A MIGRAÇÃO SAZONAL PARA A COLHEITA DO CAFÉ EM CARMO

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A MIGRAÇÃO SAZONAL PARA A COLHEITA DO CAFÉ EM CARMO
DO RIO CLARO – MG
Haroldo Junior Martins Cardoso¹
Flamarion Dutra Alves²
[email protected]
[email protected]
(1) Discente do curso de Geografia Bacharelado, Universidade Federal de Alfenas –
UNIFAL – MG
(2) Professor Adjunto do curso de Geografia, Universidade Federal de Alfenas –
UNIFAL – MG
Resumo:
A migração sazonal no Brasil corresponde a principal estratégia de sobrevivência de
inúmeros trabalhadores do campo. Este trabalho buscou investigar e analisar os
fatores que impulsionam os deslocamentos para o município de Carmo do Rio Claro –
MG especificamente no distrito de Vilelândia, para onde se destinam migrantes
nordestinos em sua maioria são originados do município de Santaluz - BA. A busca
por informações que retomam o cenário da realidade dos migrantes nos seus
municípios de origem, possibilitando compreender os desejos e anseios carregados na
trajetória dos migrantes. As proposições teóricas e metodológicas sobre os
movimentos migratórios desenvolvidos no seio da Geografia, contribuírem para
fundamentar a investigação da dinâmica sócioespacial durante o período da colheita
do café, incorporando os processos de des-re-territorialização na análise junto aos
migrantes para entender a formação da rede social de migração. A metodologia do
projeto tem como base o método histórico-oral, que possibilita a análise do fenômeno
na escala micro ressaltando tanto os anseios quanto a realidade dos migrantes. Para
isso, foram aplicados questionário com questões pré-definidas, que embasam a
análise da migração sazonal. Os resultados da pesquisa contribuíram para o
entendimento da realidade vivida pelos migrantes, que correspondem em sua quase
totalidade por homens casados, que reforça a necessidade de se deslocar em busca
de melhores condições para se manter no local de origem.
Palavras chave: Migração sazonal; Dinâmica sócioespacial; Des-re-territorialização.
Abstract
The seasonal migration in Brazil is the mains survival strategy of many field workers.
This study aims to investigate and analyze the factors that created shifts to the city of
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Carmo do Rio Claro – MG and especially to Vilelândia district, which welcomed
Northeastern migrants, coming mostly form the city of Santaluz – BA. This research
recreates the conditions of the reality of migrants in their home towns; this enables one
to understand the desires and the aspirations of the migrants. The theoretical and
methodological researches on migratory movements in the space, contribute to the
investigationof socio-spatial dynamics during the coffee harvest, including the
processes of des-territorialization and the understanding of social migration networks.
The methodology is based on the oral history method, which enables the analysis of
the phenomenon on a micro scale and reveals both the aspirations and the reality of
migrants. In this context a questionnaire with pre – defined questions were applied. The
results of the research contributed to the understanding of the reality experienced by
migrants; that is to say by married men in majority. These often tend to promote the
need to move in order to find better living conditions than the one experienced in the
original place.
Keywords: Seasonal migration, Socio-spatial dynamics, Des-re-territorialization.
INTRODUÇÃO
Os processos de formação do território brasileiro foi marcado por inúmeros
descolamentos populacionais,
que
possibilitaram
a
ocupação,
exploração
e
configuração do território nacional. Os fluxos de deslocamentos se configuram a partir
de inúmeros fatores, sobretudo políticos e ideológicos fundamentados para atender os
interesses dos modos de produção de cada período da formação histórica do Brasil.
A partir de 1960, a dinâmica dos fluxos migratórios se intensificam pelos
projetos de industrialização e integração nacional, configurando um dinâmica de
deslocamentos no sentido rural-urbano, representando o êxodo rural. Na década de
1990, com o desenvolvimento do processo de globalização a dinâmica dos fluxos
migratórios se alteram provocando um movimento de retorno e a cristalização das
migrações temporárias e sazonais.
O proposta do trabalho visa investigar a migração sazonal para a colheita
do café, no distrito de Vilelândia no município de Carmo do Rio Claro – MG, e os
processos de des-re-territorialização com os migrantes oriundos de Santaluz – BA.
As entrevistas realizadas com os migrantes e a população do distrito de
Vilelândia, abarca a busca por informações para compreender as alterações sócioespaciais que ocorrem no período da colheita, que tem início em maio e termino em
agosto. Esses três meses representam o tempo de permanência dos migrantes no
distrito determinado pela colheita do café, definindo o tipo de migração como sazonal.
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS SOBRE MIGRAÇÃO: o contexto brasileiro
diante das contribuições conceituais da ciência geográfica
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Os processos migratórios estão engendrados nas diversas sociedades e
pode ser definidos pelo deslocamento populacional no espaço, motivado por fatores
diversos. Damiani (1991, p. 62) traz uma definição de migração como permanente,
episódicas, espontâneas e compulsórias. Mas as relevâncias correspondem não as
formas, mas aos motivos que geram a migração que giram, sobretudo, em torno dos
motivos políticos e econômico. A mesma autora levanta a discussão sobre a
abordagem genérica atrelada aos processos migratórios, valendo-se somente dos
fatores de aumento demográfico e não indagando os processos históricos que
produzem o quadro favorável à migração.
As economias e as sociedades se diferenciam cada vez mais pela
sua aptidão em absorver no mercado de trabalho as camadas jovens,
e pela maior ou menor rapidez de eliminação dos trabalhadores
envelhecidos. Pierre George acentua: as crises e os períodos de
desemprego engendram vagas de emigrantes. Haveria um
desequilíbrio provocado por uma econômica, cuja a mecanização e a
racionalização são aceleradas. (DAMIANI, 1991, p. 63)
Damiani (1991, p. 63) ressalta a importância da compreensão dos
elementos que produzem as estruturas sociais e econômicas, levantando a discussão
referente a falta atribuição destes elementos na análise e compreensão dos processos
migratórios. Portanto, é essencial atribuir as disparidades geradas pelo sistema
capitalista na análise da migração, mesmo que em diferentes escalas de análise
investigar os fatores condicionados pelo capitalismo que impulsionam o processo
migratório.
De acordo com Santos (2008), com a expansão do capital técnicocientífico modificam-se as estruturas de produção, o que vai permitir ao capital
estruturar e reestruturar as forças produtivas, tornando uma dada região mais atrativa
que outras, aos fluxos econômicos e migratórios. A mobilidade populacional deixa de
ser apenas o deslocamento pela vontade do indivíduo e revela a força da lógica do
capital que direciona e condiciona essa os migrantes, para atender as necessidades
de produção em diferentes espaços. Conforme Ferreira (1992, p. 19 apud CARMO,
2012, p.1) esse processo perverso não está relacionado a liberdade do indivíduo, mas
as estruturas que o impulsionam.
A população não migra por um direito de liberdade de locomover-se
na busca de algo melhor ou por livre opção de escolha de moradia.
Ela se desloca porque é impelida, coagida por estruturas econômicas,
políticas e sociais e ideologicamente injustas, que, privilegiando as
classes dominantes, condenam milhões de famílias a um
desenraizamento sem fim.
Haesbaert (2011, p. 238) expõem que, “pode-se definir a mobilidade como
a relação social ligada à mudança de lugar, isto é, como o conjunto de modalidades
pelas quais os membros de uma sociedade tratam a possibilidade de eles próprios ou
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outros ocuparem sucessivamente vários lugares”. Ele também define o migrante como
uma “parcela integrante ou que está em busca de integração numa (pós) modernidade
marcada pela flexibilização e precarização das relações de trabalho”. (HAESBAERT,
2011, p. 238)
A mobilidade populacional representa um fenômeno importante na análise
espacial atual. Brito (2002) demonstra as formas dos deslocamentos após a década
de 1990, alterando suas dinâmicas em função do processo de desconcentração
produtiva e a incapacidade do migrante de obter mobilidade social por meio da
migração promovendo uma ampliação da migração de retorno, principalmente dos que
se deslocaram para as metrópoles. As migrações interestaduais também aumentam o
seu fluxo, destacando as migrações temporárias e sazonais, impulsionadas pelo
processo de globalização que possibilita aos migrantes a manutenção dos seus laços
sociais no local de origem, pela facilidade de deslocamento e comunicação
promovidos pelo desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação, a partir do
advento da globalização.
A análise da migração sobre a ótica da teoria neomarxista aponta o
migrante como, “um portador de trabalho, fator produtivo que, em combinações
adequadas com a terra e o capital, apresenta interesse para os processos de
desenvolvimento econômico” (PÓVOA, 2007, p. 49). Essa teoria acompanha as
premissas da Geografia Crítica, que analisa o migrante partindo da lógica capitalista.
Mesmo que a decisão de migrar seja uma escolha individual são os fatores
econômicos, sociais, culturais e políticos que criam as condições necessárias para a
efetiva migração. Becker (2006, p. 341) aponta a migração como sendo um indicador
de desenvolvimento do capital que atrai a força de trabalho.
[...] Na sociedade capitalista, a modalidade representa um meio para
a reprodução do capital, uma vez que uma força de trabalho “livre” e
“móvel” torna-se essencial para o processo de acumulação. [...] uma
massa de trabalhadores “latentes” ou “estagnados”, seguindo os
movimentos do capital, representa um indicador de desenvolvimento
capitalista.
Partindo da análise sobre o arcabouço teórico sobre a migração é possível
compreende-la como um fenômeno, que serve e reforça o sistema capitalista de
apropriação e exploração da força de trabalho e faz a mobilidade sirva para atender
necessidades do processo de produção. A migração portanto, pode assumir diversas
formas para atender as necessidades do capitalismo.
Os fatores que condicionam os indivíduos a se deslocarem, configurando
uma rede social de migração, são utilizados por vários autores para explicar o
fenômeno da mobilidade populacional no espaço. Nesses termos, a mobilidade não
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pode ser entendida separada da “Formação Socioespacial” dos indivíduos, pois
sociedade e espaço caminham juntos no seu processo de formação. (SANTOS, 1977
apud SOUZA, 2010, p. 181)
A migração se desenvolve a partir de uma rede social, onde os fluxos de
comunicação
e
informação
estabelecem
redes,
originadas
pela
mobilidade
populacional para suprir a questão do trabalho, em centros de atração de mão de obra
disponível. Ou seja, dentro do contexto analisado o principal fator gravitacional da
migração temporária é o econômico.
Vale ressaltar as questões políticas que favorecem o desenvolvimento
desigual de diferentes localidades, produzindo os centros de atração e repulsão de
força de trabalho. Portanto, o migrante que se desloca para vender sua força de
trabalho, deixa seus laços Noutros termos, estes vão passar por um processo de
desterritorialização, como tratado por Haesbaert (2011, p. 235-245):
[...] Desterritorializar poderia significar, então, diminuir ou enfraquecer
o controle dessas fronteiras (como vimos para o caso das fronteiras
nacionais), aumentando assim a dinâmica, a fluidez, em suma, a
mobilidade, seja ela de pessoas, bens materiais, capital ou
informação. [...]A associação entre desterritorialização e migração,
embora mais implícita do que explicitamente presente, é uma
constante na literatura vigente. Em que sentido, contudo, podemos
dizer
que
as migrações são
também
processos de
desterritorialização?
Haesbaert (2011, p. 246) responde que a migração é um processo que
está para além da desterritorialização, pois ela “pode ser vista em diversos níveis de
des-reterritorialização” e “não há desterritorialização sem (re)territoriliazação”. Do
mesmo modo, que o território se encaixa em diferentes perspectivas como econômica,
política ou cultural, os processos de territorialização - como fruto da interação entre
relações sociais e de controle do/pelo espaço, relações de poder em sentido amplo –
devem ser analisados ao mesmo tempo de forma concreta (dominação) e simbólica
(como um tipo de apropriação). (HAESBAERT, 2011, p. 246)
Procedimentos metodológicos na investigação da migração sazonal em Carmo
do Rio Claro
A investigação da mobilidade populacional, compreende a busca por
metodologias que permitam a compreensão do fenômeno, a partir, da identificação
das causas e processos inerente ao deslocamento. Avaliar os fatores que causam a
migração, corresponde a um processo de levantamento de dados quantitativos e
qualitativos, que possibilite o desenvolvimento da pesquisa.
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A investigação dos fatores econômicos, culturais, sociais e políticos que
favorecem a mobilidade, que segundo Póvoa (1999, p. 51), essas operações
metodológicas, “busca enraizar sua análise no solo dos contextos históricos e
geográficos específicos. [...]análise de grupos e classes sociais a sofrer a força de
estruturas sociais que explicam a maior ou menor propensão para a migração.”
Segundo as premissas apontadas por Silva (2007), no que diz respeito a
investigação dos fatores que favorecem a migração é importante destacar a
consideração que a autora faz sobre o migrante, analisando-o a partir de dois pontos
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de vista.
Considerando o migrante sob duas óticas: inicialmente, trata-se de
um(a) trabalhador(a) produzido no bojo de determinadas relações
sociais, que, muitas vezes, resultam de um processo de violência e
expropriação. [...] em seguida, o migrante insere-se numa realidade
social, definida por laços sociais (familiares, grupos de vizinhança,
valores, ideologias etc.), que o caracterizam pertencente a um
determinado espaço social e cultural. [...] Estas duas perspectivas
conduzem às reflexões, segundo as quais, os fatores econômicos
não são os únicos a serem levados em conta na análise da migração
e dos migrantes. (SILVA 2007, p. 56)
O levantamento de dados primários, foi realizado com base em
questionários com questões pré-definidas, buscando entender junto aos grupos
entrevistados suas opiniões e anseios, relacionando-os com os fatores que favorecem
os deslocamentos. Para amostragem com os migrantes foi estabelecida uma amostra
de 10% dessa população flutuante, considerando que não existe uma precisão do
número de migrantes, mas estima-se que este valor esteja por volta de 500 a 700
pessoas.
As entrevistas foram realizadas entre os meses de maio a agosto de 2013,
este período foi escolhido pois são os meses que se realizam a colheita do café.
A adoção do método histórico-oral, permite analisar a perspectiva dos
migrantes e da população diante dos deslocamentos populacionais, para o distrito de
Vilelândia. Becker (1999, p. 57-58) destaca:
[...]a adoção de uma postura teórico-metodológicas, capaz de
compreender a migração como um processo social, e os migrantes
como agentes deste processo. [...] A metodologia que sustenta estas
ideias é a história oral – entrevistas, depoimentos, histórias de vida,
registros visuais – com homens e mulheres, pobres, camponeses,
originários de várias regiões do Brasil.
O método histórico-oral permite observar e analisar questões relacionadas
as relações sociais, estabelecidas a partir dos deslocamentos populacionais, que
altera a dinâmica socioespacial no distrito. O método também, propõem a investigação
da formação da rede social de migração e os processos de des-re-terrritorialização.
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A REALIDADE DOS MIGRANTES: um fator impulsionador para a migração
A partir da análise das informações obtidas com base nos questionários
aplicados, foi possível entender as perspectivas dos entrevistas destacando os
aspectos sociais, econômicos, culturais e ideológicos, arraigados nos indivíduos. Essa
análise permitiu traçar o perfil dos migrantes e relacionar essa informação com as
causas, que impulsionam a migração para a colheita do café.
Os migrantes provenientes de Santaluz, carregam a necessidade de
sobrevivência e manutenção no seu local de origem. De acordo com, a pesquisa
realizada no distrito, onde foram entrevistados 61 migrantes e destes 83,6% são do
município de Santaluz, como representado no gráfico 1. Vale destacar que os
municípios de Conceição do Coite, Valente e Malhada também se encontram no
microrregião da Serrinha – BA.
Gráfico 1: Município de Origem dos Migrantes.
Fonte: Trabalho de Campo (Maio de 2013)
Um dos objetivos da pesquisa realizada é traçar o perfil dos migrantes,
buscando compreender os anseios que levam os migrantes a se deslocaram para a
colheita do café. No gráfico 2 é possível observar a relação entre o sexo e a idade dos
migrantes e a análise dos dados permite inferir o predomínio de homens casados
entre 30 e 40 anos, que migram para vender sua força de trabalho em busca de uma
complemento na renda, para que possam se manter durante o ano, garantindo parte
do sustento da família.
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Gráfico 2: Número de migrante por sexo, idade e estado civil.
Fonte: Pesquisa de Campo (Maio de 2013
Woortmann (1990, p. 39), destaca o papel do pai de família camponês e
migrantes, que tem a responsabilidade de assegurar o sustento da família e manter a
sua hierarquia. As necessidades e as responsabilidades que impulsionam e
configuram a migração sazonal para oferecer a força de trabalho em outros espaços.
Migrar ou não poderá depender então, não só da sazonalidade ou da
alternância de anos bons e ruins, mas igualmente das possibilidades
de outros usos alternativos do tempo e dos recursos disponíveis,
realizando a cada ano um cálculo das vantagens relativas de
permanecer.” (WOORTMANN, 1990, p. 40).
O número reduzido de mulheres (6,6%), também é perceptível, pois
geralmente elas ficam responsáveis por cuidar dos filhos e tomar conta dos bens,
deixados no local de origem, sobretudo as famílias que vivem do campo e que deixam
suas plantações e se deslocam. A mulher passa a ter seu papel também nesse
processo migratório e permitindo a existência de laços com o local de origem.
No gráfico 3 é possível analisar que, o número de filhos por migrante é
pequeno e prevalece os indivíduos com apenas um filho, este fato pode estar
relacionado as dificuldades de renda e falta de trabalho, que diminui as taxas de
natalidade e consequentemente o número de filhos. Os 29% sem filhos representam
os solteiros sem filhos e os casados sem filhos.
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Gráfico 3: Número de filhos por migrante.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
O gráfico 4, mostra a estrutura das residências dos migrantes, ressaltando
que 62% das residências são compostas por até cinco pessoas. Analisando o dado,
pode-se entender as dificuldades enfrentadas pelos migrantes na manutenção de suas
famílias, mesmo porque, a maioria das famílias não são consideradas numerosas.
Todavia, o quadro social em que se insere estas famílias, demonstram as dificuldades
de sobrevivência no semiárido.
Gráfico 4: Número de pessoas por residência.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
As dificuldades de obtenção trabalho qualificado que está relacionado ao nível de
escolaridade, com base nos dados dos questionários, cerca de 70% dos migrantes
não completaram o ensino fundamental e 100% não completaram o ensino médio,
como mostra o gráfico 5, este fator dificulta a obtenção de um trabalho qualificado e
melhor remunerado.
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Gráfico 5: Grau de escolaridade dos migrantes.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
A renda configura um elementos impulsionador no processo migratório. Os
migrantes se deslocam em busca de um complemento na renda, uma vez que,
durante a pesquisa se observou que os migrante são expropriados do direito a uma
renda digna, portanto o trabalho na colheita do café, representa um importante
complemento. Dos entrevistados 72% sobrevivem com menos de um salário mínimo,
ressaltando a dificuldade enfrentada pelos migrantes, tornando a decisão de migrar,
uma condição básica para a sobrevivência. Parte da renda, está associada aos
auxílios governamentais, como o bolsa família. Dos migrantes entrevistados 62%
recebem o auxílio, os que não recebem correspondem a boa parte dos solteiros.
O lugar de moradia e de trabalho dos migrantes, destaca que a maioria
reside ou trabalho no campo, sendo que, 87% residem no campo e 79% trabalho no
campo. Os dados mostram a prevalência do tipo de migração rural-rural, enaltecendo
a ligação com a terra, que facilita o processo de reterritorialização e adaptação com o
trabalho no café. Portanto, quando questionados sobre as condições de trabalho no
café, 95% dos migrantes consideraram as condições trabalho como “boas” e 88%
pretende voltar no próximo ano. Cabe destacar que 64% dos migrantes entrevistados,
participam da colheita do café a mais de um ano.
Conforme relatos da população do distrito de Vilelândia e dos próprios
migrantes, a migração para a colheita do café teve início em 2004, conforme exposto
por Cardoso e Alves (2013, p. 11), “O aumento dos valores, a partir de 2004, revela
um aumento da área plantada e o período que se inicia a contratação da mão de obra
migrante, que se desloca para o distrito de Vilelândia a cerca de sete anos.”
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Gráfico 6: Valores da produção de café entre 1994 a 2010.
Fonte: IBGE 2013 apud CARDOSO; ALVES (2013, p. 11).
Os trabalhos desenvolvidos pelos migrantes no seu local de origem,
também configura um importante dado levantado durante a pesquisa, pois demonstra
as formas precárias de trabalho. Cabe destacar que, os lavradores representam a
forma mais abrangente da atividade exercida, como mostra o gráfico 7. O termo
lavradores engloba os que exercem atividades diversas no campo, na própria
propriedade ou como contratado das fazendas, trabalhando no corte do sisal, nas
lavouras temporárias, entre outras atividades. Portanto, o uso do termo lavradores foi
utilizado devido ao momento de responder os questionários, os migrantes afirmarem
que trabalhavam na roça ou no campo, o que pode ser muito abrangente
Gráfico 7: Último trabalho dos migrantes.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
Conforme as perspectivas apresentadas pelos próprios migrantes, a busca
por melhores condições de trabalho, uma renda que garanta a sua sobrevivência e a
falta de emprego, configuram um quadro favorável que impulsiona a decisão de se
deslocar em busca destas melhores condições. A seca aparece nas justificativas,
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como mostra o gráfico 8, demonstrando o convivio com as estruturas naturais, mesmo
que a dificuldade do desenvolvimento das atividades agrícolas no local de origem.
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Gráfico 8: Fatores que favorecem a migração.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
A compreensão do processo migratório instaurado entre o município de
Carmo do Rio Claro – MG e Santaluz- BA, deve ir além da barreira espacial dos dois
municípios, que corresponde a cerca de 1. 695 km de distância entre os dois
municípios, pois com o advento da globalização e a intensificação das trocas de
fluxos, tornou-se possível um troca rápida de informações no ir e vir dos migrantes,
que a cada ano trazem novos migrantes para o trabalho na colheita do café.
Conforme os dados obtidos em campo, o agenciamento dos migrantes
corresponde a 93% realizado por familiares e 7%, por amigos. Cabe ressaltar, que no
processo migratório analisado a figura do “gato”, muito presente na cana é deixada de
lado, prevalecendo a troca de informações e formação de uma rede social de
migração, como explicitado por Saquet e Montardo (2008), que a migração constrói
uma trama de redes complexas, onde os migrantes vão estabelecendo vínculos e
construindo territórios entre o local de origem e destino. A forma como os migrantes se
organizam, facilitam o processo de deslocamento.
Os migrantes elegem um líder responsável para entrar em contato com um
cafeicultor, geralmente os líderes (amigo ou familiar) costumam trabalhar sempre para
o mesmo cafeicultor, pelos laços de confiança estabelecidos nos períodos da colheita.
O cafeicultor muitas vezes oferece a moradia e os migrantes dividem as
tarefas de cozinhar e limpar o alojamento, pois os migrantes se instalam durante todo
o período da colheita, que tem duração de três meses de maio até agosto. Sobre as
condições das moradias oferecidas pelos cafeicultores, 100% dos migrantes
consideram a moradia “boa”, quando questionados o “por quê”, eles afirmavam que a
casa tinha água, luz elétrica e não passavam frio.
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Conforme as perspectivas dos migrantes observadas durante a pesquisa,
38% pretende ganhar três mil reais e 31% pretende ganhar dois mil reais, esse valor é
o valor líquido, desconsiderando os gastos com transporte e alimentação durante o
período da colheita, como mostra o gráfico 9. Mesmo assim, os migrantes enviam boa
parte da renda pra manutenção da família, ou seja, os três mil reais que eles
pretendem ganhar representam o valor final após os três meses de colheita. O que
permite afirmar que, os valores arrecadados durante toda a colheita são maiores que
os três mil reais, enaltecendo o quão representativo são esses valores para os
próprios migrantes.
Gráfico 9: Valores que os migrantes pretendem ganhar no período da colheita.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
O dinheiro arrecadado durante a colheita tem destino garantido e conforme
os relatos dos próprios migrantes, o destino é principalmente para a construção da casa,
conforme mostra o gráfico 10. Vale destacar, a intenção de guardar o dinheiro na
poupança para algumas eventualidades durante o ano e ajudar a família.
Gráfico 10: Aplicação do dinheiro adquirido na colheita do café.
Fonte: Pesquisa de campo (Maio de 2013).
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Os processos de des-re-territorialização estão inseridos no contexto do
deslocamento dos migrantes para o distrito de Vilelândia. Dos 61 entrevistados 93%
afirmavam que sentiam mais falta da família, 5% dos amigos e 2% da cultura de
Santaluz, neste processo os migrantes demonstram a perda dos laços sociais, se
refazendo na convivência diária nos alojamentos e nos costumes, principalmente na
alimentação baseada na culinária do lugar de origem. E sobre a intenção de voltar
100% dos migrantes, afirmam que tem intenção de voltar para o lugar de origem,
ressaltando o apego aos laços estabelecidos, a vivência e ao cotidiano de Santaluz,
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mesmo com as dificuldades de falta de trabalho e renda.
CONCLUSÃO
A migração sazonal caracterizada no deslocamento dos migrantes de
Santaluz para Carmo do Rio Claro, proporciona a compreensão dos processos
inseridos dentro do contexto da migração, justificados pelas condições enfrentadas no
lugar de origem. Estas condições puderam ser observadas com base perfil dos
migrantes, que correspondendo a camponeses casados que se deslocam em busca
de formas de se manter na atividade principal, relacionado ao trabalho no campo.
A análise dos desejos e anseios dos migrantes demonstraram, que os
migrantes consideram a migração como ponto positivo, mesmo tendo que se submeter
as precárias condições de moradia e trabalho na cafeicultura e pelo distanciamento
dos laços sociais estabelecidos em Santaluz.
A análise da migração sazonal entre os municípios, a partir da ótica da
Geografia, permitiu compreender os processos inseridos no movimento com
relevância para a formação da rede social de migração e as alterações na dinâmica
socioespacial,
compreendido
a
partir
da
análise
do
processo
de
des-re-
territorialização, representado na investigação de como os entrevistados observam
estas alterações. Apesar de que as opiniões convergirem sempre para o mesmo
ponto, coincidindo as dificuldades e os desejos. Neste contexto, se destaca a
necessidade de investigar a migração, ressaltando os elementos como a falta de
trabalho e as dificuldade de obtenção de renda no lugar de origem, que correspondem
à condicionantes que favorecem o processo de deslocamento para a colheita do café.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECKER, Olga M. S. Mobilidade espacial da população: conceitos, tipologia,
contextos. In: CASTRO, Iná E. et al. (orgs). Explorações Geográficas: percursos no
fim do Século. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006, p. 320 – 367.
ISBN: 978-85-99907-05-4
I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
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