MIGRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO 1.7 Teoria dos Sistemas Migratórios e as Redes Sociais Uma outra abordagem teórica, de carácter interdisciplinar, da leitura espacial dos fluxos migratórios é a teoria dos “sistemas migratórios” (Salt, 1989: 43942)9. Esta teoria considera a existência de conjuntos de dois ou mais países envolvidos entre si por migrações nos dois sentidos. Massey et al. (1993) considera que estes fluxos migratórios são relativamente estáveis num certo período de tempo, mais ou menos prolongado. A teoria dos sistemas migratórios engloba “a interacção das estruturas micro (papel das relações sociais informais, da informação, do capital cultural das famílias e das comunidades) com as estruturas macro (economia, política, relações internacionais, direito) e as estruturas intermédias, ou meso, que actuam como intermediárias entre os migrantes e as instituições políticas ou económicas” (Castles e Miller, 2003:28). A literatura sobre este tema considera que estes movimentos estão associados a ligações prévias entre os países emissores e receptores de índole colonial cultural, política militar, comercial de investimento ou outros, não implicando necessariamente uma proximidade física. Segundo Castles (2005), os primeiros fluxos migratórios tendem a iniciar-se de acordo com um factor exógeno que pode ser justificado por um movimento de jovens pioneiros. Posteriormente, as cadeias migratórias repetem-se, com a ajuda de quem se encontra nos países de destino (redes sociais). Lee (1996) argumenta que o conhecimento da realidade do país de acolhimento por parte dos primeiros migrantes conduz a vagas migratórias posteriores. As teorias network10 ou redes sociais defendem o papel das redes migratórias no sentido de que os migrantes não actuam isoladamente. Segundo Tilly (1990), as redes migram, as categorias permanecem e as redes criam novas categorias. As unidades efectivas da migração não são, nem individuais nem familiares, mas sim conjuntos de pessoas ligadas por laços de amizade, parentesco, experiência de trabalho, que incorporam o país receptor nas alternativas de mobilidade por eles consideradas. No entanto, embora a solidariedade no interior dos grupos migrantes seja, de facto, uma das características que configuram e sustentam as redes, por vezes a própria dinâmica da migração revela que as 9 Ver também a este respeito, Kristz e Zlotnik (1992). Numa variedade de contextos, vários autores têm examinado o papel das redes sociais baseadas largamente em laços de parentesco e de amizade, no processo da cadeia de migração. Wilson (1994:272) classificou este fenómeno de migração em cadeia de “network-mediada” – Massey et al. (1987); Kearny e Nagengast (1989); Kemper (1977); Butterworth (1962); Fjellman e Gladwin (1985); Gardner (1995); Grieco (1995), entre outros. 10 37