tecido foliar. Os valores apresentados na Tabela 11 mostram o grande potencial que as diferentes plantas de cobertura possuem em deixar no horizonte superficial do solo quantidades variáveis de nutrientes que podem ser absorvidos pelas raízes nos cultivos posteriores. Além dos nutrientes, um dos mais importantes aportes das plantas são os compostos de carbono orgânico, ou seja, a matéria orgânica, Tabela 11. Produção de massa verde, matéria seca (M.S.) e montante de nitrogênio, fósforo e potássio (% da M.S.) de algumas espécies. Espécie Massa verde Matéria seca (t ha-1) (t ha-1) Aveia preta 15-40 2-11 0,7-1,7 0,14-0,42 1,1-3,1 Centeio 30-35 4-8 0,6-0,7 0,16-0,29 0,7-1,4 Nitrogênio Fósforo Potássio - - - - - - - - - - - - - - - - (% na matéria seca) - - - - - - - - - - - - - - - - Ervilhaca peluda 20-37 3-5 2,5-4,4 0,25-0,41 2,4-4,3 Ervilhaca comum 20-30 3-5 2,7-3,5 0,27-0,38 2,3-2,6 Ervilha forrageira 15-40 2,5-7 1,8-3,4 0,14-0,41 0,7-3,3 Nabo forrageiro 20-65 3-9 0,9-1,4 0,18-0,33 2,0-2,6 Tremoço branco 30-40 3,5-5 1,2-2,0 0,25-0,29 1,0-1,8 Tremoço azul 25-40 3-6 0,8-2,1 0,12-0,29 1,4-1,5 Aveia/ervilhaca 15-50 2-10,5 0,9-1,4 0,15-0,16 1,2-1,5 1 As espécies de inverno são todas anuais. Fonte: Adaptada de CALEGARI e PEÑALVA (1994). INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 19 que será responsável, direta ou indiretamente, pelas interações e reações químicas, físicas e biológicas do sistema solo-água-planta. Os processos de mineralização/imobilização de vários nutrientes essenciais às plantas, como N, P e S, realizados pelos microrganismos, destacam-se como os mais importantes para a reciclagem de nutrientes, que ocorrem marcadamente nos sistemas produtivos nos quais são adotados a rotação de culturas e o plantio direto. A taxa de decomposição dos resíduos varia de acordo com a espécie, seus componentes químicos e com as formas e a época de manejo. A Tabela 12 mostra as diferentes taxas de decomposição dos resíduos de aveia preta, trigo e ervilhaca comum aos 45 dias após o manejo. Nota-se que houve maior permanência da massa seca da aveia preta (gramínea) aos 45 dias após o manejo, enquanto a ervilhaca (leguminosa), por apresentar menor relação C/N e menores teores de lignina, apresentou decomposição mais rápida e o trigo redução intermediária. Tabela 12. Produção de matéria seca de culturas de inverno (1985-1987) e redução da massa seca aos 45 dias depois do manejo (DDM). Espécie Aveia preta Matéria seca (t ha-1) 0 DDM 45 DDM Redução da massa seca (%) 6,34 4,37 31 Trigo 2,19 1,40 36 Ervilhaca comum 3,25 1,37 58 Fonte: Ruedell, 1995, citado por Fries e Aita (1999). Estudos realizados em Passo Fundo, RS, comparando diferentes gramíneas de inverno – aveia preta, aveia branca, centeio, azevém, cevada, triticale e trigo – em sistemas de rotação com soja em plantio direto, indicaram que os resíduos de centeio na superfície ficaram maior tempo protegendo o solo, quando comparado às demais plantas, comprovando que essa é uma importante espécie a ser empregada na rotação com outros cultivos comerciais. Além dos efeitos favoráveis de cobertura protetora do solo e efeitos alelopáticos no controle das plantas daninhas, também as raízes do centeio apresentam crescimento inicial agressivo, podendo alcançar vários metros de profundidade. Os resultados mostraram que apenas 27% e 39% da palha do centeio deixada na superfície foi decomposta, respectivamente, aos 120 e 180 dias depois da semeadura da soja, ficando ainda uma elevada quantidade de resíduos sobre o solo depois da colheita da soja. Resultados obtidos no sudoeste do Paraná mostram os efeitos das espécies de inverno e do sistema plantio direto no rendimento do milho (Tabela 13). Seguramente, os efeitos físicoquímicos-biológicos ocorridos no solo no sistema plantio direto, incluindo o suprimento de grande parte de N pelas leguminosas, contribuíram para as maiores produtividades de milho, quando comparado ao cultivo convencional. Pelos resultados pode-se verificar que as ervilhacas, o tremoço, a serradela, o chicharo, o nabo forrageiro e a espérgula, antecedendo o milho no inverno em rotação com soja (em plantio direto, sem N) foram superiores ao rendimento do milho após pousio, tanto em plantio direto como em convencional, mesmo com a aplicação de 90 kg ha-1 de N. Estes resultados têm sido obtidos por muitos produtores, principalmente no Sul do Brasil. É recomendável que as rotações desenvolvidas sejam adaptadas regionalmente, levando em consideração as condições de solo e clima, a vocação das glebas da propriedade, as condições 20 Tabela 13. Rendimento de grãos de milho AG-513 após culturas de inverno. Estação Experimental de Pato Branco. Média de três repetições. Plantio direto Culturas de inverno -1 Dose (kg ha N) 0 90 Plantio convencional Dose (kg ha-1 N) 0 90 - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - Ervilhaca comum Ervilhaca peluda Tremoço azul-IAPAR 24 Serradela Chícharo Nabo forrageiro Espérgula Trigo Aveia preta Pousio Centeio Azevém 7.338 6.883 6.872 6.763 6.425 5.755 5.450 5.000 4.586 4.441 4.291 4.283 7.641 7.344 6.419 7.363 7.558 6.994 6.925 5.988 6.836 5.991 6.669 6.980 6.094 5.608 5.916 5.013 4.736 5.566 5.658 4.769 5.436 4.827 3.858 5.719 6.438 5.775 6.302 5.861 5.341 6.177 6.433 5.330 6.127 5.938 5.327 6.025 socioeconômicas e interesses do produtor e, acima de tudo, além de tecnicamente factível, que sejam ecologicamente equilibradas e economicamente viáveis. Os consórcios mais recomendados e com melhores resultados para os cultivos de milho, soja, feijão e algodão nas regiões Sul, Sudeste e parte da Centro-Oeste do Brasil, são: • Aveia preta IAPAR-61 ou IPR-126 (20-25 kg ha-1) + ervilha forrageira (40-45 kg ha-1) • Aveia preta IAPAR-61 ou IPR-126 (20-25 kg ha-1) + tremoço (branco e/ou azul) (50- 70 kg ha-1) • Aveia preta IAPAR-61 ou IPR-126 (20-25 kg ha-1) + ervilhaca (peluda ou comum) (40-45 kg ha-1) • Aveia preta IAPAR-61 ou IPR-126 (20-25 kg ha-1) + nabo forrageiro (10 kg ha-1) • Aveia preta IAPAR-61 ou IPR-126 (15-20 kg ha-1) + ervilha forrageira (25-30 kg ha-1) + nabo (5-8 kg ha-1) • Aveia preta IAPAR-61 ou IPR-126 (15 kg ha-1) + ervilha forrageira (25 kg ha-1) + nabo (5 kg ha-1) + ervilhaca (20-25 kg ha-1) • Aveia preta IAPAR-61 ou IPR-126 (15 kg ha-1) + tremoço branco (25-30 kg ha-1) + nabo (5 kg ha-1) + ervilhaca (20-25 kg ha-1) • Aveia preta (15 kg ha-1) + centeio (15 kg ha-1) + ervilha forrageira ou ervilhaca (20-25 kg ha-1) • Aveia preta (15 kg ha -1) + centeio (15 kg ha -1) + nabo (5-7 kg ha-1) + ervilha forrageira ou ervilhaca (20 kg ha-1). As quantidades de sementes de aveia preta indicadas são para as cultivares do IAPAR, cv. IAPAR-61 e/ou cv. IPR-126, com alta capacidade de perfilhamento. No caso da aveia preta comum, aumentar em 50% a quantidade de sementes recomendada. Nas regiões frias (Sul do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) pode ainda ser empregado o azevém na mistura com aveia, ervilhaca, centeio, etc. Nas regiões mais quentes, onde o processo de decomposição da matéria orgânica é mais acelerado, para uma maior estabilidade da cobertura morta no plantio direto recomenda-se, como plantas de cobertura na rotação, maior utilização de gramíneas ou o consórcio de gramíneas com leguminosas e/ou outras famílias. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Em algumas regiões, principalmente nos Cerrados, é possível a semeadura de milheto + nabo forrageiro (10 + 8-10 kg ha-1) ou a mistura de aveia + nabo + girassol (20 + 7-8 + 15-20 kg ha-1 ), podendo ser rotacionadas com milho, soja, algodão e outras. A Tabela 14 mostra a seqüência de rotações de culturas indicada para os Cerrados. No esquema racional de rotação de culturas, alguns aspectos de produção devem ser observados: • Em áreas da propriedade que apresentam baixas quantidades de matéria orgânica a rotação de culturas deverá contribuir com maior adição de compostos que apresentem cadeias carbônicas mais complexas, com mais lignina, celulose e hemicelulose. Ao mesmo tempo, plantas que se adaptem às condições específicas de fertilidade de cada gleba deverão ser consideradas na rotação. • Talhões ou glebas cujo solo apresente elevados índices de desagregação das partículas deverão incluir gramíneas na rotação, pois estas apresentam sistema de raízes fasciculadas que promovem maior agregação e estruturação do solo no perfil. • Áreas com compactação leve ou média deverão receber plantas com raízes pivotantes e com potencial descompactador, como guandu, Crotalaria mucronata, Tefrosia, nabo forrageiro pivotante, tremoços, e outras. • Áreas com pastagem degradada ou com presença de nematóides deverão ser rotacionadas com plantas que melhorem o subsolo e inibam e/ou promovam a diminuição da população de nematóides, como o guandu e as brachiárias. • Solos que pelo excessivo uso em monocultivo e/ou com problemas de adensamento apresentem problemas de doenças, como fungos de solo, deverão receber espécies de plantas de diferentes famílias em rotação, como as gramíneas e outras que não preferencialmente as leguminosas. • Solos infestados por invasoras devem incluir plantas que possuam efeitos físicos e químicos (alelopáticos) que afetam quali e quantitativamente as distintas infestações, como mucunas, milheto, guandu, ervilhacas, nabo forrageiro e outras. O manejo das plantas de cobertura deve ser realizado no período de pleno florescimento, quando os nutrientes encontramse distribuídos em todas as partes da planta. As plantas podem ser manejadas com rolo-faca, herbicidas, gradagens, ou outros meios, de acordo com as condições locais e a infra-estrutura do produtor. Deve-se sempre considerar que muitas das espécies de cobertura indicadas apresentam desenvolvimento vegetativo bastante rápido (50-70 dias), podendo ocupar pequenos intervalos entre os diferentes cultivos: após a colheita do milho normal (fevereiro) ou após trigo, cevada, coberturas de inverno e milho safrinha (agosto). A prática do cultivo de plantas de cobertura adequadamente conduzida em rotação de culturas no sistema plantio direto adaptado regionalmente tem permitido melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia de mão-deobra, uso de máquinas e controle mecânico/químico de invasoras, e facilitado, desta forma, o planejamento das diferentes atividades da propriedade. Além disso, a melhoria dos processos de uso do solo, priorizando a qualidade e manutenção da sua capacidade produtiva, é um meio de viabilizar a manutenção da família na atividade agropecuária de forma sustentável e compatível, tanto com os recursos naturais, sob o ponto de vista de qualidade ambiental, quanto com os socioeconômicos, melhorando a qualidade de vida dos agricultores. CONSTRUÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO EM SOLOS ARENOSOS Orlando Carlos Martins, SNP Consultoria, Viçosa, MG, email: [email protected] É muito difícil obter altas produtividades de soja em solos argilosos pobres de cerrado sem o uso de fertilizantes. Esta situação torna-se muito mais grave em solos arenosos, principalmente quando o objetivo é manter a produtividade ao longo dos anos com sustentabilidade. Tabela 14. Seqüência de rotações de culturas indicada para os Cerrados. Cultura antecessora Cultura principal Milho, sorgo, milheto, arroz, trigo, aveia, mucuna, milho + guandu Soja Soja, guandu, mucuna, girassol, crotalária juncea, lablab, nabo forrageiro, ervilhaca, aveia, milho + mucuna, milho + guandu Milho Cultura sucessora Milho, sorgo, milheto, girassol, nabo forrageiro, arroz, milho milho + ervilhaca, aveia, trigo Aveia, nabo forrageiro, trigo, girassol, milheto, soja, feijão, sorgo, arroz Milho, soja, milheto, trigo, aveia Algodão Aveia, nabo forrageiro, trigo, soja, milho, sorgo, milheto, arroz Milho, soja, sorgo, arroz, milheto, aveia, trigo Girassol Milho, sorgo, arroz, aveia, milheto, nabo forrageiro, trigo Milho, sorgo, aroz, milheto, aveia, trigo Feijão Milho, sorgo, arroz, milheto, aveia, mucuna Sorgo Nabo forrageiro, ervilhaca, aveia, tremoço branco, girassol, guandu, soja, milho, crotalária, mucuna, feijão, lablab Milho, sorgo, arroz, trigo, milheto, aveia Arroz de sequeiro Girassol, feijão, aveia, nabo forrageiro, ervilhaca, guandu, soja, mucuna, lablab Milho, algodão, girassol, mucuna, feijão, soja, guandu, crotalária, lablab Trigo Mucuna, girassol, feijão, algodão, sorgo, milheto, guandu, soja, lablab, crotalaria Todas podem ser recomendadas Aveia Todas podem ser recomendadas INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 21 Recentemente, com o aumento da demanda de soja pelo mercado internacional, com a melhoria dos preços agrícolas e com a falta de solos argilosos nas regiões tradicionais de cultivo de soja, muitos agricultores expandiram suas lavouras em solos arenosos, mas tiveram muito prejuízo devido à baixa produtividade alcançada. Segundo Orlando, a situação mais desafiadora enfrentada no cultivo de soja em solos arenosos foi a produção de grãos para semente com alta produtividade (60 sacas ha-1) em solos com 4% de argila em grandes áreas na região de Alto Graças, MT. Estes solos são formados sobre arenito Bauru, com 4% de argila, 4% de silte e 92% de areia, em média, sendo que esta última fração é composta por 80% de areia fina e 12% de areia grossa, o que é muito importante neste tipo de solo, pois a areia fina retém muito mais umidade que a areia grossa, sendo isto que possibilita o cultivo nestas áreas. Assim, recomenda-se que sempre que o teor de argila do solo for menor que 10%, deve-se analisar em que proporção se encontra a areia fina. Se a areia grossa for predominante, o cultivo da soja fica inviabilizado com a tecnologia atualmente disponível. Além dos baixos teores de argila, os solos desta região apresentam teores muito baixos de nutrientes e alta saturação por alumínio nas camadas superficiais e também em profundidade, o que dificulta o enraizamento da soja em camadas mais profundas, abaixo de 30 cm, onde o calcário não consegue chegar. Normalmente, não se observa presença de raízes de soja abaixo de 35 cm de profundidade, agravando ainda mais os danos por seca, quando estas ocorrem, além da deficiência de nutrientes, como K, S e B, que são lixiviados com maior facilidade no perfil e não ficam mais disponíveis para as plantas. A primeira condição básica para o cultivo de soja nestes solos arenosos é a rotação de culturas com o uso de uma gramínea que consiga enraizar nesses subsolos ácidos, com o objetivo de buscar parte dos nutrientes que foram lixiviados abaixo dos 30 cm de profundidade e produzir palhada no inverno, com pouca água, para fazer uma boa cobertura no verão e permitir o estabelecimento da cultura da soja. Esse estabelecimento só é possível com a proteção de uma boa palhada, pois sem essa cobertura haverá superaquecimento da superfície do solo provocando a queima do colo das plântulas, levando-as à morte e reduzindo drasticamente o estande final (Figura 20), além de, posteriormente, causar a morte dos nódulos nas plantas remanescentes. A planta utilizada para a rotação com o milho é o milheto, gramínea muito resistente à seca, cujo sistema radicular atinge 4 metros de profundidade com facilidade, absorve grandes quantidades de K da subsuperfície – o qual é liberado lentamente para a cultura ao longo do ciclo –, produz boa quantidade de palha (Figura 21), ajuda no controle de nematóides Pratylenchus brachyurus e de galhas e normalmente apresenta produtividade de grãos suficiente para cobrir o custo de sua implantação. Uma característica do milheto que deve ser considerada é a sua alta taxa de degeneração1, que é semelhante a de uma planta híbrida, sendo necessário o uso de sementes básicas na implantação da cultura para que haja produção da massa necessária para o cobrimento do solo. Figura 21. A soja deve crescer dentro da palhada de milheto, que deve ser uniforme, cobrindo todo o ambiente. Resultados médios de produtividade de soja em quatro safras após rotação soja/milheto, na região de Alto Garças, MT, mostraram que o milheto exerce influência no aumento da produtividade da soja ao longo dos anos – 7,3 sacas ha-1 ano-1 – correspondendo a um acréscimo, no total, de 20,1 sacas ha-1 ano-1 (Figura 22). Figura 22. Produtividade média de soja em quatro safras após rotação com milheto. Fazenda Morro das Araras, Alto Garças, MT. Fonte: Departamento Técnico, Sementes Adriana. Para obter boa plantabilidade em solo arenoso, o plantio tem sido feito colocando-se a semente na mesma linha do adubo, mas com uma diferença de profundidade de cerca de 7 cm entre eles. Para isso, foram adaptados dois compactadores na semeadora/ adubadora, atrás do disco de adubo, para fechar a linha de plantio 1 Figura 20. Queima do colo da plântula de soja por superaquecimento em solo argiloso. 22 Degeneração: processo de enfraquecimento irreversível de deterioração celular e conseqüente perturbação funcional, devido a causas diversas, podendo, muitas vezes, evoluir no sentido de enfraquecimento racial da espécie. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 e evitar sua mistura com a semente (Figura 23). Além disso, o K é aplicado em baixas doses no plantio para evitar a queima da semente. Figura 23. Detalhe dos compactadores adaptados à semeadora/adubadora para evitar a mistura do adubo com a semente. Para conseguir o desenvolvimento pleno da soja nesses solos arenosos de primeiro ano, visando produzir 60 sacas ha-1, é necessário aplicar uma quantidade de calcário superior àquela normalmente necessária para elevar a saturação por bases a 70% da CTC permanente. Geralmente, tem-se utilizado de 6 a 7 t ha-1 de calcário com PRNT de 85%, em três aplicações, sendo que 3 a 4 t ha1 permanecem sem dissolver no solo, mas que são aproveitados pela soja no estádio de fixação de N. A explicação encontrada para este fato é que, devido à CTC do solo ser muito baixa, o cálcio trocável presente na argila é insuficiente para atender a demanda da soja, que é alta. Além disso, quando se inicia o processo de fixação biológica de N na soja, em torno de 15 a 20 dias após a emergência, ocorre a liberação de H+ na região da rizosfera, o que leva à redução do pH nesta região, normalmente em torno de 2 unidades, sendo comum encontrar valores de 4,0 a 4,5. O calcário que permanecia sem dissolução no solo, próximo à raiz, neutraliza o H+ e libera Ca2+ e Mg2+ para complementar a nutrição da planta, mantendo o solo com pH adequado para o crescimento das raízes. Após 4 a 5 anos, quando a quantidade de calcário residual diminui e a produtividade decresce, é feita nova calagem para manter a produtividade da cultura em níveis altos (Figura 24). O potássio (K) tem um papel muito importante na resistência da planta à seca nos solos arenosos. Lavouras mal nutridas em K sofrem mais cedo e mais severamente os efeitos da seca, podendo levar as plantas à morte em poucos dias na ausência de chuvas. Como a lixiviação é muito intensa nesses solos, é necessário aplicar doses de K maiores que as quantidades exportadas para repor parte do K lixiviado e não resgatado pelo milheto. O ideal é aplicar uma dose pequena na linha de plantio (por exemplo, 30 kg ha de K2O) e o restante parcelar em duas aplicações, sendo a primeira entre 25 e 30 DAE e a segunda entre 25 e 40 DAE. Para o fósforo, são necessárias doses mais altas nos primeiros anos de cultivo, devido à pobreza original desses solos. Como a adsorção de P é baixa, as doses podem ser reduzidas drasticamente com o tempo, podendo chegar a menos de 50 kg ha-1 de P2O5 a partir do 5o ou 6o ano de cultivo. Deficiências de micronutrientes são comuns em solos arenosos, principalmente de Zn, Cu, Mn e B, tendendo a aumentar com o passar dos anos, caso não sejam adequadamente aplicados. O ambiente que envolve os solos arenosos é muito frágil e, até o momento, o potencial produtivo da área e a sustentabilidade do sistema ao longo do tempo tem sido mantidos com a rotação com milheto e com um bom programa de monitoramento e aplicação de macro e micronutrientes. INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO NA OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DE PLANTAS Antonio Luiz Fancelli, ESALQ/USP, e-mail: [email protected] Inúmeros são os fatores que interferem na produtividade das plantas cultivadas; todavia, merecem especial destaque a presença de patógenos e insetos-praga, que são responsáveis pela destruição de grandes quantidades de alimentos e bens de sobrevivência, bem como amplificam significativamente os custos financeiros e energéticos da atividade agrícola. Uma das principais causas para a ocorrência e predisposição das plantas a doenças e pragas é o desequilíbrio nutricional (carência ou excesso) que, quando aliado ao estádio fenológico do hospedeiro, à herança genética e às condições climáticas reinantes no período, pode provocar prejuízos significativos. Nesse contexto, os nutrientes, direta ou indiretamente, estão envolvidos nas estratégias de defesa vegetal como componentes integrais, ativadores, inibidores, reguladores de síntese ou de metabolismo e, portanto, o seu pleno diagnóstico (deficiência ou excesso), bem como a garantia de seu aproveitamento efetivo, tornam-se estritamente necessários para o estabelecimento de programas de manejo objetivando a obtenção de produtividades lucrativas e sustentáveis. Os principais mecanismos relacionados à defesa de plantas contra patógenos e insetos-praga estão relacionados às barreiras físicas e bioquímicas e ao equilíbrio nutricional, quais sejam: a) Mecanismo intrínsico, constitutivo ou latente Tais mecanismos são representados pela presença de cutícula e de membrana plasmática espessa e íntegra, ceras, pêlos, lignina e algumas outras substâncias disponíveis em diferentes partes da planta. Ressalta-se que todos esses elementos encontram-se sempre presentes na planta e possuem caráter hereditário. As estratégias básicas envolvidas são barreira física, barreira bioquímica e equilíbrio nutricional. Figura 24. Sustentabilidade da soja cultivada em solo arenoso – quarto ano de cultivo. Produtividade: 65,1 sacas ha-1. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 b) Mecanismo estimulado Este mecanismo é desencadeado por reação de estímulo externo ou interno, normalmente caracterizado por reação de hiper- 23 sensibilidade (HR), relacionada a ações de agressão. Ressalta-se que a hipersensibilidade pode implicar na auto-destruição ou morte das células ao redor do ponto de invasão, ataque ou anomalia. O referido mecanismo poderá ser induzido ou provocado pela identificação de substâncias químicas (agroquímicos ou metabólitos de patógenos ou de insetos-praga), concentrações de nutrientes – Cu, Mn e B – e condição climática especial. Nessa reação são sintetizados e transportados para o sítio de ação: fenóis, quinonas, terpenos alcalóides, isoflavonóides e fitoalexinas, em geral. As estratégias básicas envolvidas são barreira bioquímica e equilíbrio nutricional. c) Mecanismo adquirido ou aprendido O presente mecanismo manifesta-se pela sobrevivência da planta ao ataque de patógenos após infecção devidamente identificada ou reconhecida. Por essa razão, tal mecanismo de defesa recebe a denominação de Resistência sistêmica adquirida (sigla em inglês – SAR). A SAR é resultante da identificação do invasor, acompanhado da indução da síntese de substâncias específicas, como quitinases e outras enzimas hidrolíticas, devido à ação de um elicitor, o ácido salicílico, que funciona como um sinal endógeno para o desencadeamento da ação de defesa. As estratégias básicas envolvidas são barreira bioquímica e equilíbrio nutricional. Na Figura 25 são apresentados, de forma esquemática, os principais mecanismos naturais envolvidos na defesa da planta. A proteção é resultante de: eficiente barreira física proporcionada por cutina espessa e íntegra, lignificação e acúmulo de silício na camada de células epidermais; membrana plasmática íntegra evitando a perda de açúcares e aminoácidos para o apoplasto ou espaço intercelular e síntese e difusão de fitoalexinas e fenóis apresentando propriedades fungicida e bactericida. batata e hortaliças em geral, sobretudo em meio a teores inadequados de Mo e Mn. O P, de modo geral, tem sido importante no decréscimo do ataque de fungos em diferentes espécies de plantas, principalmente quando aliado a doses satisfatórias de K. Em raízes com baixo nível de P foi observado significativo decréscimo de fosfolipídios com correspondente aumento na permeabilidade da membrana celular e da exsudação radicular, o que pode exercer acentuada influência na atividade de patógenos de solo e na severidade das doenças. A concentração inadequada de K na planta promove o acúmulo de compostos orgânicos de baixo peso molecular (açúcares e aminoácidos), resultando em plantas com crescimento anormal e alta suscetibilidade a doenças e pragas, de forma geral. Dentre os micronutrientes mais importantes para a prevenção de doenças e que, normalmente, são negligenciados em sistemas de produção, destacam-se o Cu, o B e o Mn. Tais elementos desempenham papel fundamental na síntese de fenóis, quinonas e fitoalexinas, bem como na rota do ácido chiquímico – principal rota de defesa vegetal. Em função de sua dinâmica no solo e na planta, o B deverá ser fornecido via solo, em pré-semeadura (ou na semeadura), mediante o uso de fontes de solubilidade média; ao passo que o Cu e o Mn deverão ser aplicados via foliar, no início da fase de franco crescimento vegetal e no início do florescimento da maioria das espécies cultivadas. Finalmente, cumpre ressaltar que o Zn, apesar de ser o micronutriente mais comumente considerado em programas de adubação, quando fornecido em doses elevadas e sem critério técnico definido, poderá interferir no aproveitamento e metabolização de outros nutrientes, bem como favorecer o crescimento e a produção de metabólitos (micotoxinas) de fungos. LITERATURA CITADA CALEGARI, A.; PEÑALVA, M. Abonos verdes: importáncia agroecológica y especies con potencial de uso en el Uruguay. Canelones: MGAP (JUNAGRA)-GTZ, 1994. 172 p. COUTINHO, E. L. M.; NATALE, W.; STUPIELLO, J. J.; CARNIER, P. E. Avaliação da eficiência agronômica de fertilizantes fosfatados para a cultura do milho. Científica, v. 19, p. 93-104, 1991. FERREIRA, A. C. de B.; ARAÚJO, G. A. de A.; PEREIRA, P. R. G.; CARDOSO, A. A. Características agronômicas e nutricionais do milho adubado com nitrogênio, molibdênio e zinco. Scientia Agricola, v. 58, n. 1, p. 131-138, 2001. FRIES, M. R.; AITA, C. Aspectos básicos sobre a importância dos microrganismos em plantio direto. In: Fertilidade do solo em plantio direto. Curso sobre aspectos básicos de fertilidade e microbiologia do solo sob plantio direto. Cruz Alta: Editora Aldeia Norte, 1999. 92 p. LOPES, A. S. Micronutirentes: filosofias de aplicação e eficiência agronômica. São Paulo: ANDA, 1999. 70 p. Figura 25. Principais mecanismos de defesa vegetal. Fonte: Adaptada de MARSCHNER (1986). Assim, em função das razões ecológicas e do papel da nutrição na prevenção de doenças e de pragas em sistemas agrícolas de produção, recomenda-se que o manejo de plantas seja sempre fundamentado na garantia do equilíbrio nutricional e na visão sistêmica do processo. Para tanto, sugere-se a elaboração de um diagnóstico detalhado da disponibilidade de nutrientes no sistema (incluindo suas interações), das condições climáticas reinantes no período e do potencial genético de resistência inerente ao genótipo utilizado. Quanto aos efeitos dos nutrientes na defesa de plantas, merece especial destaque o papel do N, do P, do K e dos micronutrientes. O N aumenta a concentração de aminoácidos e amidas no apoplasto e na superfície foliar que, aparentemente, têm maior influência que os açúcares na germinação de esporos fúngicos e na atividade de insetos. Diante desse fato, recomenda-se evitar a aplicação foliar indiscriminada de fertilizantes nitrogenados, principalmente na forma de uréia, nas culturas de feijão, tomate, pimentão, 24 MALAVOLTA, E. et al. Avaliação do estado nutricional das plantas. 2 ed. Piracicaba: POTAFOS, 1997. MALZER, G. L.; KELLING, K. A.; SCHMITT, M. A.; HOETFT, R. G.; RANDALL, G. W. Performance of dicyandiamide in the North Central States. Communications in Soil Science and Plant Analysis, v. 20, p. 2117-2136, 1989. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2. ed. San Diego: Academic Press, 1995. 889 p. NOVAIS, R. F.; SMYTH, T. J. Fósforo em solo e planta em condições tropicais. Universidade Federal de Viçosa, 1999. 399 p. PASDA, G.; HÄHNDEL, R.; ZERULLA, W. Effect of fertilizers with the new nitrification inhibitor DMPP (3,4-Dimethylpyrazole Phosphate) on yield and quality of agricultural and horticultural crops. Biology and Fertility of Soils, v. 34, n. 2, p. 85-97, 2001. RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; GUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C. Recomendação de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico, 1996. 285 p. RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVAREZ, V. H. Recomendação para uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais. 1999. 359 p. RUEDELL, J. Plantio direto na região de Cruz Alta. Cruz Alta: Fundacep Fecotrigo, 1995. THUNG, M. D. T.; OLIVEIRA, I. P. de. Problemas abióticos que afetam a produção do feijoeiro e seus métodos de controle. Santo Antonio de Goiás: EMBRAPA-CNPAF, 1998. 172 p. VIEIRA, E. L.; CASTRO, P. R. C. Ação de Stimulate na germinação de sementes, vigor de plântulas e crescimento radicular de plantas de milho (Zea mays L.). Piracicaba: ESALQ, 2000. 15 p. (Relatório Técnico) WESTFALL, D. G.; AMRANI, M.; PETERSON, G. A. Water-solubility of zinc fertilizer: does it matter? Better Crops, Norcross, v. 83, n. 2, p. 18-21, 1999. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 EM DESTAQUE 2 O SEMINÁRIO SOBRE TECNOLOGIA DE FERTILIZANTES – PETROBRAS No período de 16 a 18 de abril último, no Rio de Janeiro, foi realizado o 2º Seminário sobre Tecnologia de Fertilizantes, promovido pela Petrobras, com o objetivo de discutir a produção e a utilização de fertilizantes no Brasil. A previsão é que o país tenha que importar até 82% das suas futuras necessidades em fertilizantes, e as estratégias para garantir a disponibilidade e a entrega do insumo no campo devem ser discutidas com urgência; do contrário, o Brasil poderá enfrentar graves problemas no futuro próximo ou a médio prazo. Uma das principais decisões é a de saber se o país deveria criar condições para uma nova planta de nitrogênio. O evento foi um excelente fórum para discussões. Dr. Luís Ignácio Prochnow (foto), Diretor do IPNI Brasil, foi convidado a apresentar uma palestra intitulada Tendências futuras na nutrição das plantas no evento. “Foi uma grande oportunidade para o IPNI Brasil ser convidado a participar deste importante evento”, disse Dr. Prochnow. Entre outros assuntos, ele chamou a atenção, durante a palestra, para a situação dos fertilizantes no mundo, a pesquisa de novos produtos e as tendências que devem influenciar a nutrição de plantas e a utilização dos fertilizantes no futuro. SIMPÓSIO SOBRE MELHORES PRÁTICAS DE MANEJO DE FERTILIZANTES disse Dr. Terry L. Roberts, Presidente do IPNI. “O manejo responsável dos nutrientes deve centrar-se em opções que satisfaçam de maneira ótima as necessidades nutricionais das culturas. Falhas no manejo conduzem a perda de parte do potencial genético da planta e à utilização ineficaz dos outros recursos naturais necessários para a produção vegetal. Isto significa que mais pessoas passarão fome ou mais terras deverão ser disponibilizadas para a produção”, acrescentou. Durante o evento, pesquisadores do IPNI apresentaram relatórios sobre os progressos globais em seus esforços para atualizar as melhores práticas de manejo de fertilizantes (MPMFs) e expandir sua adoção global. O IPNI colabora atualmente com mais de 130 projetos de pesquisa em nível mundial, os quais continuam a fornecer novas informações científicas aos sistemas de cultivo para melhor capacitá-los na produção de mais alimentos. IPNI 2008 – CONCURSO DE FOTOS DE DEFICIÊNCIA EM CULTURAS O International Plant Nutrition Institute (IPNI) está convidando pessoas do mundo todo para participar do concurso de fotos digitais – edição 2008. Ao compartilhar suas imagens com o mundo, você estará concorrendo a prêmios em dinheiro que serão fornecidos aos três primeiros competidores em quatro categorias de nutrientes. Todos os participantes serão avaliados com base na melhor combinação de qualidade de imagens e detalhes fornecidos como elementos de prova. A data limite para envio das fotos é 15 de dezembro de 2008 e os vencedores serão anunciados em janeiro de 2009. Mais informações podem ser obtidas no site www.ipni.net/photocontest. Para inscrição ou cancelamento, acessar o link e seguir as instruções apropriadas: http:/ /www.ipni.net/newsletters Confira abaixo uma das fotos vencedoras em 2007. O IPNI Brasil realizará no primeiro semestre de 2009 o Simpósio sobre Melhores Práticas de Manejo de Fertilizantes – MPMFs. Estas são ferramentas que devem ser utilizadas pelos agricultores para o manejo efetivo e eficiente de fertilizantes para alcançar suas metas de produção e de manejo ambiental. São produtos da ciência e da prática – resultado de extensa pesquisa aplicada. IPNI NO COMBATE À FOME MUNDIAL A luta contra a fome mundial por meio da utilização adequada dos nutrientes de plantas foi um dos principais temas de uma recente reunião do Conselho de Administração do IPNI, realizada em 17 de maio, em Viena, Áustria. “Fertilizante é um insumo decisivo para a resolução do problema da rápida diminuição dos estoques mundiais de grãos”, INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Deficiência de boro em coco, em Tamil Nadu, Índia 25 GESSO NA AGRICULTURA1 Bernardo van Raij2 S conseqüência, a ação mais acentuada do olos ácidos podem apresentar uma barreira química no gesso se dá em profundidade no perfil do O aprofundamento radicular subsolo, ocasionada pela acisolo e efeitos do gesso estão ligados às promovido pelo gesso dez, que impede ou dificulta a ação das raícaracterísticas do solo, sendo, de uma forfavorece a absorção de água zes. Nesses casos, em diversos tipos de soma geral, maiores nos solos mais oxídicos de camadas mais profundas los, mas não em todos, o gesso pode estiou intemperizados do Brasil Central. do solo, conferindo às culturas mular o enraizamento profundo no subsolo. A ação do gesso é governada pelas maior resistência à seca em propriedades eletroquímicas do solo. A maior Essa ação se dá pelo aumento dos teores de veranicos e safrinhas parte dos solos brasileiros enquadra-se em cálcio, redução da saturação por alumínio e, solos de cargas variáveis, nos quais a quanem alguns casos, pela efetiva redução da tidade de cargas negativas aumenta com a acidez do subsolo. Isso porque o gesso, por ser um sal solúvel em água, penetra no subsolo. O aprofun- elevação do pH e a de cargas positivas, quando presentes, audamento radicular promovido pelo gesso favorece a absorção de menta a pH mais baixo. Essas relações e suas conseqüências são água de camadas mais profundas do solo, conferindo às culturas previsíveis pela teoria da dupla camada elétrica. maior resistência à seca em veranicos e safrinhas. Espera-se maior O gesso, por ser um sal solúvel, penetra no solo e, em geral, é atenção para o assunto no sistema de plantio direto, no qual o rapidamente removido da camada superficial por lixiviação. Em alefeito do calcário aplicado na superfície do solo tem menor influên- guns solos, a adsorção de sulfato no subsolo, ao reduzir a lixiviação cia na acidez do subsolo, comparado ao cultivo convencional, po- do sal, promove aumento da concentração de sulfato e de cálcio em dendo o gesso ter importante efeito complementar à calagem ao formas trocáveis também na solução do solo, o que reduz a toxicidade melhorar o ambiente radicular de camadas mais profundas do solo. de alumínio para as raízes das plantas. Em alguns casos ocorre a O principal tipo de gesso disponível no Brasil é o fosfogesso, efetiva redução do alumínio no solo. Por outro lado, em solos que subproduto da fabricação de ácido fosfórico, produzido em São retém pouco sulfato, os sais decorrentes da aplicação do gesso Paulo (Cubatão, SP), Minas Gerais (Uberaba, MG) e Goiás (Catalão, serão rapidamente removidos do solo pelas águas de percolação. GO). Além do fosfogesso, existe o gesso de mineração, a gipsita, O gesso tem efeito floculante no solo, reduzindo a disperproduzido em maior escala, principalmente em Pernambuco. Os dois são da argila. Este efeito já é bem conhecido em solos sódicos, mas produtos podem ser usados na melhoria de subsolos ácidos e na também se revela em solos ácidos. Há registro de efeitos favoráveis correção de solos sódicos. do gesso no impedimento do encrostamento superficial ou na reO constituinte que predomina no fosfogesso é o sulfato de dução do adensamento de camadas do subsolo. O gesso pode, tamcálcio, estando o cálcio na forma do cátion Ca2+ e o enxofre na forma bém, influir de forma favorável na condutividade hidráulica de solos. do ânion SO42+, seus principais constituintes. O material não conHá dados experimentais que revelam o efeito favorável do tém impurezas químicas quantitativamente importantes do ponto gesso em milho, promovendo melhor enraizamento no subsolo e de vista ambiental ou alimentar. Pode conter micronutrientes em conseqüente aumento na absorção de água e de nitrogênio nítrico. quantidades importantes do ponto de vista agrícola, principalmen- Melhores resultados são obtidos com combinações de calcário e te nos fosfatos de origem sedimentar importados. gesso. Nos Estados Unidos foram constatados efeitos residuais O gesso é excelente fonte de cálcio e enxofre para as plan- 16 anos após a aplicação do gesso, revelando, ainda, após tantos tas. O cálcio, acompanhado de sulfato, tem-se revelado uma fonte anos, importantes efeitos na produção de milho. diferenciada por aumentar os teores de cálcio em plantas em proPara cana-de-açúcar, há resultados de experimentos fatoporção maior do que as observadas quando são utilizadas quanti- riais com calcário e gesso em seis locais do Estado de São Paulo, dades equivalentes de carbonato de cálcio. O sulfato de cálcio pro- sendo que em cinco deles houve resultados favoráveis na produmove o desenvolvimento radicular em solos deficientes em cálcio ção em um período de quatro anos. O efeito máximo sobre a produou com saturação por alumínio elevada, nos quais reduz a atividade ção foi obtido com combinações de doses de calcário e gesso. do alumínio, aliviando sua toxidez. Nesses casos, as atuais recomendações de calcário e gesso são O gesso interage de forma diferenciada com o solo, depen- inferiores àquelas que seriam necessárias para a produção máxima dendo do teor de matéria orgânica e da natureza da mineralogia da econômica, apontando para aplicações de maiores quantidades dos fração argila. A adsorção de sulfato é um dos principais fatores insumos como um fator para aumentar a produtividade da cultura envolvidos, sendo a retenção desse ânion pelo solo e, conseqüen- (Tabela 1). Para soja, há dados experimentais indicando efeito positemente, do gesso, reduzida pela matéria orgânica e por minerais de argila, e aumentada pela presença de óxidos de ferro e alumínio. Em tivo da gessagem. Quando avaliada em presença da calagem, os 1 2 Este é o título do novo livro do autor, publicado pelo Instituto Agronômico de Campinas. Mais detalhes sobre o livro podem ser obtidos na seção de Publicações Recentes desta edição. Pesquisador voluntário do Instituto Agronômico de Campinas e consultor; email:[email protected] 26 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 Tabela 1. Necessidades de calagem e gesso de seis áreas, doses adequadas retiradas dos dados experimentais, aumento de produção correspondente e custos de aquisição, transporte e aplicação dos insumos. PRNT do calcário, CaCO 3 Solo Necessidade de calcário Necessidade de de gesso Dose adequada Calcário Gesso - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (t ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - (%) Aumento de produção Custo dos corretivos em 4 anos aplicados1 - - - - - - - - - - - (t ha-1 de colmos) - - - - - - - - - - - LVEa 63 2,5 1,0 4 2 76 12 LVA-9 77 5,3 1,4 10 6 72 32 LR-2 73 4,1 0 0 0 12 0 LVA-11 69 1,6 0 3 4 44 14 LVA-9 61 1,6 1,1 1,8 4,8 120 13 LVE-3 52 9,8 3,5 10 10 76 40 1 Considerando-se o custo de 1 t de calcário ou 1 t de gesso igual a 2 t de colmos. resultados mostram que as melhores produtividades são obtidas com combinações de calcário e gesso (Tabela 2). No caso do algodão, foram obtidos resultados favoráveis com a gessagem mesmo em solo com subsolo não muito ácido. Também neste caso, o melhor resultado foi obtido com combinação de calcário e gesso. Respostas a gesso foram, também, verificadas para café e maçã. O gesso é o principal insumo para a correção de solos sódicos ou alcalinos, atuando na remoção do sódio, elemento que degrada a estrutura do solo, pelo cálcio, elemento que promove a melhoria da estrutura. Em solos ácidos, o gesso age em profundidade e, por essa razão, o diagnóstico deve ser baseado em amostras de subsolo, em geral coletadas na faixa de 20 a 40 cm de profundidade. As recomendações atuais baseiam-se no teor de cálcio e na saturação por alumínio, como critérios de diagnose, e no teor de argila do solo, para quantificação das aplicações. As quantidades indicadas raramente chegam a 4 t ha-1, o que é uma recomendação segura, porém para correção de não mais de cerca de 50 cm em solos argilosos. Para a melhoria do perfil a maiores profundidades, o cálculo da necessidade de gesso necessita de aperfeiçoamento. Há ampla possibilidade de uso de gesso na agricultura. As aplicações de gesso, se praticadas de acordo com as recomendações oficiais, são seguras e não devem trazer problemas de perdas de nutrientes por lixiviação. Contudo, há evidências de que maiores aplicações podem ser vantajosas. Para verificar essa hipótese, são necessárias amostragens mais profundas de solos, para verificar a ocorrência de barreira química no subsolo e, se necessário, empregar doses mais elevadas de calcário e gesso, almejando correções mais amplas do perfil do solo. Em resumo, há grande possibilidade de aumento da produção de culturas com o uso de gesso. O efeito em geral não é espetacular, mas persiste por muitos anos, sendo, assim, vantajoso do ponto de vista econômico. O conhecimento atual permite inferir na necessidade de maiores aplicações em relação às recomendações atuais dos órgãos oficiais. Tabela 2. Resposta da soja a calcário e gesso em dois cultivos sucessivos, em Mococa, SP. Calcário Gesso (t ha-1) 0 2 4 6 Média Produção de soja no ano agrícola 1985/1986 (t ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 0 1.041 887 3 2.100 1.942 6 1.983 2.137 9 2.625 2.487 1.937 ab 1.863 b Média 1.012 1.229 1.043 c 2.179 2.229 2.112 b 2.358 2.416 2.223 ab 2.658 2.391 2.540 a 2.052 a 2.066 a - Produção de soja no ano agrícola 1986/1987 -1 (t ha ) 0 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (kg ha-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 1.423 1.427 1.596 1.731 1.544 c 2.308 b 3 2.287 2.287 2.283 2.376 6 2.585 2.673 2.941 2.556 2.689 ab 9 2.876 2.869 2.822 2.848 2.854 a 2.293 a 2.314 a 2.411 a 2.377 a Média - Fonte: Quaggio e outros ( Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 28, p. 375-383, 1993). INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 27 DIVULGANDO A PESQUISA ERRATA: No Informações Agronômicas de março/2008, na página 17, resumo 4, houve um equívoco na informação da autoria do trabalho. Nossas devidas desculpas aos autores e aos leitores. Veja, a seguir, o resumo original. 1. IRON SOURCES FOR CITRUS ROOTSTOCK DEVELOPMENT GROWN ON PINE BARK/VERMICULITE MIXED SUBSTRATE FERRAREZI, R. S.; BATAGLIA, O. C.; FURLANI, P. R.; SCHAMMASS, E. A. Scientia Agricola, v. 64, n. 5, p. 520-531. (http:// www.scielo.br/pdf/sa/v64n5/v64n5a10.pdf) For high technology seedling production systems, nutrition plays an important role, mainly the fertigation with iron chelates to prevent its deficiency. This study had the goal of searching for alternative iron sources with the same nutrient efficiency but lower cost in relation to nutrient solution total cost. An experiment was carried out in 56 cm3-conic-containers tilled with a pine bark/ vermiculite mixed substrate using Fe-DTPA, Fe-EDDHA, Fe-EDDHMA, Fe-EDTA, Fe-HEDTA, FeCl3, FeSO4, FeSO4+citric acid plus a control, and the rootstocks Swingle, Rangpur, Trifoliata and Cleopatra, in a randomized complete block design, with four replicates. Seedlings were evaluated for height, relative chlorophyll index, total and soluble iron leaf concentrations. Cleopatra was the only rootstock observed without visual iron chlorosis symptoms. There was a low relative chlorophyll index for Rangpur, Swingle and Trifoliata rootstocks in the control plots, in agreement with the observed symptoms. High total iron concentrations were found in the control and Fe-EDTA plots, whereas soluble iron represented only a low percent of the total iron. The economical analysis showed the following cost values of iron sources in relation to the nutrient solution total costs: Fe-HEDTA (37.25%) > FeCl3 (4.61%) > Fe-EDDHMA (4.53%) > Fe-EDDHA (3.35%) > Fe-DTPA (2.91%) > Fe-EDTA (1.08%) > FeSO4 + citric acid (0.78%) > FeSO4 (0.25%). However, only plants from Fe-EDDHA and Fe-EDDHMA treatments did not present any deficiency visual symptoms. The relative cost of Fe-EDDHA application is low, its efficiency in maintaining iron available in solution resulted in high plant heights, making it recommendable for citric rootstock production in nurseries. 2. MANEJO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA E UTILIZAÇÃO DO NITROGÊNIO ( 15 N) PELO MILHO EM LATOSSOLO VERMELHO DUETE, R. R. C.; MURAOKA, T.; SILVA, E. C. da; TRIVELIN, P. C. O.; AMBROSANO, E. J. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 32, n. 1, p.161-171, 2008 (http://www.scielo.br/pdf/rbcs/v32n1/ 16.pdf) O N é o nutriente absorvido em maior quantidade pelo milho, o que mais influencia a produtividade de grãos e o de manejo mais complexo. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de doses e parcelamentos de N, na forma de uréia 15N, sobre a produtividade de grãos, o aproveitamento do N do fertilizante e a quantidade de N nativo do solo absorvida pelo milho em um Latossolo 28 Vermelho. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados com nove tratamentos e quatro repetições, compreendido de cinco doses de N: 0, 55, 95, 135 e 175 kg ha-1, aplicando-se 15 kg na semeadura e o restante em diferentes estratégias de parcelamentos: 40 e 80 kg ha-1 no estádio de oito folhas ou ½ no estádio de quatro folhas + ½ no estádio de oito folhas; 120 kg ha-1 fracionados em ½ + ½ ou 1/3 + 1/3 + 1/3 no estádio de quatro, oito ou 12 folhas; e 160 kg ha-1 parcelados em ¼ + 3/8 + 3/8 ou ¼ + ¼ + ¼ + ¼ no estádio de quatro, oito, 12 folhas ou de florescimento e polinização. O aproveitamento do N do fertilizante pelo milho foi, em média, de 39% e o solo foi a principal fonte do nutriente para a cultura. A aplicação de 135 kg ha-1 de N parcelados em três vezes, até o estádio de oito folhas, proporcionou maior aproveitamento do N do fertilizante (52%) e maior produtividade de grãos. 3. MATÉRIA SECA E ACÚMULO DE NUTRIENTES EM GENÓTIPOS DE MILHO CONTRASTANTES QUANTO A AQUISIÇÃO DE FÓSFORO BRASIL, E. C.; ALVES, V. M. C.; MARRIEL, I. E.; PITTA, G. V. E.; CARVALHO, J. G. de. Ciência e Agrotecnologia, v. 31, n. 3, p. 704-712, 2007. (http://www.scielo.br/pdf/cagro/v31n3/a16 v31n3.pdf) Com o intuito de avaliar o efeito do estresse de P sobre atributos morfológicos do sistema radicular de genótipos de milho contrastantes quanto à eficiência na aquisição de fósforo, conduziu-se um experimento em casa de vegetação da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, onde foram testados oito genótipos de milho, provenientes do programa de melhoramento da Empresa. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em esquema fatorial 8 x 2, com três repetições, correspondendo a oito genótipos (três linhagens: L1 = ineficiente, L2 e L3 = eficientes; e cinco híbridos: H1, H2 e H3 = eficientes, H4 e H5 = ineficientes) e dois níveis de P (baixo e alto). As plantas foram cultivadas em solução nutritiva com duas concentrações de P equivalentes a 2,3 µM e 129 µM. A composição da solução nutritiva foi a seguinte: 152 mg L -1 N-NO 3; 18,2 mg L -1 N-NH 4; 141,1 mg L-1 Ca ; 90,1 mg L-1 K; 20,8 mg L-1 Mg; 18,8 mg L-1 S; 4,3 mg L-1 S; 0,5 mg L -1 Mn; 0,27 mg L -1 B; 0,04 mg L-1 Cu; 0,15 mg L -1 Zn; 0,08 mg L-1 Mo; 0,04 mg L-1 Na e 20,06 mg L-1 HEDTA. Aos 18 dias do transplantio, verificou-se que, sob condições de estresse de P em solução nutritiva, os híbridos H5, H1 e H2 apresentaram os maiores valores de massa seca total e da parte aérea, em relação aos demais. De modo geral, tanto os híbridos como as linhagens, quando cresceram em solução com baixo nível de P, apresentaram maior relação raiz/parte aérea do que os materiais que cresceram em solução com alto nível do nutriente. A concentração de N na parte aérea das plantas foi significativamente superior no tratamento com baixo nível de P na solução nutritiva. Os híbridos H1 e H2 e a linhagens L3 acumularam as maiores quantidades de P na parte aérea, independentemente do nível de P na solução. Esses resultados foram influenciados pelas maiores produções de matéria seca apresentadas pelos referidos materiais. Independente do nível de P, houve variação no conteúdo do nutriente na parte aérea dos híbridos, não sendo observado o mesmo comportamento para as linhagens. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 PAINEL AGRONÔMICO EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA DA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA É ELOGIADA POR PESQUISADORES AMERICANOS DR. EURÍPEDES MALAVOLTA INDICA MILTON FERREIRA DE MORAES PARA A ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS A taxa de crescimento na agropecuária brasileira e as tecnologias em uso no país nos últimos 30 anos foram elogiadas por uma delegação da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Os pesquisadores americanos assistiram a uma apresentação da evolução das pesquisas em melhoramento da soja e o uso de estirpes de Bradyrhizobium para fixação biológica do nitrogênio pelos pesquisadores da unidade Cerrados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). De acordo com o pesquisador Auteclínio Lopes de Farias Neto, a produção de soja no Cerrado representa 63,5% do volume nacional. Os rendimentos da produção têm aumentado, em média, 1,5% ao ano, graças aos ganhos incorporados pelo melhoramento genético e às tecnologias desenvolvidas para reduzir custos e facilitar o manejo das lavouras. Farias Neto, especialista em melhoramento da soja, salientou que a Embrapa Cerrados e parceiros estão próximos de lançar uma cultivar resistente à ferrugem asiática. “A expectativa é lançar o material ainda neste ano. Os custos com a ferrugem asiática somam perdas de 2,67 milhões de toneladas de grãos que geraram prejuízo de US$ 2,57 bilhões na safra 2006/07”, acrescentou. Ele esclareceu que a primeira cultivar brasileira de soja resistente à ferrugem asiática contribuirá para reduzir também as aplicações de fungicidas. “A média atual é de 2,3 aplicações. A cultivar a ser lançada requer apenas uma aplicação”, enfatizou. (www.revistaagrobrasil. com.br/site/noticiasIntegra.php?idNoticia=450762&idCategoria=13) Em 8 de abril último, em cerimônia realizada no auditório do Instituto de Estudos Avançados da USP, Milton Ferreira de Moraes, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), foi diplomado como membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências de São Paulo (ABC), junto a outros quatro pesquisadores. Milton foi apresentado como candidato, no ano passado, por Dr. Eurípedes Malavolta, Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1964. A escolha dos novos participantes, critério exclusivo dos titulares eleitos em anos anteriores, faz com que os membros da ABC sejam os mais legítimos representantes da Ciência brasileira, chamando a integrar seus quadros aqueles que se destacam na pesquisa e na liderança que exercem ao fazer avançar a Ciência. Após a diplomação dos novos membros, seguida pela apresentação individual de suas pesquisas, Milton encerrou o evento com uma palestra intitulada Relação entre nutrição de plantas, qualidade de produtos agrícolas e saúde humana. Ao Milton, os parabéns do IPNI por esta conquista! CENTRO DE TECNOLOGIA CANAVIEIRA VAI LANÇAR INOVAÇÕES EM AÇÚCAR E ÁLCOOL Depois de mais de dez anos debruçados em pesquisas, técnicos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), de Piracicaba, SP, vão colocar à disposição, neste ano, importantes inovações tecnológicas na área sucroalcooleira. Entre os destaques estão o sistema de produção de açúcar sem enxofre no seu processo industrial, o processo de lavagem a seco da cana e os avanços em biotecnologia, com a seleção de variedades de cana adequadas a cada região do país. Segundo Tadeu Andrade, diretor-executivo do CTC, o enxofre é utilizado no processo para clarear o açúcar à base de cana. O minério não faz parte do processo de produção de açúcar de beterraba, uma vez que o caldo extraído dessa planta é mais claro que o obtido da cana. “Estamos nos antecipando a possíveis questionamentos de países importadores, que poderiam criar barreiras técnicas para o produto brasileiro”, diz ele. Com um apelo sustentável e que pode evitar eventuais barreiras não-tarifárias ao álcool e ao açúcar, a tecnologia de lavagem a seco (ventilação) da cana também estará disponível para as usinas este ano. Para cada tonelada de cana, a usina economizará 1.000 litros de água. Resultado de pesquisas avançadas em biotecnologia, novas variedades de cana, mais produtivas, resistentes a doenças e específicas para cada região produtora vão ser colocadas no mercado no próximo semestre. Somadas às variedades antigas, somam quase 70 espalhadas em todo o país. (Valor on line, 17/04/2008) INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 TÉCNICAS TURBINAM A PRODUÇÃO Com os bons preços dos grãos, produtores do sudoeste paulista investem em tecnologia para obter mais rendimento sem aumento de área. A padronização das lavouras de milho e soja com o uso das mesmas máquinas para plantio e colheita resultou no adensamento do milho e ganho de 8% na produtividade, além de menor custo. De acordo com Ariovaldo Fellet, proprietário da Fazenda Lagoa Bonita, em Itaberá, o plantio adensado de milho já é rotina na propriedade, na qual são cultivados 5 mil hectares de grãos por ano. “Antes plantávamos o milho com 90 cm entre linhas; hoje, com a redução para 50 cm, usamos a mesma máquina para plantar soja, milho e feijão, com redução no custo operacional. Eram necessários três funcionários, por dois dias ou mais, para fazer a conversão da soja para o milho em uma plantadeira de 12 linhas; atualmente, basta meia hora para limpar a máquina e abastecê-la com outra semente.” Outra técnica consiste na aplicação de ar frio nas sementes (cool seed) para aumentar em 120 dias a vida útil e melhorar a germinação. Fellet explica que a temperatura mais baixa retarda o amadurecimento da semente e inibe o desenvolvimento de fungos e microrganismos. No caso da semente de trigo, a refrigeração elimina a necessidade do expurgo contra carunchos. Os agricultores também investem em agricultura de precisão e no cultivo intensivo, para colher 2,3 safras na mesma área, em um ano. Como explica o agrônomo Paulo Leandro de Barros, da Secretaria de Agricultura do Estado, os produtores da atual geração, muitos com formação acadêmica aliada à prática do campo, buscam técnicas para produzir mais, com menor custo. Como trabalham com grãos considerados commodities, como a soja, o milho e o trigo, com preços ditados pelo mercado internacional, os agricultores sentiram a necessidade de transformar suas fazendas em empresas. “A competição é grande e quem não se atulizar corre o risco de ficar fora do mercado”, diz Barros. (Suplemento Agrícola, O Estado de São Paulo, 2/4/2008) 29 CURSOS, SIMPÓSIOS E OUTROS EVENTOS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ EVENTOS DO IPNI ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Os próximos eventos promovidos pelo IPNI Brasil deverão ocorrer a partir do primeiro semestre de 2009. Alguns dos temas em consideração: 1. Melhores Práticas de Manejo de Fertilizantes (MPMFs). 2. Agricultura de precisão com ênfase em nutrição de plantas. 3. Nutrição de plantas e qualidade de produtos agrosilvopastoris. Os temas e programas dos eventos serão anunciados em edições futuras do Jornal Informações Agronômicas e no nosso website. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ EVENTOS COM PARTICIPAÇÃO DO IPNI 1. II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE FERTILIZANTES FLUIDOS E FOLIARES Informações gerais: Temas de importância serão apresentados e discutidos neste simpósio, divididos nos seguintes painéis: (1) Aspectos gerais da adubação fluida, (2) Fontes para utilização via fluida, (3) Tecnologia de aplicação, (4) Adubação foliar e (5) Manejo de adubação fluida para culturas perenes e semi-perenes. A palestra inicial estará a cargo do Dr. Paul Fixen, IPNI, que abordará o tema Uso de fertilizantes fluidos na evolução da agricultura. Promoção/Organização: FEALQ, GAPE/ESALQ-USP, Honeywell, IPNI Brasil Data: 07 a 09/JULHO/2008 Local: Anfiteatro do Pavilhão de Engenharia, ESALQ/USP, Piracicaba, SP Taxa de inscrição: Profissionais: R$ 350,00 Estudantes: R$ 200,00 Informações: GAPE, ESALQ-USP ou FEALQ (Maria Eugênia) Telefones: (19) 3417-2138 ou (19) 3417-6604 email: [email protected] 2 . FERTBIO 2008: SIMPÓSIO SOBRE USO E EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE FERTILIZANTES Informações gerais: O Simpósio sobre Uso e eficiência agronômica de fertilizantes, constante na programação da FERTBIO 2008, contará com apresentações dos pesquisadores: Dr. Norman Chien, Consultor Científico Internacional na Área de Fertilizantes; Dr. Luís Ignácio Prochnow, IPNI Brasil; e Dr. Heitor Cantarella, IAC, os quais abordarão o tema geral Desenvolvimentos recentes na produção e utilização de fertilizantes no sentido de aperfeiçoar a eficiência de nutrientes e minimizar impactos ambientais. Promoção/Organização: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Sociedade Brasileira de Microbiologia/ Embrapa Soja, IAPAR, UEL Data: FERTBIO: 15 a 19/SETEMBRO/2008 SIMPÓSIO: 16/SETEMBRO/2008 30 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Local: Centro de Eventos e Exposições de Londrina, PR Taxa de inscrição: vide tabela de preços no link: http://www.fertbio2008.com.br/inscricoes.php Informações: Telefone: (43) 3025-5223 email: [email protected] 3. MAXIMIZAÇÃO DA EFICIÊNCIA E MINIMIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA Informações gerais: O evento de um dia contará com quatro palestras sobre os temas: (1) Eficiência agronômica e acidificação do solo pela aplicação de fertilizantes nitrogenados, Dr. Norman Chien, Consultor Internacional para assuntos relacionados à fertilidade do solo e fertilizantes; (2) Pesquisa agronômica no Brasil relacionada a fertilizantes nitrogenados: situação atual, perspectivas e necessidades futuras, Dr. Paulo Trivelin, CENA/USP, e Dr. Heitor Cantarella, IAC; (3) A influência do manejo dos fertilizantes nitrogenados no ambiente, Dr. Cliff S. Snyder, Diretor do Programa Nitrogênio IPNI, Estados Unidos; (4) Aspectos práticos da adubação nitrogenada na cana-deaçúcar, Dr. Godofredo César Vitti e Dr. Arnaldo Rodella, ESALQ/USP. Ao final, haverá um debate geral com duração de até uma hora. Promoção/Organização: FEALQ, GAPE-ESALQ/USP, Honeywell, IPNI Brasil Data: 23/SETEMBRO/2008 Local: ESALQ/USP Taxa de inscrição: Até 22/Agosto/2008 Após 22/Agosto/2008 Profissionais: R$ 75,00 R$ 100,00 Estudantes: R$ 50,00 R$ 75,00 Informações: GAPE, ESALQ/USP Telefone: (19) 3417-2138 email: [email protected] INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ OUTROS EVENTOS 1. VI CURSO DE MANEJO DE NUTRIENTES EM CULTIVO PROTEGIDO Local: Instituto Agronômico, Campinas, SP Data: 18 a 22/AGOSTO/2008 Número de vagas: 35 Informações: Conplant Fone: (19) 3249-2067 Website: www.iac.sp.gov.br/mncp Email: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 2. SucroJab 2008 - II SIMPÓSIO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO DE JABOTICABAL Local: Centro de Convenções, UNESP/FCAV, Jaboticabal, SP Data: 19 a 21/AGOSTO/2008 Informações: FUNEP - Setor de Eventos Fone: (16) 3209-1300 Website: www.funep.com.br/eventos Email: [email protected] PUBLICAÇÕES RECENTES 1. GESSO NA AGRICULTURA Autor: Bernardo van Raij; 2008. Conteúdo: Barreira química em subsolos ácidos; produção de gesso; propriedades do gesso; aspectos nutricionais; solo e interação com gesso; propriedades eletroquímicas de solos; gesso e atributos químicos do solo; gesso e propriedades físicas do solo; gesso para milho e outros cereais; gesso para cana-de-açúcar; gesso para soja e outras culturas; gesso como melhorador do solo; perspectivas para o uso de gesso na agricultura. Número de páginas: 233 Preço: R$ 40,00 Pedidos: Instituto Agronômico de Campinas - IAC Webmail: www.iac.sp.gov.br 2. FERTIRRIGACIÓN: CULTIVOS Y FRUTALES Autor: Iván Vidal; 2007. Conteúdo: Nutrición mineral y diagnóstico del estado nutricional de las plantas; fertirrigación; programación y manejo del riego; fertilizantes para fertirriego; equipos de inyección de fertilizantes; mantención del sistema; diseño de programas de fertirriego y su control; calidad del agua de riego; fertirriego con pivote central. Número de páginas: 118 Pedidos: email: [email protected] 3. ANÁLISE ECONÔMICA E SOCIAL DE PROJETOS FLORESTAIS Autor: Antônio D. de Oliveira, José Luiz P. de Rezende; 2008. Conteúdo: Matemática financeira; capitalização periódica; capitalização contínua; análise econômica de projetos florestais; formulação de projetos; critérios de avaliação; localização de projetos; considerações sobre o método de Faustmann ou valor esperado da terra; análise social de projetos; o papel do governo; análise de custo-benefício; bens públicos e externalidades. Número de páginas: 386 Preço: R$ 54,00 Pedidos: Editora UFV Webmail: www.livraria.ufv.br INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 122 – JUNHO/2008 4. PODA E CONDUÇÃO DO CAFEEIRO ARÁBICA (IAC. Boletim Técnico, 203) Autor: Roberto A. Thomaziello e Sérgio P. Pereira; 2008. Conteúdo: A poda na moderna cafeicultura tornou-se uma prática rotineira e obrigatória, devido ao novo sistema de plantio em renque (adensamento de pés na linha), que, apesar de propiciar ótimas produtividades por área, não ocasiona esgotamento vegetativo da planta. Como o crescimento dos ramos produtivos tem um limite, há necessidade, de tempos em tempos, variáveis de acordo com as diferentes lavouras, de se recuperar a estrutura produtiva da planta. Isto só pode ser realizado através de podas. A finalidade deste Boletim é orientar técnicos e produtores sobre a melhor maneira de realizar esta poda e como conduzir a lavoura podada. Número de páginas: 39 Preço: R$ 10,00 Pedidos: Instituto Agronômico de Campinas-IAC Webmail: www.iac.sp.gov.br 5. RECOMENDAÇÕES PARA O USO DE CORRETIVOS E FERTILIZANTES NO ESTADO DE SERGIPE Editores: Sobral, L. F.; Viegas, P. R. A.; Siqueira, O. J. W.; Anjos, J. L.; Barretto, M. C. V.; Gomes, J. B. V.; 2008. Conteúdo: Tabelas de recomendação de fertilizantes que relacionam os teores no solo e na folha e os requerimentos nutricionais das principais culturas; principais classes de solos do Estado de Sergipe e suas limitações para uso agrícola; diagnóstico da fertilidade dos solos do Estado de Sergipe com base em amostras de produtores; elementos essenciais e benéficos às plantas, incluindo a identificação de deficiências; fontes da acidez do solo e métodos para recomendação de calagem; fundamentos da análise de solo e de folha para fins de recomendações de fertilizantes; informações sobre fertilizantes químicos, orgânicos, adubação verde e compostagem. Número de páginas: 251 Preço: R$ 25,00 Pedidos: Embrapa Tabuleiros Costeiros Email: [email protected] 31 Ponto de Vista SEGURANÇA ALIMENTAR Luís Ignácio Prochnow A atividade agropecuária tem sido objeto de discusão intensa nas últimas semanas em razão de vários motivos, mas muito especialmente devido à escassez e alta dos preços dos alimentos. Influenciado por vários fatores, como mudança nos hábitos alimentares, melhor condição econômica em alguns países em desenvolvimento e perda relativa de safra em algumas regiões produtoras, entre outros, os estoques mundiais de grãos encontram-se relativamente baixos. Até pouco tempo os preços eram muito influenciados pela oferta de produtos. Ciclos de preços de produtos agrícolas se alternavam em função da oferta e cabia aos empreendedores rurais estarem atentos a estas oscilações, para então definirem o que cultivar com maior chance de sucesso ao final. Atualmente, os preços estão sendo formados em função de uma grande demanda. Neste novo cenário existe pressão sobre o mercado de alimentos e, como resultado, há elevação dos preços. Outros fatores paralelos existem. Um deles, fundamental, é a crise financeira existente nos Estados Unidos, a qual traz, como resultado, uma mudança de estratégia de grupos de investimentos, mudando divisas de fundos tradicionais para aplicação em commodities agrícolas. Muito cuidado é necessário com relação a isto, pois não me parece justo expor a condição alimentar humana a certas circunstâncias da ciranda financeira. São, realmente, novos tempos e nova realidade. Neste contexto, o agricultor brasileiro deve estar atento. Muitas condições existem para enfrentar a nova realidade, com saldo positivo para a agricultura nacional. No entanto, é necessário juntar forças para que este sucesso seja genuinamente do setor agrícola. Dois grupos cumprem papel de destaque nesta luta. O primeiro é o dos que dirigem e legislam sobre os rumos da nossa agricultura. O outro, o setor agrícola, deve se organizar e levar os seus anseios legítimos e responsáveis aos primeiros. Não devemos perder qualquer oportunidade. Somos um país com grande vocação para, no mínimo, amenizar o problema alimentar no mundo. Vamos torcer e lutar para que tudo isto venha com real proveito para aqueles que fazem a agricultura acontecer de forma séria neste país. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ INTERNATIONAL PLANT NUTRITION INSTITUTE Rua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center - sala 701 - Fone/Fax: (19) 3433-3254 Endereço Postal: Caixa Postal 400 - CEP 13400-970 - Piracicaba (SP) - Brasil LUÍS IGNÁCIO PROCHNOW - Diretor, Engo Agro, Doutor em Agronomia E-mail: [email protected] Website: www.ipni.net Impresso Especial 1.74.18.0217-0 - DR/SPI IPNI DEVOLUÇÃO CORREIOS EMPRESAS FILIADAS AO IPNI • • • • • • • • • Agrium Inc. 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